EDIÇÃO PDF Directora Graça Franco
Sexta-feira, 23-01-2015 Edição às 08h30
Editor Raul Santos
BCE vai comprar milhares de milhões de dívida. A minha vida muda? Instituições de solidariedade dispostas a acolher idosos abandonados nos hospitais ENTREVISTA
Sollari Allegro: “Houve mortes nas urgências que podiam ser evitadas” Aprovada venda da PT à Altice
Governo irredutível na taxa sobre sacos de plástico
Políticos nas feiras. "O povo gosta de os ver, mesmo quando não gosta deles"
Pressão alemã
Grécia. Do mercado ao bairro rico de Kolonaki, contam-se as horas para as eleições
Chumbados Gisela João: "Eu projectos sobre adopção por casais não me seguro" do mesmo sexo ENTREVISTA
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BCE vai comprar milhares de milhões de dívida. A minha vida muda? As famílias e as empresas podem beneficiar da medida? Explicamos-lhe tudo.
Ilustração: Freepik.com
pela emissão da moeda, feita pelo BCE para permitir a compra da dívida pública. É de referir ainda que a emissão de moeda também está, em teoria, associada ao aumento da inflação – que é o grande receio da Alemanha, que já passou por um período de "hiperinflação", após a Primeira Guerra Mundial. Estão criadas as condições perfeitas para o investimento externo. É a expectativa deste interesse que está a causar a subida das bolsas europeias. Já os juros da dívida pública estão a descer. Isto acontece porque, se as economias vão ficar mais fortes, o risco de incumprimento do pagamento da dívida diminui. Quanto maior o risco (por exemplo causada pela instabilidade económica e política de um país, como aconteceu com Portugal e Grécia no início da crise na Zona Euro), mais altas a taxas, para que os compradores recebam uma recompensa maior por terem corrido o risco. Mas não há nenhum contratempo ou nenhuma consequência negativa resultantes desta medida? Pode acontecer que os activos desvalorizem, ou seja que o Banco Central Europeu vá a ter no seu balanço activos que valem menos do que quando os comprou. Contudo, Mario Draghi não acredita que haja prejuízos porque confia que os bancos centrais nacionais têm uma boa reserva.
Por Paulo Ribeiro Pinto e Inês Alberti
O Banco Central Europeu anunciou esta quinta-feira uma decisão histórica: a instituição liderada por Mario Draghi vai comprar dívida no valor de 60 mil milhões de euros por mês aos bancos dos países da Zona Euro. Mas por que é que esta decisão é histórica? Por que é que as famílias e as empresas podem beneficiar da medida? E por que é que os mercados estrangeiros estão a reagir com optimismo à notícia? Ao comprar dívida pública, o BCE vai dar dinheiro aos bancos, que ficam com mais capacidade para conceder créditos a privados (empresas e famílias) – essencialmente, o que Mario Draghi espera que aconteça. Com a possibilidade de empréstimos de novo em cima da mesa, o poder de compra dos privados aumenta, assim como o consumo. Subindo o consumo, sobem os preços e a inflação (que é o aumento generalizado dos preços) e afasta-se o perigo de deflação. Mas qual pode ser o lado positivo da inflação? Normalmente este fenómeno é responsável pelo aumento proporcional dos salários e, novamente, do poder de compra e do consumo, que vão resultar no crescimento de uma economia mais forte e alivia o peso real das dívidas. Esta última consequência resulta da valorização dos activos (por exemplo o valor da habitação sobe) e da diminuição real da dívida. A robustez da economia é um dos factores que vai atrair o investimento externo. O outro factor é a desvalorização do euro, que vai permitir aos estrangeiros comprar "mais barato" e aos países da Zona Euro aumentar as exportações. A desvalorização do euro (neste momento o euro vale pouco mais que um dólar e 14 cêntimos; valia um dólar e 18 cêntimos antes do discurso de Draghi) é causada
ENTREVISTA
Sollari Allegro: “Houve mortes nas urgências que podiam ser evitadas” Há casos nas mortes que ocorreram nas urgências dos hospitais nas últimas semanas que com uma nova retriagem podiam ter sido evitadas. A convicção é do presidente do Hospital de Santo António, Sollari Allegro. Por João Carlos Malta (texto) e Joana Bourgard (vídeo)
As mortes nas urgências hospitalares nas últimas semanas voltaram os portugueses novamente para a discussão sobre a qualidade dos serviços públicos de saúde. Em entrevista à Renascença, o presidente do Centro Hospitalar do Porto (junta o Hospital de Santo Antonio, Maternidade Júlio Dinis, Hospital Maria Pia), Sollari Allegro, considera que muitos teriam morrido na mesma mais tarde, mas houve casos em que uma retriagem poderia ter salvo a vida. "Estou convencido que dos casos que morreram, a maioria iam falecer na urgência mais tarde. Outros podiam ter sido retriados e provavelmente não morreriam", explica. Por isso, diz que há que introduzir medidas correctivas no sistema de triagem, sobretudo para os doentes "amarelos", de gravidade intermédia, o grupo maior. "É preciso estabelecer um sistema de retriagem, garantindo que o doente amarelo que ao fim de uma hora não está visto alguém tem de ser visto para
