EQUIPE EDITORIAL Editoras Chefes: Simone Barros e Teresa Poças Coordenação Gráfica: Rhanna Andrade Projeto Gráfico: Othon César Marcos de Lima Ana Elisa Manuela dos Santos Iara Adeodato Luciana Bacelar Bruna Andrade Núcleo de Imagem: Marcela Reis Caio Mendes Erickson Holanda João Vitor Luana Lins Redação e Edição de Textos Academia: Izabella Cavalcanti Industria: Mateus Forte Maria Beatriz Cultura: Pietro Amaral Mariane Paiva Tamyres Siqueira Natalia Cristina Soraya Holder Maria Helena Amanda Mendes Consumo: Mariane Paiva João Victor Marcela Reis Entrevista: Guilherme lira Mateus Forte Empreendedorismo: Tassiana Oliveira Luana Lins Editorial: Marcos de Lima Guilherme Lira Eduardo Nóbrega Iara Adeodato Caio Mendes
Mais um número da Demetra, sai do forno e está pronto para vocês. Viver, mais uma vez, a experiência de produzir uma revista-laboratório atravessada pela interdisciplinaridade de três campos teóricos como o Design, a Comunicação e a Moda, foi um grande prazer, compartilhado com os alunos da turma 2011.1 do grupo de estudos Moda em Revista. Envolvendo atividades como a pesquisa para produção da revista (projeto prático), com acompanhamento ao longo do semestre, e atividades semanais apresentadas nas reuniões e debatidas entre os participantes, nossa sala de aula se transformou na redação que precisávamos para que os alunos do curso de Design da UFPE, descobrissem, de forma lúdica, novas possibilidades de aplicação do design editorial. Simone Barros e Teresa Poças (editoras-chefes)
Academia Estudantes de Moda 8 A interação simbólica entre corpo-vestuário: perspectiva para o design de moda 12
Indústria 20 The Green Shows 22 A sutil arte de convencer
Cultura Fotografia analógica: como tudo começou 28 Estilo de rua 31 Boneca é coisa séria! 34 Figurinos para games 37 Tatuagem está, é ou pode virar moda? 40 Dos quadrinhos para o Cinema 42 Moda: uma história para crianças 44
Consumo Moda de mercado 50 O rastro dos sapatos 52
Perfil 56 Fernanda Guedes 60 Melk Z-da
Empreendedorismo Do Design ao neg贸cio 72
Editorial Moda Manifesto 78
铆ndice
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Estudantes de Moda Cursos de moda e design A interação simbólica entre corpo-vestuário: perspectiva para o design de moda
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Cursos de Moda e Design Izabella Cavalcanti Holanda
Nesta edição, a Demetra trás duas opções para quem planeja estudar moda. O curso de Design e Marketing de Moda, da Universidade do Minho, Portugal, e o de Desenho de Moda da Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo. Além da possibilidade de fazer todo o curso, ainda tem a opção dos intercâmbios entre as instituições de ensino, onde o estudante pode passar um período estudando em outra universidade. Design e Marketing de Moda (Uminho) O curso de Design e Marketing de Moda da Universidade do Minho apresenta uma dupla vertente: associa o design industrial e o estilismo ao conhecimento do mercado e à comunicação de marketing. O curso objetiva fazer com que os licenciados obtenham competências que lhes permitam criar novos produtos, coleções e marcas, com um design de qualidade, elevada rentabilidade e corretamente direcionados para os mercados-alvo. As saídas profissionais dos licenciados são muito diversificadas, podendo se direcionar para: • gabinetes de criação de produtos de moda • empresas industriais têxteis, de vestuário de moda, de esportes, de acessórios (calçados, malas, cintos, chapéus e outros) e de vestuário de segurança • empresas de distribuição e de comercialização (grande distribuição, cadeias de lojas, empresas de venda por catálogo, etc.) • ensino especializado e formação profissional, • centros de investigação Todo o curso segue metodologias de ensino por projeto, associando a aquisição de conhecimentos teóricos à sua aplicação simultânea em trabalhos interdisciplin-
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ares, que são realizados em equipe com apoio tutorial. O curso tem duraçao de 3 anos / 6 semestres. Desenho de Moda (FASM) Para não deixar os cursos nacionais de lado, resolvi falar um pouco do curso de moda pioneiro aqui no Brasil: o Curso Superior de Desenho de Moda da Faculdade Santa Marcelina (FASM), localizado em São Paulo. Nos últimos 20 anos formou grandes nomes, que hoje se destacam no mercado nacional e internacional, como Alexandre Herchcovitch, Icarius de Menezes, Gisele Nasser, Simone Mina, Adriana Barra, Mariana Rocha, Vinícius Campion (Mulher do Padre), Thaís Losso (Cavalera), Fábia Bercsek (estilista e ilustradora de moda), Carlla Girotto, Brenda Vidal (Joalheria), entre outros. Em sua carga horária, oferece equilibradamente disciplinas teóricas e práticas, para que os estudantes possam exercitar sua criatividade ao máximo. O programa é voltado para a formação de criadores de Moda e é apoiado por diversas atividades extracurriculares, como concursos e exposições. Os trabalhos de graduação também envolvem a criação, podendo ser desenvolvidos em Estilismo, Calçados e Acessórios, Joalheria ou Fotografia. A grande ênfase do curso da Faculdade Santa Marcelina é a criação, e o estímulo ao processo criativo faz parte de todas as disciplinas. Para a aplicação das técnicas aprendidas no curso, os alunos têm à disposição uma infraestrutura que conta com diversos recursos em salas especiais como Modelagem, Confecção Industrial, Joalheria, Ateliê de Desenho Têxtil, Laboratório de Fotografia , Estamparia, Computação
O programa é voltado para a formação de criadores de Moda, e é apoiado por diversas atividades extracurriculares, como concursos e exposições.
Gráfica (CAT - Centro de Arte e Tecnologia) com os softwares mais utilizados no mercado de moda. A proposta da FASM não contempla especializações fragmentárias, mas uma formação unificadora e abrangente dos conhecimentos que permitem ao aluno atuar profissionalmente, trabalhando em todos os elos da cadeia produtiva do mercado de moda. Com isso, o perfil esperado do futuro profissional da Moda é que ele esteja bastante atento, não só na sua pretendida área, mas também em assuntos comportamentais, culturais e artísticos; aprecie a vida dinâmica e a integração cultural; seja extrovertido, comunicativo, afeito a estabelecer grandes redes de relacionamento pessoal que lhe darão acesso a outras opiniões, desejos e oportunidades. O curso tem duração de 4 anos/8 semestres, nos períodos matutino ou vespertino (na opção vespertino somente o primeiro ano do curso é ministrado à tarde. Todos os segundos e terceiros anos têm aulas pela manhã. No último ano - o quarto - é possível optar por cursar as aulas de manhã ou à noite).
Para mais informações sobre os cursos: • www.uminho.pt • http://www.fasm.edu.br/index.php/ cursos/3/1/1/134/--Desenh_o-de-Moda • http://www.design.uminho.pt/pt-PT/
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A interação simbólica entre corpo-vestuário: perspectiva para o design de moda. Juliana Wanderley Emerenciano | e-mail: juliana.emerenciano@gmail.com Professora Assistente | Núcleo de Design UFPE/CAA Hans da Nóbrega Waechter | e-mail: hnwaechter@terra.com.br Professor Adjunto | Departamento de Design UFPE
Resumo A relação entre corpo e vestuário se mostra intensa desde a situação de uso, em que os dois tem alta proximidade e a roupa se mostra como uma segunda pele, até sua interação que origina produtos simbólicos. Como veículo de materialidade e presença no ambiente, o corpo é mais que um suporte passivo para a roupa ou demais interferências ou modificações que realizamos sobre ele, mas interage, produzindo a ressignificação do corpo através dos valores éticos e estéticos de nossa cultura. Acreditamos que uma compreensão dessa interação pode proporcionar uma perspectiva para o design de moda em que os produtos são vistos como parte deste produto simbólico que é o corpo vestido. Palavras-chave: Design de Moda, comunicação, consumo simbólico.
Abstract An intense bond is established when clothing interacts with the body to become its second skin and they are engaged in a symbolic product. Since there’s more to our body than being a mannequin for clothing and ornament, it suffers profound transformations from the interference of modifications – may they be temporary or permanent – thus leading to manifestation of ethical and aesthetical social values. This paper aims to display a perspective on this interaction that may support fashion design studies as clothing products may be seen as part of the symbolic product that emerges when a body is dressed. Keywords: Fashion design, communication, symbolic consumption.
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Introdução A interação entre corpo e vestuário configura uma relação em que podemos visualizar o vestuário como uma segunda pele que levamos conosco em nossas relações com outros indivíduos e com o ambiente. Dado este caráter tão íntimo, percebemos interferências mútuas entre corpo e roupa que originam uma terceira instância: o corpo vestido. É através do corpo que estamos materialmente presentes no ambiente e por meio de artefatos podemos transformar tanto nosso corpo quando este mesmo ambiente. Realizar interferências através de artefatos ou diretamente no nosso próprio veículo de materialidade dá a esta interação um caráter intenso e profundo. Em sua constituição como mediadores das relações interpessoais e sociais, os produtos de vestuário funcionam como “interface global de interação” entre o homem e seu entorno socioambiental (MONTEMEZZO, 2002). Por fazer parte do conjunto de elementos e características a partir dos quais somos reconhecidos e nos reconhecemos, podemos considerar o vestuário como parte integrante da identidade que comunicamos aos outros indivíduos. Diante desta perspectiva, Barnard (1999) propõe que, através do vestuário não acontece apenas comunicação entre indivíduos, mas também entre grupos sociais e que este processo de comunicação também é parte do que os constitui como grupos, configurando-se, também, como parte das identidades destes grupos. Assim como concebemos, em nosso cotidiano, o
corpo vestido como um todo, é preciso que o designer de moda mantenha essa perspectiva ao criar produtos de vestuário para o mercado de moda. A partir de uma revisão bibliográfica, buscamos contribuir com os estudos em design de moda ao trazer a perspectiva da interação e construção simbólica que se estabelecem na interferência que fazemos sobre o corpo através do vestuário. Pretende-se, desta forma, compreender como essas interações podem contribuir para uma percepção mais aprofundada, não só dos produtos de vestuário com valor de moda, mas do papel do designer como criador de elementos que participam desta construção. Entretanto, para viabilizar o estudo proposto aqui, conduziremos uma aproximação focada, inicialmente, em aspectos particulares do corpo e, posteriormente, da roupa. Partindo desta abordagem, podemos compreender o que cada um deles traz para a experiência de uso. Em seguida, poderemos investigar esta interação, conhecendo os elementos que dela participam.
2008. (FITA cassete, 2008)
Corpo Compreendermos a esfera subjetiva do ser humano como a experiência particular de perceber o mundo e é através do corpo, aparato perceptivo e expressivo, que podemos vivenciá-la e refletir sobre ela. Inserido no contexto do convívio com outros indivíduos e grupos, o corpo torna-se um dos meios da comunicação humana, “veículo de significação primordial” (CASTILHO, 2004). Garcia & Miranda (2005) nos apresentam um corpo mídia primária, que não necessita do uso de aparatos. Por esta perspectiva, temos um corpo que não é apenas suporte para o uso de adornos, mas que estabelece comunicação a partir de sua própria materialidade. Por sua vez, o caráter semântico que o corpo adquire através de modificações corporais, permanentes ou temporárias – incluindo o uso de vestuário –, pode ser percebido ao estabelecermos uma comparação entre a pele em estado natural e a pele modificada. Sobre a nudez nos diz Castilho (2004:52): Ainda que consideremos o corpo como manifestação individual, seu estado de nudez apresenta uma natureza genérica que, de certa maneira, impossibilita o estabelecimento de uma série de diferenciações que representariam a necessidade primordial da cultura humana à perene busca de individualização.
Relação de conjunção no vestido frouxo que não define as formas do corpo e esconde seus contornos – Ronaldo Fraga.
