DA BASÍLICA DE OURO A POBREZA TEATINA (Pe PASQUALE DE PIETRO)
Beato João Marinoni “Um vivo retrato da verdadeira santidade”
Tradução: Ir Victor Neri, CR
Breve biografia
Beato João Marinoni
O Beato João Marinoni, nasceu em Veneza no ano de 1490, já era sacerdote e membro do Capitulo Patriarcal da Basílica de São Marcos, quando abraçou a vida apostólica da recente instaurada Ordem dos Clérigos Regulares, emitindo a profissão religiosa nas mãos de São Caetano Thiene, em 29 de maio de 1530. No ano de 1533, junto a São Caetano, fundou em Nápoles a primeira casa da ordem naquela cidade. E nessa permanece quase por toda a sua vida, dedicando à oração, ao tratamento da alma, a sagrada pregação e a formação dos religiosos de sua ordem. Renunciou a Arquidiocese de Nápoles, ofertada pelo Papa Paulo IV. Para ajudar os pobres e os necessitados, frequentemente vitima dos aproveitadores, ele sugeriu e estimulou a alguns de seus filhos espirituais a criarem em Nápoles, o “Monte da Piedade”1. Morreu, santamente como era visto, no dia 13 de dezembro de 1562 e foi sepultado no cemitério conventual da Basílica de São Paulo Maior; Seus restos se conservam e são venerados juntos aos de São Caetano. Clemente XIII, em 1762, reconhece e aprova o culto ao Beato que já “era imemorável” antes mesmo de lhe ser atribuído. A sua memória se celebra no dia 12 de dezembro.
Sacerdote Teatino
“Um vivo retrato da verdadeira santidade” N.T. 1. Comparável ao que na Arquidiocese do Rio de Janeiro se chama Banco da Providencia
Beato João Marinoni Sacerdote Teatino
um campo, mais Nápoles tem colhido os frutos os tem experimentado; e se nutrido até hoje, pois nesta cidade se guarda com cuidado os restos mortais.
Veneziano de nascimento, Bergamasco de origem Uma habitação de santos Visitando a cidade de Nápoles e entrando na Basílica de São Paulo Maior, mais conhecida como a Igreja de São Caetano, se é pego de súbito de um profundo senso de respeito e de um sagrado pensamento que nesta viveu e exerceu em todas as suas multiformes atividades sacerdotais, religiosas e sociais homens como São Caetano, Santo André Avelino, o Beato Paulo Burali, o Beato João Marinoni, o Venerável Francisco Olimpio, o Venerável Giacomo Torno e muitos outros que na cripta daquela Igreja todos repousam e esperam pela ressurreição. Daquela sepultura parece sair um silencioso convite à santidade e um fraterno chamado a entregar a própria vida a serviço dos irmãos. Não quero pecar por presunção, mas julgo humildemente que esta Basílica deve ser uma das mais caras de todo o coração napolitano, já que nesta como em um jardim, repousam todos estes homens santos que por Nápoles viveram as suas existências e pela paz de seus habitantes, ofereceram a Deus a própria vida. Durante semelhante tempo, eles têm deixado na cidade partenopea instituições sociais ainda agora ativas, junto a um heróico exemplo de caridade e de humildade evangélica. São transcorridos 10 anos de quando havíamos recordado o 5º Centenário do nascimento de São Caetano, vicentino mas napolitano de adoção, e de súbito somos convidados a recordar uma outra bela figura de santo no 5º Centenário de seu nascimento. Santo também veneziano, mas que em Nápoles viveu toda a sua vida religiosa e boa parte de sua vida sacerdotal: o Beato João Marinoni. Se Veneza é orgulhosa por tê-los visto nascer, o orgulho de Nápoles não é menor, porque esta cidade tem provado os benefícios e resultados de seu espírito profundamente santo e da sua mente criativa e organizadora no campo das instituições sociais. Veneza o tem visto crescer e correr entre suas veredas; A sua Igreja os tem visto humilde e devoto no serviço, e nas funções litúrgicas, como uma flor na beleza de