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perceber o que se passa e se pode ou não esperar", conclui. O debate sobre a saúde em Portugal ouvida de fora parece uma discussão entre dois mundos, o do Governo e o dos utentes. O ministro da Saúde tem argumentado que esta foi a única área na função pública que aumentou o número de profissionais (quase 3.000 enfermeiros contratados). Como é que ainda temos situações em que há pessoas a esperar 20 horas em urgências e até morrer durante essa espera? Aí há duas coisas: neste momento com o programa da "troika" houve uma grande dificuldade de contratar novas pessoas. As pessoas estavam habituadas a que nas instituições os conselhos de administrações propunham e contratavam à medida das necessidades. Outra parte do problema é organizacional, não tenho dúvidas de que a situação entre hospitais não é idêntica porque a organização não é idêntica. Depende da qualidade de quem administra. Na minha instituição houve problemas, introduzimos medidas correctivas: aumentámos o número de camas de internamento. O problema dos hospitais é mais de gestão do que de falta de recursos? É as duas coisas. Mas qual é que prevalece? Não generalizaria, mas há casos em que a gestão é excelente e outras em que é uma desgraça. Mas isso é como tudo na natureza humana. As recentes mortes nas urgências, sete numa semana, com suspeitas de falta de assistência, podem ser consideradas normais? Não. É evidente que não é. O grupo de doentes de gravidade intermédia – os amarelos [escala de Manchester] – é muito numeroso. Nesses hospitais em que há dificuldades em aceder ao contacto com o médico, eles esperam horas. Os amarelos não são todos iguais. É preciso estabelecer um sistema de retriagem, garantindo que o doente amarelo que ao fim de uma hora não está visto alguém tem de ser visto para perceber o que se passa e se pode ou não esperar. Este sistema de triagem não é melhor? Não responde completamente. Estabelece limites que não conseguimos cumprir. As instituições têm de se adaptar a isso e criar sistemas para retriar doentes. Estou convencido que dos casos que morreram, a maioria iam falecer na urgência mais tarde. Outros podiam ter sido retriados e provavelmente não morreriam. Estamos mais susceptíveis a casos destes? Estamos. Porque quando há um grande acumular de doentes na urgência nem sempre é fácil. Mas isso sempre aconteceu? Sim, este ano o pico foi mais intenso do que nos últimos. Não me lembro de nenhum ano assim. Normalmente no Inverno abríamos camas adicionais. Tínhamos uma enfermaria destinada a isso, e quando chegávamos a estes picos abríamos a enfermaria e colocávamos os doentes em excesso. Este ano abrimola com mais 24 camas e temos mais 12 à espera. Isto quer dizer que há mais doentes, eles estão mais velhos e a permanência média cresceu. Os doentes mais velhos demoram mais a melhorar.
Qual a solução? Aumentar o número de camas transitoriamente. Todos os hospitais o podem fazer? Têm de se adaptar para terem zonas tampão e fazerem face a situações destas que vão acontecer outra vez. É verdade que os hospitais não são obrigados a declarar as mortes nas urgências, nem a especificar se os doentes estavam em observação ou aguardavam para ser vistos? Não, porque não há nenhuma razão para isso acontecer. Os médicos passam certidões de óbito onde põem o motivo. Mas não há nenhuma obrigação de colocar se foi na medicina B ou na urgência. Não há nenhuma obrigação legal. Mas para podermos escalpelizar melhor se houve ou não falha, isso não seria necessário? E assim perceber quando há um conjunto de mortes nas urgências, como este, se ele é normal ou anómalo? Isso terá de ser uma vontade política. Se o Ministério da Saúde nos mandar fazer nós fazemos. Qual é a sua opinião? Pode ser feito, mas não o faria agora. Deixava passar a crise porque há um lado emocional que ainda está à tona e que não ajuda a melhorar nada. É preciso é prever e fazer com que as coisas corram bem e não se voltem a repetir. A crise fez Sollari Allegro melhorar a sua capacidade de gestão. Encarregou-se de acabar com os "clubezinhos" que os portugueses muitas vezes criam. Foto: Joana Bourgard O avolumar destas situações e a agitação mediática em relação a este tema não favorece o sector privado? O privado vive muito das ineficiências do sector público que são resultado de uma rigidez legal muito grande. Não podemos dar incentivos, não podemos fazer certas coisas que os privados fazem (contratar, criar áreas próprias) porque não existem elementos legais. Com o programa da “troika” houve uma grande concentração de poder nos organismos centrais. Os conselhos de administração têm muito pouco poder. Muito pouca capacidade de responder às necessidades. Parece-lhe uma prática normal pagar 720 euros ao dia a um médico para suprir uma necessidade de um hospital como aconteceu no Amadora-Sintra? Já o fez também? Qual é a alternativa? Há médicos que fazem por 500 ou 400 euros? É um problema de mercado e com valores inferiores não arranja ninguém que queira fazer. As pessoas têm que entender que pelo volume de trabalho, e pela agressividade das situações clinicas que aparecem, nem toda a gente quer fazer urgências. Já teve de recorrer a estes serviços por este valor? No Porto, recorremos às empresas de prestação de trabalhos e pagamos aquilo que a lei determina, 30 euros à hora. A percepção geral é que os cuidados de saúde estão mais caros e a qualidade dos serviços à população é menor. Sentem isso ou é uma ideia errada? Não tenho essa percepção, mas eu estou do lado de dentro. Mas justifica-se que o utente a tenha? Aquilo que ficou mais caro para o utente foram as taxas moderadoras. E é evidente que para uma pessoa do meu nível económico isso não tem expressão, mas para quem ganha 500 euros pagar 20 euros de taxa
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moderadora tem significado. Mas a medicina em si não está mais cara. Esta crise obrigou a crescer como gestor? Claro, uma crise ajuda-nos a crescer. Não é na abundância. Onde estavam as grandes ineficiências do Santo António? Têm a ver com o passado e com a pulverização de responsabilidades, uma tendência muito portuguesa para criar clubezinhos. A necessidade de criar grandes áreas trouxe uma grande alteração na prestação do hospital.
Instituições de solidariedade dispostas a acolher idosos abandonados nos hospitais Governo pediu ajuda para desocupar camas. O presidente da CNIS, padre Lino Maia, diz que as instituições estão disponíveis, mas também lembra que é necessário estabelecer um novo acordo de contrapartidas.
