Jornalismo Alternativo

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO SUL DE MINAS – UNIS-MG INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS – ICHSA CURSO DE JORNALISMO

Otávio de Barros Belo

JORNALISMO ALTERNATIVO A Notícia Vista de Outro Ângulo

VARGINHA 2.sem.2003


JORNALISMO ALTERNATIVO: A Notícia Vista de Outro Ângulo

Otávio de Barros Belo

Centro Universitário do Sul de Minas – 8o Período de Jornalismo

Marco Schneider Orientador

Varginha 2003


JORNALISMO ALTERNATIVO: A Notícia Vista de Outro Ângulo

Otávio de Barros Belo

Monografia submetida ao corpo docente do curso de Jornalismo do Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS-MG, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovada por: Prof._________________________

- Marco Schneider

Orientador

Prof._________________________

- Terezinha Richartz

Prof._________________________

- Ovídio Motta Peixoto

Varginha 2003


Belo, Otávio de Barros. Jornalismo Alternativo: A Notícia Vista de Outro Ângulo / Otávio de Barros Belo. – Varginha, 2003. viii, 34 f. Monografia – Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS-MG, Instituto de Cências Humanas e Sociais Aplicadas – ICHSA, 2003. Orientador: Marco Schneider 1.Comunicação 2. Jornalismo I. Schneider, Marco (Orient.) II. Centro Universitário do Sul de Minas. Instituto de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. III. Título.


À minha família, pelos quatros anos em que estive ausente: Rosane, Flávio, Thomas, Nathan, Danthe.


Agradeço, verdadeiramente, ao Prof. Marco Schneider, orientador que mostrou-me a importância do rigor científico e de quem pude recolher as melhores sugestões para o enriquecimento deste trabalho.


RESUMO

BELO, Otávio de Barros. Jornalismo Alternativo; a notícia vista de outro ângulo. Orientador: Marco Schneider. Varginha : UNIS-MG/ICHSA, 2003. Monografia.

Análise do papel desempenhado por veículos que atuam com alguma forma de jornalismo alternativo, em contraponto à atuação da mídia de massas, ou grande imprensa. Análise histórica dos momentos em que a imprensa esteve submetida a alguma forma de abuso de poder, períodos em que as publicações de caráter alternativo tiveram motivação para surgirem. Definição do conceito de jornalismo alternativo, seu perfil histórico e suas características editoriais. Análise conjunta do jornalismo praticado pela grande imprensa com o jornalismo dos veículos alternativos, elencando-se os desafios, as conquistas, as qualidades e as deficiências de cada um deles.


SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 9 2. FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA .................................................................... 11 3. A MÍDIA DE MASSAS (OU GRANDE IMPRENSA) ................................................... 13 3.1. Os Monopólios de Informação .................................................................................. 13 3.2. A Corrida Contra o Tempo ....................................................................................... 14 3.3. A Notícia Como Espetáculo ..................................................................................... 15 3.4. A Mídia Amordaçada ............................................................................................... 18 4. JORNALISMO ALTERNATIVO ................................................................................... 22 4.1. A Busca de um Conceito .......................................................................................... 22 5. ASPECTOS HISTÓRICOS............................................................................................. 26 5.1. História da Imprensa Brasileira Começa com um Jornal Alternativo ......................... 26 5.2. Regime Militar Torna-se Solo Fértil Para a Imprensa Alternativa: O Pasquim, Movimento, Opinião........................................................................................................ 27 5.3. Anos 90: Imprensa de massa enfraquece jornalismo alternativo, ............................... 29 mas Caros Amigos faz o contraponto............................................................................... 29 6. ASPECTOS EDITORIAIS .............................................................................................. 30 6.1. Linguagem ............................................................................................................... 30 6.2. Estrutura financeira .................................................................................................. 30 6.3. Marca Pessoal do Proprietário .................................................................................. 31 6.4. Perfil dos Leitores .................................................................................................... 31 6.5. A busca da liberdade de imprensa ............................................................................. 32 6.6. A Sobrevivência do Jornalismo Alternativo .............................................................. 33 6.7. Jornalismo Alternativo e Poder Político .................................................................... 34 6.8. Contradições e Dificuldades ..................................................................................... 35 6.9. A Favor dos Alternativos .......................................................................................... 36 6.10. Uma Justificativa Necessária .................................................................................. 37 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 40 7.1. Nada de Maniqueísmo .............................................................................................. 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 45 ANEXO 1 ........................................................................................................................... 47 ANEXO 2 ........................................................................................................................... 48 ANEXO 3 ........................................................................................................................... 50


1. INTRODUÇÃO Uma das várias funções do jornalismo é contribuir para que as pessoas compreendam a realidade em que vivem. Nas palavras de Jorge Cláudio Ribeiro (1994, p.9), “uma das características mais constantes do jornalismo é seu radical enraizamento no cotidiano, o que lhe confere diferentes características, de acordo com as sociedades e as fases históricas em que é realizado”. Através da atividade jornalística, a construção da história da humanidade ocorre diariamente. A essência das relações entre o Estado e a população, e entre as instituições públicas ou privadas e os cidadãos, encontra-se presente nas publicações da imprensa, que existe para interpretar, decodificar através de contextualizações e transmitir ao público de forma compreensível, o que acontece de mais relevante no cotidiano. Portanto, uma atividade primordial para o desenvolvimento de uma comunidade ou de uma nação. No entanto, não é possível isolar o papel da imprensa, deixando de lado os diversos mecanismos de poder, de aparelhagem tecnólogica e de jogo de interesses em que ela está inserida. O objetivo do presente trabalho é investigar e detalhar a forma de atuação do jornalismo alternativo em contraponto ao papel desempenhado pela grande imprensa. Através de abordagens históricas e de forma e conteúdo, buscou-se responder à seguinte questão: “O jornalismo alternativo preenche as lacunas de informação deixadas pela grande imprensa?”. Acredita-se, por hipótese, que a grande imprensa, ou mídia de massas, seja movida por interesses variados, como financeiros e econômicos, políticos, comerciais. Da mesma forma, imagina-se que exista alguns setores da imprensa que fazem um


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jornalismo independente, com preocupações que vão além do mero desejo de gerar lucros. Esses, os dois pontos que formaram a base deste trabalho. As análises aqui desenvolvidas justificam-se pelo fato de a grande imprensa, em sua evolução, ter colocado interesses políticos, econômicos e financeiros acima de seu compromisso com a verdade e com a ética jornalística. E, também, pela necessidade de se investigar se existem publicações que fogem à massificação imposta pela mídia, que tragam a público discussões para além da efemeridade do noticiário dos grandes veículos de comunicação de massa.


2. FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA A base do presente trabalho foi a pesquisa bibliográfica, em que se buscou a comparação de elementos históricos, políticos e econômicos, desde 1808, início da imprensa brasileira, até os dias atuais. Ainda que se investigasse as faces do jornalismo brasileiro, a leitura de autores estrangeiros foi inevitável, para a interpretação de definições de caráter universal, bem como para uma verificação do papel da mídia em termos globais. A intenção deste trabalho não foi a de recontar a história da imprensa, mas, sim, identificar em vários momentos da história o surgimento de veículos alternativos, as razões pelas quais existiram, a maneira como atuaram os mais representativos, e a avaliação de sua real importância para o enriquecimento da atividade jornalística. Optou-se, nas descrições históricas, o uso de citações literais em vez de se trabalhar com a reconstrução de textos. Para uma construção da forma de atuação da imprensa nos dias atuais, utilizouse artigos da internet, de sites de referências em jornalismo, como Observatório da Imprensa e Instituto Gutemberg. A rede mundial de computadores foi usada também para a identificação de diversas publicações eletrônicas de caráter alternativo, que estão enumeradas no Anexo 1. Como forma de “sentir” a essência do atual jornalismo alternativo, foram adquiridos e lidos, exemplares da revista Caros Amigos e Carta Capital, e dos jornais O Pasquim 21 e Correio da Cidadania.


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Na tentativa de se ouvir a voz de alguém que edita um veículo alternativo, foi encaminhada uma entrevista, através de correio eletrônico, para o jornalista da revista Caros Amigos, José Arbex Jr. Sua opinião sobre o assunto consta do Anexo 3. Foram de incalculável valia as sugestões, críticas e análises, sempre abrangentes e com sólida base teórica, do orientador Marco Schneider, que procurou mostrar os melhores caminhos para se avançar na pesquisa, em especial no quesito de se definir, de forma plena, o conceito de jornalismo alternativo, e na necessidade de se conhecer a fundo as relações de poder entre capital, estado e aparelho ideológico. Não poderia deixar de registrar, também, as impressões pessoais que pude incorporar ao trabalho, fruto de conhecimento empírico, de aguçado senso de curiosidade e de leitor compulsivo, que desenvolvi principalmente a partir do início da graduação.


3. A MÍDIA DE MASSAS (OU GRANDE IMPRENSA) 3.1. Os Monopólios de Informação Nestes primeiros anos do século XXI, percebemos uma complexa rede de relações que se apossou da mídia 1. Se antes os veículos impressos se diferenciavam totalmente da televisão ou do rádio, cada um com linguagem própria, hoje, com a internet, a convergência de mídias já não permite diferenciar para qual veículo seguirá determinado conteúdo. Qualquer conteúdo pode, com as técnicas atuais, ser adaptado para qualquer veículo. Esse fator agravou ainda mais a indesejável concentração da informação jornalística nas mãos de alguns grandes grupos empresariais. Isso não é privilégio do Brasil. Está ocorrendo em escala mundial. A lógica do capitalismo, leia-se “lucro em primeiro lugar”, com o avanço tecnológico que trouxe o tráfego da informação para o menor tempo possível, colocou a imprensa sob a responsabilidade das grandes corporações. No Brasil, a grande imprensa, aquela com abrangência nacional, que Ignácio Ramonet chama de imprensa de referência 2, está ligada aos seguintes grupos empresariais: Editora Abril, que tem na revista Veja sua principal marca; Organizações Globo, cuja vedete e principal empresa do grupo é a TV Globo; Grupo Folha, com o jornal Folha de S. Paulo; e Grupo OESP, que publica o jornal O Estado de S. Paulo. Essas empresas, com publicações que abrangem veículos impressos, rádio, televisão e

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Nesta monografia, o termo mídia, sempre que citado sem especificação, estará se referindo aos meios de comunicação de massa com sede no Brasil, classificados como veículos da grande imprensa, ou seja, aqueles ligados aos grandes grupos de comunicação, como: Grupo Abril, Organizações Globo, Grupo O Estado de S. Paulo, Grupo Folha).


