Outscape Photography EDIÇÃO 01 | Mar 2014
Os Chicos Dartmoor - Toronto - Flores entre Montanhas - Chapada Diamantina
Londres, verão de 2012... Sim, sim, eu já contei essa
história mês passado na edição de lançamento da Fotografia et al. Na verdade, a primeira revista que eu gostaria de ter criado é essa, a Outscape Photography. Acontece que a ideia foi evoluindo, evoluindo, e acabei criando a Fotografia et al. Depois de pronta a primeira edição da Fotografia et al, eu olhei bem pra ela e pensei: “Caramba, a revista ficou sensacional, mas não era isso que eu imaginei no início!” Incomodado, não sossegaria enquanto não criasse uma revista que correspondesse a minha ideia original. Após bastante esforço e ajuda de grandes fotógrafos e amigos que vou fazendo pelo caminho, ofereço a vocês a Outscape Photography! Posso estar enganado e em algum lugar deste Brasil imenso já existir uma fotografia dedicada a este assunto, ou que tenha existido no passado. Sinceramente não conheço nenhuma revista brasileira similar, por isso digo que finalmente temos a primeira revista brasileira de fotografia dedicada a fotografia outdoor! Entretanto a Outscape Photography não se limita apenas a fotografia de paisagem; a ideia é englobar todo tipo de fotografia outdoor: paisagem, natureza, expedições fotográficas, explorações urbanas e viagens! A edição de estreia vem com matérias bem diversificadas. Nossa capa homenageia a expedição “Os Chicos” realizada
pela dupla Leo Drumond e Gustavo Nolasco, respectivamente fotógrafo e jornalista da Agência Nitro de Belo Horizonte. Vou deixar os detalhes para o próprio Leo explicar, mas em resumo foi uma jornada sensacional ao longo do rio São Francisco buscando por todos os Franciscos e Franciscas que habitam as margens do velho chico. Tem também um artigo sobre Toronto, a maior cidade canadense, escrito por Julia Li, uma fotógrafa exploradora urbana da própria cidade onde mora, o que exemplifica bem a ideia desse artigo. Toda edição iremos convidar um fotógrafo explorador para escrever sobre a cidade onde vive, como se fosse uma carta a um fotógrafo amigo que vem de longe visitar, explorar e conhecer sua cidade. Voltando ao Brasil temos mais dois artigos, Chapada Diamantina e Flores entre Montanhas. Marcio Dufranc, fotógrafo de natureza e paisagens, conhecedor profundo de Ilhabela e viajante do mundo, esteve recentemente na Chapada Diamantina e conta como foi essa viagem. O aventureiro Tacio Philip; montanhista, fotógrafo especializado em macrofotografia, autor de livro e editor de revista sobre o assunto; esteve no ano passado em vários parques nacionais no sudeste e norte do país, produzindo uma grande quantidade de material para seus projetos. 4
Nesta edição ele assina o artigo Flores entre Montanhas, com imagens capturadas no Parque Nacional do Itatiaia.
ou ainda equipamentos próprios para fotografias bem específicas como macro ou subaquática.
Minha contribuição é um artigo sobre o Parque Nacional de Dartmoor, localizado no sudoeste da Inglaterra. Estive lá no inverno por apenas um final de semana, mas foi o suficiente para anotar na minha agenda de projetos futuros. Com uma vegetação diferente da qual estamos acostumados no Brasil, imediatamente chama a atenção pela amplitude das paisagens.
Algumas das virtudes da Fotografia et al podem ser observadas também na Outscape Photography, como o rigor com que utilizamos as imagens, preservando toda a qualidade do acabamento final dado pelo autor da mesma e, o formato da revista, que favorece justamente a fotografia de paisagem.
Para fechar uma coluna sobre edição de imagens assinada pela especialista em Photoshop e Lightroom, Erica Dal Bello. A princípio a coluna da Erica era para estar na Fotografia et al, mas quando convidei ela para esta colaboração eu tinha em mente algo mais voltado para a o que se tornou a Outscape Photography. A coluna permaneceu até o último momento quando decidi que iria criar uma segunda revista voltando as origens da minha ideia. Erica, tenho certeza que sua coluna vai brilhar forte aqui na Outscape Photography! A Outscape Photography irá abordar técnicas e equipamentos em artigos que tratam destes assuntos dentro do contexto de fotografia outdoor; podem ser equipamentos próprios para expedições fotográficas em condições extremas ou, equipamentos leves e discretos para explorações urbanas, 5
Mais uma vez, nossa intenção é criar mais do que uma revista, queremos que a Outscape Photography seja digna de ser guardada na sua estante, junto com a sua coleção de Fotografia’s et al, junto com seus livros de fotografias. Carlos Alexandre Pereira
Artigos & Autores A Outscape Photography está sempre em busca de novos colaboradores. Entre em contato através do email contato@ outscapephotography.com se você possui alguma sugestão de artigo ou deseja colaborar com a revista. Mande suas imagens para imagens@ outscapephotography.com para participar de nossa Galeria de Imagens.
Os Chicos
Toronto
Leo Drumond é fotógrafo e sócio da Agência Nitro Imagens de Belo Horizonte. Vencedor do Prêmio Jabuti na categira Livro de Fotografia, com o livro “Os Chicos”.
Julia Li, exploradora urbana, artista e fotógrafa amadora. Busca através das imagens compreender as relações entre as pessoas, meio ambiente e comunidade.
Chapada Diamantina
Marcio Dufranc, fotógrafo especializado em paisagens e natureza. Autor do livro “Ilhabela de Norte a Sul”, também colabora com diversas revistas de fotografia, turismo e náutica. Seu portifólio pode ser conferido no website www.marciodufranc.com. br, além de algumas de suas melhores imagens Fine Art em séries limitadas no website www. photostandonline.com
Revista Outscape Photography www.outscapephotography. com Edição Carlos Alexandre Pereira Projeto Gráfico Carlos Alexandre Pereira Comercial comercial@feaeditora.com
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Flores entre Montanhas
Tacio Philip é fotógrafo desde 94 e há mais de 10 anos é especializado em macrofotografia.Participou de diversas exposições individuais e coletivas. Fundador do website www.macrofotografia. com.br; autor do livro “Macrofotografia e Closeup - Conceitos, Técnicas e Práticas” e editor da revista “Macrofotografia”; Além de colaborador de diferentes midias online e impressas. Comercializa imagens para decoração e colecionadores pelo site www.macrogaleria.com.br.
Edição de Imagens
Dartmoor
Carlos Alexandre Pereira, fotógrafo e autor de artigos sobre fotografia e viagens, interessado por expedições fotográficas e explorações urbanas, com uma paixão por fotografia P&B que se reflete no seu portfólio quase monocromático. Fotografia Fine Art em séries limitadas no website www.photostandonline. com. Informações sobre workshops de fotografia e expedições fotográficas em www.calexandrep.com.