Nasceu no dia 25 de dezembro de 1490 em Veneza, filho de Bernardino e de Elisabete ambos Marinoni, uma família oriunda da Clusone em Bergamasco, na Cerete Alto se conserva uma antiga capela da família Marinoni. Francisco, é o seu nome de batismo, foi o último dos seis filhos; Três irmãos, que apenas esse se tornou sacerdote e três irmãs, ao qual renunciaram as núpcias e viveram longe do mundo, dedicando-se a oração e a prática da perfeição cristã. A falta de documentos precisos não nos permite conhecer muito da sua infância e adolescência, mas um registro particular muito gracioso que lemos em poucas linhas, que permite de enquadrarmos a sua figura de menino a serviço da Igreja Colegial de São Pantaleão. “Quando ainda nem dava na cintura do Padre, mesmo com dificuldade elevava o braço para colocar o missal sobre o altar”. Mais tarde, este menino, que com esforço conseguiu colocar o missal sobre o altar, foi ordenado sacerdote pelo Patriarca de Veneza Antônio Contarini e nomeado primeiro sacristão da Basílica de São Marcos no dia 1º de dezembro de 1515. Depois em 5 de agosto de 1521 Cônego da Igreja de São Marcos e no dia 30 de dezembro de 1526, Revmo. Padre Francisco Marinoni foi eleito ao ofício de Cônego e lhe foi colocado a Zanfarda. (A zanfarda é uma classe de peliça que os cônegos
de algumas Igrejas colegiais portavam em seu braço esquerdo como distintivos do então grau, quando não vestiam o habito prelatício). Todas estas nomeações, que conseguiu serviram para abrir-lhe uma esplendida carreira eclesiástica, mas isso não consumia seu espírito sacerdotal que ao invés se abriu de súbito aquele que será depois o carisma particular de toda a sua vida sacerdotal primeira e religiosa depois: a caridade em vista das necessidades dos pobres e os serviços dos doentes. Uma riqueza espiritual que se impôs igualmente evidentemente na inteira cidade de Veneza a incitar o governador a nomeá-lo capelão do Hospital em 1526, nomeação que o Marinoni, aceitou com verdadeiro espírito de doação e de serviço.
Ao serviço dos incuráveis Alguém era no passado sua fenda: São Caetano, o acolheu em casa como “ao Rio do Espírito Santo” três pobres enfermos do mal incurável, que surgiu atrás dos muros da cidade de Veneza do Hospital dos incuráveis. Era o ano de 1522, naquele lugar o Marinoni, perfumado ainda da recente ordenação sacerdotal, fez explodir de súbito a sua caridade e seu amor pelo próximo. Assim o servidor de Deus se faz servidor dos homens. Ele passa entre os doentes do Hospital como um anjo, sorrindo com todos e a todos doando aquele conforto e aquela
serenidade e entregando o que só um santo sabe doar. “Anjo em carne humana” assim se refere São Caetano com esta simples pincelada, o santo nos tem dado o quadro exato da espiritualidade e da bondade do capelão Francisco Marinoni. Este anjo em carne humana, capelão dos incuráveis eleito depois da partida do sacerdote Caetano para Roma, faz de tudo a todos para levar a todos Cristo, segundo o pensamento de São Paulo. Nas primeiras horas da manhã é o servidor de Deus que canta as Laudes junto dos Cônegos da Basílica de São Marcos, do qual faz parte, na outra hora do dia é o servidor do Senhor nos necessitados e sofredores, varre os dormitórios, lava o rosto dos doentes, administra os remédios e cura as chagas, vela durante a noite a cabeceira dos moribundos, dedicando-se todo aquele alivio espiritual e físico que podia dar, preparando ele a muito tempo para uma morte serena. O diário do Hospital Veneziano conta dele: “O nosso capelão Francisco Marinoni pessoa do qual o lugar se havia servido e espera servir para a honra de Deus, a saúde das almas e grande benefício do Hospital”. Veneza tem achado neste seu filho o servidor de Deus e por conseqüência o verdadeiro servidor dos homens, porque só um autêntico servidor de Deus se faz fraterno ao serviço dos homens. Servindo antes de tudo a Deus, vendo no homem a imagem divina do irmão que sofre. “Aquele que fizer ao menor destes a mim tem feito” disse Jesus. Por conseqüência o ama, o servo se sacrifica e esta também disposto a morrer por ele. Sabe renunciar também a quanto lhe seria necessário para doar aos irmãos e respeitar todos seus semelhantes, livre de qualquer cálculo humano de fé e de política. E assim por quatro anos o sacerdote Francisco Marinoni passa de um leito a outro, anjo de bondade, apóstolo do bem, recebendo assim estima, respeito e simpatia, não só dos doentes, mas dos diretores do Hospital, que viam nele o servo bom e fiel, o continuador da caridade do fundador: Caetano Thiene.