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internet, são as responsáveis pela maior parte da informação jornalística do país. Além desses, em um segundo escalão, estão o Grupo RBS, no Sul, a EPTV, no interior de São Paulo e Sul de Minas, o Sistema Brasileiro de Televisão(SBT), Rede Bandeirantes, Jornal do Brasil, e os Diários Associados, que editam o jornal Estado de Minas e Correio Braziliense. Esses veículos fazem com a notícia o que Cremilda Medina definiu como “produto à venda” (MEDINA, 1978). Eles operam em escala industrial, com sofisticados sistemas de padronização, cujo maior símbolo é o lide importado dos Estados Unidos. No grande esquema industrial concebido pelos donos da empresas de lazer, cada um constata que a informação é antes de tudo considerada como uma mercadoria, e que este caráter prevalece, de longe, sobre a missão fundamental da mídia: esclarecer e enriquecer o debate democrático.(RAMONET, 1999, p. 8)

3.2. A Corrida Contra o Tempo Os profissionais dessas empresas de comunicação trabalham como em uma linha de montagem, com tempo cronometrado para entregar as matérias, às vezes várias em um único dia. Porque o jornal ou a revista tem um horário de fechamento para cumprir e um número determinado de páginas para preencher. Assim, o elenco da grande empresa jornalística vai à caça da notícia, com a obrigação de encontrá-la no menor tempo possível e colocá-la numa embalagem atraente para estar, sem atrasos, na mesa do leitor na manhã seguinte. No rádio e na tevê, a urgência da notícia é ainda maior. O jornal estará no ar nas próximas horas. O tempo é ainda mais corrido. A notícia tem que ser preparada com uma rapidez muito maior, pois já existe um tempo marcado para aquela matéria ir ao ar. E o que dizer da internet? A notícia ainda está acontecendo e os primeiros registros jornalísticos já precisam estar disponíveis na rede mundial de computadores. A empresa jornalística exige esse comportamento ágil porque, como qualquer empresa comercial, ela visa o lucro. Precisa de resultados positivos em seus balanços.

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”Por ocasião do acidente mortal de Diana, o que aconteceu foi uma espécie de curto-circuito midiático, o repentino acesso de um personagem people de folhetim, de telenovela, ao status de personagem digna da imprensa séria e de referência.”(grifo meu)(RAMONET, 1999, p. 13).


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Esse resultado é fruto do departamento comercial que vende a notícia através da publicidade, maior fonte de receita da mídia. Ou seja, embora os veículos de imprensa tenham como matéria-prima a informação, no momento em que a publicam, os donos da empresa exigem a certeza de que aquela informação não irá comprometer o relacionamento com os anunciantes. Então como dizer que a notícia não se tornou, de fato, um produto à venda? Pior que isso, a mídia, exatamente como prenunciava Gui Debord em 1968, transformou a sociedade em um grande espetáculo: A alienação do expectador em favor do objeto contemplado (o que resulta de sua própria atividade inconsciente) se expressa assim: quanto mais ele contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende sua própria existência e seu próprio desejo. Em relação ao homem que age, a exterioridade do espetáculo aparece no fato de seus próprios gestos já não serem seus, mas de um outro que os representa por ele. É por isso que o expectador não se sente em casa em lugar algum, pois o espetáculo está em toda parte.(DEBORD, 1997, p. 24)

A mídia, desde aquela época, hoje mais ainda, com a já mencionada convergência de mídias proporcionadas pela revolução tecnológica, que tornou-se real com a internet, conseguiu verdadeiramente criar uma realidade paralela à vida real. A transposição da realidade imediata e de detalhes criticados como insignificantes pode ser atacada de pseudo-relato, na medida em que todo relato não é mais a realidade, contingência de qualquer expressão humana.(MEDINA, 1988, p. 114).

O principal modelo do futuro das comunicações é o êxito – real – da Internet, essa rede mundial de computadores que, ligados entre si por modens doravante sistematicamente integrados, podem dialogar e trocar informação. [...] a Internet constitui um modelo de convivialidade telemática cada vez mais ameaçada pelos apetites econômicos de grandes grupos industriais e midiáticos que estão de olho nos quase 140 milhões de usuários conectados, pessoas fascinadas com um ciberespaço imaterial.(RAMONET, 1999, p. 8)

3.3. A Notícia Como Espetáculo Cada um de nós possui o seu conhecimento de mundo, formado através do contato com outras pessoas, com a família, através da escola, e através dos veículos de comunicação. No entanto, a mídia tornou-se tão forte, tão envolvente e poderosa, com


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uma abrangência tão grande, que ela praticamente dita sobre o que as pessoas vão tratar no dia-a-dia, como se aquilo que não está na televisão, ou nos jornais, não existisse. As pesquisas sobre os meios de comunicação de massa tratam o assunto sob a ótica de duas hipóteses, a do agenda setting, ou agendamento, e a da espiral do silêncio: O agenda setting e a espiral do silêncio são duas faces de uma mesma moeda. Ambas trabalham com a perspectiva massificante sob a égide da imposição dos mass media sobre os indivíduos. Porém, o agenda setting detecta tal massificação na migração dos temas mediáticos enquanto temas ou agenda do público, quer dizer, os temas mediáticos se tornam conversa no dia-a-dia. Já a espiral do silêncio apreende a massificação pelo enclausuramento dos indivíduos no silêncio, quando estes têm opiniões diferentes destas veiculadas pelos mass media.(FERREIRA, 2001, p. 111)

As pessoas passam cada vez mais tempo conectados a algum tipo de mídia. Isso acaba por condicionar a forma como as pessoas enxergam o mundo, isto é, os conceitos caminham para uma convergência. Todos passam a falar no mesmo tom. Temos, então, a constatação inquestionável de que a cultura de massa fez com que as pessoas pensem de forma semelhante. A indústria cultural transformou a realidade das pessoas na realidade do espetáculo. “Com o termo indústria cultural, Adorno se propõe a explicar a arte consumida pelas massas, uma mercadoria que não é mais produzida pelo trabalho artesanal, mas conforme o modelo da manufatura e de grande indústria.”(MUSSE, 2003, p. 13) A própria notícia passou a receber tratamento de espetáculo, como na colisão dos aviões contra as torres gêmeas do World Trade Center, em 2001, e transmitida ao vivo para os quatro cantos do planeta. O mundo ficou pequeno, extremamente pequeno, com a força dos meios de comunicação. Qualquer acontecimento, em qualquer lugar do mundo, pode ser mostrado ao vivo para qualquer região do globo. O desenrolar do seqüestro do empresário Silvio Santos, dono do SBT, conseguiu prender, durante quase todo um dia, milhões de pessoas junto à tela do televisor. É o exemplo real da notíciaespetáculo, da notícia-produto. Logicamente, esse tipo de notícia agrada o público porque o faz sentir-se próximo no tempo e no espaço com aquele personagem da mídia em um evento inusitado da vida real. Na véspera do “11 de Setembro”, morreu o prefeito de Campinas, Antonio Costa Santos, o Toninho do PT, assassinado. A mídia noticiou, mas a força da notícia dos atentados nos Estados Unidos, espetacular em todas as suas angulações, foi tão


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grandiosa que, embora a notícia nacional estivesse muito mais próxima, a morte do político brasileiro pareceu assunto de menor importância. O tratamento desproporcional entre os dois crimes é um exemplo de como a grande imprensa brasileira está quase toda ela voltada para um único objetivo: o da $AUDIÊNCIA$. Esse é o retrato do poderio da mídia de massas hoje, que aumentou a partir dos anos 90, com os grandes avanços tecnológicos (internet, comunicação via satélite, telefonia celular) e se consolidou nestes primeiros anos do terceiro milênio, movida pela economia de mercados, neste mundo digital e supostamente globalizado. Supostamente, porque não se pode chamar de globalização absoluta em todos os aspectos da vida humana, se levarmos em conta as enormes desigualdades sociais existentes entre países ricos e pobres. Ou seja, é globalizado para aqueles que têm poder aquisitivo para participar dessa globalização, que acaba por se restringir ao contexto meramente econômico. Ignacio Ramonet descreve como o mundo tornou-se extremamente complexo e a mídia absurdamente simplista, ou simplificada, ou massificada: Agora, as informações devem ter três qualidades principais: serem fáceis, rápidas e divertidas. Assim, paradoxalmente, os jornais simplificam seu discurso no momento em que o mundo, transformado pelo fim da guerra fria e pela globalização econômica, complexificou-se consideravelmente. Este desvio entre o simplismo da imprensa e as novas complicações da vida política extravia muitos cidadãos que não encontram mais, nas páginas de seu jornal, uma análise diferente, mais profunda, mais exigente do que aquela que o telejornal apresenta. Esta simplificação é mais paradoxal ainda, porque o nível de educação global de nossas sociedades não deixou de crescer.(RAMONET, 1999, p. 137)

Assim como na indústria cultural existem produtos feitos na medida certa do gosto popular, na atividade jornalística da grande imprensa de massas, a notícia é trabalhada para ser vendida, é um produto tratado comercialmente como qualquer qualquer outro bem de consumo. A notícia é dada dentro de formas padronizadas, que não exigem quase nenhum esforço de quem lê. A camisa-de-força do lide, em que as principais informações estão no primeiro e segundo parágrafos do texto, faz com que o leitor não tenha que pensar. A matéria de fácil compreensão, com os elementos textuais em uma ordem direta, não contribuem para a criação de uma consciência crítica, mas tão-somente equivale à maneira veloz e superficial do noticiário da televisão, com sua linguagem regida predominantemente pelas imagens. ”A mídia, sacrificando-se à


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ideologia do direto, do ao vivo, do instantâneo, reduz o tempo da análise e da reflexão.”(RAMONET, 1999, p. 61) As pautas das redações buscam o fato sensacional, inusitado, espetaculoso. Os temas que mais vendem são aqueles que envolvem escândalos, autoridades, celebridades. O mundo do espetáculo foi transportado para os jornais em forma de notícia, quando na época dos folhetins o espetáculo restringia-se ao campo da ficção. A mídia, na visão de Ignácio Ramonet, ganhou status não de quarto poder, mas de segundo poder, pois ”na realidade, o primeiro poder é hoje claramente exercido pela economia. O segundo[...] é midiático, [...] de modo que o poder político só vem em terceiro lugar”(RAMONET, 1999, p. 40)

3.4. A Mídia Amordaçada Podemos, na história da imprensa brasileira, alinhar três momentos em que a informação jornalística sofre algum tipo de interferência, em que o jogo entre o poder político e o poder econômico faz com que a notícia chegue ao público moldada por interesses maiores do que o de informar com independência e ética:

1) O PODER DA MÍDIA SUPERA O PODER DO ESTADO - O poder econômico, hoje, no Brasil, somado ao poder dos meios de comunicação de massa supera o poder do Estado. As ações governamentais, necessariamente, têm que levar em conta o dinamismo e o rumo dos mercados financeiros. As publicações da mídia de massa passam, obrigatoriamente, pelo crivo do capitalismo, da economia de mercados, do mundo economicamente globalizado em que as empresas, em sua imaterialidade, valem mais do que as pessoas. A ótica com que a grande imprensa noticia é a ótica do neoliberalismo, do grande capital, das megacorporações comerciais, industriais e financeiras. [...] é o que o jornalismo de hoje faz: quase tudo se traduz em índices, seja o desemprego, a mortalidade infantil, o analfabetismo, a pobreza ou o futebol. O jornalismo perdeu a perspectiva do humano. A meu ver, é o mesmo que perder a perspectiva da verdade. As estatísticas podem ter precisão inquestionável e até ser indispensáveis para a compreensão dos contextos. Mas a verdade do desemprego não está nos índices do governo ou nos estudos frios da ciência e do empresariado. A verdade do desemprego está


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no drama do desempregado de hoje e nos medos do desempregado de amanhã. Os jornais e os jornalistas, porém, não têm essa perspectiva. A leitura de qualquer jornal diário confirmará que o mundo representado no noticiário é um mundo institucionalizado. Os personagens das notícias e reportagens não são pessoas, mas representantes de instituições. Em vez de atuarem como sujeitos, agem como objetos. (CHAPARRO, 1997)3

Cabe esclarecer que o papel da imprensa sempre repetiu o discurso do capitalismo; hoje, porém, com os avanços tecnológicos que permitem o tráfego de informações em altíssima velocidade, os efeitos do aspecto econômico sobressaem mais do que em qualquer época: Há um século, o conflito entre a imprensa e o poder é uma questão de atualidade, mas toma uma dimensão inédita hoje, porque o poder não é mais identificado só ao poder político (o qual, além disso, vê suas prerrogativas roídas pela ascensão do poder econômico e financeiro) e porque a imprensa, os meios de comunicação de massas não se encontram mais, automaticamente, em relação de dependência com o poder político; o inverso é quase sempre o caso. Pode-se até mesmo dizer que o poder está menos na ação do que na comunicação.(RAMONET, 1999, p. 39)

2) O PODER DO ESTADO SUPERA O PODER DA MÍDIA - na época do Regime Militar(1964-1984), o Estado detinha o controle quase total sobre a mídia, com a imposição da censura prévia, em que ditava o que devia ser publicado. O AI-54 impõe total controle dos meios de comunicação de massa, sujeitando jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão, livro, cinema, teatro, música, disco e todas as formas de expressão do pensamento à censura prévia. O presidente da República tem o poder de intervenção nos Estados e municípios, de suspender ou afastar de suas funções funcionários civis e militares, de confiscar bens, confinar e expulsar pessoas, cassar mandatos, invadir domicílios, suspender direitos políticos.(BAHIA, 1990, p. 313)

O mesmo ocorreu nos anos da ferrenha ditadura Vargas(1937-1945), em que através do Departamento da Imprensa e Propaganda (DIP) fazia sempre valer a versão oficial do governo a respeito de qualquer assunto. A história da imprensa brasileira [...] registra, com o Estado Novo, um dos mais lamentáveis episódios da história do periodismo latino-americano. É quando se dá o advento da

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http://www.igutenberg.org/cobert19.html.


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censura, [...], a partir de 1939, estruturada no Departamento de Imprensa e Propaganda.(BAHIA, 1990, p. 300).

3) O PODER DO ESTADO E O PODER DA IMPRENSA SE CONFUNDEM (18081822) - Nos primórdios da história da imprensa brasileira, quando D. João VI chegou ao país em 1808 e instalou a Imprensa Régia que passou a publicar o jornal a Gazeta do Rio de Janeiro, imprensa e Estado eram a mesma pessoa. O Estado publicava o que queria, da forma que desejava, em um jornal de sua propriedade. Os atos oficiais davam o tom da publicação. A linha editorial do jornal era a de representar o Brasil como um paraíso dos trópicos, onde não havia pobreza, exploração ou qualquer tipo de problema social. "A diferença entre o Correio (Braziliense) e a Gazeta (do Rio de Janeiro) não é só de datas, já notara um leitor eminente, John Armitage: o Brasil visto pela Gazeta `deveria ser considerado como o paraíso terrestre, onde nunca se havia expressado nenhum queixume`."(BAHIA, 1990, p. 24) O que existe de comum nesses momentos da história é que de alguma forma a informação não está isenta de interesses, no mínimo, suspeitos, com a intenção de manter um determinado status quo. No primeiro caso, a imprensa dos dias atuais tende a repetir a lógica do neoliberalismo, da economia de mercados, do incentivo ao consumo, sem levar para o noticiário, de forma esclarecedora e consistente, os inúmeros problemas sociais da maioria da população. Os temas que envolvem aspectos sociais quase sempre só ganham destaque sob o enfoque da denúncia. Nos dois períodos de autoritarismo (Estado Novo e Regime Militar), sob a censura e sem a força do poder econômico de hoje, a imprensa adotava uma atitude de apatia, limitando-se a noticiar de forma a não ferir o poder ditatorial e, assim, colocar em risco a sua sobrevivência. O reinado de Portugal no Brasil desejava tornar-se vitalício e, assim, usava a máquina estatal para divulgar, através da Gazeta do Rio de Janeiro, os atos

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Ato Institucional nº 5, baixado pelos militares em 13 de dezembro de 1968, que, entre outras medidas, fecha o Congresso Nacional e determina a censura prévia a toda e qualquer forma de expressão.


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administrativos da Corte e colocar o Brasil, sob a ótica do Império, como o melhor país do mundo.5 A questão que agora se apresenta é: o jornalismo é capaz de se desvencilhar dessas formas, implícitas ou explícitas, de abusos de poder? O jornalismo deve limitarse a testemunhar os acontecimentos ou deve, além disso, propor idéias que visem o bem-estar comum e a construção de uma sociedade minimamente igualitária? A responsabilidade moral do jornalismo se ampara no uso pleno da liberdade de informar e no respeito completo aos direitos do cidadão num Estado pluralista, cuja essência está na dupla natureza de falar e de ser ouvido. A liberdade de expressão se define moralmente pelo princípio comum de que é tão útil a quem a veicula como a quem a consome, um e outro detentores do mesmo privilégio de emitir e de receber.(BAHIA, 1990, p. 220)

A abordagem dos aspectos relacionados à pessoa humana deve ganhar mais espaço na mídia, ou o mundo moderno obriga a imprensa a levar para o noticiário, em sua maior parte, apenas o que existe de mais importante no mundo econômicoempresarial-neoliberal? O jornalismo não pode nem deve rejeitar a quantidade avassaladora de notícias que o mundo institucionalizado produz. Essa é a engrenagem da atualidade, quer se goste ou não. Mas os jornais têm de arranjar tempo, espaço e competência para fazer a descoberta e o desvendamento dos efeitos. Por esse caminho se humanizará a narração jornalística e será alcançada a pedagogia da explicação. A capacidade jornalística de apreender, desvendar e relatar as conseqüências dos acontecimentos dará aos efeitos força de causa, para as transformações que interessam ao aperfeiçoamento da sociedade humana. Na competência e na arte de lidar com os efeitos[...], a ação jornalística adquire instância da causa, porque produzirá coisas novas, transformadoras. (CHAPARRO, 1997) 6

Quem nunca ouviu falar em Echelon; quem nunca ouviu falar de nomes como Hipólito da Costa, Jaguar, Ziraldo, Raimundo Pereira; quem nunca soube da existência de publicações como O Pasquim, Movimento, Caros Amigos, talvez aprecie conhecer o jornalismo alternativo.

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Nos demais momentos da história da imprensa brasileira, as empresas de comunicação, de alguma maneira, ainda estavam buscando a sua identidade ou o país estava vivendo alguma grande transformação social ou política (como, por exemplo, os períodos que sucederam a Independência, a proclamação da República, o Governo JK e a reabertura política, em 1984). Assim, a imprensa não sofria, de forma tão evidente, a interferência direta de fatores alheios à essência da atividade jornalística. 6 http://www.igutenberg.org/cobert19.html.


4. JORNALISMO ALTERNATIVO 4.1. A Busca de um Conceito Diz, textualmente, a Grande Enciclopédia Larousse Cultural: Alternativo adj. 1. Que se diz ou que ocorre com alternação; 2. Que se pode escolher em vez de outro: caminho alternativo; 3. Diz-se das técnicas, formas de energia, tecnologias, etc., pouco poluidoras, que preservam o meio ambiente e não exigem instalações gigantescas. // Fotografia alternativa, diz-se dos processos não convencionais de impressão fotográfica. // Imprensa alternativa: “é a manifestação, sob a forma de jornal, revista, folheto ou panfleto, dos setores da sociedade sem acesso à imprensa tradicional(...)” (ABI).” (Volume I, p. 221)

O que a Associação Brasileira de Imprensa coloca como imprensa tradicional é o conceito que anteriormente descrevemos como mídia de massas ou grande imprensa. Rivaldo Chinem afirma que “o dicionarista Aurélio Buarque de Holanda acrescentou, na segunda edição de seu Novo Dicionário, a definição do termo `alternativo` como algo `que não está ligado aos interesses ou tendências políticas dominantes: imprensa alternativa`.(CHINEM, 1995, p. 8) Juarez Bahia, ainda que não se atenha à definição do termo, faz referência aos jornais alternativos da seguinte forma: Já, então (1852), a consciência de emancipação nacional mobiliza o Brasil de ponta a ponta. A imprensa é o elemento que faltava na composição de forças, de anseios e de aspirações voltados para a independência, para um ato de afirmação de autonomia. Nela o jornal político se projeta, seja em veículos efêmeros, alternativos(grifo meu), seja nos estáveis, regulares.(BAHIA, 1990, p. 35)


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O trabalho “Estado da Arte em Pesquisa em Jornalismo no Brasil: 1983-1997”7, realizado por pesquisadores8 da PUCRS, traz a seguinte denominação: “Jornalismo Alternativo: inclui a atividade jornalística realizada fora do âmbito da grande empresa jornalística e que possui público específico.” Bernardo Kucinski, que participou de jornais alternativos da época do regime militar, descreve em seu livro Jornalistas e Revolucionários. Nos Tempos da Imprensa Alternativa que: [...] o radical de alternativa contém quatro dos significados dessa imprensa: o de algo que não está ligado a políticas dominantes; o de uma opção entre duas coisas reciprocamente excludentes; o de única saida para uma situação difícil e, finalmente, o do desejo das gerações dos anos 60 e 70, de protagonizar as transformações sociais que pregavam (KUCINSKI, 1991, p. XIII)

Nota-se, portanto, que o termo alternativo remete a uma segunda opção em relação a alguma coisa. Porém, não simplesmente a uma opção semelhante àquela a que faz concorrência. Alternativo conduz à idéia de que a outra escolha faz oposição à primeira. Ou seja, existe, em tese, uma situação “A”, que chamaremos de convencional, tradicional, aceita por uma grande maioria da população. Seria essa a situação do consenso geral. E existe, por oposição, uma situação “B”, a situação alternativa, que pressupõe outros valores e outras formas que, em algum momento, podem negar, contradizer, complementar ou criticar a situação tradicional. Para anexarmos o termo alternativo ao jornalismo, evidentemente que se faz necessário um abordagem mais aprofundada, dada a natureza mutacional da atividade jornalística, conforme se analise tempo e espaço, interesses políticos, econômicos ou ideológicos. Como já dito, o jornalismo tem por objetivo interpretar a realidade e levar ao público essa interpretação. Numa análise desprovida de contextos, na frieza do termo, seria uma atividade pura e despretensiosa, cujo maior interesse seria informar o leitor, o telespectador, o ouvinte. Sob esse ângulo, não se exigiria um termo que o complementasse porque sua função primordial, a de levar a verdade dos fatos ao público, estaria implícita e explícita na prática jornalística.