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Para fins de comparação, a autora distingue duas classificações para o corpo, em relação à presença ou ausência de modificações. Temos o (1) ‘corpo anatômico’ (ou morfológico, natural), referente ao corpo biológico e apresenta as características de um corpo humano padrão; apresenta algumas variáveis na sua constituição, no tocante a volume, composição visual, por exemplo, e características distintivas das raças humanas e o (2) ‘corpo semântico’ (ou simbólico), produto resultante do processo de reconstrução ou ressemantização do corpo anatômico. Se o corpo é mídia para a comunicação não-verbal e sócio-cultural é, por conseguinte, também mídia para a moda. Ao engendrar uma construção simbólica, corpo e indumentária se integram, transformando-se no ‘corpo vestido’, produto desta articulação. Vestuário: Invólucro Simbólico O vestuário é um produto em que reconhecemos um potencial veículo de simbolismo. O próprio uso de vestuário exprime, em si, um significado. Utilizar vestimentas e adornos manifesta uma necessidade de interferir sobre um corpo que, ao natural, não nos satisfaz. A comunicação que se estabelece através do vestuário caracteriza-se como não-verbal, estando inserida em um campo que estrutura a organização social e possibilita a coerência na organização de grupos de indivíduos. Divide-se em três grandes áreas de acordo com seu tipo de suporte ou canal: comunicação facial e corporal, cujo suporte é o corpo; a comunicação através de artefatos utilizados pelo indivíduo como jóias e roupas; e a comunicação mediante a distribuição espacial, a posição dos corpos no espaço, a relação entre eles e sua relação com os espaços (FIDALGO, 1999). Assim, integrado à fisiologia humana, o vestuário torna-se elemento constituinte da identidade que manifestamos e de que necessitamos para nosso convívio social. Uma forma de nos reconhecermos, de sermos reconhecidos e, assim, de participar de grupos. Portanto, a ética e a estética de um determinado grupo em relação ao vestuário refletem a lógica de sua constituição como tal, aquilo que compartilham e os aproxima. Dessa forma, o vestuário se torna um registro de diversos aspectos das negociações, acordos e regras, ou seja, dos valores culturais. Portanto, é elemento de grande representatividade na construção da identidade. Podemos tratar do conteúdo trazido pelo vestuário para esta relação de contato e construção simbólica que realiza com o corpo. Segundo Barthes (2003:45), a comunicação que se dá a partir do vestuário se situa no âmbito da ‘função-signo’ e “tem (...) provavelmente um valor antropológico, já que é a própria unidade em que se estabelecem as relações entre o técnico e o significante”. A chave da compreensão do vestuário como meio para a comunicação se encontra em sua característica que o constitui como produto da cultura. Observado sob este prisma, o vestuário torna-se portador de
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uma série de informações sobre o ser humano social e como indivíduo perante seus semelhantes, além de informações sobre materiais e processos utilizados em sua produção. Nacif (2001:74) diz que: o objeto e, por conseguinte, o vestuário, é um substrato material portador de significado e, como tal, nos remete ao conceito do qual é a representação concreta, e ao mesmo tempo, à matéria e à técnica com as quais foi feito. Desse modo, podemos dizer que a origem do vestuário está na manifestação de um significado tanto individual quanto sociocultural. Abordando as propriedades expressivas do vestuário, podemos observar uma das instâncias de sua constituição enquanto signo cultural: a dupla articulação do vestuário. Temos, num primeiro momento, os valores dos produtos como bens da cultura humana, signos cuja carga semântica é elaborada a partir de suas características e propriedades estético-simbólicas – como elementos de linguagem visual da composição global dos produtos (como cores e texturas) – e um segundo momento em que tais produtos se apresentam como registro das técnicas e materiais utilizados em sua produção (BARTHES, 2003). Dentre as possibilidades de interferir sobre o corpo, são dois os tipos de ornamentação corporal: o primeiro, que compreende as decorações de caráter permanente, intrínsecas ao corpo, como a escarificação (ornamentação por meio de cicatrizes), as tatuagens e deformações, e um segundo tipo, denominado temporal, cuja característica é de ser uma decoração sobreposta ao corpo, como roupas, acessórios, maquiagem (CASTILHO, 2004). Estando inserido nesta segunda categoria, o vestuário possibilita uma flexibilidade ainda maior, a temporalidade. Permite trocas e combinações, acentuando sua identificação como mídia ótima para a moda, já que permite uma renovação da aparência, a busca pelo novo. O produto de vestuário para o mercado de moda (PVMM) Como pudemos observar, o vestuário assume um papel de registro de dinâmicas sócio-culturais, ao representar, simbolicamente e em sua materialidade, valores éticos e estéticos que ordenam a vida em sociedade. Dessa forma, o vestuário se apresenta como mídia ótima para a moda, pois seu caráter de temporalidade nos permite acompanhar as mudanças impulsionadas pela moda além de o levarmos sobre o corpo, em nossas relações sociais. A seguir, buscamos no Gráfico do Movimento de Significado apresentado por McCracken (2003:100) os instrumentos de transferência simbólica identificados tanto imersos nas próprias dinâmicas socioculturais quanto em experiências individuais, como os rituais de consumo e de arrumação, escolha e combinação das peças selecionadas para o uso. Assim, o significado final é determinado, apenas,
quando os bens são utilizados. Estes, por sua vez, se configuram como instâncias finais do significado, perspectiva essencial para o designer, que precisa estar, durante todo o processo de concepção e produção, consciente de que os produtos serão recebidos por este consumidor e usuário e que ele terá sua própria experiência e interpretação do produto adquirido e participam ativamente no processo de transferência de significados. Isto indica que ocorre a reconstrução do conteúdo ou informação de moda através do estilo pessoal, cabendo ao usuário a atribuição final do significado. Gráfico de movimento de significado (Fonte: MCCRACKEN, 2003:100)
No âmbito da teoria do design, ao abordar o segmento dos produtos de moda, é através dos aspectos estético-simbólicos que ocorre o processo de comunicação com o consumidor, que levam a carga simbólica nos produtos e são de grande importância no fluxo de relações entre indivíduo e meio social (MONTEMEZZO, 2004). Löbach (2001) considera que existem, no processo de uso dos produtos, três funções de satisfação do consumidor: práticas, estéticas e simbólicas. A primeira diz respeito às relações orgânico-corporais de seu uso, como, por exemplo, sua funcionalidade, o material e o processo com que foram fabricados. A seguinte supre as necessidades psíquicas do consumidor através de processos sensoriais, por meio da aparência dos produtos. A função simbólica está ligada à percepção dos objetos; estabelece relações entre os aspectos estéticos e experiências e sensações vivenciadas anteriormente pelo consumidor, promovendo uma estimulação de ordem subjetiva. Em se tratando de produtos de moda, estas duas úl-
timas funções tem papel essencial no estabelecimento da comunicação entre produto e consumidor. São os aspectos estético-simbólicos que atuam nas interações sociais entre os indivíduos e, no caso deste tipo específico de produtos, podemos destacá-los como elementos de maior interesse dos consumidores-usuários em relação a suas outras características, tornando-se esse um aspecto de distinção em relação a produtos que não tem seu consumo influenciado pela moda (MONTEMEZZO, 2004). Corpo e Vestuário: Análise da Integração Considerando o expressivo potencial da comunicação que estabelecemos através do corpo, é preciso observar o funcionamento deste sistema na sua articulação com o vestuário, que envolve uma interferência mútua e integração entre eles na construção simbólica. É através do aparato corporal, inserido no meio sociocultural através do vestuário, que participamos do mundo, somos percebidos e percebemos o outro. Dessa maneira, podemos afirmar que toda ordem de interferência nesta estrutura provoca algum tipo de modificação no conjunto semântico produzido pela articulação entre o corpo e tais interferências. Observando, nos comunicamos tanto a partir do corpo quanto do produto de vestuário, individualmente, podemos supor uma combinação das cargas simbólicas de ambos na instância do ‘corpo vestido’. Com a interação entre estes dois elementos – o corpo e a roupa – acontece uma intensa produção de sentido que está intimamente ligada à subjetividade e identidade de indivíduos e de grupos. Esta construção está subordinada à articulação das peças entre si e destas com o corpo que as utiliza; a cada combinação ou composição é possível obter novos e distintos conjuntos. Através da ornamentação corporal, é possível redesenhar os contornos do corpo, reestruturando o processo de comunicação que estabelece ao entrelaçá-las com as propriedades semânticas presentes no vestuário. Neste processo, constrói-se um diálogo entre o corpo e a decoração em que estes se integram também à situação de uso ou contexto, estruturando uma comunicação através de uma combinação de competências do corpo e dos produtos. Dessa maneira, vemos a moda, através dos produtos do vestuário, como uma estratégia de pluralizar e potencializar as propriedades expressivas do corpo, que se reveste de simulações e dissimulações, tornando-se mais atraente, tornando-se mais estimulante e sendo, também, mais estimulado do que em seu estado natural, o corpo nu (BAUDRILLARD, 1996). O consumidor-usuário se relaciona com o produto de moda de forma emocional, no plano do desejo e da fantasia, o que contribui para que o consumidor o escolha como elemento de construção de identidade(s) e de realidades desejadas. Sendo assim, o design de moda deve responder ao grande desafio de integrar questões de mercado às questões da produção industrial em produtos que tem funções não apenas de co-
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Relação de disjunção, espartilho modificando a cintura do corpo feminino. (ESPECIAL décadas de Moda: os anos 10, 2010)
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brir e proteger o corpo, mas de atender à demanda dos consumidores por bens com que possam se identificar e se relacionar, alcançando este bem-estar. Considerações finais A investigação aqui conduzida levou a um aprofundamento da discussão sobre a construção simbólica que se dá através da integração entre corpo e vestuário e leva à configuração de produtos simbólicos que compõe a identidade de indivíduos e grupos. Sabendo que existe uma série de informações que transmitimos através do aparato corporal, podemos inferir que o vestuário atua, pelo simples fato de contribuir para a elaboração de uma nova imagem corporal, na construção de nossa identidade. Manipulando o corpo através do uso de cobertura corporal, estamos complementando, modificando, ocultando ou propondo novas informações; seja pela interferência gerada pelo contato direto com o corpo ou recobrindo-o com as cargas estético-simbólicas presentes nos produtos de vestuário. É preciso pensar o corpo não apenas como um suporte passivo para os produtos de vestuário com valor de moda, mas também como agente na situação de uso; um corpo que interage, se modifica e modifica os produtos que leva sobre si, já que é o nosso veículo do perceber, sentir, pensar e estar no mundo. Qualquer interferência sobre ele pode modificar as impressões que nos proporciona. Conceber e produzir diante desta perspectiva nos permite considerar a importância do processo de que participa o vestuário. Esta investigação pode contribuir para o design com uma percepção mais ampla do produto de moda ao considerar sua íntima relação com o corpo e a construção da identidade, que nos mostra o potencial deste tipo de produto para satisfazer diversos tipos de necessidade dos usuários-consumidores, desde as físicas até as emocionais e psicológicas. Uma ampliação da consciência sobre este potencial de relacionamento físico e simbólico com o consumidor pode contribuir, de maneira significativa, no processo de design de produtos do vestuário, ao combinarmos uma preocupação com os demais aspectos e funções dos produtos a este papel de representação de valores. Sabemos que a obsolescência deste tipo de produto não está condicionada apenas pelo seu desgaste, mas, principalmente, por uma renovação da informação de moda, que fornece novas possibilidades de elementos que podemos utilizar para combinar e construir nossas identidades. Portanto, é preciso criar atendendo a essa demanda, proporcionando ao usuário-consumidor a aquisição de produtos com os quais ele se identifique e os escolha para utilizar neste processo, garantindo sua satisfação e, conseqüentemente, o bom desempenho dos produtos no mercado. Para tal, é preciso que o designer de moda conheça profundamente seu público consumidor a fim de melhor atender a essas necessidades e desejos em relação ao produto. Pretende contribuir, então, com esta reflexão não
apenas para o design de moda e seus profissionais, mas para os demais campos investigativos e práticos envolvidos em instâncias do processo de produção até a comercialização dos produtos de moda e serviços, que possam vir a utilizar-se de tais informações em suas estratégias. Referências BARNARD, M. Moda e comunicação. Rio de Janeiro: Rocco, 2003. BARTHES, R. Elementos de semiologia. São Paulo: Editora Cultrix, 2003. BAUDRILLARD, J. A troca simbólica e a morte. São Paulo: Edições Loyola, 1996. CASTILHO, K. Moda e linguagem. São Paulo: Anhembi Morumbi, 2004. FIDALGO, A. Semiótica geral. Universidade da Beira Interior, Covilhã. Disponível em: <ttp://www.bocc.ubi.pt/> [em: 05/09/06] GARCIA, M. C., MIRANDA, A. P. C. de. Moda é comunicação: experiências, memórias, vínculos. São Paulo: Anhembi Morumbi, 2005. LÖBACH, B. 2001 Design industrial: bases para a configuração dos produtos industriais. São Paulo: Edgar Blücher, 2001. MCCRACKEN, G. Cultura & consumo: novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e das atividades de consumo. Rio de Janeiro: MAUAD, 2003. MONTEMEZZO, M. C. de F. S.; SANTOS, J. E. G. 2002 O papel do vestuário na interação homem-ambiente. In: 5º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM DESIGN, 5, 2002. Anais... Brasília, DF, 2002. ____________, M. C. de F. S. 2004 Funções práticas e estéticosimbólicas do produto de moda. In: 6º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM DESIGN. P&D DESIGN, 6, 2004, Fundação Armando Álvares Penteado: São Paulo, SP. Anais... São Paulo, SP, 2004. NACIF, M. C. V. Formas vestimentares nas sociedades ocidentais modernas. In: Estudos em Design. Rio de Janeiro, vol. 9, no ½, Janeiro de 2001. p. 71-91.
