LONGE DA AMAZÓNIA_Ano de luxo para os portugueses do Curtas Vila do Conde

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Ano de luxo para os portugueses do Curtas Vila do Conde publico.pt /2017/07/15/culturaipsilon/noticia/ano-de-luxo-para-os-portugueses-do-curtas-vila-do-conde1779235

Foto Coelho Mau, de Carlos Conceição DR Marta Mateus, Carlos Conceição, Francisco Carvalho e João Pedro Rodrigues também brilharam numa edição que, entre novidades e repescagens, confirma o bom momento da produção nacional.

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Jorge Mourinha 15 de julho de 2017, 16:44 Tínhamos falado, há alguns dias, dos “bons augúrios” que se sentiam na competição nacional do 25.º Curtas Vila do Conde – e, vista a totalidade das obras a concurso, os presságios iniciais sobre um bom ano de curtas confirmaram-se. Claro que nem todos os 16 filmes seleccionados estão ao mesmo nível, mas, num ano em que tanto se falou de crise, a produção portuguesa de curtas cerrou fileiras, “ergueu-se à ocasião” e respondeu com alguns dos melhores exemplos do formato em tempos recentes. Se problema houve, esteve no risco de ter cineastas com nome feito a “afogar” os nomes jovens que por aqui apareceram. Seria pena, por exemplo, que se passasse ao lado de Longe da Amazónia , de Francisco Carvalho, delicada teia de imagens evocativas inspirada pelas viagens de um explorador esquecido do século XVIII, Alexandre Ribeiro Ferreira, que faria uma boa “sessão dupla” com A Cidade Perdida de Z, de James Gray. Mas é o risco inerente a ter a concurso Coup de Grâce, o ballet mecânico e formalista-emocional de Salomé Lamas sobre pai e filha em reencontro alegórico, ficção assumida que abre novos rumos ao cinema da realizadora; Altas Cidades de Ossadas, o encontro secreto e opressivo de João Salaviza com Karlon Krioulo que ao mesmo tempo abre e fecha portas para o olhar urbano que tem marcado a obra do cineasta; ou Où en êtes-vous, João Pedro Rodrigues?, “ponto da situação” de 20 anos de cinema, da primeira curta Parabéns até O Ornitólogo, construído ao ritmo de imagens de arquivo e memórias pessoais. Encomendado pelo Centro Pompidou para a retrospectiva que dedicou a Rodrigues em 2016, Où en etes-vous … é um filme que faz muito mais sentido exibido em contexto, ou para quem tiver um profundo conhecimento da sua obra, mesmo que articule o pessoal e o universal, a natureza e a urbanidade com apreciável desenvoltura e até um toque de emoção universal que nem sempre o realizador atingiu noutros filmes. De resto, os véus que Où en etes-vous… levanta podem também ter o efeito oposto, de instigar aqueles que não conhecem a ir à procura (se a isso ajudarem os deuses do DVD…). O risco da reciclagem não é forçosamente problemático, já que a própria exposição da galeria Solar que acompanha os 25 anos do Curtas, sob o genérico Terra, recorre em parte à “reciclagem” de filmes que já fizeram “carreira”. Um Campo de Aviação , de Joana Pimenta, por exemplo, ganha muito em estar exposto no “cubo espacial” da galeria, mais do que numa sala tradicional; já O Corcunda, a colaboração de ficção científica fajuta de Gabriel Abrantes e Ben Rivers, sobrevive melhor no ecrã tradicional. E, num pequeno parêntesis, foi absolutamente revigorante perceber como quase todos os filmes escalados para o Curtas prestaram especial atenção à dimensão comunal e ritualista do grande ecrã e recusaram o funcionalismo das plataformas múltiplas. Com raras excepções, a classe de 2017 do Curtas foi composta de obras para serem vistas na maior tela possível.

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