CARTAS DE Sテグ CAETANO THIENE Traduテァテ」o do italiano: Ir Victor Neri, CR
Cartas de São Caetano
Roma, 31 de Julho de 1517. A Laura Mignani Veneranda Madre. Oxalá a Vida inunda abundantemente o vosso coração, Madre em Cristo. Irrompam das vossas janelas torrentes que apaguem a chama ardente na qual me consumo, e me façam sentir a veemência do fogo abrasador e iluminaste o banquete celestial com o qual me alimento neste bosque obscuro, para que tudo deste mundo me amargure. Neste banquete celestial haverá sempre um momento para vossa caridade. Peça a vosso esposo que não despreze as minhas súplicas, que se digne concedê-las graças às vossas orações. Recomendo minha alma, oprimida pelo inimigo. Recomendo também o vosso filho e meu irmão Bartolomeu Stella. Orai por esta, em outros tempos, cidade santa, agora Babilônia, que guarda tantas relíquias. Hoje no altar da lança e Verônica, onde celebrei Missa, e tenho memória de vossa caridade. Desejo que sintais o fruto da minha recordação pela insigne virtude destas relíquias. Guardarei sempre a sua carta no meu coração. por ela os recompense vosso esposo. Vosso filho em Cristo. Caetano de Thiene. Roma, 28 de janeiro de 1518. A Laura Mignani Veneranda Madre em Cristo. Que o divino fogo os abrase, para que os que gozam de vossa presença e que vivamos longe de vós pela distância do lugar e a diferença de estado, nos sintamos aquecidos dos divinos ardores. Através das vossas cartas vejo que recordais deste miserável, do qual não pode pelo menos deixar de consolar-me profundamente. Sinto que não posso corresponder, como é devido, mas creio que ainda quisera, mal poderia não recorda-lo, especialmente nos momentos em que, sendo eu lodo e verme, me atrevo a subir ao altar e tomar em minhas mãos aquele de quem o astro do dia recebe os seus esplendores e seu mesmo ser, o Universo. Ah! Pobre de mim! É hora de me resolver a optar entre dois partidos: ou cessar, a for indigno de oferecer a Vitima Santa, para própria confusão, ou servir ao humilde Senhor, como fiel dispensador e tesoureiro humilde de suas graças. Diariamente recebo aquele que não cessa de gritar-me: “Aprende de mim, que sou humilde”, e sigo inteiro na minha soberba. 2
Recebo aquele que é luz do mundo e ouço que me diz: siga-me e, contudo me detenho nas trevas do mundo. Recebo aquele que é fogo e me diz: Vim trazer a chama e a espada, e permaneço acomodado, entregue aos afetos desta vida miserável. Como me tolera aquele, cujo poder é infinito, a mim, que não me decido a suportar por seu amor as mais leves contrariedades? Bastante tenho Sofrido as feridas causadas à minha alma em cada instante. E servido a carne, e lisonjeado ao mundo e ao inimigo e as almas. Hora és Já, oh! Madre em Cristo! De travar guerra sem trégua contra estes inimigos, que estou seguro de vencer, com as armas da cruz. Porém meus esforços serão vãos, se minha Patrona, a Virgem Maria, não me concede o ódio a mim mesmo e o amor a renuncia. Devo minha gratidão, já que são muitas as provas que tenho recebido de seu amor; porém nada consegui se não me outorga esta graça. Bem o sabe ela, que disse: O Senhor há contemplou na pequenez de sua escrava. Confesso que sou ingrato, que não quero servi-la, que fujo dela. Mas convém que se cumpra a sua vontade e não a minha. Ela exige, bem sei que os ministros do seu doce Jesus, que agora contemplamos o menino envolto em pobre panos, sejam humildes a exemplo seu. Porque não me concede a humildade? Está interessado sua honra, em sua mão está concedê-la a mim. Chamou-me, me protegeu, me fez objeto de seu amor. Como, pois, me abandona? Façais ouvir a vossa voz. Oh! Madre minha, com vossa estrela e Patrona, de que se não se esqueça de mim e desprezo o seu protegido. Que fogo, por ardente que seja não chegue extinguir-se, se não o recobre de cinza? Sejam cinza os meus sentidos, meu corpo e meu coração. Minha alma, até agora fria, se converte em forno de fogo. Espero que se vossa caridade se digna ser piedosa diante da minha estrela e Patrona, e interceda a meu favor, conseguirei graça tão grande. Assegurai-a que não serei ingrato; que em justa correspondência, jamais abandonarei, nem a ela, nem ao ancião esposo, nem ao pequeno Jesus. Com ela estarei sempre, pelos desertos do Egito, em qualquer perigo, na cruz, e no sepulcro. Na mesma hora do seu santíssimo parto, me aproximei ao santo presépio, encorajado por meu pai, o bem-aventurado Jerônimo, amante do santo presépio, cujos ossos descansam perto do mesmo, sagrado berço, e com a confiança que me infundiu velhinho, recebi das próprias mãos da modesta donzela, minha protetora, que acabava de ser mãe, ao recém-nascido menino, carne e envolto do Verbo Eterno. Quando meu coração não se derreteu naquele momento, sinais são, creio, Madre que és mais duro que o diamante. Paciência! Ali estive também no dia da circuncisão e permaneço incircunciso. O próprio fez no dia dos Reis, e em mim não tem senão ferro, pobre e vã delicadeza. Não deixarei de acudir em companhia de algum santo para escutar no templo, o doce cântico de Simeão, e a dura e amarga profecia. Como antes, agora e sempre, não deixo de rogar por vós, até que o céu me ouça, confiando não em mim, sim na paixão vitoriosa de 3
Jesus. Ajuda-me vossa caridade cada manhã, quando não só para utilidade minha, sim de todo o povo remido, pelos vivos e pelos defuntos, ofereço o cordeiro divino, dilacerado pelos espinhos e os açoites, transpassado pelos cravos e a lança, e apresento ao Pai Eterno, ao qual não cessa de clamar: “Pai ofereço tudo isso, para que não pereçam, perdoa-os porque não sabem o que fazem”. Com isto receberá ajuda vosso amado filho Bartolomeu Stella, e a alma de seu irmão, que acaba de falecer. Não deixarei de rogar por ele na presença destes santos, fieis imitadores de Cristo, cujos méritos o ajudarão. Conhecei o temperamento viril do vosso amigo, que longe de revoltar-se, não cessa de louvar a Deus nesta tribulação. Vossa caridade o socorra, para que tudo corra para maior bem. Eu não posso menos deixar de acreditar, porque nele está à mão de Deus, e o fato causa maravilha. Oh! Madre em Cristo, não tem sido estéreis as vossas fadigas! Segues e não desanimeis, preparai quanto antes o vestido nupcial com que se apresentará ao esposo, para jamais abandona-lo. Descubro de que nos haveis escrito a ele e a mim. Não é pequena a contrariedade, já que, sem dúvida, por meus pecados, as cartas se extraviaram. Oxalá que vosso esposo os force a escrever de novo, como encarecidamente os suplico, tanto mais quanto tenho que ir a Veneza, depois da Páscoa. A isso me força a consciência. Os assuntos de minha casa reclamam a minha intervenção e uma vez postos em dia com a ajuda de Deus, tratarei de me subtrair aos cuidados familiares para consagrar-me livremente ao serviço do meu senhor. O plano é pouco lisonjeiro, não só por deixar Roma, sim pelas angústias morais que será forçado passar. Vossa Caridade me compreenda. Sei que o comunicaram a morte de um servo de Deus, ocorrida longe daqui. Podemos morrer em qualquer momento. Mas não quero que o temor da morte me empurre a servir a Deus. Quero servi-lo por puro amor, se me dá a graça para isso. O Inimigo é astuto; não quisera ser vítima de seus enganos. Meu progresso na perfeição depende da ajuda que a Divina Majestade queira me conceder. Não se faça a minha vontade; porém hoje me doeria (Morrer), pois não comecei a servir a Deus. Se não o importuno me parará uma três horas para fazer uma visita, já que passo por aí. Que não saiba disso a não ser vossa caridade e Bartolomeu, Irmão em Cristo. Embora pobre de todo favor humano e mais ainda do divino... por esta vez confiai em mim e a Bartolomeu, vosso filho. Se antes de minha partida posso prestar algum serviço, tanto a vossa caridade como a esse mosteiro, perto do Romano Pontífice, não tendes mais que aviar-me, que posso e algo a mais. E ainda depois da minha partida, deixarei na corte algum amigo, que se és necessário, fará à mesma coisa, é só avisar Bartolomeu. Bem 4
pouco é o que posso. Vossa caridade suplicará os demais. Que se estreitem os doces laços que nos unem a vós e a nós mo amor do vosso esposo. O Infrutuoso servo de Cristo e vosso filho. Caetano de Thiene. Vicenza, 16 de Junho de 1518. A Laura Mignani Veneranda Madre. Vosso doce esposo Jesus aumente em vosso coração a luz e o fogo, e queimam em nós, vossos amigos, todas as raízes do pecado. A carta de Você me consolou muito, pois desejava saber o seu estado de saúde, e pensei até que a minha última carta se tivesse extraviada. Louvemos todos ao que nos dá ajuda e consolo e não nos abandona apesar de nossos pecados. Você me ofende ao dar excessiva importância aos meus modestos serviços, a parte que isso não é obra minha e sim uma dádiva e delicadeza do Sr. Cardeal Pallavicini. Pelo que contais na carta, me dou conta de que os miseráveis mortais, tem pouca estima por estas coisas. Louvado seja o nome divino, se não foi de coisa às vossas necessidades. Era de se esperar que os donativos chegassem pelo menos aos 40 ou 50 ducados. Paciência. Aquele dia, como hoje, quarta feira, foi vendido também por ninharia o vosso esposo. Na sua bondade, ele se digne suprir com bens espirituais aquilo que falta as vossas necessidades temporais. Ele purificou as almas com seu precioso sangue. Quem sofre no purgatório, conhece bem este tesouro, como também os outros aos que Deus o faça entender nesta vida. O afeto que me manifestais nas chagas do vosso doce esposo Jesus cristo me causa tanto consolo, que não sei como agradecer ao Senhor um tão grande benefício. Estou certo, e isso me conforta que você receberá a recompensa daquele que lhe inspira tanto afeto por mim. Não posso fazer por você outra coisa senão lembrar-me diante de Deus no meu sacrifício diário, que é sempre do seu agrado; quer ser oferecido por estas mãos pecadoras. Suplico a você que intercedeis diante do esposo para que não se aborreça comigo se me atrevo celebrar Santa Missa. Sem ele, que é minha vida, a morte da minha alma, seria certa. Rogo-lhe que a adorne com flores e perfumes de virtudes, já que lhe serve de morada. No remédio urgente desta minha necessidade está sem dúvida, interessada a honra de sua Majestade. Sofra em sua presença, como zeladora da glória, não permita que minha alma seja carne e lixo. Ele é vosso esposo que a ama; eu sou seu tesouro. Que se opõe a isso? Sei que sua mãe a ajuda. Espero que nossa padroeira Santa Mônica se lembre de mim e de quantos são seus filhos espirituais. Mas se não é de seu beneplácito, ele é o Senhor, se faça a sua vontade, como é justo. 5