Juliana Wanderley Emerenciano é Mestre em Design (2011) pelo PPG Design da UFPE. Atualmente é Professora Assistente no Curso de Design, no Núcleo de Design da UFPE, Centro Acadêmico do Agreste, em Caruaru. Hans da Nóbrega Waechter é Master en Comunicación Audiovisual y Publicidad e Doutor pelo Programa de Doctorado en Comunicación Audiovisual e Publicidad na Universidad Autónoma de Barcelona (2004). Atualmente é professor Adjunto 1 do Departamento de Design da UFPE.
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The Green Shows
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A Sutil Arte de Convencer
The Green Shows
Mateus Forte Barros
Sustentabilidade sempre foi um tema recorrente no mundo da moda. Reciclagem de materiais e reaproveitamento. Algo que sempre esteve presente, mas nunca recebeu tanta atenção como nos últimos anos. Há algum tempo muitas marcas e estilistas vêem que há possibilidade de se criar produtos de excelente qualidade, de forma menos agressiva ao meio ambiente, sem deixar de lado a qualidade de design de suas criações. Dois exemplos bem sucedidos são a estilista britânica Stella McCartney e a marca brasileira Osklen, que desde o começo sempre mostraram uma preocupação eco sustentável em suas criações. O conceito de eco sustentabilidade vai muito além da roupa feita com material reciclado. A sustentabilidade não quer dizer só ecologia, ela envolve inclusão social, capacitação de mão-de-obra, informação, educação e economia criativa. Um produto eco sustentável passa por uma cadeia de produção onde tudo é levado em conta, desde a matéria-prima usada até os processos fabricação e de distribuição da mesma. Com toda essa movimentação sobre o tema é natural que surgissem eventos comprometidos em espalhar as ideias de eco sustentabilidade pelo mundo. Dentre eles, podemos destacar a Estethica – semana de moda ecológica que acontece paralelamente à London fashion Week, o Green Show – evento que acontece paralelamente à NY Fashion Week e o #SSE (Instituto Ser Sustentável com Estilo), projeto criado pela ex-modelo e con-
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sultora de moda Chiara Gadaleta em parceria com a ativista e designer carioca Viviane Martins. O #SSE nasceu após quatro anos de pesquisas de campo e mapeamento de projetos por todo o Brasil. O projeto pretende reunir diversos parceiros de diferentes níveis da cadeia produtiva da moda. Em janeiro deste ano foram apresentados os primeiros integrantes do Instituto - Lourdinha Oliveira, Luciana Galeão, Flavia Aranha, Osklen, Ronaldo Fraga, Ronaldo Silvestre, Patricia Moura, Vitorino Campos, Marcia Ganem, Kalina Rameiro, Thiana Santos e Plant Your Tree. Cada um desses designers emprega de alguma forma comunidades, ONGs ou institutos que fomentam a produção e valorização de itens locais com mão de obra nacional. Segundo o release de lançamento, ao ser incluído no #SSE, parceiros terão valor agregado a produção, uma vez que ele dissemina novas práticas da moda em um ciclo virtuoso em prol da mudança de paradigma da sociedade. O Instituto atua como uma frente a favor da moda sustentável com diversas ações - palestras, workshops, exposições. O #SSE é baseado em sete pilares: valorização das capacidades locais, comércio justo, capacitação e inclusão social, uso de materiais orgânicos, reciclagem/reaproveitamento e upcycling, artesanato com design e, por último, moda sustentável com prestígio e memória nacional. Entre as ações previstas para ocorrer durante o ano de 2011 estão diversas palestras, oficinas de customização, desfiles, exposições e pop-up stores
juntos e misturados pelo Brasil no projeto Giro #SSE. ÉTICA FASHION Estethica é uma iniciativa eco sustentável do British Fashion Council e patrocinada pela marca de acessórios Monsoon. A iniciativa surgiu em 2006, graças ao crescente movimento de estilistas comprometidos com a criação eco sustentável. Em sua primeira temporada a estethica contou com a participação de 13 marcas, hoje esse número cresceu para mais de 20, o que mostra o quanto a sustentabilidade tem se tornado peça importante no mercado de moda. “Com as pessoas começando a perceber a própria responsabilidade social enquanto consumidoras, os estilistas passam a incluir essa filosofia como parte do processo” afirmou a coordenadora do desfile, a editora de moda e consultora criativa Chloe Kerman. Todos os designers da Estethica devem aderir a, pelos menos, um dos três princípios adotados pelo evento – comércio justo e práticas éticas, utilização de materiais orgânicos e reciclados e são selecionados tanto para suas credenciais éticas quanto pelo design de excelência. Em sua primeira edição a Estethica contou com a participação de estilistas de peso como as veteranas Vivienne Westwood e Stella McCartney e talentos em ascensão como Henrietta Ludgate e Christopher Raeburn e suas criações feitas com nylon de pára-quedas. O evento atende a requisitos de sustentabilidade, principalmente no que se refere à emissão de gases de efeito estufa. As pegadas de carbono geradas a partir da iluminação, do consumo de energia elétrica e da encenação serão calculadas e compensadas posteriormente. GREEN NY A Semana de moda ecológica de NY, The Green Shows, é o principal evento internacional comprometido a apresentar moda contemporânea, ecoconsciente, eticamente, durante a New York Fashion Week. O GreenShows (TGS) é uma empresa de eventos dedicados à produção de desfiles de moda, eventos comerciais, lojas pop-up, fóruns e seminários de educação para a sustentabilidade ecológica da indústria da moda. O GreenShows apóia estilistas locais, nacionais e internacionais, fabricantes e varejistas que estão moldando essa tendência. O GreenShows está ajudando a estabelecer a cidade de Nova York como destino mundial de moda de luxo ecologicamente consciente, reforçando a sua imagem já comprovada como verde, cidade que estabelece tendências progressistas. Para participar do evento os candidatos devem passar por vários critérios de avaliação, dentre eles utilização de mão de obra local, comércio ético, baixo impacto ambiental, marketing verde, entre outros. Alguns nomes que participam do evento: Bright Young Things, Dress Reform, Luis Valenzuela, Samantha Pleet etc.
O #SSE dissemina novas práticas da moda em um ciclo virtuoso em prol da mudança de paradigma da sociedade.
CHRISTOPHER RAEBURN Graduado na Royal College of Art, o renomado Christopher Raeburn conseguiu amarrar todos os elementos-chave de uma coleção sustentável e, consequentemente, criar uma das marcas mais promissoras no âmbito da moda ética. Utiliza tecidos de pára-quedas, capas de lã e tecidos camuflados com um design arrojado e muito estiloso, mas com conteúdo sustentável e produção ética. Tudo começou quando o estilista freqüentava as aulas do curso de bacharel em artes na Middlesex University e passou a utilizar as sobras dos tecidos utilizados na fabricação dos uniformes militares. Quando cursou o mestrado continuou suas pesquisas com estes materiais e passou a utilizar outros como, por exemplo: calças de bombeiros, ponchos e até tecidos utilizados para fabricar tendas, aprimorando a sua técnica e criando roupas únicas e inovadoras com estas matérias-primas recicladas. “Se todos nós fizermos nossa parte na conservação do planeta minizaremos o impacto ecológico que sentimos. Não só o Governo, mas cada um de nós é responsável pelo planeta em que vivemos”, afirma o estilista.
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A Sutil Arte de Convencer Maria Beatriz Freitas
Como grandes marcas criaram logos que através dos anos falam por si só
Uma marca causa o seu primeiro impacto a partir de uma imagem que transpareça não apenas sua identificação, mas também o conceito que ela sugere, o gosto de seu público-alvo e as características de seus produtos. Uma logo carrega em si essa tarefa ao mesmo tempo árdua e sutil, e lhe são atributos sine qua non o poder de concisão e a capacidade mnem ônica. As logos que se seguem são exemplos do como esse artifício da indústria de moda é fundamental para o sucesso e a consolidação de uma marca.
HERMÈS A Hermès foi fundada em 1837 como uma oficina de selaria, inicialmente nomeada Calèche, o que posteriormente daria nome ao perfume mais famoso da grife. A empresa ganhou notoriedade entre os nobres europeus como produtora de selarias exclusivas. Dizia-se que coroações eram, muitas vezes, adiadas por anos, até que Hermès pudesse criar desenhos originais da carruagem. O seu logotipo foi adotado em 1945 e é baseado em um desenho de Alfred de Dreux, nomeado Duque Attele. Remonta ao passado da Hermès como negócio de selas e arreios.
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PRADA Mario Prada fundou a casa Prada em 1992. Sua matriz situa-se em Milão, Itália. Prada é uma marca especializada em artigos de luxo para homens e mulheres. Na indústria da moda, Prada é um dos mais influentes estilistas, emanando autenticidade de suas boutiques. Em 1999, surgia a logo da Prada, com a assinatura da designer Miussia Prada. Uma logo deve ser simples e original para transmitir a mensagem da companhia. O logotipo clássico de antes da criação de Miussia nunca foi muito reconhecido por seu público-alvo, por ser demasiadamente ornamentado. Agora, a logo Prada é muito famosa no âmbito fashion, muito simples e reconhecível para seus clientes.
VERSACE A logo da Versace, diferente de qualquer outra, é um logotipo ilustrativo muito interessante, cuja inspiração vem da Mitologia grega. É uma representação da cabeça da Medusa: uma sacerdotisa de Atenas que foi transformada em monstro após ter-se permitido ser seduzida por Poseidon no próprio templo da deusa. O seu cabelo, que houvera sido seu atributo mais glorificado, foi transformado em cobras, e seu rosto se tornou tão repugnante que transformaria em pedra qualquer um que o olhasse. É curioso o fato de algo tão feio, que transforma quem o olha em pedra, ser associado a uma importantíssima grife de moda. Porém, Gianni Versace era absolutamente fascinado com arte e arquitetura clássicas, e o logotipo é associado com as representações do período romano da Medusa. Nesse período, ela era retratada como uma mulher bonita de cabelos rebeldes, e algumas cobras entrelaçadas. Segundo Gianni, Medusa pareceu a melhor escolha, sendo ela a epítome da atração fatal. O logotipo passa uma sensação de sedução e história e simboliza a deusa Versace, para quem as roupas de Gianni são feitas. Ele projeta a imagem de Versace para ser sexy, glamourosa e suprema. Devido ao seu design único, o logo por si só parece altamente artístico e destacado quando usado nos produtos da Versace. A marca é famosa por criar roupas risqué, sensuais e bonitas.
CHANEL A “Chez Chanel”, mais conhecida como simplesmente “Chanel”, é uma casa de moda parisiense fundada por Gabrielle Bonheur Chanel. Famosa por suas linhas de perfumes, roupas e acessórios, a sua logo é um C duplo justaposto - um direcionado para a esquerda e outro para a direita. Com estilo e elegância, Gabrielle “Coco” Chanel revolucionou a década de 20, libertando a mulher dos trajes desconfortáveis e rígidos do final do século 19. Um verdadeiro mito, Chanel reproduziu sua própria imagem, a mulher do século 20, independente, bem-sucedida, com personalidade e pungência. O estilista alemão Karl Lagerfeld é, desde 1983, o diretor de criação da marca Chanel, tanto para a linha de alta-costura quanto para a de prêt-à-porter. O estilo clássico criado por mademoiselle, revitalizado por Lagerfeld, atravessou o século 20 e se tornou atemporal. A ideia da logo vem das iniciais da alcunha mais o sobrenome da fundadora: “Coco”, assim como Gabrielle se autoentitulava, e “Chanel”. A curiosidade é que a logo Não era uma trademark até a abertura das primeiras lojas Chanel.
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A logo é fundamental para o sucesso e consolidação de uma marca
EMPORIO ARMANI Uma ramificação da empresa de Giorgio Armani, a Empório Armani é especializada em roupas prêt-àporter. Sua logo representa uma águia olhando para o lado direito e representa a suprema qualidade e excelência da marca. Recentemente, porém, a grife foi obrigada a parar de vender na internet as camisetas que retratavam o logotipo. O motivo foi a semelhança entre a logo e o emblema nacional da Indonésia, a Garuda Pancasila, patenteado pelo país. Várias pessoas ameaçaram processar a marca, inclusive jornais indonésios. A Armani se explicou dizendo que o desenho é uma águia inspirada em uniformes militares, mas retirou as camisas do website e pediu desculpas por qualquer ofensa que houvesse causado.
