O verbo no infinito Ser criado, gerar-se, transformar O amor em carne e a carne em amor; nascer Respirar, e chorar, e adormecer E se nutrir para poder chorar Para poder nutrir-se; e despertar Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir E começar a amar e então sorrir E então sorrir para poder chorar. E crescer, e saber, e ser, e haver E perder, e sofrer, e ter horror De ser e amar, e se sentir maldito E esquecer de tudo ao vir um novo amor E viver esse amor até morrer E ir conjugar o verbo no infinito... Vinícios de Morais
Nascimento é início, estivemos e estaremos sempre marcados por nossa origem primeira, porque tudo nasceu ou nascerá um dia é o princípio inevitável, é o verbo do infinito, é uma das primeira pergunta da humanidade: de onde viemos? Como nascemos? É por isso que seja qual for o lugar, a cultura, o modo de vida, para tudo existe seu princípio, seu nascimento e fundamentá-lô é construir a primeira base da cultura de um povo.
A terra nasceu é dela as árvores que alimentam os animais. E nesse processo, está o homem que nasceu é dele nasce as lendas, as artes: a cultura.
4000 a.C
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1453
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Pr茅-hist贸ria
Pinturas rupestres. À esquerda, possível representação de um parto pré-histórico. Parque Nacional Serra da Capivara, Piau.
Pré-história Existem poucos documentos que certificam a forma de nascer nos períodos Paleolítico Inferior e Superior, Neolítico e Idade dos Metais. Paleolítico Inferior • (Antiga idade da pedra 500.000 A 30.000 aC) • Esboço de sistema social. • Descoberta do fogo. • Era do Gelo. Aparece o homus erectus, Neanderthal, de hábitos nômades, com habitação em cavernas, alimentação eminentemente herbívora. • Acasalamento típico. • Matriarcado (as mulheres pertenciam à comunidade, desconhecendo o verdadeiro pai das crianças). • Por este motivo o nascimento era isolado e sem nenhum tipo de ajuda. Similar ao que acontece na atualidade em algumas tribos da África e Amazonas, no Brasil.
Índia da África tendoo parto sem ajuda. Segundo Liselotte Kuntner 1983
Índia da África tendo o parto sem ajuda. Segundo Liselotte Kuntner 1983
A mesma índia vista de costas com o recém nascido a seus pés. Segundo Liselotte Kuntner -1983
A mesma índia vista de costas com o recém nascido a seus pés. Segundo Liselotte Kuntner -1983
Pré-história Paleolítico Superior: • (Quarta glaciação, 30.000 a 18.000 aC). • Aparece o homus sapiens, Cromagnon, de hábitos sedentários, atirador de dardos, alimentação carnívora. • Sistema social mais complexo. • Inicio da linguagem, da arte (cavernas de Altamira). • Acasalamento. • Patriarcado (as mulheres começam a ter parceiro fixo). • Ritos funerários e magia. • O parto começa a ser assistido por magos, familiares ou parteiras. Aparece a couvade (descanso e presentes para o pai).
Pré-história Neolítico: • (Idade da Pedra - 18.000 a 5.000 aC). • Diversos grupos dispersos na Turquia e Irá. • Domesticação de animais pequenos. • Agricultura. Teares simples. Barcos. • Vida urbana. • Os nascimentos começaram a ser atendidos por parteira ou pelo marido.
• Surge nesse período o culto à Deusa Mãe. • Várias esculturas representando uma mulher com seis fartos e grande ventre. • Símbolos da fertilidade. • Chamada "Vênus Primitivas”.
Peça arqueológica mais antiga tendo o parto em posição de cócoras. Encontrada em escavações em Catal Hüyük na Turkia Central. De 6.500 a 5.700 aC. Museu arqueológico de Ankar. A Deusa do Parto, encontrada em Çatal Hüyük
Pré-história Idade dos Metais: • (5.000 a 4.000 aC). • Grupos no Egito e Grécia. • Trabalhos com cobre, estanho, bronze e ferro ao final. • Avanços da agricultura, transporte e industria. • Aparece a escrita. • Vida Urbana estratificada e Rural. • Estado e Religião como Instituições. • Nascimentos atendidos por parteiras nas cidades e na zona rural pelo marido, que tinha experiência em atender partos nos animais. • Alguns métodos alternativos para atender partos e facilitar o nascimento na posição vertical.