O presidente da CNIS sublinha que estes doentes são “normalmente, pessoas que têm muito poucas ou nenhumas possibilidades financeiras e, por isso, é preciso que alguém suporte algum custo dessa situação”. O padre Lino Maia admite, também, que as maiores dificuldades serão sentidas nos grandes centros urbanos onde há menos vagas para acolher idosos. Centro Hospitalar Lisboa Norte - que inclui o Santa Maria e o Pulido Valente - o Hospital Amadora-Sintra e o Centro Hospitalar do Algarve foram os únicos que concluiram o levantamento. Já enviaram dados para o Ministério da Saúde sobre os idosos internados sem necessidade. Contactada pela Renascença, a presidente da Associação de Administradores Hospitalaraes diz também não ter informações sobre a percentagem de doentes que estão acamados nos hospitais apenas porque não têm local para onde ir. [notícia actualizada às 13h34]
Um ano para revalidar a carta de condução. Ainda não somos um país civilizado "O IMT está a tentar chegar o mais próximo possível de limites de entrega desses títulos correspondentes ao de um país civilizado", diz à Renascença o presidente do Instituto da Mobilidade e do Transporte (IMT). Por Pedro Mesquita e Marília Freitas
Foto: DR
As instituições particulares de solidariedade social (IPSS) estão disponíveis para acolher idosos abandonados nos hospitais, mas ainda não sabem qual a capacidade que têm disponível. O Governo pretende ajuda para desocupar camas e já solicitou às administrações regionais de saúde para fazerem um levantamento do número de casos de norte a sul do país. O presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social (CNIS), padre Lino Maia, diz que as instituições estão disponíveis, mas também lembra que é necessário estabelecer um novo acordo de contrapartidas. “Está a ser elaborado uma espécie de modelo de acordo para que as pessoas com alta hospitalar possam transitar para os lares das IPSS, tendo estas a garantia de que receberão contrapartidas por parte do Estado", afirma o padre Lino Maia, em declarações à Renascença.
O presidente do Instituto da Mobilidade e do Transporte (IMT) - a entidade responsável pela emissão de cartas de condução, considera que Portugal ainda não é um país civilizado, explicando, deste modo, o longo tempo que o organismo demora a satisfazer os pedidos dos utentes Há condutores que esperam mais de um ano pela revalidação da carta e João Carvalho, entrevistado pela Renascença, aponta como causas, entre outros problemas, a má qualidade das fotografias dos velhos documentos que são apresentadas e os meios técnicos ao dispor do IMT, que estão ultrapassados: "Os sistemas informáticos que existem demoram o seu tempo em recuperar a imagem, neste caso, a fotografia". João Carvalho garante que o IMT está a tentar corrigir o problema: "O IMT está a tentar chegar o mais próximo possível de limites de entrega desses títulos correspondentes ao de um país civilizado. Nesta altura, infelizmente, não somos, mas em breve seremos". "Há casos que demoram uma semana e outros um ano, ou até alguns mais de um ano. Em termos médios, estamos a falar em cerca de 50 dias", detalha o presidente do IMT.
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A principal preocupação do IMT "tem a ver com os títulos dos condutores profissionais", porque as com as guias provisórias que lhes são entregues "não podem circular no estrangeiro". Esses casos, explica João Carvalho, são tratados "quase que um a um, para os resolver com a entrega o mais rápido possível". A reportagem da Renascença falou com três condutores, na longa fila do IMT do Porto, que procuravam por noticias da carta que pediram para revalidar. Armando Silva conta que está "à espera há oito meses". Foi à delegação do IMT pedir novo selo para poder conduzir. Camilo Alves aguarda pela revalidação da carta desde Julho. "Até agora, nada. Não tenho explicação nenhuma. O que me disseram é que estava muito demorado. Venho hoje buscar nova guia". Finalmente, Rufino Amorim está na fila por outros. Trabalha numa agência de contribuintes que também ajuda os condutores a tratarem da revalidação da carta: "Há casos em que demora um ano. Em contrapartida, nos últimos dias, tratei de um caso em que o processo foi entregue a uma quinta-feira e na segunda seguinte o cliente já tinha a carta renovada". É que, como explica o presidente do IMT, "há casos que demoram uma semana e outros um ano, ou até alguns mais de um ano. Em termos médios estamos a falar em cerca de 50 dias".
Governo irredutível na taxa sobre sacos de plástico Ministro do Ambiente insiste na medida e promete para breve uma solução para os "stocks" de sacos acumulados por várias empresas.
plástico leves serão distribuídos incorporando uma contribuição, isto é, todos os sacos terão de ser na cadeia de produção e de comercialização alvo da contribuição e todos os sacos terão de ser pagos pelos consumidores”, disse Moreira da Silva, na última noite, em Matosinhos. Os sacos de plástico leves vão passar a custar 10 cêntimos a partir de 15 de Fevereiro, cerca de um mês e meio depois de ter entrado em vigor a Reforma da Fiscalidade Verde. O período transitório, de acordo com o Governo, confere uma "maior capacidade de adaptação às novas regras por parte de toda a cadeia de produção, distribuição e comercialização de sacos de plástico, bem como o escoamento dos “stocks” e matériasprimas, em linha com o que o sector tem defendido". O ministro do Ambiente também aproveitou para desvalorizar a forma como alguns sectores do Governo se congratularam com a descida do IRS, ignorando o contributo da Fiscalidade Verde. Jorge Moreira da Silva reafirmou o que escreveu há uma semana, na rede social Facebook, para dizer que a reforma do IRS só é possível graças aos 150 milhões de euros resultantes da Fiscalidade Verde.