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Disponível em: www.intercom.org.br/papers/xxii-ci/gt03/03p08.PDF. Acesso em: 27/09/2003.

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Manuel Luís Petrik Pereira - Estudante de Jornalismo/PUCRS, Pesquisador PIBIC/Fapergs 1998-1999


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No entanto, por se tratar de atividade que traz em seu exercício toda a complexidade das relações humanas, do convívio social, em que vários interesses determinam a maneira pela qual determinada ação é conduzida, o jornalismo, em sua evolução, ganhou classificações que serviram para especificar de que tipo de jornalismo falamos. Como uma especialização da atividade: jornalismo político, jornalismo econômico, jornalismo científico, jornalismo acadêmico, jornalismo alternativo. Em sua evolução, a imprensa ganhou contornos de atividade industrial e começou a produzir conteúdo para difusão em grande escala, e, por isso, passou a ser chamada de grande imprensa. Os interesses econômicos, a sobrevivência das grandes empresas de comunicação, ditam as regras do fazer jornalístico. Com isso, a interpretação do fato, que em teoria deveria ser imune a qualquer tipo de interesse, é feita de forma a não ferir interesses diversos e, assim, colocar em risco a empresa jornalística. Por isso, reproduz em suas matérias a ordem econômica e política dominantes. O oposto desse tipo de jornalismo é o que classificamos de jornalismo alternativo. Dessa forma, podemos, conceituar jornalismo alternativo como aquele tipo de jornalismo que: 1) não faz parte da grande imprensa; 2) não está ligado a grande grupos ecônomicos e, portanto, teoricamente, defende idéias que valorizam mais o aspecto humano e de cidadania em vez do aspecto comercial, financeiro ou capitalista; 3) possui um público específico e menor que o da grande imprensa; 4) possui natureza crítica; 5) defende valores nacionalistas; 6) combate todas as formas de abuso de poder; e 7) zela pela liberdade de imprensa e de expressão.

O jornalismo alternativo pressupõe a existência de uma ou mais forças dominantes, que pode ser política, econômica, militar, ideológica. Notaremos, na análise

Jacques A. Wainberg - Doutor em Jornalismo/PUCRS, Pesquisador CNPq


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histórica, que os períodos de menor liberdade de expressão são os que mais contribuem para o nascimento dos veículos alternativos. Foi assim na inauguração da imprensa no Brasil, em 1808, quando as autoridades imperiais queriam um país livre de qualquer pensamento revolucionário. Foi assim no regime militar, em que a censura tentou calar todas as vozes que a ela se opunham.


5. ASPECTOS HISTÓRICOS 5.1. História da Imprensa Brasileira Começa com um Jornal Alternativo

Em 1808 a imprensa surge no Brasil, com a vinda da Família Real e a instalação das primeiras tipografias. D. João VI, fugido de Portugal, inaugurou a Imprensa Régia que editava o jornal Gazeta do Rio de Janeiro: era o jornal oficial da Coroa. Seu conteúdo era feito pelo atos administrativos da Corte. Suas páginas colocavam o país como o melhor lugar do mundo, onde não existia nenhum tipo de problema social ou econômico. Embora a Gazeta tenha circulado primeiro, foi o Correio Braziliense, de Hipólito José da Costa, que inaugurou a imprensa no Brasil, com sua primeira edição, datada de 08 de junho de 1808. Circulou no Brasil cerca de seis meses depois desta data, já que era produzido em Londres e enviado para o Brasil de navio. O jornal fazia oposição explícita às questões registradas pela Gazeta. Se o jornal da Coroa limitava-se a publicar o que convinha ao Império, o Correio Braziliense era um divulgador de idéias, de valores, de opiniões. Seu objetivo era mostrar ao povo que o Brasil não era aquele paraíso que a Gazeta fazia crer. Temos, assim, o primeiro jornal alternativo do Brasil. De um lado estava o poder econômico e politico do Império, que queria um Brasil escravizado, uma população explorada e dependente de Portugal, para onde seguia grande parte de nossas riquezas. A força desse poder era transportado para as páginas da Gazeta do Rio Janeiro. O jornal era a voz do Rei e zelava pela manutenção de uma ordem dominante, sem espaço para o debate de idéias ou ideais revolucionários.


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De outro lado, com recursos financeiros infinitamente menores e sem expressiva representação política, Hipólito da Costa editava o Correio Braziliense. Quem quisesse saber o que Gazeta deixava de informar, tinha que ler o Correio. Para a época, as idéias de Hipólito da Costa eram consideradas incendiárias, já que ele

luta no Correio por princípios liberais e democráticos, contra as práticas obscurantistas e despóticas. Defende mudanças substanciais no sistema político, administrativo, econômico e social vigente no Brasil e em Portugal. Quer a emancipação de seu país, não por métodos violentos, mas por meios legais.(BAHIA, 1990, p. 27)

No período em que circulou (1808-1821), o Correio foi uma voz de oposição, um palco de debates para questões de interesse nacional que a Gazeta insistia em omitir. O jornal de Hipólito da Costa, como se observará também em outros alternativos, foi vorazmente perseguido pela Coroa portuguesa. A Corte buscou de todas as formas calar a voz de seu editor para que pensamentos divergentes das autoridades imperiais não aflorassem. Em 1822, o Brasil torna-se independente de Portugal. O Correio, que durante treze anos colocara em discussão temas polêmicos e ideais revolucionários, deixa de circular. Extingue-se a razão principal de sua existência, que era difundir críticas e opiniões de valorização do país. Não havia mais uma grande força, até então personificada nas autoridades da Coroa, contra quem devesse lutar. Percebemos, assim, que o jornal alternativo simboliza a luta do mais fraco contra o mais forte. Enfraquecido o mais forte, o mais fraco perde a razão de ser ou de existir. Mas ao Correio Braziliense soma-se uma lista enorme de outros pequenos jornais de oposição. Foi a época dos panfletos, ou imprensa panfletária, que se estendeu até a República. Com as transformações trazidas pela independência surgem novos ideais: a abolição da escravatura, transformação do Império em República, entre outros.

5.2. Regime Militar Torna-se Solo Fértil Para a Imprensa Alternativa: O Pasquim, Movimento, Opinião Os anos sombrios da ditadura militar Militar trouxeram

ao País censura,

perseguições, atentados a bomba contra bancas de jornais e contra redações, prisões,


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exílios, mortes. Mas trouxeram também um grito veemente contra o autoritarismo do regime: a imprensa alternativa. Ao sair da prisão, Ziraldo começou a pensar em uma publicação que fosse independente dos interesses de empresas como as que mantinha Manchete, Globo, Estadão, Folha e outros. O Pasquim foi criado em julho de 1969.[...] O Pasquim não era um jornal político, era apenas um jornal debochado, de contestação, indignado, que queria sair do sufoco, um jornal que não suportava mais ver os outros jornais como a primeira página do Jornal do Brasil, cheia de insinuações e legendas, e o censor dentro da redação.(CHINEM, 1995, p. 42) O Pasquim era feito olhando-se para Jaguar, um humorista puro por excelência, para o riso que ele daria ou não. Foi Jaguar quem descobriu que Paulo Francis escrevia `inserido no contexto` e fez piada em cima; ele descobria as `pérolas` e debochava. Jaguar sempre dizia que tinha mentalidade de 15 anos de idade. Às vezes se olhava no espelho e via aquele velho careca e levava um susto porque por dentro ainda era um irresponsável.(op. cit., p. 52) No dia 23 de outubro de 1972 Opinião chegou às ruas. Fernando Gasparian9 acreditava estar fazendo, a partir daquela data, um jornal para durar cem anos, um jornal que, depois de um investimento inicial, deveria ser autosustentável por meio das vendas em bancas. [...] Opinião não iria fazer política, não faria propaganda de movimentos políticos nem preservaria a imunidade de grupos ou igrejinhas, no entender de Raimundo (Rodrigues) Pereira10.[...] Opinião funcionou como um canal de comunicação entre intelectuais e jornalistas perseguidos pelo regime militar e seu público, devolvendo o direito de expressão aos pesquisadores expurgados das universidades. O jornal publicava a discussão das tarefas possíveis para uma oposição nas condições de autoritarismo extremo. [...] Antecipou-se aos jornais diários na defesa do consumidor e do meio-ambiente. Provocou uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre abusos na comercialização de medicamentos e projetou, em termos nacionais, críticos, escritores e ensaístas. (op. cit., p. 58) Os cinco princípios para o jornal Movimento11 foram escritos no folheto do lançamento, número zero, em junho de 1975. Raimundo Pereira destacou o coletivo de 16 pessoas, a importância do conselho editorial e um programa mínimo semelhante ao Opinião, mas voltado a um público mais amplo.[...]Movimento uniu várias correntes da esquerda, atraindo tanto militantes que haviam se afastado da luta armada em grupos novos que se animavam com o surgimento do novo jornal, vendo nele um espaço em que seria possível o exercício da ação política em um plano mais geral.(op. cit., p. 72-73)

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À época, empresário do setor têxtil (América Fabril). Editor do jornal Opinião, que havia atuado em jornais como Folha da Tarde e O Dia e na editoria de ciência, política e artes e espetáculos da revista Veja. Ele foi convidado para editar Opinião pelo empresário Fernando Gasparian, por indicação de Bernardo Kucinski. 10


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5.3. Anos 90: Imprensa de massa enfraquece jornalismo alternativo, mas Caros Amigos faz o contraponto A idéia da revista (Caros Amigos12) surgiu da necessidade que sentimos de ter uma voz que destoasse do discurso da grande mídia, que discutisse a globalização. Por outro lado, pensando pelo lado técnico, achávamos que tinha que haver alguma coisa mais jornalística. Porque, há quatro anos, quando a revista surgiu, o que se dizia é que as pessoas estavam parando de ler, que, na sociedade da imagética, o lance era fazer textos curtos, com muitas fotos, ilustrações e infográficos. Influências, no jornal, da escola do U.S. Today, americano, e, do lado da revista, o sucesso da Focus alemã e da influência da Escola de Navarra. Nós, ao contrário, fizemos uma revista que revaloriza o texto, porque há muitos leitores que querem ler coisas inteligentes, que os façam pensar criticamente o país. Queremos fazer a revista crescer. Por que não ter uma editora que não seja de direita no país? É claro que não vamos ter ajuda do BNDES, etc., mas vamos tentar, temos esse sonho. John Lennon disse que o sonho acabou. Mas eu acho que não: um sonho sonhado por muitos vira realidade. (ARAÚJO, 2003) 13

O jornalismo alternativo, como visto, muda sua forma de acordo com a época. Cada momento da história, com seus contornos políticos e econômicos, fazem nascer um tipo diferente de oposição. O que fica muito evidente é que o jornalismo alternativo combate alguma forma de abuso de poder. Ele quer chamar atenção para algo que os interesses dominantes querem esconder ou, de outra forma, não pretendem divulgar. O veículo alternativo surge na imensa arena de debates do jornalismo como uma espécie de GRITO a favor de uma nova idéia.