Tende piedade de mim. A minha cegueira é tão grande, que peço ao Senhor suas virtudes, sendo tão vagaroso de minha parte em arrancar os meus defeitos incompatíveis com elas Virtudes. Reconheço a verdade daquilo que dizeis na vossa carta: “A Tribulação é um fogo, que purifica os pecados.” Concordo, porém a vontade própria e sim a do meu Senhor; e, no entanto é o meu querer que triunfa. Minha idosa mãe se recuperou um pouco com a minha chegada. Eu quero que faça de mim total oferenda a vosso esposo, e que me ame por amor de Deus e não por amor a mim. Os sofrimentos que suportou são a melhor garantia de sua salvação eterna, já que não podem deixar de transformar-se em gozo. O Reverendíssimo Cardeal Pallavicini no meio do fogo do mundo, me inspira compaixão, você o ajude, coisa difícil nestes tempos. Se tivermos esse trabalho, e impedir que se afaste um amador de Jesus. O Senhor Bartolomeu Stella, vosso amigo caríssimo, se ordenou sacerdote, “ligou sua vida a cruz de vosso esposo” no dia seguinte da minha partida, segundo me escreveu. Você lhe alcance as infinitas do tesouro do Rei do Céu, para a honra de sua majestade, para a conquista das almas dos pecadores e consolo de quem amamos. Você não desconhece quem iniciou esta obra, o que importa é chegar ao fim. Vosso doce esposo queira aceitar por mim e delicado obséquio mandado por você. Mas sirva de lição o trabalho que supõe comida tão deliciosa. Eu queria me transformar, num momento, num manjar puro, digno de ser apresentado na mesa do eterno Rei. Pobre de mim! Que não tenho nada com que responder á vossa generosidade. Vosso amado esposo, doador e criador de todas as coisas, o supra aos cem por cento e assim cumula todas as necessidades de você como de toda a casa sob a cruz da vida escondida; que seja para todos os homens arma de defesa contra os eternos invisíveis inimigos. Vossa casa se digne de dispor de nossas pessoas e aceitar esta sua casa para serviço e comodidade do mosteiro, sempre que alguém daqui passe por aí.
Todo de você, o indigno Sacerdote. Caetano de Thiene. Vicenza, 07 de agosto de 1518. A Laura Mignani Veneranda Madre. Vosso esposo lhe dê a paz. Sem dúvida na minha última carta, em que pedia orações para minha mãe doente, chegou às minhas mãos. O Senhor quis colocá-la as portas da morte, mas achou melhor esperar por não ter talvez ainda a alma purificada. Seja sempre bendito. Embora fora de perigo, se vê obrigada a 6
ficar na cama, pois a sua idade avançada a exporia as recaídas. Recomendai-a a Jesus Cristo nas vossas orações, sem esquecer de mim. Quis escrever-lhe estas poucas linhas para informá-la da convalescença de minha mãe Ontem recebi a carta do nosso amigo Bartolomeu Stella, fechada no dia 08 de julho em que gozava ótima saúde. Deseja que o visite como quem conhece as minhas necessidades; eu também o desejo; convencido que me urge manter um dialogo com você. Passada a festa da Assunção de Nossa Patrona e rainha dos Anjos, espero que se apresente a desejada oportunidade de iniciar esta viagem. Não deixo, porém de temer que meus pecados e o inimigo da minha salvação ponham obstáculos ao encontro. Suplico você que se dirija à Mãe de todo consolo, para que facilite a maneira de empreender esta viagem, se é para maior glória de seu filho, vosso esposo, do qual sou servidor mais de nome que de fato. Três motivos principais me forçam á esta visita, os obstáculos, porém não são poucos. A espada ardente do divino amor corte todos estes laços para que possa ir vê-la antes de terminar o mês de agosto. Se digne você na festa que se aproxima, dispensar ajuda de vossas orações para o amado filho e irmão nas chagas de Jesus Cristo, Bartolomeu Stella. Todavia somos inespertos, despidos do amor divino e vestidos de afetos mundanos. Em troca o inimigo não dorme. Levantai vossos clamores, afugentai o adversário, enquanto estamos escondidos neste sono letárgico. Se não fazeis isso, pobres de nós! Alegre-se, Madre, porque vossa senhora vai subir ao céu para preparar uma morada, donde reinar eternamente com Cristo, vosso esposo. Que suas chagas enchem todo dia o vosso coração da mais doce suavidade. Com maior afeto, minha mãe e eu a você, humildemente nos encomendamos. Ingrato servidor de Deus e de você. Caetano de Thiene. Vicenza A Laura Mignani Jesus Cristo Bendito, Reverenda Madre nas suas chagas é quem me inspira a confiança e a liberdade com que falo. Ele me impele a dizer em quatro palavras o que acontece. Trata-se da minha sobrinha que vai se casar. Estabelecida o seu dote e pagas as dividas vindas da guerra, me resta só o meu título no valor de dois mil ducados do qual viveria. Me consta que você desaconselhou ao Bartolomeu a compra de um título e eu fiz o mesmo. Suplico você se digne rezar a Jesus Cristo para que me conceda forças para carregar a pobreza, se precisar voltar a Roma. As minhas circunstancias atuais são de escassez econômica. Queira Jesus inclinar-me 7
a que não cesseis de rezá-lo para que tudo seja para sua glória e para o bem de nossas almas, pois são muitas as minhas dúvidas sobre o que tenho que fazer, e não quero senão fazer sua vontade, isso peço, isso almejo. Peço-lhe que me autorize a ir à Brescia e passar aí dois dias. Jesus pode fazê-lo e vós podeis consegui-lo. Então darei conta a vós da pobreza espiritual deste sacerdote, pobre arca de ignorância. A vós me dirijo, Madre minha, que nunca a vi e a considero objeto digno de filial veneração. Em Jesus bom valente. Caetano de Thiene. Veneza A Laura Mignani Veneranda Madre em Cristo. Doce Deus, doce amor, sede também vós nele doce Madre. Na hora em que a despedida de Jesus Cristo, para ir à Santa Ceia partiu o coração da sua doce mãe e arrebatou-o totalmente nesta mesma hora, digo, me chega, oh feliz momento, a vossa carta, que me assegura que o príncipe dos anjos S. Miguel, com a venerável Santa Mônica, apresentou a alma de minha mãe a virgem Maria. Tenho que confessar, doce e venerável Madre, que nunca deixei de invocar São Miguel e santa Mônica, e nunca me faltou ajuda deles. No falecimento de três meus parentes queridos que assistir no espaço de seis meses, especialmente na passagem de minha mãe, a ajuda destes santos me proporcionou grande consolo, assim como a minha convicção de muitas almas boas me acompanhavam naquele momento, entre as quais sabia, estava vossa reverendíssima glória ao meu senhor por tudo. Certamente para dizer a verdade, em quinze dias que esteve na cama, nenhuma vez observei sinal de tristeza no seu rosto, apesar das muitas coisas que faziam contraria à sua vontade. Isso me causou muita alegria. Nada mais resta a dizer. Todos os dias foram celebrados a Missa na sua presença, e quatro vezes recebeu a comunhão. Os quatros últimos dias em que não pode comungar como teria desejado faze-lo. Nunca perdeu a consciência, a minoria, nem à vontade, salvo três horas antes de morrer. Três dias estiveram desenganados pelos médicos, rodeada de servos e servas de Jesus Cristo e escutou boas palavras, mesmo se falava pouco. Somente três dias que precederam a sua morte se lhe ouvia repetir: Pobre de mim, não agüenta; digo isso para seu consolo. Faz quase oito dias que me persegue o pensamento de ela esteja no purgatório, seja pelos meus pecados como pelo seu afeto a minha pessoa. Para a glória de Jesus Cristo me console e não cesse de ajudá-la para a glória do mesmo Jesus. E se lembre de São Paulo e São Martin que não recusaram estar no mundo para serem úteis ao próximo. Não busquei nada para vós. Esquecei8
