R$ 2,00 (outros Estados R$ 3,00) - www.otempo.com.br - Belo Horizonte - Ano 24 - Número 8544 - Quarta-feira, 6/5/2020
Entrevista Marco Silva, da Nissan, diz que dólar alto pode ajudar o setor Página 7
FRED MAGNO
CORONAVÍRUS > PANDEMIA Solidariedade contra a fome LANCHES E MARMITAS DE VOLUNTÁRIOS ALIVIAM O DRAMA DE QUEM VIVE NA RUA. Página 10
Estudo prevê perda de até 14 milhões de empregos No cenário mais otimista, PIB cairia 3% no país, e, no mais pessimista, retração chegaria a 11%
Esperança
Molécula barra ação do vírus em laboratório
¬ Projeções do Instituto de Economia da
UFRJ indicam que, na melhor das hipóteses, o país perderia 4,7 milhões de empregos e o PIB cairia 3,1% por causa da pandemia do novo coronavírus. Os números, no
¬ A partir de técnica já utiliza-
da para criar medicamentos, pesquisadores holandeses desenvolvem anticorpos que bloqueiam infecção. Página 11
Epicentro
Brasil registra 600 mortes em 24 horas e tem novo recorde
Internação COM LEITOS OCIOSOS, MINAS RECEBE DOENTES DE OUTROS ESTADOS.
¬ Desde o início da pandemia, foram confirmados 114.715 casos do novo coronavírus e 7.921 mortes no país. Estudo aponta que o país será o novo epicentro mundial da doença. Página 5
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Fôlego BETIM FACILITA ACESSO DE EMPRESÁRIOS A LINHAS DE CRÉDITO.
entanto, podem se tornar ainda mais devastadores, alcançando um rombo de 11% na soma de riquezas e a perda de 14 milhões de vagas de trabalho. Analistas apostam no meio termo: queda de 5% no PIB. Página 9
Projeção
Lanches produzidos por voluntários do projeto ‘Domingo do Bem’
ESTADO PREVÊ 200 ÓBITOS NO PICO DA DOENÇA; HOJE, SÃO 94
Página 6
PEDRO LADEIRA/FOLHAPRESS
Página 3
Suposta interferência na Polícia Federal
Em depoimento, Moro relata pedido de Bolsonaro para mudar comando da PF no Rio ¬ Depoimento do ex-ministro Sergio Mo-
ro, que vazou ontem, cita troca de mensagens em que o presidente deixaria claro seu interesse no comando da Polícia Federal no Rio, reduto de sua família. Moro de-
pôs no inquérito que apura ingerência política de Bolsonaro na PF. Na segunda, o novo diretor da instituição teve como primeiro ato justamente a troca do superintendente no Estado. Página 14
Descontrole
Presidente manda jornalistas ‘calarem a boca’ em Brasília Página 15
Troca na PF
Justiça dá 72 horas para o governo explicar mudança Jair Bolsonaro negou interferir na PF e criticou Moro
Página 15
ARQUIVO PESSOAL
MAGAZINE Museus se reinventam na pandemia e inauguram mostras online. Página 18
2 | O TEMPO BELO HORIZONTE | QUARTA-FEIRA, 6 DE MAIO DE 2020
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Coronavírus
Cobertura especial
Por causa do avanço da doença causada pelo novo coronavírus, O TEMPO criou uma editoria especial para tratar do assunto. Acompanhe também a cobertura no portal O Tempo e na rádio Super 91,7 FM.
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PANDEMIA
Capital já recebe pacientes de outros Estados para tratamento THIAGO GOMES/AGIF/FOLHAPRESS
Prefeito Alexandre Kalil confirmou que enfermos do Pará estão em BH
Pedra no caixão
Autora de vídeo fake é identificada
¬ LUCAS MORAIS ¬ No Pará e no Rio de Ja-
neiro, o aumento de casos de coronavírus já escancara as deficiências do sistema público de saúde e a falta de leitos de UTI. No Amazonas, o colapso de hospitais públicos é demonstrado com corpos amontoados do lado de fora das unidades. Em cada região do país, há realidades parecidas e o início do caos provocado pela pandemia. Enquanto isso, Minas Gerais, que ainda não viu a explosão do número de infectados pela doença provocar cenas de desespero nas unidades de saúde, segue com leitos ociosos para atender pacientes. Com isso, Estado se tornou a única alternativa para muitos moradores de outros locais que não têm a quem recorrer. O aumento pela procura dos serviços médicos e hospitalares em Belo Horizonte foi confirmado pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) durante entrevista coletiva ontem. Conforme o chefe do Executivo municipal, a situação é monitorada de perto pela Secretaria de Saúde, tanto na rede pública quanto na particular. “Nós tivemos o pessoal que veio do Pará e está no (Hospital) Madre Teresa para se tratar. É claro que nós temos que olhar isso, se essa onda vai continuar. Agora, o que não podemos fazer é a omissão de socorro”, argumenta. Para o prefeito, como ainda há vagas disponíveis na capital mineira, não há problema no fato de elas serem utilizadas por pessoas de outros Estados. “Se tem lugar, tem que colocar. (Não vai ser atendido) porque se veio do Pará, do Amazonas ou do Rio de Janeiro? É vida humana, e nós não temos como pegar e botar em um avião de vol-
Foi identificada a mulher que aparece em um vídeo afirmando erroneamente que estariam sendo enterrados em BH caixões com pedras e madeira dentro. Segundo o advogado Alexsander Pereira, sua cliente, Valdete Pereira Zanco, já se apresentou à Polícia Civil em Jacutinga, no Sul de Minas, na última segunda-feira, e lavrou um boletim de ocorrência, no qual esclareceu as circunstâncias em que gravou a mensagem. Segundo a nota enviada pelo advogado, o vídeo foi registrado em um grupo de família e acabou disseminado pelo WhatsApp sem consentimento da mulher. Ainda segundo o advogado, Valdete reconheceu o erro e pediu desculpas para Belo Horizonte e para o prefeito Alexandre Kalil (PSD), citado no vídeo. Ontem, a Polícia Civil afirmou que a pena para a autora pode chegar a nove anos de prisão e multa. (Da redação)
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Colapso. Com a crise no sistema de saúde do Pará, capital mineira já está recebendo pacientes do Estado nortista com coronavírus
ta”, complementa Kalil. HOSPITAL CONFIRMA. Em nota,
o Hospital Madre Teresa alegou que há quatro pessoas do Pará internadas atualmente na unidade para tratamento de coronavírus. Conforme a entidade, o hospital conta com dez apartamentos exclusivos para casos suspeitos da doença, além de outros dez para os registros confirmados em alas distintas. Ainda há disponível uma UTI com dez boxes para os casos mais críticos. “O hospital está preparado para aumentar o número de leitos caso seja necessário, mediante avaliação do comitê de gestão de crise”, informou. Por fim, o Hospital Madre Teresa lembra que está com 15 pacientes internados por conta da doença, sendo que cinco casos já foram confirmados – contando com os quatro paraenses.
Bancas Reabertura. Kalil disse que vai permitir a reabertura das bancas de jornal espalhadas pela capital mineira a partir de amanhã. Os locais ficaram mais de 45 dias fechados.
Pagamento garantido
Retorno às aulas descartado
Servidores. Apesar da crise provocada pela pandemia, o prefeito Alexandre Kalil tranquilizou os servidores municipais em entrevista coletiva ontem. Ao contrário do governo de Minas Gerais, que já admitiu as dificuldades para quitar os vencimentos neste mês, Kalil declarou que há dinheiro em caixa para o pagamento: “Os salários estão garantidos”.
Rede particular. Alexandre Kalil voltou a se mostrar irredutível quanto ao retorno à normalidade da rede particular de ensino. Questionado se a movimentação iniciada por responsáveis por escolas particulares da capital sinaliza um retorno às aulas, o prefeito foi categórico: “Não, nem as particulares, nem as municipais vão voltar às aulas”, garantiu Kalil.
Sem máscaras
Multa pode chegar a R$ 80 FLÁVIO TAVARES
O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), afirmou ontem que 2 milhões de máscaras vão chegar à capital a partir da próxima sexta-feira, quando serão distribuídas para a população. Quem não usar o equipamento, segundo Kalil, será multado a partir da semana que vem. O valor ainda será definido, mas deve girar em torno de R$ 80. A data exata do início da punição ainda está sendo estudada pela prefeitura. “Vamos multar qualquer pessoa, em qualquer lugar: rua, avenida, espaço público. Temos que olhar para um cara sem máscara e ver que é um
zer carreata não tem problema. O que não pode é aglomerar”, reforçou.
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ALERTA AO INTERIOR. Kalil
Punição para quem não usar máscara deve começar na próxima semana
idiota, que não pensa em ninguém. Amarra um pano, uma camisa, faz qualquer coisa”, disse. O uso do equipamento já era obrigatório na cidade desde 22 de abril, mas não ha-
via punição para quem fosse pego sem ele. O prefeito reforçou que as festas também estão vetadas na cidade. “As festas drivethru podem, quem quiser fa-
também demonstrou preocupação diante do aumento de casos no interior de Minas. “Me disseram que a pandemia se propaga no interior com uma velocidade sete vezes maior do que na capital. A situação está ficando perigosa no interior. Peço que todo mundo se cuide, porque Belo Horizonte não tem a menor condição de aguentar o Estado numa situação de piora dessa pandemia”, disse o prefeito.
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CORONAVÍRUS
PANDEMIA
Minas pode ter 3.000 casos e 200 mortes no pico pandêmico Estado já registra 94 óbitos e 2.452 casos confirmados de coronavírus ¬ NATÁLIA OLIVEIRA ¬ O subsecretário de Vigi-
lância em Saúde de Minas Gerais, Dario Brock Ramalho, afirmou ontem que o Estado deve ter 3.000 casos e entre 200 e 220 mortes por coronavírus no pico da epidemia, previsto neste momento para o dia 6 de junho. Minas Gerais tem 94 mortes e 2.452 casos confirmados do novo coronavírus, segundo boletim da Secretaria de Estado de Saúde (SES) divulgado ontem.
Há ainda 89.602 casos por suspeita da doença e 94 óbitos também sendo investigados pela pasta. Belo Horizonte segue como a cidade com mais casos e mais mortes. São 22 óbitos e 829 pessoas infectadas. Uberlândia, no Triângulo Mineiro, tem oito mortes e 134
pessoas com a doença confirmada. Já em Juiz de Fora, na Zona da Mata, são 217 infectados e seis mortos. Dos 94 mortos até aqui, 13 não tinham fatores de risco para a Covid-19. Setenta e seis pessoas, ou seja, 81% delas, eram maiores de 60 anos. Quinze víti-
mas tinham entre 40 e 59 anos, e três, de 20 a 39 anos. Além das mortes e dos casos confirmados em Minas, as internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no Estado cresceram 472% nas 18 semanas de 2020, na comparação com o mesmo perío-
do do ano passado. INTERNAÇÃO. Cerca de 5% dos leitos de Minas Gerais estão ocupados por casos confirmados ou suspeitos de Covid-19. Essa taxa tem se mantido com flutuações pequenas, segundo informou o secretário de Estado de Saúde, RAMON BITTENCOURT - 21.4.2020
Carlos Eduardo Amaral, em coletiva de imprensa ontem. Ele não detalhou a ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). De acordo com Amaral, não há tendência de aumento da ocupação dos leitos no Estado neste momento. Ainda assim, o secretário voltou a mostrar preocupação com a diminuição dos índices de isolamento social e com o aumento da circulação de pessoas em Minas Gerais. O secretário, no entanto, não vê a necessidade de um fechamento total dos estabelecimentos. “A sociedade não tolera ficar seis meses fechada”, afirmou.
Subnotificação
Dia das Mães
Dados sugerem falta de testes
Secretário pede os parabéns a distância
Minas Gerais é o terceiro Estado com mais hospitalizações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no país, atrás apenas de Rio e São Paulo. Ao mesmo tempo, Minas é o terceiro Estado com menor incidência de Covid-19 – são 111 casos a cada 1 milhão de habitantes, enquanto, em São Paulo, epicentro da pandemia, o número chega a 701. A divergência entre os números de hospitalização e as confirmações de coronavírus pode ser mais um sinal da falta de testes para detecção do coronavírus no Brasil, segundo infectologistas. A causa de mais de 90% dos casos de hospitalização por SRAG (considerando apenas o fim de abril) ainda está em investigação, e pouco menos de 7% foram diagnosticados com Covid-19. Menos de 1% é comprovadamente devido ao vírus influenza. “Se outros vírus fossem diagnosticados, saberíamos que não se tratam de Covid-19, o que é uma informação valiosíssima”, ressalta o infectologista Carlos Starling. (GR)
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Mortes. Número de vítimas da Covid-19 em Minas se aproxima de cem pessoas; capital do Estado, BH registra 22 das 94 mortes até aqui LUANA DA MATA/DIVULGAÇÃO
Balanço de ocorrências Desrespeito. A Polícia Militar já atendeu 313 ocorrências no Estado relacionadas ao descumprimento de medidas de isolamento social por causa da pandemia. Os registros, que se referem ao período entre 11 de março e 27 de abril, estão relacionados a festas ou eventos em casas ou sítios e a comércios que não deveriam estar funcionado. Caso haja desobediência da determinação policial ou insistência no descumprimento da norma, o infrator pode ser conduzido para a delegacia de polícia.
Pia na calçada em Oliveira Inusitado. A grande movimentação de pessoas em Oliveira, no Centro-Oeste do Estado, motivou a empresária Nêm Campos, 67, a instalar, no começo da pandemia do novo coronavírus, um lavatório em frente à sua casa – um casarão do século XVIII, localizado no centro histórico da cidade. “A todo momento passa alguém e lava as mãos, o que me deixa bastante feliz. Fazer algo em prol da vida das pessoas é sempre muito gratificante”, ressaltou. Empresária instalou uma pia em frente à sua casa, no centro da cidade de Oliveira
Enquanto o isolamento social diminui no Estado, segundo observações da Secretaria de Estado de Saúde (SES), o secretário da pasta, Carlos Eduardo Amaral, preocupa-se que o Dia das Mães, que será comemorado no próximo domingo (10), leve muita gente a sair de casa para visitar a família. Ele reforça que ainda não é a hora de realizar esses encontros. “Não podemos tornar um momento feliz em infeliz no futuro. A mãe mais feliz é a que sabe que o filho e ela não pegaram a Covid-19 por causa de uma comemoração. Vamos dar os parabéns para nossas mães a distância, comemorar mantendo o distanciamento”, ressaltou. (Gabriel Rodrigues)
Testes Imprecisão. A Secretaria de Saúde voltou a ressaltar ontem que os testes para detecção da Covid-19 não são 100% precisos. Chance de um falso negativo é de 30%.