Da Basílica de São Marcos a pobreza teatina
Cheio de ardente caridade unida ao desejo de uma completa e total doação de si mesmo a Deus e ao próximo, “Revmo. Padre Francisco Marinoni” chegou à decisão de deixar definitivamente o mundo para unirse mais intimamente a Deus na vida religiosa e no total serviço dos irmãos. De resto era este o desejo que havia de súbito manifestado. Depois da sua ordenação sacerdotal e não o havia levado a terminar pela insistência dos diretores do Hospital, os quais queriam “o nosso capelão” (como o chamavam) em meio aos doentes e que caminhasse sempre o apostolo da caridade pelas veredas de Veneza. Mas os planos de Deus são sempre diferentes dos homens. O Pe Francisco, Cônego de São Marcos, sede momentaneamente a insistência. Ele havia conhecido os religiosos teatinos chegados de pouco a Veneza. Depois de haverem milagrosamente escapado do saque de Roma. A vida austera deles, igualmente e generosamente apostólica, desprovida de todos meios humanos, mas rica de fé na providência, e sobre tudo o exemplo do Padre Caetano o interessou profundamente, que no dia 9 de dezembro de 1528, entrou na Igreja de São Nicolau dos Tolentino, na qual era superior precisamente o Padre Caetano, se prostou a seus pés pedindo humildemente “de ser participante daquela coroa, não por seus méritos, mas pela excelsa bondade de Deus”. Depois do ano de noviciado, no dia 29 de maio de 1530 emitiu a sua profissão religiosa nas mãos do Caetano Thiene, que era também seu mestre de noviciado “o Revmo. Padre Francisco, Cônego e mansionario com a Zanfarda” tornou-se a partir deste dia um humilde religioso teatino, Padre João Marinoni, que em seguida alegrou-se de acrescentar: “pecador velho e envelhecido nos pecados.”
Da Lagoa a Nápoles Era a primeira separação de Marinoni do mundo Veneziano; a separação por completa será muito rápida, apenas 2 anos depois da sua profissão religiosa. Para Clemente VII com o breve do dia 13 de fevereiro de 1533 endereçado ao servidor da Igreja S.Nicolau dos Tolentino, ordenava ao Bispo e Teatino João Pedro Carafa “Em virtude da santa obediência envie alguns sacerdotes o mais rápido a Igreja de Nápoles”. O Bispo, napolitano
fez um belíssimo presente à cidade e a envia como os primeiros apóstolos os teatinos: Padre Caetano Thiene e o Padre João Marinoni verdadeiramente uma escolha muito bela e muito feliz. Marinoni deixou a calma lagoa e a partida foi um adeus que o beato disse para sempre a sua Veneza. Ao primeiro dia de setembro de 1523, Nápoles acolhe João Marinoni na igreja de Santa Maria da Misericórdia pela porta São Januário. Nápoles não o deixará mais partir, o terá sempre para si, ininterruptamente de 1533 a 1562. Na nova residência napolitana, podemos afirmar do beato João aquilo que o povo dizia de Jesus com toda simplicidade e com tanta veracidade que “passava fazendo o bem a todos”. Ele passou pelas estradas de Nápoles beneficiando a todos, todos indistintamente. Animado de uma humildade que gerava uma vida silenciosa e oculta, mas cheia de uma rica atividade e do bem, ele passava do confessionário, onde curava e enriquecia a alma, aos hospitais, onde suavizava o sofrimento do corpo; dava a tranqüilidade desde a casa religiosa aos encarcerados; do altar ao patíbulo dos condenados a morte; dos diversos casos religiosos, como confessor esperto e prudente, aos ofícios jurídicos sempre cuidadosos nas praticas burocráticas; da miserável habitação dos becos napolitanos à esplendida inteligência da grandeza partenopea; do púlpito da igreja de São Paulo Maior a correspondência epistolar com a sua assinatura; dos colóquios pessoais com os pobres e esfarrapados napolitanos daquele século aos ricos de Nápoles de hoje para criar obras sociais onde combater a usura.