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Erica Dal Bello, fotógrafa e instrutura de Photoshop e Lightroom pelo Grupo PhotoPro. Integrante do time de instrutores do Photoshop Conference. Fotografia Fine Art em séries limitadas no website www. photostandonline.com
Opinião
Gustavo Nolasco é jornalista e sócio da Agência Nitro Imagens de Belo Horizonte. Vencedor do Prêmio Jabuti na categira Livro de Fotografia, com o livro “Os Chicos”.
“Cordilheira dos Andes� Juliana Sanches
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“Everest” Adilson Moralez
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“Rua do Porto” Daniel Gonçalves
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“Areimar” Rodrigo Netto
“Cappadocia” Cadu Azevedo
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Os Chicos por Leo Drumond & Gustavo Nolasco
Os Chicos é a concretização de um sonho. Conseguir realizar uma ideia que envolve cruzar o sertão do Brasil atrás dos Franciscos e Franciscas não pode ser descrito de outra maneira. O sonho começou na cabeça do Gustavo Nolasco, viajante costumaz do Rio São Francisco, onde ia por puro prazer. Pesquisou sobre o rio e achou muita coisa sobre ele, mas pouca coisa sobre seu povo. Daí veio a ideia: contar a história dessa gente fantástica que vive nas beiras e barrancas do Velho Chico! Mas não seria tão simples. Como forma de homenagear o rio, apenas os Chicos e Chicos é que falariam sobre suas vidas. Nascia o projeto Os Chicos. Alguns anos se passaram com a ideia ainda adormecida. Em 2006, eu e o Gustavo realizamos um trabalho juntos, quando ele me convidou a fazer parte da empreitada. Não hesitei nem um instante, e ali teve início a nossa saga. Entre imaginar, elaborar, aprovar, captar e executar foram quase 5 anos. Uma coisa importante que fizemos, não só nesse mas em outros projetos, foi o que chamamos de piloto. Bancamos do nosso bolso uma viagem à regiões do rio próximas de nós para buscar os primeiros personagens. Fazer um piloto tem várias utilidades, por isso recomento a todos que tem vontade de fazer um projeto extenso como este. A mais importante delas é ter contato com a matéria prima do projeto. Sentir na pele se a ideia é realmente boa, se as pessoas nos contariam boas histórias e se haveria oportunidade de fazer belas imagens. Eu e o Gustavo nunca tínhamos feito uma viagem de trabalho juntos, e nossa interação também precisou ser testada, afinal de contas viagens longas podem trazer desgastes que uma convivência intensa proporciona. E após 15
realizado o piloto, tínhamos em mãos material para “vender “o projeto, tanto para fins de aprovação em leis de incentivo tanto para captar o patrocínio. Mesmo conseguindo captar quase toda a verba aprovada, tínhamos dinheiro apertado para viagens tão complexas. De cara, uma sugestão do Gustavo se mostrou acertada do ponto de vista logístico. Começar as viagens por Petrolina, pra lá da metade do Rio, e dali seguir até a foz. Eu queria fazer o caminho natural: seguir da nascente e ir descendo até o mar, que no caso quer dizer seguir em direção nordeste do país. Começar da frente porém, tinha seus motivos. Não poderíamos fazer o rio todo de uma vez, pois além de outros compromissos o desgaste seria enorme. Sendo assim, faríamos o trecho Petrolina – Foz na primeira viagem, pois é mais longe de nossos lares em Belo Horizonte. Melhor deixar a parte mais próxima pro fim, pois se o dinheiro encurtasse, seria mais fácil. E foi o que ocorreu. Na segunda viagem, saímos de Juazeiro, vizinha baiana da pernambucana Petrolina, e fomos subindo o rio (ou seja, indo para o sul) até onde deu, justamente na cidade que leva o nome do rio: São Francisco. As cidades mais próximas de Belo Horizonte foram feitas em pequenas viagens que bancamos nós mesmos, pois a maior parte do dinheiro do projeto estava empenhada na impressão do livro. No total, foram quase 80 dias em campo, entre 2007 e 2011. Os Chicos foi uma experiência ímpar. Embora estivéssemos sempre margeando o rio, os deslocamentos eram feitos quase sempre de carro, e como o Gustavo não dirige, algumas latas de energéticos eram parceiras dos trechos longos. A primeira
viagem trouxe um desafio extra: o famigerado polígono da maconha, região com alto índice de assaltos nas rodovias. Um policial chegou a dar um estranha recomendação: dirijam rápido! Mas não tivemos maiores problemas, e mesmo nestas bandas eu mantinha a mesma rotina: acordar antes do sol e dormir depois dele. Embora fosse um projeto de duas pessoas, nossos tempos eram diferentes em alguns momentos. Eu sempre pegava a primeira luz do dia na beira do rio ou em partes da cidade onde estávamos. Isso influenciou bastante minha edição, pois eu não estava apenas ilustrando as histórias dos personagens, mas falando sobre o universo deles. Eu acompanhava todas as entrevistas e buscava imagens geradas pelos depoimentos, mas também busquei, em cada região, contar o que a luz me dizia. Acordar antes do sol durante 30 dias seguidos é muito cansativo. Um mês, aliás, é pra mim o prazo máximo para se estar em campo de maneira contínua. Chega uma hora em que o cansaço começar a tomar conta e isso afeta diretamente no trabalho. A saudade de casa e das pessoas queridas também causa um desgaste emocional que pode prejudicar o rendimento. Uma coisa boa em relação aos Chicos é que eu vinha de um outro projeto, o Beira de Estrada, que envolvia muitas viagens, então tinha adquirido um know-how sobre o que levar, parte importante de jornadas longas. Fazer um bom check-list é fundamental, pois dar falta de um item estando no interior de um estado distante pode ser uma surpresa desagradável. Por outro lado, levar coisas desnecessárias gera desgaste e transtornos logísticos, ainda mais quando se desloca muito de um lugar para o outro, como foi o nosso caso. Câmeras, lentes, cartões e todos os acessórios necessários devem ser selecionadas com muito critério. A preocupação com a preservação do conteúdo também era constante: meu HD com o material estava sempre comigo, mesmo em jantares e botecos à noite, enquanto um backup ficava no hotel. Equipamentos tem seguro, gente também, mas perder o trabalho intelectual é irreparável. Um desafio extra nesse projeto era o tempo com cada personagem. Houve pessoas com quem passamos apenas um período, outras eu tive vários dias para me envolver com sua história, e consequentemente isso rendia melhores imagens.