Pressão alemã Klaus Regling defendeu a existência de um comissário europeu para o orçamento com direito de veto sobre os orçamentos nacionais (...) É revoltante esta proposta porque corresponde, nem mais nem menos, a uma tentativa despudorada de eliminar soberanias e democracias nacionais, pois é disso que se está efectivamente a tratar quando se retira ou pretende retirar a soberania orçamental aos estados membros.
Sacos leves vão custar 10 cêntimos a partir de 15 de Fevereiro. Foto: DR
Não há recuo possível e, a partir de 15 de Fevereiro, os sacos de plástico nas superfícies comerciais vão mesmo custar 10 cêntimos, garante o ministro do Ambiente. Jorge Moreira da Silva insiste na medida e promete para breve uma solução para os stocks de sacos acumulados por várias empresas. “A solução será comunicada ainda esta semana e que, na prática, corresponde à manutenção do seguinte princípio: A partir de 15 de Fevereiro, todos os sacos de
Há uns dez dias atrás, esteve em Portugal o Sr. Klaus Regling, presidente do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE). O MEE, como se sabe destina-se a apoiar estados com dificuldades sérias de financiamento. Na sua estadia em Portugal, Klaus Regling defendeu a existência de um comissário europeu para o orçamento com direito de veto sobre os orçamentos nacionais. Ou seja, para o presidente do MEE, os parlamentos nacionais estariam subordinados à vontade
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discricionária de um comissário europeu que não responderia politicamente perante nenhum parlamento nacional. É revoltante esta proposta porque corresponde, nem mais nem menos, a uma tentativa despudorada de eliminar soberanias e democracias nacionais, pois é disso que se está efectivamente a tratar quando se retira ou pretende retirar a soberania orçamental aos estados membros. Esta proposta não é nova. Já tem sido defendida bastas vezes por responsáveis governamentais alemães. Mas que venha agora de um alto funcionário - que por mera coincidência é alemão - só prova como a estratégia alemã de eliminar a soberania dos estados mais endividados já nem sequer respeita a dignidade dos estados que compõem e União Europeia e em particular a zona euro. Porque é que a Alemanha insiste nesta estapafúrdia proposta? Porque é a forma de tentar fazer cumprir aos estados mais endividados aquilo que é incumprível, ou seja o famigerado Tratado Orçamental, assim demonstrando que a suposta flexibilidade de aplicação do Tratado ou a sua leitura inteligente são fantasias que nada têm a ver com as intenções do estado mais poderoso da União. Por mim, limito-me a dar a minha modesta opinião, que é a seguinte: qualquer governo que aceite uma exigência destas comete um crime traição à respectiva pátria. Pura e simplesmente.
Escolas profissionais sobrevivem a crédito São 152 os estabelecimentos de ensino que não recebem, desde o início do ano escolar, os valores relativos aos cursos do 10º ano. Por Teresa Almeida
Há escolas profissionais obrigadas a recorrer ao crédito bancário para se manterem a funcionar. Existem já salários em atrasos, subsídios a alunos por pagar e dividas a fornecedores. Aguardam desde Setembro que o Estado transfira as verbas acordadas, que representam um terço do seu orçamento. No dia em que as escolas de ensino artístico se reúnem, tal como a Renascença avançou, para discutirem o que fazer e tomarem uma posição comum, devido ao atraso nas transferências feitas pelo Estado, também as escolas profissionais se dizem na mesma situação. Ao todo são 152 estabelecimentos de ensino que não recebem desde o início do ano escolar os valores relativos aos cursos do 10º ano. Segundo o presidente da Associação Nacional de Escolas Profissionais, “estamos a falar de um terço do orçamento destas instituições que está em falta”. Luís Presa revela que “há quatro meses que já se encontram vencidos os valores relativos aos décimos anos”. Trinta e duas destas escolas das regiões de Lisboa e Vale do Tejo e Algarve dependem do Orçamento do
Estado e dos vistos do Tribunal de Contas. As restantes 120, espalhadas pelo país, dependem de fundos comunitários, que também estão por pagar. Não se fala em encerramento, mas já há falhas no pagamento de salários, subsídios a alunos e a fornecedores. Luís Presa é claro ao dizer que este problema já aconteceu o ano passado e repete-se este ano. Para além dos docentes, há também alunos e fornecedores com pagamentos em atraso, explica Luis Presa. “Não podemos pagar aos professores, deixando salários em atraso, mas também aos fornecedores e também há subsídios a alunos que estão em por pagar. É algo que naturalmente lamentamos.” A maior parte destas escolas sobrevive com empréstimos, o que limita, diz Luis Presa, “a atenção aos projectos educativos” onde se incluem 36 mil alunos. “Quando o Estado não paga as escolas têm de recorrer ao crédito e quando o crédito já não consegue responder, naturalmente que as escolas se vêem em grandes dificuldades”. Para este responsável, o pior mesmo “é quando as escolas gastam dinheiro com créditos em vez de o fazerem com projectos educativos. Era a última coisa que gostaríamos que acontecesse” remata o presidente da Associação Nacional de Escolas Profissionais.
Chumbados projectos sobre adopção por casais do mesmo sexo As iniciativas não ultrapassaram os 91 votos favoráveis e os votos contra andaram nos 120 deputados. Os projectos de PS, Bloco de Esquerda e os Verdes sobre adopção por casais do mesmo sexo foram todos chumbados no Parlamento. A maioria da bancada do PSD e os deputados do CDSPP chumbaram, na generalidade, projectos do BE, PS e PEV para estender aos casais de homossexuais a possibilidade de adopção de crianças. A maioria dos deputados do PS votou a favor dos quatro diplomas em causa, que contaram com os votos favoráveis da totalidade das bancadas do PCP, do BE e do PEV. As iniciativas não ultrapassaram os 91 votos favoráveis e os votos contra andaram nos 120 deputados. Cinco deputados do PSD votaram sempre a favor das propostas (Teresa Leal Coelho, Francisca Almeida, Cristóvão Norte, Sérgio Azevedo, Simão Ribeiro). Já três deputados do PS (António Braga, João Portugal e António Cardoso) votaram contra as propostas. Foi a quarta vez nesta legislatura que os deputados discutiram a adopção por casais do mesmo sexo.