Antiguidade
Idade Antiga Civilizações Oriental e Grega: • Organização social complexa. • Dinvindades apresentadas através do mito. • Os nascimentos eram realizados por parteiras empíricas. • Parturiente em posição vertical, apoiada em tijolos, ou mesmo no colo do marido ou de pessoas da comunidade treinadas para isto (boas de colo), em domicilio. • Na Grécia, o parto ocorria em casa. • A parturiente era assistida por uma maieuta e por três ou quatro amigas ou parentas, e os físicos eram chamados apenas na ocorrência de complicações (O'Dowd e Philipp, 1994:44; Rezende, 1974:5). • As maieutas eram geralmente mulheres que tinham parido filhos e estavam na menopausa. Mulher na Pérsia tendo o parto apoiada em três tijolos
Idade Antiga
Imagem de uma mulher parindo de c贸coras, amparada por duas divindades; Templo de Hathor de Dendera (304-30 BC; Museu Eg铆pcio, Cairo).
Idade Antiga A religião e a mitologia no nascimento: • O culto de Ísis no Egito antigo Ísis era entre os egípcios a deusa protetora da medicina, da espécie humana, da magia, dos encantamentos, da fecundidade, da maternidade, e protetora das mulheres em todos os problemas peculiares a este sexo.
Ísis amamentando Hórus (Museu do Louvre)
Idade Antiga A religião e a mitologia no nascimento: • Ísis é freqüentemente representada amamentando Hórus, e muitas de suas estátuas foram levadas à Europa como representação de Maria amamentando Jesus.
O culto a Deusa Mãe nunca foi abolido, apenas novas representações surgiram, cada cultura criou a sua.
Idade Antiga
A religião e a mitologia no nascimento: • As divindades Gregas A deusa Maia, ou Maya , "avó da mágica", era a protetora dos partos, mãe de Hermes, conhecida também como uma das Plêiades.
(Hermes e) MAYA
Idade Antiga
A religião e a mitologia no nascimento: • As divindades Gregas Afrodite mais do que Deusa do Amor. Ela era a Deusa da Vida, que gera, que nutre e faz frutificar as sementes, é a própria A Grande Mãe.
Pintor francês William Bouguereau. O Nascimento de Vênus.
O nascimento de Venus. Sandro Botticelli
Idade Antiga A religião e a mitologia no nascimento: • As divindades Gregas O mito da cegonha • Havia uma ninfa que gostava muito de bebês . • Ela era amiga de uma deusa que casou – se com um mortal e foi expulsa por Zeus , do Olimpo , por causa disto . • Zeus castigou a deusa , esta não poderia engravidar, seu maior sonho . • A ninfa soube desta história e resolveu procurar na Terra por um bebê abandonado . • Esta criatura andou e caminhou bastante , mas não encontrou nada . Ela decidiu nadar num rio da Grécia . • Quando , de repente , ela viu uma cesta flutuando , onde se encontrava um neném . A ninfa levou a criança até a deusa. • Zeus ficou furioso e como castigo transformou a ninfa em cegonha . • Reza a lenda que quando uma cegonha faz ninho na chaminé de uma casa é sinal de que uma das mulheres ficará grávida logo .
Idade Antiga A religião e a mitologia no nascimento: • O culto de Juno na Roma antiga Entre as romanas, existia um "culto obstétrico popular" (Mettler, 1947:938), o de Juno Lucina. Lucina Dea (deusa que dá à luz), era o termo aplicado tanto a Juno quanto a Diana em suas tarefas relativas ao parto (Mettler, 1947; Walker, 1984. Havia em Roma altares para Juno, onde as grávidas queimavam incenso.
Mosaico de carácter mitológico representando a Deusa Diana, encontrado na antiga cidade romana de Volubilis, Marrocos)
Idade Antiga A religião e a mitologia no nascimento: • O culto de Juno na Roma antiga • Festas eram feitas dedicadas à fertilidade feminina. • Levavam-se oferendas a Juno. • Celebravam-se ritos e organizavam-se banquetes. • Em outras festas, as Matrais, ocorridas em junho e igualmente dedicadas a Juno em sua forma de Mater Matuta (Mãe do Amanhecer). • Mater Matuta seria também uma deusa dos partos e seus ritos eram associados à fertilidade e à maternidade, função social respeitável naquela sociedade.
“Juno Barberini”. Museu Pio-Clementino, Vaticano.