Como equacionar isso era complicado. Às vezes sentíamos que a história prometia e ficávamos tentados a investir mais tempo nela, por outro lado tínhamos um planejamento apertado, e viagens distantes são caras demais para se correr riscos. Era uma disputa entre a paixão e a razão. Não podemos nos esquecer que um projeto itinerante tem essa característica: temos que seguir em frente. Boas histórias virão. E vieram mesmo. Outro aspecto complicado era com as histórias em si. Vários personagens falavam de acontecimentos que ocorreram décadas atrás. Para a literatura era um prato cheio. Para mim, o que fazer? Algumas raras vezes haviam vestígios, como ruínas ou fotos para reproduzir, mas nem sempre isso era possível. Creio que isso foi influenciando também minha busca por imagens que não só ilustrassem as falas dos Chicos, mas que também contivessem histórias que estavam além do que é dito. Histórias contadas pela luz. E não é esse o ofício do fotógrafo? Um personagem sempre presente, como não poderia deixar de ser, era o rio. As primeiras luzes do dia refletidas e suas águas lentas eram sempre uma maneira deliciosa de começar o dia. Mais que inspiração, aquele reflexo me fazia sempre pensar no prazer que é poder estar ali, naqueles locais especiais, com aquelas pessoas especiais. Naquelas primeiras horas do dia eu pensava bastante, refletia sobre o projeto, sobre a vida, sobre os relatos dos Chicos e tentava entender a sua relação com tudo isso. E no fim de cada dia parecia que eu fechava o ciclo, independente do que tinha acontecido, pois era mais um período de bastante reflexão, pensando sobre tudo o que tinha acontecido não só naquele dia mas desde o início da viagem. A fotografia é uma atividade essencialmente solitária, e momentos como este são fundamentais no meu processo de criativo. Na primeira viagem que fizemos nos preocupamos em atualizar o blog com histórias dos personagens, já no tom que seria a base dos textos do Gustavo. Na segunda etapa, por uma questão de preservar o ineditismo dos relatos, fizemos uma espécie de diário de bordo, onde contávamos mais sobre o que estávamos fazendo por onde passamos e por aí vai. Atualizar conteúdos digitais é sempre exaustivo em projetos como este. Depois de um dia longo, que começou 16
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antes do nascer do sol, e de capturar o conteúdo, parar para editar e tratar imagens é uma tarefa complicada. Mas faz parte do processo, e toda atenção deve ser dada para isso. Por outro lado, é uma boa maneira de já sentir o conteúdo, o retorno do público e dar uma personalidade ao projeto. Um bom site também pode ter um alcance muito grande, maior que exposições, livros e outras maneiras de se materializar o material produzido. Sites e mídias sociais são maneiras democráticas e suas possibilidades crescem a cada minuto, mas também deve haver uma coerência, pois o imediatismo pode “queimar” boas fotos que estariam melhor utilizadas em um edição mais bem pensada. Mas é tudo uma questão de bom senso e experimentação. Um projeto tão extenso e cansativo fica menos penoso com a ajuda de almas iluminadas que tornam a jornada mais fácil. Um trabalho de base nesse caso é fundamental. Contatos feitos através de pesquisas e conteúdo da internet referentes ao tema fez com que conhecêssemos pessoas que foram fundamentais em nossa expedição, além de fazermos grandes amigos. Estas mesmas pessoas também foram de grande ajuda na época dos lançamentos. São secretários de cultura, jornalistas, ativistas, pesquisadores, estudiosos, acadêmicos, radialistas, deputados, policiais, pescadores, artistas, religiosos, professores e todo um universo de apaixonados pelo Rio que sentem grande satisfação em ajudar a quem se interessa por esse fascinante pedaço do Brasil. A todos deixo meu muito obrigado, pois sua ajuda foi fundamental. Os Chicos foi um trabalho que envolveu muita sensibilidade com as pessoas. Qualquer documentarista, independente do suporte, tem que entender que a relação com as pessoas que encontramos é sempre de troca. Aquela visão do esclarecido da cidade com o ingênuo do interior é um estereótipo que, infelizmente, atinge até grandes “mestres “da fotografia. As pessoas estão ali nos cedendo seu tempo, uma parte de suas vidas, e respeito é o mínimo que devemos dar em troca. Nesse aspecto aprendi muito com o Gustavo. Dar retorno para as pessoas pra ele não é apenas uma questão de princípios, mas a parte mais importante do projeto. Durante os intervalo entre as viagens ele mantinha contato com quase todos os 23
personagens por telefone e email. Ele também ficou no meu pé para que enviasse fotos para todos. A maior recompensa disso foram os lançamentos que fizemos ao longo do rio. Bancados com as receitas das vendas do lançamento inicial em Belo Horizonte, onde vendemos quase 400 livros, conseguimos percorrer quase toda a extensão do rio em eventos com a presença dos personagens, que ganhavam o livro das nossas mãos. Para os que não podiam comparecer, íamos em suas casa para entregar os exemplares. Sem dúvida o ponto alto de todo o projeto. Afinal, de que adianta fazer as imagens, se quem nos proporcionou tudo isso não tem acesso ao resultado? Os Chicos foi um projeto importante para mim, pois tive a oportunidade de conhecer esse pedaço importante do nosso país, com estrutura adequada e na boa companhia do Gustavo, mestre das palavras e grande parceiro nessa jornada transformadora. Foi um privilégio imensurável poder capturar em luz, sensações e sentimentos um pouco do mundo dos Chicos, o incrível povo do Rio São Francisco. Uma jornada que me levou aos extremos deste país paradoxal, navegando pelos primórdios da história do Brasil, onde beleza e tristeza convivem de maneira harmoniosa, onde a sabedoria brota da boca do ancião e da ingenuidade da criança. Assim é o Brasil. Assim são os Chicos.
