Projeto Identidade

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Suplemento Especial Comemorativo aos 55 anos do Jornal Município Dia a Dia - Edição 06 - Julho/2009

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Etnias Gente que faz parte do nosso dia a dia


.06 | Etnias 03

Apresentação

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Xokleng

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Xokleng - João Indaiá

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Português - Vicente Só

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Alemães

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Italianos

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Poloneses | Outras etnias

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Austríacos - Barão de Schneéburg

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Português - Araújo Brusque

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Miscigenação brusquense

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Italianos | Poloneses

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Negros

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Americano

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Árabes

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Uruguaios

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Japoneses

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Gaúchos

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Cariocas

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Paranaenses | Baianos

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Mato-Grossenses

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Cearenses

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Paulistano

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Brusque

PROJETO IDENTIDADE

Jornal Município Dia a Dia Rua Felipe Schmidt, 31 - sl. 01 Centro - Brusque - SC Fone: (47) 3351-1980 www.municipiodiaadia.com.br municipiodiaadia@municipiodiaadia.com.br comercial@municipiodiaadia.com.br

Diretor: Cláudio José Schlindwein Editora-Chefe: Letícia Schlindwein Edição e redação: Guédria Baron Motta

(Palavra e Cia - Agência de Comunicação)

Fotografia: Maicon Schlindwein e Fotos Divulgação/Arquivo Projeto Gráfico e Diagramação: Paulo Morelli | Chess Design Gráfico Impressão: Jornal de Santa Catarina

Colaboradores e Agradecimentos:

A sexta edição do projeto Identidade contou com o apoio e informação de muitas pessoas. Para elas, que guardam conhecimentos tão importantes sobre Brusque, nossa gratidão e respeito: Bia Renaux, Saulo Adami, Casa de Brusque, Sidney Uvanheccu Tschã Ya-Ói, Vilmar Walendowsky, Eder Cláudio Celva, Alexandre Magno, Aloísio Luís dos Reis, Unter Freuden Verein, Circolo Italiano di Brusque, Jorge Marcos, famílias Francisco, Crews, Dahla, Clavijo, Mello, Deulefeu, Milani, Santos, Leite, Souza e Silva.

CAPA:

Naomi e Txuli Léndjyl, crianças descendentes de índios Xokleng, primeiros habitantes do Vale do Itajaí. Hoje a comunidade está aldeada na Reserva Indígena de José Boiteux, com mais de 14 mil hectares e dois mil integrantes.


Apresentação

Etnia é um agrupamento humano homogêneo quanto aos caracteres linguísticos, somáticos e culturais. E, em 2009, quando o Jornal Município Dia a Dia completa 55 anos de fundação, é possível dizer que seu leitor compõe este cenário étnico vasto, que reúne a mistura de diversos povos. Entre os anos de 1870 e 1907, estima-se que o Brasil recebeu mais de dois milhões de imigrantes. É certo que o legado europeu da colonização ainda influencia nossos costumes e hábitos de vida. Mas, antes deles, eram os Xokleng que viviam aqui, sendo que algumas tradições também estão intimamente entrelaçadas à tribo indígena. Afinal, nem só de alemães, italianos e poloneses se faz a nossa história. Foto: Carolini Lombardi.

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Xokleng

Descendente de Xokleng, dona Maria comercializa artesanato indígena

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Conhecidos como “botocudos”, os Xokleng ocupavam o Sul do Brasil, desde as proximidades de Curitiba até Porto Alegre. Viviam da coleta, sobretudo do pinhão, da caça e pesca, sem acampamento fixo. “Eram de estatura mediana, compleição robusta, pescoço curto, peito largo, cabelos longos, pele lisa e cobreada”, explica Cátia Gagnoni, que defendeu sua tese de mestrado na Universidade Regional de Blumenau (FURB), com o título “O choque entre dois mundos – O contato entre o índio e o branco na colonização do Vale do Itajaí”. Hoje, descendentes de índios que sobreviveram ao massacre no Vale do Itajaí estão aldeados na Reserva Indígena de José Boiteux (SC).