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LACOSTE Lacoste é uma companhia francesa fundada em 1933 que vende roupas, calçados, perfumes, artigos em couro, relógios, eyewear, e, com maior destaque, camisetas para prática de tênis. A marca toma o nome de René Lacoste, tenista mundialmente renomado e um entusiasta de esportes. René Lacoste não gostava das camisetas tradicionalmente usadas na prática do tênis e, em parceria com André Gillier, dono da maior companhia de malhas francesa, criou a camiseta em malha de algodão piqué que revolucionou o mercado de moda esportiva. A imprensa americana apelidou René Lacoste de “O crocodilo”, depois de ele ter feito uma aposta com o capitão da Coupe Davis Française. Este prometeu uma mala em pele de crocodilo a Lacoste, caso ele ganhasse uma partida muito importante para o time. O público americano apegou-se a esse apelido, que destacou a tenacidade de René na quadra de tenis. Um amigo, Robert George, desenhou um crocodilo, que foi bordado na jaqueta que ele usou nas quadras a partir de então. Em 1963, Rene Lacoste passou o controle da marca a seu filho, Bernard. A partir dos anos 90 a popularidade da Lacoste entrou em queda, até que o estilista francês Christophe Lemaire tomou a direcção criativa da Lacoste, modernizando a marca, porém mantendo o estilo criado por René Lacoste. Atualmente, os índices de venda da marca chegam a cifras de 50 milhões de produtos, difundidos por mais de 100 países.
GIVENCHY Givenchy é mais famosa por sua linha de perfumes, roupas e jóias. A logo da Givenchy é muito atraente mesmo sendo muito simples. No entanto, ela deixa uma impressão forte sobre o espectador. O logotipo consiste em um “G” quádruplo formando um quadrado maior. É um logotipo em bold e linear, mas mesmo assim, cria uma sensação de fluidez. Este símbolo lembra as jóias celtas com um tipo semelhante de desenho complexo e delicado. A natureza simétrica aplicada é extremamente atraente também.
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Fotografia analógica: como tudo começou Maria Helena Pereira
A Demetra pesquisou o motivo por que sistemas de padronagens está tão em alta e quais são seus benefícios.
A fotografia, como conhecemos hoje, é uma adaptação e aprimoramento de estudos de várias pessoas ao longo do tempo. Ela é oriunda da ideia da câmara escura, desenvolvida pelo italiano Giovanni Baptista Della Porta no século XVI. Segundo a Kodak, empresa tradicional do ramo de imagens, Della Porta baseou-se em esboços de um erudito árabe chamado Alhazem e nos estudos da luz e dos princípios óticos feitos por Aristóteles a partir da observação de um eclipse, na Grécia Antiga por volta de 350 a.C. O princípio da câmara escura servia até para auxiliar artistas, como Leonardo da Vinci por exemplo, a desenvolver suas obras de desenho e pintura. Era descrita como uma caixa ou cubículo escuro por dentro, com um orifício
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por onde a luz passava e projetava em um espaço em branco localizado à sua frente uma imagem invertida. No começo, as imagens produzidas eram pouco nítidas, escurecendo e ficando ilegíveis devido a exposição à luz e ao calor. Com o tempo, diversos químicos e cientistas tiveram papel importante contribuindo para a resolução desses problemas, interferindo nas lentes, materiais e compostos químicos utilizados. Os mais comuns desses compostos eram os sais de prata. Na Europa, o destaque vai para os daguerreótipos de 1939, tipo de fotografia desenvolvido por Louis Jacques Mandé Daguerre. Nesse processo, se utilizava o vapor de mercúrio para a revelação da imagem em uma placa de cobre, diminuindo o tempo envolvido na
revelação de horas para minutos. Essa novidade foi difundida pelo mundo, o que fez com que os pintores se sentissem ameaçados e originasse o movimento artístico do impressionismo. Como os daguerreótipos ainda possuíam muitas falhas e não permitiam a cópia das imagens, surgiu a ideia de revelar a imagem em positivo num papel sensibilizado, através de um negativo transparente. Ela foi desenvolvida por William Henry Fox Talbot, em 1841, e era denominada calótipo. É o processo de negativos utilizado até hoje, que deu origem à fotografia moderna. Já aqui no Brasil, sem tomar conhecimento do daguerreótipo e do calótipo, o Francês Hercules Florence já experimentava o uso de papel para impressão através do contato com uma chapa de vidro. O sistema criado por ele era mais eficiente que o utilizado até então. Mas o processo que superou os métodos existentes foi o de Frederick Scott Archer. Em 1851 ele inventou a emulsão de colódio úmida. A revelação era feita por imersão com essa emulsão. O colódio sensibilizava as placas de vidro com 10 vezes mais eficiência que a albumina, substância utilizada até então. Ainda, de acordo com a Kodak, houve em 1853 pequenas evoluções do processo para a ambrotipia (mais barata) e a ferrotipia (ainda mais barata e rápida, e permitindo a realização de cópias). Em 1864, foi desenvolvida uma emulsão seca de brometo de prata em colódio. Até que em 1871 Richard Leach Maddox substituiu o colódio pela gelatina, o que facilitou o trabalho do fotógrafo. Foi em 1888 que a fotografia popularizou-se e as primeiras câmeras portáteis começaram a ser vendidas para famílias, sem a necessidade de fotógrafos para operarem. Elas eram do tipo caixão, e os filmes eram vendidos em rolos criados por George Eastman. Os rolos de filmes eram revelados em laboratórios especiais e substituíveis nas câmeras. A partir dessa época, os avanços tecnológicos possibilitaram a fotografia colorida, as câmeras com foco e ajuste automáticos, entre outras mudanças. Mas a mais impactante delas foi a digitalização que, com a ajuda dos computadores, diminuiu os custos envolvidos no processo. A produção, o armazenamento e o envio de imagens foram aspectos facilitados, trazendo vantagens para diversos segmentos do mercado, inclusive os meios de comunicação. A manipulação das imagens foi a etapa mais simplificada devido a chegada dos softwares gráficos. Evoluções que diminuiram as chances de erro e o tempo envolvido, trazendo vantagens para o controle dos resultados.
Foi em 1888 que a fotografia popularizouse e as primeiras câmeras portáteis começaram a ser vendidas para famílias.
Ao contrário do que muitos pensam, hoje as câmeras fotográficas analógicas não foram totalmente superadas pelas digitais.
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A RESISTÊNCIA Ao contrário do que muitos pensam, hoje as câmeras fotográficas analógicas não foram totalmente superadas pelas digitais. Entre os profissionais de diversas áreas, como jornalismo, moda, publicidade e arte, ainda é grande a preferência pela fotografia de filme. Ainda que, com o advento das digitais, os materiais e equipamentos necessários para a produção de imagens analógicas tenham ficado mais raros de encontrar no mercado. Mesmo com fatores como praticidade e comodidade trazidos pelas câmeras digitais, a qualidade envolvida nos processos de produção, ampliação e revelação da fotografia analógica, bem como a exigência de domínio das técnicas básicas, contribuem para a resistência das câmeras moleculares. A qualidade vem principalmente da revelação através do contato da luz com o papel, enquanto nas câmeras digitais as cores são impressas.
cenas de seu cotidiano, divulgando seu estilo de vida, para provocar os EUA e seu ‘American Way Of Life’. Com o tempo, outras câmeras mais aperfeiçoadas foram surgindo e as lomos foram esquecidas. Contudo, em 1991, dois turistas encontraram uma LC-A em um mercado de pulgas em Praga, e com ela fotografaram ao acaso cenas de sua viagem. Quando o filme foi revelado, constataram que as imagens apresentavam vinhetas, vazamentos de luz, cores superexpostas,
Fotografar usando lomos virou ao mesmo tempo modismo, movimento artístico e estilo de vida.
LOMOMANIA As lomos são câmeras simples que conquistaram os amantes da fotografia. Elas voltaram à moda para mostrar que as câmeras analógicas não estão ultrapassadas. São pequenas, leves, baratas, simples e capazes de produzir fotografias delicadas e divertidas com cara de foto antiga e efeitos interessantes. As primeiras foram criadas em 1982 (durante a Guerra Fria), pelo General russo Igor Petrowisch, que se inspirou na câmera japonesa Cosina SX2. Ele pediu à fábrica de equipamentos militares Lomo que desenvolvesse uma versão aprimorada e barata, que foi denominada Lomo LC-A. O Plano do General era que cada família soviética possuísse uma e fotografasse
desfocadas e trocadas. A surpresa foi que os defeitos obtidos agregavam beleza e exclusividade às fotos. Assim, as Lomos ou toy câmeras, como também são conhecidas, foram resgatadas e logo viraram moda entre os jovens quando os dois voltaram para casa, em Viena. Foi lá onde, em 1995, surgiu a LSI - Sociedade Lomográfica Internacional, visando preservar e difundir a fotografia de filme, afirmando seu valor artístico. Com essa popularização todo um mercado foi gerado, e as empresas desenvolveram acessórios como filmes, lentes especiais, filtros, alças, bolsas, tripés, porta-retratos, etc. Agora é possível encontrar toy câmeras de várias marcas, formatos, preços e efeitos, ex.: Holga, Supersampler, Action Sampler , Horizon, Diana, Lubitel , POP 9 , Fisheye , Smena 8, Smena 35, além da LOMO LC-A. Fotografar usando lomos virou, ao mesmo tempo modismo, movimento artístico e estilo de vida. Um hobby que estimula a criatividade, o experimentalismo e a liberdade do fotógrafo, tendo como resultado fotografias expressivas com efeitos únicos e uma atmosfera vintage.
10 regras para quem está começando: 1. Leve a sua Lomo para onde você for. 2. Fotografe a qualquer hora do dia ou da noite, assuntos do cotidiano. 3. A Lomografia não interfere na sua vida, é parte dela. 4. Chegue o mais perto possível do objeto a ser fotografado. 5. Não pense: fotografe ao acaso, não crie uma fotografia encenada ou produzida. 6. Seja rápido. 7. Você não precisa saber antecipadamente o que vai fotografar... 8. ...Nem posteriormente. 9. Não fotografe com os olhos: vale até fotografar sem olhar para o viewfinder. 10. Não se preocupe com regras: esqueça técnicas de iluminação, enquadramento, etc.
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Estilo de rua Amanda Gabriella, Natália Barbosa e Tamyres Siqueira
Entenda por que as ruas estão sendo transformadas em verdadeiros desfiles de estilos. A moda, hoje mais do que nunca, é uma forma de expressão individual. É a industria fashion que dita aquilo que deve ser usado, baseando-se em pesquisas e diversas referências, muitas vezes inspiradas naquilo que é visto nas ruas. Se dentro da gama do que é oferecido nas lojas você faz um recorte e escolhe aquilo que o representa, a moda ganha um sentido maior. O estilo é uma escolha pessoal. De acordo com a consultora de moda Gloria Kalil, estilo é aquilo que respeita sua personalidade. É o seu modo de dizer ao mundo ‘eu sou singular’. A moda de rua ou street style é totalmente difundida em todos os quatro cantos do mundo. Por ter um conceito bastante subjetivo, cada lugar, cada pessoa, faz uso do próprio corpo como meio de expressão, e é através do seu modo de vestir que cada indivíduo transmite uma mensagem. Apesar do grande foco dado aos desfiles de moda em geral, são nas ruas onde se encontram as verdadeiras tendências, ou seja, aquilo que foi lido e interpretado de forma particular por cada pessoa. Observar o street style de vários países é um exercício bastante válido para quem quer saber o que está sendo usado no mundo todo e também para quem quer inovar de al-
guma maneira, tentando interagir com a moda de uma forma mais vanguardista, mais real. Talvez o grande encantamento que gira em torno do street style está justamente na surpresa de ver algo novo e único. Um jeito antenado de fazer isso é frequentando os blogs de moda de rua que geralmente trazem de um modo mais divertido e engraçado o que foi acerto nas passarelas, aquilo que as pessoas de “verdade” estão vestindo. É o endereço certo para descobrir como os desfiles são traduzidos para o dia-a-dia. Nas fotos
Estocolmo
São Petesburgo
Apesar do grande foco dado aos desfiles de moda em geral, são nas ruas onde se encontram as verdadeiras tendências.
Londres
postadas nos blogs você pode ver looks montados, vintage, modernos, enfim, uma grande variedade de estilos que inspiram muita gente a fazer novas e inusitadas combinações. Ao observar esses blogs, é fácil perceber a presença de diversos movimentos característicos da moda contemporânea que influenciam no modo que as pessoas se vestem. Um deles é justamente esse ecletismo, que permite que o consumidor misture todos os tipos de
Seul
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Foto espontânea gera no usuário uma identificação com as pessoas mostradas.