Uma operosidade sem apoio: Santo André Avelino escreve sobre ele em uma carta: “Não perdia nunca tempo, nem se ouvia dele uma palavra ociosa, mas falava sempre frutuosamente”. E maravilhado de como fazia para criar tempo para tudo, em particular para a preparação das pregações, e Marinoni lhe responde: “Eu peço a Deus que me inspire àquilo que eu tenho de fazer para a saúde de minha alma, é o que digo aos outros”. Um trabalho apostólico muito intenso não o desvirtua da oração que se prolonga também à noite: para encontrá-lo, deve-se procurar na igreja diante do altar dos santos Pedro e Paulo, o altar maior, jogado ao chão diante do gradil do presbitério. Em toda a sua vida se nota marcantemente um sinal deixado por seu mestre Caetano thiene durante o noviciado na Igreja de São Nicolau em Veneza. A continua elevação a Deus, a humildade que Caetano definia a “primeira letra do alfabeto de Cristo”, a caridade, o amor à igreja e a fé na providencia, ele tem sido um fiel discípulo de Caetano e por sua vez um mestre incomparável dos santos. Nomes ilustres que figuram entre seus filhos espirituais: Santo André Avelino; o beato Paulo Burali, homem dotadíssimo nas leis, letras e filosofia, régio conselheiro e depois sacerdote teatino e cardeal; o Venerável Torno e Salvador Caracciolo; a nobre napolitana Giovanna Scorziata, que casou uma segunda vez, viúva e privada dos seus seis filhos, dirigia-se sempre a Marinoni, fundou o primeiro educandário feminino em Nápoles com o nome de Templo; as quatro irmãs da família Palascandolo que, recusando honra e riqueza núpciais, fundaram o celebérrimo mosteiro napolitano dito Santo André das Damas. Era o padre, o confessor bem que animava as almas ao bem e a santidade. No seu coração estavam reunidas todas as misérias espirituais e matérias da Nápoles do século XVI. O Padre João olhando de longe e observando direito, fixava bem em tudo sua horrível feiúra, lhe fazia suas, colocando a parte aquelas frases que às vezes são frutos de puro sentimentalismo. Colocava-se em ação para remediar, ele sabia bem que quem esta com fome não pensa em Deus. E o povo napolitano tinha fome, uma fome que o impelia a aceitar qualquer condição para receber que fossem quatro moedas para matar a fome.
A praga dos usurpadores Os usurpadores sugavam ao máximo a miséria da população que não podiam fazer nada para libertar-se. Assim extrema era a necessidade do povo de Nápoles, depois de ter sido pego, se viu obrigado a chamar a atenção. A usura era demais, muito grande, e nesse ínterim Bernardino de Feltre definia os usurpadores “vendedores de lagrimas”, os políticos chamavam ao Padre João Marinoni, nada menos que “benfeitor de Nápoles”. O beato João não se deteve diante a trágica situação e da sua mente, e mais ainda do seu coração, brotou a premissa e suas inspirações mais idôneas para a fundação do Monte da Piedade. Para salvar a precária condição econômica do povo napolitano, penso de realizar em Nápoles esta experiência bem sucedida dos “Montes de Piedade”2 que por quase um século, propunha de resolver as necessidades dos pobres sem tirar proveito, vencia a usura e levava uma verdadeira ajuda aos necessitados. Confiando na providência, passou de súbito a ação. Ele e seus filhos espirituais eram homens ricos que aliando à riqueza material junto à riqueza espiritual do coração e da caridade: Entre esses se destaca Aurélio Papero e Leonardo de Palma, ambos, em modo particular Aurélio Papero, entregou as riquezas e todos os seus bens a disposição de seu diretor espiritual e confessor. Esses dois fervorosos e generosos napolitanos se uniram logo a outros homens de boa vontade. N.T. 2. Comparável ao que na Arquidiocese do Rio de Janeiro se chama Banco da Providencia