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Toronto por Julia Li
Assim como metade dos moradores de Toronto, eu não nasci no Canadá, mas hoje, Toronto é o lugar que eu chamo de casa. É a maior cidade no Canadá e mesmo depois de 20 anos morando aqui, nunca deixo de me surpreender ao explorar esta cidade culturalmente dinâmica e diversificada. Suas estações do ano bem definidas e seu povo acolhedor me proporcionam um prazer constante e uma energia sempre renovada. Eu mal posso esperar para descobrir o que cada dia tem para me oferecer. Minhas explorações começam no momento em que ponho o pé fora de casa. Levando quase sempre minha câmera comigo, sempre acho alguma imagem interessante para capturar. Eu moro numa área chamada Upper Annex, no centro de Toronto, uma região famosa por abrigar a Casa Loma, Tollkeeper’s Cotage, Wynchwood Barn, George Brown College e Canadian Pacific Railways. Desde que iniciei na fotografia de rua, descobri que a câmera me ajuda a ver coisas que nunca havia visto antes. A câmera, muitas vezes, age como um meio de comunicação e me aproxima mais das pessoas que encontro. Eu compartilho o que descubro durante o dia na minha página do Facebook com todos os meus amigos ao redor do mundo. A fotografia também me faz refletir mais sobre a vida, sobre as pessoas, coisas e locais que capturo em imagens. Por exemplo, uma foto que tirei na minha vizinhança, na tarde anterior ao dia de coleta de lixo, de uma boneca em uma poltrona quebrada. Me faz lembrar a minha infância e é inevitável imaginar como foi a infância da menina que costuma brincar com aquela boneca. 27
Eu trabalho no centro de Toronto, uma região sempre ativa de dia e de noite. Em uma viagem rápida, o metrô me leva até meu local de trabalho. O metrô aliás, é um lugar perfeito para capturar algumas imagens do dia a dia da cidade. Felizmente as regras quanto ao uso de câmeras no metrô de Toronto são bem flexíveis, conforme podemos verificar no website: “Fotografias e filmagens de famílias, indivíduos ou turistas, sem propósitos comerciais nas áreas públicas do sistema de trânsito, não necessitam de permissão prévia do TTC (nome do metrô de Toronto), contanto que as fotografias ou filmagens não interfiram com o funcionamento normal do sistema de trânsito do TTC ou com seus usuários.”. Nem sempre é assim tão fácil, algumas vezes, enquanto tiro fotos em determinados lugares, eu encontro situações onde guardas de segurança vem me lembrar que fotografias não são permitidas, mesmo quando não há avisos visíveis. Eu sempre agradeço a eles pelo aviso e me desculpo por não estar ciente das proibições. Mais importante, eu paro de tirar fotos imediatamente e sigo adiante, procurando novos locais interessantes. O povo canadense é conhecido por sua simpatia, gentileza e extrema educação, depois de tanto tempo morando aqui você acaba se acostumando a agir da mesma forma. Um horário do dia que adoro é a hora do almoço. Eu chamo a bolsa da minha câmera de lancheira. Eu posso andar facilmente até as praças Yonge, Dundas ou Nathan Philip, ao Hard Rock Café, City Hall (Prefeitura), Ryerson University, Eaten Centre, distrito financeiro ou Mercado St Lawrence. Sempre há concertos de música, mercados de rua e artistas
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de rua durante o ano todo. Fiz amizades com técnicos de som durante alguns destes shows e passei a seguir a carreira vários músicos após tê-los conhecido em shows ao ar livre durante meu horário de almoço. Tem uma história muito interessante que gostaria de compartilhar. Eu costumo ouvir a música maravilhosa que vem da torre da Metropolitan United Church (Igreja) e, ficava sempre imaginando se a música era gravada ou se havia alguém realmente tocando o carrilhão. Um dia decidi verificar, subi as estreitas e intermináveis escadas de acesso ao alto da torre e para minha surpresa, encontrei o responsável pelo carrilhão, o senhor Gerald Martindale. Gerald me mostrou os 54 sinos do carrilhão da Metropolitan, e me contou várias coisas interessantes, por exemplo, que o maior sino pesa 8.456 libras (aprox. 3.8 ton). Eu assisti ao Gerald tocar o carrilhão enquanto tirava algumas fotos. Para minha surpresa, Gerald me perguntou se eu gostaria de tocar! Fiquei muito empolgada! Este foi um dos melhores momentos de exploração urbana. Eu sabia que o som do carrilhão iria se propagar pelo céu e seria ouvido por muitas pessoas; os frequentadores das praças e parques jogando xadrez, passeando com cachorros ou almoçando e todos os outros que se encontravam na região. Se você por acaso passar ali por perto, sinta-se à vontade para visitar a igreja e perguntar sobre o carrilhão, mas esteja preparado para subir muitos degraus! Por acaso mencionei a grafiteira mais talentosa de Toronto, a Chalk Chick? O nome dela é Jo. Eu tenho visto ela trabalhar pelas ruas de Toronto durante o ano todo. Você pode conversar e tirar fotos da Jo enquanto ela desenha, mas não se esqueça de contribuir com um Toonie (CAN$ 2,00) ou Loonie (CAN$ 1,00) no balde dela. Você certamente irá fazê-la sorrir. Se você gosta de arte de rua ou grafite, então o tesouro escondido para você é a Graffiti Alley (Travessa do Grafite). Esta é uma rua paralela a Queen Street West. Se estende por quase 1 Km, desde a Spadina Avenue até a Portland Avenue. Eu fico assombrada com tantos novos desenhos que surgem quase que espontaneamente, sem nunca perder seu brilho.
Sempre que posso, vou visitar esta rua. Quando você visitar Toronto, se for durante algum feriado cívico, não se preocupe se a maioria das lojas estiverem fechadas. No centro de Toronto, Chinatown e Kensigton Market estarão sempre abertos. Estes dois lugares são vizinhos e são meus lugares favoritos para comprar, passear e especialmente, tirar fotos. Se você por acaso vir alguém carregando sacolas de compras e ainda tentando tirar fotos, provavelmente sou eu! Apenas para você ficar sabendo, a área do Kensigton Market é a região mais dinâmica e diversificada culturalmente em Toronto, e é com certeza a área mais fotografada também! Portanto, junte-se a multidão e tire muitas fotos! Não tenha medo de entrar nas lojas, olhar tudo, comprar ou não alguma coisa, comer, beber ou apenas sentar e observar o mundo ao redor, as pessoas são bem amigáveis, entre no clima e clique a vontade! Se der sorte você irá capturar pessoas intrigantes e únicas pela sua lente. Como disse anteriormente, metade dos moradores da cidade nasceram fora do Canadá, são mais de 140 línguas e dialetos falados aqui, tudo isso contribui para uma diversificação bastante expressiva nas ruas de Toronto. Diferente das cidades menores e interioranas, Toronto nunca dorme. A noite é o horário perfeito para explorar cozinhas internacionais e música ao vivo. São mais de 200 performances ao vivo de músicos em teatros, casa de espetáculo, bares, restaurantes e clubes noturnos. Meu show favorito é o “The Phil and John Show”, o melhor dueto acústico da cidade. Você pode mencionar a eles que a Julia os recomendou, eles certamente irão atender seu pedido de música favorita! Toronto tem muito a oferecer, arquitetura original, vistas belíssimas, povo acolhedor e muita atividade cultural pelas ruas. Tenho certeza que você, caso nos venha visitar, não importa quanto tempo passe aqui, sempre irá ficar com vontade de voltar. É como eu sempre digo: “Eu amo Toronto e você irá amar também!”.