Mix de refer-
saírem da mesmice. Outro movimento que acontece numa linha meio que contrária (das ruas para a passarela e das passarelas para as ruas) são os próprios estilistas que alimentam seus ateliês com imagens das calçadas, pegando verdadeiras personalidades das ruas e usando-as como referência. É então que as tendências mostram o quanto muitas vezes são espontâneas já que muitos desses looks do cotidiano não são inspirados nos desfiles. Fica aqui a pergunta: já que os próprios ditadores da moda se influenciam pelo que pessoas “normais” vestem, então em vez de seguir o figurino ditado nas passarelas ou nos editoriais fotográficos feitos com modelos convencionais, por que não se inspirar em gente comum? Veja algumas fotos tiradas por nossa equipe de fotógrafos para retratar o estilo de rua em Recife. Gostou? Quer se inspirar? Abaixo segue uma lista dos blogs de moda de rua mais conhecidos, visitados e despojados. Passa lá!
Talvez o grande encantamento que gira em torno do street style está justamente na surpresa de ver algo novo e único. estilo inventando suas próprias regras. Um dos pioneiros criadores desses blogs, e dono do blog de moda mais cool do momento é o do publicitário americano Scott Schuman. Ele trabalhou por 15 anos com moda e percebeu um descompasso entre o que vendia e o que as pessoas usavam na vida real. Passou a fotografar o que americanos, italianos e franceses vestem no dia-a-dia, deixando as fotos comentadas em seu blog. “Vejo pessoas nas ruas com estilo próprio e acho mais inspiradores e interessantes que os modelos dos desfiles”, diz ele, que mantém o blog The Sartorialist na rede. Botando um pé na historia, podemos dizer que isso hoje só acontece devido a uma diminuição das formas solenes da alta-costura, das regras sociais e hierárquicas da moda, que aconteceram depois da consolidação do prêt-à-porter, em que as roupas são produzidas em série e já vêm prontas para usar; o que proporcionou a intensificação de uma maior liberdade de se vestir. Outro ponto marcante e totalmente presente na moda contemporânea e que pode ser observado nas fotos é o nível de excessos: o “mix de referências”, a “Era do pode tudo”, a “hora do ecletismo”, produz looks diversos e extremamente diferentes. Os blogs atraem não só pelas imagens de qualidade e o conceito interessante, mas, principalmente, por instigar o usuário a usar a criatividade para se vestir de uma maneira mais cool, já que isso fica bem mais fácil quando há algo para se espelhar, no caso, as fotos de vários “anônimos” que conseguem ser super estilosos no seu dia-a-dia, além de encorajar as pessoas a 32
The Sartorialist: http://thesartorialist.blogspot.com/ Lookbook.nu: http://lookbook.nu/ Face Hunter: http://facehunter.blogspot.com/ Rio Etc.: http://rioetc.com.br/ Hoje vou assim: http://www.hojevouassim.com.br/
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Moda de rua em Recife
Boneca é coisa séria! Amanda Gabriella, Natália Barbosa e Tamyres Siqueira
O que antes era um artefato apenas infantil, hoje passa a adquirir importância e valor também para adultos.
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Elas estão tão bonitas e expressivas, com roupinhas tão delicadas e bem feitas, que hoje deixaram de ser vistas como brinquedo e passaram a ser cobiçadas também por adultos. Mas não é de hoje que as bonecas causam fascínio em gente grande. É possível que existam desde a pré- história, com funções ritualísticas, mas não há registro delas por terem sido provavelmente feitas com materiais perecíveis, como couro e madeira. Os primeiros ídolos representando entidades para adoração, evocação ou feitiçaria de que se tem notícia podem ter se originado há cerca de 40 mil anos, na África e na Ásia. A feitiçaria com bonecas, na África, era utilizada até para decidir o sexo do feto ainda em gestação. Na Grécia Antiga e no Antigo Egito também há registros de bonecas usadas para fins de magia e vodu, além das famosas estatuetas que representavam deuses. É também do Egito que remonta o costume das crianças brincarem com bonecas: os adultos permitiam que elas brincassem com seus ídolos e logo elas também possuíam seus próprios. Pesquisadores inclusive encontraram em escavações túmulos de crianças que foram sepultadas com suas bonecas. Segundo estudiosos, os egípcios acreditavam que as bonecas enterradas nos túmulos podiam atuar como um guia espiritual ou como um simples brinquedo para a criança se distrair em outra vida. Já nas Sociedades Greco-romanas as meninas também brincavam com bonecas, mas ao casarem participavam de um ritual entregando todas elas à Deusa Artemis, ato que para elas simbolizava o fim da infância e atraía fertilidade. No século XV, na Alemanha, as bonecas começaram a ser produzidas em madeira e porcelana para o público adulto, reproduzindo as figuras da sociedade. Foi nessa época que elas passaram a ser vestidas, e eram utilizadas em peças de teatro, mas as pessoas já começavam a comprar para colecioná-las. Apesar de crianças já brincarem com bonecas desde a antiguidade, as fábricas de bonecas só começaram a produzilas para o público infantil no século XIX. Eram fabricadas na França, feitas de biscuit, representando em suas roupas e estilos a moda da época e influenciando
as menininhas logo cedo ao gosto pelo efêmero. Com a fabricação e importação dos acessórios, como cabelo (sintético, que era exportado da Alemanha para Paris) e roupas, as bonecas foram se tornando mais populares e apareceu um mercado específico para atender a demanda. Novos materiais foram sendo utilizados para aumentar a resistência às brincadeiras infantis. Foi assim que a boneca se tornou o brinquedo mais desejado, e o ato de experimentar e trocar sua roupa virou um exercício criativo e prazeroso, onde a indumentária assume significados diversos, seja em qualquer sociedade. Aqui no Brasil as bonecas de pano foram as primeiras a serem produzidas, também chamadas de “bruxinhas de pano”. Sua fabricação era caseira e elas eram usadas pelas crianças mais pobres, pois as ricas brincavam com bonecas importadas, trazidas pela corte portuguesa em 1808. Até nas bonecas não-comerciais não se pode negar a importância do figurino: a Calunga é só um dos vários exemplos. Boneca de maracatu, cujos vestidos são exatamente iguais aos da baiana que a carrega, seu visual é cuidadosamente preparado, com extrema riqueza de detalhes por ser um artefato considerado sagrado em sua religião. As matrioshkas russas também são exemplos de bonecas do tipo tradicional que possuem visual notável. Mesmo tendo suas roupas pintadas no corpo cilíndrico, esse conjunto de bonequinhas de tamanhos decrescentes, armazenáveis dentro da maior delas, possui um figurino expressivo. Em suas vestes, elas, antigamente, representavam figuras femininas vestidas com trajes tradicionais e,campesinos, personagens de contos de fadas, e antigos líderes da União Soviética. Hoje elas conquistaram fãs ao redor do mundo, e podem representar pessoas famosas ou personagens, e ser encontradas em diversos materiais, mas o mais comum é a madeira. Focando no figurino, a Demetra se propõe a contar um pouco da história de algumas das bonecas comerciais mais famosas, que possuem guarda-roupas expressivos. Elas despertam interesse e fascínio, pois são uma representação humana do bonito e do vestir bem.
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BONECAS DE PAPEL Como uma alternativa ao preço caro das bonecas tridimensionais, as bonecas de papel foram produzidas em larga escala e difundidas a partir dos anos 1910, em encartes de jornais e revistas, para meninas e moças colecionarem. Eram impressas em papel resistente, vindo acompanhadas por vários modelos de roupas e acessórios, também de papel, que possuíam abas para serem encaixadas nos corpos das bonecas, vestindoas. A versatilidade nas combinações e facilidade de troca de roupa eram o grande atrativo. Elas tiveram sua era de ouro durante os anos 30, representando divas do cinema americano da época. Mesmo durante a segunda Guerra, com a escassez do papel, elas continuaram a ser produzidas, só caindo em desuso com a popularização da Barbie na década de 60. No entanto, hoje as paperdolls voltaram à moda, surgindo como artigos caros vendidos e tiragens limitadas. BARBIES Criada pela Mattel em 1959, com figurino inspirado no das paperdolls, a Barbie criou um padrão de beleza admirado no mundo inteiro. Segundo seus criadores, o sucesso de vendas veio com a retomada das feições adulta em uma boneca, materializando o desejo da menina de crescer logo para virar uma adulta bonita e dona de um guarda-roupa valioso. Suas roupas e acessórios são objeto de desejo, pela qualidade e valor envolvidos. Inclusive, há diversos estilistas famosos que já criaram exclusivamente para a Barbie. Até hoje ela continua tendo um enorme sucesso, encantando mulheres de todas as idades por representar um estilo de vida, um sonho.
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FASHION DOLLS Atualmente, o que tem se destacado nesse mundo delicado são as “fashion dolls”, verdadeiros artigos de luxo colecionáveis. Criadas na Coreia e Japão, Blythes, Pullips, Dals, Isuls e Taygaens estão entre as mais famosas. Cada uma tem diferentes características e traços físicos. A Blythe, mais conhecida, foi criada nos anos 70, mas não obteve sucesso, só virando febre hoje. Ela é menor e possui uma cabeça grande, já a Pullip pode ser fabricada com características mais adultas ou infantis. O mesmo se aplica às coreanas Dal, Isul e Taygaen, sendo as duas últimas feitas como versões masculinas, inspiradas no Ken, namorado da Barbie. O grande diferencial das fashion dolls é a qualidade e riqueza de detalhes: articulações, sardas, partes do corpo desmontáveis, as Blythes até mudam a cor dos olhos a cada piscada, entre outros aspectos. A popularidade veio pela adaptação dessas bonecas a qualquer look que seu dono deseje: é possível mudar os cabelos, trocar acessórios, roupas, fazer maquiagem, etc. Há artistas que trabalham exclusivamente com elas, produzindo-as e fotografando-as. Também há pessoas que fabricam perucas, roupas e acessórios para colecionadores customizarem como quiserem. Hoje se promove eventos, concursos de fotografia e styles especiais para essa bonecas, com direito a uso delas em desfiles, editoriais, entre outros. Tanta beleza e capricho acabaram conquistando fãs ao redor do mundo. Como artigos colecionáveis ou apenas brinquedos, as bonecas são um reflexo de estilos que o mercado da moda produz e isso agrada tanto a fashionistas quanto a curiosos que gostam do que elas representam.
Figurinos para games Pietro Amaral, Soraya Holder e Tamyres Siqueira
Como o figurino evoluiu nos games com o passar do tempo.
“- Vamos jogar, Capitão Comando? Só que eu quero jogar com o Baby Commando.” “- Por quê?” “Ah... ele é tão fofinho.” (figura 1). Admita, você alguma vez já passou por uma situação parecida, na qual você escolheu o seu personagem no jogo simplesmente por causa da aparência dele, porém esta foi a original intenção dos figurinos de jogos. Vamos voltar um pouco no tempo. Alguns não devem lembrar-se deste jogo, mas Pitfall, lançado em 1982 para o Atari 2600 foi um sucesso absoluto entre os gamers de sua época e todos eles se espelhavam naquele explorador e suas aventuras na selva. Naquela época, os consoles (plataformas de jogo) não
permitiam gráficos exuberantes, nem mesmo para um reconhecimento maior do personagem, logo, o quesito figurino foi pouco explorado em termos estéticos. Mas antes dele, em 1983, o jogo Bokosuka Wars lançado para o Famicom (ou Nintendinho no Brasil) já explorava outras perspectivas semânticas - apesar de precariamente - para o jogador conseguir diferenciar os personagens que controlava, o líder de sua equipe e todos os seus diferentes tipos de inimigos. Ou seja, desde o início da década de 80, os aspectos estéticos e semânticos da aparência de personagens é uma área bem explorada (apesar de determinadas limitações) na área de jogos.