Xokleng - João Indaiá

Em 1905, depois de um massacre no “Chapadão do Feuser”, em Ribeirão do Ouro, Martinho Bugreiro trouxe consigo duas crianças: João Indaiá e Ana Angantina. Elas foram adotadas por Maria Rosa e Vicente Schaefer, prontamente se transformando em membros da família. João Indaiá se casou, adotou duas crianças e trabalhou na Fábrica de Tecidos Renaux. Era integrante do Coral São Luiz, jogador do Sport Clube Brusquense e desfilou no Centenário de Brusque (1960) em um carro alegórico (foto). Educada na religião católica, Ana participava da Pia União das Filhas de Maria e morreu jovem, em 1925, de infecção pulmonar. Foto: Casa de Brusque

Português - Vicente Só

Homenagem a Vicente Só, no desfile do Centenário de Brusque

O primeiro morador da localidade que mais tarde se tornaria o município de Brusque foi Vicente Ferreira de Mello, mais conhecido como Vicente Só. Ele, que era português e vivia em Itajaí, teria fixado residência onde hoje é a Igreja Matriz São Luís Gonzaga, no Centro da cidade. Alguns historiadores acreditam que, mais do que isolamento, esse primeiro morador da cidade procurava ouro, através da mineração pelos córregos do Itajaí-Mirim. Infelizmente, da vida de Vicente Só pouco se sabe. A suposição mais provável é que tenha morrido antes de 1871, pois seu nome não está registrado nos livros de óbitos da Igreja Católica. Há apenas a menção de um menino chamado Sebastião, de três meses, com o mesmo sobrenome, que poderia ser um descendente. Foto: Casa de Brusque 5


ALEMÃES

Em 25 de julho de 1860 desembarcaram em Itajaí os primeiros colonizadores de Brusque: 55 alemães norteados pelo Barão Maximilin von Schneéburg. Até o final daquele ano, se somaram 290 adultos e 116 menores, pertencentes a 90 famílias. Entre alguns sobrenomes pioneiros, podem ser citados Boiting, Hoefelmann, Morsch, Neuhaus, Orthmann, Ostendarp, Richter, Scharfenberg, Walther, Wilhelm, Bodenmüller, Butsch, Debatin, Decker, Fischer, Groh, Heil, Hoerner, Huber, Imhof, Kling, Knoch, Mathes, Petermann, Rose, Rüffel, Schaeffer, Schlindwein, Schmidt, Siegel, Vogel, Waeschenfelder, Weick, Weitgenant, Baron, Baumgartner, Becker, Bittelbrun, Dei, Emmendörfer, Erthal, Graf, Habitzreuter, Hartmann, Herkert, Klein, Kohler, Lang, Meyer, Nitzel, Nuss, Oestreicher, Fachs, Rothaermel, Rübe, Schwartz, Veith, Werner, Heiler, Jonne, Münich, Rupp, Volker e Zimmermann. Foto: Casa de Brusque

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ITALIANOS

A corrente migratória italiana representou 42% (1,4 milhões) do total de imigrantes que se dirigiram ao Brasil entre 1870 e 1920. Três anos antes, com o objetivo de colonizar o sul do País, o governo passou a custear a viagem do Rio de Janeiro até o núcleo colonial, atribuindo um lote de terra a cada família imigrante, além de casas provisórias e um pedaço de chão desmatado para o plantio de subsistência. Já em 1874 foi firmado o contrato com Caetano Pinto, membro da Sociedade Promotora da Imigração, para introdução de cem mil imigrantes pelos próximos dez anos. Entre as primeiras famílias que aqui chegaram podem ser citados os sobrenomes: Tomasi, Bertolli, Paza, Gallotti, Piazza, Dietrich, Darrossi, Gottardi, Marchi, Arzem, Zandonai, Dadam, Piva, Feller, Sgrott, Dell´Agnolo, Cadore, Battisti, Cunha, Montibeller, Colzani e Morelli. Foto: Casa de Brusque

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Poloneses

Famílias como Polaschi, Klappoth, Telski, Morizki, Siedlarczyk, Podiacki, Glowacki, Ligoczki, Javinski e Sydlarcyk foram as primeiras colonizadoras polonesas de Brusque, em um total de 80 pessoas. Essas famílias receberam lotes na região que hoje compreende o bairro Águas Claras, após a desistência de imigrantes irlandeses e ingleses. A Polônia, no período de imigração, sofria problemas econômicos e sociais decorrentes de ocupações do território pela Prússia, Rússia e Áustria. Insatisfeitos com a situação do país, os moradores se viram incentivados a emigrar. Posteriormente, algumas famílias transmigraram para o Paraná. Foto: Casa de Brusque

Outras etnias

Foto mais antiga da localidade de Ribeirão do Ouro, registrada em 1920 e impressa no livro “Memória de Porto Franco”, do historiador Marlus Niebuhr