O precursor do Banco de Nápoles A chama da caridade acesa por Marinoni crescia sempre mais e, finalmente em setembro de 1539, pode iniciar a obra dos empréstimos e de resgate dos bens penhorados em uma casa dos Leonardo de Palma, situada nas proximidades dos Forcelle. Ao Padre João Marinoni se ajuntou o insigne Padre espanhol Alfonso Salmeron; a eloqüência do Jesuíta em arrastar muitos fiéis. A classe alta e rica da cidade foi conquistada pela elegante e persuasiva palavra do orador. Os bons finalmente se emocionaram, sentiram o dever de dar aquela medida abundante que tinham recebido de Deus; Em pouco tempo os investimentos no Banco da Piedade receberão notáveis quantias, em consolo as necessidades do povo. Nesta obra benéfica não podemos nos esquecer o gesto belo e nobre de São Caetano. Transferido da Casa de Nápoles aquela de Veneza deu ao Padre João Marinoni uma considerável soma de dinheiro que havia recebido de sua sobrinha, Elisabete Thiene, condessa Porto. Coisa que só se faz quando o amor entra no coração dos homens! O mundo altera a sua triste fisionomia, porque nesta brilha a fisionomia de Deus. O glorioso Monte da Piedade idealizado e promovido por João Marinoni, tornou-se depois “Instituto de credito por antecipação de penhor”, continua a viver e operar mesmo depois da fusão com a Pia Instituição, com o nome de “Banco de Nápoles”. A cruz que se impõe sobre o tri-monte, emblema da Ordem Teatina, e que foi adotado como brasão do Monte da Piedade no fim da criação, figura esta tutor como distintivo do Banco de Nápoles, revelando assim sua origem.
O apostolo da palavra “A caridade de Deus nos provoca” exclama São Paulo, e o beato João se esforça de realizar sob todos os aspectos e em todas as formas de homens os pensamentos Paulino. A predicação tornou-se para ele um dever obrigatório, sobre tudo quando deve desmascarar o erro e fazer triunfar a verdade. Os grandes oradores a ele contemporâneos, como
Bernardinho Ochino, Píer Vermigli e Juan Valdés, fazia afluir as melhores mentes napolitanas na catedral e na igreja de São Paulo Maior, mas sob todas as expressões ricas de eloqüências e de falso misticismo se escondia a mentira e doutrina contra a igreja e a moral. O beato João e seu confrade Caetano advertiam imediatamente os perigos e denunciavam do púlpito opondo-se aos erros com a luz e a força da verdade do evangelho. “Não era um sacerdote de grande eloqüência, escreve dele Santo André Avelino, mas ele era muito familiar da Sagrada Escritura, de São Bernardo, São Boaventura, São Tomás, que ele chamava de Nosso São Tomás, e São Vicente Ferri aos quais os colóquios dele sempre tinham na manga para sempre dispor”. O seu belo estilo, longe de procurar admiração e aplauso do público, buscava com simplicidade a salvação da alma iluminando-a com a sana doutrina. Os padres dominicanos afirmavam “que o Marinoni pregava como o Padre São Domingo; tão grande era seu espírito e o fervor com o qual pregava parecia um querubim”. Os letrados deixavam de boa vontade a catedral, onde impiedoso os Fiamma e os Pistoia, para levá-los a sentir o Padre João que “fazia ver o paraíso e o inferno perto”. Era o sacerdote que “pregava como os apóstolos” assim diziam seus irmãos de comunidade.