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O jornal nasceu após desentendimentos entre o editor Raimundo Pereira e o empresário Fernando Gasparian a respeito dos rumos do jornal Opinião, que ambos dirigiam. 12 Publicação mensal da editora Casa Amarela, lançada em 1998, que reúne jornalistas e intelectuais, com tiragem média de 55 mil exemplares mensais, entre os quais: Sérgio de Souza, editor, Marina Amaral, editora executiva, José Arbex Jr., editor especial, e Wagner Nabuco de Araújo, diretor comercial. 13 http://comcult2002.sites.uol.com.br.


6. ASPECTOS EDITORIAIS 6.1. Linguagem Nos alternativos, a linguagem empregada varia bastante de um veículo para outro, de acordo com sua identidade e com os objetivos ideológicos. Notamos, todavia, que alguns traços são comuns aos veículos alternativos. O humor e a irreverência são uma marca nesse tipo de jornalismo. Grande exemplo disso foi O Pasquim, um jornal que verdadeiramente “fazia piada” com os militares e o regime que defendiam. Enquanto a imprensa tradicional segue padrões de forma e conteúdo, os alternativos tendem a ser mais informais, mais livres, mais criativos. Os alternativos, em tese, não medem palavras para dizer o que querem. Não formatam a informação para deixar de agredir a quem quer que seja.

6.2. Estrutura financeira É comum aos alternativos possuírem uma estrutura financeira de poucos recursos. Normalmente, o retorno vem através da venda dos exemplares, já que, por sua linha de atuação, ao se colocarem na oposição às forças dominantes, a publicidade tem valor simbólico. Essa escassez de recursos é um dos fatores que marcam a efemeridade dos alternativos. Possuem vida relativamente curta, se comparada aos grandes veículos da imprensa tradicional, algumas delas, como O Estado de São Paulo e Jornal do Brasil, já com mais de 100 anos de existência.


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Essa efemeridade se explica pelo fato de que cada veículo alternativo cumpre um papel no decorrer da história. Eles surgem exatamente da necessidade de se fazer oposição a um sistema que de alguma forma não atende às regras para uma sociedade minimamente justa e igualitária.

6.3. Marca Pessoal do Proprietário A primeira coisa que se observa na análise dos veículos alternativos é que eles trazem, em sua forma e conteúdo, a marca de seu editor, ou de seu proprietário. A marca pessoal do dono do jornal tem fundamental importância porque, neste caso, o veículo representa a voz do dono. Na grande imprensa também, mas não de forma tão explícita. Os grandes veículos seguem padrões e regras do sistema industrial de produção de notícia. Os alternativos, ao contrário, tentam aumentar o alcance, através do jornal, das idéias ou ideais de seu idealizador. Isso fica muito claro quando se volta para os alternativos da época do Regime Militar. Todas as prisões tinham alvo certo: os donos do jornal, os editores, os jornalistas mais influentes. Como lembrar do Correio Braziliense sem se referir a Hipólito José da Costa? Como lembrar de Opinião e Movimento sem que o nome de Raimundo Pereira seja lembrado? Porque enquanto a imprensa tradicional funciona como uma grande lente que registra em grande escala os acontecimentos do dia-a-dia, o veículo alternativo existe como um propagador de idéias. A interpretação do fato passa ser mais importante do que o fato em si. Por essa razão, o estilo do dono do jornal, ou de seus editores, fica tão evidente.

6.4. Perfil dos Leitores O leitor que normalmente lê publicações consideradas alternativas, também lê as da grande imprensa. Porque os veículos alternativos não se sobrepõem aos grandes veículos; eles têm por função cobrirem determinadas lacunas deixadas pela grande imprensa.


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Os alternativos não chegam aos leitores, mas estes é que vão atrás. Ao contrário dos veículos da grande imprensa, que são encontrados sem esforço em qualquer local público, como escritórios, consultórios, hotéis etc. É lógico que essa obrigatoriedade de que o leitor seja o sujeito da ação (de buscar o jornal) irá variar de uma época para outra. Na apogeu do sucesso dos alternativos, nos anos 60 e 70, eles eram disputados nas bancas e passados de mão em mão para leitura. Prova disso foi o sucesso estrondoso de O Pasquim que chegou a vender mais de 200 mil exemplares por edição. O número de leitores também merecem uma análise. Os alternativos, por serem direcionados a um público específico, possuem tiragem bastante reduzida em comparação com os grandes veículos. Isso decorre do fato de terem um público restrito que, ativamente, procura publicações dessa natureza. Faz parte desse público o leitor curioso, crítico, bem informado. As publicações alternativas dependem do desejo consciente do leitor em buscar esses veículos. Porque esse público, mais exigente e crítico por natureza,

não se

contenta com a superficialidade da tevê nem com a voz uníssona dos veículos da grande imprensa. Ele quer pensar diferente, porque sua consciência crítica precisa de um palco de debates em que as idéias sejam mais amplas.

6.5. A busca da liberdade de imprensa Até que ponto o jornalismo alternativo é o que mais se aproxima da liberdade de imprensa? O principal foco do jornalismo alternativo, em tese, é o de fazer um jornalismo realmente livre de qualquer tipo de pressão, seja ela do poder econômico, do poder do Estado, ou de qualquer outro. Se a imprensa tradicional tende a seguir os padrões ditados pelo poder, invariavelmente em algum momento ela se submeterá a esse poder. A submissão ao poder colocará de lado a liberdade de imprensa que se confunde com a liberdade de empresa. O patrão determina o que vai ser publicado. O jornalista não possui recursos para contrariar o dono do jornal. Afinal, ele é apenas um empregado e como tal cumpre


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ordens. Ou seja, a liberdade de imprensa limita-se àquilo que o proprietário da empresa considere “publicável”. Se a informação jornalística de alguma maneira contiver o risco de comprometer os interesses comerciais da empresa, certamente ela será trabalhada para que aquele risco seja minimizado. O empresário da comunicação terá, então, duas escolhas: a de não publicar ou de divulgar parcialmente. Do lado dos veículos alternativos, pela própria estrutura financeira reduzida, a informação jornalística tende a ser mais transparente, o que faz com que os fatos tenham um tratamento mais analítico e de reflexão. Não existe a pressão comercial para ditar a forma como determinada notícia ser tratada. No jornalismo alternativo, as diversas funções da redação acabam por se confundir e a liberdade de imprensa é, teoricamente, maior. O jornalista do alternativo atua também como dono, e assume, nos estilo do texto e nas idéias que defende, a identidade do veículo. Há que se fazer uma distinção entre jornalismo alternativo e a conceituação histórica de imprensa alternativa, expressão que designa especificamente a imprensa de oposição e resistência que atuou nos anos do regime militar(1964-1980). O jornalismo alternativo, defendido neste trabalho como uma forma de atividade jornalística que busca a valorização do debate de idéias em vez de um discurso que repete os interesses econômicos ou políticos dominantes,

possui uma abrangência

maior e não assume a face pejorativa que em alguns momentos caracteriza a imprensa alternativa da época da ditadura. Talvez por essa razão o jornalista José Arbex Jr. posicione-se claramente contra o uso do termo alternativo(vide anexo 3). Ainda que originalmente a palavra se refira a algo ligado a alguma forma de resistência, de contracultura, de radicalismo exacerbado contra uma forma massificante de expressão, o jornalismo alternativo incorpora uma definição mais ampla do termo. Nele não está contido apenas o fazer jornalístico que critica, que satiriza, que ironiza, mas, além disso, propõe idéias em estilo sério, analítico, interpretativo, de valorização da cidadania.

6.6. A Sobrevivência do Jornalismo Alternativo


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Umas das questões fundamentais para se entender por que os jornais classificados como alternativos tiveram vida curta na história da imprensa brasileira é analisar a sua base de sustentação financeira. Os veículos alternativos nunca tiveram recursos financeiros suficientemente grandes para competir com a grande imprensa. O Correio Braziliense, de Hipólito José da Costa, recebia apoio financeiro da Coroa Britânica, mas nem assim conseguia competir em estrutura econômica-financeira com os da Coroa Portuguesa, que mantinha o jornal Gazeta do Rio de Janeiro. Os alternativos do regime militar, em sua ampla maioria, também não tinham suporte financeiro, sendo que uma das poucas exceções foi o jornal Opinião, que foi mantido pelo empresário Fernando Gasparian. Fora isso, os veículos tentavam se manter com a venda de assinaturas ou em bancas de jornais. O Pasquim, por exemplo, chegou a vender mais de 200 mil exemplares em sua fase de ouro. Foi dos poucos casos de comprovado sucesso do jornal alternativo como empresa. No entanto, por divergências de idéias entre seus editores, que, em última instância, não davam a mínima para o fator negocial, o jornal gradativamente foi perdendo audiência e não pôde solidificar o êxito financeiro. Percebemos, assim, que o jornalismo alternativo definitivamente é movido muito mais por idéias e ideais do que por fins econômicos e financeiros. Essa característica inata decreta a efemeridade dos veículos alternativos, que surgem e desaparecem conforme existam idealistas contrários às forças dominantes em cada momento da história.