Em 1867, Brusque recebeu 237 imigrantes americanos, 129 irlandeses, 108 ingleses, oito suecos, cinco suíços, cinco canadenses e quatro belgas, sendo que a maioria destas pessoas foi morar no atual bairro de Águas Claras. No entanto, o péssimo comportamento de alguns destes moradores resultou em reclamações relacionadas à embriaguez, violência e conduta. Muitos, inclusive, abandonaram as terras designadas pelo plano de colonização, em busca de melhores condições de vida, rio acima, desde o Cedro até Ribeirão do Ouro. 8


Austríacos – Barão de Schneéburg

Apesar de não haver registros sobre a imigração de austríacos para Brusque, um representante dessa etnia marcou a história da colonização da cidade. Filho de Joseph Joahann, Barão Von Schneéburg e de Bárbara, Maximilian nasceu em 1799 e faleceu em 16 de setembro de 1869, em Franzebad. Durante 40 anos morou no Brasil e se dedicou ao governo. O seu envolvimento com a cidade está relacionado à coordenação da imigração para a cidade. Inclusive, sua participação resultou em uma homenagem, ao dar o nome da praça principal da cidade. Foto: Casa de Brusque 9


Português – Araújo Brusque

O homem que deu o nome à cidade de Brusque era descendente de portugueses. Conhecido como Conselheiro Francisco Carlos Araújo Brusque, nasceu em 1822 e era filho de Francisco Vicente Brusque. Seus parentes tinham tomado residência no Rio Grande do Sul e, desta maneira, ele se transformou em patriarca de uma das mais tradicionais famílias do Estado. Envolvido com cargos políticos desde a juventude, passou a atuar em Santa Catarina em 1859, como presidente da Província do Estado, onde fundou diversos núcleos coloniais, entre eles, Brusque. Foto: Casa de Brusque 10


Miscigenação brusquense

Integrantes do Unter Freunden Verein:William Mohr, Bruno Witzke, Clarí Wehrmann e Eder Luiz Maestri.

A mistura dos Xokleng com imigrantes da Europa e de todo o mundo formou um povo acolhedor, que impulsiona a economia com a força do trabalho e difunde a genialidade de suas idéias. Pelas ruas e esquinas, eles exibem diferentes cores nos olhos, tonalidades de pele, volume dos cabelos. Há também quem não nasceu aqui, que tem sotaque e costumes próprios e, mesmo assim, já adotou esta cidade como lar. Justamente para manter viva a cultura dos alemães que colonizaram Brusque, o Unter Freunden Verein ou Comunidade Entre Amigos se reúne há três anos e tem cerca de 20 participantes, descendentes ou não dos imigrantes. O ponto forte do grupo é estudar a língua, os aspectos gastronômicos, o cinema e as atividades de lazer do País. Apesar de valorizarem o passado da cultura, estão preocupados em não estereotipar os alemães. A intenção é conhecer e divulgar também os costumes da Alemanha atual.

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ITALIANOS

Crianças limpando a Praça Gilberto Colzani, em evento promovido por entidade italiana de Brusque

Fundado em 1993, o Circolo Italiano di Brusque se dedica à valorização da imagem e das tradições dos descendentes dessa etnia que moram em Brusque e região. A entidade promove difusão do conhecimento da língua, dos hábitos gastronômicos, musicais e folclorísticos, além de aproximar a ligação entre Brasil e Itália, através de acordos culturais intermediados pelo Consulado Geral da Itália com os Estados do Paraná e Santa Catarina. Para transmitir não só conceitos, mas também ações, o Circolo realizou, em 24 de outubro de 2008, o projeto “Puleno La Piazza” (Limpando a Praça), um movimento organizado pelo Governo Italiano em parceria com as escolas e bastante comum na Europa.

POLONESES

A família Walendowsky chegou em Brusque oito anos após o início da imigração européia e se instalou na localidade de Ribeirão do Ouro, conhecida na época como Porto Franco. Mas, por pouco o destino desses brusquenses não foi outro. Isso porque o patriarca, Miguel Walendowsky, planejava viajar para a Austrália e somente no porto foi informado de que naquela região havia animais que pulavam nas pessoas e costumavam “amassá-las”, em uma referência um tanto exagerada do canguru. Outro incentivo também contribuiu com a mudança do roteiro: a passagem para o Brasil custava metade do preço que o imigrante pagaria para ir até a Austrália. Com a mulher e dois filhos – o terceiro nasceu durante a viagem – a família partiu para Brusque. Por isso, dizem os descendentes, que o sobrenome Walendowsky é origem de uma família só. 12