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O figurino também era (e ainda é) explorado em jogos para facilitar a vida dos animadores, afinal, melhor um personagem que use um chapéu o jogo inteiro a um personagem que quando pule não sofra ação do vento no cabelo. Decisões como esta, feitas para acelerar o desenvolvimento, são a grande explicação para o bigode do personagem mais famoso da Nintendo, o Mario. O encanador mais bem sucedido do mundo dos games somente tem um grande nariz e um bigode porque sua plataforma de origem, o Nintendinho, não tinha poder suficiente para representar a boca do personagem se mexendo enquanto falava, então Mario passou a ter um narigão e um bigode para esconder a boca. E para conseguir ver os movimentos dos braços do Mario, eles precisavam ser de uma cor diferente de seu corpo. Miyamoto deu ao Mario macacões azuis e blusa vermelha para resolver este problema. Era o figurino atuando a favor da tecnologia. Mega Man é outro exemplo de Character Design (termo utilizado para definir a criação do personagem) sendo utilizado para ultrapassar barreiras. O primeiro conceptart (a arte conceitual e prévia) deixa claro que o artista tinha planos para o rosto do personagem, mas as limitações do Nintendinho os tornavam impossíveis de realizar. Logo, ele aumentou os olhos da personagem e transformou sua boca em um grande “O” quando ele pulava, assim, Mega Man era instantaneamente reconhecido. Com o passar do tempo a tecnologia evoluiu e o figurino nos jogos também. Agora eles não eram simplesmente um recurso para disfarçar tecnologia, os personagens ganharam aparências visíveis (apesar de ainda limitadas) e isto fazia com que o character designer tivesse que pensar melhor na criação, pois a roupa agora definiria até mesmo a personalidade das personagens. As personagens não podiam ser muito detalhadas, porém suas roupas tinham que passar um pouco das suas características. Um jogo que serve de exemplo é o famoso Mortal Kombat, aonde cada lutador deste torneio mortal vinha de uma área diferente, então era necessário que cada personagem fosse um retrato de sua origem e personalidade. O figurino agora começa a ser importante e é nesta época que as
pessoas começam a escolher o personagem por sua imagem e o que ele transmite, afinal, você preferiria jogar com o conquistador Vega ou o comandante de exercito Guile em Street Fight? Apesar de repetitivo, o que acontece é que a tecnologia para jogos está em constante evolução, e agora cada detalhe da personagem precisa ser pensado, igualmente a um filme. O game designer, que antes era responsável por praticamente toda a parte de criação, deixa de trabalhar na criação da vestimenta e é o character designer que assume esse trabalho. A personagem Kratos, da serie God of War, teve 5 versões de seu figurino antes de chegar à atual, afinal, agora com a maior tecnologia, maiores detalhes dele vão aparecer e isso atrai jogadores, então todo cuidado é pouco para a criação da personagem, ela precisa estar conceitualmente bem elaborada. O psicológico e o figurino da personagem andam juntos. O terrível Sephiroth do jogo Final Fantasy VII talvez não fosse tão impactante e assustador se sua roupa ou caracterização fosse de um brutamontes ou até mesmo uma roupa de soldado, como a do seu rival Cloud Strife.
Donkey Kong (Primeira aparição do Mario)
Tela de escolha Captain Commando
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Street Figther (Dois Ryus)
Existem muitos fatores que precisam ser levados em conta quando o assunto é concepção de personagens. Um deles é estabelecer uma relação entre os participantes da trama com o jogador, ou seja, definir quais serão os laços criados entre o jogador e os personagens do jogo, criando uma relação de concordância entre os elementos utilizados na estética do game a fim de familiarizar o jogador com o mundo conceituado, ou estabelecer uma relação de extremo contraste caso esta seja a proposta do jogo. Não faltam exemplos de ótimas soluções de figurino que retratam fielmente uma época específica (Série Assassin’s Creed, por exemplo), fundem conceitos antigos e contemporâneos (Série Final Fantasy), entre várias outras coisas. Porém, o mais interessante é como o universo se relaciona perfeitamente com os usuários desses jogos. Os motivos usados tanto nos figurinos dos personagens quanto nos cenários, ativam emoções no jogador fazendo o mesmo se questionar a respeito de tudo aquilo e estabelecer suas próprias relações subjetivas com o mundo em que está imerso, pois muitas vezes, um retrato distorcido da realidade ajuda a compor a veracidade dos fatos ali representados, sejam os motivos florais do art nouveau, as formas geométricas do artdeco, a carga de sobriedade do modernismo, o virtuosismo do renascimento, a silhueta marcada da década de 30 e até mesmo a dualidade do barroco, tudo isso a fim de provocar eternos deja-vus nos usuários. Outro ponto importante dos jogos é que a personagem possa ter mais de uma roupa. Afinal a tecnologia já permite que a roupa seja diferente e não simplesmente um adereço comum. A variação de figurino já era bastante utilizada em jogos de luta para diferenciar quando você escolhia o mesmo lutador (figura 3). Mas agora os jogadores gostam de diferenciar a sua personagem o máximo possível, gostando também de figurinos que sejam para brincar com a personagem (a exemplo da famosa roupa de peixe para God Of War) (figura 4). E nesse ramo de diferenciação de personagem, os jogadores agora querem customizar. E isso tem gerado um trabalho enorme para os character designers, pois além da roupa inicial eles agora precisam pensar em customizações para uma mesma personagem. Essas customizações precisam ser as mais variadas possíveis, e um jogo exemplar nesta área é Soul Calibur, onde você pode criar personagens totalmente novos a partir de outros. Por que não customizar o meu personagem para que ele fique parecido com o palhaço de uma rede de fastfood? O figurino é desde sempre uma ferramenta aliada dos jogos, seja para disfarçar tecnologia, demonstrar o psicológico da personagem ou pura diversão. Uma área amplamente trabalhada e que se mal feita pode levar um jogo ao fracasso. Contudo, é um dos fatores mais importantes para eternizar uma personagem e um jogo no topo da lista de melhores e maiores jogos do mundo.
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Tatuagem está, é ou pode virar moda? Mariane Paiva
Como a tatuagem fez sua marca na história e na moda. A tatuagem está na moda, é moda ou pode virar moda? Essa é a especulação feita a quem é adepto da cultura das tatuagens, aqueles que nunca as fizeram, mas gostariam, e aqueles que, relacionados à área da moda, as acham interessantes e atraentes. Mas a tatuagem vai muito além da estética. Sua história é contada desde o descobrimento de múmias de mais 5300 anos com tatuagens no corpo, até a atualidade, onde essa arte se tornou comum e mais apreciada. O nome veio dos taitianos, de uma expressão chamada “tatau”, uma onomatopeia referente ao barulho feito durante o processo de marcar a pele. A adaptação do nome para o que conhecemos hoje foi feita pelo capitão inglês James Cook, através dos registros em seus diários de bordo como “tattow”. E foram com eles, os marinheiros ingleses, onde a tatuagem conseguiu maior divulgação. Enquanto as notícias de que integrantes da marinha inglesa se tatuavam corriam o mundo, a prática ganhou fama e autoridades e nobres começaram a fazer o mesmo. Contudo, esses mesmos marinheiros frequentavam lugares com fama de vulgar, relacionando-se com bandidos e prostitutas, e então as tatuagens começaram a ser vistas com um olhar mais negativo, relacionando-as a coisas ruins. Em conotação religiosa, elas também foram consideradas pecado e símbolo de homossexualidade, apesar de já terem sido usadas por cristãos durante o Império Romano como modo de se esconder da perseguição naquela época. Apesar da péssima conotação ligada à prática de tatuar-se, essa mesma foi reinventada várias vezes em vários países e épocas, enfeitando poderosos, evocando religiões, marcando prisioneiros ou até mesmo demarcando fases da vida. As tatuagens vieram a cair no gosto popular, contando com grande ajuda de famosos, que querendo se manter diferentes ou marcando um estilo próprio ou personalidade, se tatuam, muitas vezes desmistificando toda a péssima tradição das tatuagens. Foi com essa ideia inicial que a tatuagem começou (ou já havia sido iniciada) no mundo da moda. Com a difusão do uso da internet e a velocidade das informações, o acesso da população à moda tornou-se fácil e rápido, ou seja, todos hoje podem seguir a moda, o
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modo de vestir, usar, ou cortar o cabelo. Não é difícil entrar em um ambiente sem que se veja mais de uma pessoa que se vista de modo semelhante. E é aí que as tatuagens (assim como os piercings) entram. Normalmente demonstrando um estilo próprio, pensamentos ou personalidade, sentimentos ou até mesmo por pura vaidade, a tatuagem dá aquele toque especial em forma de marca eterna. Há diversos tipos a escolher: •Tradicionais: aqueles tradicionalmente feitos pelos marinheiros ingleses, como âncoras, gaivotas ou navios; •Sumi: feitos com lâminas de bambu; •Estilizados: possuem o desenho próprio do artista, sendo ele o tatuador ou quem vai ser tatuado; •Realistas: imitam pessoas do mundo real, como personalidades, por exemplo; •Tribais: desenhos feitos em preto ou coloridos com símbolos ou marcas de alguma origem indígena; •Psicodélicas: aquelas que normalmente são super coloridas e sem nenhum sentido conceitual; •Branding: feitas com ferro quente a marcar a pele; E outras, que ficam de acordo com o tatuador e o tatuado. Mas as reinvenções dessa prática sofrem adaptações para o mundo da moda, como foi feito na Chanel (a citar exemplo). Com desenhos de jóias feitos pela própria madame Chanel, foram criadas tatuagens temporárias estilo tatuagem-chiclete (aquelas que apenas são aplicadas à pele e fixam com água ou até mesmo o uso de uma esponja molhada), que apareceram nas passarelas e ganharam o gosto. Mas as marcas apenas ajudam, pois as tattos já caíram nas graças daqueles que gostam de moda. Os estilistas, maquiadores e muitos outros que aparecem nas passarelas com suas obras, e mesmo quem fica nos backstages possuem alguma tatuagem, grande ou pequena, que se destacam. Por isso, seja por gosto pessoal, experiência de vida ou algum sentimento, a tatuagem se revela nas ruas, nas passarelas, nos desfiles, despontando no mundo das pessoas comuns e na moda.
A tatuagem se revela nas ruas, nas passarelas, nos desfiles, despontando no mundo das pessoas comuns e na moda.
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Dos quadrinhos para o Cinema Pietro Amaral e Tamyres Siqueira
Como a transposição dos figurinos pode alavancar ou destruir um filme Um dos maiores eixos do cinema são as adaptações das HQs para as telonas. O filme do poderoso Deus do trovão, Thor, arrecadou só em sua estréia $ 242 milhões. Para manter este impressionante número, os estúdios precisam se manter atentos a todos os detalhes que possam ser alvos de críticas, principalmente para os fãs. E é nesta parte que entra os figurinos destes filmes, amados por muitos e odiados por outros tantos. Um dos maiores alavancadores das adaptações dos quadrinhos são, sem dúvida, o figurino, por isso os estúdios tem tomado muito cuidado nas suas produções cinematográficas. Um estúdio que está agradando a todos os fãs dos quadrinhos é a Marvel Entertainment, afinal, é a própria editora de quadrinhos que está aumentando o seu campo de produção. Prova de tudo isto é o grande sucesso atingido por Thor, O Homem de Ferro e o Incrível Hulk, apesar deste último ser trabalhado em CG (computação gráfica) o figurino do filme antecessor - e não produzido pela Marvel - foi amplamente criticado por variar tanto, mesmo sendo
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somente um monstro verde de calça jeans. Enquanto nos quadrinhos só é preciso um colorista para passar o visual perfeito à roupa, parte do problema de design para o cinema é transformar o gráfico em algo inovador e moderno. A figurinista especializada em filmes de super herói, Stacia Lang, fala que para cada cena de um filme é necessário que o figurino, apesar de ser o mesmo, seja repensado. Em ‘Superman – O Retorno’ ela criou inúmeras capas, capas: para poses, para corrida, para efeitos especiais e tantas outras situações que o filme precisasse. Ela costuma dizer que “É um desafio para todos envolvidos. O público tem um apego muito maior as roupas de super herói do que qualquer outra, isso porque eles já tem uma noção do que é e como deve ser feita.” O Designer dos estúdios Ironhead, Jose Fernandez diz que “Quando se trata de super herói não existe nada comum. É sempre diferente, e isto é parte do que me mantém interessado.” Ainda de acordo com Fernandez, criar uma roupa para super-herói é como química, “Combinar materiais comuns de formas diferentes.”
