COUP DE GRÂCE_A resistência portuguesa em Berlim [pt]

Page 1

A resistência portuguesa em Berlim sol.sapo.pt/artigo/549185/a-resist-ncia-portuguesa-em-berlim

Discursos sobre exploração de equipas técnicas não eram o que se esperava no final de um filme como o que Salomé Lamas traz a esta edição da Berlinale. Primeira incursão pelo território da ficção, “Coup de Grâce” é imagem, sucessão de quadros em movimento, camião desfeito em pombos, naturezas mortas de areia dentro de um apartamento e uma casa inteira recriada numa rua de Alvalade, exterior e interior invertidos, e dois atores que servem antes de tudo a composição destes quadros. Berlim a assistir a isto e Luís Urbano a repetir o que já Salomé Lamas nos tinha dito numa conversa ainda em Lisboa, antes do festival, que “este filme só existiu porque muitas pessoas foram exploradas para que ele acontecesse”, e que com os reduzidos valores dos apoios públicos para a produção de curtas-metragens o mais certo é deixar de as fazer. E estão explicados os minutos pelos quais se prolonga a longa lista de créditos no final de “Coup de Grâce”, feito com um orçamento de 45 mil euros e com uma equipa “reduzidíssima” e a trabalhar fora do calendário de rodagem. “O filme existe porque a equipa quis fazer o filme”, diz Salomé Lamas. Nesta história quase sem história encontramos um homem, Francisco (Miguel Borges), que trabalha numa mineração a céu aberto, retroescavadoras e carregamentos de areia, e pede um dia de folga para se encontrar com a filha que achava que não voltaria a ver. Encontro estranho e absurdo, tanto quanto nos faz sentir esta sucessão de quadros que vemos em “Coup de Grâce”, ensaio de Salomé Lamas para se lançar nas longas de ficção, que se sente que é o que estes 26 minutos podiam, afinal, ter sido. “A ficção agrada-me, não me agrada em formato curta-metragem, e isso nota--se no filme”, dizia-nos Salomé Lamas antes de partir para Berlim. “Não gosto de curtas puramente narrativas, em que há uma historiazinha... não funciona para mim como espetadora e não funcionou para mim enquanto alguém que faz. O que não quer dizer que uma longa-metragem de ficção não seja uma coisa mais convencional nesse sentido, mais narrativa e causal, daí estar a tentar fazer esta experiência de criar uma longa-metragem de ficção”, com “Fatamorgana”, que irá filmar a Beirute e da qual já está a preparar uma versão em teatro para apresentar em Lisboa. Não dá para contar uma história numa curta? “Dá, mas os filmes têm o tamanho que têm de ter, esta coisa de curta e longa é uma chatice.” Mas feito o filme veio a seleção para Berlim e “foi um alívio depois deste processo destrutivo na montagem”. Primeira parte cumprida, viriam as Berlinale Shorts II, “The Shining Stars”, com “Cidade Pequena”, de Diogo Costa

1/2


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.