Orgino Domingos Francisco, mais conhecido como Ginoca, é tido como o primeiro negro morador de Brusque e morreu no ano passado, aos 88 anos. Hoje, na casa onde morava, no bairro Jardim Maluche, vive a filha Umbelina, seu genro e quatro netos, entre eles, José, de 8 anos (foto). “Gostava muito do meu avô e sinto sua falta. Quando eu não estava, ele dizia que a casa ficava vazia”, diz o menino. Além de Umbelina, seu Ginoca criou mais nove filhos, sendo que sete deles continuam vivos e moram em Brusque: Lúcia, Avelina, Cipriano, Laureano, João, Umbelina e Eugênio. A família destaca que seu Ginoca era uma figura cativante. Boêmio, gostava de freqüentar os bares do município e, em muitos destes, ainda cantava. Em terra de europeu, os descendentes do seu Ginoca não se sentem vítimas de preconceito. Umbelina, por exemplo, foi à escola e aprendeu ao lado de meninas brancas. Certas vezes, no entanto, era necessário a professora intervir e explicar que a cor da pele não é doença e que nem passaria de uma criança para a outra através de um contato mais próximo. “Não posso reclamar do preconceito. Acredito que havia comentários, mas bem longe da nossa família, de modo que não pudéssemos ouvir. Aconteceram também poucos episódios de discriminação, mas nada que me faça sentir trauma”, analisa.

NEGROS

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AMERICANO

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James Thomas Crews, 79 anos, é natural de Carolina do Norte, Estados Unidos. Na juventude, quando trabalhava com fumo, recebeu um convite para atuar em uma grande empresa do ramo e passou um ano na Alemanha, estudando as doenças da plantação, o cuidado com insetos e os melhoramentos do adubo. Então, a transferência para o Brasil apareceu na sua vida. “Minha mãe não concordava com a mudança. Dizia que aqui havia apenas índios, cobras e jacarés”, lembra James que, apesar de viver 53 anos em solo verde-amarelo, ainda não perdeu o sotaque norte-americano. Ele, que casou e hoje vive em Brusque, entrou para a história da cidade no dia 8 de agosto de 1980, quando alertou até o prefeito de que a Ponte Irineu Bornhausen iria cair. Nada de bola de cristal ou conhecimento técnico. James apenas caminhava pela ponte quando ouviu um forte ruído e percebeu o deslocamento de alguns centímetros. Talvez não seja preciso citar que nem a família acreditou nas suas palavras quando, às 15h do mesmo dia chegou a notícia: a ponte caiu!


Nawal Dahla, 56 anos, é fiel à tradição islâmica e guarda na sua loja um exemplar do Alcorão. Natural de Jerusalém, seu pai viajou para o Brasil quando a menina tinha menos de um ano e retornou quando ela completara seis. Na volta ao país, ele estava acompanhado da mulher e dos filhos que, desde então, vivem no Brasil. Nawal mesmo, ao lado do marido e dos filhos, já morou em diversos Estados e vive há nove anos em Brusque. A mudança geográfica, no entanto, não interferiu na cultura da família que, mesmo sem Mesquita, mantém suas tradições religiosas. “A oração vale em todos os lugares, pois depende da fé em Deus”, diz Nawal, que usa lenço para esconder os cabelos e evitar olhares. Na casa da família árabe em Brusque, os ensinamentos exigentes da religião devem ser seguidos. As mulheres, por exemplo, são proibidas de casar com qualquer homem que não seja islâmico e tem a noção exata de que a atitude causaria extremo desgosto aos pais. “Minhas filhas não se preocupam com isso. Elas foram bem educadas e sabem que o destino para na frente da gente, não adianta. Tudo tem a hora certa, determinada por Deus”, completa ela que, pela tradição e em respeito ao marido, não se deixa fotografar.

