Crítica: "Como Fernando Pessoa Salvou Portugal" (2018)

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Crítica: "Como Fernando Pessoa Salvou Portugal" (2018) bogiecinema.blogspot.com/2018/10/critica-como-fernando-pessoa-salvou.html

Com um sentido de humor muito peculiar, uma elegância notória na composição dos planos e um cuidado no figurino que permite transportar-nos para o Portugal do final da década de 20, "Como Fernando Pessoa Salvou Portugal" coloca-nos perante o episódio em que o poeta do título é designado para elaborar um slogan para a Coca-Louca. Nesta fase, o escritor trabalhava numa agência de publicidade e criou o célebre slogan para a Coca-Cola que perdurou no tempo e ainda é recordado, em particular, "Primeiro estranha-se, depois entranha-se". Provavelmente impedido de utilizar o nome da Coca-Cola devido a uma questão de direitos, o realizador e argumentista Eugène Green altera a nomenclatura do produto, mas mantém o seu visual e essência, enquanto aborda, sempre com algum humor à mistura, os motivos que levaram o poeta a criar o slogan, o impacto que este provocou e a procura do Estado em impedir que a bebida chegasse a Portugal. O cineasta expõe estes episódios de forma concisa e leve, enquanto despe praticamente os intérpretes de emoções, coloca-os no centro dos planos (um recurso semelhante ao utilizado em "A Religiosa Portuguesa") e permite que estes sobressaiam, sobretudo Carloto Cotta. O figurino ajuda e muito o intérprete, bem como a sobriedade que este incute ao seu Fernando Pessoa e às dúvidas que inquietam o personagem. Note-se o diálogo com Álvaro de Campos, um dos heterónimos, ou o respeito que o escritor demonstra para com Moitinho de Almeida (Manuel Mozos), o seu chefe. Mais conhecido pelo seu trabalho como realizador, Manuel Mozos entra no jogo das expressões e emoções contidas ao mesmo tempo em que insere um estilo educado ao seu personagem, um indivíduo que inicialmente acredita que é boa ideia reunir poesia e publicidade. A representar os elementos que pretendiam a Coca-Louca fora do país estão Mourinho (Alexandre Pieroni Calado) e o Ministro da Saúde (Diogo Dória), bem como o padre Marinheiro Bicha da Horta (Ricardo Gross), um trio que leva demasiado à letra o slogan elaborado por Fernando Pessoa. Essa situação resulta num dos momentos mais hilariantes do filme, nomeadamente, um exorcismo extremamente peculiar onde o humor deadpan está muito presente. Diga-se que Diogo Dória escapa regularmente à inexpressividade propositada que pontua o trabalho de boa parte do elenco, com o actor a destacar-se como uma figura nebulosa. Tanto o Ministro como Mourinho representam uma sociedade fechada, controladora e um governo de pendor ditatorial, bem como os perigos de encarar as palavras escritas e faladas de forma literal (um hábito que teima em permanecer), com a curta a efectuar um retrato ágil e competente da época. O célebre refrigerante só entraria em Portugal após o 25 de Abril, com a tentativa falhada da marca entrar no país a permitir a Eugène Green 1/2


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