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Uma tarde de nevoeiro
A grande maioria dos Portugueses, muito provavelmente, nem faz a menor ideia que pelos dias de hoje poderíamos estar a falar castelhano devido a um trágico e longínquo acontecimento. E, porventura, o nosso glorioso País, seria um aglomerado de províncias Espanholas como consequência desse dia fatídico.
Filho do príncipe D. João Manuel e de Joana de Áustria, nasce a 20 de Janeiro de 1554 um dos mais conhecidos reis de Portugal, mas pelos piores motivos e, sobretudo, pelos mais místicos: D. Sebastião. Foi um nascimento celebrado com pompa e circunstância dado que umas semanas antes, seu pai falecera sem deixar qualquer herdeiro face às vicissitudes do contrato de casamento de Maria Manuela com o rei de Espanha. Sendo esta sua tia, e caso não existissem herdeiros, o trono de Portugal passaria para as mãos de Carlos, seu filho com o rei Filipe. Daí que a boa nova do seu nascimento sem problemas foi pretexto para rejúbilo em todos os Portugueses. O seu cognome foi “O desejado” visto dar continuidade à Dinastia de Avis. Porém, e como que augurando um reinado infeliz, o seu avô D. João III morre em 11 de Junho de 1557, tornando D. Sebastião, Rei de Portugal com apenas 3 anos de idade. Por isso, a regência foi assegurada pela sua avó, Catarina de Áustria e, posteriormente pelo seu tio-avô o Cardeal D. Henrique de Évora. Sendo Portugal uma das grandes potências da época, as rotas comerciais eram de extrema importância, ou seja, Brasil, norte de África e Índia. Neste curto período de tempo, foi dada relevância à fortificação desses mesmos territórios para darem azo a uma máxima rentabilização. Um dos seus primeiros marcos importantes foi a fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, vulgarmente conhecida pelos dois últimos nomes, em 1567 e em sua homenagem.
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Todavia, com as cada vez mais persistentes investidas dos Muçulmanos, e levando em consideração o facto de que a manutenção dessas praças servia apenas como baluarte de prestígio e tradição, D. Sebastião decide empreender a “Jornada de África”. Alcácer Quibir, torna-se prioridade muito por culpa da aproximação dos turcos ao Noroeste Africano, e consequentemente, da Península Ibérica.
Em 4 de agosto de 1578, no campo dos três reis, ocorre a batalha de Alcácer Quibir, que culmina com uma copiosa derrota das forças Portuguesas às mãos Abu Malique, Sultão de Marrocos. Reza a lenda que ao aconselharem-lhe a rendição, terá dito “A liberdade Real só há-de perder-se com a vida”. Ao ouvir isto, os restantes fiéis carregaram sobre os inimigos e D. Sebastião desapareceu no auge da batalha para nunca mais ser visto.
Ao longos dos anos surgiram várias teorias sobre o que realmente aconteceu na batalha, mas é do conhecimento geral no nosso País de que “O Adormecido” vai regressar numa manhã de nevoeiro para salvar a nação. Quem de nós nunca olhou, pelo menos uma vez, para um horizonte enevoado à sua procura? Eu acuso-me.