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Cartas da Guerra 09/05/2016

O amor pintado e contado a preto e branco.

Título original: Cartas da Guerra (2016) Realizador: Ivo M. Ferreira Actores: Miguel Nunes, Margarida Vila-Nova, Ricardo Pereira

O filme celebrou o 25 de Abril para um Grande Auditório cheio, na Culturgest, na sessão de estreia no IndieLisboa.

Antes do Indie, esteve em competição no 66º Festival de Cinema de Berlim e marcou presença no Macau Literary Film Festival e no Hong King IFF. Depois da passagem pelos festivais, “Cartas da Guerra”, produzido pel’O Som e a Fúria (Luís Urbano), chega em Setembro às salas portuguesas.

Baseado no livro D’Este Viver Aqui Neste Papel Descripto, conjunto de cartas escritas por António Lobo Antunes quando foi enviado para a Guerra Colonial no Leste de Angola, entre 1971 e 1973, este é um filme-poema, sobre o amadurecimento – político e do amor. Sobre o que significa ser-se crescido, talvez. O protagonista, médico recémcasado, escreve à sua esposa, que ficou em Portugal, cartas de amor e de saudade. Ela espera uma criança. Ele espera poder voltar rapidamente a casa.

Ivo Ferreira sublinhou que o filme é uma visão sua, aquilo que imaginou que teria sido viver naquele momento da nossa história, numa guerra que considera ter sido “estúpida”. Pediu desculpa, na apresentação, aos que estiveram no terreno, por qualquer inverossimilhança no seu retrato. Trata-se de uma interpretação, claro. O primeiro plano do filme, contrapicado, abre com a primeira carta e com a voz-off dela, que nos acompanha durante todo o filme.

Vemos escadas, um navio. Uma introdução para a prisão onde irão habitar os jovens soldados.

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O filme é a preto e branco, mas na correspondência trocada o jovem médico fala não raras vezes do verde das paisagens de África, sempre pujante, e dos uniformes dos soldados, como uma cor que abunda e à qual ele se adapta, como se o seu espírito também se camuflasse. Nós só vemos o branco, o preto e todos os tons cinza intermédios, contudo, é como se todos os outros elementos da cor, na sua ausência, deixassem impressões que estimulam a imaginação. A textura das imagens transmite-nos a sensação de calor abafado dos dias que se arrastam vagarosamente, à medida que o escritor lamenta a distância que o afasta da sua amada, relembra os seus traços, deseja que ela a ele se junte, questiona se ela já o terá esquecido ou se o seu amor terá arrefecido.

O filme tem momentos verdadeiramente cativantes: o ponto de interrogação que é esta esposa longínqua, o humor carismático de Isac Graça, algo de misterioso nos olhos de Miguel Nunes, que também amadurece neste filme.

Vemos um soldado a tocar guitarra nas trincheiras. Numa noite negra (dentro de um filme a preto e branco), dois soldados são feridos num terreno minado. Um soldado serve-se de uma mulher angolana. Numa longa carta o escritor enumera vários nomes de estimação para a sua amada, numa lista quase infindável, enquanto a personagem de Margarida Vila-Nova gently weeps. Este é um filme que descansa + inquieta os olhos em paisagens emocionais e para viver a partir do interior.

Ivo Ferreira já nos tinha conquistado com “Águas Mil” (2009), ficção com Gonçalo Waddington no papel principal, que celebrou o mês e dia da Revolução, tendo passado no IndieLisboa após ter estreado no Festival de Roterdão. Seguiu-se o documentário “Vai com o Vento” (2010), que retrata a rota de imigração chinesa, e duas curtas metragens. “Cartas da Guerra” é mais um filme a apontar na lista de filmes portugueses a não perder.

TRAILER 43 Share 0 Tweet 0 Share 0 Pin Classificação - Ágata Pinho User Rating: 0.0 (0 votes)

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