O Pão na Renascença

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Sindicato dos Padeiros de São Paulo - Projeto Memória

O Pão na Renascença

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uando se pensa em Renascença, o período de grande expansão cultural que vai de meados do século 14 ao início do 17, logo vem à cabeça as obras de Leonardo da Vinci, Michelangelo ou Rafael. Mas a Renascença não foi apenas uma época de renascimento artístico. Novos conheci1


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mentos e tecnologias lançaram a Europa à frente dos outros continentes, aumentando seus territórios e colonizando novos mundos. As rotas marítimas garantiam acesso a terras antes remotas, promovendo troca de informações como nunca antes. Foi um tempo de globalização.

Dando Graças Antes da Refeição, de Anthonius Claessins, pintado em 1594

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As inovações e o intercâmbio entre diferentes terras e culturas mudaram a vida dos europeus e de outros povos. Nosso próprio país é resultado desse movimento que estava acontecendo a Europa. Novos produtos surgiam nos mercados e nas vidas das pessoas, usos e costumes importados passavam a ser incorporados pela sociedade e a superstição começava, embora lentamente, a ceder espaço ao conhecimento e à razão.

Cena de Cozinha, do pintor Vicenso Campi, (c. 1595)

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É claro que essa revolução toda também introduziu novas comidas e hábitos alimentares. A começar pelos doces. O açúcar produzido a partir da cana cultivada nos trópicos, impulsionou demais a arte da confeitaria na Europa. Alguns tipos bolos e doces que consumimos até hoje datam dessa época. O panetone é um exemplo. Por conta disso, as padarias também se desenvolveram. Na Renascença, as padarias eram um dos epicentros das cidades. As pessoas compravam pães todos os dias e reuniam-se nas padarias para conversar e trocar notícias. Além disso, no inverno, era um lugar quente para se ficar, aquecido pelo forno a lenha.

Afresco francês do século 15 mostrando padaria

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Nesse período, o alimento mais comum em toda a Europa era o pão, consumido tanto por aristocratas como pelas classes menos abastadas. Como na Idade Média, os ricos comiam pão branco e os camponeses, pão integral, pois a farinha refinada era mais cara. E como o pão era o alimento mais importante, as leis que regulavam peso e qualidade do produto se tornaram mais rigorosas. As primeiras foram promulgadas na Inglaterra e na Alemanha no final da Idade Média. Com o tempo, essas leis eram seguidas em praticamente toda a Europa. Os padrões desses alimentos variavam de cidade a cidade e de país a país, dependendo de fatores como disponibilidade de ingredientes e o gosto local. Alguns dessas leis eram curiosas: em alguns lugares, a lei determinava que os padeiros Leis britânicas para produção de pão (sec. 16) 5


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podiam vender pão apenas com a ajuda da sua esposa e filhos. Outra restrição aos padeiros era a produção e venda de farinha. Como o peso do pão era sempre determinado pelo preço do trigo e outros grãos, as autoridades receavam que os padeiros tivessem demasiado controle sobre produtos tão importantes, capazes de inflamar o povo e derrubar reis, como aconteceu, séculos depois do Renascimento, na Revolução Francesa.

Cena de Cozinha, do pintor Joachin Wtewael (1606)

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Com o aumento da população, no final da Renascença, a demanda de pão e grãos crescia cada vez mais e as leis foram ficando mais rigorosas. No final desse período, em 1635, o cardeal Richelieu, ministro-chefe do rei Luiz XIII que, na prática, governava a França, ordenou que “os confeiteiros não podem comprar farinha antes das 11 horas no inverno e do meio dia no verão. Os padeiros não poderão comprar farinha antes das duas da tarde. Isto permitirá que o povo possa se abastecer antes deles. Os padeiros terão de colocar uma marca distinta em seus pães e ter balanças em suas padarias sob pena de perder a licença”.

Distribuição de arenque e pão branco durante o cerco a Leiden, 1574, do pintor Otto van Veen

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Durante a Renascença, a fome ainda era uma ameaça séria. Não só a demanda do pão aumentava, mas também seu preço. As pessoas abandonavam suas casas e iam para cidades onde o abastecimento era melhor. Os reis não podiam deixar a população sem comida, pois, do contrário, o povo se rebelaria e fugiria do controle. Nas épocas de fome, as autoridades tinham o poder de obrigar os padeiros a vender seu produto a preços mais baixos que o custo. Em ocasiões mais críticas, as autoridades chegavam mesmo a confiscar os pães das padarias para alimentar a população.

Em 1479, a colheita foi pequena e causou fome na região noroeste da Inglaterra. Os padeiros das cidades da área foram obrigados a trabalhar de graça e vender o pão a um preço mínimo. Aqueles que recusaram foram presos e o governo recrutou pessoas entre a população para substituí-los.

Os regulamentos rígidos acabaram determinavam que os padeiros se reunissem em associações de classe, as chamadas guildas. Essas organizações trabalhistas, precursoras dos modernos sindicatos, contrabalançavam o rigor das autoridades na aplicação leis. Uma categoria importante e unida tinha poder de negociação. A força das guildas de padeiros projetou a categoria. Como responsá8


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veis pela produção do alimento mais importante da comunidade, as guildas de padeiros garantiam direitos e proteção aos seus membros. As guildas acabaram desaparecendo com a industrialização, dando lugar a novos tipos de organizações de trabalhadores, as quais foram o embrião dos atuais sindicatos.

Sindicato dos Padeiros de São Paulo

Direito reservados: Sindicato dos Padeiros de São Paulo, 2013 Este artigo pode ser reproduzido para fins educativos; a fonte deve ser citada

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