Nisto vós conhecereis que sois meus discípulos O autêntico servidor de Cristo se revela no Beato Marinoni através do serviço da caridade, a virtude que foi sua fiel companheira sempre e em todas circunstâncias o seu pensamento e sua ação. Ela resplandece logo em Veneza, próximo ao hospital dos incuráveis, continuou a resplandecer em Nápoles de uma luz toda particular, porque os necessitados espirituais e materiais que abandonados nesta cidade eram em medidas superiores. Nos limites da pobreza religiosa, doava sempre aquilo que havia afirmado que “era para aqueles da casa, a nós serve qualquer coisa para os pobres de Cristo”. E então que pela estrada encontrava um pobre, não havendo nada para dá-lo, dizia a seu companheiro: “demos a ele a esmola de um painosso para que o bom Deus mova outro para socorrê-lo”. O Beato João vai procurar a Cristo sob tudo na miséria humana em todas as partes ao invés das ciências. O avista no mal do corpo e do espírito, sob os trapos do pobre e sob a aparência rica dos pobres de
espírito, na criança abandonada, nos cristãos mornos e vacilantes da fé, nos encarcerados e condenados a morte. Para sobreviver a maioria iam perto destes, se inscreviam na companhia dos brancos que tinham a finalidade de assistir no patíbulo os condenados a morte. “Era surpreendente no aconselhamento do ânimo na hora da morte, e a fazer este ofício frequentemente era chamado”. Abandonando a tranqüilidade da sua casa religiosa na Basílica de São Paulo Maior, e se impelia na severa corte judicial advogando a causa de tantos encarcerados que deveriam reconquistar a liberdade e retomar o trabalho depois da dura experiência do cárcere. Ao seu tempo a burocracia dormia (se vê que a doença é velha!), a pratica para a libertação dos detentos demoravam por meses e meses, seus trabalhos, ninguém se preocupava em pedir; pois ninguém dava conta que as penas haviam sido descontadas. Padre João não se tranqüilizava com a desastrosa burocracia e funda uma associação com o dever de assegurar e agilizar com cuidado junto à autoridade a lembrar da libertação dos encarcerados que já haviam expiado as penas. Servia sempre a todos seus irmãos com os quais convivia nos ofícios mais humildes na casa, escrevia isto de Roma, no dia 23 de novembro de 1555: “Estejam unidos na Santa Paz, união e caridade e não com espírito de tristeza e covardia; estejam em bom ânimo e sirvam o Senhor com prazer e alegria”. A caridade deve ser feita às crianças e com os humildes da mesma forma. Ao Padre Bernardino Scotti pediu em uma carta: “uma caixa de coisinhas de açúcar, que nos seja dada por caridade”. Quanta humildade, delicadeza e gentileza nos corações daqueles que amam sinceramente a Deus! Também os animais tornaram-se objetos de João Marinoni, a os que lhe perguntavam por que ele acariciava os bois que havia carregado os vinhos a porta do convento? E o beato respondia: “porque necessitamos querer bem a todas as criaturas por amor do Criador”. Uma particular lembrança de Santo André Avelino nos revela a sua simplicidade franciscana com relação a tanta perfeição do amor que alimentava os pássaros na sua própria mão, quando via que eles de súbito corriam a disputar quem primeiro deles poderia aproximar-se”.
Um perigo a sua humildade Uma lâmpada tão abundante de luz, não podia ficar embaixo do móvel. O humilde religioso teatino que se definia: “pecador velho e envelhecido no pecado”, e que recebeu um dia em cima de si uma chuva de água suja e fedorenta havia exclamado naquele instante: “A tal terra, tal água”, estava por superar uma dura prova de humildade. Papa Paulo IV, recordando a grande virtude e o zelo de João Marinoni, o Convocou a Roma em audiência privada. Ele era chamado a uma meta bem precisa: fazê-lo Arcebispo de Nápoles, a qual a sede era naquele momento vacante depois da eleição do então Papa Paulo IV, no dia 23 de maio de 1555. A escolha era justa, mas asseguro não convir à humildade do religioso teatino, o qual tanto gentilmente alegou sua insuficiência e muito suplicou ao Pontífice que não o fizesse sair da ordem, e que Paulo IV não tenha a coragem de impor pelo preceito da obediência. Saindo da audiência, exclamou: “Laqueus contritus este t nos liberati sumus”: os laços foram desfeitos e nós somos agora livres. Penosamente retornou a Nápoles, se recolhendo de súbito na igreja, sem nem ao menos trocar a veste da viagem, e entoou o Te Deum com toda a comunidade. Fabrício Di Sangro, presenciou o diálogo, pois era o camareiro secreto do papa, escreveu páginas belíssimas do encontro entre Paulo IV e o humilde discípulo de Caetano.