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Chapada Diamantina por Marcio Dufranc
Já na chegada do voo a Lençóis, nota-se a imponência e a exuberância dos vastos campos da Chapada Diamantina. A Chapada tem 152.000 Hectares de área, com mais 110 km de perímetro e situa-se na parte central do estado da Bahia, abrangendo inúmeros municípios, sendo os principais Lençóis, Andaraí, Mucuge, Itaete, Palmeiras e Ibicoara. Ha três formas de chegar a Chapada Diamantina, de carro pela BR242, de ônibus ou avião. Os voos chegam na cidade de Lençóis, que é a cidade mais bem estruturada na região da Chapada e onde há diversas opções de hospedagem, restaurantes e comércio local. De Lençóis pode-se contratar guias ou passeios a praticamente todos os pontos turísticos da Chapada Diamantina, alguns desse passeios podem durar até vários dias, como por exemplo a trilha do vale do Pati, que dura 4 dias. A vegetação na chapada é abundante e composta de espécies da caatinga semiárida e da flora serrana. Há de se destacar as bromélias que aparecem em diferentes espécies, as orquídeas e as sempre-vivas, flores amarelas que se espalham pelo chão. A maioria dos rios da bacias do Paraguaçu, do Jacuípe e do Rio de Contas nascem na Chapada, essas correntes de água brotam nos cumes, deslizam pelo relevo e despencam em maravilhosas cachoeiras espalhadas pelo parque, formando em algumas delas piscinas naturais com águas totalmente cristalinas. Programar uma expedição fotográfica para um lugar tão imenso requer planejamento. As atrações estão localizadas muito distantes umas das outras o que torna a jornada 37
longa e cansativa. Nada demais também para um fotografo empolgado, na realidade acho que esse desafio torna ainda mais prazerosa e recompensadora a aventura. A interação com a natureza exuberante recompensa qualquer cansaço. Novembro, dezembro e janeiro são os meses de chuva mais intensa na Chapada, as cachoeiras ficam mais cheias de água, e acredito que sejam os melhores meses para fotografálas. Claro que há mais possibilidades de chuva nessa época, por isso é aconselhável ir com tempo de sobra, pois pode ser que em apenas alguns dias você não consiga as condições ideais para fotografar. Minha expedição pela Chapada durou apenas 8 dias, por esse motivo não consegui ir a todos os lugares que queria ir. Talvez umas duas semanas seja o tempo mínimo para poder conhecer e fotografar com calma e qualidade. Tem que se levar em conta também o fator clima, não é todo os dia que você irá ter a melhor luz, isso quando não chove; vai um pouco para o lado da sorte também, as vezes se tem sorte as vezes não; na fotografia de paisagens é assim que funciona. Houveram dois dias que praticamente nem tirei a câmera da mochila. Por outro lado, se a chuva não estiver muito forte, com uma boa capa de chuva e um equipamento resistente pode-se conseguir imagens fantásticas. Contratar um guia é bastante recomendado para poder explorar o local com mais segurança e agilidade. Alguns guias conhecem atalhos nas trilhas, isso possibilita chegar a locais com acesso de maior dificuldade, onde raramente turistas comuns se aventuram. Dependendo do serviço
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contratado e da duração das trilhas, o guia leva a comida necessária, o que possibilita o fotografo concentrar mais tempo na captura de imagens e também reduz o peso da sua mochila, levando apenas equipamento. Lençóis, como disse anteriormente, é a cidade com melhor infraestrutura, ficar lá pode ser uma opção, pelo menos para o inicio da viagem. O ideal é alugar um carro e começar fotografando a região de Lençóis mesmo, o Morro do Pai Inácio, apesar de ser o local mais fotografado da Chapada, tem vistas incríveis e um belíssimo por do sol; rende boas imagens. Outro local perto de Lençóis é a Cachoeira do Sossego, encravada no meio de cânions, tem uma vista magnifica e uma piscina natural formidável. A trilha de terra e pedras leva aproximadamente duas horas para ser percorrida. Em certos pontos a transposição de pedras grandes é difícil e requer um bom preparo físico e agilidade, ainda mais carregando o equipamento fotográfico, mas vale a pena cada pulo. A Fazenda do Pratinha fica um pouco mais afastada de lençóis, cerca de 1 hora de carro, mas é um belíssimo local. Tem duas grutas, a Gruta da Pratinha e a Gruta Azul, e um rio de águas cristalinas aonde é possível mergulhar e fazer boas fotos subaquáticas. Se chegar bem cedo é possível pegar o local ainda sem turistas, e com a água espelhada dentro da Gruta os reflexos vem a tona, tornando o cenário ainda mais bonito.
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Outros dois locais que visitei foram o Poço Azul e o Poço Encantado que ficam relativamente próximos um do outro. Nesse caso para conseguir chegar cedo aos locais o ideal é dormir em Andaraí ou Mucuge, há ainda a opção de ficar em Igatu. Ambos são belíssimos poços de água azul radiante e cristalina e ficam dentro de cavernas. Durante o outono e o inverno e somente de duas a três horas durante o dia, os raios solares atravessam por frestas no teto das cavernas e formam um fantástico feixe azul na água. A transparência da água é tanta que mesmo com uma profundidade de mais de 50 metros é possível ver o fundo com suas pedras e troncos de árvores. No poço azul é permitido fazer flutuação na água, diferentemente do poço encantado, onde é proibido. A trilha do Vale do Pati e a cachoeira da fumaça, entre outros inúmeros locais ficaram na minha lista para as próximas visitas. Pela sua imensidão e beleza a Chapada Diamantina merece muitas visitas, sempre haverá um novo local a ser fotografado e explorado. A experiência de estar na Chapada fotografando é única pelo fato da diversidade e da gama de possibilidades da fazer novas e boas fotos.
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Flores Entre Montanhas por Tacio Philip
O Parque Nacional do Itatiaia - PNI para os mais íntimos foi o primeiro parque nacional a ser criado no Brasil, pelo então presidente Getúlio Vargas, em 1937. Este parque está localizado no Sul dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, no Maciço do Itatiaia, e faz parte da Serra da Mantiqueira. Como uma de suas características mais marcantes, este parque é dividido basicamente em duas áreas geograficamente distintas: sua parte baixa, com acesso através da cidade de Itatiaia (RJ), muito frequentada por fotógrafos de pássaros e turistas em geral devido a sua mata atlântica bem preservada, assim como alguns atrativos mais populares, como cachoeiras e poços próprios para banho, apesar de bem frios, já que chega a alcançar mais de 1000 m de altitude. Sua outra parte, que como escalador e montanhista me atrai muito mais, é conhecida como planalto do Itatiaia ou simplesmente como “parte alta”. Esta área está localizada a mais de 2000 m de altitude e tem seu acesso através das cidades de Engenheiro Passos (RJ) ou Itamonte (MG). Nesta região de campos de altitude é onde encontramos dezenas de montanhas, muitas delas entre as mais altas do Brasil, como o popular e muito frequentado Pico das Agulhas Negras, que alcança 2791,5 m de altitude, sendo esta a 5ª mais alta do Brasil, segundo o IBGE. Para os praticantes de montanhismo e escalada, a melhor época do ano para visita é no inverno, época fria, seca e perfeita para a prática de atividades de montanha, devido a pouca ocorrência de chuvas e temperaturas mais baixas (no 45
inverno é muito comum as temperaturas ficarem negativas no planalto durante a madrugada). Além disso, é a época que recomendo para quem quer fazer fotografia de paisagens montanhosas. Entretanto, além das “tradicionais” visitas durante a época seca, no final do ano passado e este ano o visitei também no verão, mas com outra ideia em mente e, desta vez, bem diferente das outras dezenas de vezes que lá estive para subir suas lindas montanhas: fotografar suas flores. Com a chegada do verão e, junto com ele o calor e as chuvas, a maior parte da vegetação do planalto se revela com florações que podem ser vistas apenas nesta época, deixando o parque muito mais colorido que o tradicional verde e cinza da vegetação de altitude e suas montanhas rochosas. Sendo assim, com esta ideia que floresceu em uma visita ao planalto no começo de Novembro, visita esta ainda planejada para subir algumas de suas montanhas com minha namorada Aline e parceiro de montanhas Parofes, já pude observar o começo da mudança na vegetação e imaginar o que estaria por vir. Pouco tempo passou e, na metade de Dezembro do ano passado, recebi um email do Alessandro, amigo parceiro de pedal, de fotografia e de diversas idas ao PNI que me dizia ter solicitado reserva para 5 dias, de segunda à sexta-feira, no Abrigo Rebouças, uma antiga casa de pedra, localizada dentro do parque nacional, que pode ser usada com agendamento prévio e que, devido à inexistência de locais para hospedagem
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na região, facilita muito a logística de visita para quem quer passar mais de um dia em seu planalto. Sem pensar duas vezes, como costumo dizer: “oportunidade de ficar no Abrigo Rebouças não pode ser desperdiçada”, pedi que garantisse meu nome na lista.