vos totalmente por amor de Jesus Cristo e não veja outra coisa na pessoa do próximo senão Jesus Cristo, sofredor. Desejai como sei que o fazeis que tudo caísse sobre vós, contudo que as almas se salvem. Escute as ameaças de Deus retroar sobre o povo cristão. Se ponha entre Deus e este povo e gritai: desça sobre mim o castigo. Meu irmão Bartolomeu e eu partiremos para Roma, como nos foi ordenado. Por isso precisamos que o senhor nos revista de fortaleza, pois, o meu coração me diz que vai ser o meu Calvário. Feliz de mim, se Jesus Cristo não me abandona, pois a mais leve contrariedade me lança por terra. A Você me encomendo com todas as sobrinhas, estão comigo cinco com uma senhora, todas de minha família. Jesus Cristo esteja sempre com elas. O Miserável Sacerdote e indigno vosso filho. Caetano de Thiene. Veneza 08 de Julho de 1520. A Laura Mignani Reverenda Madre em Cristo. Jesus Cristo se digne santificar abundantemente nossa vida com a efusão de seu sangue. Respondendo as duas últimas de você, muito estimada Madre em Cristo, digo que não se afadigue em me escrever, porque Bartolomeu e você estão desculpados de antemão. Estou certa de contar com vossa amizade, que me é necessária, e proporcionada por Jesus Cristo única e exclusivamente para o meu bem. Tal é a minha confiança nos méritos de vossa reverencia; que poderiam trazer prejuízos, pois todo o nosso ser é vaidade, e nossa justiça, miséria. Sem dúvida o Senhor iluminou vossa alma para fazer-nos compreender que nada valemos sem a sua graça. Oh precioso dom, mas importa não acomodar no sentimento do vosso nada, e sim que este a conduza ao supremo dispensador, buscando-o com crescente afã, para não nos deixar cair na preguiça, contentos com não nos deixar cair na preguiça, contentos com não o ofendes com o pecado mortal, na qual tantos jazem hoje em dia. Ninguém e eu primeiro, tenta assemelhar-se interior e exteriormente, a nossa cabeça, que é o Cristo. Peço a vossa reverencia que se digne obter esta ditosa semelhança para mim e para o vosso amado filho D. Bartolomeu. Feliz o homem que sabe chamar neste tempo: iluminai-me Senhor, e preservai-me de cair no sono da morte. Minha sobrinha e eu pecador nos encomendamos a vossa reverendíssima e a todas as vossas irmãs. Amemonos todos em Cristo, que nosso afeto não seja carnal nem se apóie no sentimento. Rezai para que os vínculos espirituais nos unam a todos. Não duvido que Cristo atenda o vosso pedido.
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Quanto à venda do meu título, ao matrimonio da sobrinha, ao ficar aqui ou me transferir a Roma, Deus me pôs num estado tal que não sei o que fazer ou pensar. Deixarei correr a barca até não ver as coisas claras, no momento as coisas estão confusas. Oxalá que Cristo purifique o meu coração, para não ser jamais rebelde a sua divina vontade. Não desejo senão permanecer onde lhe agrada e nas condições que lhe sejam gratas, convencido que nesta obediência e na morte de mim mesmo, consiste toda glória que posso dar ao meu criador. As almas se purificam não tanto pelo fervor puramente sentimental, como também pela ação e obras com que o amor se manifesta. Oxalá que tal graça me seja concedida agora, pois ignoro se amanhã estarei em condições de receber o dom de Deus. Mando a vossa Reverencia, um dos dois “Agnus Dei” que recebi de Roma, graças à generosidade do Cardeal Pallavicini. Não vos esqueçais dele nas vossas orações, que tanto precisa, para que possa doar-se ao serviço de Jesus Cristo sem reserva. Me recomendo a vossa Reverencia e as outras reverencias Madres e irmãs Caetano, miserável sacerdote. Veneza, 28 de março de 1522. A Laura Mignani Reverenda madre em Cristo. A santa paz de Cristo bendito e de sua santa mãe esteja convosco e com todas as vossas filhas, tanto no corpo como na alma. As ofensas a Deus são muitas e ele as sente. Para agradecer tanta paciência temos que fazer algo que não só seja de agrado a sua Divina majestade e sim útil às almas do próximo na tempestade maléfica. João Bartolomeu, nosso amigo, cheio de interesse pelo tesouro, entre outras coisas, conseguiu uma relíquia de São Roque destinada por aquele lugar. Certo que a obteve num momento favorável que convém manter em segredo, pois esta senhoria não deixa pagar relíquias do corpo do santo, que aqui se conserva. Uma serva de Deus conseguiu um fragmento do osso e vendo como estão os tempos, manda esta e outras relíquias por meio de seu irmão. Espera que por este modo sendo curta a distância, chegará com segurança nas vossas mãos. Eu a conservei um ano comigo. Peço-lhe que com as vossas orações apoieis propósitos tão santos. Os fiéis daqueles confins estão necessitados de ajuda para manterem-se bons católicos e preservar-se da peste, da fome e da guerra. Repito-lhes o meu pedido: Se por acaso,
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algum amigo passar por aí, prestai-lhe ajuda. Disso é bom não falar com ninguém, Bartolomeu a informará melhor no próximo mês de maio. Não resta senão encomendar-me as vossas orações e as das vossas filhas, pois agora mais do que nunca me dou conta que o amor próprio está vivo em mim. É meu ardente desejo que nosso Senhor concede a Bartolomeu tornar-se livre das preocupações que lhe ocasionam seus parentes, a fim possa gozar uma liberdade mais perfeita. Talvez não chegasse à hora, porém me consta que vossa reverencia não deixará de ajudá-lo. O Senhor Jerônimo de Solana, o cavalheiro espanhol por vós conhecido, lhe pede, como eu, que se digne encomendar a Deus todas as suas intenções. Se eu fosse o que deveria ser, o senhor se serviria de mim para ser glorificado em todo mundo. De vosso reverendo filho. Caetano, miserável Sacerdote. Veneza, 10 de Julho de 1522. Á Sua sobrinha: Isabel Thiene Caríssima em Cristo e por Cristo, minha filha; como a virgem Maria, visitou a S. Isabel e por ela Jesus santificou o menino que estava no seu seio e a ela mesma, se digne visitar você e o filho do teu ventre, para que você que és uma árvore e o fruto que nascerá, seja agora e para sempre, a alegria dos anjos e a glória de Cristo bendito. Sou pecador minha filha, e tenho em pouca estima os meus méritos. Por isso recorro aos méritos dos servos do senhor para que rezem por você a Jesus Cristo e a sua Mãe. Mas vos advirto que todos os santos não podem fazer-vos tão agradável a Cristo, como o podes você mesma. Depende da sua vontade e se quiser que Cristo vos ame eficazmente te ajude, ama-o e encaminha a tua vontade a agradá-lo em tudo e sempre, e mesmo se fores abandonada por todos os santos do céu e por todas as criaturas, não duvides que ele te ajude em todas as suas necessidades. Sabe minha filha, estamos neste mundo, como peregrinos de viagem. Nossa pátria é o céu. Quem se embriaga nos prazeres desta vida perde o caminho e vai à morte. Temos que conquistar a vida eterna enquanto estamos aqui. Não a podemos nós, por tela perdida por nossos próprios pecados. Jesus Cristo nos conquistou novamente. É nosso dever agradecêlo, amá-lo, obedecer-lho permanecer ao seu lado em quanto nos é possível. Ele se deu a nós como comida. Infeliz do cristão que desconhece este dom. Estar em condições de possuir Cristo, filho de Maria e não querê-lo. Ai daquele que não cuida em recebê-lo. O bem que deseja para mim, para ti o quero, minha filha. Porém um só meio existe para sua posse completa: a oração constante a Virgem Maria, para que se digne te visitar com seu filho glorioso. Não temas de pecar de audácia pedindo-lhe que te dê seu filho, 11
verdadeiro manjar de tua alma, no Santíssimo sacramento. De bom grado o entregará para te santificar a ti e a todos os teus filhos. Através da viagem obscura pelo caminho desta vida, donde tantos inimigos nos observam constantemente. Com ajuda tão preciosa estarão longe de nós, como as moscas da chama. Do contrário nos atordoam para lançar-nos narcotizados para os caminhos do inferno. Se nos prevenimos, não somos aturdidos como estamos por este tóxico diabólico. Um só contra veneno pode nos curar deste mal: a comunhão do filho da virgem Maria, Jesus Cristo, homem e Deus. Te suplico, pois minha filha, que lave a tua alma com a santa confissão com o Reverendo Pe. Batista de Crema, nosso confessor, e que comungue um dia a tua escolha, sem esperar à hora do parto. Minha filha não receba Jesus Cristo para que ele se acomode a tua vontade, esta é a minha oração constante. Quero que faça, quanto antes um dom completo de te o do fruto do teu ventre ao filho da virgem Maria, repetindo-lhe exata oração: “Me entrego toda a ti senhor, faça que seja sempre tua, com todos os filhos que me darás.” Oh! Quanto valor não terá este oferecimento, sem esperar as angústias do parto. Se me amas, cumpra o meu desejo, e o que o Sr. João, seu marido, por sua vez lhe aconselhe. Depois faça-o espontaneamente, nem por mim nem por ele. No momento do parto repita a mesma oração. Dá-te novamente a Cristo e a sua mãe Santíssima, pedindo que te torne uma boa mãe, de um filho bom também. Tenho certeza que o Pe. Batista atenderá de bom grado, se o mande chamar, pois me consta que te ama em Cristo. Se quiser agradar-me põe em pratica quanto te disse. Desejo para o Sr. João a alegria da terra e o gozo do paraíso. Mas afirmo por experiência própria, que nem ele, nem reis algum, gozam verdadeiramente neste mundo senão por meio de Cristo. Todas as outras alegrias não são senão astúcias e enganos de Satanás, com as quais astutamente seduz a quem o serve. Acredite naquilo que digo minha filha que não vou enganar-lhe. Amo a tua alma com a minha e o teu corpo mais que o meu, porque queria odiar o meu corpo como odeio o demônio mesmo. Minhas saudações ao Sr. João, a Madalena Valéria e Sra. Clara, em Cristo. Reze por mim e apresente os meus respeitos aos teus Senhor e Madame porto, sem esquecer o Sr. Francisco. Quem te ama como pai. Caetano, miserável sacerdote.