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Lisboa e Porto querem mais competências do Estado
Políticos nas feiras. "O povo gosta de os ver, mesmo quando não gosta deles"
António Costa e Rui Moreira estão de acordo, mas têm dúvidas que algumas vez isso se consiga.
A Feira do Fumeiro de Montalegre inicia o roteiro eleitoral de 2015. Passos vai lá esta sexta-feira, Costa no domingo. É que, contra a descredibilização da política, a melhor arma é o "contacto directo" com o povo eleitor, diz especialista.
Foto: Miguel A. Lopes/Lusa
Os autarcas António Costa e Rui Moreira pedem ao Estado mais competências para as autarquias, mas não acreditam numa descentralização efectiva. Os presidentes das Câmaras das duas principais cidades do país estiveram esta quinta-feira no Mercado da Ribeira em Lisboa a debater modelos de desenvolvimento e o futuro das metrópoles e concordam que os governos não abrem mão dos poderes que têm. Costa recorre ao seu próprio passado para explicar-se: “Este é o terceiro Governo com quem trabalho, o primeiro com quem trabalhei era um Governo que, aliás, eu tinha feito parte e, de facto, o centralismo não tem cor partidária. O centralismo é algo que está incutido na máquina do Estado e os Governos só conseguem mudar a máquina do Estado se o fizerem nos primeiros seis meses em que os ministros ainda não foram aprisionados pela máquina do Estado”. Rui Moreira começa também a desacreditar que alguma vez a descentralização de competências possa vir a ser possível. “As pessoas podem todas dizer que querem descentralizar um país, mas a cada Governo sucede um novo Governo e, ao fim de algum tempo, concluo que este é o Governo mais centralista que tivemos” Autarcas querem que o Governo lhes delegue mais competências. António Costa é líder do PS e candidato a primeiroministro nas próximas legislativas.
Foto: DR Por Cristina Nascimento
Com mais ou menos espalhafato, é fácil perceber a presença deles. Mesmo que não existam bandeiras partidárias, distribuição de autocolantes ou música de fundo, há sempre uma comitiva, mais ou menos numerosa. E há os jornalistas, as câmaras e os microfones. São os políticos entre os eleitores, em campanha eleitoral ou não. “O povo gosta de ver os governantes, mesmo quando não gosta deles”, confirma à Renascença João Dinis, dirigente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Em ano de eleições legislativas, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, vai esta sexta-feira à Feira do Fumeiro de Montalegre, iniciativa que, na abertura, teve direito à presença do secretário de Estado da Alimentação. A segunda mais alta figura doEestado, a presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, passa por lá no sábado e o líder do PS, António Costa, no domingo. “Num tempo em que a palavra que mais se identifica com a política é ‘desacreditar’, em que a reputação dos políticos não é a melhor de todas, o contacto pessoal, o contacto directo com as populações é a melhor maneira de os políticos poderem vir a recuperar alguma dessa reputação”, defende António Cunha e Vaz, fundador da Cunha Vaz & Associados, empresa de comunicação responsável por inúmeras campanhas eleitorais. Enchidos? Não, estar presente
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Nos quatro dias de feira - começou na quinta-feira e termina domingo -, são aguardados, pelas contas da autarquia local, 80 mil visitantes. À espera deles, vão estar à venda 70 mil quilos de produtos alimentares. A organização prevê uma facturação de três milhões de euros, mas os políticos não deverão ser os principais clientes. "Comendo, comendo, salpicão e chouriça, presunto e alheira, de qualquer maneira". Assim reza a cantiga, uma versão de um tema de Enrique Iglesias tornada hino à gula, que promove a edição 2015 da Feira do Fumeiro de Montalegre. Mas os políticos “não vão, propriamente, comprar muitos enchidos aos produtores”, diz João Dinis. “Sabemos que os políticos, quando se deslocam a um evento do género de uma feira ou festa popular, vão para ser vistos, para se mostrar, para chamar a atenção das pessoas sobre eles próprios”. Ainda assim, o líder da CNA vê vantagens nestas deslocações. “Às vezes, há hipótese de conversar. Os fornecedores e produtores sempre têm hipótese de apanhar o governante no ‘stand’ e dizer-lhe, de viva voz, que estão muito caras as rações para os animais ou que está muito caro o preço do gasóleo, dizer-lhe que as coisas estão difíceis, que o povo está sem dinheiro para comprar”, acrescenta. Mas, se não é a visita dos políticos que garante o negócio dos produtores, a sua presença tem um bónus: chama jornalistas. Diz João Dinis: “Os eventos que se vão impondo, ano após ano, são os que são divulgados na comunicação social e a comunicação social também vai, muitas vezes, porque vai o primeiroministro, vai o Presidente da República…” “As feiras, os contactos pessoais e directos dos políticos com as populações, com os seus votantes, são o único momento em que os políticos dão a cara, estão presentes, aparecem, são reais, não são projectos montados a partir de gabinetes e comunicações e comunicados a partir de gabinetes”, explica Cunha Vaz. Para o especialista, a vitória na corrida eleitoral de Setembro/Outubro deste ano pode estar nestes momentos. “Não vão ser favas contadas para ninguém. E ainda bem”, aponta. Cunha Vaz tem, no entanto, alguns receios: “Tenho muito medo que, no cenário actual, de tensão por causa da detenção do ex-primeiro ministro José Sócrates, as próximas campanhas tenham um forte pendor de ataques pessoais, que em nada ajudam nem em nada esclarecem os eleitores”.