Ao chegar ao abrigo, que pode ser compartilhado com outras pessoas dependendo da procura e agendamento - nele cabem até 16 pessoas - encontramos duas pessoas que lá estavam desde o dia anterior e logo chegaram também nossos amigos Flávio Varricchio, Isabelle e seu filho com um amigo.
Sendo assim, pouco depois de dois meses da ideia fotográfica inicial, na metade de Janeiro estava com o Alessandro, sua esposa Fernanda e filha Isa saindo de Itu e rumando mais uma vez ao planalto do PNI.
Nos dias que se seguiram os roteiros pelo planalto foram diversos, alguns em conjunto com outras pessoas, como no primeiro dia que fomos todos nós até o cume da Pedra do Altar, e outros mais independentes, quando, por exemplo, rodei mais pela própria estrada para fotografar flores ou cachoeiras temporárias descendo das rochas, que aparecem depois das tempestades, como uma que presenciamos, com direito a granizo e duração de algumas muitas horas.
Chegando ao parque cumprimos todos os requisitos burocráticos como mostrar a documentação de reserva do abrigo, preencher a ficha de entrada, dizer qual seria nossa “agenda de visitas” em cada dia, efetuar o pagamento de entrada no parque e uso do abrigo e então logo depois estacionamos, colocamos as mochilas nas costas e, com uma grande ameaça de temporal, começamos a caminhada de pouco mais de dois quilômetros que leva do estacionamento até o abrigo. Dependendo a época, este trecho pode ser percorrido de automóvel, mas não no verão devido a reprodução do sapo flamenguinho, espécie endêmica, que usa poças de água para se reproduzir. Nessa hora vale ressaltar que, além da mochila que continha o equipamento fotográfico, que no meu caso consistia em duas câmeras reflex (uma tradicional e uma convertida para o infravermelho), quatro lentes (indo de grande angular 17 mm a 105 mm mais lentes macro que me permitiam ampliações até 1:1 em uma delas e até 5:1 em outra), flash, tripé e outros acessórios como filtros, cabos, baterias, cartões etc. nas costas, carregava também toda a comida, roupas, saco de dormir e o que mais seria necessário para estes cinco dias isolados no parque. No abrigo todo o conforto que temos é proporcionado pela existência de eletricidade, um fogão industrial, beliches e banheiros com chuveiro sem aquecimento. Tudo que um fotógrafo de natureza espera - e que chega a considerar um luxo - quando nesse tipo de local.
De uma maneira ou outra, praticamente todos os momentos nesses cinco dias foram utilizados para fotografias, tanto de flores quanto de algumas paisagens já que, com as chuvas, diferentes paisagens apareciam. O tempo também foi bem aproveitado, quando a chuva permitir, saindo para fotografar tanto de manhã quanto à tarde ou até durante madrugada em um dos dias o Alessandro e eu saímos para fotografar ao lado do abrigo às 3 h da madrugada. Como resultado desta viagem eu consegui fotografar algumas paisagens que ainda não havia presenciado no parque, como as inúmeras cachoeiras que aparecem depois de chuvas fortes, ver a represa quase transbordando com possibilidade de fotografar o Agulhas Negras com seu reflexo em suas águas e flores, muitas flores, que eu nunca havia fotografado. Seja para subir suas montanhas e fazer fotografias ocasionais com uma câmera compacta ou fotografar mais seriamente as belezas deste parque, é um local de visita obrigatória para os amantes de fotografia de natureza e/ou praticantes de atividades de montanha.
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Dartmoor por Carlos Alexandre Pereira
Dartmoor é um dos maiores parques nacionais ingleses, certamente o maior da região sudoeste. Localizando na região de Devon, cobre aproximadamente 953Km2 de região rural e selvagem. Algo que achei interessante no parque nacional de Dartmoor, foi que dentro da região do parque, existem propriedades rurais, criadores de equinos, vilarejos e até pequenas cidades. Dartmoor é caracterizado por uma vegetação pantanosa, de relevo baixo, com poucas colinas de pedra. O pico da colina mais alta fica a aproximadamente 620m acima do nível do mar. Não sou especialista em botânica, mas pelo que pude perceber tem uma pequena variedade árvores, que raramente se encontram agrupadas em quantidade suficiente para formar um pequeno bosque. Para fotografia de paisagens, eu diria que reúne características muito boas! Alguns dos fotógrafos ingleses de paisagens que admiro moram e trabalham na região de Dartmoor, por isso, quando tive a oportunidade, fiz questão de conhecer a região. Minha visita aconteceu em Dezembro de 2012, em um dos invernos mais rigorosos dos últimos 10 anos no Reino Unido. Além do frio, foi também um final de semana de muita chuva, na maior parte do tempo fina e gelada, mas as vezes forte o suficiente para obrigar a gente a se abrigar em algum lugar. Final de semana de dias curtos de inverno, muito frio e chuva, e mesmo assim consegui capturar algumas imagens que valeram a pena a viagem. Saí cedo de Redhill, cidade que fica ao sul de Londres, em um trem em direção à Newton Abbot, com uma baldeação em Reading. No total foi uma viagem de pouco menos de 4hrs 55
de duração. Newton Abbot é uma típica cidade do sudoeste da Inglaterra, pequena, voltada para atividades rurais e de pesca e, passando por grandes dificuldades econômicas no momento. Após almoçar peixe com batatas e legumes em um típico pub inglês, tipicamente situado na high street (rua principal), pegamos um táxi para o hotel, localizado em Torbryan, um distrito vizinho. The Old Church House Inn é o nome do hotel. O hotel fica em um prédio que orginalmente abrigava a casa da igreja – Torbryan’s Church House. Na idade média e posteriormente, eram comum casas anexas as igrejas, onde funcionavam estalagens – Inns – que abrigavam viajantes e serviam comidas e bebidas (cerveja Ale, na época quente e sem gás). A construção original data do século 13, mais antiga que a igreja atual que ainda existe ao lado do hotel, que data do século 15. Isso mesmo, três séculos antes da descoberta do Brasil, coisas do velho mundo. Na verdade, a construção original do século 13 abriga apenas uma sala de estar com uma lareira gigantesca, onde originalmente eram assados os pães e produzida a cerveja comercializada pelo Inn. No século 15, mesma época de construção da igreja atual, o prédio foi expandido consideravelmente e, esta nova área atualmente é ocupada pela recepção do hotel, bar e restaurante no térreo, e a maior parte dos quartos fica no segundo andar. Em 1938, foi salvo da demolição por Howell Paine, que comprou e reformou inteiramente o hotel, ampliando e criando espaço para uma cozinha moderna e alguns quartos maiores e mais luxuosos, que oferecem um banheiro integrado! Em uma foto aérea do website do hotel pode se