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CORONAVÍRUS
PANDEMIA
Brasil tem 42% dos pacientes curados Das 114.715 pessoas infectadas no país até hoje, 48.221 se recuperaram ¬ DANIELE FRANCO ¬ Desde que o primeiro ca-
so de Covid-19 no Brasil foi confirmado, em 26 de fevereiro de 2020, o país conta 48.221 (42%) pacientes que se recuperaram da doença. Segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado ontem, 114.715 pessoas foram infectadas pelo novo coronavírus, e 7.921 morreram. O estudante Matheus Marcondes Campos, 23, integra o quadro de curados da Covid-19. Tanto ele quanto os pais foram infectados, mas nenhum deles tem sinais do vírus no corpo. “Tive os sintomas primeiro, com tosse muito seca, recorrente, por volta do dia 25 de março. Dois dias depois, meu pai, que mora comigo, manifestou mais sintomas, como febre e difi-
ARQUIVO PESSOAL
culdades para exercer atividades corriqueiras”, detalhou o estudante. A mãe dele, por outro lado, teve a perda do olfato como único sintoma da doença. Os três, que moram com o caçula da família, de 6 anos, ficaram isolados enquanto os sintomas não passavam. “Consultamos alguns médicos conhecidos por telefone, e essa foi a orientação deles”, disse. “Quando passaram os sintomas, fomos fazer um teste rápido, que comprovou que tive a Covid-19 e que meus pais ainda estavam com a doença”, acrescentou. Agora, os três permanecem em isolamento, saindo somente para comprar o necessário. Segundo o relato de Campos, a família passou “por um momento de tensão, de ansiedade”. “Nós não apresentamos sintomas graves, e imagino que tenha sido menos desesperador do que algumas pessoas estão passando”. “Foi assustador por se tratar de uma doença desconhecida, mas consegui-
Análise
‘Número de recuperados não é o ideal’ A taxa de recuperados no Brasil, conforme explica o médico infectologista Carlos Starling, vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, está dentro do esperado, mas a taxa de mortalidade preocupa. “A taxa está em 7%. Imagine que metade da população do Brasil seja infectada. É como uma cidade do tamanho de São Paulo sumir”, comparou. O presidente da entidade, Estêvão Urbano, pontua que, embora o número de recuperados seja bom, não é o ideal, uma vez que o contingente de pessoas que já tiveram contato com a doença ainda é pequeno: “Estamos longe de ter de 60% a 70% da população imune, o que dá segurança à flexibilização”. (DF)
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Cura. Três pessoas da mesma família tiveram Covid, com sintomas diferentes; todos se recuperaram
mos superar”, relatou. A Secretaria de Estado de Saúde de Minas não informou o número de pacientes recuperados no Estado. Em nota, a pasta disse que “o sistema de Vigilância em Saúde é formatado para identificar pessoas doentes”. Outros Estados, porém, como Rio e São Paulo, têm números separados (veja ao lado).
Saiba mais
48.221
7.260
5.102
1.235
infectados no Brasil pela Covid-19 já se recuperaram
pessoas em SP internadas com Covid-19 estão curadas
pacientes no Rio já estão recuperados da Covid-19
infectados em Pernambuco obtiveram a cura da Covid
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CORONAVÍRUS
PANDEMIA AMAURI NEHN/FOLHAPRESS
País registra 600 óbitos em apenas um dia Estudo nos EUA diz que o Brasil será o novo epicentro da pandemia ¬ BRASÍLIA. Dados do Minis-
tério da Saúde divulgados no início da noite de ontem mostram que o Brasil registrou 600 novas mortes em pouco mais de 24 horas, um número recorde. Também houve 6.935 novos casos confirmados no período. O recorde anterior era de 474 mortes registradas em um dia, em 28 de abril, quando o Brasil ultrapassou a China em número de mortes e o presidente Jair Bolsonaro disse “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”, ao ser questionado sobre os números. Desde o início da pandemia do novo coronavírus, foram registrados ao todo 114.715 casos confirmados da doença e 7.921 mortes no país. De acordo com especialistas, os números reais devem ser ainda maiores, já que há baixa oferta de testes no país e subnotificação. Segundo o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, desses 600 óbitos, 25 evoluíram para o óbito ontem , no dia anterior, e 48 morreram no domingo. O restante foi antes disso. “Não são 600 mortes que aconteceram nas últimas 24 horas”, reforçou. Epicentro da crise, São Paulo já soma 34.053 casos confirmados e 2.851 mortes. Depois de São Paulo, o
Estado com maior número de casos é o Rio de Janeiro, com 12.391 casos e 1.123 mortes. Quando analisados os dados de incidência da Covid-19, indicador que abrange o total de casos pela população, outros Estados passam à frente do Rio: Amapá, Amazonas, Roraima, Ceará, Pernambuco, Acre e Espírito Santo. Um estudo conduzido pela Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, em parceria com algumas instituições brasileiras, como a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, apontou que o Brasil será o próximo epicentro da pandemia do coronavírus. Conforme publicou o “Wall Street Journal”, o estudo, que contou com dados publicados até 3 de maio, apon-
tou que o número de infecções no Brasil pode chegar a 1,6 milhão, mais do que os 1,1 milhões de casos divulgados pelos Estados Unidos, atual epicentro da pandemia. A pesquisa destaca, ainda, a subnotificação de casos no país como a razão pela qual os números registrados não são tão altos. Segundo o estudo, o Brasil realiza cerca de 1.600 testes por milhão de pessoas. Os EUA administram 20.200 testes por milhão, enquanto países europeus estão realizando 30.000. Além de apontar a diferença significativa de testes, o “Wall Street Journal” destaca o crescimento da preocupação da disseminação do vírus devido ao ceticismo do presidente Jair Bolsonaro em relação à Covid-19. DOUGLAS JV/FOLHAPRESS
Emergência. No centro de São Paulo, movimentação reduzida dá a dimensão da crise de saúde
Entrevista
Mandetta vê ministério ‘tímido’ e diz que BH é referência no país Em entrevista à rádio Super 91.7, na manhã de ontem, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que não ficaram mágoas em relação ao presidente Jair Bolsonaro sobre sua exoneração da pasta. “Obviamente ele (Bolsonaro) tinha uma visão do problema diferente da minha”, afirmou. Mandetta também afirmou que Belo Horizonte é referência no combate à pandemia em relação a outras cidades do Brasil. “Esse vírus não negocia com ninguém. Simplesmente alguma coisa que a gente tem para tentar diminuir um pouco o percentual de contágio, o percentual de agravamento e colapso na rede é exatamente tentar passar por ele de uma forma mais devagar, mais organizada. E nesse sentido eu vejo Belo Horizonte como uma referência para os demais prefeitos do Brasil”, afirmou. Sobre o trabalho do novo ministro da Saúde, Nelson Teich, o ex-comandante da pasta diz que não vê muitas diferenças em comparação ao seu. “Acho que quem está tomando as medidas são os governadores e os prefeitos. O Ministério da Saúde, o que ele faz são recomendações, e
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No centro histórico de São Luís (MA), o lockdown foi respeitado
Morre bebê em São Paulo
São Luís inicia lockdown
Um bebê de um ano de idade morreu após ter sido diagnosticado com Covid-19 na cidade de São Paulo. O primeiro óbito entre crianças da cidade foi confirmado no dia 25 de abril em um bebê de seis meses de idade, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. Ontem, o Estado de São Paulo contabiliza 197 novas mortes confirmadas, chegando a um total de 2.851 óbitos causados pelo novo coronavírus, e 34.053 casos da doença –1.866 a mais desde segunda (4). A Covid-19 já infectou pessoas de 344 municípios. (Mônica Bergamo)
A capital do maranhão, São Luís, teve ontem o primeiro dia de lockdown –bloqueio total das atividades– para restringir a circulação de pessoas. Além da capital, as medidas valem para mais três cidades da ilha. A decisão foi tomada pelo Poder Judiciário do Maranhão. As exceções são os serviços de alimentação, supermercados, farmácias, portos e indústrias que trabalham 24 horas. Os bancos e as agências lotéricas abriram somente para o pagamento do auxílio emergencial, salários e benefícios.
eu acho que as recomendações são ainda muito tímidas por parte do atual ministério. Tem alguns prefeitos velando muito por suas comunidades, alguns governadores, e alguns flexibilizando, alguns com critério e alguns sem critério", avaliou. Mandetta também disse que a falta de medicamentos no Rio de Janeiro é um problema pontual que não deve set sentido em outras
regiões do Brasil. Em contrapartida, pontuou o exministro, o Brasil pode sofrer com a escassez de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para a equipe da saúde, escassez de ventiladores pulmonares, essenciais nos casos críticos da Covid-19, e até mesmo não ter profissionais suficientes, o que chamou de “falta de recursos humanos”. (Da redação) MARCELLO CASAL JR/AG. BRASIL/ARQUIVO
O ex-ministro deu entrevista para a rádio Super 91,7 FM
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CORONAVÍRUS
PANDEMIA
Betim cria canal com a Caixa para facilitar acesso a linha de crédito JOSÉ AUGUSTO ALVES
Serviço já pode ser acessado e visa evitar burocracia e aglomerações ¬ JOSÉ AUGUSTO ALVES ¬ Empresários de Betim,
na região metropolitana, que quiserem ter acesso a linhas de crédito e de microcrédito disponibilizadas pela Caixa Econômica Federal já podem contar com um auxílio da prefeitura para entrar em contato com a instituição bancária. A administração municipal, por meio da Secretaria Adjunta de Desenvolvimento Econômico (Seadec), criou um canal direto com a Caixa para facilitar o acesso dos empreendedores às ofertas do banco, sem burocracia. “O objetivo é fazer com que a sociedade empresarial da cidade tenha acesso mais rápido ao serviço. Como os bancos estão muitos cheios, a prefeitura criou esse canal para ser um elo entre o interessado e o banco”, explicou o secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico, Alexandre Bambirra. O serviço funciona assim: o empresário, seja ele pequeno, médio ou grande, entra em contato com a Seadec e fornece seus dados. A secretaria, então, faz o encaminhamento para a Caixa. O passo seguinte é o banco ligar para o interessado e agendar uma visita para explicar a respeito das ofertas disponíveis. “É bom ressaltar que o
empresário não precisa vir até a secretaria. Basta ele ligar, informar o nome dele e do sócio, se tiver, o da empresa, bem como CNPJ, CPF e telefones de contato. Com base nessas informações, a Caixa já saberá o tipo de empresa, o ramo e o porte dela e já fará a apresentação das linhas de crédito específicas para o empreendimento, conforme a necessidade de cada um”, detalhou Bambirra. “É um grande facilitador, pois ajudamos a reduzir a burocracia. E o processo não gera aglomeração nem na secretaria, já que o cadastro é feito por telefone, nem na Caixa, pois será agendado um horário específico para o interessado ir lá”, salientou. A empresária Indianara Cristina Simões, sócia-proprietária de um restaurante em Betim, já conseguiu acesso a ofertas da Caixa após se cadastrar na prefeitura e avaliou a iniciativa como interessante: “Achei muito boa a criação desse canal direto da secretaria porque está muito difícil ter acesso à Caixa por causa da alta procura das pessoas nesta época. Senti um cuidado muito grande por parte da Seadec com os empreendedores”.
Como funciona Contato. O empreendedor deve ligar para (31) 35123040 ou (31) 3512-3669 e fazer um cadastro, que será encaminhado ao banco. A Caixa, então, ligará apresentando a proposta.
Acesso. Serviço é voltado para qualquer empresário de Betim que queira obter linhas de crédito ou microcrédito da Caixa Econômica MARCELO CAMARGOS/AGÊNCIA BRASIL
Desafio do Bem Campanha. Para incentivar a doação de sangue durante a pandemia, a Guarda Municipal de Betim lançou o Desafio do Bem. Hoje, a partir das 7h, 40 agentes da segurança pública irão à unidade municipal da Fundação Hemominas, no Jardim Brasília, doar sangue. Também participarão a PM e a Guarda de São José da Lapa. Estão em alerta na Hemominas os estoques dos tipos sanguíneos O+, O-, A-, B- e AB-. Quem quiser doar sangue pode agendar no site da Hemominas, pelo app MGapp ou pelo 155.
UAI é reaberta Serviço. A Unidade de Atendimento Integrado (UAI) do Monte Carmo Shopping Betim retomou as atividades ontem, seguindo as medidas contra a propagação da Covid-19. O local funcionará das 8h às 17h, para a emissão e a entrega de carteiras de identidade. O agendamento é obrigatório, devendo ser feito no site www.mg.gov.br. O usuário pode tirar dúvida no (31) 3512-6000. Já a Superintendência de Proteção e Defesa dos Direitos do Consumidor de Betim, que funciona no local, ainda não tem data definida para retornar.