Aprovada venda da PT à Altice À saída da votação, o presidente executivo da Oi, Bayard De Gontijo, disse estar "satisfeito com o resultado da votação". Os accionistas da PT SGPS deram luz verde à venda da PT Portugal aos franceses da Altice, com 97,81% de
votos favoráveis, avançou fonte oficial da PT SGPS. Mais de quatro horas depois do início da reunião magna, os accionistas aprovaram a venda da PT Portugal, detida pela brasileira Oi desde o aumento de capital em Maio, aos franceses do Altice, depois de meses de peripécias em torno do negócio. A venda da PT Portugal foi aprovada com 97,81% dos votos favoráveis do Novo Banco, Ongoing, Visabeira e Controlinveste, numa reunião que contou com 44% do capital presente ou representado, mas apenas 34% de capital votante, já que os brasileiros foram impedidos de votar por conflito de interesses. Os votos contra atingiram apenas os 2,19%. Na reunião magna estiveram presentes 398 accionistas, totalizando os votos presentes os 548.444. Os accionistas da PT SGPS retomaram esta quinta-feira a assembleia-geral para decidir a venda da PT Portugal à Altice, que tinha sido suspensa a 12 de Janeiro para obterem mais informação, nomeadamente pareceres jurídicos sobre a fusão com a Oi. Nestes 10 dias que separaram as duas assembleias-gerais, muita informação foi divulgada pela administração da PT SGPS, entre ela os pareceres jurídicos sobre a fusão com a Oi. À saída da votação, o presidente executivo da Oi, Bayard De Gontijo, disse estar "satisfeito com o resultado da votação", já que "os accionistas decidiram [com] 97% de aprovação" a venda da PT Portugal. "É o melhor para as duas empresas, é o melhor para a PT Portugal, que vai continuar a prestar serviço de excelência em Portugal, e [para] a Oi para reduzir alavancagem", concluiu o gestor brasileiro, escusandose a fazer mais comentários. Já a Altice considera que a aprovação da venda da PT Portugal à multinacional francesa "é uma excelente notícia" para todos, segundo disse à Lusa o porta-voz da empresa. "A aprovação da venda da PT Portugal ao grupo Altice é uma excelente notícia para a PT Portugal, para o investimento, a inovação, os acionistas, os trabalhadores e Portugal", disse o porta-voz da Altice. Por sua vez, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Grupo PT (STPT), Jorge Félix, disse que vai analisar a possibilidade de impugnar a decisão desta assembleia-geral de accionistas da PT SGPS. O presidente do Conselho de Administração da PT SGPS, João Mello Franco, afirma que a venda da PT Portugal aos franceses da Altice foi "a melhor solução", depois do projecto inicial ter sido alterado. João Mello Franco falava aos jornalistas após a assembleia-geral de accionistas. Questionado se se revia na posição do acionista Ongoing, que afirmara que a venda da PT Portugal não era a melhor solução, mas antes a possível, Mello Franco afirmou: "De certeza absoluta". E explicou que "na prática, o projeto foi todo alterado, foi uma pena enorme", já que se perdeu "o entusiasmo que havia inicialmente". Por isso, a venda "é a melhor solução", comentou o presidente da PT SGPS. Na reunião magna de hoje "foram dadas todas as explicações aos accionistas", adiantou, classificando a assembleia-geral como "muito cansativa". Mello Franco disse ainda perceber "a posição de muitos pequenos acionistas que acompanharam a empresa desde há
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muito tempo", mas salientou que a "própria estabilidade da PT Portugal era importante". Recordou que a própria Oi tinha optado por focar o seu âmbito no Brasil. [Actualizado às 22h10]
Privatização “está sendo bem conduzida”, diz líder da TAP Fernando Pinto acredita que “ninguém vai comprar a TAP para tirá-la de Portugal”.
Foto Lusa
A privatização da TAP tal como está a ser conduzida será benéfica para a empresa, diz o director executivo da Transportadora Aérea Portuguesa. Fernando Pinto acredita que, desta vez, se vai conseguir concretizar a privatização. “Acho que o processo está sendo bem conduzido, não tenho dúvidas, e tenho confiança que podemos chegar lá desta vez. A empresa é muito importante para o país e por isso tem que ser muito bem privatizada. Acho que está no caminho certo”. Pinto está confiante de que a empresa nunca vai sair do nosso país, mesmo que fique 100% em mãos privadas. “Ninguém vai comprar a TAP para tirá-la de Portugal. A TAP é uma empresa que tem um hub, a sua base operacional, em Portugal e vale o que vale porque tem um centro de operações em Portugal”, acrescenta. Estas declarações foram proferidas à margem da entrega dos prémios IPDAL onde foi galardoado pela aposta da TAP na América Latina, empresa que abriu recentemente duas novas rotas: uma para a Colômbia, outra para o Panamá.
