Gambarê, um coração gentil.
Francisco Alessandri
GAMBARÊ UM CORAÇÃO GENTIL A CERÂMICA COMO EXPRESSÃO EMOTIVA O trabalho de Francisco Alessandri foi inspirado numa expressão do coletivo japonês “Gambarê” - uma expressão da cultura nipônica que pode signicar “força companheiro”, “se esforce”, “estamos juntos”, “avante”, “coragem”. Seria um ato individual dito a alguém, acentuando o valor do coletivo, uma ação gentil quase esquecida nos dias de hoje onde a sociedade estimula um progressivo comportamento de competitividade. O artista busca a reexão sobre este comportamento em nossa sociedade com o sentimento de valorização do coletivo, companheirismo e da gentileza. Com base nessa proposta, foram criados objetos cerâmicos emotivos, nas quais a gura humana e o coração tornam-se representados por bonecos que destacam o Gambarê como personicação da gentileza, do abraço e do companheirismo. O ceramista também reúne inuências do aspecto Haniwa: bonecos cerâmicos funerários encontrados no Japão, verdadeiros registros do cotidiano de uma determinada época. Suas esculturas, quase infantis, valorizam o gestual de uma ação e são feitas por traços simples, inspiradas pelo gesto da gentileza e delicadeza. Suas inspirações além do haniwa, advém de inuências dos trabalhos do desenhista J. Carlos, que registrou seu tempo através de sua arte. Suas linhas estão inseridas no mundo da caricatura e do desenho. Propondo uma comparação, percebe-se que seus traços conversam com o estilo do Mangá, principalmente quando se observa as faces de alguns de seus personagens. O Mangá (desenho narrativo japonês) e a Toy Art (uma denominação de um novo gênero de arte contemporânea) também são fortes fontes de inspiração para o desenvolvimento de suas esculturas. Na concepção do artista, a Toy Art pode ser entendida como uma nova geração de «brinquedos» que podem carregar mensagens reais ou oníricas, trágicas ou alegres.
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No Brasil, a Toy Art ainda não foi totalmente reconhecida pelos artistas e público; no entanto, galerias, sites e revistas têm melhorado sua compreensão através de concursos e divulgações. De uma forma geral, a Toy Art é muito recente e está em nosso país desde meados da primeira década desse século, o que nos mostra um movimento ainda moldável, como uma matéria viva, mutável . Francisco gura como um artista cheio de inuências e propostas, que valoriza algo fundamental, mas que passa desapercebido no cotidiano: a gentileza, o companheirismo e a ~ coletividade. ~ ´ ~
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Texto baseado ~ no ~trabalho de conclusão de curso de Francisco Alessandri para obtenção do título de Bacharel em Artes Aplicadas com ênfase em cerâmica pela Universidade Federal de São João delRei.
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Dentro desta temática foram desenvolvidos quatro grupos de peças: o primeiro é constituído por quatro bonecos cordiais que representam o Gambarê através do abraço, com gestos do desejo, da doação e do toque. Os bonecos se apresentam desnudos para enfatizar a pureza da criança e do abraço. Os gorros neles colocados foram recuperados da memória infantil do artista, a lembrança de uma toalha com orelhas de coelho. O gorro envolve os bonecos em uma atmosfera de proteção e meiguice. O abraçar signica envolver algo ou alguém, estabelecendo afeto entre seres, sejam estes pessoas, animais ou objetos. Um simples e gentil gesto que cria um laço com o braço, possui o poder de confortar e reconfortar um coração. Sendo assim, o abraço é um elixir para os dias de hoje. Signica partilhar as energias do companheirismo e da gentileza.
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O segundo grupo é composto por bonecos enleirados, cada um com um semblante único e cor singular. Possuem em sua mão um coração que se encaixa nas costas do anterior, confortando com um gesto de companheirismo e oferecendo seu próprio coração para preencher o espaço vazio do outro. A última peça apresenta o espaço onde se localiza o coração, convidando o espectador a participar do processo de Gambarê.
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A terceira instalação possui desenhos infantis aplicados em azulejos com o uso dos decalques. O desenho é uma manifestação da expressão humana, muito antiga, que revela os sentimentos e pensamentos por representações grácas, reais ou não.
O quarto grupo é composto pelas Gentilezas - bonecas que oferecem abraços, criando relações emocionais com seus expectadores. Um verdadeiro encontro de almas.