PREFEITURA DE BETIM/DIVULGAÇÃO
Transporte coletivo
Ações de fiscalização continuam As fiscalizações no transporte coletivo continuam acontecendo em todas as regiões de Betim. Ontem, agentes de trânsito da Transbetim e fiscais da Procuradoria Geral do Município e da Guarda Municipal estiveram no PTB e no Petrovale para verificar se os ônibus e as vans estão cumprindo as medidas sanitárias determinadas pela prefeitura visando evitar a proliferação do novo coronavírus. Desde a semana passada,
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Fiscais fiscalizaram ontem veículos nos bairros PTB e Petrovale
as fiscalizações foram intensificadas na cidade e, até essa terça-feira, de acordo com balanço parcial da Transbetim, 50 veículos já haviam sido abordados. Os fiscais seguirão com os trabalhos nas demais regionais. Segundo a diretora executiva de Transporte e Trânsito da Transbetim, Vânia Elias, durante a vistoria em um dos principais corredores do PTB, os agentes constataram aglomeração de pessoas em uma van. “Para garantir a seguran-
ça, tivemos que solicitar o desembarque dos passageiros que excediam a capacidade permitida. Apesar disso, notamos que a maioria está seguindo as normas sanitárias. Mas um ou outro passageiro insiste em não usar a máscara da forma correta”, pontuou. Além de conscientizar os passageiros, a equipe de fiscais orientou todos os motoristas a não autorizarem a entrada de quem não esteja usando máscara e a controlarem o distanciamento dos
usuários. “Vamos nos reunir com os representantes do setor nos próximos dias para estudar novas medidas para garantir ainda mais a segurança de todos”, afirmou a diretora. CLICABUS. Além de acompa-
nhar em tempo real horário e trajeto das linhas de ônibus, os 38 mil usuários diários do transporte coletivo de Betim podem usar o app Clicabus para fazer denúncias. (Dayse Aguiar)
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CORONAVÍRUS
PANDEMIA
Dólar a R$ 5 pode beneficiar a cadeia produtiva nacional REPRODUÇÃO DA LIVE
G
Marco Silva Presidente da
NISSAN DO BRASIL
Confira entrevista no portal O Tempo
Para presidente da Nissan, apesar da crise mundial, a pandemia tem seu lado positivo, como a mudança de comportamento do consumidor
Entrevista Qual é o impacto da pandemia na Nissan, no momento em que a empresa completa 20 anos no Brasil e seis anos desde que instalou a montadora em Resende, no Rio de Janeiro? A pandemia traz impacto para todos, mundialmente, e ainda mais para o nosso país, que está voltando da crise de 2015 e 2016. Neste momento de retomada, viemos com uma redução drástica da indústria automobilística no Brasil. A pandemia vai adiar investimentos da montadora no país? O impacto é gigante, principalmente no fluxo de caixa. Há um fluxo de entrada interrompido e continuamos tendo que fazer pagamentos. Toda indústria é impactada por isso. Os investimentos seriam feitos baseados em entradas vindas da ma-
“Com dinheiro limitado, investimentos vão ser feitos naquilo que dá um retorno mais rápido”.
triz e com fundos próprios do Brasil, mas essa ideia se encerrou com a pandemia. Há impacto nos nossos investimentos e programas, e vamos refazê-los conforme o andamento da pandemia, da melhoria do mercado e do país. A Nissan tem 2.500 funcionários no país. Esse problema no fluxo de caixa pode ocasionar perda de emprego e atraso no lançamento de produtos no Brasil? Há impacto nos produtos futuros, não só no Brasil, mas o Japão e os EUA têm sofrido também, assim como México e China. A empresa como um todo está sendo impactada, e vai haver reflexo em alguns investimentos. Estamos mantendo todos os empregos e aproveitando a Medida Provisória (MP) 936/2020, trabalhando com o lay-off, e tivemos que trabalhar com redução de jornada de alguns trabalhadores. Isso foi estendido até o dia 22 de maio. Com o dólar em alta, a Nissan tem intenção de fortalecer a cadeia produtiva nacional? Considerando a cadeia completa de valor, certamente um dólar a R$ 5 tem um impacto grande no negócio e para toda a indústria automobilística no Brasil. Esse impacto tem que ser absorvido ou repassado em mudanças de preços ou em redução de custos internos. Isso abre portas para fazer investimentos no Brasil, devido à necessidade de se reduzir a exposição em moedas fortes, como o dólar, o iene ou o euro. Com dinheiro limitado, os investimentos vão ser feitos naquilo que dá um retorno mais rápido. O carro elétrico da Nissan tem futu-
ro? Há muito investimento, e há necessidade de retorno muito rápido dele. Pode haver um desenvolvimento muito mais rápido, pelo possível aumento na demanda. Mas também pode ser que haja menos investimentos, pela necessidade de colocar dinheiro onde há mais retorno. Acredito que, no Brasil, vamos continuar com o investimento no carro elétrico. Há chance de a produção se encerrar no Brasil e a fábrica de Resende, no Rio de Janeiro, ser fechada? Existe um plano estratégico que vai ser divulgado no final de maio pelo nosso CEO, e ele inclui a América Latina e o Brasil, considerando continuidade dos investimentos de médio e longo prazo. O que a pandemia pode mudar na relação do consumidor com a empresa, desde a pré-venda à pós-venda? Os nossos concessionários são
“Boa parte dos preços dos veículos praticados no país é em decorrência dos tributos cobrados”.
muito importantes, e muitas das necessidades dos clientes são tratadas com eles. Mas, com certeza, vai haver uma relação direta entre montadora e cliente. Isso abre portas para várias oportunidades de negócio. Temos que ver a pandemia de forma positiva, quanto à forma como o cliente vai mudar o modo como compra e interage com as empresas, além da forma como ele financia o carro e se transporta. Qual é a participação do governo federal na implantação do carro elétrico? Há diálogo para além da infraestrutura, como subsídios? Não temos nenhum subsídio, como há em alguns países da Europa, por exemplo. Neste momento, o governo está aberto ao carro elétrico como uma forma de trazer essa nova tecnologia, que existe em outros países do mundo. Um problema muito discutido é a infraestrutura. Ela terá de chegar de duas formas: dos agentes de Estado e das empresas privadas. Na verdade, os investimentos têm que chegar em conjunto. No preço, já incluímos o carregador para casa, porque sabemos que é uma necessidade. Há outras empresas com as quais conversamos nos últimos meses sobre formas de aliar corredores elétricos ou zonas de distribuir carregadores rápidos em algumas zonas das cidades. Como a pandemia impacta as vendas e qual é a previsão para o fechamento do ano? O impacto já foi visto no mês passado, com uma queda de 75% do volume. Sabemos que maio também vai ser complicado. Nós temos algumas cidades que ainda não abriram as conces-
sionárias, e isso vai ter consequências para este ano fiscal. Há incerteza sobre como o consumidor vai voltar a ter confiança de consumir outra vez, havendo o risco de perder o emprego, da redução do salário, e dos negócios que têm sido fechados ou reduzidos. Vamos propor uma forma diferenciada para esse cliente ter acesso ao veículo e segurança para comprar um carro. O mercado vai voltar, e acreditamos que este ano vai ser em 2 milhões (de veículos vendidos no país) ou um pouco abaixo. Em 2021, ele retorna ao patamar de 2019 e acreditamos que, a partir de 2022, siga o que prevíamos antes. Há movimento nos bastidores para redução do IPI, para diminuir o impacto das perdas em função da pandemia? Não há nenhuma discussão. A questão tributária é complexa e precisa ser discutida como um todo. A reforma tributária do país precisa ser extensa e completa, porque boa parte do preço dos veículos praticado no país é em decorrência dos impostos e dos tributos. Há planos de fazer acordos para a retomada após a pandemia sobre tributos e a negociação de juros mais acessíveis? A discussão com o governo é como garantir os empréstimos, tanto das montadoras quanto dos bancos, para que possamos oferecer crédito e financiar as operações. Isso está sendo discutido com o Ministério da Economia, e o BNDES tem feito parte da discussão. Tem que haver discussão com os bancos privados também. (Helenice Laguardia, Raimundo Couto e Karlon Aredes. Com a colaboração de Gabriel Rodrigues)
Live do Tempo Programação. A live está disponível às 14h no portal O Tempo e nas redes sociais do jornal. 8 Convidado de hoje: Pablo di Si, presidente da Volkswagen do Brasil.
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CORONAVÍRUS
PANDEMIA
‘Mais do que descaso, é uma covardia’ Reportagem de O TEMPO foi às ruas conferir maratona em busca do auxílio ¬ RAFAELA MANSUR ¬ Na busca pelos R$ 600
do auxílio emergencial garantido pelo governo federal, centenas de pessoas, sem renda em função da pandemia, varam a madrugada frente às agências da Caixa Econômica Federal. Na de ontem, a reportagem de O TEMPO percorreu seis delas – e, apesar de só abrirem às 8h, em todas já havia fila por volta das 2h. Embora a maioria das pessoas usasse máscaras, a distância de segurança praticamente não era respeitada. A situação mais crítica era a da agência no bairro Céu Azul: lá, mais de cem pessoas chegaram ainda na madrugada, com papelões e cobertores. Para esquentar, fizeram café e fogueiras. Desempregada, Jéssica de Oliveira, 30, chegou às
FOTOS: FRED MAGNO
20h da segunda (4). Foi a segunda noite que passou na rua com o marido e a filha, de 5 anos. “Não posso deixá-la em casa sozinha. Nossos pedidos foram aprovados, mas o aplicativo não funciona”, conta ela, cujo marido, marceneiro, está sem serviço. “Difícil demais. Está tudo atrasado, não há como tirar do (dinheiro) de comer para pagar conta! Daqui a uns dias, é todo mundo despejado e passando fome”, lamenta. Tatiane Maia, 34, foi à agência pela terceira vez tentar obter o auxílio do marido, motorista de aplicativo, que foi aprovado, mas o qual não conseguiram sacar. Também chegou na segunda. “Ele até quis desistir, mas tenho três filhos e o armário está ficando vazio”, revela. O autônomo Itamar Rodrigues, 58, que tenta atendimento desde o dia 2, foi outro a ir para lá às 20h da segunda, mesmo temeroso com os riscos. Seu auxílio caiu no dia 21 de abril, mas, por erros no aplicativo, ele
Dramas
‘Se acaba o gás, como pagar conta?’ Na agência da rua dos Tupinambás, no centro, havia mais de cem pessoas na fila por volta das 6h de ontem. Caso da doméstica Priscila de Almeida, 40, outra a não conseguir usar o aplicativo. “Só não estou passando necessidade porque consegui cesta básica da prefeitura e de projetos, e meu marido ainda faz uns bicos. Mas pagar conta, não dá. Se o gás ou a comida acabam, a conta tem que esperar”, afirma. A instituição lembra que o app Caixa Tem “está disponível 24 horas/dia, e que o banco vem continuamente implementando melhorias nas soluções de tecnologia”, mas, dado o volume de acessos, “podem ocorrer intermitências”. (RM)
7 Jornada noite adentro. Na agência do Céu Azul, os que chegaram no dia anterior levaram cobertores
não conseguiu sacar. “A burocracia no Brasil é cruel, dolorida. Deixar o povo aqui, numa guerra biológica contra um vírus, sem nenhum apoio ou amparo”, pontua. Frente à agência da avenida João César de Oliveira, em Contagem, o pedreiro Idael Vieira, 60, lembrava que já havia ido lá outras duas vezes. “Mas havia uma fila quilométrica. Desanimei, porque tenho câncer. É mais do que descaso, é covardia”.
Tatiane: “O armário está ficando vazio, nossos filhos ficam como?”
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CORONAVÍRUS
PANDEMIA
País pode perder 14 milhões de empregos e ver PIB despencar
FLÁVIO TAVARES/4.5.2020
Estudo da UFRJ aponta três cenários que o Brasil pode ter após a pandemia ¬ QUEILA ARIADNE ¬ Os efeitos colaterais do
combate à Covid-19 serão sentidos por muito tempo na economia. Só neste ano, o Brasil pode perder até 14,7 milhões de postos de trabalho e ver o Produto Interno Bruto (PIB) despencar. A projeção de queda de até 11% retrata o cenário mais pessimista do estudo feito pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na melhor das hipóteses, o país perderia 4,7 milhões de vagas e o PIB cairia 3,1%, situação bem pior do que o crescimento de 1,1% em 2019, que, mesmo positivo, chegou a ser chamado de “pibinho” pelo mercado. Com base em tendências de consumo, exportações e investimentos, a pesquisa traça três cenários prováveis. O mediano estima corte de 8,3 milhões de empregos e queda de 6,4% na economia. Na avaliação do analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman, 11% é uma projeção muito drástica, entretanto não pode ser descartada. “O nível de incerteza sobre o que vai aconte-
cer é tão grande que nem dá para afirmar essa queda não vai acontecer. Mas acreditamos em uma retração de 5%, depois de algumas revisões. Começamos o ano apostando em crescimento de 2% e, em março, reduzimos para queda de 2,75%” explica Arbetman. Para a economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) Ana Paula Bastos, as estimativas de queda para o PIB incluem muito mais do que os impacto da pandemia. “O cenário de incertezas políticas é péssimo para a economia, porque, para atrair investimentos, temos que ter segurança jurídica e estabilidade”, afirma Ana Paula. A economista acha que o cenário de queda do PIB em 11% é extremo. “Para isso acontecer, todos os setores teriam que estar parados. Mas ainda temos movimento em atividades como mineração e agronegócio, pois a China continua comprando (minério)”, ressalta. Ana Paula aposta mais na queda de 5,3%, como a projetada para o PIB mineiro pela Fundação João Pinheiro (FJP). O coordenador do curso de administração do Ibmec, Eduardo Coutinho, acredita que o mais provável é que a retração não chegue a 11%, mas não descarta totalmente essa possibilidade diante das incertezas atuais.
MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL/28.2.2019
Ajuda de R$ 600. O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, rejeitou ontem a ideia de tornar permanente o auxílio emergencial de R$ 600 pago a informais por conta da pandemia do novo coronavírus. Ele afirmou que nenhum país do mundo conseguiria pagar a conta de ter metade da população em programas assistenciais do governo.
EDITORIA DE ARTE / O TEMPO
IMPACTOS NA PANDEMIA NO BRASIL Previsão de queda em vários inicadores econômicos do ano
Cenário Otimista
Cenário Moderado
Cenário Pessimista
- 4,65 milhões
- 8,25 milhões
- 14,70 milhões
Queda na arrecação de imposto (em %)
- 4,1
- 8,2
-13,9
Queda do PIB (em %)
- 3,1
Empregos perdidos no país
No cenário pessimista, a economia brasileira pode perder
- 6,4
R$ 798,8 bilhões
- 11
com queda de R$ 145,4 bilhões na arrecadaçaõ tributária
FONTE: UFRJ
Produção
FGTS garante empréstimo
Indústria nacional volta a níveis de 2003
Antecipação. O Conselho Curador do FGTS deu aval ontem para que bancos possam antecipar empréstimos aos trabalhadores que optaram pela modalidade de saque-aniversário. O saldo – e não somente o valor anual da retirada – poderá ser dado em garantia, a exemplo do que já ocorre com a restituição do Imposto de Renda. Criado por lei no ano passado, o saque-aniversário permite retiradas uma vez por ano de contas ativas e inativas.
A pandemia do novo coronavírus derrubou a produção industrial brasileira em março, informou ontem o IBGE. A queda em comparação com o mês anterior, de 9,1%, é a pior desde maio de 2018, quando a greve dos caminhoneiros paralisou o país. De acordo com o instituto, o desempenho de março de 2020 coloca a produção industrial brasileira no mesmo nível de agosto de 2003. A queda foi generalizada, atingindo todas as categorias econômicas e 23 dos 26 ramos pesquisados. “Na raiz desse resultado há claramen-
7 Auxílio terá fim
Efeito cascata. Isolamento social no Brasil afeta demanda do comércio, a produção industrial e coloca em risco os empregos
RIO DE JANEIRO.
te os efeitos do isolamento social, que levou à paralisação das operações de diversos segmentos da indústria e, mais do que isso, levou a um recuo disseminado entre as atividades industriais”, disse o gerente da pesquisa, André Macedo. A principal influência negativa foi dada pelo setor automotivo, que teve queda de 28%, com o paralisações e interrupções na produção. Outras contribuições negativas relevantes vieram de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-37,8%), de bebidas (-19,4%), de couro, artigos para viagem e calçados (-31,5%).
Nota do Brasil em risco Rating da Fitch. A agência de classificação de risco Fitch alterou ontem a perspectiva do rating (nota de risco fiscal e econômico) do Brasil de estável para negativa. A agência manteve a nota brasileira em BB-. A agência justificou a decisão com diante da perspectiva de deterioração fiscal e econômica do país neste ano em decorrência dos efeitos do coronavírus.
