Curtas Vila do Conde 2017: as encostas do cinema português apaladewalsh.com /2017/07/curtas-vila-do-conde-2017-as-encostas-do-cinema-portugues/
Com um intervalo de poucos dias, na antecâmara do Curtas Vila do Conde, ouvi por duas vezes, numa das conversas do ciclo A Gulbenkian e o Cinema Português – Territórios de Passagem e no debate final do ciclo Cinema Português – Novos Olhares organizado pela Cinemateca Portuguesa, da boca do realizador João Viana – Tabatô (2013) e A Batalha de Tabatô (2013) – o seguinte ditame: o Paulo Rocha disse uma vez ao Henri Langlois, em resposta à velha pergunta do que é isso do cinema português, que este era caracterizado por três adjectivos, anárquico, artesanal e visual. Parece que essa tirada terá ressoado por décadas até se tornar, hoje em dia, numa espécie de imagem de marca do cinema feito em Portugal. Como é típico desses mecanismos de homogeneização perde-se quase sempre tanto quanto se ganha, isto porque o que se enquadra fá-lo por mimésis e o que se desenquadra esvai-se pelo ralos largos do esquecimento. Por outro lado, a vantagem de tal boutade é que é tão ampla que na verdade se pode aplicar a quase tudo – vindo de Vila do Conde apetece mesmo dizer que o cineasta que mais representa o espírito desses três adjectivos é o homenageado F.J. Ossang. Mas retomando o fio à madeixa, é do cinema feito em Portugal (e/ou por portugueses) que tratam as próximas linhas, em particular aquele que preencheu a Competição Nacional do festival que comemora nesta edição duas vintenas e meia de existência.
Altas Cidades de Ossadas (2017) de João Salaviza
O meu colega Luís Mendonça, que o ano passado fez a cobertura do evento, cunhou uma expressão que me parece particularmente divertida: os filmes “martelados”. Dizia ele que um filme “martelado” é tipicamente: “um drama urbano ou suburbano, com gente de classe média lá dentro, que se alimenta silenciosamente de uma qualquer tensão (sexual) sugerida, entenda-se, uma tensão que nunca deixará de ser isso: pura sugestão. Estes dramas obstipados e impotentes, muito ‘sensivelmente’ iluminados e glorificando interpretações minimais, reduzidas a gestos e movimentos, normalmente não têm nem começo nem fim, desenrolando-se, portanto, numa espécie de tempo intermédio onde o drama se põe em modo de suspensão”. Vinha a expressão do apelido de Lucrecia Martel e do modo como alguns filmes da edição do ano anterior pareciam copiar escrupulosamente uma certa formatação do “filme de festival” como o fundou a realizadora argentina. Em jeito de continuação da matéria dada, proponho este ano a noção de “cinema encostado”. O leitor já terá certamente percebido ao que me refiro: os filmes à Pedro Costa (ou onde a influência do seu cinema se faz 1/6