Ramiro, um alfarrabista a maravilhar o Doclisboa dn.pt /artes/interior/ramiro-um-alfarrabista-a-maravilhar-o-doclisboa-8843709.html 15/10/2017
Ramiro, de Manuel Mozos O 15.º Doclisboa arranca na quinta-feira com ficção: Ramiro, comédia de Manuel Mozos. Um festival com trunfos de luxo A edição de 2017 do Doclisboa - Festival Internacional de Cinema tem nomes de peso do documentário internacional mas o prato forte são mesmo as obras do cinema português que aqui estreiam. O Doclisboa mantém a tradição de revelar o que de novo se faz no panorama documental internacional e, mais do que nunca, abre-se a várias formas de cinema. A partir de quinta-feira, Lisboa vai ter uma seleção mais abrangente sem o festival perder a veia de intervenção política e social. As boas notícias estão logo a abrir, na sessão inaugural com Ramiro, de Manuel Mozos, com argumento de Mariana Ricardo e Telmo Churro, porventura a dupla de argumentistas mais iconoclasta do novo cinema português. Um filme de ficção num festival que é barómetro da vanguarda do cinema do real? Talvez faça sentido, pois Mozos é um cineasta que já esteve no Doclisboa com documentários. Provocação ou não, a ficção este ano é uma mensagem da organização - a sessão final, Era Uma Vez Brasília, de Adirley Queirós, também não tem o carimbo doc e é cinema de ficção científica. Neste Ramiro, viajamos para uma Lisboa contemporânea, para um bairro onde habita Ramiro, rapaz quarentão que é alfarrabista e está a viver uma crise de idade. Algures preso entre o desejo de perseguir o seu sonho literário de poesia e uma acomodação a um quotidiano pacato, acaba por se envolver numa intriga telenovelesca (a telenovela aparece aqui como personagem em plano omitido) com a filha da vizinha, coisa que mete pai cadastrado com segredos do arco da velha. Estudo de personagem fascinante, Ramiro é outorgado por uma "fofura" que se cola à nossa pele. Ficamos imediatamente reféns emocionais deste patusco beberrão, amigo dos amigos e cínico de primeira. Uma imensa personagem de cinema servida por um ator tremendo, António Mortágua (quem vai ao teatro em Lisboa já reparou nele...), que parece absorver alguma da aura do próprio Mozos. 1/2