Câmara
Socorro aos Estados tem reajustepara policiais A Câmara aprovou ontem o texto-base do pacote de socorro financeiro aos Estados e municípios na crise do coronavírus, estimado em aproximadamente R$ 125 bilhões, sendo R$ 60 bilhões de repasse direto para o caixa de governadores e prefeitos. O plenário ainda precisa analisar sugestões de mudanças no texto. Mas, por causa do lobby do funcionalismo público, a proposta, após o aval da Câmara, precisará voltar ao Senado, antes de ir para a sanção do presidente Jair Bolsonaro. No plenário, os deputados, em articulação do governo, decidiram que, mesmo diante da crise causada pela Covid-19, será possível conceder aumento de remuneração a servidores da segurança pública, inclusive das Forças Armadas, profissionais da saúde, de limpeza urbana e de assistência social que atuam diretamente no combate à pandemia. Também incluíram policiais legislativos, agentes socioeducativos, técnicos e peritos criminais. Os demais servidores terão salários congelados.
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BRASÍLIA.
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CORONAVÍRUS
PANDEMIA MANU ANTUNES / DIVULGAÇÃO
Solidariedade
Domingo de amor para ajudar o próximo Um projeto que se iniciou no começo do isolamento social em Belo Horizonte e que cresce a cada fim de semana com um simples objetivo: ajudar. O Domingo do Bem distribuiu lanches e cobertores a moradores de rua da Savassi, na região Centro-Sul da capital. A ideia partiu da fotógrafa Ana Slika, 36. “Esse projeto começou há cinco semanas. Como de costume, sempre que ia à padaria, eu fazia um kit de pão com mortadela e suco e dava para os andarilhos. Mas um dia eu acordei e resolvi fazer mais. Comprei 50 pães, mortadela e 50 sucos, e distribuí a eles junto com um amigo”, contou. A partir daí, mais pessoas pediram para ajudar. “Eu coloquei a iniciativa nas redes sociais, e, no dia seguinte, pessoas que eu nem imaginava se ofereceram para participar também. Passei a distribuir 500 lanches por domingo, conseguimos água e acrescentamos ração para os cachorros dos moradores”, disse Ana. (Gabriel Rodrigues)
Maria entrou firme no projeto; foi ela quem fez a logomarca: “Colori o mundo e pessoas se ajudando”
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Colabore Participação. Toda ajuda é bem-vinda. Para doações ou mais informações sobre o projeto, basta entrar em contato pelo Instagram: @pandemiadobem_
Alegria. Morador de rua recebe um kit do projeto Pandemia do Bem, que, em apenas 15 dias, aumentou em dez vezes o número de lanches distribuídos em Belo Horizonte
Irmandade que se multiplica pelas ruas Iniciativas ajudam a salvar vidas de moradores de rua durante pandemia ¬ THAÍS MOTA ¬ A pandemia tem levado
muitas pessoas a enxergar o mundo de outra forma. E, a partir desse novo olhar trazido pelas mudanças provocadas pelo novo coronavírus, surgiu o projeto Pandemia do Bem, que distribui café da manhã a moradores de rua de Belo Horizonte aos domingos. Do contador Randolfo Moreira Bastos, 41, a ideia surgiu enquanto ele passava pela rua Itambé, no bairro Floresta, na região Centro-
Sul, durante uma corrida. “Eu estava correndo e fui fazer uma rota diferente quando, de repente, passei por essa rua. E aí me veio aquele choque de realidade, porque eu estava no conforto da minha casa enquanto tinha tanta gente na rua. É muito fácil ficar de quarentena quando se tem tudo”, diz. Nesse mesmo dia, ele foi até uma padaria e comprou 50 lanches para distribuir aos moradores de rua. “Ao fim da distribuição, muita gente ficou sem receber, e alguns choraram, outros falaram que sempre acabava quando era sua vez”, relata. Já na semana seguinte, Bastos, juntamente com alguns colegas de trabalho, arrecadou doações e conse-
guiu distribuir 150 cafés da manhã. No último domingo, quando o projeto completou 15 dias, já foram 500 lanches. Além dos amigos, a família comprou a ideia do contador. A filha dele, Maria Clara Moreira Bastos Oliveira e Silva, de apenas 8 anos, inclusive, foi quem idealizou a logomarca do projeto Pandemia do Bem. Ela conta que desenhou e coloriu pessoas se ajudando, e, do papel, a ilustração ganhou vida em camisas e também nas redes sociais da iniciativa. “Desenhei uma pessoa ajudando a outra e, depois, colori o mundo”, relata a pequena. SOLIDARIEDADE SEM FIM. Ao
fim da manhã do último domingo, outro grupo tam-
bém chegou à rua Itambé, dessa vez para a distribuição de água e marmitas com almoço para a população de rua. A campanha, batizada de Covid sem Fome, é de um projeto da Fraternidade Espírita Chico Xavier. Segundo uma das integrantes do grupo, Caroline Cavalcante Nascimento, a instituição já fazia diversas atividades de caridade e, diante da pandemia de coronavírus, iniciou também um projeto para garantir alimentação aos moradores de rua. “Esse projeto surgiu da necessidade que observamos diante da pandemia atual, de atender a população em situação de rua e também famílias em vulnerabilidade social”, conta. RAMON BITENCOURRT
Lancho do Bem
Cozinha aberta para colaborar O restaurante Dorsé, que fica no bairro Floresta, é um dos vários estabelecimentos na capital fechados por causa do isolamento social para conter o avanço do novo coronavírus. Pensando em ajudar quem vive em situação de vulnerabilidade social, o chef da casa e amigos próximos criaram o Lancho do Bem. Trata-se de uma iniciativa colaborativa que leva comida e afeto para ajudar quem mora nas ruas. “O restaurante já tinha o costume de doar marmitas
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para moradores de rua. Me preocupei porque eles teriam dificuldade para receber comida”, disse Elmo Barra, chef do Dorsé. Com a ajuda de uma rede de apoiadores, a iniciativa visa arrecadar insumos para a produção e a distribuição dos lanches aos desabrigados. As ações acontecem de duas a três vezes por semana, em diversos pontos da cidade. São distribuídos de cem a 200 lanches em cada ação. “A casa está fechada, mas a cozinha está pronta e disponível. Conversei com uma
amiga que é jornalista de gastronomia, e, dois dias depois, já doamos mais de cem lanches com ajuda de fornecedores próximos que doaram carne, pão e suco”, diz ele. Desde o lançamento da iniciativa, já foram mais de 500 lanches e kits de higiene repassados a moradores de rua. À medida que vão acontecendo mais ações, os volumes das doações aumentam. A população que quiser ajudar encontra mais informações no Instagram @lanchodobem. (Lorena K. Martins)
O Dorsé está fechado, mas com a cozinha disponível para solidariedade
Necessidades
Além de comida, a busca por emprego Mais do que alimento e água, muitos dos moradores de rua que aguardam diariamente a ajuda no entorno do Albergue Municipal Tia Branca, no bairro Floresta, buscam também um emprego para deixarem a situação de rua. Ao notar a presença da reportagem de O TEMPO, Farlei Magno, 41, aproximou-se e contou que a ajuda é sempre muito bem-vinda, mas que eles precisam também de auxílio para a recolocação no mercado de trabalho. Desempregado há quase quatro anos e há dois anos em situação de rua, após se separar da mulher, ele busca uma oportunidade para começar uma vida nova. “Eu sou motorista de ônibus e de caminhão e não estou conseguindo emprego. Às vezes, saio para entregar currículos, mas você chega nas empresas, e as portas estão fechadas, e a gente fica aqui no albergue porque também é difícil para conseguir moradia”, relata. Em situação semelhante, Ângelo Marcos, 41, também busca um emprego. Ele está morando na rua há quatro meses. “Eu estava morando em Barbacena, trabalhando em um frigorífico, mas aí me separei e vim para cá, mas não consegui emprego”, conta. (TM)
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CORONAVÍRUS
PANDEMIA
Anticorpo criado em laboratório Moléculas clonadas conseguem bloquear ação do novo coronavírus ¬ ROTERDÃ, HOLANDA. Pesquisa-
dores holandeses e alemães conseguiram produzir, em laboratório, anticorpos capazes de bloquear a ação do vírus que causa a Covid-19. A técnica que eles empregaram já é utilizada em larga escala para produzir medicamentos contra outras doenças, o que abre a possibilidade de que essas moléculas também sejam usadas contra a nova moléstia. Sob a liderança de Frank Grosveld, do Centro Médico Erasmus, e BerendJan Bosch, da Universidade de Utrecht (ambas instituições holandesas), o grupo de cientistas acaba de publicar seu trabalho na revista especializada “Nature Communications”. A molécula que obtiveram recebe a designação de anticorpo monoclonal. Isso significa que ela foi produzida a partir de clones de uma única célula (daí o termo “monoclonal”, ou “um clone”). Além disso, os anticorpos monoclonais também se conectam a uma única região de moléculas estranhas ao organismo para neutralizá-la. Seu uso para combater diferentes tipos de câncer, atacando apenas as células tumorais, tem se tornado cada vez mais comum.
REPRODUCÃO/TWITTER - 5.5.2020
Orientação
Os anticorpos monoclonais do estudo europeu foram criados com o objetivo de neutralizar a chamada proteína S (do inglês “spike”, ou espícula), o gancho molecular usado pelo coronavírus Sars-CoV-2 para se conectar à superfície das células humanas. Imaginase que, barrando a ação da proteína S, o vírus não conseguiria invadir as células, o que impediria a infecção. EXPERIÊNCIA. Para atingir esse objetivo, o grupo trabalhou com camundongos transgênicos, cujo organismo é capaz de produzir anticorpos com composição parcialmente similar à dos anticorpos humanos. Tais animais forma inoculados com a proteína S do coronavírus, de modo a estimular a produção dos anticorpos contra ela em seu corpo – um processo idêntico à vacinação de seres humanos. Os anticorpos monoclonais produzidos pelos camundongos foram “formatados” para assumir uma configuração molecular plenamente compatível com o organismo humano e passa-
Suspeita Inflamação. Ao menos 15 crianças e adolescentes de Nova York desenvolveram uma síndrome inflamatória grave, possivelmente ligada à Covid19, informou a prefeitura.
Uruguai preocupado Divisas. O Uruguai vai aumentar o controle nas fronteiras, por ver com “preocupação” a existência de casos de coronavírus do lado brasileiro, informou o secretário da Presidência, Álvaro Delgado. O Uruguai proibiu a entrada de estrangeiros durante a pandemia, exceto os residentes de localidades que lidam com o Brasil, já que costumam morar de um lado e trabalhar no outro. PABLO PORCIUNCULA/AFP - 10.4.2020
Opas pede cautela na diminuição de restrição
Estudo. Experimento foi testado em camundongos; trabalho foi publicado em revista científica
ram a ser testados em contato direto com a proteína S e com uma linhagem de células de macacos muito usada em laboratório. Nesses testes, as moléculas se mostraram capazes de barrar a entrada do SarsCoV-2 e de um parente dele, o Sars-CoV, nas células. Curiosamente, não está claro co-
mo o novo anticorpo monoclonal faz isso: a proteína S continuou conseguindo se ligar à “fechadura” que usa para invadir as células mas, apesar disso, os vírus não eram mais capazes de entrar. Além de tentar explicar qual é o mecanismo protetor trazido pelos anticorpos, os pesquisadores também preci-
sam verificar como eles funcionariam em pacientes humanos, já que, por enquanto, as moléculas só foram testadas com culturas de células em laboratório. Segundo os pesquisadores, o anticorpo monoclonal tem potencial para ser utilizado tanto em diagnósticos da doença quanto para fins terapêuticos.
No mundo
Mortes já passam de 250 mil; desconfinamento avança O desconfinamento progredia ontem em vários países do mundo, na tentativa de reativar as economias atingidas pela pandemia de coronavírus, que já matou mais de 250 mil pessoas e continua a avançar, principalmente em Estados Unidos, Reino Unido, Brasil e Rússia. O Reino Unido se tornou o primeiro país europeu a superar 30 mil mortes por Covid-19, à frente da Itália e da Espanha. As mortes presumidas somam 32.313, um recorde impensável há dois meses, quando os britânicos registraram seu primeiro óbito. Nos Estados Unidos, ape-
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Ontem, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) recomendou aos países das Américas que sejam cautelosos com a diminuição das medidas para conter a disseminação da Covid-19, alertando que a transmissão “ainda é muito alta” em Estados Unidos, Canadá, Brasil, Equador, Peru, Chile e México. “Reduzir as restrições muito cedo pode acelerar a propagação do vírus e abrir as portas para um aumento dramático ou para se espalhar para áreas adjacentes”, disse Carissa Etienne, diretora da Opas, durante videoconferência com jornalistas. Etienne disse que em muitas áreas da região o número de novas infecções por coronavírus se multiplica em apenas alguns dias. “Estamos vendo casos que dobram em quatro dias ou menos nesses países. Este é um indicador preocupante que nos diz que a transmissão ainda é muito alta e que eles devem implementar toda a gama de medidas de saúde pública disponíveis”, afirmou a diretora da Opas.
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WASHINGTON, EUA.
sar da queda nas infecções diárias e em meio ao abrandamento do confinamento em alguns Estados, o governo previu uma continuidade das mortes, que já somam 68,7 mil. Essas projeções sombrias surgem em meio à esperança de que o pico da
Cerveja Desperdiçada. Na França, pelo menos 10 milhões de litros de cerveja serão destruídos por não terem sido consumidos, informou ontem, produtores do país.
pandemia tenha sido superado na maior parte da Europa após dois meses de confinamento, e quando vários países amenizam o isolamento. Ainda na Europa, a Rússia se tornou o novo foco do vírus, com o maior número de novas infecções e mais de 155 mil casos. “Aparentemente, a ameaça está crescendo”, disse o prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, que pediu para a população ficar em casa. Também no continente, a Baviera, o maior Estado da Alemanha, anunciou a reabertura de restaurantes a partir de meados de maio, aumentando a pressão para aliviar as medidas restritivas.
WASHINGTON, EUA.
Nova crítica de Trump Chineses. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a criticar a China pela resposta ao coronavírus e acusou Pequim de não ter informado ao mundo sobre o vírus no início da pandemia. “Queremos que a China seja transparente”, ressaltou. Trump, no entanto, afirmou que ainda não conversou com o presidente chinês, Xi Jinping, sobre a situação.
Tensão nos presídios Reflexos. A irrupção do coronavírus aumentou a tensão nas superlotadas instituições carcerárias da América Latina, provocando fugas em massa e motins que deixaram mais de 80 mortos e levando governos a tomarem medidas de liberação de presos. O incidente mais letal aconteceu na Venezuela, onde a restrição de visitas deflagrou uma rebelião que deixou pelo menos 47 mortos e 75 feridos.