Ele diz utilizar espuma, couro, látex e spandex em um só figurino. A sugestão de tecnologia futurística é crucial à uma fantasia, o que torna imperativo projetar algo que pareça futurístico mas atual. Mary Ellen Fields, da Bill Hargate Costume, explica que “Super heróis não podem ser baseados em algo que foi feito antes. A forma pode parecer familiar, mas a fabricação é como reinventar a roda.” Todo este trabalho pode gerar uma grande aceitação do filme por parte dos fãs ou não. Um caso bem famoso é a franquia de filmes do Batman, que vem mudando de figurino filme a filme, gerando diversas críticas. Vamos começar por algo antigo, que talvez poucos se lembrem: Batman dos anos 60. A roupa de tecido com cores azul-roxo era conhecida como “palhaço de capa roxa”. Talvez o visual de todo o seriado atrapalhasse, porém, o figurino tornava tudo mais galhofa e menos “Batman”. Foi para fugir de todo este visual criado para o detetive que Tim Burton muda totalmente a roupa do personagem no filme Batman de 1989. O figurino foi muito baseado na versão de Neal Adams para os quadrinhos, com tons de azul e cinza, e agora a fantasia era mais parecida com uma armadura e fugia do tecido. Isto agradou muito aos fãs, principalmente pelo tom obscuro característico de Tim Burton. Contudo, a armadura possuía um pro-blema vital: o pescoço, onde era necessário o Batman mexer todo o corpo para poder olhar para os lados ou para
cima ou para baixo, o que não combinava com o seu estilo nos quadrinhos de livre movimentação. Mas Tim Burton volta em ‘Batman – O Retorno’, e desta vez ele quer corrigir os seus erros. Junto com Bob Ringwood, o mesmo figurinista do filme anterior, Burton criou agora um figurino ainda mais obscuro, porém desta vez mais flexível e menos armadura que o seu antecessor. Talvez seja esse o figurino desta leva de filmes que mais agrada aos fãs, pois ele facilitava a locomoção e o
“Super heróis não podem ser baseados em algo que foi feito antes. A forma pode parecer familiar, mas a fabricação é como reinventar a roda.” movimento, é mais parecido com o Batman dos quadrinhos e ainda é inovador para o cinema. E quando pareceu que tudo estava bem para o “morcegão” eis que surge Joel Schumacher e sua batroupa com mamilos. Joe Schumacher, grande defensor do orgulho gay, quis passar para o visual de ‘Batman Eternamente’ um pouco da sua defesa, o que para um cenário denso e com uma pegada de suspense, acabou desagradando críticos, fãs, gregos e troianos (Schumacher diz que sua armadura era baseada nos Deuses Gregos). Não só o visual do Batman e do
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garoto prodígio Robin (talvez o figurino mais criticado), mas também todos os seus vilões ficaram coloridos e chamativos demais. Talvez seja esse o filme mais odiado pelos fãs dos quadrinhos até então. Ou talvez ele fosse só um aviso do que Schumacher estaria preparando para o vindouro Batman & Robin, este sim, o filme mais criticado por fãs por questão de figurino, roteiro, direção e tudo que possa existir. Para começar, Robin neste filme não usa o figurino do garoto prodígio, e sim a versão mais velha, Asa Noturna. Então porque não chamar o filme de Batman e Asa Noturna? O Batman desse filme recebe tons metálicos e a aparência de armadura volta. A Batgirl, agora apresentada, recebe uma armadura totalmente diferente da personagem nos quadrinhos, não só ela mas todos os personagens do filme foram descaracterizados. Os erros de Schumacher custaram caro ao detetive mais famoso dos quadrinhos, que ficou oito anos congelado e sem menção alguma de voltar ao cinema, mostrando o poder que o figurino pode causar num filme. É com Christopher Nolan que Batman se reergue. Bale volta com um Batman obscuro, tenso e de armadura, mas agora tudo é explicado e o funcionamento se encaixa muito bem no universo do Batman. Até mesmo a maquiagem foi utilizada a favor do figurino de todo o personagem. Um Batman totalmente negro, com detalhes dourados e de armadura. Talvez o ponto principal deste seja a posição da capa; agora ela não é mais presa ao pescoço, o que permite livre movimentação da cabeça sem precisar movimentar o tronco. Nolan segue com a franquia e agora precisava fazer
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algo melhor que seu primeiro filme e ele acerta em cheio ao contratar Lindy Hemming. Desta vez usa uma armadura mais leve e confortável e com maior flexibilidade. “Queríamos que o novo traje do Batman fosse mais maleável, mais flexível, um equipamento que permitisse a respiração do corpo, uma espécie de armadura moderna em vez de uma simples roupa de borracha”, diz Hemming. Ela acertou não só na armadura, mas no contraste de todo o filme.’ O Cavaleiro das Trevas’ trás um figurino baseado no glamour decadente da cena punk, no universo junkie lifestyle carismático, Giorgio Armani e muito verde militar e roxo coringado. Foi o primeiro filme a fazer parte de uma campanha de moda e o sucesso do filme como um todo foi tão impressionante, que já se pedia continuação antes mesmo do filme ser lançado, mostrando novamente, na mesma franquia, que o figurino tem um poder arrasador. Após essa análise do figurino do Batman, podemos concluir que, de fato, é preciso muito cuidado com o visual de uma adaptação, ou isto pode gerar um custo de milhões para um estúdio e prejudicar até mesmo a venda dos quadrinhos. E com medo desse prejuízo os figurinistas estão agora cada vez mais detalhados e preocupados. Em Homem de Ferro 2, o figurino feminino foi totalmente baseado em grifes e bastante estudado para não desagradar fã algum. Porém, alguns estúdios não têm medo de inovar e mudar o figurino já tão fixado na cabeça dos leitores, como é o caso do vindouro Homem Aranha. A pergunta após tudo isto é, vale a pena inovar tanto algo já tão concretizado?
Moda: uma história para crianças Mariane Oliveira
Um livro que encontrou a melhor forma para ensinar moda para pequenos. Como contar uma história de adultos para crianças? Com relação à moda, esta é uma pergunta difícil, pois o que se conhece é que o mundo fashion foi produzido por adultos e para adultos. Inserir um assunto tão complexo no universo infantil não é tarefa fácil. Mas foi só juntar esse desafio a muita criatividade que foi desenvolvido um livro inovador, pronto pra ir às prateleiras. “Moda, uma história para crianças” tem um simples objetivo: traduzir as informações de adultos para a linguagem infantil. De um modo lúdico, ele traz a história da moda, explica como surgiram as tendências mais usadas, mostrando desde a evolução dos costumes até a história dos principais personagens envolvidos, como estilistas que tiveram papel de destaque nesse mundo. Ele não possui exacerbada quantidade de paginas, como a maioria dos livros teóricos pouco interessantes aos olhos curiosos dos pequenos. Sua produção, comandada por Katia Canton e Luciana Schiller, foi
quase que totalmente manual, entre imagens e texto, apontando exatamente para o chamariz do público infantil, as variedades de cores e figuras, transmitindo a beleza, a história e a diversão de modo entusiasmante. São utilizadas telas pintadas, desenhos e fotografias no fundo, e recortes variados para montar muitas das ilustrações. A tipografia também foi feita à mão e tem traços divertidos e legíveis para crianças. É tudo muito atrativo e de fácil entendimento, aspectos que garantem a aprendizagem. Nem será estranho se um adulto ler esse livro e se apaixonar com o projeto gráfico. É algo que você pode mostrar aos seus filhos sem o medo de serem comparados aos contos de fada. É um verdadeiro fascínio, pela criatividade e moda associadas, deleitar-se com esse livro, que enche os olhos e chama a atenção da criança para a moda, a arte e o design. Uma boa razão para fazer um intervalo entre as brincadeiras e ler: é diversão na certa.
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Moda de Mercado O garimpo que pode trazer boas surpresas entre tanto furdunรงo.
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Por Marcela Reis & João Vitor Menezes O que os mercados populares da cidade teriam a oferecer além das enormes sacas de grãos, carnes penduradas no ferro e quilos de peixe barato? Roupas Hi Fashion é que não seriam, diriam os entendidos. E eles não estariam mentindo. Esse tipo de mercado tende a ser bem tradicional, valorizando artesãos, geralmente locais, que trabalham com matérias-primas de fácil acesso na região. O bairrismo desses lugares é extremamente valorizado pelos consumidores veteranos e assíduos, o que estagna um mercado que poderia crescer, e muito. Estes consumidores não apreciam quando os pequenos boxes do mercado saem do lugar comum, das sandálias de couro matutas, dos chapéus de vaqueiro, das bolinhas feitas com cola colorida, pois acreditam que seu tão amado mercado perderia sua identidade. Como se a ascensão de um modelo de produto resultasse, necessariamente, no declínio do outro. Além disso, os próprios trendsetters não procuram estes ambientes na hora da compra. Mas entre todos esses artefatos, o garimpo de um olhar, sem preconceitos, encontra verdadeiras pechinchas que satisfariam bem o gosto dos mais exigentes. A equipe da Demetra foi atrás desses achados no mercado de Casa Amarela e no mercado de São José. Além das bolsas tira-colo estilo imitação chinesa, que compõem bem um look mais arrumado, as bolsas e malas de couro (verdadeiríssimo) são prato cheio para quem curte um estilo boho chic. Ainda para quem é fã dessa vertente da moda, as roupas de algodão puro, de texturas maravilhosas e rendas de renascença podem encher o guarda-roupa. Os cintos de couro, para
amarrações de vestidos e os chapéus panamá são um charme, e queridinhos de quem adota um look leve, porém longe de ser desleixado. Só para não terminar sem eles, os sapatos, cada um com suas amarrações, texturas e cores, podem por si só arrematar toda a produção. Esses produtos non-fast-fashion vêm de diferentes cidades do estado e do país. Algumas bolsas de couro que ilustram essa matéria saem de pertinho de Recife, da cidade de Timbaúba. Os produtores evitam até dizer seus fornecedores, afinal, não querem entregar o ouro. Então, da próxima vez que seu guarda-roupa estiver chorando por um novo amor, pense simples: vá ao mercado. Eles aceitam cartão de crédito.
Bolsa de couro, R$ 250
Chapéu panamá, R$ 90
Blusa de renda, R$70, detalhe das costas
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O rastro dos sapatos Da pré-história aos dias de hoje, andando com estilo. Por Mariane Oliveira Paiva Sapatos sempre fizeram parte da cobiça das mulheres, mesmo daquelas que não se consideram “modernas”. Até mesmo os homens cederam a essa tendência e muitos compram, usam e até mesmo lançam moda, por meio dos sapatos. A história desses acessórios já vem sendo montada, de acordo com registros, desde o paleolítico, onde homens primitivos já cobriam os pés com couro para proteger-se do frio e do terreno pedregoso. Há aqueles que dizem que a verdadeira criação dos primeiros calçados é atribuída aos mesopotâmios, onde as sandálias eram feitas de couro macio. Com esse começo, a necessidade fez com que o homem começasse a reinventar. No Egito antigo, somente os nobres usavam sandálias, que eram decoradas com ouro. Na Grécia, usava-se calçados descobertos, presos aos pés com longas tiras de couro, e considerados apenas uma opção para os gregos, que normalmente preferiam andar descalços ou com sapatos fechados e confortáveis. O mesmo descaso não ocorreu aos romanos, que podem ser considerados verdadeiros adeptos dos sapatos, pois inventaram mais de 50 tipos diferentes que determinavam sexo ou condição social. Os senadores costumavam usar sandálias brancas, enquanto as mulheres usavam nas cores verde, amarela, branca ou vermelha, combinando com a roupa que usavam. Na Idade Média eram usadas sapatilhas, feitas de couro, e botas com certa sofisticação para os nobres. Mas somente após o fim da idade das trevas, começou a haver interferência dos reis na moda, como a mudança feita pelo rei francês Luís XVI , que achatou os sapatos femininos, dando a eles saltos mais grossos e fivelas de prata como adornos, passando a ser utilizados tanto por homens como por mulheres. A medida do rei Eduardo I da Inglaterra também foi de grande
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importância, decidindo numerar os sapatos de acordo com tamanhos, usando grãos de cevada. Foi tão útil e prático que até hoje essa numeração é utilizada. A atualidade se mostra ainda mais intensa com relação a esses acessórios. Estilistas e designers interessados nesse ramo procuram as mesmas referências antigas e trazem novidades, muitas inusitadas, outras relacionadas a outros conceitos. Um exemplo foi o lançamento de um coleção de sapatos com o seguinte tema:“Made in Italy”. Feito pela designer carioca Marcela Basto, que junto com seu gosto pelo estilo vintage e seus anos de vivência em Milão, criou diversos calçados, entre scarpins e sandálias, baseados num estilo particular da própria Itália ,artigos caros que possuem charme para atrair clientes. Criativos e irreverentes, os criadores e suas criações possuem o destaque nas passarelas e nas lojas, começando pelo estilista Marc Jacobs , com seus sapatos de saltos invertidos, que na coleção de outonoinverno de 2008 chegou a chocar. Hoje não chegam perto da ousadia de Alexander McQueen com seus sapatos de dois saltos, ou de Antônio Oberardi, em seus calçados que nem possuem saltos. Dior também traz o inusitado com um misto de salto agulha e plataforma. Não faltam novidades também no Brasil. A parceria de Paula Ferber e o tatuador Tinico Rosa trouxeram os sapatos tatuados, verdadeiras peças colecionáveis para o público nacional que se dispõe a abrir a carteira para ter um par. Muitos outros modelos surgem no mercado, baseados em vários temas, sejam eles lúdicos ou eróticos, os que surpreendem são os que mais atraem as consumidoras (e consumidores!) ávidos por essas tentações em forma de acessório.
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Fernanda Guedes Guilherme Freitas
Um grande nome na ilustração de moda, prensete em revistas, empresas, agências e editores de forte presença nacional.
