Filme 'Selvajaria' de Miguel Gomes premiado no Festival de Locarno noticiasaominuto.com/cultura/1564470/filme-selvajaria-de-miguel-gomes-premiado-no-festival-de-locarno 14 de agosto de 2020
O novo filme do realizador português Miguel Gomes, intitulado 'Selvajaria', recebeu o prémio especial do júri no programa 'The Films After Tomorrow' do Festival de Cinema de Locarno, na Suíça, anunciou hoje a organização.
© DR 13:30 - 14/08/20 por Lusa Cultura Cinema
O filme, uma coprodução entre Portugal, França, Brasil, China e Grécia, é uma adaptação livre da obra literária brasileira "Os Sertões" (1902), de Euclides da Cunha, "dando conta da obscura guerra que teve lugar na Bahia no ano de 1897", refere a produtora O Som e a Fúria. O júri, que atribuiu esta distinção no valor de 50 mil francos suíços (46.511 euros), foi composto por Nadav Lapid, Lemohang Jeremiah Mosese e Kelly Reichardt. 1/3
O programa "The Films After Tomorrow" ("Os Filmes Depois de Amanhã") pretendeu apoiar "realizadores que foram forçados a parar de trabalhar por causa da pandemia", com um júri a atribuir prémios aos melhores projetos. O projeto, cujas filmagens foram interrompidas pelo impacto da pandemia de covid19, foi recentemente contemplado com um apoio de 310 mil euros do fundo Eurimages, criado pelo Conselho da Europa. Com argumento de Mariana Ricardo, Maureen Fazendeiro, Miguel Gomes e Telmo Churro, "Selvajaria" sucede ao tríptico do realizador "As mil e uma noites" (2015). No verão do ano passado, Miguel Gomes disse à Lusa acreditar que o ressurgimento de um sentimento de polarização no mundo tornou "Selvajaria" um reflexo da atualidade. O projeto nasceu entre 2015 e 2016, quando o cineasta leu pela primeira vez a obra do brasileiro Euclides da Cunha, que narra um conflito violento entre o governo e moradores de uma pequena comunidade chamada Canudos, fundada por um líder religioso numa região pobre e semiárida do Brasil no final do século XIX, que terminou com o massacre de milhares de pessoas. "O mundo está cada vez mais polarizado, há fações no Norte e no Sul, [existem divisões entre] os ricos e os pobres. [...] Tudo está em efervescência, parece que tudo está prestes a explodir", disse Miguel Gomes à Lusa, em 2019, durante a Festa Internacional Literária de Paraty (Flip), no Brasil. "Esta atualidade [do romance 'Os Sertões'] é percebida no mundo, na história de agora, por exemplo, quando se quer fazer crer que há uma espécie de guerras de religiões entre os islâmicos e o mundo ocidental judaico-cristão com barbaridades [que são cometidas] dos dois lados. Isto me trouxe a memória da Guerra de Canudos", frisou. O cineasta também contou que andava a questionar-se sobre que tipo de filme é possível fazer a partir de um romance com mais de 100 anos hoje, um tempo marcado por incertezas e recuos. "No continente americano, no continente europeu, há uma série de coisas que pensávamos serem já estabelecidas como os direitos humanos e os mecanismos democráticos, que pensávamos estarem garantidos porque todo o mundo tinha assimilado e hoje estão em falência", argumentou. "Portanto, é um bocado triste dizer isto, mas [...] de repente [descobri que] é um filme de guerra. Canudos é uma tragédia nacional [do Brasil], mas eu acho que é uma tragédia que se pode desenhar num microcosmos e que ecoa o resto do mundo", completou.
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Além de "Selvajaria", também o novo filme do argentino Lisandro Alonso, que conta com coprodução portuguesa, recebeu um prémio de 3.000 francos suíços (2.790 euros) em Locarno. O principal prémio do programa "The Films After Tomorrow" foi atribuído ao novo projeto da argentina Lucrecia Martel, de título "Chocobar".
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