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A.PARTE
aparte@otempo.com.br
R$ 262 milhões
Na Justiça
Em estado de calamidade, Alfenas licita ‘shopping público’ Em estado de calamidade pública desde o dia 30 de março por causa dos impactos na área da saúde e na economia devido à pandemia do novo coronavírus, a Prefeitura de Alfenas, na região Sul de Minas Gerais, licitou um contrato que chega a R$ 262 milhões para a construção de uma central que vai abrigar serviços públicos e lojas comerciais. Apenas uma empresa participou da licitação. Para conseguir construir o Boulevard Alfenas, como o empreendimento é chamado, o contrato foi feito no modelo “built to suit”, em que a empresa ganhadora primeiro realiza a obra e depois aluga o prédio construído. Em Alfenas, a prefeitura vai pagar aluguel de R$ 1 milhão por mês para a
empresa vencedora da licitação durante 20 anos e dez meses. Ao fim desse prazo, o imóvel será incorporado ao patrimônio da prefeitura. O terreno para a construção será cedido para prefeitura. De acordo com o edital, o aluguel só começará a ser pago depois que a obra for entregue. O prazo para construção é de dois anos. A ideia do prefeito Luizinho Silva (PT) é transferir as secretarias municipais e os órgãos do poder público da cidade para o Boulevard Alfenas. Segundo ele, atualmente, a prefeitura não tem sede própria e gasta R$ 350 mil mensais em aluguel. Esse valor, juntamente com o aluguel das 150 lojas do Boulevard Alfenas e do estacionamento, empataria o custo do aluguel de R$ 1 milhão.
“Eu injeto dinheiro na economia no curto prazo; no cenário provável, no médio prazo, a gente empata, ou seja, não gastamos nada além do que já gastamos e pagamos o aluguel; e, no longo prazo, ficamos com o prédio”, explica o prefeito. A aposta na renda do aluguel das lojas chama atenção em um momento em que há incerteza sobre o tamanho da retração do PIB brasileiro em função da desaceleração econômica causada pelo novo coronavírus e também da queda de arrecadação de Estados e municípios. “Eu estou antevendo o que vai acontecer depois. Toda crise no capitalismo passa. Nós temos um delay de dois anos (no pagamento do aluguel), que é mais ou menos o tempo que leva para uma crise do capi-
talismo passar”, disse Luizinho Silva. No pregão presencial realizado no dia 28 de abril, apenas uma empresa se apresentou e foi habilitada a participar. A proposta vencedora foi o valor máximo de aluguel estipulado pela prefeitura no edital de licitação: R$ 1.048.118,73. O prefeito Luizinho Silva (PT) afirma que o edital foi amplamente divulgado e que há poucas empresas trabalhando no novo modelo de construção “built to suit”. “Não há restrições no edital. A única exigência que fizemos é que a empresa tenha construído 10 mil metros quadrados em obras. Isso é óbvio, não vamos entregar para uma empresa que nunca construiu nada. Eu gostaria que tivesse havido mais interessados”, disse. ARQUIVO PESSOAL BARTOLOMEU DRESC
Guilherme Pereira, ex-governador de Alagoas, morre aos 81 anos
Tarcísio Gomes de Freitas ministro da Infraestrutura
O governador de São Paulo João Doria (PSDB) apresentou notícia-crime contra o engenheiro Antônio Carlos Bronzeri por avistar indícios de “crime de resistência” e difamações em vídeo publicado pelo ativista da Frente Brasileira Conservadora no YouTube. No fim de semana, Bronzeri foi detido durante manifestação na frente da casa do ministro Alexandre de Moraes, na capital paulista. Em vídeo após a carreatas em SP, Bronzeri pede que as pessoas lhe contatem se tiverem qualquer empecilho caso queiram abrir suas lo-
jas, incluindo as de serviços não essenciais. O ativista diz que impediria o trabalho de fiscais do governo, que seriam enxotados a pontapés. Doria alega ter visto “crime de resistência”, visto que decretos estaduais restringem a abertura de serviços apenas para aqueles considerados essenciais. A defesa do tucano também pede apurações sobre crime de difamação. No vídeo, o ativista chama Doria de “canastrão”, “vagabundo” e “psicopata”. O ativista não foi encontrado para se manifestar. DEYVID EDSON/FOLHAPRESS
Governador de São Paulo, João Doria quer reparação na Justiça
Lava Jato
Delator tem pena convertida em doação de álcool líquido e em gel
O ex-governador de Alagoas Guilherme Palmeira morreu na última segunda-feira. A informação foi dada ontem por Rui Palmeira (PSDB), filho do político e atual prefeito de Maceió, em sua conta no Twitter. Guilherme Palmeira governou o Estado de Alagoas entre 1979 e 1982, era ministro aposentado do Tribunal de Contas da União (TCU) e tinha 81 anos. A causa da morte não foi informada pela família. Ex-senador pelo antigo PFL (hoje DEM), Guilherme Palmeira quase ocupou a vaga de vice na candidatura presidencial de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 1994. O posto acabaria sendo preenchido por Marco Maciel, que foi vice de FHC nos dois mandatos (de 1995 a 2002). Palmeira chegou a iniciar a campanha ao lado do tucano, mas denúncias contra um assessor dele abriram caminho para a substituição. Pesaram contra o nome de Palmeira, ainda, o fato de ter sido padrinho e conselheiro político do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
ALAN SANTOS/PR
Doria apresenta notícia-crime contra ativista conservador
A pena de prestação de serviços do delator Roberto Capobianco, da Construcap, uma das construtoras do Rodoanel de São Paulo, será convertida na doação de R$ 150 mil para o Sistema Único de Saúde e em 25 mil litros de álcool 70% para a Secretaria de Saúde. A conversão da pena e a destinação dos recursos foi proposta pelos procuradores da forçatarefa da Lava Jato em SP, sendo que o aditamento do acordo já foi homologado. O álcool será entregue,
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“Precisamos de uma trégua, precisamos de paz para trabalhar, de paz política para que a gente possa dar passos firmes na direção da superação da crise e na direção da geração de emprego.”
em dez dias, em duas formas: 20 mil litros líquidos e 5.000 L em gel. O valor de mercado dos produtos, sem frete, chega a R$ 260 mil. Segundo a Procuradoria, além da conversão da prestação de serviços, foi antecipado o pagamento de multa de R$ 600 mil também prevista no acordo inicial com o delator. Duas parcelas de R$ 150 mil serão pagas de imediato, e as demais estão previstas para até 30 de maio e 30 de junho.
Preocupação
Ministério da Defesa
Presidente do Itaú reclama de crise política
Presidente do STF derruba liminar contra publicação alusiva a golpe
O presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, disse ontem que o país não precisaria acrescentar tensão política à crise de saúde e econômica que o país enfrenta por causa da pandemia de Covid-19. “É importante que haja harmonia entre os Poderes durante a crise. Torço muito pelo alinhamento e para um caminho seguro no pós-crise”, declarou.
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, derrubou a liminar da Justiça Federal que determinava a retirada de texto alusivo ao golpe militar de 1964 do site do Ministério da Defesa. Na decisão, da noite de segunda-feira, Toffoli minimizou a publicação afirmando que se tratava de uma efeméride destinada ao ambiente militar. O presidente do STF usou sua medida
para criticar a interferência do Judiciário em atos do Executivo. “Não se pode pretender que o Poder Judiciário interfira e delibere sobre todas as possíveis querelas surgidas da vida em sociedade. E o caso ora retratado me parece um exemplo clássico dessa excessiva judicialização”, disse na decisão, citando considerar o caso um ato de censura.
14 | O TEMPO BELO HORIZONTE | QUARTA-FEIRA, 6 DE MAIO DE 2020
Política
7 Onyx exonera comissionados 7 Mudança de planos
O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (DEM), exonerou comissionados de postos de comando da assessoria internacional da pasta. A medida ocorre após a imprensa revelar que o ministro queria indicar o seu professor de inglês particular para uma vaga no setor.
Onyx tentou emplacar Allan Bubna, que é bacharel em Relações Internacionais, para uma vaga com salário de R$ 10.373,30, a terceira maior remuneração entre os comissionados, de acordo com a tabela do governo federal. O ministro só voltou atrás após a história ser revelada.
TEL: (31) 2101-3915 Editor: Ricardo Correa ricardo.correa@otempo.com.br e-mail: politica@otempo.com.br twitter: http://twitter.com/OTEMPOpolitica Atendimento ao assinante: 2101-3838
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Depoimento. Na oitiva a delegados e procuradores, ex-ministro relatou pressões do presidente sobre o órgão
Moro diz que Bolsonaro pediu troca de comando da PF no RJ Ele afirmou nunca ter dito que o chefe do Executivo tenha cometido ilegalidade ¬ BRASÍLIA. Em depoimento
à Polícia Federal no último sábado, e que foi tornado público ontem, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro afirmou que o presidente Jair Bolsonaro pediu a ele, no começo de março, a troca do chefe da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Segundo transcrição do relato de Moro, ele teria recebido, por WhatsApp, uma mensagem do presidente, mais ou menos com o seguinte teor: “Moro você tem 27 superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro”. Os investigadores perguntaram a Moro se ele identificava nos fatos apresentados alguma prática de crime por parte de Bolsonaro. O ex-ministro disse que os fatos narrados por ele são verdadeiros, mas não afirmou se o presidente teria cometido algum crime. “Quem falou em crime foi a Procuradoria Geral da República (PGR) na requisição de abertura de inquérito e, agora, entende que essa avaliação, quanto à prática de crime, cabe às instituições competentes”, disse Moro. Segundo o ex-ministro em depoimento, o então diretor da PF, Maurício Valeixo, “declarou que estava cansado da pressão para a sua substituição e para a troca do SR/RJ”. “Que por esse motivo e também para evitar conflito entre o presidente e o ministro, o diretor Valeixo disse que concordaria em sair”, afirmou o ex-ministro. Segundo Moro, em seguida, o presidente Bolsonaro “passou a reclamar da indicação da Superintendência de Pernambuco”. Segundo ele, “os motivos da reclamação devem ser indagados ao presidente da República”. Segundo o ex-ministro, “o presidente lhe relatou verbalmente no Palácio do Planalto que precisava de pessoas de sua confiança,
para que pudesse interagir, telefonar e obter relatórios de inteligência”. Moro afirmou que a pressão para substituir Valeixo “retornou com força em janeiro de 2020, quando o presidente disse que gostaria de nomear Alexandre Ramagem (diretor da Agência Brasileira de Inteligência) no cargo de diretor geral da Polícia Federal.” O ex-ministro disse que a cobrança foi feita no Palácio do Planalto e “eventualmente” na presença do ministro Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional). “Esse assunto era conhecido no Palácio do Planalto por várias pessoas”, disse Moro. Ele disse que o presidente o cobrou em reunião do conselho de ministros, ocorrida em 22 de abril, a substituição da Superintendência do Rio e do diretor geral da PF. Moro afirmou que informava ao presidente sobre operações sensíveis após sua realização e citou os casos do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e do líder do governo, Fernando Bezerra, que já foram alvos da PF. DEPOIMENTOS. Ontem, o minis-
tro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou o pedido da Procuradoria Geral da República para que sejam ouvidos os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Braga Netto (Casa Civil) e Augusto Heleno (GSI). Além deles, serão ouvidos a deputada Carla Zabelli (PSL) e os delegados Alexandre Ramagem e Marcelo Valeixo. Todos foram citados por Moro no depoimento com possíveis testemunhas dos pedidos do presidente. Caso as partes não prestem depoimentos de forma voluntária, Celso de Mello impôs a medida de condução coercitiva para garantir as oitivas autorizadas. Ele também autorizou a entrega de gravação de reunião em que os ministros testemunharam a suposta ameaça de Bolsonaro contra Moro e suspendeu o sigilo do inquérito.
EDITORIA DE ARTE / O TEMPO
O QUE DISSE MORO Veja alguns trechos do registro do depoimento de Sergio Moro à Polícia Federal no dia 2 de maio INTERFERÊNCIA POLÍTICA “QUE perguntado sobre sua definição sobre interferência política do Poder Executivo em cargos de chefia no âmbito da Polícia Judiciária, respondeu que entende que seja uma interferência sem uma causa apontada e portanto arbitrária;” “QUE durante o período que esteve à frente do Ministério da Justiça e Segurança Pública, houve solicitações do Presidente da República para substituição do Superintendente do Rio de Janeiro, com a indicação de um nome por ele, e depois para substituição do Diretor da Polícia Federal, e, novamente, do Superintendente da Polícia Federal no Estado do Rio de Janeiro, que teria substituído o anterior, novamente com indicação de nomes pelo presidente;”
CRIME “QUE perguntado se identificava nos fatos apresentados em sua coletiva alguma prática de crime por parte do Exmo. Presidente da República, esclarece que os fatos ali narrados são verdadeiros, que, não obstante, não afirmou que o presidente teria cometido algum crime; QUE quem falou em crime foi a Procuradoria Geral da República na requisição de abertura de inquérito e agora entende que essa avaliação, quanto a prática de crime cabe às Instituições competentes;”
TROCA NA SUPERINTENDÊNCIA DO RIO “QUE recebeu mensagem pelo aplicativo Whatsapp do Presidente da República, solicitando, novamente, a substituição do Superintendente do Rio de Janeiro, agora CARLOS HENRIQUE; QUE a mensagem tinha, mais ou menos o seguinte teor: “Moro você tem 27 Superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro”;”
RELATO DE OPERAÇÕES “QUE o Declarante, por exemplo, fazia como ministros do passado e comunicava operações sensíveis da Polícia Federal, após a deflagração das operações com buscas e prisões; QUE o Declarante fez isso inúmeras vezes e há mensagens de Whatsapp a esse respeito ora disponibilizadas; QUE ilustrativamente, isso aconteceu após as buscas e prisões envolvendo o atual Ministro do Turismo e o Senador Fernando Bezerra, mas que essas informações não abrangiam dados sigilosos dos inquéritos; QUE pontualmente comunicou essas operações antecipadamente, em casos sensíveis e que demandavam um apoio do presidente, como na expulsão do integrante do PCC, vulgo “FUMINHO” de Moçambique;”
PROVAS DA INTERFERÊNCIA “QUE, quinto, as declarações do Presidente no dia 22 de abril de 2020, na reunião com o conselho de ministros, e que devem ter sido gravadas como é de praxe, nas quais ele admite a intenção de substituir o superintendente do Rio de Janeiro, o Diretor Geral e até o Ministro, ora Declarante, e também admite no mesmo contexto sua insatisfação com a informação e no que ele denomina relatórios de inteligência da PF aos quais afirma que não teria acesso, o que, como já argumentado, não é verdadeiro;”
Resposta
Presidente acusa o ex-ministro de crime O presidente Jair Bolsonaro acusou ontem o ex-ministro da Justiça Sergio Moro de vazar relatórios sigilosos a veículos de imprensa e ressaltou que a iniciativa pode se enquadrar na Lei de Segurança Nacional (LSN). “Ele tinha peças de relatórios parciais de coisas que eu passava para ele”, disse. “E entregava para a Globo. Isso é crime federal, talvez incurso na lei de Segurança Nacional”, acrescentou o presidente. Na entrada do Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse ainda que não tentou interferir na Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro e que em nenhum momento pediu acesso a relatório sigilosos (leia mais na página 15). “Não houve crime”, disse. “É mentira atrás de mentira”, completou. O presidente afirmou que leria o depoimento concedido por Moro à Polícia Federal e que se reunirá com seu advogado para tomar providências. No entanto, rebateu a principal prova apresentada por Moro, uma imagem na qual o presidente envia, por WhatsApp, um link do portal “O Antagonista” sobre uma investigação contra parlamentares aliados do governo acompanhado da seguinte mensagem: “Mais um motivo para a troca”. Bolsonaro mostrou a mensagem e outro trecho da conversa sobre o assunto, um dia antes da mensagem principal. Nela, o próprio Moro trataria o inquérito contra os bolsonaristas como um “fofoca”. Para Bolsonaro, isso invalidaria a prova de interferência.