O nascimento em outras culturas O nascimento no judaísmo antigo: • O nascimento de um filho na família judia era o mais feliz dos acontecimentos. • Segundo o costume antigo deveria haver uma festa aonde todos os familiares, vizinhos, amigos e pessoas que vivessem nas proximidades seriam convidados a rejubilarem juntos. • As mulheres de Israel se orgulhavam em dar à luz rápida e facilmente. • Isso não evitava que sofressem as dores do parto, como ocorria, de acordo com a ordenação do Deus hebreu, descrita na Toráh. • Elas eram ajudadas por parteiras que usavam um assento especial. • Mas as mulheres judias podiam ajeitar-se perfeitamente sem o auxílio de parteiras.
O nascimento em outras culturas O nascimento no judaísmo antigo: • Em alguns casos, o desejo de assistir a um parto era tão grande por parte dos Rabinos, que eles abriam uma exceção na lei sagrada do descanso sabático: “Era lícito ajudar a mulher em trabalho de parto, levar uma parteira até ela, amarrar o cordão umbilical e até, como afirma o tratado do Shabaath (leis do sábado), cortar o mesmo.” • O Pai não podia participar do nascimento, mas aguardar até que fosse lhe dada à notícia. • Se um dos ancestrais estivesse presente, ele recebia este privilégio, do reconhecimento, como no caso do patriarca José, cujos bisnetos “tomou sobre os joelhos”. • A criança era lavada, esfregada em sal (pratica esta registrada no Tanach – Bíblia – Judaica) para que endurecesse a pele e enrolada em panos, a criança era apresentada para que todos pudessem ver.
O nascimento em outras culturas O nascimento no judaísmo antigo: • Os cumprimentos eram calorosos se fosse um filho do sexo masculino; se fosse menina o entusiasmo arrefecia, chegando ao ponto de parecerem simples expressão de simpatia. • As filhas não aumentavam a fortuna da família, desde que ao se casarem passavam a pertencer a outras famílias. “As filhas não passam de tesouros ilusórios”, observa o Talmud; e depois acrescenta, ”além disso, precisam ser continuamente vigiadas”. • Costume pagão de abandonar bebês, comum no Egito, na Grécia e em Roma, que não era desconhecido aos judeus, mas absolutamente proibido. O pai egípcio podia escrever à esposa prestes a ter um filho: “Se for menino, pode criá-lo; se for menina, mate-a”. • É possível que em Israel não houvesse grande alegria ao nascer uma menina, mas ela era mantida pelos pais em qualquer circunstância.
Pintura de um parto na antiguidada
Era Medieval
Era Medieval • População concentrada do campo • Baixo crescimento demográfico -> insalubridade: falta de higiene, de água tratada e de um sistema de esgoto. • Expectativa de vida baixa. • Mortalidade infantil elevada.
Era Medieval • Morte no parto. – elevado indice de mortalidade no parto • Confissão antes do parto. • Crianças muitas vezes órfãs e abandonadas. • Era dominada pelo misticismo e religiosidade. • Boticários e curandeiras. • Preocupação com a morte.
Febre puerperal Blenorrogia
Era Medieval • Batismo ao nascer. • Nomes dos bebês derivavam dos nomes de santos. • Finalidade do sexo ->procriação
Era Medieval • Nascimentos realizados por parteiras • Cadeira feita em domicilio. • Parteiras licenciadas. “A melhor bruxa; a melhor parteira” • Bebê em posição invertida. • Bebês mortos.
Era Medieval
Era Moderna
O Moderno • (século XV a século XVIII). • Como acontecimento relevante, temos a onda revolucionária na Europa. • Este período termina com a Revolução Francesa para alguns e com o Descobrimento da América para outros. • Os nascimentos eram realizados por parteiras com instrução e por médicos (sendo que a mulher atendida por homem perdia cinco virtudes: pudor, pureza, fidelidade, bom exemplo e espírito de sacrifício). • Aparecem os primeiros livros de obstetrícia. • As parturientes sempre em posição vertical ou de cócoras, apoiadas em bancos, tamboretes e cadeiras sofisticadas em domicílio.
O Moderno
Giotto. Adoração dos Reis Magos.
O Moderno
Leonardo DaVinci.
O Moderno
Leonardo DaVinci.
