Filmes. Agenda para a semana dn.pt/edicao-do-dia/26-fev-2021/filmes-agenda-para-a-semana--13393900.html 26 de fevereiro de 2021
Com um humor feroz, Chi-Raq (o nome vem da alusão a Chicago como estado de guerra, neste caso o Iraque...) aborda o flagelo do armamento civil na América.
CHI-RAQ Spike Lee (Prime Video) Spike Lee a adaptar a tragédia grega Lisístrata, de Aristófanes, com raiva, cólera e vigor demente. Assim é Chi-Raq, escrito em verso e com uma verve musical. Conta-nos a história de uma greve de sexo das mulheres de um bairro violento de Chicago. Depois do descontrolo da violência entre os gangues, as mulheres unem-se e reclamam para acabar com o estado de coisas. Com um humor feroz, Chi-Raq (o nome vem da alusão a Chicago como estado de guerra, neste caso o Iraque...) aborda o flagelo do armamento civil na América. Chegou aos cinemas americanos em 2015, ainda antes do sucesso comercial de BlackKksman, e terá passado ao lado de muita gente (em Portugal nunca foi visto), tendo sido mesmo ignorado no Festival de Berlim. É um filme tão único como vibrante, uma prova de que um sermão nas mãos de Lee é uma obra de arte. Arte sexy e contundente. No elenco pontificam nomes como John Cusack, Wesley Snipes e Nick Cannon. RPT ASAS Larisa Shepitko (Medeia Filmes) Nome feminino do cinema soviético dos anos 1960/70, Larisa Shepitko tem uma obra tão curta quanto essencial. Asas (durante o fim-de-semana no site da Medeia) é um desses
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títulos, exemplo magnífico do seu cinema, centrado numa ex-piloto de caças que, décadas após a Segunda Guerra Mundial, enquanto diretora de uma escola, vive desajustada do presente. É nas memórias dos altos voos que busca as emoções fortes. INL VITALINA VARELA Pedro Costa (Midas Filmes) Título fulcral da mais recente produção portuguesa, Leopardo de Ouro no Festival de Locarno (2019), este retrato de uma mulher de Cabo Verde que chega a Portugal poucos dias depois da morte do marido é um prodigioso exemplo do mais surreal dos realismos. Agora com edições em DVD e Blu-ray (esta também com o disco do DVD), recheadas de extras magníficos, incluindo um "Caderno de fotografias de rodagem". JL YEARS AND YEARS Russell T. Davies (HBO) Para quem viu a mais recente minissérie de Russell T. Davies, It"s a Sin, ou ainda A Very English Scandal - e mesmo para quem não viu nenhuma -, Years and Years é do melhor que há no catálogo HBO. Uma vigorosa e comovente saga familiar britânica, de seis episódios, com um pé firme no futuro e olho vivo numa Emma Thompson em modo Trump. Cada minuto destila o brilhantismo da escrita de Davies para a televisão. INL SOU A TUA MULHER Julia Hart (Prime Video) Captar as vibrações do cinema policial dos anos 1970, resgatar a força dos grandes retratos femininos. Julia Hart consegue tudo isto neste veículo para a estrela televisiva Rachel Brosnahan, aqui uma dona de casa frustrada que é obrigada a fugir de criminosos depois do marido ter traído um chefe mafioso. Com um suspense hábil e uma mensagem feminista honesta, I'm Your Woman é uma surpresa mais do que decente... RPT O ESPELHO Andrei Tarkovski (Filmin) Peça central do universo de Tarkovski, esta obra-prima de 1975 pode também servir de modelo para a modernidade cinematográfica. O retrato de um poeta que sabe que a morte se aproxima vai-se consolidando como uma textura de memórias e sonhos, imagens íntimas e materiais de arquivo, ao mesmo tempo desenhando o mapa de um desencanto visceralmente soviético. Vê-se e revê-se como uma cerimónia religiosa. JL WOLFWALKERS Tomm Moore e Ross Stewart (Apple TV+) O elogio do traço é o grande apanágio da animação artesanal do estúdio irlandês Cartoon Saloon. E é a partir desse sortilégio, misturado com a paixão pelas lendas locais, que
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Wolfwalkers se encaminha para ser a terceira nomeação ao Óscar do realizador Tomm Moore. Para já, este fascinante conto de meninas e lobos está entre os nomeados para o Globo de Ouro - é o candidato mais forte ao lado de Soul, da Disney. INL VOLTA À TERRA João Pedro Plácido (Filmes para a União) Percursor de uma onda de documentários que celebravam o Portugal remoto e rural. O filme de Plácido tem duas virtudes: uma câmara que pensava em planos de cinema e não em exasperantes takes de câmara à mão e a tremer, bem como um afeto genuíno pela aldeia que retrata, Uz, terra perdida do Alto Minho. Ao mesmo tempo, conta-se a história de um pastor à procura de namorada. Cinema documental sem medo dos grandes sentimentos. RPT UNREAL Marti Noxon, Sarah Gertrude Shapiro (TVCine) De novo disponível no cabo, esta série em quatro temporadas apresenta-se como um dos retratos mais contundentes (e também mais pedagógicos) que já se fizeram sobre os mecanismos de encenação e manipulação humana que sustentam os horrores televisivos de "Big Brother" e seus derivados. Como se prova, considerar que essa é uma questão que só preocupa críticos e intelectuais talvez seja ligeiramente redutor... JL Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
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