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Veneza 01 de Janeiro de 1523. Á Paulo Giustiniani (Reformador dos camadulenses) Reverendo e amado padre em Cristo. Desejo para vossa reverente padre a santa e espiritual circuncisão da qual nestes dias se alegram o céu e aterra. Também a desejo para mim hoje é a sua própria festa, é necessário que vossa paternidade me conheça assim como sou, não confiando nos olhos, nem nos ouvidos corporais. Não é coisa boa, quando a fama procede à virtude. Este é o meu caso. O Senhor por sua em compreensível bondade, me trata como a samaritana, e para que não seja um caniço oco, me estimula a virtude por meio dos seus santos servos. Seja louvado para sempre. Vossa reverente paternidade com os seus elogios, esta carta me anima a correr em frente, e como o senhor me faz entender que deveria ser em realidade o que pensais e dizeis que sou. De vez em quando, na sua bondade, esta amável proposta, e, contudo não dou um passo. A vossas orações não me faltam, pois não desconheceis que se vive em solidão, é para prestarmos ajuda àqueles que lutam no mundo. Pedi, reverente padre, a Deus misericordioso, que nas obras em que me dedico, não siga a minha inclinação e sim a sua santa vontade, e se é esta, pedi que não corra em vão, e sim que chegue até a meta, que é a glória do senhor, sem nenhum motivo humano. Reverente Padre impetre-me do senhor, que seja digno de ficar aos seus pés no corpo Místico, como planta unida a ele e escondida aos olhos humanos, que seja uma coisa com Deus, sem esta união não sou nada, pobre de mim. Uma coisa acrescentará, sendo como sou as vossas amáveis palavras me obrigam a gratidão mais profunda. Que o fogo da caridade se expanda nos nossos corações. Agradeço a oferta das vossas orações. Graças incessante aquele de quem nós homens e as coisas recebemos o ser e o movimento. A sua infinita bondade o retribui o cêntuplo. Já n/ao sou o jovem indeciso que vossa reverencia conheceu no estudo a Pádua. Em Roma, efetivamente, vi vossa reverencia, mas não teve ocasião de falar-lhe. Desejo que vossa reverencia consiga a perfeição no seu trabalho. De que vale a reputação quando faltam as virtudes? As notícias divergências entre vossa reverencia e outro servo de Deus, o superior dos camaldulenses, me causaram profunda pena. Todavia desculpo os dois, pobre de mim, aos dois condeno. Louvado Seja Jesus Cristo. Por diversos meio me chegam notícias de vossa reverencia. Informei-me por uma carta que depois de haver começado a tradução de Cassiano, havia feito uma grande tarefa. Lamento a minha falta de incentivo e não escrever em seguida para estimulá-lo a terminá-la. Agora aproveito a ocasião. Já que vossa paternidade me oferece tão gentilmente, procurarei o que é de Cristo e não as coisas minhas. Carecidamente suplico que, pois é do 13
agrado de Deus, vos consagreis a tradução da obra tão importante. O meu critério pouco vale, porém me parece um jardim donde se podem reconhecer flores de virtudes sólidas, como uma faca cortante para extirpar os vícios. Falando numa certa ocasião com um digno religioso (João batista; da Crema?). Verdadeiro discípulo de tal grande mestre, sobre a conveniência de traduzi-lo por uma pessoa capacidade, me disse que a seu modo de ver, não bastava entende-lo e sim sentia falta vive-lo para levar a cabo à honrosa empresa. Penso que se trata de um trabalho reservando a vossa paternidade que entende e está a altura, e mastigará os duros bocados para que os que somos crianças possam nutrir-nos de seus ensinamentos. Desejo-o vivamente, para que se farte e reviva a presente idade, morta de frio, com esta comida quente. Que é isto meu deus? A tocha ardente da hóstia consagrada não perdeu a sua eficácia para abraçar na sua chama toda criatura humana. Não desista em vossas orações, meu reverendo padre, para que o fruto deste sacramento, tido em tão pouca estima, não se inutilize por nossa culpa. Voltamos ao assunto, vossa reverencia, que é mestre na virtude, se digna por amor de Cristo, repreender a sua tarefa pondo ao alcance de todo este jardim de santidade, que hoje é um monte inacessível à ignorância de muitos. Só me resta manifestar quanto desejo que sua irmã e seu cunhado de Casa Gabriel sejam cada dia mais santos. Trabalham muito nas coisas exteriores. Não cessarei de repetir: Para mim as obras exteriores e todo o dinheiro do mundo nada valem, pois não são temperados com o molho deste sangue, derramado com amor tão ardente. Veneza, cidade magnífica, como não chorar sobre ti? Não tem quem busque a Cristo. Não encontrei, por meus pecados, um nobre que despreze a honras por amor a Jesus Cristo. Ninguém, ai de mim! Cristo espera e ninguém se move. Não direi que não existam pessoas de bom coração, mas permanecem escondidas. Temem fazer o ridículo por confessar e comungar. Não desistirei até não ver os cristãos correr famintos aos sacerdotes para nutrirse do Pão Consagrado, até que o estime uma honra e não um motivo de respeito humano. O Sr. Benito contínua doente, e mesmo se fraco de corpo, cheio de firmeza de animo, não quer nada com o mundo e só pensa em fazer o bem, embora nas condições de 1522. Rogo a Jesus Cristo que 1523, que hoje inicia, sejamos totalmente diversos para sua glória. Amém. Fui e sou incircunciso. Creia vossa reverencia que assim sou internamente e se digne me perdoar. Arranquemos nossos pecados da planta de Jesus, nome que por si só faz as delícias dos anjos. Reverente padre, viva e seja como morto ao mundo, e vivo para Cristo. Seja prudente, como costuma, com seu magnífico cunhado, para edificar e não para destruir, e não pare de rezar por ele. 14
Nosso amigo D. Jerônimo de Solana se encontra em Pádua com algum fruto espiritual. Se lhe enviou a carta, espero que a leia com gosto, pois tanto ele como eu tenho vosso padre em grande estima. Dia da Circuncisão. Servo e filho de vossa reverencia. Caetano, miserável Sacerdote. Roma, 22 de agosto de 1524. Á Fernando e Jerônimo de Thiene (Primos paternos) Jesus – Maria Veneráveis Irmãos: Cristo seja sempre a vossa paz. O nosso mais vivo desejo sejam que o reino de Jesus Cristo lance em nós cada dia mais profundas raízes. Seu reino, o confirmou ele mesmo a Pilatos, não deste mundo. Ele na sua bondade, convida a fazer parte neste reino, dando-me a entender, cada dia mais claramente, que não podemos servir a dois senhores. Vejo o Cristo pobre e eu rico; o Cristo escarnecido e eu em delícias. Desejo ardentemente aproximar-me de cristo, ainda que uns passos. Este senhor, na sua bondade, me cumulará de bens eternos. Por isso decidi deixar o que é mais caduco, privando-me dos meus bens cedendo-os aos meus familiares. Para tal efeito, mando a Vicenza a escritura do poder. Ao despreender-me destes bens cumpro com meu dever diante do Senhor. Com isso freio a minha soberba, previno possíveis suspeitas, fecho as portas as disputas e a qualquer demanda contra mim, e contra minha sobrinha, e seus herdeiros, sob pretexto de ter sido lesionado em vosso direito por meu pai, vosso tutor, a raiz da participação ajustada quarenta anos atrás. Nisso procedi com retidão, Deus bem o sabe, e conservo tranqüila a minha consciência. Quanto ao matrimonio de minha sobrinha, não se pode proceder de outra maneira, deus sabe. Nos amarraram os fideicomissos (corretores), de cuja existência, para o bem, e está claro, não me considero responsável. Tudo o que fiz, o fiz consultando a consciência santa de homens santos aos quais esclareci tudo. Se me fosse dado contentar todos em tudo, que alegria para mim. Agora faço o que poço com a força e o carinho que devo a bondade de Deus. Entrego uma escritura de posse ao Sr. Batista de Porto e João Zaninelli, pela qual cedo a vós e a vossos sucessores segundo o direito feudal, desde agora, todas as minhas quatro décimas de modo que sejam vossas e não minhas segundo o direito e o usufruto etc., só lhe peço, por caridade, 50 ducados, que pedi emprestado e necessito devolver. Reparti-as como bons irmãos. É meu vivo desejo que os deis por indenização dos meus 15
predecessores, que tenham prejudicado a respeito da tutela e divisão. Assim mesmo que queirais usar do vosso direito por aquilo que é dado pretender contra mim, minha sobrinha e seus herdeiros, sobre dita tutela e divisão só, já que no mais, contudo não ter prejudicado, por quanto se os corretores são bons, eu não posso fazer que sejam maus, e se não posso fazer que sejam bons. Jesus Cristo faça que a paz reine entre vós e que vos comporteis como bons cristãos vós e vossos filhos, com a sobrinha e os seus, para que sendo aqui todos os amigos, possamos gozar externamente o paraíso. Que me convença, por deus, de nada tendes contra mim, minha sobrinha e seus herdeiros, pelos possíveis prejuízos ou erros relacionados com a tutela e a liquidação dos bens. O Senhor faça que me se ofereçam muitas ocasiões de agradecer-vos com meus pessoais serviços. Para proceder com justiça, deve-se proceder de fato de que vós, senhor Fernando, contais com numerosa prole, ao passo que o Sr.Jerônimo, tem uma só filha, já maior. Que o próximo matrimonio de sua filha, Jerônimo, não dê lugar a discussões e discórdia entre vós. Vossa parte, sendo algo menor, é sem dúvida mais rica e está isenta de carga (imposto). Que Jesus Cristo os bendiga, esforçai-vos para ajustar vossa conduta a sua vontade. Não se esqueçam que todos somos mortais. Vivamos todos de tal maneira, que não tenhamos que ouvir a sua chegada: não vos conheço, e nos feche a porta. Que o senhor não o permita. Saudações a vossa famílias. Que Cristo vos acompanhe sempre e com ele a sua santa graça. Mandarei toda a documentação relativa aos feudos. Agora mesmo parte um correio, e não tenho legalizado a procura. Sobre, entretanto a presente, nela consta à doação, enquanto vós vos desposais a fazer o que peço, começando pela procura. Aos respectivos senhores: Os Irmãos Fernando e Jerônimo de Thiene. Caetano, miserável sacerdote. Veneza, 26 de março de 1529. Á Bartolomeu Scaini Paz a você, Venerado irmão em Cristo. Está em meu poder a sua carta. Agradeço. Fico contente pelos santos desejos que mostra o seu conteúdo. Oxalá cresça. Pelo que vejo, não é assim no momento. Porém estão aí, e isso me alegra. A minha alegria será completa quando se traduzem numa conduta progressivamente melhor. Me atenho ao que vejo inclusive em quem se dizem servidores do Senhor. Não posso por menos perguntar-me se não serão vitimas de um engano. Sabeis que vosso Bernardo, com seu vestido de saco, se acha agora em nossa casa, está conosco há três dias. Diz que em 16