observar claramente a distinção entre o prédio original, a primeira expansão e o anexo final. A decoração do hotel é uma verdadeira coleção de velharias antiguidades. O teto de madeira possui um acabamento natural de fuligem de lareira e suas vigas servem de suporte para uma infinidade de quinquilharias itens de decoração. O hotel oferece wi-fi, mas como a antena do equipamento fica na recepção do hotel e as paredes ao redor possuem aproximadamente 1 metro de espessura, o wi-fi só funciona na recepção mesmo. O hotel se estende ao longo de uma colina, com a recepção na parte baixa e, apesar de ter subido dois lances de escada de pedra para chegar ao meu quarto, haviam dois pôneis pastando na janela do que seria o melhor quarto do hotel. O banheiro, esse assim um anexo com menos de 50 anos de idade na construção, era bem equipado e após um certo trabalho de dedução e tentativas frustradas, propiciou um bom banho quente, de banheira, ao lado de outra janela com pôneis. Não eram muitos pôneis, acho que não mais de 10 em uma área de uns 600m2 ao lado hotel; mas eles eram bastante sociáveis, e gostavam de janelas. Não me entenda mal, o hotel é bastante peculiar e cheio de personalidade. O café da manhã era bom, tipicamente inglês, mas bom. E as refeições servidas pelo restaurante eram excelentes, nada de excepcional, mas muito bem feitas. A cerveja Ale, receita moderna e gelada – ou quente, se você preferir – é forte e encorpada. Para passar um final de semana diferente é a opção ideal! No dia seguinte bem cedo, um sábado, recebi para o café da manhã no hotel, um fotógrafo inglês da região que conheci pela internet e, com quem havia combinado para me guiar pela minha exploração de Dartmoor. Seu nome é David Clapp e seu trabalho pode ser conhecido em seu website: www.davidclapp.co.uk Saímos do hotel em direção a Dartmoor no carro de David. Um carro comum, se não me engano um Ford Focus, digo isso para ressaltar que não é preciso um Jeep 4x4 para ir
longe em Dartmoor. Como toda a região do parque possui, não muitos, mas alguns pequenos vilarejos onde residem os trabalhadores das pequenas propriedades rurais, e também um bom número de casas de veraneio, o parque é cortado por estreitas estradas asfaltadas. Bom, as estradas são asfaltadas e em ótimo estado de conservação, mas rapaz, como são estreitas! Em alguns pontos mal passa um carro comum, o que dirá um caminhão. O problema é que todas as estradas são de mãodupla, ou seja, volta e meia você precisa sair da estrada para dar passagem para um carro contrário, ou até mesmo um caminhão transportando leite, feno ou animais. Em vários trechos de aclive ou declive, a estrada corta fundo a paisagem criando paredes laterais. Uma hora o David foi obrigado a andar mais de 5 minutos de ré para dar passagem para um caminhão, outra hora foi uma velhinha dirigindo um Land Rover Discovery, que aliás é o carro preferido por 8 entre 10 moradores da região. Outra constante no Parque nacional de Dartmoor são cercas baixas de pedra, principalmente nas áreas mais planas, onde a estrada não corta fundo a vegetação. As cercas acompanham as estradas e servem para evitar que os animais fiquem cruzando as estradas a todo momento. Os animais não ficam inteiramente cercados, existem várias passagens permitindo a livre locomoção em qualquer direção do parque. As cercas agem como direcionadores do tráfego dos animais. Enfim, as cercas são uma atração à parte, sendo todas elas de pedra e baixa, mais ou menos um metro de altura, elas compõem muito bem a paisagem do parque. Tudo isso apenas soma ao charme da região. As estradas estreitas de asfalto escuro, ladeadas por cercas baixas de pedra, cortando a paisagem, formam um ótimo cenário tanto para imagens capturadas de pontos altos quanto para imagens mais próximas. Tanto a vegetação como a ondulação do terreno sendo baixas, permitem que em pontos altos você tenha uma visão de longo alcance, sem elementos naturais para criar obstáculos. E ao mesmo tempo é diferente de um deserto onde o cenário é todo igual, com pouca variação de cores ou relevo visíveis. 56
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Outro atrativo são as formações rochosas de granito que surgem em determinados lugares, criando pontos altos contrastantes com a extensa vegetação do parque. São chamadas Tor. São perfeitas para elevar a perspectiva na hora de fotografar e também para serem fotografadas. Sem contar que atraem muitas pessoas para pratica de escalada, o que sempre cria imagens excelentes. As árvores encontradas em Dartmoor também são um atrativo pela sua disposição e aparência. Eu consegui achar o nome de três espécies comuns no parque: Ash (Freixo), Oak (Carvalho) e Hawthorn (Espinheiro). A minha preferida é a Hawthorn, eu achei ela traduzida como “Espinheiro”, mas não confiei muito, por isso vou continuar chamando de Hawthorn mesmo. Esta árvore costuma aparecer isolada, distante umas das outras, permitindo serem fotografas sozinhas. Seu tronco e galhos retorcidos são sensacionais, principalmente porque a folhagem – pelo menos no inverno – é bem rala e tanto tronco quanto galhos ficam bem evidentes. Dependendo do horário do dia – ou da edição – podemos criar uma imagem bem fantasmagórica, estilo Tim Burton. Já mencionei os pôneis, que podem ser vistos em bom número pelo parque. Apesar deles serem criados soltos, não são selvagens, são na verdade de propriedade de criadores diversos. Aparentemente a criação de pôneis é uma atividade ainda bastante comum no sul da Inglaterra, já foi mais, hoje em dia nem tanto. Além de pôneis há também criação de outros animais como ovelhas, porcos, etc; mas estes ficam mais resguardados dentro dos limites das propriedades rurais. Há também uma grande quantidade animais selvagens de pequeno porte, entretanto, talvez porque não tenha me afastado muito das estradas, além de ser inverno, não vi nenhum.
Igrejas em abundância. Centenárias, sempre com um pequeno cemitério anexo. Algumas das lápides mostram datas como 17XX, 16XX e até mesmo 15XX. Igrejas grandes e pequenas, com interior em madeira, bastante trabalhado, sempre abertas, mesmo que vazias, silenciosas. Uma coisa que pouca gente sabe é que Stonehenge não é a única formação de pedras em forma de círculo existente no Reino Unido. Existem várias outras, algumas tão grandes quanto, mas estas maiores não são tão bem conservadas. Por outro lado existe uma boa quantidade de pequenos círculos de pedra, ou com pedras menores, em bom estado de conservação. Em Dartmoor existem alguns, infelizmente nenhum tão bem conservado como Stonehenge. Mas são claramente identificáveis, e segundo pesquisas tão antigos quanto. Infelizmente quando visitei um destes círculos de Dartmoor já estava bastante escuro e chovendo forte, então não consegui capturar nenhuma imagem boa. Isso mostra que, apenas um dia em Dartmoor é muito pouco, sequer para conhecer, muito menos para fazer um trabalho de captura de imagens de qualidade. Como disse no início, conheço alguns fotógrafos que moram na região e estão sempre capturando imagens novas e originais pelo parque. Certamente Dartmoor está na minha lista de destinos para expedições fotográficas.