6.7. Jornalismo Alternativo e Poder Político No decorrer da história dos veículos considerados alternativos nota-se que a oposição ao poder político e ao poder do Estado foram um ponto em comum entre eles. O Correio Braziliense se opunha ao Reinado de Portugal no Brasil, defendendo, sim, a Monarquia, porém que o Brasil deixasse de ser apenas um fonte de exploração comercial. O Pasquim, Movimento, Opinião, e tantos outros, eram o sìmbolo da resistência ao autoritarismo dos militares. Ou seja, a existência dos alternativos decorre da existência de uma força contra a qual se opor. Nesse quesito, o poder político ou o poder do Estado foram os


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grandes adversários. O abuso do poder, a falta de liberdade, a imposição da censura eram fatores que contribuíam para o nascimento dos jornais alternativos. Esse caráter político que na grande imprensa de hoje fica nas entrelinhas dos textos do noticiário, aparece com maior clareza nos alternativos. Em primeiro lugar porque, como já dito, os alternativos têm caráter pessoal, isto é, em geral os textos são assinados. O leitor sabe quem está falando. A grande imprensa, ao contrário, posicionase junto ao público através da impessoalidade dos editoriais e dos artigos de opinião que, embora assinados, praticamente repetem o pensamento da empresa. Daí surge a desconfiança por parte do leitor de que a mídia nem sempre diz toda a verdade. Não que ela minta. Mas a mídia molda a informação de acordo com suas convicções políticas ou econômico-financeiras. Os alternativos, longe de incorporarem o utópico jornalismo desprovido de qualquer tipo de interesse, fazem o contraponto do discurso da mídia. Aquilo que a grande imprensa não diz, como forma de não comprometer suas relações com o poder ou com as verbas publicitárias, os veículos alternativos publicam. 6.8. Contradições e Dificuldades Por sua fragilidade financeira, nota-se a primeira grande desproporção de forças entre os veículos alternativos e os da grande imprensa, tanto no aspecto de estrutura material como na composição de seus quadros de profissionais. Somente a grande imprensa possui condições para contratar os melhores jornalistas e pagar salários elevados. O jornalismo alternativo não reúne condições de concorrer com a grande imprensa. Os alternativos, com sua periodicidade semanal ou mensal, têm muito pouca representatividade frente aos grandes jornais diários, às grandes revistas semanais, ou aos telejornais com audiência de milhões de expectadores. A revista Caros Amigos, um dos representantes do atual jornalismo alternativo,

tem tiragem média de 55 mil

exemplares por mês. O jornal Folha de São Paulo a cada domingo edita em média 400 mil exemplares. A grande imprensa é esmagadoramente superior aos veículos alternativos. A favor do poder de fogo da grande imprensa brasileira estão os graves problemas sociais do país, onde a maioria da população, por questões de falta de acesso


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à educação e falta de recursos, não lê jornais nem revistas e tem com principal fonte para se manter informado a televisão. Esta, com sua superficilidade no tratamento dos temas pautados em seus telejornais, não é capaz de contribuir para o nascimento de uma consciência crítica.

6.9. A Favor dos Alternativos Existe, porém, um fator preponderante que está colocando em xeque essa supremacia da grande imprensa. Expandem-se, hoje, variadas formas de comunicação proporcionadas pela internet. Na rede mundial de computadores circulam informações alternativas em uma velocidade nunca antes imaginada, que, em alguns casos, conseguem superar a agilidade das mídias convencionais. A eclosão da notícia do relacionamento comprometedor entre o então presidente americano Bill Clinton e a estagiária da Casa Branca, Mônica Lewinski, deu-se primeiramente através de um site na internet. Depois a mídia foi atrás apurar a veracidade das informações.

Tudo começou quando um certo Matt Drudge enviou pelo seu site na Internet, The Drudge Report, o conteúdo das conversas telefônicas gravadas pela amiga-denunciante de Monica Lewinsky, Linda Tripp. A revista Newsweek havia hesitado em difundir essas conversas, pedindo mais um tempo para verificar a informação, precaução que o próprio Matt Drudge não tomou. De modo que a irrupção da notícia na esfera da Internet enlouquecer a imprensa escrita que, para entrar na corrida, pôs-se a cercar por todos os lados os furos de reportagem com um único objetivo em mente: não se deixar distanciar pela Internet. (RAMONET, 1999, p. 14)

Na recente segunda Guerra do Golfo, em que a mídia americana tornou-se portavoz do Governo americano, eram os blogs14 que faziam o contraponto às notícias oficiais e mostravam a verdadeira face de terror da guerra. É um grande problema a questão da credibilidade das informações disponibilizadas na internet. Não se pode confiar nelas cegamente, sem antes comparar

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Tipo de serviço disponibilizado por grandes portais de internet, que funcionam como um diário onde qualquer pessoa pode tornar público notícias, informações ou simplesmente um relato pessoal.


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com outras fontes. Entretanto, ainda que essas informações sejam pouco confiáveis, essa facilidade de comunicação de baixo custo contribui para que a mídia, ainda que de forma tímida, preocupe-se com o tom de seu discurso. Pois ela não pode correr o risco de publicar uma informação que, mais tarde, seja desmentida pelo universo paralelo do mundo virtual. Será o começo da quebra do paradigma de que aquilo que não sai na grande imprensa simplesmente não existe? Já existem fatos que ganham repercussão única e exclusivamente através da internet. O Relatório Alfa 15, exemplo de alternativo na grande rede mundial, registrou em seu site um caso explícito de censura envolvendo a Fiat Automóveis, que a grande imprensa simplesmente ignorou. Um cliente da empresa, descontente com o tratamento recebido, criou um site de protesto16, com o slogan “Fui Iludido Agora é Tarde” (mesmas iniciais da montadora de automóveis). No site, ele colocou fotografias suas, em que, vestido de palhaço, buscava chamar a atenção para a forma desrespeitosa com que a Fiat negava-se a resolver o seu problema. A direção da Fiat, usando de seu poderio econômico, exigiu que o provedor retirasse o site do ar. O cliente insatisfeito havia hospedado uma cópia do site em um provedor fora do Brasil. Do contrário, a empresa teria ganho a guerra de ocultamento do fato. O caso ficou restrito ao mundo virtual e não chegou à grande imprensa. Mas demonstrou que a internet pode ser uma poderosa arma de defesa contra qualquer forma de abuso de poder.

6.10. Uma Justificativa Necessária Como dissemos no início deste trabalho, o objetivo aqui foi mostrar os momentos em que o jornalismo alternativo apareceu de forma mais evidente. Ainda que recorrêssemos aos aspectos históricos da imprensa brasileira, não tivemos a pretensão de recontar a história do jornalismo brasileiro. Ainda que da leitura da presente pesquisa fique a impressão de que períodos importantes foram deixados de lado, registramos, mais uma vez, que nosso objetivo principal foi chegar a um conceito, o mais abrangente possível, do que seja o jornalismo alternativo. Na busca desse conceito, notamos que os

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A matéria completa, inclusive com a cronologia dos fatos, está disponível em http://www.relatorioalfa.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=245. Acesso: 09 nov.2003.


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momentos mais propícios para o surgimento de veículos alternativos foram quando a liberdade de imprensa e expressão foi barrada pela força do poder. Daí a razão de elencarmos os três momentos da história do jornalismo no Brasil em que a censura ou a autocensura motivaram o nascimento de veículos de oposição, exatamente os alternativos.

Apesar disso, registramos, a seguir, algumas observações que, por uma questão metodológica, não fizeram parte do presente trabalho, mas que de alguma forma contêm elementos de caráter alternativo: 

A partir da Independência, em 1822,

surgiram inúmeros pequenos jornais de

oposição, que foram chamados de pasquins ou de imprensa panfletária, efêmeros em sua maioria. Um dos nomes mais importantes desse período foi o de Cipriano Barata, que editou vários jornais com o título Sentinelas da Liberdade. Ele foi um dos pioneiros na luta pela liberdade de imprensa. 

Do início do século XX, logo após a Proclamação da República, fase em que a imprensa consolidou-se como empresa, e com a chegada dos imigrantes europeus, concorreram com a imprensa tradicional (O Estado de São Paulo, Jornal do Brasil) a que ficou conhecida como imprensa operária. Representava a voz dos trabalhadores na reivindicação de melhores condições de trabalho. Também eram efêmeros e sem periodicidade definida, devido à falta de recursos financeiros. Com a chegada de Getúlio Vargas ao poder, esse tipo de imprensa se acaba definitivamente.

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) foi fundada em 7 de abril de 1908, pelo jornalista Gustavo Lacerda. Seu objetivo seria a de defender a liberdade de expressão e os interesses da classe.

Durante o Estado Novo, a censura prévia foi imposta de forma muito austera e, praticamente, não houve nenhum veículo jornalístico capaz de impor uma resistência duradoura. Julio Mesquita Filho e Paulo Duarte fizeram 21 números do jornal Brasil, em que atacavam Getúlio Vargas. Acabaram presos e exilados. O

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www.maritonio.com.br.


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próprio jornal O Estado de São Paulo sofreu intervenção por parte do Governo, por negar-se a fazer propaganda do regime. 

Em 1938, Samuel Wainer tentou se opor ao regime com o semanário Diretrizes. Em 1951, com o patrocínio do Presidente Vargas, lançou o jornal Última Hora, um dos marcos na história da imprensa brasileira.

No Governo de Juscelino Kubitschek, em que, segundo registros da ABI, foi o período em que houve maior liberdade de expressão no País, surgiu em Belo Horizonte o jornal O Binômio, editado por José Maria Rabelo. Era uma crítica bem humorada ao slogan de Juscelino: “Binômio energia e transporte”.

A Tribuna de Imprensa, de Hélio Fernandes foi o jornal mais censurado do país. Sofreu censuras e intervenções durante 10 anos, sem interrupção. Helio Fernandes foi preso, processado e cassado.

Wladimir Herzog, diretor de jornalismo da TV Cultura, morreu, asfixiado em uma cela, em outubro de 1975. Apesar de todas as evidências de que fora torturado, a versão oficial do regime passava a notícia de que o jornalista havia se suicidado.

Após o regime militar, o jornalismo alternativo enfraquece e a grande imprensa passa criar seus próprios espaços alternativos. 17

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Da abertura política ao momento atual, a imprensa passa por significativas transformações, principalmente com o advento da mídia internet. Nesse contexto, a maioria das obras consultadas enfocam a atuação da grande imprensa, condenando seus abusos e sugerindo mudanças, sendo que, nessas obras, abordagens com enfoque no jornalismo alternativo foram bastante escassas. Por essa razão, as análises contidas neste trabalho, relativamente ao período pós-ditadura, trazem uma abordagem mais aprofundada da atuação da grande imprensa do que do papel exercido por veículos alternativos.