toda a sua vida queria se submeter ao parecer do homem algum. Mas agora, com docilidade se dobra, por amor de Deus, ao conselho do Sr. Bispo. O confiei a sua direção, para que o cure e o sare com o remédio da verdade. Espero que o Senhor lhe dará a graça para obedecer e submeter como é sua grave obrigação, deixando de pregar em público como em privado. De não tê-lo feito antes, cabe, a meu entender, atribuir a quem pesa o seu grave dever, e não se atreveram impedi-lo. A lei a respeito é determinante, sancionando inclusive com excomunhão a qualquer leigo, que por sua conta, se atreva a pregar público e privado. É unânime o parecer neste ponto dos santos doutores. Aqueles que se dizem enviados de Deus é mister que o demonstrem com provas irrefutáveis. Não creio que se pode acusar este pobre homem de franca rebeldia a Igreja. Todavia espero que volte atrás se não o dificultam nossos pecados agora, e dos outros se a eles irá. Se não acontece o mesmo que aconteceu a Balaão, em tal caso será doloroso a ele e ao povo que o segue, embora em boa fé, se se considera anunciador da verdade. Pois resultará daqueles dos quais o Senhor disse: e dizem: Não profetizávamos em teu nome? E ele responderá: não vos conheço, pois não me conhecestes. Creia-me, meu irmão, tais são os tempos que não resta senão suplicar. Depressa, me socorra, para que o erro não me seduza, se não se abreviam os dias. Peço com humildade que os mantendes unidos a Santa Igreja de Cristo que não tem ruga nem mancha, ainda que prostituta nos seus ministros. Nela está Jesus Cristo, escutai-o. Que lhe aproveitará conhecer a ruína do universo, ou os santos da terra? Não vos deixeis impressionar. Cada dia é maior o temor de que surgem aqui e ali falsos profetas de Cristo. As trevas nos invadem, guarde-se, pois de cair, aquele que se sente seguro. E vós o estais demasiado ao prometer sobreviver e ser (entre os eleitos daqui). Puxa! Esforcemos meu irmão, para ver não aqui, mas no céu, a esposa do cordeiro, ornada, descendo aos nossos irmãos, que clamarão e escutarão neste vale de lágrimas após nós. Sinto que incluído, vocês me atrevais a prognosticar que destacarei, no serviço dos demais, pobre de mim! Busquei a mim mesmo em detrimento da honra de Cristo e sem utilidade para a minha alma. Ajudai-me a retificar “e logo está, pois aquele dia”, dia de ira para mim, como quantos crêem. Rezai meu irmão, para que a fuga não venha ao inverno ou no sábado, ou quando estão grávidas e amamentando. Nos aproximamos ao nosso último juízo. Não prometamos fazer grandes coisas amanhã, quando somos incapazes de realizar as mais pequenas hoje. E se não somos fieis nas coisas alheias, como o seremos nas nossas? Aspiremos ao invisível e eterno, o de aqui é temporal e transitório. Vos seduzem os descobridores de novos e estranhos caminhos em vista a união com deus, quando recusais servi-lo em tantas coisas fáceis à ao seu alcance como pede o senhor to do dia? Que não aconteça outra vez. 17
O presente é muito confuso, filha da confusão da minha mente, ignorante e soberba, que pensa ter zelo do vosso bem e mente na soberba. Contudo se sois humilde, algo podereis aprender de sua leitura, se não tornará-lo-á mais. Ora por nós. Saiba que nosso irmão Paulo Arigoni, renunciando a seus bens, se retirou num lugar onde ninguém o conhece, para provar o que é a graça de Deus nele. Oremos por ele. Não deseja aparecer mais nestes lugares, atento a cumprir a vontade de Deus. Poucos sabem o lugar onde se encontra atualmente. Muitas saudações ao senhor Estevão e agradecemos a sua carta. Correu a notícia de Bernardo, capturado em Veneza, tinha sido enforcado em Roma. Nada mais falso. O Pe. Bernardo está aqui, muito disposto a submeter-se. Custa tira-lo do seu erro, tanta é a sua boa fé. Sua vontade de submeter-se é sincera. O doador do presente tinha desejo de falar-lhe. Não lhe foi permitido para não contribuir ou dificultar a sua conversão. Ao declarar-se a seu favor, haveis contribuído a sua ruína, já que a perdição de tais homens é sempre a favor dos bons. E neste caso, o vosso precisamente. Ao nosso venerável em Cristo: Bartolomeu Scaini, Saló. Caetano, miserável sacerdote. Veneza. 15 de fevereiro de 1530. Á Bartolomeu Scaini Jesus Meu irmão em Cristo: Atribuo a designo de Deus que Beltrami não veio ontem. Hoje se dignou inspirar-me qual seria a melhor maneira de converter em realidade o que constitui, faz tempo, o objeto de nossos desejos. Que o Senhor nos faça dignos de viver na santidade Deus, isto é com a sua justa maldição, ganhar o pão com o suor do rosto. Entendo que se conseguir, asseguraria a existência de nossa congregação em Veneza, fazendo-a aumentar não somente em número, como em virtude e independência. Então poder-se-ia como São Paulo evangelizar gratuitamente não esperando senão o senhor. Pois bem. Eu creio que uma imprensa nos poria em situação de conseguir para nós este modo de liberdade. Agora temos aqui uma sala espaçosa com outras da dependência que serviriam a maravilha a obra em projeto. Nosso querido irmão Lucas, no século, Paulo Arigoni, nos reserva a caridade que trás por esta finalidade. Dei ordem ao nosso Pe. Paganini, sujeito de talento, recomendável por sua prudência e notável virtude que escreve sobre este assunto, o que Espírito Santo o inspire. Eu, por minha parte, quis falar disso e rezar que se o senhor dá a entender que este projeto é viável,
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não deixai de escrever-nos e falai com ele para saber se é bom negócio para nós. Se o Senhor se digna ajuda-lo a por em pratica a obra tão boa, e a ser com isso seu ministro, organizando esta santa vida entre os padres e os ministros do evangelho, tenha por certo que valerá muito mais que se doasse uma oferta de 1.000 ou 10.000 escudos, pois esta seria a maior obra, se conseguir realizar. No momento precisaria dispor de quatorze pessoas desta comunidade, algumas com ajuda de Deus, ensinar aos outros. Se o senhor inspira a Paganini a gentileza de vir a ensinar-nos durante um ou dois meses, ou os que cristo disponha, teria-nos tantos discípulos quantos formamos esta comunidade. O alojaremos religiosamente, e não lhe faltará alimento espiritual segundo as nossas poucas possibilidades. Se o projeto vai em frente, esperamos que queirais trazer ajuda vossa, caridade no que é preciso: pouca sabedoria. O Senhor dirija todos os nossos atos sempre para sua glória, e a paz do senhor esteja convosco. Saudações no senhor, de nossa parte, ao Sr. Paganini. Sempre a sua ordem, se poderá isso, com todo o amor que temos lhe, ainda que não aceite o nosso pedido. Se estiver disposto a ajudar na realização desta obra, avise-nos quanto antes e dizei-nos o que promete e possa fazer para a nossa consolação e para pedir a proteção de São Paulo. Ao nosso irmão em Cristo: Bartolomeu de Saló. Vosso caríssimo irmão. Caetano, que se humilha muito. Nápoles, 25 de maio de 1537. A João batista Scaini Dias atrás recebemos vossa carta. Pouco depois chegou mais uma vossa carta, dirigida ao mordomo, que chegou faz três dias a Nápoles. A carta foi-lhe entregue. Por certo, nos manifestou que tropeça com dificuldade em relação ao motivo da sua presença aqui, porém como esperava tudo acabará bem. Ontem nos chegou mais uma vossa, do dia doze, fechada em pesara, com uma segunda, para o mesmo destinatário. O avisamos que passasse hoje por aqui, até agora não se deixou ver e não sabemos onde se hospeda. Está certo que virá. Ela não nos escreveu, quis antecipar suas impressões sobre o êxito feliz de que motivou a sua viagem. Em todo caso o que importa é viver sempre preparados a despojar-nos quando deus quiser, desta tão amada veste de carne corruptível. O Senhor nos conceda em sua misericórdia. Aquele que parte, interceda por aquele que fica, e este se consola, a sua vez, esperando que seu protetor 19