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Ilustradora freelance e com trabalhos publicados por grandes revistas, empresas, agências e editoras, Fernanda Guedes cria personagens com traços delicados e cores fortes e vibrantes. Em entrevista à Revista Demetra ela comentou um pouco da sua trajetória profissional e de como a moda está presente no seu trabalho. Segue um pouco do que foi falado na entrevista. Desenhando profissionalmente desde 1992 Fernanda Guedes mostra um trabalho forte, consistente e com um traço próprio. Tendo interesse em moda desde sempre, suas ilustrações sempre estão ligadas diretamente ou indiretamente a este tema, pensa que moda, ilustração e design são áreas complementares e que hoje em dia tudo é interligado. Em relação a moda suas referências são desfiles dos grandes estilistas e a moda de rua. Fernanda acredita que o seu trabalho atual é mais maduro e consistente em relação ao começo da sua carreira de ilustradora e também que o mercado de ilustração está mais favorável e concorrente. Também afirma que apesar do aumento da concorrência, infelizmente não houve um aumento da qualidade geral. Seu processo criativo é dividido em três etapas: Primeiro ela faz uma pesquisa de referências, depois é feito um esboço à lápis e, após ter esse esboço
aprovado pelo cliente, o trabalho é finalizado. Atualmente tem utilizado bastante hidrocores para finalizar seus trabalhos, mas também gosta de ecoline, guache, acrílica e de usar programas vetoriais. Recentemente Fernanda lançou um livro pela editora DBA chamado “Amigos Imaginários” no qual ela representa vários personagens, junto com seus estilos e histórias. Segundo Fernanda os personagens deste livro foram tirados de blogs do mundo todo e tiveram tanto seus nomes quanto suas histórias inventadas por ela. Além de desenhar, Fernanda também escreve um blog sobre sustentabilidade para pessoas modernas e bem humoradas, chamado “Minha Vida Eco-chique”. Na descrição do blog Fernanda define que “Ser EcoChic é ter consciência ambiental e social, lutar por uma qualidade de vida melhor para todos, encontrar maneiras de poluir menos e estar atento às iniciativas que vão aparecendo e divulgá-las para o maior número de pessoas possível”. No blog ela mostra que é possível levar uma vida sustentável com praticidade e estilo ao mesmo tempo, postando fotos das suas saidas de bicicleta, promovendo atitudes sustentáveis e mostrando a beleza de levar uma vida assim, também acreditando que moda sustentável é um caminho viável.
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A arte de Melk Z-da Garimpamos looks de 3 diferentes coleções que mostram um pouco de seu precioso trabalho. Espie à vontade. Nome cativo no line-up da segunda maior semana de moda do Brasil, o pernambucano Melk- Z-Da mostra que o não é apenas de moda comercial que vive o evento. Suas criações ainda que muitas vezes consideradas conceituais demais para o evento mostram um rico e primoroso trabalho artesanal, sem cair no regionalismo clichê.
Fotos: Caio Mendes Edição de moda: Mateus Forte Acervo de roupas: Melk Z-Da Produção: Marcela Reis e João Vitor Menezes
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Dança Invisível - Verão 2010
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Carpintaria - Inverno 2009
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Alamoa? - Inverno 2011
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Dança Invisível - Verão 2010
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Do Design ao negócio Luana Beltrão e Tassiana Salsa
Desvendando os segredos e experiências de quem teve sucesso agregando o design a um pensamento empreendedor.
Novo no pedaço Um bom designer que cria objetos de desejo e faz boas leituras de consumo e necessidades do público, muitas vezes não pode se dar ao luxo de parar por aí, pois se depara com a difícil tarefa de ser, além de designer, empreendedor e se inserir num mercado cada vez mais competitivo. Um começo de carreira exige do designer ousadia e a busca por adquirir novos conhecimentos sobre negócios e comportamento de mercado. Em muitos casos, aquilo que um dia vai se transformar num verdadeiro negócio começa quase como um hobby, apenas como um interesse em confeccionar determinado tipo de produto, com vendas informais para familiares e amigos próximos, e aos poucos essa atividade vai ganhando força e dimensões maiores, se for conduzida paralelamente ao desenvolvimento de um pensamento empreendedor, como ocorreu com Clarissa Sotter, designer de bolsas, que afirma ter começado seu negócio a partir do interesse de projetar e planejar como designer ao mesmo tempo que fazia algo também muito prazeroso para ela: criar e customizar bolsas. “Me envolver com criação e comércio de bolsas não foi uma escolha, foi meio intuitivo, eu sempre gostei e fui muito viciada em bolsas, mas a gente não pode comprar tudo o que quer, né?! Eu não tinha um projeto por trás disso tudo para fazer se tornar uma profissão, era mais gosto mesmo, era feeling”, afirma a designer. Um crescimento bem administrado de um negócio informal como o de Clarissa começa na criação de uma marca e posteriormente em empresa formal e consagrada. Aqueles que apostam em lançar seus produtos no mercado acabam então inaugurando seus ateliês, dando andamento à produção e finalmente se estabilizando no negócio. O importante é se manter
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sempre atualizado e atento no que diz respeito à administração de crescimento do negócio, sem esquecer o fator que é certamente um dos mais decisivos na conquista e aumento do seu público: a inovação. Empresário, eu? Para conduzir a criação de um negócio com segurança é preciso primeiramente ter a preocupação de registrar a marca e depois se apegar a noções de planejamento do ponto de vista de administração, organizando todas as informações relevantes que definem a empresa e o produto. Isso deve ser feito a partir da criação de um plano de negócios, documento responsável por concentrar todas as definições e conceitos relacionados, como as informações de produto, público-alvo, custos e projetos de vendas. O plano de negócios responde a todos os questionamentos necessários para a empresa ter ou não sucesso e para auxiliar nessa construção, pode-se contar com entidades como o Sebrae que auxiliam em todo o processo e fornecem as informações necessárias. Mas para Carol Godoy, sócia da Mimo Calçolas, o essencial mesmo, em termos legais, é ter um bom contador. “Ele faz tudo! Junta todos os documentos necessários, dá entrada na Junta Comercial e explica tudo o mais que devemos fazer daí pra frente, e na dúvida, tá sempre disponível pelo telefone”, afirma a empreendedora, que tem a proposição reforçada pelo exemplo de experiência vivida também por Clarissa Sotter: “a primeira coisa que eu fiz foi convidar a minha ex-cunhada que é minha amiga há mais de 10 anos pra ser minha sócia porque ela é economista, então essa parte de finanças que eu não tinha nenhum conhecimento foi ela quem me orientou no que era preciso fazer”.
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As redes sociais, blogs, email e sites de compras coletivas tem um baixo custo de divulgação e trazem grande visibilidade para a marca. No mais, segundo Carol, em se tratando dos meios materiais, “é preciso um espaço, algum capital, apoio, boa vontade e perseverança. É preciso estar de olho nas novidades, no que andam fazendo de parecido e mesmo de diferente, nos seus concorrentes, nas inovações, na resposta do público e por aí vai.” Internet Uma arma valiosíssima para os novos empresários é o uso da internet e as ferramentas que ela oferece que são de grande benefício nesse processo de inserção no mercado. As redes sociais, blogs, email, sites de compras coletivas e os outros tipos de sites são meios que podem ter um baixo custo de divulgação e trazem grande visibilidade e retorno para a marca. Ter o nome citado no mundo virtual além de trazer uma grande publicidade, atingindo um grande público de forma mais fácil a acessível, é uma ótima estratégia para todos os empreendedores e especialmente para quem não possui um ponto fixo e físico de comércio ou quer expandir os negócios, explorando novos mercados e públicos. O sucesso que a empresa pode alcançar utilizando esse tipo de alternativa vai depender ainda de um bom planejamento estratégico, pois sem traçar as devidas informações, especificando tudo corretamente no plano de negócio para conhecer os seus objetivos com clareza, qualquer tipo de campanha de divulgação pode não ser eficiente e não causar o impacto que se espera. Além desses recursos mais simples da web já citados, é possível ainda criar um site da empresa e lojas virtuais, alternativa de custo mais elevado, que, segundo Clarissa Sotter, reduz as fronteiras de relacionamento com o cliente, implantando e possibilitando até
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mesmo as vendas para lugares mais distantes, o que é um alto investimento e requer estar sempre sob análise e revisão do conteúdo, e torna o trabalho “pesado”, mas de retorno bem mais rápido por levar à uma maior interatividade com o cliente, onde ele pode se manter sempre atualizado com as novidades de produtos. “Você vê que eu tenho 80 acessos por dia no blog e não tenho 80 clientes que vêm até aqui no ateliê, então a gente tem que investir aonde a gente tem mais visibilidade que é a internet”, disse a designer. Parceria As parcerias podem ser um diferencial para novos empreendedores e tem sido um artifício muito explorado por quem está iniciando um negócio. Criar parceria é uma forma de ampliar ainda mais o grau de divulgação da marca, pois é uma maneira de ganhar a atenção do público de outra empresa. No caso da Mimo Calçolas, por exemplo, sua primeira parceria foi fundamental para dar um pontapé inicial, como disse Carol Godoy: “por sorte, recebemos um convite de Tati Asfora, pra ajudar ela a levar a Madame Surtô pro Fashion Business, evento paralelo ao Fashion Rio. Em troca, teríamos um cantinho no estande para expor as calcinhas. Aí foi massa pra gente! Porque encontramos lá alguns dos lojistas daqui que já viram a gente no Fashion Rio. Bem diferente teria sido se a gente tivesse batido na porta das lojas daqui para mostrar a nova marca”. Fazer essa troca, com ambas as empresas se beneficiando e agregando seus respectivos valores umas às outras é algo que pode trazer bons resultados quando se trata de empresas parceiras de confiança e credibilidade, que prezam pela qualidade do produto. É importante fazer boas escolhas ao estabelecer
À esquerda: imagens do catálogo da Mimo Calçolas À direita: Atelier de Clarissa Sotter
parcerias, depositando confiança na marca parceira e sempre lembrando que há, muitas vezes, uma transferência de confiança que o cliente tem em uma marca para a marca parceira. Através de consignação e parceria com algumas lojas, por exemplo, Clarissa Sotter diz ter tido experiências não muito agradáveis: “a maioria das lojas não tinham o menor cuidado com as bolsas, mas hoje a gente só vende para a Sarça, que é parceirona nossa, e na loja virtual da gente. Mas no sistema de consignado é muito difícil mesmo, porquê você perde muito tempo levando e buscando, nem sempre as lojas expõem as peças e elas ficam lá jogadas, é complicado.” Por isso parcerias com empresas já consagradas no mercado ou até com aquelas que estão também começando a se inserir no mercado podem trazer retornos mais significativos, como ocorreu entre a Mimo Calçolas e a Trocando em Miúdos (marca de acessórios) no lançamento da última coleção, Jardim de Inverno, feita numa parceria entre as duas empresas que trouxe bons resultados. “Os clientes da Mimo ficaram conhecendo a Trocando e vice-versa. Dividimos custo com catálogo, fotos, modelo, maquiagens, lançamentos, assessoria de imprensa, etc. Fora a troca de experiência. Tudo isso soma e fortalece”, afirmou Carol Godoy.
+ links http://blog.trocandoemmiudos.com/ http://www.clarissasotter.com.br/ http://www.mimocalcolas.com.br/
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Fotos: Caio Mendes Edição de Imagem: Marcela Reis e João Vitor Menezes Ilustração: Guilherme Lira Pintura: Marcela Reis Styling, criação e concepção: Guilherme Lira, Eduardo Nóbrega, Caio Mendes, Iara Adeodato e Marcos Lima Texto: Marcos Lima
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Se hoje camisetas podem ser partes fundamentais de um look, difícil imaginar que até a metade do século 20 seu valor era o mesmo de uma roupa íntima, escondida embaixo de camisas sociais, ternos e gravatas. Nos anos 50, jovens artistas de Hollywood como Marlon Brando e James Dean subverteram o uso dessas peças, transformando-as em um símbolo da rebeldia e da mudança de valores da época. Na década seguinte, a camiseta ganha frases de movimentos pacifistas e anti-guerra. Atualmente, são peças-chave da moda. Versáteis, baratas e confortáveis, são usadas por públicos variados, independente de idade, sexo ou classe social. Ainda carregando seu aspecto revolucionário e subversivo, as camisetas transcendem os limites da moda e se tornam parte de protestos individuais ou coletivos, carregando mensagens subversivas e se infiltrando em lugares onde ativistas geralmente não conseguiriam colocar suas idéias. Com a customização em alta, uma camiseta branca se torna um papel em branco pronto para ser escrito. Assim, é só pensar numa mensagem e colocá-la numa camiseta para que ela seja seu protesto, mesmo que silencioso. Motivos não faltam para protestar: Guerras, política, poluição, falta de respeito ao próximo e homofobia são temas recorrentes de estampas. Mas, será que esses protestos mudam alguma coisa? Difícil dizer. Entretanto, ações como essa tornam a moda menos fútil e promovem o debate, divertem e podem, talvez, atingir seu objetivo: mudar a mente da população.
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