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BRASÍLIA.
O TEMPO BELO HORIZONTE| QUARTA-FEIRA, 6 DE MAIO DE 2020 | 15
POLÍTICA
Decisão. Medida se deu após pedido do Movimento Brasil Livre contra nomeação de Rolando Alexandre
Justiça do DF dá 72 horas para governo justificar troca na PF ISAC NÓBREGA/PR
Para a entidade, o governo teria burlado a decisão de Alexandre de Moraes ¬ BRASÍLIA. O juiz Francisco Alexandre Ribeiro, da 8ª Vara Federal Cível do Distrito Federal, deu ontem um prazo de 72 horas para que o Palácio do Planalto apresente informações sobre a troca no comando da Polícia Federal. O coordenador nacional do Movimento Brasil Livre (MBL), Rubens Alberto Gatti Nunes, entrou nesta semana com ação popular pedindo a suspensão imediata da nomeação do delegado Rolando Alexandre de Souza para a diretoria geral da PF. Um dos pontos levantados na ação é que o presidente Jair Bolsonaro escolheu um nome “alinhado a seus interesses escusos, como ficou evidenciado em seu primeiro ato após empossado” – a troca no co-
mando da Polícia Federal do Rio, área de interesse de Bolsonaro e seus filhos. Nunes classifica ainda a escolha por Rolando como uma patente burla à decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que barrou a nomeação de Alexandre Ramagem, amigo da família Bolsonaro, à chefia da PF. Isso porque Rolando Alexandre é pessoa de confiança de Ramagem, aponta o coordenador do MBL. HISTÓRICO. A batalha pelo co-
mando da Polícia Federal começou no final do mês passado, quando o presidente determinou a exoneração de Maurício Valeixo, antigo ocupante do cargo, o que culminou com o pedido de demissão do ministro da Justiça e da Segurança Pública Sergio Moro. Após isso, Bolsonaro escolheu Ramagem, um amigo da família, para comandar o órgão, o que motivou diversas
ações judiciais. Um pedido do PDT contra a posse de Ramagem foi aceito pelo ministro Alexandre de Moraes. Bolsonaro chegou a dizer a aliados que não acataria a ordem do STF. Além disso, afirmou, no dia seguinte à decisão, que o país “quase viveu uma crise institucional” por conta da medida determinada pelo ministro da Corte máxima do Judiciário brasileiro. Dias depois, porém, Bolsonaro acabou decidindo trocar o nome de Ramagem pelo de Rolando Alexandre, que era subordinado ao primeiro na Agência Brasileira de Inteligência (Abin). É por conta dessa relação entre Rolando e Ramagem que o MBL contesta novamente o fato na Justiça. Por ser uma decisão em primeira instância, além de responder em 72 horas com a justificativa, o presidente também pode recorrer ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) para tentar derrubar a medida.
Reação
No mesmo dia
Presidente nega interferência e manda jornalista ‘calar a boca’ PEDRO LADEIRA/FOLHAPRESS
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) negou qualquer interferência na Polícia Federal e reagiu mandando jornalistas calarem a boca ao ser perguntado sobre a troca no comando da Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro, determinada por Rolando Alexandre um dia após tomar posse na direção geral da corporação. Bolsonaro lembrou que Carlos Henrique Alexandre deixou o comando do órgão no Rio para assumir um cargo em Brasília. “Para onde é que está indo o superintendente do Rio de Janeiro? Para ser o diretor executivo da PF. Ele vai sair da superintendência, são 27 superintendentes no Brasil, para ser diretor executivo. Eu estou trocando ele? Eu estou tendo influência sobre a Polícia Federal? Isso é uma patifaria, é uma patifaria”, afirmou Bolsonaro, antes de
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É com ele. Rolando Alexandre tomou posse na segunda-feira no cargo de diretor geral da PF
BRASÍLIA.
MP quer investigação de ataques Mantovani é a jornalistas e enfermeiros nomeado e ¬ O Ministério Públi- cujos integrantes se apresenta- exonerado co do Distrito Federal e Territó- ram como apoiadores de BolsoBRASÍLIA.
rios (MPDFT) requisitou à Polícia Civil do DF a apuração de agressões sofridas por enfermeiros e jornalistas durante manifestações recentes. Os resultados das investigações devem ser remetidos em 30 dias ao MP para as providências cabíveis. As agressões foram registradas, primeiro, na sexta-feira, 1º, em um protesto de enfermeiros em frente ao Palácio do Planalto. Um pequeno grupo,
naro, começou a hostilizar os enfermeiros, defensores do isolamento social como forma de conter a epidemia de coronavírus – o presidente contesta esse método e defende a reabertura de escolas e retomada de atividades econômicas. O segundo episódio ocorreu no domingo, quando profissionais de imprensa foram agredidos por militantes bolsonaristas em um ato pró-governo. SINDICATOS DOS ENFERMEIROS / DF/REPRODUÇÃO
Jair Bolsonaro voltou a negar ontem interferência na Polícia Federal
atacar os jornalistas. “Cala a boca! Cala a boca! Está saindo de lá para ser diretor executivo a convite do atual diretor-geral. Não interfiro em nada. Se ele for desafeto meu e se eu tivesse ingerência na PF, não iria para lá. É a mensagem que vocês dão. Não tenho nada contra o superintendente do Rio de Janeiro. E não interfiro na Polícia Fe-
deral. E ele está sendo convidado para ser diretor executivo. É o 02”, disse. À tarde, porém, ao rebater o depoimento de Sergio Moro à Polícia Federal (veja mais sobre o depoimento na página 14), o presidente pediu desculpas por ter sido “grosseiro” com os jornalistas. Na ocasião, voltou a rejeitar haver qualquer interferência política na PF do Rio.
Enfermeiras foram ofendidas e agredidas por grupo pró-governo
BRASÍLIA. Horas depois de ser renomeado para o cargo de presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), o maestro Dante Henrique Mantovani foi novamente retirado do cargo. A decisão que tornou sem efeito a nomeação foi publicada ontem em uma edição extra do Diário Oficial da União (DOU). A primeira nomeação de Mantovani havia sido no dia 4 de novembro do ano passado. Ele foi demitido por Regina Duarte assim que ela assumiu a secretaria de Cultura do governo. O exonerado já disse em vídeo que o “rock ativa as drogas, que ativam o sexo livre, que ativa a indústria do aborto, que ativa o satanismo”. Em uma conversa vazada com uma assessora, Regina Duarte relatou, mais cedo, que a volta de Mantovani indicava que o presidente estava querendo demitila. Ela e Bolsonaro se encontram hoje em Brasília.
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Editorial
JUROS PERVERSOS Os analistas financeiros dão como certo que o Conselho de Política Monetária (Copom) anunciará hoje a 15ª redução da taxa básica de juros, deixando a Selic no patamar de pelo menos 3,25% ao ano. Mas o alívio necessário que ela representa para o setor produtivo se perde no comportamento especulativo e ganancioso de bancos, que mantêm taxas absurdamente elevadas para este cenário e liberam crédito a contagotas para pessoas físicas e jurídicas. Para se ter uma ideia, uma dívida de R$ 1.000 corrigida pela Selic de abril ao fim de um ano somará R$ 1.037,50. Agora, se esse débito for com o rotativo do cartão de crédito, as taxas de 326% ao ano – a média praticada pelas instituições brasileiras – transformam aquela mesma cifra numa “bola de neve” de R$ 4.259. Diante desses números, os juros de empréstimos para empresas e consumidores poderiam parecer menos draconianos, mas eles são mais de dez vezes maiores do que a Selic. Além disso, esses recursos não chegam a quem precisa. Uma pesquisa do Sebrae revela que os bancos negaram crédito para seis em cada dez pequenos negócios que buscaram seu auxílio no início deste ano. Isso ocorre mesmo com o Banco Central tendo disponibilizado R$ 1,2 trilhão dos compulsórios para o sistema financeiro nacional destinar exclusivamente a empréstimos. Por trás dessa situação injusta para os tomadores de crédito, está um dos setores menos competitivos do planeta. Apenas cinco bancos concentram 85% do mercado financeiro do Brasil, o que assegurou a eles um lucro de R$ 81,5 bilhões no ano passado. Mas, mais do que isso, esse oligopólio garante um poder perverso de ditar as regras, insuperável para a maioria das empresas e dos consumidores no momento em que estão mais desesperadamente necessitados.
FUNDADOR PRESIDENTE VICE-PRESIDENTE DIRETOR EXECUTIVO
Vittorio Medioli Laura Medioli Marina Medioli Heron Guimarães
GERENTE COMERCIAL
EDITORES EXECUTIVOS
Alessandra Soares
Renata Nunes Cândido Henrique Silva Juvercy Júnior
GERENTE DE ASSINATURA
Fernanda Rodrigues GERENTE INDUSTRIAL
Guilherme Reis GERENTE DE CIRCULAÇÃO
Isabel Santos GERENTE ADMINISTRATIVO
Rômulo Lima
COORDENAÇÃO DE JORNALISMO
Flaviane Paixão EDITORES
Primeira: Marina Schettini Política: Ricardo Corrêa Opinião: Frederico Duboc Economia: Karlon Aredes Brasil/Mundo/Interessa: Aline Reskalla Super.FC: Frederico Jota Magazine: Marília Mendonça Fotografia: Daniel de Cerqueira
Duke
OPINIÃO
O.PINIAO
www.dukechargista.com.br
OBSERVATÓRIO DAS ELEIÇÕES DOS EUA
VLADIMIR PINTO COELHO FEIJÓ Doutorando em direito e professor de direito e relações internacionais do Ibmec BH
Estratégia nos Estados-chave A vitória eleitoral pode vir por pequenas margens nesses locais
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o artigo “As primárias e as diferentes Américas”, publicado em 18 de março, comentei sobre as divisões nos Estados Unidos. De lá para cá, as crises provocadas pela pandemia, a sanitária e o embate entre Trump e governadores, reforçaram a divisão entre os EUA rurais e urbanos. Com isso, os partidos estão empenhados em conhecer as diferentes realidades para descobrir como podem tirar vantagens, em especial em alguns Estados-chave. Olhando para as eleições de 2016, verifica-se que 10.704 votos em Michigan (0,0023% do total), 44.292 na Pensilvânia (0,0075% do total) e 77.748 em Wisconsin (0,0278% do total) fizeram com que Trump levasse os votos do colégio eleitoral daqueles Estados. Essas vitórias foram construídas usando dados para buscar apoio do eleitorado com discursos customizados. A big data utilizada acompanhava o fluxo de informações retiradas das mídias sociais. Trump usou as regras do jogo para ganhar votos no colégio eleitoral e não necessariamente a maioria do voto popular. Em campanha, o candidato mirou Estados que sofreram com a desindustrialização nas últimas décadas, o “Rust Belt”, densamente composto de eleitores brancos da classe trabalhadora. Duas subdivisões desse segmento favoreceram os republicanos: o rural e o sem diploma superior, que se sentiam negligenciados pelos democratas. O republicano elaborou campanha específica para Pensilvânia e Virginia Ocidental, voltada para combater o de-
semprego crescente nas indústrias do carvão e do aço, e o descontentamento com o ambientalismo e a globalização. Na semana passada, três pesquisas de opinião agitaram o cenário político nos EUA. A primeira, da Ipsos, apontou liderança de Biden no voto popular, 44% ante 40% para Trump. Uma semana antes, o mesmo instituto liberou pesquisa apontando liderança de Biden por 3% em Wiscon-
Os partidos estão empenhados em conhecer as diferentes realidades para descobrir como podem tirar vantagens em alguns Estados-chave sin, 6% na Pensilvânia e 8% em Michigan. Na pesquisa divulgada pela Universidade de Suffolk, Biden teria 44%, e Trump, 38%. A outra pesquisa, da Universidade Emerson, apontou que apenas 45% dos apoiadores de Biden estariam muito animados para votar nele, ante 64% dos apoiadores de Trump animados com a eleição. Estas pesquisas têm margem de erro de 3%. Num país em que o voto é facultativo e que a eleição do Executivo é ganha no colégio eleitoral, e não pelo voto popular, esses dados são muito importantes. A Convenção Nacional Democrata traçou duas metas de campanha em 2020 (retomar a Presidência e a maioria do Senado)
e utilizará de modelos matemáticos para elaborar estratégias. Para alcançar os objetivos, uma nova ferramenta de análise foi construída a partir de dados, variações demográficas e novos registros de votantes, comparando o cenário da atual eleição com aquele dos anos que antecederam as últimas três eleições nacionais. Em 2016, as contradições de discurso favoreceram Trump. Ele conseguiu montar um esquema barato e eficiente de comunicação direta com o eleitorado, que muitas vezes nem esteve informado de eventual contradição. Para 2020, o Partido Democrata precisará lidar com públicos e, por consequência, com discursos que podem ser contraditórios. Identificaram que será chave para a Presidência tentar formar um firewall eleitoral nos Estados de Nova York, Pensilvânia, Ohio, Michigan, Indiana e Illinois. A soma dos votos no colégio eleitoral desses Estados configura margem folgada de vantagem, por isso o termo “firewall”. Não será fácil. Os dados do censo demográfico e do registro de eleitores apontam que o resultado de 2020 também tende a favorecer os republicanos, já que nos distritos onde assumiram a maioria em 2016 ela deve se ampliar. As mudanças demográficas podem trazer maioria republicana em Minnesota. De outro lado, para o Senado, é preciso ampliar apoio nos Estados de Arizona, Colorado, Georgia e Carolina do Norte. Nesses Estados o foco, seria nas faixas sociais com curso superior, moradores de subúrbios, jovens e nas minorias. Se ocorrer elevação na participação latina, os democratas podem ter novidades positivas no Texas.