goze da bem-aventurança reservada aos eleitos. Entretanto, esforcemo-nos para enfrentar o grave peso das provas e contratempos que são os espinhos e dificuldades de que, atrás da universal maldição, está revoltada a existência. E não vale livrar-se dos seus efeitos, já que se alimentam com mais raiva, àqueles que tratam fugir. Saudações ao Sr. Bartolomeu, ao Sr. Estevão, e a todos os queridos amigos, vossos e nossos por parte do Pe. Pedro Foscarini-Prepósito, e de todos nós. Faça o favor de estendê-los aos amigos de Verona e de outros lugares, a nós em Cristo, caríssimos. Ao nosso em Cristo honorável. Sr. João Batista Scaini de Saló. Vosso em cristo, Dom Caetano. Veneza, 02 de dezembro de 1542. A Bartolomeu Scaini Caríssimo em Cristo: Não posso escrever, pela mão ferida, era o dia dois de dezembro. Contudo faze-lo movido pela caridade. Os visitadores dos pobres, membros do oratório do Divino Amor, boas pessoas e de não menos boa consciência, me asseguram que Jerônimo, encarcerado por vossa instância, reduziu-se a miséria, pouco menos que extrema, e não existe esperança alguma de que estando aí, possa pagar algum dia, nem tampouco satisfazer a prisão. Assim senão, tenho certeza que sereis compreensivos e não contribuíeis que morra sem esperança de suas coisas. Sede justa, como desejo diante de Deus e dos homens e faça-se aquilo que Cristo Nosso Senhor quer de nós e não outra coisa. Pensei bem, avisa-lo do que melhor pareça neta questão, porque a estes dois visitadores, assegurei no Senhor, que você é bom cristão, tanto zeloso pela justiça, como na piedade. Ao Sr.Bartolomeu Scaini, caríssimo em Cristo. Esteja bem, irmão, e saudai a todos os amigos em cristo. Teu irmão. Caetano, sacerdote. Veneza, 09 de dezembro de 1542. A Bartolomeu Scaini Caríssimo irmão, paz: A vossa carta recebida há uns dias atrás, me é grato responder que se há dado seqüência às outras. Contudo, no que se refere a recomendar o vosso filho para o ofício de Juiz, não nos atrevemos a fazê-lo, já que não nos parece prudente aconselhar aqueles que aspiram a exercer cargos de cura de almas ou esta classe de ofício.
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Desculpe-me que o diga que se julgar é um santo ofício, não todos estão em condição, especialmente nós, de, de eleger com habilidade aquele que tem de exercer esta delicada função. Sem dúvidas antes do nosso temor, devemos purificar os nossos desejos e seguir a Cristo para a prática daquilo que é bom. Nossas saudações pra vós e para nossos amigos em cristo. A nosso caríssimo em cristo: Bartolomeu Scaini. Caetano, Sacerdote. Veneza, 17 de fevereiro de 1533. A Francisco Capello Caríssimo irmão em Cristo. Dias atrás chegaram três cartas vossas. O presente é resposta a que se referia o pedido do Sr. Marcos Antonio, nosso amigo. Tomamos em consideração e nos ocupamos juntos, do que o nosso amigo pede. Apresentamos deste modo este seu desejo ao senhor, e depois reunidos de novo, nos pareceu entender o que convém ao nosso Instituto, e a quantos que como nós pusemos a mão no arado, segundo a expressão evangélica. É indispensável habitar unidos em comum e seguir a vida comum naquilo que não prejudica a saúde do corpo ou da alma. É próprio dos servos de deus, que juntos na mesma comunidade, suportar o jugo de Cristo sob os cuidados do mesmo pastor, fugira individualidade e toda e qualquer particularidade. Os que vivem em comunidade não foram na mesma hora do dia, e sim conforme a escolha do bom pai de família, que não se desdenhou de chamar mais que uma décima primeira hora: Por que estais todo dia sem fazer nada? Daqui que na mesma companhia, se acham pessoas de diversas idades, de diversa saúde, complexidade e virtude também diversa. Por isso faltam-nos seguir a norma que o Espírito Santo inspirou aos nossos santos padres, os apóstolos, dos quais está escrito: Distribua tudo, segundo a necessidade de cada um. Norma esta que Santo Agostinho faz sua e recomenda com estas palavras: Não igualmente a todos, porque, porque nem todos valem igualmente. Vindo em particular ao caso do Sr. Marco Antônio, se nosso amigo espera que nesta pobre companhia ache comodidade para desinteressar-se do mundo e adiantar-se nos caminhos de Deus; será vã a sua esperança se não se fundamenta na convicção de que nos guia e governa somente a bondade Divina pelos exemplos e doutrina dos referidos santos Padres, e por sua regra antes mencionada, não inventada por nós, nem fundada no parecer ou vontade dos homens. Se ele está convencido de que a bondade do senhor, como nos congregou, assim nos mantém e governa, deve igualmente admitir, que se mantém o desejo de morar entre nós, perpétua ou temporariamente, para servir a majestade de Deus e prover 21
a sua salvação, a mesma bondade divina, não há de negar-nos inteligência para conhecer a sua necessidade, nem caridade para suportar sua fraqueza de corpo e de alma, nem os recursos necessários para dar-lhe o sustento na medida necessária. Por conseguinte, se nosso marco Antônio mantém sua bondade de abraçar nosso Instituto, falta que se convença, de que o tempo que Deus quiser tê-lo na nossa companhia, deve livre e absolutamente ficar aos pés de Cristo e confiar-se ao nosso cuidado; renunciando a sua liberdade, a todo o arbitro de si mesmo e a faculdade de dispor, como proprietário, de alguma coisa, temporária como nós renunciamos a estas coisas, nós que ficamos e vivemos unidos sob o jugo de Jesus cristo. Se isso lhe parece duro, é claro que não crê que Deus está entre nós, nem que é ele que nos dirige; e se nosso amigo não crê nisso, não tem motivo de desejar viver na nossa companhia, já que se nos tira a proteção e o consolo da Divina bondade e a esperança de servir a majestade divina com o favor de sua santa graça, tudo que exige é repulsivo e verdadeiramente odioso, na linguagem do mundo. Porém, se não tem força para abraçar a cruz nua, pensa morar temporariamente com estes servos do senhor, se disponha fazer o sacrifício nas condições ditas, e cuida desde já das suas coisas a fim de que, quando vier, se ache totalmente livre das preocupações do século. Tenha confiança em deus, e fica sabendo que, por nossa parte, se não aceitamos seus bens, nem ainda por esmola, menos estamos dispostos a carregar com as preocupações que haveria acarretar-nos a cuidar da sua administração, para que estas coisas não nos sirvam de ocasião de distrairnos em detrimento da paz. Em conclusão, assim que, se ele apesar de tudo, persiste em querer entrar não tem que pensar noutra coisa a não ser, ter mortificados o próprio juízo, e vontade, de modo que entre ele e nós não exista mais diferença, se não, que nós vivamos perpetuamente pregados na cruz, e ele é livre de ir embora quando quiser ou nós decidirmos. A respeito de ensinar, respondemos o seguinte: Se admiramos sua cultura, nós o aceitamos, mais por caridade em Jesus Cristo, e temos a esperança de que se humilhará para aprender o alfabeto de cristo, e nos move mais a desejá-lo que qualquer outra qualidade sua, seu saber ou qualquer outro bem do mundo que poderia trazer ao nosso instituto. Expondo-lhe, pois a regra, e deixe o resto o cristo fazer. Claro que deveria avisar o nosso reverendo Padre, e Bispo de Verona, não seria isso preciso, se o nosso Marco Antônio se sentisse força de vontade para dar-se completamente ao serviço de Jesus Cristo. Se compreender que, em tal caso, ninguém o poderia impedi-lo e não se deve pensar que o referido padre iria fazer o que não deve, nem pode. Porém, sendo tão imperfeito o desejo do nosso amigo, e sua vocação tão duvidosa
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e tão exposta à inconstância, não nos parece prudente dar um passo nesse assunto sem a licença e benção do referido padre. Vosso irmão em Cristo. O Prepósito e vossos irmãos, os Clérigos Regulares. Veneza, 05 de outubro de 1542. Aos irmãos de Saló. Caríssimos irmãos em Cristo. A fé que não agrada, é o que temos a dizer. Ainda menos o seria se a devoção e o afeto que nos vincula a vós e a toda esta cidade se fundasse nos interesses humanos. O mundo não tem senão um olho com o qual julga as coisas segundo lhe agrada ou não. Mas depois que agradou ao Espírito Santo unir-nos a vós com o laço do santo amor, que nem a morte nem à distância quebraram, dócil a sua vontade aceitamos o sacrifício que supõe para uns e outros o separarem-nos corporalmente, imitando, embora membros indignos, a nossa cabeça, Cristo, bendito, que ao separar-se dos seus, o fazia com a promessa de que a tristeza dos seus amigos, se iriam converter em alegria. O mesmo espera nos concederá a uns e outros, este benegníssimo Senhor. Só resta suplicar a sua infinita bondade, que se for sua glória, nos conceda ver realizada a segunda de suas promessas neta vida mortal para maior incremento da nossa eterna alegria. “De novo vos verei e o vosso coração se alegrará”. Desde que foi possível, temos consentido a permanência de alguns de nossos irmãos, especialmente do Pe. Bernardino Scotti, entre vós, caríssimos irmãos em Cristo e isso não sem algum prejuízo de nossa congregação. Agora não podemos mais, e é preciso, que uns e outros, caríssimos em Cristo, façamos da necessidade uma virtude e nos revistamos de paciência. Da parte de Deus e nossa temos pedido obediência aos nossos citados irmãos, que quanto antes, devem entregar-se todos os três a esta casa de Veneza, para os fins que o Senhor, segundo sua vontade, queira manifestarnos. A estação já avançada nos impede lhe dar mais tempo que estritamente necessário para despedir-nos de vós. Queira o Senhor na sua bondade reforçar os laços de afeto que espiritualmente nos unem e escutar as orações que por vós fazemos por motivo da separação a que o dever nos obriga. Seja grande renumerador de vossa caridade para conosco, e que nossos serviços e fatigas em benefício desta companhia se traduzam de nossa parte em preces incessantes para nossa companhia. Vossos irmãos em Cristo.