ÁRABES

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UruguaioS

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Em busca de melhores condições de trabalho e de vida, a enfermeira e atualmente professora Lucy Pérez Clavijo e o comerciante Carlitos Clavijo saíram do Uruguai, país Natal, para morar no Brasil. O convite partiu de um brasileiro, que queria estabelecer em Blumenau um comércio de bicicletas, assunto favorito e de total domínio de Carlitos. No entanto, foi em Brusque, no ano de 1983, que o casal se estabeleceu e fundou o Cicle Carlitos, loja de venda e conserto de bicicletas, além de incentivadora dos talentos do ciclismo de Brusque. “Nunca nos sentimos imigrantes. Parece que as pessoas estavam nos esperando de braços abertos”, comenta ele. De tanto que se identificaram com o país e com a cidade, nunca mais pensaram em voltar a morar no país vizinho. Tiveram dois filhos no Brasil, Alexander, 25 anos, atualmente no México, e Valquíria, 21 anos, morando em São Paulo, que também nutrem, assim como os pais, a vontade de viver em outros lugares do mundo. Lucy e Carlitos mantêm alguns costumes da terrinha, como beber chimarrão, fazer o churrasco assado e falar espanhol entre si.


JAPONESES

Naturais do Estado de Nagano-Ken, Japão, os pais de Francisco Takizawa chegaram ao Brasil em 1928. Na bagagem traziam o sonho de prosperar na terra verde-amarela para, nos anos seguintes, retornarem ao Japão. Mas isso não aconteceu. A família, assentada em São Paulo, trabalhava na lavoura de café, onde nasceram 12 filhos. Destes, todos permanecem no Brasil, estando a maioria concentrado nos Estados de São Paulo e Paraná. Apenas Francisco veio pra Brusque, onde trabalha como médico veterinário, há 29 anos. Aqui casou com Esmênia e teve dois filhos: Felipe e Aline (foto). “Fui bem acolhido e gostei do nível de cultura deste município”, diz. 17


Gaúchos

O gaúcho Luiz Alfredo de Mello, 62 anos, ao lado da filha Vanessa, 26. A família, que se constituiu em Santa Rosa (RS) também é formada pelas filhas Giovana, Andressa e a mãe Izolete (in memoriam), todos moradores de Brusque. A mudança, no entanto, foi provocada pelo genro de Luiz, que recebeu uma promoção para trabalhar na cidade e trouxe uma de suas filhas, Andressa, na bagagem. Depois de seis meses a família Mello já estava completamente instalada e empregada no município, em abril de 2004. “Sei que o pai pensa em voltar, mas eu não quero. A cidade é calma e nossas condições de crescimento são melhores do que no Rio Grande do Sul. Quero ficar aqui”, diz Vanessa, que trabalha como secretária. Mesmo vivendo em Santa Catarina, a família preserva os costumes gaúchos: toma chimarrão, torce para o Grêmio e se reúne aos domingos para o tradicional churrasco.

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Cariocas

Há muitos anos Brusque habitava o pensamento da carioca Laura Deulefeu Marques. Isso porque alguns parentes já viviam aqui e, sua filha mais velha, Alessandra, sempre mencionava em seguir o caminho da madrinha aqui, formada e atuante na área de Técnica Têxtil. Tão logo a jovem terminou o Ensino Médio, veio para a cidade na companhia de duas amigas, com trabalho e estudo garantidos. Quando a caçula da família, Carina, começou a cogitar a possibilidade de mudança, dona Laura não teve dúvidas: vendeu o bar da família no Rio de Janeiro e aportou na cidade, em 30 de agosto de 2000. Desde então, muita coisa mudou. Com mais de 50 anos, ela não conseguiu emprego na área de formação: contabilidade. E, para garantir o sustento do lar, já foi revisora de estamparia, inspetora de qualidade e hoje trabalha como merendeira, na rede pública municipal. Carina, a caçula, casou com um brusquense e, da união, nasceu a pequena Beatriz, agora com dois anos. 19


Baianos

Foi numa cidadezinha no Sul da Bahia que começou a aventura de Geraldo Alves dos Santos, um baiano bastante agitado. Filho de dois baianos, ele nasceu em Itabuna, região cacaueira. Aos oito anos de idade, foi morar com a mãe e outros irmãos em São Paulo, onde trabalhou e constituiu família. Mais tarde, em 1993, a convite de um empresário, veio trabalhar como desenhista em uma empresa de etiquetas. Em janeiro do aaaano seguinte, desembarcariam em Brusque a esposa Jesua e os dois filhos. Bem recebido na cidade, nunca mais pensou em voltar a morar na terra natal. Firmou-se como representante comercial, comprou uma casa própria, passou a participar de atividades religiosas e esportivas. Há 11 anos, os laços com a cidade se tornaram ainda mais fortes com o nascimento da filha Beatriz, uma legítima brusquense. Feliz por morar em Brusque, cidade que considera segura e estável, não resiste a alguns costumes da Bahia, entre eles, os gastronômicos. Gosta do requeijão típico da terra e peixe feito com azeite de dendê. Na foto, Geraldo com a esposa e a filha Bia.