Em direção ao pôr-do-sol
Livre do perigo, o beato João retornou na tranqüilidade da sua casa religiosa, “onde se tem muito e se fica com pouco”, dizia frequentemente. Pura verdade, ele havia portado e continua a portar toda a humildade, a abundância da sua caridade e o zelo de um apóstolo que não conhecia obstáculos. Apesar da idade e da saúde debilitam, não atrapalha completamente o ritmo do trabalho, pelo contrário iniciou a construção do convento de São Paulo Maior, porque a casa habitada pelos seus religiosos era muito velha e pouco adaptada às necessidades dos padres, por viverem eles na pobreza teatina. Mas o Senhor o chamava para uma outra casa, onde o espera o prêmio de tanto esforço sustentado por seu amor “toda a sua vida, tem escrito dele Santo André Avelino, verbo et opere foi um vivo retrato de uma verdadeira santidade” . Podia assim entrar tranquilamente na casa do Pai. Em 3 de dezembro do ano de 1562, o Padre João de manhã não se apresentou ao coro para junto aos irmãos recitar as matinas, nem mais tarde encontrou força para celebrar a Santa Missa. “Esta morto!”, disseram de súbito os padres, porque nos anos anteriores, não havia ocasião alguma que o impedisse de rezar o Oficio ou celebrar a Santa Eucaristia. Uma bronca-pneumônia o havia levado ao leito, do qual não saiu mais. A doença foi breve, apenas 10 dias, durante os quais a mente permanecia sempre lúcida e ainda podia também edificar com sua palavra e, sobretudo suportando alegremente os efeitos da doença. “Suportava a sede e a ânsia com muita paciência, e mesmo com dificuldade aqueles benditos lábios falam coisas de Deus, com assombro dos que o escutavam”. É sempre Santo André Avelino que fala, e que o assiste no seu feliz transito. Como superior da casa sentia, pouco antes de morrer, o dever de dirigir aos seus irmãos de comunidade uma ultima exortação. Recomendou só uma coisa: A caridade, a fé na Providência e a assistência amorosa aos moribundos. Depois, como recolhido em uma profunda meditação, enquanto seus lábios sussurravam outras palavras “nas tuas mãos Senhor, entrego meu espírito; Maria, Mãe das Graças e de Misericórdia, defendei-me do inimigo e recebe-me na hora da morte”, neste momento sua alma voa ao céu, circundado dos seus irmãos, entre os
quais Santo André Avelino, o beato Paulo Burali e o Venerável Giacomo Torno. Isso foi um adeus, em direção ao Paraíso. Era o dia 13 de dezembro de 1562. Beatificado por Clemente XIII com o Decreto de 11 de setembro de 1762, os seus restos mortais repousam em Nápoles na Crípta da Basílica de São Paulo Maior, junto aos de São Caetano. Muito belo os dois dísticos latinos ricos de musicalidade, alem que dos conteúdos, esculpidos no sepulcro sobre eles. “Vos venetum tellus genuit, Cayetane et Joanneshaec habuit Pauli vos domus alma patres – par virtus terris clebres coeloque beatos – reddidit ergo eadem vos bene condit húmus”; isto: aqui na terra veneziana foi gerado Caetano e João, nesta casa de Paulo tem tido como padres – uma igual virtude tem produzido na terra os beatos no céu, - é justo portanto, que nesta ocasião os acolha a semelhante terra.
Uma lição de vida e bondade
das injustiças e das misérias que angustiam o povo napolitano de seu tempo. Vivamos no Amor e na Justiça de Cristo e na escola dos Santo aprenderemos a nos esquecer igualmente para nos lembrar só de Deus e do próximo. “RENOVAI, RENOVANDO-SE PARA SALVAR VIDAS”
A figura do Beato João Marinoni talvez possa nos assemelhar-se tanto no tempo, pois esta é sempre viva e atual; a luz da sua vida de homem, de sacerdote e de religioso, continua a iluminar nosso caminho sempre que nós desejarmos sermos iluminados e guiados. Naquele tempo deu seu exemplo, ele nos deixou uma expressão que para ele foi programa de vida e não será de menos para nós, se quisermos: “Estejam unidos na Santa Paz, união e caridade e não com espírito de tristeza e covardia; estejam em bom ânimo e sirvam o Senhor com prazer e alegria”. Nesta expressão encontramos a verdadeira sabedoria o segredo para vivermos alegres e na Paz com Deus e com os homens. “Unidos na Paz” paz com nós mesmos, com nossa consciência, na observância de todos os nossos deveres humanos e religiosos, na vida privada e na vida pública. “Unidos no Amor” naquele amor que Jesus veio trazer ao mundo, fazendo-se homem como nós, aquele amor que possuía a doar sem medida, porque faz a verdadeira imagem de Deus o irmão que sofre. O beato João Marinoni nos convida a não nos perdermos em conversas e protestos inúteis, mas sim de assumir posturas ativas diante