Revista LGBTQIA+

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GAYMERS

E A REPRESENTATIVIDADE

Apesar de a comunidade LGBTQIA+ estar cada vez mais presente no universo dos games, infelizmente ainda se torna forte as manifestações de preconceito: 35% dos jogadores LGBT especificamente já sofreram assédios graves por suas sexualidades.

Apesar de a comunidade LGBTQIA+ estar cada vez mais presente no universo dos games, infelizmente ainda se torna forte as manifestações de preconceito: 35% dos jogadores LGBT especificamente já sofreram assédios graves por suas sexualidades. Como grande parte dos jogos online é conhecida por esses ambientes tóxicos, as pessoas que fazem parte desse grupo acabam recorrendo ao anonimato nos games por medo de sofrerem hostilidade. E é nessa realidade que a representatividade se torna tão importante, visto que uma pessoa se sente muito mais segura em um meio no qual ela se encontra e se identifica, é essencial uma presença cada vez maior de pessoas LGBT no universo dos games, através de personagens, streamers e jogadores profissionais. Por muitos anos, o universo gamer foi ocupado basicamente por homens heterossexuais. O videogame sempre foi rotulado como “brinquedo de menino” e a própria indústria dos games tratou de masculinizar seus produtos e serviços para agradar seu principal público-alvo.

Como tudo que o machismo toca se torna radioativo, a participação de mulheres e de pessoas LGBTQ+ no meio gamer fere a masculinidade frágil dos “machões”, que tendem a reagir com discursos de ódio e outras atitudes criminosas. No entanto, cada vez mais vemos gamers LGBTQ+ ocupando esse espaço, representando e incentivando seus iguais a fazerem o mesmo. Com muita luta e militância, o mercado vem mudando e se tornando cada vez mais inclusivo, mesmo que a passos lentos. Na coluna de hoje, vamos falar sobre a luta por respeito e representatividade LGBTQ+ no universo gamer, conhecer alguns dos grandes nomes que estão nos ajudando a abrir esse caminho e a combater a LGBTQfobia. Também vamos entender um pouco mais sobre os nossos direitos e sobre como agir quando esses direitos não são respeitados por aqueles que se sentem os donos do joguinho. Vem comigo!


Em Fortaleza, Ceará, um menino gay provoca risadas e piadinhas ao entrar em um fliperama. Aquele ambiente predominantemente ocupado por homens heterossexuais, possuía o que esse menino mais gostava: os games. Sempre que podia, ele estava por lá, jogando e aturando os assédios morais. De certa forma, acabou até se tornando popular entre os frequentadores do fliperama, que deram a ele o apelido de Princesa.

nunca imaginou que isso poderia dar certo para ele. Afinal, quem vai querer assistir a um homossexual afeminado jogando videogame? Um dia, incentivado pelos amigos e pelo aperto financeiro, ele decidiu tentar. Criou uma conta na Twitch, colocou uma peruca e, sem tirar a barba, se maquiou. Abriu a câmera.

Naquele momento, ganhamos Samira Close, a Madrinha, a famosa “filha do dono do Free Fire”. Samira Close, personaTantos dias e horas de jogati- gem (ou alter ego) de Wenner na tornaram “Princesa” um dos Pereira, se tornou a Drag Quemelhores players daquela re- en gamer mais famosa da ingião. Ao ponto de às vezes ser ternet brasileira. requisitado para jogar no lugar de algum marmanjo que es- Na época do fliperama, mal tava prestes a perder a última sabia ele o ato político que ficha. era estar lá, naquele espaço, sendo quem ele era, fazendo — Ô Princesa! Tô na última vida, o que gostava de fazer… Mal se eu perder já era… Salva a fi- sabia ele o símbolo que se torcha aqui pra mim! naria no futuro e o impacto que ele causaria na comunidade Mais tarde, veio a fase das lo- gamer e na vida de milhares de cadoras, onde “Princesa” po- jovens LGBTQ+. dia jogar em consoles como Super Nintendo, Mega Drive e Samira Close tornou-se amaPlaystation, pagando por hora da e admirada por milhares de de uso. E alguns anos depois, pessoas que se sentiram reprecomeçou a jogar em casa, no sentadas. Mas, com a grande PC. exposição da sua imagem, Samira também se tornou alvo de Na época, muitos gamers já haters e vítima de crimes de inganhavam dinheiro na inter- tolerância nessa aparente “ternet fazendo streams e postan- ra sem lei” que é a internet. do gameplays, mas “Princesa”


Se antes o chavão normativo definia os games como “coisa de menino”, essa hostilidade vem sendo desconstruída como reflexo das demandas e transformações observadas na própria sociedade.

‘‘Gaymer’’ Mistura das palavras “gay” e “gamer”

Pessoa que se identifica como LGBT e participa ativamente na comunidade dos videogames

Com a interatividade do meio digital, a inserção e interação de grupos minoritários no universo dos games – incluindo os eSports – aumentou, incluindo os “gaymers” e as mulheres. No entanto, isso não corresponde a uma aceitação imediata, e manifestações de rejeição, ódio e preconceito ainda são comuns.

A presença do público LGBT se destaca entre os gamers brasileiros:

Esse cenário, observado em todo o mundo, indica o conflito latente entre grande parte dos jogadores homens e as jogadoras mulheres e LGBT. Parte do primeiro grupo deseja manter a visão “tradicional” dentro da comunidade de games; o segundo quer ser não apenas incluído igualmente nessa comunidade, mas também mudar a maneira como é representado.


O crescente interesse por canais de gaymers no YouTube indica uma busca maior por diversidade e representatividade por parte do público:

No caso das personagens mulheres nos jogos, elas são frequentemente desamparadas, vulneráveis, jovens e sexualizadas. Já as pessoas LGBT são representadas de várias maneiras, a maioria delas reforçando estereótipos. Uma maneira pela qual isso ocorre é através da confusão de gênero, um método nos videogames (e outras mídias populares) que utiliza estereótipos para generalizar e retratar supostos traços de gênero e sexualidade. Um exemplo de confusão de

gênero nos videogames é usar características de travestis para retratar um personagem homossexual.

ajuda a provocar mudanças. Denunciar atitudes e falas de machismo, racismo e homofobia, entre outros, conhecidas como “rage”, é um dos camiNesse sentido, o mini docu- nhos para elevar a conscientimentário LGBTQIA+: eSports de zação a respeito das ofensas e Todas as Cores, lançado no dia do seu caráter criminoso. Para Internacional do Orgulho LGBT coibir o rage, alguns jogos e de 2019, discute como a este- fóruns contam com mecanisreotipação e o preconceito mos de denúncia que podem afetam esse público no cenário ser usados pelos usuários que gamer nacional. se sintam ofendidos de alguma maneira. Apesar das resistências, a própria presença nesses espaços



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