7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 7.1. Nada de Maniqueísmo O que se buscou no presente trabalho foi demonstrar que o jornalismo, ético e desinteressado em sua concepção, possui diversas faces. As duas principais e que se opõem são a do jornalismo da grande imprensa e a do jornalismo alternativo. Propositadamente, iniciamos com a forma de atuação da mídia, mostrando o seu “lado mau”, de tratar a informação como mercadoria, de repetir a força política e econômica dominantes. A seguir, reconstituímos a trajetória histórica do jornalismo alternativo, com suas fraquezas, com os ideais às vezes revolucionários de seus idealizadores, colocando-o como o “lado bom” e puro do jornalismo. Todavia, seria de extrema inocência tratá-las maniqueistamente. Ambos os tipos de jornalismo são movidos por interesses, até porque jornalismo 100% desinteressado é apenas uma utopia, que um dia como calouro no curso de jornalismo acreditei que pudesse existir. Jornalismo representa relações humanas e como tal foge totalmente a qualquer tipo de predeterminação. Prova disso é como a forma de fazer jornalístico se altera enormemente em cada período da história. As pesquisas em comunicação abrangem as mais diversas correntes, que ora convergem, ora divergem, ora se contradizem. O jornalismo do presente só poderá ser melhor entendido quando for passado e todas as contextualizações puderem ser analisadas. O jornalismo alternativo não é a “salvação da lavoura”. Ainda que de alguma forma esteja mais próximo do que qualquer outro da essência do amplo conceito de


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jornalismo, é apenas uma pequena parte da já fragmentada tentativa de interpretação de realidade. Traz em seu estilo o de seus idealizadores e pode, por isso, ser também interpretado mais como um palco de debates de uma forma de pensar do que propriamente uma forma de jornalismo imparcial. Talvez fira o pré-requisito de se ouvir os dois lados, ou vários lados, mais do que qualquer outro. A grande imprensa não é o “anti-cristo” da história da humanidade. Programas como Roda-Viva, da TV Cultura, Observatório da Imprensa, da TVE-Rio, são a prova de como a televisão também possui seus “espaços alternativos”. A participação do jornal

Folha de São Paulo na campanha das Diretas-Já foi fundamental para

redemocratização do país, depois de 20 anos de regime autoritário. A revista Istoé, quando divulgou entrevista com o motorista Eriberto França 18, contribuiu de maneira exemplar para a queda do presidente Fernando Collor de Melo. Com toda a massificação que a mídia impõe sobre o público, é inconcebível a existência de uma sociedade democrática sem a atuação de uma grande imprensa. Este trabalho não pretende assumir uma posição contra a grande imprensa e a favor do jornalismo alternativo, ou vice-versa, ainda que corra o risco de parecer estar “em cima do muro”. Ao longo da pesquisa, o que observamos é que todo jornalismo é movido por interesses. Existem estudos19 sobre a verdadeira independência jornalística de Hipólito José da Costa no Correio Braziliense. Mas a origem e a ascensão vertiginosas, com capital estrangeiro, da Rede Globo de Televisão, através de milionário acordo entre o jornal O Globo e o Grupo Time-Life, nunca foram de fato esclarecidas ao grande público. Assim, o jornalismo, que se presta a informar sobre tudo o que teoricamente é notícia, possui a sua própria história, feita de glórias e abismos, de contradições e revelações, de vilões e de heróis, mas uma história que os veículos não podem relatar com isenção, porque são seus personagens principais. Dessa forma, não existe uma fórmula que possibilite mapear, de forma conclusiva e definitiva, os diversos

18

Informações sobre o episódio, que levou à abertura de processo de impechmeant do presidente Fernando Collor, estão disponíveis em http://www.terra.com.br/istoe/confere/index_confere.htm. Acesso em: 09 nov. 2003. 19 Existem pesquisas que colocam em debate a verdadeira fonte de recursos com que Hipólito da Costa editava seu jornal, conforme pode-se verificar na matéria “Hipólito da Costa na corte de Dom João”, disponível em http://www.igutenberg.org/biblio21.html, acesso em: 09 nov. 2003. Há indícios de que além de receber apoio financeiro do governo britânico, ele tenha sido patrocinado também pela Coroa Portuguesa. Tanto que em 1823 ele era cônsul geral do Brasil em Londres.


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tipos de fazer jornalístico, porque isto envolve um sem-número de relações e motivações que possibilita enfoques diversos, conforme o autor se decida a

se

posicionar de um ou de outro lado. Então, para a pergunta inicial “O jornalismo alternativo preenche as lacunas de informação deixadas pela grande imprensa?”, a resposta é NÃO. Faz-se necessário registrar que no começo da pesquisa a idéia era de que exatamente o oposto ocorria. Imaginávamos o jornalismo alternativo como algo isento de qualquer forma de interferência externa e, portanto, que detinha a verdade absoluta sobre qualquer assunto. Seria como uma força desvinculada do contexto social, como uma câmera colocada no topo do mundo descrevendo para o público a “realidade da vida real que se passava lá em baixo”. Um jornalismo utópico que contribuiria para a construção de uma nova sociedade brasileira. Mas, definitivamente, não. Primeiro, porque o público dos veículos alternativos, em sua maioria, já possui uma conscientização e um senso crítico para os quais o jornalismo alternativo não faz outra coisa senão o de sedimentar idéias e, eventualmente, servir de palco de debate dessas idéias. Em segundo lugar, a audiência desses veículos é muito pequena para provocar uma ampla discussão sobre os problemas que traz à tona. E, por fim, eles não têm estrutura material, suporte financeiro nem recursos humanos para moldarem seu estilo jornalístico e, assim,

colocar

jornalistas nos eventos mais importantes do dia-a-dia. Tanto assim, que em nenhum momento da história houve um grande jornal alternativo diário, mas tão-somente publicações semanais ou mensais. Em conseqüência, os alternativos acabam por utilizar a grande imprensa como fonte, tratando apenas de oferecer nova angulação e complementando informações. Bernando Kucinski20 afirma que em determinado momento a imprensa alternativa dos anos 60 tornou-se dominante. Mas nem assim podemos dizer que os alternativos preenchem as reticências deixadas pela grande imprensa. Em muito casos, quem não lê primeiro a grande imprensa, não consegue entender o que querem dizer os alternativos, pois a linguagem de O Pasquim, por exemplo, através dos cartuns, das

20

Professor de jornalismo na Escola de Comunicações e Artes da USP, autor do livro Jornalistas e Revolucionários-Nos Tempos da Imprensa Alternativa, em que, com rigor científico (foi inicialmente sua


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charges, da sátira, exige um prévio conhecimento do fato, que só a grande imprensa pode representar. Retire-se a grande imprensa e o jornalismo alternativo desaparece. O mais comum, o mais corriqueiro, é que a pauta da imprensa alternativa fosse (na época do regime militar) calcada nas notícias da grande imprensa. O que se esforçava por ser alternativo era o ângulo de abordagem da matéria, os informantes ouvidos em off, a orientação oposicionista da análise e da interpretação, e, naturalmente, o posicionamento ideológico e político diante do assunto tratado, que se refletia nos títulos, nas fotos, nas charges e nos editoriais. Mas a base, a matéria-prima dos textos jornalísticos, era, na maior parte dos casos, constituída pelas informações veiculadas pela própria imprensa burguesa que se pretendia combater com uma imprensa alternativa. E isso, inevitavelmente, comprometia a qualidade, o nível, o alcance de boa parte do material da imprensa alternativa. (ABRAMO, 2003)

Em suma, é desejável a existência de um jornalismo alternativo que faça um contraponto à mídia de massas. Comprova-se que historicamente ele surge, alternando momentos de força com momentos de ostracismo que o levam à extinção. No entanto, ele apresenta-se como um complemento ao que publica a grande imprensa, sem a pretensão de se equiparar a ela, até porque empresarialmente mostrou-se um fracasso. Paradoxalmente, essa força de seu fracasso empresarial é que move o jornalismo alternativo hoje. O inimigo personificado na figura do Rei, na época da Monarquia, ou na silhueta dos militares, na ditadura, não existe mais. O adversário dos alternativos de hoje está na complexidade do capitalismo em atividade que se incorpora à economia de mercados, estes movidos pelas megacorporações empresariais, e ganha voz através da grande imprensa. O adversário dos alternativos de hoje não têm rosto, é um inimigo invisível. A seu favor está o livre trânsito de informações, de uma forma, veloz e de baixo custo, jamais vista, que tornou-se real com a internet e se expande a cada dia. Por fim, talvez a maior barreira entre o jornalismo alternativo e o da imprensa tradicional seja a barreira econômica, que coloca a classe dos menos favorecidos de um lado, e a classe que detém o poder aquisitivo de outro. O jornalismo alternativo tem a força das idéias, do debate, da voz de intelectuais e pensadores, mas não têm recursos suficientes para “saltar o muro” e chegar até a classe de baixo poder econômico, de quem acaba por se fazer porta-voz. A grande imprensa, de outro lado,

tese de mestrado), traça toda a trajetória da imprensa alternativa no período da ditadura militar(19641980).


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possui todos os recursos (financeiros, econômicos, intelectuais) para formar a consciência de toda a população, inclusive a das classes menos favorecidas, mas não possui a VONTADE para fazê-lo, pois, estando ao lado da classe que detém o poder, político ou econômico, tem garantidas a sua sobrevivência como empresa e a sua proximidade com os centros de poder.

... Echelon21: “Talvez você não saiba, mas é perfeitamente possível que todas as suas mensagens por telefone, e-mail e/ou fax estejam sendo interceptadas por um gigantesco sistema eletrônico de espionagem – o assim chamado Echelon – e enviadas a um centro de informação situado nos Estados Unidos.[...]O Echelon, segundo afirma o jornal britânico The Independent, é capaz de produzir pelo menos 3 bilhões de interceptações diárias. Os computadores empregados pelo sistema, chamados dicionários, são capazes de examinar, decodificar e filtrar quantidades imensas de mensagens alfanuméricas. Grupos de mensagens que contenham certas palavras-chaves são imediatamente encaminhadas a órgãos específicos da NSA22”.(ARBEX, 2000, p13)

21

A definição do sistema de vigilãncia global, chamado Echelon, foi aqui colocado como exemplo de típica informação tratada exclusivamente por veículos alternativos. 22 Abreviação de National Security Agency, a agência norte-americana de segurança nacional.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMO, Cláudio. A regra do jogo. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. ABRAMO, Perseu. Imprensa alternativa: alcances e limites. Disponível em: <http://www.fpabramo.org.br/perseu/imprensa_alternativa.htm>.