Abrem mais empresas do que fecham no distrito de Bragança Em 2014, abriram no distrio 323 empresas e encerraram 124. Entre os novos empresários, estão alguns jovens licenciados que optaram por criar o seu posto de trabalho. Por Olímpia Mairos
O número de pequenas e médias empresas (PME) está a crescer no distrito de Bragança. Por cada empresa que fecha portas, nascem mais 2,5, de acordo com dados divulgados pelo NERBA, Associação Empresarial do distrito de Bragança. “Não é ainda o momento para festejarmos ou de embandeirar em arco, mas os sinais que têm surgido são favoráveis”, diz à Renascença o presidente do NERBA, Eduardo Malhão. Em 2014, abriram no distrio 323 empresas e encerraram 124, o que dá um saldo positivo de 199. O rácio de criação de empresas é de “duas vezes e meio superior ao número de empresas que encerram portas, quer por via da insolvência quer do encerramento normal por opção do empresário”, indica Eduardo Malhão, sublinhando que se “assiste à subida da confiança por parte dos investidores” e do próprio “ambiente de negócios”. O sector de serviços é o que regista maior número de novas empresas no distrito de Bragança e entre os novos empresários estão alguns jovens que optaram por criar o seu posto de trabalho. “Há muitos jovens licenciados desempregados e uma das janelas de oportunidade que lhes surge é a criação do seu próprio emprego, sendo, obviamente, o sector de serviços o mais propício para que esses jovens, que têm qualificações em diversas áreas, criem a sua própria empresa e o seu modelo de negócios”, explica Eduardo Malhão.
Turistas deixaram 29 milhões por dia em Portugal Os dados são do Banco de Portugal para quase todo o ano de 2014. Os turistas que visitaram Portugal nos últimos 11 meses deixaram em média no nosso país 29 milhões de euros por dia. As informações são avançadas à agência Lusa pelo secretário de Estado do Turismo. Ao todo, até Novembro, os turistas deixaram gastaram no nosso país 9,6 mil milhões de euros, o que comprova que o último ano foi o melhor ano de sempre no turismo em Portugal.
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Sexta-feira, 23-01-2015
Os dados do Banco de Portugal revelam que as receitas com o turismo cresceram mais de 12% face ao mesmo período de 2013.
Cavaco convoca Conselho de Estado para segunda-feira Situação política na Madeira depois da demissão de Jardim vai estar em discussão. O Presidente da República marcou uma reunião do Conselho de Estado para o próximo dia 26, às 17h00. O objectivo é decidir sobre a convocação das eleições regionais antecipadas na Madeira. Cavaco Silva já recebeu em audiência todos os partidos políticos com representação na Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira. A situação política na Madeira alterou-se com o pedido de demissão do presidente do governo regional, Alberto João Jardim. A maioria dos partidos com assento na assembleia regional já fez saber que preferem que o sufrágio tenha lugar em 29 de Março.
Oftalmologista condenado por negligência agravada Pena suspensa de quatro anos e oito meses. Caso remonta a 2010, quando quatro pessoas ficaram parcialmente cegas, na sequência de infecções contraídas após terem sido operadas numa clínica de Lagoa, no Algarve. O médico oftalmologista holandês Francius Versteeg, proprietário de uma clínica em Lagoa, no Algarve, foi condenado, esta quinta-feira, a uma pena suspensa de quatro anos e oito meses pelo Tribunal de Portimão. Versteeg, que esteve ausente de todas as audiências de julgamento, foi considerado culpado pelos crimes de ofensa à integridade física e negligência agravada. O Tribunal de Portimão condenou também um outro funcionário da clinica, acusado de usurpação de funções da clinica, a 10 meses de prisão com execução suspensa. O oftalmologista Francius Versteeg foi acusado pelo Ministério Público (MP) de quatro crimes de ofensa à integridade física por negligência agravada, depois de quatro pessoas terem ficado parcialmente cegas em 2010 na sequência de infecções contraídas após terem sido operadas na clínica I-QMed, que funcionava no concelho de Lagoa, no Algarve. A defesa do médico discordou da pena pedida pelo MP, defendendo que fosse aplicada uma multa, caso o tribunal prove os crimes praticados. Durante as alegações finais, o MP pediu a condenação
do clínico a uma pena de prisão suspensa na sua execução, por considerar que o mesmo "não teve os cuidados que deveria ter, antes e depois das operações, e foi negligente ao não tratar os casos como devia". O MP pediu ainda a condenação a uma pena de prisão suspensa na sua execução para um dos funcionários da clínica, acusado de usurpações de funções, por considerar que este exercia funções de assistente do médico sem estar devidamente habilitado. Contudo, a advogada de defesa pediu que "seja feita justiça", entendendo que "não foi feita prova em tribunal" do crime pelo qual o seu cliente estava acusado, sustentando que o mesmo "exercia apenas funções administrativas sem intervenção em atos médicos relevantes". O representante dos pacientes, constituídos como assistentes no processo, subscreveu as condenações pedidas pelo Ministério Público, sublinhando que o médico "não foi franco com os doentes".
Idoso morre num incêndio em casa em Santo Tirso O incêndio ocorreu numa habitação que "servia de arrecadação de lixo, com sucata". Um idoso morreu na quinta-feira à noite em casa, em Santo Tirso, vítima de um incêndio, que obrigou ao realojamento de quatro pessoas que moravam em habitações contíguas, informou à Lusa fonte dos bombeiros da cidade. O alerta do fogo foi dado às 22h08, mas, quando os bombeiros chegaram ao local, a casa, uma habitação de piso térreo, já estava consumida pelas chamas. No interior do imóvel, localizado na periferia da cidade, os bombeiros encontraram o corpo de um homem aparentando ter 70 anos. O segundo comandante dos Bombeiros Voluntários de Santo Tirso, Firmino Neto, disse à Lusa que o incêndio ocorreu numa habitação que "servia de arrecadação de lixo, com sucata", que poderá ter conduzido à propagação rápida das chamas. O fogo, dado como extinto cerca da meia-noite, obrigou à retirada de dois casais das suas habitações, contíguas ao edifício consumido pelas chamas. Firmino Neto precisou que um dos casais irá pernoitar em casa de familiares e o outro numa residencial, mas, ainda hoje, durante o dia, adiantou, deverão regressar às suas habitações, às quais os bombeiros tiraram a cobertura para poderem aceder à casa do idoso e circunscreverem as chamas. No combate ao incêndio estiveram 30 bombeiros dos Voluntários de Santo Tirso, que coordenaram as operações, e dos Voluntários Tirsenses, apoiados por nove viaturas. Ao local acorreram ainda agentes da PSP, da Polícia Municipal, da PJ, bem como elementos da Protecção Civil e da Acção Social da Câmara de Santo Tirso.
