Nuno Lopes: "Nunca tinha feito nada assim"

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Nuno Lopes: "Nunca tinha feito nada assim" jn.pt/artes/nuno-lopes-nunca-tinha-feito-nada-assim-15345551.html 12 de novembro de 2022

Cinema

Ator Nuno Lopes diz que se revê na imagem da Lisboa que se recusa a deixar-se estragar pelo turismo, presente no filme de Céline Devaux Foto: Pedro Granadeiro/Global Imagens

É um dos rostos principais do cinema português e marca presença no filme "Toda a gente gosta de Jeanne", da cineasta francesa Céline Devaux. Ao JN, Nuno Lopes recorda como ficou rendido ao "humor e inteligência emocional" do filme rodado em Lisboa, após a desconfiança inicial. Da participação portuguesa em "Toda a Gente Gosta de Jean" destaca-se a presença de Nuno Lopes, no papel de Vítor, um professor de música de uma turma escolar e um dos homens que se cruzam com Jeanne quando esta vem para Lisboa. O ator não aderiu desde logo à proposta. "Quando comecei a ler, parecia uma comédia romântica, com mistura de 'buddy movie', uma coisa que eu não costumo fazer, apesar de não ter nada contra", disse-nos ainda em Cannes, no dia seguinte à estreia mundial do filme. Mas a interação entre personagens reais e animação começou a convencê-lo. "Não é inteiramente original, há filmes comerciais que o fazem, como o Roger Rabbit ou o Space Jam. Mas neste caso era como se

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animação fosse uma espécie de consciência. Um fantasma das suas angústias, das preocupações da personagem principal. Isso achei muito original e que dava ao filme um humor mais ácido e menos ligeiro. Mais obsceno e mais agressivo do que os filmes da Disney." O passo seguinte foi ver as curtas-metragens da realizadora. "Mal vi o humor que ela tem, a forma como desenha, percebi que seria super interessante fazer o filme. E nunca tinha feito nada assim, porque quando estamos a filmar sinto que não estamos a fazer o produto final. Estamos a dar material para a realizadora depois pegar." Ao ver o filme pela primeira vez o ator português ficou logo rendido. "Gostei imenso. É extraordinária a acutilância que ela tem. Uma inteligência muito emocional e um humor muito emocional sobre o que é estar deprimido e as inseguranças. Tem não só este fantasma na cabeça como vai reencontrar os seus fantasmas do passado." Um outro aspeto com que Nuno Lopes se identifica com o olhar de Céline Devaux é a imagem que dá de Lisboa. "É uma Lisboa que não é turística. Pelo contrário, é uma Lisboa que não gosta do turismo que estraga a cidade. É desde logo muito interessante essa visão de Lisboa. Sobretudo vinda de um estrangeiro. Nós estamos a construir hotéis, supostamente para agradar aos estrangeiros e de repente temos um estrangeiro a dizernos, 'olhem lá, isso não nos agrada'. Como isso também não me agrada, achei interessante trabalhar neste filme."

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