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OPINIÃO
x entre
aspas
“O investimento previsto fica inalterado, foi só adiado.”
“Temos um padrão de comportamento similar ao da Coreia.”
Antonio Filosa
Carlos Eduardo Amaral
PRESIDENTE DA FCA PARA A AMÉRICA LATINA
SECRETÁRIO DE ESTADO DA SAÚDE
Em conversa na Live do Tempo
Sobre condução da Covid-19 em Minas
Thiago Camargo
É preciso uma visão sistêmica, abrangente e multidisciplinar
Advogado; sócio do escritório Marcelo Guimarães Advogados e da Sinapse Consultoria e Projetos
Gestão de crise em tempos de pandemia
O
mundo encontra-se quase paralisado. Não sabemos o que será do amanhã e quando voltaremos ao normal. A pandemia assola o mundo e o país de forma devastadora. Os governos, as empresas e as pessoas procuram soluções emergenciais para sobreviver aos enormes desafios. Passado o impacto inicial da pandemia, é hora de pensarmos numa estratégia mais ampla para tirarmos o país do buraco e iniciarmos uma longa jornada de retomada da economia e normalização da vida social. Numa crise como a atual, é necessária uma visão sistêmica, abrangente e multidisciplinar. O princípio básico a nortear as ações é o respeito à vida humana
em todas as suas dimensões, sem incorrer na falsa dicotomia entre saúde e economia. Aqui vale a regra: “Para cada problema complexo, há uma solução simples – e ela está errada”, atribuída ao exministro Pedro Malan. Para o Brasil, vislumbro três grandes prioridades na gestão desta crise de proporções mundiais: a) acompanhar, avaliar e aprofundar as ações nas áreas social, econômica e de saúde, para mitigar os efeitos da pandemia; b) criar um plano para retomada da economia, com cautela, segurança sanitária e visão de médio e longo prazo; c) instituir um grau mínimo de coordenação entre os Poderes e os entes federados, de forma a efetivar ações e políticas públicas de maneira eficiente.
Para a efetivação dessas prioridades, precisamos ter em mente que não existem respostas preconcebidas, sobretudo para problemas complexos e de difícil solução. Hoje, a exacerbação político-
Primeiro, temos a solução – “mais mercado” ou “mais Estado” – antes mesmo de sabermos qual é a real natureza do problema a ser solucionado
ideológica inverte a seta. Primeiro, temos a solução – “mais mercado” ou “mais Estado” – antes mesmo de sabermos qual é a real natureza do problema a ser solucionado. O resultado é uma interminável discussão, sem a resolução dos problemas concretos que afetam a qualidade de vida das pessoas. Precisamos de praticidade e sentido de urgência. A coordenação de todo o processo de gerenciamento da pandemia, bem como suas consequências políticas, econômicas e institucionais demandam uma enorme capacidade de liderança, persistência, diálogo e senso de responsabilidade. A história mundial nos apresenta exemplos de desprendimento de líderes que entenderam a
gravidade do momento e seu papel diante dos desafios de seu tempo. Não se trata de abrir mão de princípios, valores e/ou ideologia. Trata-se de sinalizar a necessidade de encontro do país consigo mesmo e da imposição ética de colocar a proteção à vida acima dos interesses político-partidários, da ideologia e das brigas que dividem famílias, amigos e imobilizam a todos. É preciso que nossos líderes assumam as suas responsabilidades, comportem-se de acordo com a estatura do cargo que ocupam e, sobretudo, sirvam de exemplo para que possamos reconstruir o país. Precisamos de estadistas, mas se tivermos ao menos líderes minimamente responsáveis já será um bom começo.
Taciani A. C. Colnago Cabral
Isolamento e medidas para a recuperação das atividades
Advogada especializada em recuperação de empresas e administradora judicial
Economia e esperança
E
m tempos de pandemia marcada pelo isolamento social, enquanto única medida sanitária eficiente na contenção da propagação do vírus, a quase total interrupção da atividade econômica reforça um quadro de grande incerteza. As dúvidas quanto à retomada das atividades econômicas e, ainda, às consequências de tão grave interrupção por lapso considerável se espalham entre governantes, empresários, empregados e consumidores, compondo variável de
L.EITOR a
E-MAIL opiniao@otempo.com.br
preocupação que se equipara à doença em expansão. Estudo da London Business School quantifica, por exemplo, que a interrupção da atividade econômica redundou em queda média superior a 80% no mercado de restaurantes e a 90% na venda de veículos, além de apontar que os mercados de turismo, hospitalidade e aviação são onde os efeitos da crise serão mais duradouros, em contraposição à venda de eletrônicos e aos ramos alimentício e de bens de
Reginaldo Lopes
aO deputado Reginaldo Lopes Elias Nogueira Saade
(PT), em seu artigo “Ajuda aos Estados e aos municípios é medíocre” (Opinião, 5.5), critica o valor dos repasses federais, omitindo a suspen-
uso cotidiano. Não há como negar que os números são muito preocupantes. Ainda assim, há esperança na crise. Pesquisadores do Federal Reserve dos Estados Unidos e da MIT School of Management fizeram levantamento quanto à retomada da economia nas 66 maiores cidades dos EUA após as medidas de isolamento da gripe espanhola, em 1918, concluindo que, apesar da profunda depressão da atividade econômica, com efeito direto na produ-
ção de bens duráveis e no sistema bancário, sua retomada foi mais eficiente justamente nas cidades em que as medidas de isolamento foram mais agressivas e antecipadas. Tais conclusões, quando confrontadas com as providências amplamente adotadas no Brasil, indicam que, mesmo na crise, há de se manter a esperança quanto à retomada da atividade econômica, principalmente nos ramos de eletrônicos e de bens de subsistência e de consumo cotidiano, estes tão característicos
da economia nacional. Não há, então, como deixar de identificar a importância das medidas de recuperação de empresas previstas na Lei 11.101/2005, que prescreve um conjunto importante de instrumentos destinados justamente a viabilizar que o empresário possa reestruturar suas atividades produtivas, assegurando os direitos de credores e principalmente preservando a empresa, dados os valores sociais ínsitos ao trabalho e à livre iniciativa.
são do pagamento das dívidas, que no caso de Minas é de R$ 6 bi, reclamando que não haverá aumentos para o funcionalismo. Ora, todos os setores das atividades privadas estão com graves dificuldades, e o funcionalismo é a categoria mais privilegiada. Além disso, o partido dele deixou
uma “herança maldita” nas finanças do Brasil e de MG.
presidente não vai ficar aliviado enquanto Rolando Alexandre não lhe obedecer e entregar rotineiramente, apesar de ser inconstitucional, os relatórios sigilosos das instigações em curso na PF. Como se a Polícia Federal não fosse uma instituição que deve servir exclusivamente ao Estado.
Polícia Federal
aSobre a matéria “Rolando assuPaulo Panossian
me a Polícia Federal (Política, 5.5), o
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BRASÍLIA Representante: BUENO COMUNICAÇÃO SHCN Quadra 2015 - Bloco D - Entrada 47 - Sala 103 Asa Norte - Brasília/DF CEP: 70874-540 Telefone: (61) 3223-6999; (61) 8179-7215 E-mail: contato.df@buenocomunicacaodf.com.br
18 | O TEMPO BELO HORIZONTE | QUARTA-FEIRA, 6 DE MAIO DE 2020
Magazine
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Novos tempos Em tempos de isolamento social, equipamentos lançam vasta programação nas redes para contemplar o público
Fechados, porém, não muito EDUARDO ECKENFELS/DIVULGAÇÃO
¬ ANA CLARA BRANT ¬ Os profetas de Aleijadinho es-
tão em Congonhas; obras icônicas de artistas contemporâneos integram o acervo do Inhotim, enquanto um pedaço importante da história da capital mineira se encontra no Memorial Minas Gerais Vale, na Praça da Liberdade. A boa notícia é que, mesmo em tempos de isolamento social, é possível conferir essas e outras atrações de importantes instituições museológicas graças à tecnologia. É o caso do Instituto Inhotim, que, fechado à visitação desde março, nem por isso deixa de estar conectado com seu público. Tanto que, na semana passada, inaugurou outra exposição no Google Arts and Culture, que já abriga três mostras online. “Visão Geral” traz obras de artistas brasileiros contemporâneos como Laura Vinci, Iran do Espírito Santo e Marcius Galan. Lançada “ao vivo” em novembro de 2019, a versão digital traz uma visita mediada por Douglas de Freitas (curadorassociado do Inhotim), vídeos com os artistas e depoimentos de Allan Schwartzman (curador e diretor artístico do Inhotim). “O objetivo não é substituir ou tentar transmitir a experiência de efetivamente estar no Inhotim, mas, sim, criar novas experiências. As exposições online, séries e demais projetos amplificam a experiência presencial”, ressalta Douglas de Freitas, que ainda reforça como a pandemia tem mudado a percepção sobre as artes, mostrando o quão benéficas as instituições culturais podem ser. Freitas também lembra que o maior desafio desses projetos virtuais é articular ideias e preceitos conceituais à tecnologia e encontrar o melhor meio ou condição para que as propostas cheguem ao público com conteúdo e forma consistente e coerente com os meios digitais. “É justamente para criar essa nova experiência, ressignificando a presencial, no caso de quem já esteve lá, e instigando quem ainda não foi a nos visitar quando reabrirmos”, defende. Além das exposições virtuais, o Inhotim produziu três séries que estão em seu canal do YouTube e nas redes sociais. “Bastidores” traz os processos artísticos, os de montagem e o restauro de obras; já “Diálogos”, conversas com artistas, botânicos, curadores e teóricos sobre cultura, enquanto “Re-
O pavilhão Adriana Varejão, em Inhotim: instituto criou várias ações online nestes tempos de confinamento
MARCELO HEINDENREICH/DIVULGAÇÃO
trato”, o processo de montagem de obras e de galerias do Inhotim. MEMORIAL MINAS. Outro espaço
que aderiu à visita virtual é o Memorial Minas Gerais Vale, que tem produzindo conteúdo toda a semana. Sejam shows – como o de Maurício Tizumba, que acontece amanhã, às 20h30 –, sejam aulas de dança e culinária, prática de meditação, oficinas para adultos e crianças e postagem de fotos que contam a história da edificação, desde a época em que funcionava como Secretaria da Fazenda de Minas. As ações podem ser vistas nos canais do espaço (redes so- Iniciativas do Museu de Congonhas mantêm o público ligado ao equipamento PATRICK ARLEY/DIVULGACAO ciais, site e canal no YouTube). Gerente da instituição, Wagner Tameirão diz que o maior desafio, nessa transição temporária da programação presencial para virtual, é ampliar o público. “A gente tem apostado em novos formatos e temáticas e tentado adequar as atividades a partir das ações já efetuadas. Já produzimos quase 40 atrações desde o dia 17 de março. O nosso canal no YouTube dobrou o número de acessos”, frisa. Wagner enfatiza que essas ações não geram retorno financeiro. “O equipamento é uma empresa sem fins lucrativos, mas a programação digital é uma maneira de mantê-lo ativo”, opina. Maurício Tizumba apresenta canções de Vander Lee via Memorial Minas Vale
Chamarizes
De Congonhas ao Egito, por meio da web O Museu de Congonhas, foi outro a aderir à programação virtual. “É uma iniciativa relevante até para que, quando voltarmos, a gente continue com esse fluxo de interesse do público”, defende o diretor Sérgio Rodrigo Reis. Entre os destaques estão vídeos sobre o patrimônio imaterial da cidade, como os que retratam a Semana Santa e o Jubileu de Bom Jesus de Matosinhos. O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB BH), por sua vez, acena com atrações como a visita online à exposição “Egito antigo – Do Cotidiano à Eternidade”. Já o Portal Minas Gerais (minasgerais.com.br), ligado à Secretaria de Estado de Cultura e Turismo, oferece visitas virtuais a vários destinos mineiros. Há até um passeio 360 graus para acessar (minasgerais.com.br/pt/minas360). (ACB)
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#ficaadica
Astrologia Previsões por OSCAR QUIROGA quiroga@astrologiareal.com.br
A vida em tua vida Mercúrio e Netuno em sextil; Lua cheia em Escorpião
H
oje e amanhã, e na sexta-feira em menor escala, são os dias mais importantes do ano, no que diz respeito às imprescindíveis conexões de nosso planeta com as correntes cósmicas de distribuição de vida, essa vida que, enquanto não desenvolvemos a competência e destreza necessárias para a administrar, em vez de sermos nós que a vivemos, é a vida que nos vive. Há uma enorme diferença entre a experiência de conectar a vida de nossas vidas e participar ativa e conscientemente de sua distribuição, e a experiência de nos abandonarmos à inércia e sermos carregados por forças além de nossa compreensão, e que, por isso, se apresentam assustadoras, sombrias e produtoras de sofrimento, não sendo nada disso, em sua essência. Faz com que pensamentos, emoções e práticas sirvam de canal de expressão para a vida de tua vida.
Áries (21/3 a 20/4)
É tudo muito complexo. Esse panorama, quando sentir e se deixar tomar pela irritação, será motivo de mau humor. Porém, quando provocar o entusiasmo característico da aventura, trará bom humor.
Touro (21/4 a 20/5)
O contato social, mesmo que desprovido de toque físico, que seja do olhar, se tornou um ingrediente importante neste momento da vida, e diante dos eventos cósmicos. Faça tudo com os cuidados pertinentes. Gêmeos (21/5 a 20/6)
Nada há para explicar, ainda que muitos mistérios instigantes tenham surgido por aí. Nada há para explicar, por enquanto, contenha seu intelecto e se dedique a desfrutar dos mistérios que a vida lhe apresenta. Câncer (21/6 a 21/7)
Muito conflito se resolveria automaticamente com a ampliação da mente, porque assim se tornaria receptiva e haveria cabimento para o que, sem essa ampliação, provocaria rejeição e antipatia. Amplie sua mente.
Leão(22/7 a 22/8)
Sem atrevimento, a humanidade ainda estaria morando em cavernas, predada por animais gigantes para lhes servir de comida. Sem atrevimento, você viveria uma vida ao sabor da inércia, sem nenhuma iniciativa.
Virgem (23/8 a 22/9)
Importante mesmo, essencial, eu diria, é você se esforçar para que a sua mente fique receptiva ao que está acontecendo, porque se você resistir, como de costume, com suas críticas, tudo irá provocando muita irritação.
Libra (23/9 a 22/10)
As complicações de outrora podem ser solucionadas agora com relativa facilidade. Este é um momento daqueles em que parece haver uma magia circulando, porém, essa magia é você escolhendo a hora certa para agir.