Paranaenses

Arlindo Milani, 54 anos, é descendente de gaúchos, mas nasceu em Pérola do Oeste, Paraná. Chegou em Brusque, sozinho, aos 15 anos, para estudar no Seminário de Azambuja, onde vivia seu irmão, hoje padre, Alvino Milani. “Depois de quatro anos saí do seminário, já que não tinha vocação. Fiz cursos técnicos e morava de aluguel. Ia de bicicleta até as construções, em busca de trabalho. Na volta, coletava aparelhos quebrados naquela vizinhança e passava a madrugada fazendo a manutenção. Para conseguir um dinheiro extra, também tocava violão em festas e era professor”, recorda ele. Casado há mais de 30 anos com Nadir e pai de Evandro, hoje, Arlindo é empresário e trabalha na realização de um sonho: concluir um espaço de festas com o moinho da infância, trazido em dois caminhões de madeira, do Paraná. “Não sairei nunca de Brusque e faço propaganda da cidade por todo lugar. Sempre que chego aqui, agradeço a Deus por estar nessa terra”, acrescenta. 20


Mato-grossenses

Andréia dos Santos Leite, 26 anos, acabou de chegar em Brusque com a família, vinda do Mato Grosso. Eles, que venderam tudo o que tinham, vivem hoje de aluguel e ainda não superaram a vulnerável fase de adaptação. Andréia e a irmã Joelma trabalham na mesma empresa. Já os maridos das duas são, respectivamente, auxiliar de pedreiro e auxiliar de estamparia. “Minha irmã mais velha mora em Brusque há quatro anos e ela nos falou sobre a facilidade de emprego. De fato, estamos todos trabalhando e começando uma nova vida nesta cidade”, afirma Andréia.

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Cearenses

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Os cinco irmãos de Cícera Carvalho da Silva moram em Santa Catarina. Todos deixaram o Ceará pelo mesmo motivo: falta de emprego. Na companhia do marido Edenildo e dos filhos Junior e Geiciane, ela vive em Brusque há quatro anos e comemora a história que construiu aqui. Edenildo ficou apenas uma semana sem trabalho e hoje é revisor de malhas. Para Cícera, no entanto, a admissão foi um pouco mais demorada e, em um mês, ela se tornou auxiliar de expedição. Agora, até Junior, de 16 anos, trabalha como “Menor Aprendiz”, um programa que auxilia a inserção do jovem no mercado de trabalho. Da família Carvalho, Antônio Giovan foi o último a chegar no município, ao lado da esposa Jacilene e da filha Maria Eduarda. O casal, que por 12 anos morou em São Paulo, reconhece os benefícios da cidade pequena. “Estranhamos no começo. Aqui os muros são baixos, as casas permanecem abertas. Lá não conhecíamos nem o vizinho. O único problema é o frio que faz nessa cidade”, ponderam.


Paulistano

Foi através da transferência de emprego do pai que Maxwell Ribeiro de Souza chegou em Brusque, há oito anos. Hoje casado com a brusquense Márcia, ele trabalha como encarregado de expedição e lembra do preconceito sofrido nos primeiros meses de mudança. “As pessoas são mais fechadas e senti dificuldade para fazer amigos. É diferente de São Paulo, onde a maioria dos moradores são de outras cidades e essa mistura de etnias é mais comum”, analisa. Para matar a saudade de quem vive longe, Maxwell viaja pelo menos três vezes ao ano à terra natal. Depois de abraços e longa conversa, é hora de voltar ao município que elegeu como lar, longe, sobretudo, da violência do grande centro urbano.

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BRUSQUE

Segundo os dados migratórios coletados pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Geografia (IBGE) em 2000, Brusque era composta por mais de 75 mil pessoas, dos quais 120 eram naturais da região Norte do Brasil, 446 do Nordeste, 1.491 do Sudeste, 140 do Centro-Oeste e 6.749 da região Sul, sendo desses, 5.335 paranaenses. Hoje, quando as estatísticas já ultrapassam o marco de 100 mil habitantes, é possível encontrar a riqueza da diversidade étnica em cada esquina. São diferentes sorrisos, olhares, estaturas, cores, modos de falar. É na heterogeneidade que descobrimos a única característica que toda essa gente tem em comum: o carinho e adoção como lar desse pedacinho de terra tão amada que chamamos “Brusque”.

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