A arquitetura típica da região é um cartão postal atrás do outro. As casas com aqueles telhados que parecem palha de longe, encravadas em encostas ou nas poucas concentrações de árvores, ao lado de pequenos rios. Ou então pequenas aglomerações de casas ao longo de entroncamentos nas estradinhas, ou ao redor de igrejas centenárias. Pequenos pubs com grandes lareiras e mesas minúsculas. 62
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Photoshop ou Lightroom Edição de Imagens, por Erica Dal Bello
Em todas as áreas profissionais, vemos uma constante evolução e adaptação tecnológica com o decorrer dos anos. Assim como os equipamentos, os softwares também vêm se adaptando, visando cada vez mais agilidade e praticidade, atendendo às necessidades do usuário.
não deixam de vir “crus”, para que o usuário possa trabalhar contraste e cores com base em suas necessidades. Além, é claro, de correções que são constantemente inevitáveis e a oportunidade de transformar e enaltecer imagens, dando personalidade e valorizando um trabalho.
A fotografia digital trouxe inúmeras melhorias. Porém, grandes adaptações também se tornaram necessárias, como o armazenamento e o gerenciamento desse novo volume de imagens, que cresceu relativamente. Quanto ao armazenamento, as pastas de negativos e slides viraram HDs, e um gerenciamento refinado tornou-se essencial.
E a terceira importante tarefa baseia-se no destino dessas fotos. Pode ser um simples compartilhamento na web ou uma elaborada impressão. As duas saídas dividem-se em diversas opções dentro do Lightroom, como a exportação direta para redes sociais específicas, exportação em diversos tamanhos e formatos, diagramação de fotolivros e montagem de slideshows com música e textos personalizados.
O Photoshop já passou de seus 20 anos. É um software extremamente completo e importante para inúmeros profissionais, sejam estes fotógrafos, publicitários, arquitetos, designers, dentre outras inúmeras áreas. Visando agilidade, em 2006 surgiu o Adobe Lightroom, um aplicativo focado para fotógrafos, profissionais ou amadores. Esse aplicativo é responsável por três importantes tarefas de todo fotógrafo: a) Gerenciar, b) Aprimorar e c) Compartilhar. Um grande volume de fotos requer ser catalogado. Sendo o Lightroom um grande catálogo, todo catálogo precisa de índices e enumerações bem organizadas, para que a busca e a visualização dessas imagens seja rápida e fácil. Por isso, ele tem um módulo específico para esse gerenciamento, uma biblioteca onde iremos importar, inserir metadados para posteriormente localizar facilmente uma foto desejada. A segunda tarefa consiste no aprimoramento das imagens pois, por melhores que sejam as condições de luz e a calibração do branco ainda na própria câmera, os arquivos
Portanto, as três tarefas resumem o fluxo de trabalho da maioria dos fotógrafos, e podem ser realizadas de maneira simples e rápida. E o mais importante: tendo simplicidade e rapidez, teremos mais eficácia e maior criatividade, item indispensável para todos os envolvidos com arte, seja ela a forma que for. Ok, mas já uso o Photoshop para tratar minhas imagens, por que eu mudaria para o Lightroom? A resposta correta não é mudar, e sim adaptar o Lightroom em seu fluxo de trabalho, de maneira a agilizá-lo. O Lightroom não veio para substituir o Photoshop, e sim para complementá-lo. Ou seja, há passos a serem feitos no Lightroom e passos no Photoshop. A principal vantagem do Lightroom é a edição não-destrutiva, ou seja, ele não trabalha diretamente nos pixels, e sim como informações de comandos. Quando eu altero uma cor, não 66
estou alterando definitivamente os pixels daquela foto, estou gerando uma informação que resultará em mostrar a foto em outra cor. O grande potencial disso é a flexibilidade, de, a qualquer momento, poder voltar na estaca zero, ou modificar qualquer alteração, sem gerar arquivos pesados com camadas e mais camadas. E quando vou para o Photoshop? O Lightroom proporciona total interação com o Photoshop, e nele faremos edições como recortes, montagens, mega fusões, efeitos específicos. Ou seja: o processamento de uma foto começa no Lightroom e vai posteriormente para o 67
Photoshop, sendo então a edição diretamente no pixel. Outro fator muito positivo do Lightroom, é que em certos casos poderemos fazer 100% do processamento sem o Photoshop. Portanto, meu fluxo de trabalho baseia-se nas seguintes atividades: 1) Criar o catálogo 2) Importar e inserir metadados nas fotos 3) Classificar e Filtrar 4) Edição fina 5) Ir ao Photoshop caso necessário 6) Saída. Ou seja, o Lightroom está presente na maior parte do meu trabalho no dia-a-dia. Para mais dicas, acesse www.photopro.com.br
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Os Longos Caminhos das Histórias Fotográficas Opinião, por Gustavo Nolasco
Fotografar vai muito além do instante. Este sim é o definitivo para que o “fotografar” tenha se realizado como traçado previamente por segundos, minutos, horas e até anos de reflexão sobre o que se quer de um clique. Contar histórias fotográficas, portanto, só obtém instantes perfeito se a este exercício for dedicado muito fosfato e estudo não só imagético, mas também de referências históricas, sociais e até mesmo antropológicas do universo escolhido para cada trabalho. Essa longa preparação é sim a parte mais importante do que podemos chamar de “fotografar” histórias. Essa dedicação a entender o conjunto de realidades fotografado faz do fotógrafo contador de história um profissional diferenciado. Dentro da fotografia, ter essa característica é primordial para que o instante seja muito mais do que uma combinação de escolha de luz, estética, enquadramento e sorte. O projeto Os Chicos é um destas experiências onde o deleite do “fotografar” no conceito aqui defendido se mostrou fundamental. Por meio desta caminhada, pode-se chegar a instantes de cliques e imagens de profundo significado para a história da população que forma as comunidades ribeirinhas do São Francisco. O projeto levou onze anos entre a ideia e a conclusão de seu produto final (o livro) e tal demora em tanto tempo de pesquisa foi reconhecida em 2012, quando Os Chicos foi eleito o melhor livro do ano na categoria Fotografia do Prêmio Jabuti, maior honraria da literatura brasileira. Os Chicos não se resume a estética. Ele se tornou um estudo imagético de um rio tantas vezes fotografado. Porém, ao acompanhar a sequência de histórias contadas em seu interior é possível perceber claramente o que lhe faz único: o quanto de “fotografar” existe por trás de cada instante, ou seja, de cada clique.
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Outscape Photography Expedições Fotográficas & Explorações Urbanas