Escorpião (23/10 a 21/11)
Aceite o seguinte, seu progresso e benefício estão inevitavelmente atrelados ao progresso e benefício das pessoas com as quais você tem relacionamentos significativos. Nada anda isoladamente entre céu e terra. Sagitário (22/11 a 21/12)
É muito bom, à sua alma sagitariana, saber que há todo um panorama de desafios e aventuras pela frente. Porém, seria bom reconhecer também, que, ante esse panorama, você teria um lugar onde recuar e descansar. Capricórnio (22/12 a 20/1)
Iniciativas de entretenimento são bem-vindas, porém, melhor seriam as iniciativas para sair do marasmo improdutivo e se dedicar a colocar a bola em jogo, não para retomar a normalidade, mas para se reinventar.
Aquário (21/1 a 19/2)
Agora é mais seguro para você tomar as iniciativas pertinentes visando se aproximar dos objetivos ansiados. No entanto, saiba que esse é um momento em que o nervosismo impera nos relacionamentos. Fato que complica.
Peixes (20/2 a 20/3)
Há muito a explicar, mas nada a justificar. Justificativas não são necessárias, pois serviriam à finalidade de ganhar tempo e criar impasses. Explicações, por outro lado, servem para esclarecer, inclusive a você.
INSTAGRAM/REPRODUÇÃO
Coral Cidade dos Profetas
Em maio, celebra-se o mês de Maria e o Dia das Mães. Não por outro motivo, o Coral Cidade dos Profetas lança hoje, nas plataformas digitais, seu terceiro CD, “Coral Cidade dos Profetas em Louvor à Virgem Maria”. São sete composições do período colonial dedicadas à mãe de Jesus, caso da “Ave Maria” de Schubert. Regência de Herculano Amâncio.
Cinema argentino de graça
O projeto gratuito “Cine104 em Casa” foca, agora, o cinema argentino. Hoje e amanhã, a atração é “Zama”, de Lucrécia Martel que adapta o romance homônimo de Antonio Di Benedetto. Para assistir, basta acessar as páginas do Facebook (centoequatro/) e Instagram (@centoequatrobh) ou o site (centoequatro.org), clicar no link e digitar a senha.
“Lives” especiais GNT
O GNT prossegue hoje sua programação para dias de isolamento. Às 12h, Gabi Pileggi (foto acima) entra em “Live With”, para, com a mãe, dar dicas de jardinagem. Às 18h, Caio Braz e o neurocientista Sidarta Ribeiro falam de sonhos. Às 20h30, Astrid Fontenelle e as outras “saias” vão interagir com o público e, na sequência, conduzir o “Saia Justa”.
Cruzadas diretas
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O TEMPO BELO HORIZONTE| QUARTA-FEIRA, 6 DE MAIO DE 2020 | 21
SUPER.FC www.superfc.com.br - Belo Horizonte - Quarta-feira, 6/5/2020 TEL: (31) 2101-3921
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Volta do futebol. Jogos não terão público, mas contarão com a presença de cerca de 200 profissionais ¬ THIAGO NOGUEIRA ¬ A pandemia do coronaví-
rus obriga que a retomada do futebol, em discussão por federações, clubes e autoridades de saúde, aconteça com estádios de portões fechados, pelo menos num primeiro momento. As partidas, de toda forma, reúnem uma grande quantidade de profissionais, além dos jogadores em campo, o que indica uma aglomeração, o que não é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O SUPER.FC fez as contas. Consultando regulamentos, súmulas, staff de clubes, promotores de eventos e emissoras de TV, o número mínimo de profissionais em serviço é de, pelo menos, 200 pessoas (veja ao lado o detalhamento). O levantamento considera alguns serviços essenciais, deixando de fora alguns profissionais que não precisariam comparecer às praças esportivas, como diretores, atletas não relacionados e parte da imprensa. Só de profissionais de comunicação, um jogo pode reunir entre 150 e 400 profissionais, por exemplo, sendo 90 desses de câmeras, operadores e técnicos que cuidam da transmissão de televisão.
Portões fechados, mas nem tanto assim mo de pessoas em jogos sem público será bem menor. O assunto já é tratado pela entidade em reuniões com o Centro de Operações de Emergência em Saúde (Coes), da Secretária de Estado de Saúde. “A própria CBF sugeriu um modelo, e nós, da federação, em conversa com a secretaria de saúde, estamos aprimorando esse protocolo. Já tivemos reuniões, onde foram debatidos alguns pontos. O protocolo prevê o número mínimo de pessoas, não sei se chegaremos a 200, me parece que serão bem menos pessoas. A próxima etapa é discutir com os departamentos médicos dos clubes para que eles também possam opinar para saber se é viável ou não. Uma vez definido o protocolo, esse documento será submetido ao Coes para saber se ele pode ser implementado na prática”, detalha o dirigente.
NA PONTA DO LÁPIS Número de pessoas que trabalhariam em um jogo de futebol, mesmo sem público
9 Arbitragem
“
A CBF sugeriu um modelo e nós estamos aprimorando esse protocolo. Adriano Aro
”
PRESIDENTE DA FMF
Novo uniforme Pela primeira vez na história do Atlético, o torcedor alvinegro poderá opinar a respeito do uniforme do time. E não só opinar, como também desenhar uma das novas camisas do clube para a coleção 2020/2021. O Atlético lançou ontem a campanha “Manto da Massa” em suas redes sociais e convida todos os torcedores a se inscreverem e criarem modelos de camisas do Atlético. Além de proporcionar uma experiência diferente ao torcedor atleticano, o clube se compromete a doar metade da arrecadação (valor total menos custos de produção e impostos) com as vendas para o combate aos efeitos da pandemia da Covid-19.
(árbitro, assistente 1, assistente 2, quarto árbitro, inspetor, delegado local, VAR, assistente VAR 1 e assistente VAR 2)
10 Staff da equipe mandante (fora da área de jogo): (2 roupeiros, fisioterapeuta, fisiologista, 4 comunicação, jurídico, logística)
46 Jogadores
(11 titulares e 12 reservas de cada equipe)
5 Staff da equipe visitante
12
Comissão técnica (treinador, assistente técnico, preparador físico, médico, massagista e treinador de goleiros de cada equipe)
201 TOTAL
10 Seguranças da
CONTRAPONTO. O presidente
da Federação Mineira de Futebol (FMF), Adriano Aro, acredita que o número míni-
EDITORIA DE ARTE / O TEMPO
equipe mandante (4 dos atletas e 6 áreas comuns)
7 Gandulas + responsável 2 Maqueiros 4 Manutenção de gramado 3 Equipe médica (ambulância) 3 Exame antidoping
90 Imprensa (essencial pra transmissão de TV)* *Total de profissionais de imprensa varia entre 150 e 400 (grandes jogos)
NÃO ENTRAM NA CONTA Polícia Militar (batedores e segurança interna): números não divulgados Diretorias: número variado
FONTES: REGULAMENTOS CBF/FMF, SÚMULAS, CLUBES, ESTÁDIOS E TV
Antes das partidas
Testes rápidos e medição de temperatura ¬ A CBF encaminhou, na semana passada, um documento com mais de 20 páginas para ser aprovado pelo Ministério da Saúde. O protocolo, que reúne a avaliação de dezenas de profissionais de clubes e infectologistas, sugere testes rápidos e medição de temperatura em jogadores e comissão técnica e cuidados com higienização de uniformes, alimentação e transporte. “Os únicos que poderiam ter contato entre eles são os jogadores e o juiz. Todos os outros deveriam manter distanciamento entre si, usar máscaras, higienizar a mão etc.”, diz o infectologista Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia. Membro do Comitê de Enfrentamento à Epidemia da Covid19 da Prefeitura de Belo Horizonte, o especialista não participou da elaboração das recomendações da CBF, mas é favorável à realização de testes e o confinamento de atletas para se evitar o contágio.
DOUGLAS MAGNO - 28.6.2014
A Federação Mineira diz que trabalha pare reduzir bastante o número de profissionais nos estádios
Elenco forte Torcedor do Cruzeiro, Samuel Rosa, vocalista do Skank, cobrou um elenco mais reforçado e um novo presidente ao clube, em entrevista exclusiva à rádio SUPER 91,7 FM. O cantor lembrou a década recheada de títulos vivenciada pela Raposa, mas que teve a inédita queda para a Série B do Campeonato Brasileiro no fim do ano passado. “Estou sentindo falta de ver o Cruzeiro. Não que eu estivesse gostando muito de ver (risos), porque não vinha bem. Estamos vivendo o pior período da nossa história recente. É incrível como um time tem uma década tão brilhante e apronta uma dessa com o rebaixamento”, disse o músico mineiro.
O TEMPO Belo Horizonte | QUARTA-FEIRA, 6 DE MAIO DE 2020 | 23
SUPER.FC
América. Treinador do Coelho diz que a volta ao trabalho no clube está sendo gradual, mas com muita entrega de todos
Técnico Lisca manda recado aos torcedores RAMON BITENCOURT - 9.2.2020
¬ ISABELLY MORAIS
Treinador vinha fazendo uma bela campanha antes da pandemia
¬ O último jogo do América foi no dia 15 de março, quando a equipe venceu o Patrocinense por 1 a 0, fora de casa. A partida, válida pela nona rodada do Campeonato Mineiro, deixou o time na liderança da competição, com um ponto à frente do Tombense. Para marcar o recomeço de trabalho no clube após um período de férias dos atletas, o técnico Lisca enviou uma mensagem para a torcida americana. “Em nome de toda a comissão e jogadores, estou passando aqui para deixar um grande beijo para todos os torcedores do América. Quero dizer que estamos voltando, de maneira gradual, ainda virtualmente, com ca-
da um na sua casa, sob comando do nosso Núcleo de Performance com o Gerson, o Willian e o Jonas”, comenta o técnico americano. Apesar do fim das férias no último domingo, os jogadores do América ainda não voltaram ao CT Lanna Drumond e fazem trabalhos individualizados em suas próprias casas. O Núcleo de Performance do clube alviverde elaborou algumas planilhas com atividades físicas que têm sido enviadas diariamente aos atletas. Para isso, os preparadores físicos do Coelho criaram um questionário, que foi respondido pelos jogadores. Essas informações deram base para a confecção das atividades que têm sido passadas aos jogadores e acompanhadas diariamente.
Curtinhas Fred e Fluminense cada vez mais perto do acordo
Campeonato Carioca em Brasília está vetado
Internacional e Grêmio são os primeiros a voltar
O namoro não é mais segredo, mas o casamento de Fred com o Fluminense é uma questão de tempo para ser, enfim, concretizado. Nesta semana, representantes das duas partes terão uma conversa na qual será formalizada uma oferta. O acordo já poderia ter saído antes, mas o litígio com o Cruzeiro e a pandemia do coronavírus atrasaram a questão.
A possibilidade de jogos do Campeonato Carioca serem realizados em Brasília diminuiu ontem. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) recomendou à Secretaria de Esporte e Lazer e à Arena BSB, concessionária do Mané Garrincha, que “não promovam a realização de qualquer evento”, mesmo com portões fechados.
Os times gaúchos foram os primeiros a voltar aos treinos após a pandemia do coronavírus. Os atletas do Internacional retomaram as atividades em pequenos grupos no CT do Parque Gigante pela manhã. O Grêmio treinou à tarde sem o técnico Renato Gaúcho. Por ter feito duas cirurgias cardíacas, ele é considerado do grupo de risco e seguirá em casa.
Duke
www.dukechargista.com.br
MEDIDAS. Com o fim das férias e sem perspectiva para o retorno dos campeonatos, o América adotou medidas paras manter os empregos durante a pandemia do coronavírus. Após os 30 dias de férias compulsórias, o Clube confirmou que suspendeu os contratos de colaboradores da área administrativa, do futebol de base e do futebol fe-
minino, aderindo a MP 936, do Governo Federal. O América ainda informa que vai complementar a renda oferecida pelo Governo, para que todos os colaboradores com contratos suspensos recebam o valor líquido recebido que já tinham, evitando perda imediata na renda mensal. A medida vale a princípio por 60 dias.
Mercado da bola. Volta do atacante Fred para o Fluminense cada vez mais perto. Página 23
SUPER.FC
JOÃO GODINHO - 24.6.2014
VVVV otempo.com.br
O TEMPO BELO HORIZONTE QUARTA-FEIRA, 6 DE MAIO DE 2020
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Jogos com portões fechados terão 200 pessoas nos bastidores. Página 22
Cadê as contas? Diretorias de Atlético e Cruzeiro não apresentaram os balanços financeiros referentes a 2019
¬ FERNANDO MARTINS Y MIGUEL ¬ A situação financeira de Atlético e Cruzei-
nais, independentemente de serem associações civis sem fins lucrativos ou empresas, a publicar suas demonstrações financeiras. Por conta da pandemia, os clubes alegam que encontraram dificuldades para fechar o balanço de 2019. O não cumprimento da Lei Pelé pode acarretar em inelegibilidade dos dirigentes por até cinco anos, além do risco de ver o clube ser excluído do Pro-
ro não é boa. Mas com a pandemia do coronavírus, a questão ganhou mais um contorno negativo para os rivais. Os dois clubes não divulgaram o balanço financeiro até a última quinta-feira, data limite de acordo com a Lei Pelé, que obriga entidades de prática esportiva que empregam atletas profissio-
2 4/5
LOTERIA
2 5/5
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Lotomania
Dupla Sena
concurso 2.074
1º sorteio
10 14 19 22 29 45
2º sorteio
09 15 30 39 47 48
ÍNDICE
u Caderno A
Coronavírus Aparte
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concurso 2.071 24
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Política Opinião
2 18/3
Lotofácil
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fut, programa de repactuação de dívidas. Segundo o Cruzeiro, a crise financeira e os efeitos da pandemia do coronavírus são as causas para o atraso. O Atlético possui duas justificativas. Além da pandemia, que fez com que a maioria dos funcionários tivesse licença remunerada, o lançamento da venda de 50% do Diamond Mall gerou dúvidas no departamento financeiro, que
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14 e 15 16 e 17
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Federal
concurso 5.477
1º prêmio 2º prêmio 3º prêmio 4º prêmio 5º prêmio
50.411 64.624 92.652 44.129 78.488
Magazine Super FC
deve solicitar a participação de auditoria para definir em qual exercício (2019 ou 2020) entra a negociação. Por causa da pandemia do novo coronavírus que assola o Brasil, muitos serviços públicos no país foram interrompidos e tanto a diretoria do Atlético quanto do Cruzeiro imaginam que não sofrerão punição. Eles prometem regularização em breve.
u Caderno
18 e 19 22 a 24
Mega Sena 01
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asdasd
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O TEMPO publica diariamente o resultado das loterias. Fique atento ao número do sorteio.
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Atendimento ao assinante Capital e Grande BH 2101-3838 Interior 0800-703-4001
* Até o fechamento desta edição, a Caixa não havia divulgado o resultado do sorteio.