O Moderno
O Casal Arnolfini
Era Contempor창nea
Era Contemporânea. • Iluminismo -> valorização da ciência. • Presença do homem começa a aumentar. • Atividade lucrativa para os homens. • Avanço no atendimento em partos normais – mais aceito pelas classes mais abastadas. • Parto como patologia. • Medicina - técnica geral de saúde.
“Quando o homem chega, um ou ambos [mãe ou feto] necessariamente vai morrer” (Wertz & Wertz, 1977 apud Arney, 1982: 33)
Era Contemporânea.
Vários instrmumentos usados pelos médicos.
Era Contemporânea.
Cadeira de Bolochi (Itália) para atender partos com a mulher em posição horizontal (1871)
Era Contemporânea. “objeto de vigilância, análise, intervenções, operações transformadoras” (Foucault, 1998b: 198, 202)
“um grande empreendimento de aculturação médica” (Foucault, 1998b: 200).
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Bem estar da população. Objetivo político. Criança – futuro da população. Família no século XVIII Séc. XIX – parteiras -> práticas, não desenvolvem o conhecimento. • Lei das Parteiras, 1902. • Clientela das parteiras- pobre. • É introduzida a anestesia com éter em 1842.
Era Contemporânea. • Tratado de Joseph Dee Lee, 1920. • O uso profilático do fórceps. • “O parto é um processos patológico.” • Paciente sedada. • Década de 30 -> norma nos EUA. "obstetrícia profilática"
Era Contemporânea. O sono do crepúsculo.
• Alemanha • Mistura de drogas - morfina e escopolamina. • Atrai mulheres ao hospital. • Partos mais impessoais. • Parto sem dor e rápido • Parto linha de montagem – industrializado.
Era Contemporânea. • Na década de 50, surge a incisão clássica da cesariana. • a incisão uterinahorizontal – segmento baixo. • Métodos de anestesia do pósguerra. • Disponibilidade. • Confiabilidade. • 5%. • publicados na Inglaterra os primeiros resultados estatísticos dos casos de alto, médio e baixo riscos gestacionais
• Questiona-se a posição horizontal.
Era Contemporânea. • Questiona-se a posição horizontal.
Era Contemporânea. • Na década de 70, se torna norma. • uso de monitores fetais eletrônicos. • infusão de ocitocina sintética
Era Contemporânea.
Método postulado em Campinas em 1980, para atender partos em posição de cócoras (Resgate das formas de nascer).
Era Contemporânea. • No final do século XX, desenvolve-se anestesia peridural. • Obstáculos – processo fisiológico. • Década 90 – desenvolvimento maior. • As técnicas mais sofisticadas de "peridural deambulante“.
Era Contemporânea. Europa Ocidental 10.
América 20.
• Inicio do século XXI – assistência 24hs de obstetras, anestesistas e pediatras. • Investimentos enormes. • Concentração nos grandes hospitais. • Padronização • Parto Cesária – planejados.
Era Contemporânea. • Existência de um parto normal padronizado. • uma peridural e ocitocina intravenosa. • a utilização de uma ventosa (ou fórceps) • Administra-se uma droga para expulsão da placenta.
Era Contemporânea. • Gestações de baixo risco – 80% • Parto humanizado. • Parto em casa.
Cearรก. โ ข Cadeiras utilizadas por parteiras no interior.
Cearรก. โ ข Museu do parto Fortaleza-CE.
Conclusões
Ciclo evolutivo das formas de nascer desde a pré-história até nossos dias. Observamos que após transcorridos mais de 8.000 anos a posição da mulher está sendo resgatada. A religião e a simbologia do parto continuam existindo.
"Não se deve praticar uma ciência a menos que se conheça sua história". Historiador Auguste C.omte
Bibliografia http://www.diretoriodearte.com/historia-da-arte/divindades-de-roma-classica-ii/ http://adeusanocoracaodamulher.blogspot.com.br/2012_02_01_archive.html http://cpantiguidade.wordpress.com/2011/03/ http://sagrado-feminino.blogspot.com.br/2012/05/deusa-isis.html http://www.lotuspurpura.com.br/religiao/historia.php http://www.immf.med.br/parto.htm http://www.dignow.org/post/origem-do-mito-das-cegonhas-202134-20173.html http://textolivre.com.br/artigos/11480-lenda-da-cegonha http://www.nucleobemnascer.com.br/historia-do-parto http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-026X2002000200009&script=sci_arttext http://www.mulheres.org.br/parto/mestrado_2.html