ZAMA ENTREVISTA
LUCRECIA MARTEL REALIZADORA
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METROPOLIS JUNHO 2018
Quando em gaiata corria à solta por casa, na companhia dos sete irmãos, sob o bafo húmido da província de Salta, no noroeste montanhoso da Argentina, os pais como a avó materna hipnotizavam-na com histórias para adormecer. As siestas de infância têm a sua aparição evidente no argumento de “O Pântano” (2001), a sua primeira longametragem, para a qual é sabido ter levado memórias de família. Mas a inspiração nas narrativas que se contam e se escutam com um olho aberto e outro fechado, num
estado de apneia semelhante à imersão numa piscina, encontram uma ponte directa com a forma cinematográfica nessa como em qualquer das restantes longas-metragens de Lucrecia Martel: “A Rapariga Santa” (2004), “A Mulher sem Cabeça” (2008), “Zama” (2017). Em Abril passado, o festival IndieLisboa exibiu-as em conjunto com cinco curtas-metragens escolhidas pela realizadora argentina (quatro realizadas no período de oito anos que separam “Zama” da precendente longa, além de “Rey Muerto”, de 1995). Uma
“Filmo para que se veja como é terrível o presente”