Mariphasa (2017) de Sandro Aguilar apaladewalsh.com/2018/09/mariphasa-2017-de-sandro-aguilar 17 de setembro de 2018
Início estranho, estamos às arrecuas? Será um funeral? Equimoses. Um carro destruído, um acidente? Antes ou depois? Novo emprego: regras = palavras. Os outros falam – Paulo está em silêncio. Personagens = silhuetas. “O piso de baixo é perigoso”. Destruição do carro, afinal não foi um acidente. Ou então… Um cinema de gestos. Um filme sem ROSTOS completos, mas com grandes planos de faces. Dois tons: laranja quente, azul frio. Um quadro no corredor, escuro. Estamos em casa de alguém, quem a invade? Vinte e cinco minutos até ao primeiro plano diurno, o único? Calor, os corpos suam. Uma família, de quem? “Aconteceu dentro da minha cabeça”. Um relógio sem horas. Ela morreu e ele ainda não “tratou” daquilo. Carro destruído – fechadura arranjada. Máscara de lobo. Armas de fogo (caçadeira) > arma branca (faca): coelho esfolado. “Pode ter doenças”. Cigarros como num film noir. Um cadáver no chão? Muitas fotografias em molduras – fotografias ardendo. Macacos! É a lei selva? Mão ensanguentada. O filme caminha para ROSTOS completos, a dois tons. Tensão > antecipação > canção. Sobrenatural? Suicídio? O que traz Paulo na mão? FLOR! Mariphasa (2017).
Estas foram as notas que tirei enquanto via Mariphasa. Fragmentos de uma observação não participativa. E estes apontamentos reflectem, em parte, o próprio filme. Não só na forma como o descrevem, mas antes pela sua componente fragmentária, pelo modo como se impõem através de uma pontuação esquizofrénica, nos contrastes entre minúsculas e maiúsculas, nas sucessivas perguntas que formulam… São notas de um espectador perdido, caído num quarto escuro repleto de sons misteriosos e cheiros fortes, onde as solas se colam ao chão e uma mão sorrateira se aproxima sem pedir autorização e o puxa para um canto. Essa é a sensação de percorrer este filme – quase opaco – onde o breu parece esconder sempre um monstro sedento de sangue. E é por aí que me parece que é mais produtivo olhar a obra de Sandro Aguilar: pelo encontro, improvável, entre o cinema de terror e o avant-garde (ou pondo por outras palavras, entre a série B e o cinema experimental). Isto porque nesses dois “géneros” revela-se um mesmo olhar sobre a potencialidades do cinema enquanto ofício primitivo. Não nos modos (que são tudo menos 1/3