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Com excelente desenvoltura na cerâmica, Francisco Alessandri reúne nesta exposição individual, um conjunto expressivo de sua mais recente proposta plástica. Com vínculos afetivos e de descendência à cultura japonesa, já há algum tempo vem explorando elementos estéticos relacionados às haniwas – esculturas ritualísticas, funerárias - e mostra amadurecimento autoral no campo da escultura. Com maestria, caminha por técnicas variadas, utilizando como ferramentas construtivas a modelagem livre, o torno e o molde, sem que haja algum engessamento devido ao modo de construção de suas peças. Mas, além de exposto o resultado de sua pesquisa plástica, conjunção da trajetória de inuências, técnicas e autoria, seu trabalho sugere algo a mais ao expectador. No complexo mundo da arte contemporânea, onde há expressiva variabilidade de propostas, é característico depararmos, independente dos suportes ou técnicas, com temas que reetem sobre o comportamento humano inserido no meio social. Como proposição artística, vejo que o trabalho de Alessandri conduz o expectador, mesmo que inconscientemente, a pensar sobre sua relação com o outro e, sutilmente, se faz como ato provocativo. Questiona o egoísmo, a ganância e a intolerância e exclama Gambarê! Vai na contra mão da sociedade que avalia a pessoa por suas posses e não por suas qualidades como indivíduo. Gambarê é expressão de força, é companheirismo, é respeitar e compreender cada indivíduo com suas intrínsecas qualidades.
Bruno Amarante
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Francisco Alessandri é um artista de excepcional originalidade e coragem. Abraçando a cerâmica como linguagem, reorganiza sua vida em torno deste ideal, abandonando, inclusive, sua prossão como dentista para buscar em São João del-Rei, mais especicamente no curso de Artes Aplicadas, ênfase em cerâmica a concretização de sua vocação. Se dedica à compreensão profunda desta linguagem ancestral durante quatro anos e o resultado deste intenso período de estudos pode ser apreciado na exposição Gambarê, que contém como cerne o corpo do trabalho apresentado como Conclusão de Curso e alguns desdobramentos posteriores deste conjunto. Francisco vai buscar em suas próprias raízes orientais e nas raízes históricas da cerâmica japonesa sua inspiração inicial. A cerâmica funerária conhecida como Haniwa, testemunha da história deste povo, empresta características gurativas e uma aura de estranhamento pois ao mesmo tempo que representa pessoas e animais , expõe seu interior oco nos recortes e olhares vazios. Esta tensão entre o lúdico e o lúgubre pode ser pressentida nas esculturas Gambarê, onde os bonecos nos instigam a investigar todas as camadas de seu signicado, que é muito mais profundo do que as carinhas felizes nos fazem crer inicialmente. Cria assim uma ponte contemporânea entre estas referências históricas e movimentos arrojados de vanguarda como o Toy Art, que tem muito a dizer sobre os sentimentos e relações humanas, exploradas a partir da representação do universo infantil. Gambarê é uma série intrigante e de excepcional riqueza poética e visual, expondo a cerâmica em suas características mais autênticas como a cor do barro, a queima em alta temperatura e seus métodos construtivos, superfícies muito ricas e variadas, contendo técnicas e materiais como o esgratto, engobes e esmaltes. Porém, o mais notável neste conjunto é que carrega em seu interior a expressão mais pura da alma deste artista, que se dene muito bem pela exortação Gambarê!
Zandra Miranda
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Francisco Alessandri faz parte da primeira geração de ceramistas graduados no Brasil pela Universidade Federal de São João del-Rei. Atualmente trabalha em seu em atelier e no projeto de pesquisa e extensão da UFSJ: “Ateliê de cerâmica da APADEQ – Arteterapia e Geração de Renda”. Neste projeto a preparação e modelagem do barro são instrumentos valiosos na recuperação da dependência química. Participou em 2011, em São Paulo, da exposição Marias Haniwas, Cerâmica Contemporânea Brasileira. Conheça mais o trabalho do artista através do «https://www.facebook.com/pages/Gambarê-UM-CoraçãoGentil/1457241714553552?sk» ou pelo e-mail «contatogambare@gmail.com»
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Universidade Federal de Viçosa Nilda de Fátima Ferreira Soares Reitora Demétrius David da Silva Vice-reitor Clovis Andrade Neves Pró-reitor de Extensão e Cultura Luciana Bosco Assessora Especial da Pró-reitoria de Extensão e Cultura Geraldo Leandro da Silva Filho Chefe da Divisão de Assuntos Culturais Michele Micheleti de Mello Coordenadora da Pinacoteca da Universidade F ederal de Viçosa Jéssica Miranda Conceito e projeto gráco - Convite e Cartaz Rafael Garotti Bolsista Projeto Arte Digital: interlocução entre memória e arte por meio de novas tecnologias Mateus Abrantes Célia Maria de Andrade Rocha Equipe Pinacoteca Michele Motta Conceito e projeto gráco - Catálogo Francisco Alessandri Seleção de Textos
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
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