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O Prepósito e os Clérigos Regulares. Aos nossos irmãos caríssimos e honoráveis em Cristo da Companhia do Divino Amor de Saló. Veneza, 17 de junho 1541. Aos Confrades do divino amor de Vicenza. Caríssimos irmãos em Cristo. A Santa paz esteja convosco. Os meus desejos de saudá-los movem-me a escrever, apresenta carta. Não posso deixar de congratular-me por ter tua Divina Majestade feita dignos que, entre tantos cristãos, vós fostes os escolhidos para a altíssima dignidade de consagrar-vos ao cuidado de pessoas chagadas e enfermas e, todavia atender a outras obras de espírito e virtude, como as que praticais no vosso Oratório e Companhia, todas as obras estas, de verdadeira misericórdia espiritual e corporal. Peço-vos pela misericórdia do meu Senhor que tenhais em grande estima tais obras, se desejais que Deus tenha cuidado das vossas almas. Ah, meus caríssimos irmãos, se desejais proporcionar consolo a minha alma fazei que ouça dizer e que seja assim em verdade, que a obra do hospital esteja dirigida com amor e responsabilidade, e que vossa conduta seja luz e aroma nesta pobre cidade. Peço-lhe pelo amor de Jesus Cristo e de sua Mãe Santíssima, que os animeis nestas santas atividades. Rogai a Deus por mim, e recebais o presente sem ter em conta os meus pecados, mas somente o amor que lhe manifesto, e a obrigação que tenho de ama-los em Cristo Nosso Senhor, e desejar de todos os modos o incremento de sua gloria nesta Santa Companhia. Caetano, Presbítero. A Irmã Maria Carafa. Reverenda e Caríssima Madre: A alegria de Jesus Cristo esteja convosco. Não posso deixar de responder a vossa última carta, tão grata como são sempre as outras que vos digneis escrever-me. Duvido poder corresponder como seria meu desejo, porém suprirá por acréscimo, assim espero, aquela imensa bondade, que com o laço do seu santo amor, nos tem tanto estritamente unidos. Queira sua divina Majestade, faze-la saborear, ainda que na pátria celeste, e se lhe agrada, por que não? Um pouco também neste mundo. Vós vossas filhas e eu, sendo vários e viver tão longe, não somos verdades que somos uma só coisa no amor de Jesus Cristo? Avante, querida Madre, o que nos tem na prisão há de livrar-nos um dia. Como nos ama este Senhor. Por nosso amor e nossa eterna salvação, morreu, ressuscitou e agora reina nos céus.
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Choramos de alegria. Porém não percamos de vista a promessa consoladora: “Vosso choro se transformará em gozo”. Lamentamos-nos dos pobrezinhos, que sem tomar consciência de que este mundo não é senão uns exílios se entregam aos loucos prazeres, como se fosse a Pátria. Ponde toda vossa alegria na falta do gozo mundano, e como capitão viril (se faltam às forças corporais e o espírito nos fortalece), infundi coragem e valor a essas filhas que Cristo lhe deu. Confortai a Irmã Cristina, a pequena enferma, o Senhor a mantenha junto a si por meio da enfermidade. Encorajai a bondosa Catarina. O seu maior consolo seja ver-se esquecida pelos homens. Saudai a Vice-priora e as demais, individualmente. A todo o senhor se digne conceder a sua santíssima paz. E vós por caridade, não nos esquecei da minha alma. Seja sempre a Divina Clemência quer a ilumine. À Priora da Sapiência. Veneza, 06 de abril de 1541. A Irmã Maria Carafa. Soube que se encontra fraca fisicamente e que lhe afadiga o escrever. Pois bem, eu experimento tal debilidade na minha mão e penso: será decoroso que escreva alguma vez a alguém em condições tão desagradáveis. Contudo não me resigno a não escrever umas linhas, mesmo se escritas com mãos feridas. Hoje me chega a vossa carta escrita no dia doze, passado. As vossas cartas sempre me agradam. Deus queira que um dia possamos tornar-nos a ver. e sobretudo, queira unir-nos pra não nos separar-nos jamais no bem-aventurado reino, que nos mereceu o filho de Deus e da virgem Maria. Para aquele lugar de alegria, deveremos reservar nossas ânsias de felicidade sem fim. Tenhamos uma alma forte, Madre minha, quando nos chega a fadiga, pensemos que já nos resta pouco para chegar a meta. Não tardará a passar nossa Santíssima Advogada e Mãe do Redentor. ela cumprirá nossa infidelidade com o manto da sua misericórdia, e nos acompanhará na presença do justo juiz, seu filho, que não desdenhará, certamente, da sua mão, o peso dos nossos pecados, e como se fossem dela mesma, pagar a satisfação por todo aquele que é seu Pai e nosso Pai. Encorajai a vice-priora e as outras irmãs e exorte a Dona Catarina, Caríssima filha, a portar-se como valente e a purificar-se com o banho que nos prepara nestes dias (semana santa) o nosso Médico Celeste. Minhas saudações à cara Madre D. Luiza e que se digne elevar por mim uma oração fervorosa com a tão estimada em Cristo, D. Cassandra e quantos nos amam em Cristo. Quando amanhecerá o dia sem noite, em que nos será dado contemplar-nos no sol radiante e na luz verdadeira que é o cordeiro sem 25
mancha? Mas aí, que me acho indigno de levantar os olhos a esta luz e não posso deixar de gritar enquanto me arrasto por terra; Sede propício a mim pecador, que sou esterco e não estou seguro. Saúdo-vos no Senhor e que vos bendiga sempre. Passamos uns dias sem notícias do nosso Reverendíssimo Pe. Carafa. Como pude, lhe escrevi. o Senhor o faça sempre feliz. Vosso filho em Cristo, Pe. Caetano. Veneza, 28 de julho de 1542. A Irmã Maria Carafa. Minha Reverenda Madre em Cristo: Soube por diversas pessoas novas notícias de vossa saúde, e como o Senhor chegou as vossas portas e não a quis levar consigo. Paciência, algum dia será. Que a amada em cristo, Irmã Catarina se alegre ao acompanhar Jesus Cristo na Cruz, junto a qual sua mãe Santíssima e sempre Virgem Maria permaneceu firme e constante. Tenho confiança de que de hoje em diante, em virtude desse nome, Catarina será enriquecida das riquezas do céu, isto é, de grande humildade e de singela fortaleza, desprezando como barro a inútil soberba e soberba débil deste Falar e traidor mundo com todos os seus seguidores. Por este, deve sofrer com Jesus Cristo e as demais santas e servas fieis, chorando sem cessar, dia e noite, aceitando com gemidos iluminando com dor e nutrindo com choro de seus olhos, os filhos que o eterno Pai se digne lhe dar, em Jesus cristo. Suplico o meu Senhor que a faça digna de contemplar no céu tais filhos destas vossas filhas, as quais impetrem bondade para mim. Caetano, vosso filho em cristo. Veneza, 30 de setembro 1542. A Irmã Maria Carafa. Minha Reverenda Madre em Cristo: Não posso exprimir alegria que me causou a vossa carta. Certamente, querida Mãe, vamos arrastando nossa carne por esta terra semeada de espinhos; mas alegremo-nos de verdade, pois se aproxima a nossa redenção e a nossa salvação está mais próxima de quando abraçamos a fé. Receba minhas saudações, reverenda madre, com todas as Madres e Irmãs, vossas filhas. Desejo de toda a minha alma que as achem todas revestidas no corpo e no espírito de perfeita e única eterna virtude da santa caridade, a qual é filha e mãe da santa voluntária obediência. Por isso, inculcá-las-ei até a morte. Conservai-as nela, por ela caminhais, que pela caridade chegareis com certeza ao porto da salvação.