Acesso

em:

28/09/2003. ARBEX JR., José. Echelon, um megassistema eletrônico dos EUA, patrulha o mundo. Caros Amigos. São Paulo, Ano IV, nº 41, ago. 2000, p. 13. ARAÚJO, Wagner Nabuco Araújo. Caros Amigos: Receita de Jornalismo Alternativo. Disponível em: <http://comcult2002.sites.uol.com.br>. Acesso em: 18 set. 2003. BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica: história da imprensa brasileira. 4. ed. São Paulo: Ática, 1990. CHAPARRO, Manuel Carlos. Pragmática do jornalismo: buscas práticas para uma teoria da ação jornalística. São Paulo: Summus, 1994. CHAPARRO, Carlos. Os efeitos podem tornar-se causa. Instituto Gutenberg. Boletim nº 19, nov.-dez. 1997. Disponível em: <http://www.igutenberg.org/cobert19.html>. Acesso em: 09 nov. 2003. CHINEM, Rivaldo. Imprensa alternativa: jornalismo de oposição e inovação. São Paulo: Ática, 1995. COSTA, Caio Túlio. O relógio de Pascal: a experiência do primeiro ombudsman na imprensa brasileira. São Paulo: Siciliano, 1991. DEBORD, Gui. A sociedade do espetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. DINES, Alberto. O papel do jornal. 4. ed. São Paulo: Summus, 1986.


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FERREIRA, Giovandro Marcus. As origens recentes: os meios de comunicação pelo viés do paradigma da sociedade de massa. In: HOHLFELDT, Antônio; MARTINO, Luiz C.; FRANÇA, Vera Veiga(Org). Teorias da Comunicação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. GRANDE ENCICLOPÉDIA LAROUSSE CULTURAL. Nova Cultural Ltda, 1998. HERZ, Daniel. A história secreta da Rede Globo. Porto Alegre: Tchê! Editora Ltda., 1987. KUCINSKI, Bernardo. Jornalistas e revolucionários. São Paulo: Escrita, 1991. MEDINA, Cremilda. Notícia: um produto à venda. 2. ed. São Paulo: Summus, 1988. MUSSE, Ricardo. Indústria Cultural. Folha de São Paulo, São Paulo, 31 ago. 2003. Mais!, p. 13. RAMONET, Ignácio. A tirania da comunicação. Petrópolis: Vozes, 1999. ROSSI, Clóvis. O que é jornalismo? 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1992.


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ANEXO 1 Principais veículos alternativos consultados durante a realização deste trabalho: 1. Revista: a) Caros Amigos(versão on-line disponível em www.carosamigos.com.br ) b) Carta Capital (versão on-line disponível em www.cartacapital.com.br ) 2. Jornal: a) O Pasquim 21 (versão on-line disponível em www.opasquim21.com.br ) b) Correio da Cidadania (versão on-line disponível em www.correiocidadania.com.br ) 3. Internet: a) b) c) d)

Mídia Independente(www.midiaindependente.org) Revista Novae (www.novae.inf.br) Relatório Alfa (www.relatórioalfa.com.br) Observatório da Imprensa (www.observatóriodaimprensa.com.br)

4. Televisão a) TV Cultura (endereço na internet: www.tvcultura.com.br) b) TVE Rio (endereço na internet: www.redebrasil.tv.br ) c) Rede Minas (endereço na internet: www.redeminas.com.br )

5. Rádio a) Rádio Muda (endereço na internet: www.radiomuda.hpg.com.br )


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ANEXO 2 Íntegra de entrevista encaminhada, por e-mail, ao jornalista José Arbex Jr. De: Otávio de Barros [mailto:otaviodebarros@hotmail.com] Enviada em: Sábado, 13 de Setembro de 2003 12:21 Para: arbex@uol.com.br Assunto: Pesquisa -----------------------------------À revista Caros Amigos 1) Qual a principal motivação que levou à criação da revista(econômica, política, ideológica etc)? O que determinou o seu formato e desenho gráfico, em que se valoriza o texto e se utiliza somente imagens em preto-e-branco? 2) Como você classifica o jornalismo feito pela Caros Amigos? Em que se diferencia do da grande imprensa? 3) Quais são os valores defendidos pela revista? 4) A Caros Amigos é uma revista partidária? Qual o seu posicionamento político durante o governo FHC? E agora, com Lula? 5) Qual a ligação entre a revista e o Movimento dos Sem-Terra? Isso não ofusca a isenção jornalística? Em que essa ligação difere daquela feita pela imprensa na eleição de Fernando Collor? 6) Como a Caros Amigos sobrevive financeiramente? Já correu o risco (ou pode vir a correr) de parar de circular? 7) Em algum momento a revista teve, ou poderá vir a ter, grande repercussão como teve a Istoé no Governo Collor, com o caso do motorista Eriberto? 8) A Caros Amigos não é uma revista séria demais, pelo tipo de linguagem que usa? Ou, de outra forma, o humor e a irreverência não fazem falta à revista? 9) Qual a relevância social do jornalismo praticado pela Caros Amigos? 10) A revista preocupa-se com a questão da audiência? O leitor faz o conteúdo ou é o contrário? 11) A Caros Amigos, em sua opinião, é o único veículo alternativo atualmente em circulação no Brasil? Ao jornalista José Arbex Jr 1) Como jornalista, o que é, para você, jornalismo alternativo? 2) Ele existe de fato no Brasil de hoje ou ainda é uma força muito frágil em comparação ao jornalismo da grande imprensa? 3) Quais veículos você consideraria como alternativos, em todos os tempos e em todos formatos? 4) Correio Brasiliense e O Pasquim, em suas épocas, foram oposição a uma força dominante que tinha uma personificação(No Império, a família real, a corte etc; na ditadura, os militares). O (neo)-liberalismo econômico, a globalização, a economia de mercados, hoje, não têm rosto. É possível, ainda assim, fazer jornalismo de oposição, de conscientização? Se sim, contra quem? 5) Você acha que vivemos o auge da "sociedade do espetáculo" que Guy Debord descreveu há mais de 30 anos, quando a internet nem existia e a mídia não tinha ainda a força que tem hoje? 6) O mundo real, em sua opinião, é melhor ou pior do que esse que a tevê mostra? Você acha que a "realidade real" está cada dia mais longe de nós, já que cada vez ficamos mais tempo "conectados" à realidade fragmentada criada pela mídia? 7) Por que você deixou a grande imprensa, sinônimo de "glamour"(sei que não é bem assim) e vitrine, para se dedicar a um jornalismo direcionado a uma audiência mais seleta, porém com uma audiência infinitamente menor? 8) Qual o lado bom da grande imprensa? Em sua opinião, quais são os melhores veículos da grande imprensa, do ponto de vista da preocupação com os valores sociais? 9) Temas como Echelon, Plano Colômbia, não fazem parte da pauta da grande imprensa. Existe mesmo uma "agenda oculta"? 10) Os Estados Unidos possuem ingerência(política, econômica, militar etc) no Brasil?


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11) Como você avalia a cobertura mundial dos atentados do "11 de setembro" e as guerras que se seguiram, contra Afeganistão e Iraque? 12) Foi a mídia que matou a princesa Diana? 14) As publicações sobre ufologia são sérias ou simples ficção? 15) Em sua opinião, o melhor ou o jornalismo ideal é aquele que assume claramente uma posição ou aquele que "dá voz" a todas as opiniões? 16) No site www.midiasemmascara.org.br há um artigo, assinado por Sandro Guidalli, que diz "Uma característica pontiaguda dos textos do jornalista José Arbex Jr. é o ódio com que eles são escritos."(disponível em http://www.midiasemmascara.org/materia.asp?cod=166) Conhece o site, o autor? Sabia desse artigo? Pode comentá-lo? 17) Qual o melhor dos melhores trabalhos que o jornalista José Arbex Jr. teve o privilégio de realizar/viver/registrar para a história? Ao professor José Arbex Jr. 1) Por que os cursos de jornalismo são tão ruins? 2) Por que as universidades estão tão distantes das redações? 3) O diploma é essencial? 4) Li uma entrevista sua, em que você diz que jornalista tem que ter cultura, o que significa ler, ler, ler... Isso pesa muito mais do que a prática jornalística? 5) Embora a internet tenha, de certa forma, trazido a democratização da informação, a credibilidade/confiabilidade é um grande problema. Você acha que os veículos que só existem na internet (Revista Novae, Relatório Alfa, Midia Independente) são confiáveis? Ou a credibilidade nada tem ver com o suporte, mas sim com o emissor? 6) O mundo seria melhor ou pior sem a mídia? 7) Como você imagina o universo da comunicação(o ensino, a mídia, o jornalista) em 2023? 8) Qual o "momento mágico" da imprensa no Brasil? ------


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ANEXO 3 Comentários do Jornalista José Arbex Jr. sobre jornalismo alternativo. De : josé arbex jr <arbex@uol.com.br> Para : Assunto : Data :

Otávio de Barros <otaviodebarros@hotmail.com> RES: RES: Pesquisa Mon, 6 Oct 2003 19:58:33 -0300

Responder Reposder a Todos Encaminhar Excluir caro otavio seguem alguns comentários 1. não gosto do termo "alternativo", pois ele está carregado de uma conotação pejorativa e excessivamente ideológica, herdada dos anos 60 e 70. confunde-se "alternativo" com "nanico", "radical", "esquerdista", quase que alucinado. 2. prefiro o termo independente (do grande capital, dos partidos políticos etc.). 3. hoje, o desenvolvimento tecnológico permite uma profusão de veículos independentes, ao mesmo tempo em que as informações estão disponíveis (internet, tvs internacionais a cabo etc.). além disso, existe um movimento cada vez mais forte, e creio que irreversível (apesar da repressão governamental) de instalação de rádios e televisões comunitárias e livres. 4. o problema, então, é analisar, selecionar e colocar a quantidade quase infinita de informações disponíveis segundo uma perspectiva coerente e interessante: não apenas as informações propriamente políticas e sociais, mas também as de caráter cultural. 5. alguns veículos já são bem conhecidos por fazerem isso, numa perspectiva popular e/ou libertária: caros amigos, brasil de fato, reportagem, centro de mídia independente; a rede abraço (rádios comunitárias) também conquistou um bom espaço de organização e luta. mas tudo isso ainda é muito insuficiente. é preciso multiplicar os veículos independente, torná-los parte orgânica da luta pela organização autônoma do povo. 6. no passado, os veículos não tinham essa natureza. ou eram

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estritamente partidários (jornais clandestinos editados por grupos e partidos), ou eram, no máximo, muito restritos a determinados grupos de intelectuais (em tempo, movimento). houve uma experiência mais "aberta", mas igualmente intelectualizada, que foi o pasquim. agora, parece que se dissemina, cada vez mais, a idéia de que os próprios movimentos sociais e comunidades devem produzir os seus próprios veículos, o que é muito bom e não entra em contradição com outras experiências, como a caros amigos. acho que é isso. abraços


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