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Minha filha, irmã e Madre, sede humilde. Não confiei em você mesma. Sede filha da Virgem Maria “Em não crer nada novo”. Rogai a esta Santíssima Mãe que me proteja com manto da sua humildade e me livre da justiça de seu filho, justamente provocada pela minha grande ingratidão e pela minha falta de correspondência ao dom dos santos votos. Desejo que a bondosa filha, Irmã Maria Catarina, permaneça crucificada agora com o desejo, e chegado o tempo da profissão, com vontade e a língua. Saúdem em Cristo vossos familiares. O Senhor seja sempre vossa vida e a de todos. Desculpai se escrevo tão mal. Vosso em Cristo, Caetano, Presbítero. A Irmã Catarina Carafa Minha filha, em Cristo: Da carta de vossa Madre, fico sabendo de que lhe inquieta o escrúpulo. Forçados pela minha consciência e pelo desejo do vosso bem, pedem-vos que busqueis exemplo na conduta do senhor, que separado de sua Mãe para servir o Pai Eterno, e achado no terceiro dia, vendo a aflição de Maria e José, foi compreensivo e desceu com eles; foi obediente a eles por vinte e oito anos, sem que saibamos mais de sua vida no espaço tão longo. Aplicai-vos a mortificar vossa vontade e vosso parecer em todas as coisas. Se queirais gozar paz, buscai-a aonde se encontra, em Jesus Cristo Nosso Senhor. Aí a encentrareis, se dúvida. Não tenho mais tempo agora. Rogai ao Senhor por mim. À Senhora Catarina, no mosteiro da Sapiência. Vosso Pai e Irmão em Cristo. Caetano, Presbítero. Roma, 24 de novembro de 1536. Jesus A Irmã Maria Carafa. Reverenda Madre em Cristo: A santa paz esteja sempre convosco e vossas filhas. Escutei esta noite a carta que S. Crisógono escreveu a santa escreveu a Santa Anastácia. Servi-vos dela também, minha Madre, em todos os contratempos que o senhor queira prover-vos e fazer-vos digna, na sua misericórdia, recebe-la no reino eterno. Não digo mais isso, para animá-la. Não estou menos necessitado de apoio e de ajuda de sua infinita clemência. Nosso reverendíssimo Bispo, embora se encontre fraco pela enfermidade padecida, vai melhorando pouco a pouco. Manda-lhe afetuosas saudações e a exorta a manter-se firme nesta curta batalha, esperando com paciência sair dela quando o 27
Sumo e celeste Pai a chame a si e a vós. Se recomenda as vossas orações e as das vossas filhas. Nem dos vossos assuntos, nem dos nossos, temos podido nos ocupar, nem resolver coisa alguma por mais que tenho feitos minhas indicações, acima de tudo, quando o Senhor for servido, dar-lhe um pouco mais de força, nos ocuparemos de tudo. Me informo por nossos irmãos de aí (os teatinos chegados de Nápoles a Roma para o capítulo), de que não gozeis boa saúde. Deixa que seja amparada por suas filhas, peço-lhe, como quando elas, enfermas, se deixam amparar por vós. Saudai da parte do mesmo Pe. Bispo ao Senhor Conde, se está aí, e a sua Condessa com todos seus filhos. Confortem a Senhora Beatriz e as demais senhoras se estão nessa casa. Para todas elas desejo eterna salvação e santa paz nesta vida. Cristo Nosso Senhor com suas graças esteja convosco. Rezai pela salvação da minha alma. Caetano, Presbítero. Roma, 24 de dezembro de 1536. A Irmã Maria Carafa. Escrevi ao Senhor João Bernardino, que o pai está desejoso tê-lo a seu lado na convalescença. Que não falte quem o ajude a custear a viagem. Em troca, faça saber ao Marquês Antônio, que não precisa vir no momento. Não ajudaria ao Bispo, dado o estado de saúde em que se encontra. Hoje, dia de Santa Catarina, peço ao Senhor, que queira aceitar Catarina na sua santa chaga, donde com humildade interceda pelo Bispo e por mim. Não descuidei encomendar D. Joana as orações do nosso Pai e considerar como é justo, suas excelentes qualidades. O Pai suspirou e disse: Se digne Jesus Cristo olhar-la com os olhos de misericórdia e não permitir que seja vítima dos enganos do mundo. Digo isso para que Senhora Beatriz esteja segura de cumprir, quanto prometi a sua senhoria, as cujas orações de todas me encomendo. Vosso filho em Cristo. Pe. Caetano. Roma, 23 de dezembro de 1536. A Irmã Maria Carafa. Reverenda Madre em Cristo: A paz esteja convosco. O Sumo Pontífice quis elevar ao Cardinalato, junto aos outros prelados, o nosso Bispo. Nosso Senhor Jesus Cristo que das pedras pode fazer gerar os 28
filhos de Abraão, santifique agora sua alma para a dignidade recebida. Continua fraco de forças e o coitado com o novo cargo não faz que suspirar. Sua Reverendíssima paternidade recebeu vossa carta que lhe foi grata demais, manda-me responder, e como disponho de pouco tempo, o farei rapidamente. Sua Reverendíssima paternidade lhe manda infinitas saudações e a súplica que o ajudeis muito mais agora que nunca. Tentemos de conforta-lo, pedindo ao Senhor, já que é um dever nosso. Com incessantes orações, nós, com vossas filhas, aliviaremos o peso da sua nova dignidade. Esta é por demais transitória e grande é o peso que comporta embora a retribuição será eterna. Moderai vossa alegria, compadecei vosso irmão. Falai dele com Deus e não com os homens, como convêm aqueles que buscam a honra de Jesus Cristo, não como aqueles que servem o mundo. O Senhor Bernardino saúda a sua família e eu lhe recomendo as nossas almas. A Reverendíssima Madre em Cristo, Priora do mosteiro de Sapiência - Nápoles. Pe. Caetano. Ao Destinatário desconhecido. Aconteceram fatos e situações que vistos com olhos humanos, parece-nos contratempos; a luz da fé, não é outra coisa mais que favor que o senhor se digna conceder na sua infinita bondade. No presente caso, a morte de um ente querido. Por que tantos lamentarem-nos e não por fim ao nosso choro, e por a boca no mundo, em vez de considerar quanto estamos obrigados a dar graças a Deus, na sua grande misericórdia, concedeu a esta alma o maior de todos os bens, já que pesaram muito mais as orações dos santos que a reclamavam no céu que os clamores dos homens que a queriam na terra? Que nos impede crer que o glorioso apóstolo Pedro tenha alcançado do seu Senhor e Mestre que a esta bendita alma lhe fossem quebradas as correntes desta carne miserável e abertas para sempre as portas deste cárcere obscuro? Por isso a Igreja se alegra porque o Senhor mandará o seu anjo para livrar o Santo apóstolo das mãos de Herodes e arranca-lo a expectativa de todo o povo judeu. Se aqueles que tanto o choram, se pudessem a escutar, ser-lhe-ia dado perceber com os ouvidos do espírito, os doces ecos de sua voz: agora me dou conta de que realmente o Senhor enviou seu anjo e me arrancou das mãos de Herodes e da expectativa dos demônios. 29
Tal nos diz esta bendita alma a nós que a choramos. Com sufrágios incessantes e com fervorosas orações procuremos acelerar a libertação da pena e a posse do gozo eterno. Que o senhor se digne escutar-nos na sua infinita bondade, Amém. Pe. Caetano. Compendio da Perfeição Cristã A verdadeira e inestimável alegria do homem espiritual consiste na vontade de assemelhar-se interna e externamente a Jesus, sem aspirar outra recompensa, de acordo com são Paulo: “Estou pronto não só a ser atado, e sim a morrer pelo nome de Jesus”. De igual modo, a porta de toda a perfeição, assim como seu fundamento, se firma no considerarem-se indignos dos divinos benefícios, igualmente na consciência de que tudo bem que fazemos não tem sua razão de ser em nós, mas somente na bondade de Deus. Existem duas classes de humildade: Uma é filha da Verdade. Outra se fundamenta no amor. A Humildade vivificada pela Caridade é o insubstituível fundamento da verdadeira perfeição. A vida ativa consiste: - Na generosa aceitação das fatigas, atividade apostólica e na pobreza. - No desprezo da estima e das honras do mundo e na ocultação da estima pessoal. Três são os integrantes da vida contemplativa: - pureza interior. - Vigilância e mortificação dos sentidos. - Docilidade às internas inspirações.
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