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Sexta-feira, 23-01-2015
Ligações fluviais Barreiro-Lisboa devem parar durante a tarde
Salário mínimo viola os direitos sociais dos portugueses Portugal viola a Carta Europeia dos direitos Sociais em dez situações. Das profissões de risco ao direito à greve.
Trabalhadores vão realizar um plenário. Barvos devem parar depois das 13h00.
Foto: DR Por Marina Pimentel
As ligações fluviais entre o Barreiro e Lisboa devem parar esta sexta-feira à tarde devido a um plenário organizado pela comissão de trabalhadores da Soflusa. As ligações, em ambos os sentidos, devem parar às 13h25 e deverão ser restabelecidas pelas 16h50. Os auxiliares de terra da Soflusa efectuaram este mês uma greve parcial de três dias porque queriam manter o sistema de rotatividade entre Barreiro e Lisboa, depois de a empresa decidir que passam a desenvolver a sua tarefa apenas em Lisboa. Além disso, reivindicam que o quadro de pessoal seja completado com mais três trabalhadores. A Soflusa é a empresa do grupo Transtejo que faz a ligação entre o Barreiro e Lisboa. A empresa Transtejo é responsável pelas restantes ligações entre as duas margens do rio Tejo.
O valor do salário mínimo nacional, 505 euros, não permite assegurar um nível de vida digno, o que constitui uma violação da Carta dos Direitos Sociais que Portugal ratificou em 2002. É o que diz o Comité Europeu dos Direitos Sociais num relatório divulgado esta quinta-feira e que aponta dez situações de violação destes direitos em Portugal. O comité conclui também que o trabalho em dia feriado não é adequadamente compensado, mas neste caso a referência é à situação existente até ao dia 31 de Dezembro, em que pelo dia feriado os trabalhadores recebiam apenas metade do valor do seu dia de trabalho e uma folga de compensação. A 1 de Janeiro foi reposto o pagamento a 100%. O comité aponta também falhas em relação às profissões de risco. Estes trabalhadores não são devidamente compensados, nomeadamente pela redução do horário de trabalho ou pela atribuição de dias de folga suplementares, considera-se. A situação dos polícias é referida de forma concreta. Os agentes que estão em patrulha ou de piquete não recebem a devida compensação, nem mesmo remuneração equivalente ao valor da sua hora de trabalho. A lista de situações em que Portugal viola o conteúdo da Carta dos Direitos Sociais, uma espécie de versão social da Convenção dos Direitos do Homem, é extensa. São dez as situações em que não estão a ser cumpridos pelo Governo, praticamente metade das que foram analisados. Também em matéria sindical a legislação portuguesa não cumpre as normas europeias, nomeadamente quanto à representatividade dos sindicatos e das centrais sindicais e a participação paritária de empregadores e trabalhadores no Conselho Económico e Social. O Comité Europeu dos Direitos Sociais tem ainda dúvidas quanto à concretização do direito à greve.
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Sexta-feira, 23-01-2015
Critica o facto de a sua convocação estar praticamente limitada aos sindicatos e considera excessivo o tempo necessário para se formar uma organização sindical. Em relação ao estabelecimento de serviços mínimos, o Comité Europeu dos Direitos Sociais diz que a lei portuguesa é pouco clara quanto à obrigatoriedade de os serviços mínimos serem decididos por tribunal arbitral.
Mortes nas urgências. Algumas podiam ter sido evitadas Neste noticiário: sistema diferente de triagem poderia ter evitado algumas mortes nas urgências; escolas do ensino profissional sem verbas prometidas pelo Estado desde o início do ano lectivo; renovar a carta no Porto pode demorar mais de um ano; turistas gastaram 29 milhões de euros por dia; Gisela João chega aos Coliseus. Por Teresa Abecasis
FRANCISCO SARSFIELD CABRAL
Draghi, o bombeiro do euro
A oposição alemã à compra de títulos de dívida soberana pelo BCE argumenta que esse programa, ontem finalmente anunciado, retira pressão sobre os governos para fazerem reformas. Draghi insistiu na necessidade de reformas, sabendo que, só por si, o BCE não é capaz de relançar a economia europeia, apenas dará uma ajuda. Para avançar, Draghi teve que fazer uma concessão a Berlim: os riscos destas compras só em 20% são suportados pelo próprio BCE; os restantes 80% ficam a cargo dos bancos nacionais da zona euro. Há risco de fragmentação da moeda única. E os investidores serão menos atraídos por dívida como a portuguesa. Mas se o programa se revelar eficaz, o que implica concretizar reformas, terá valido a pena. Se não, terá sido inútil a acção do “bombeiro” Draghi.
Grécia. Do mercado ao bairro rico de Kolonaki, contam-se as horas para as eleições O negócio no mercado central de Atenas "vai mal", mas há que trabalhar. Em Kolonaki o ruído é outro, porque o poder de compra é outro.
Há risco de fragmentação da moeda única. E os investidores serão menos atraídos por dívida como a portuguesa. Mas se o programa se revelar eficaz, o que implica concretizar reformas, terá valido a pena.
Foto: Ricardo Conceição/RR Por Ricardo Conceição, enviado à Grécia
Os países da zona euro com problemas de dívida pública perderam competitividade no mercado global. Recuperar competitividade exige reformas. Mas as reformas tardam em Itália e França; e Portugal devia ter ido mais longe neste campo. A Espanha fez reformas e por isso a sua economia é a que mais cresce na zona euro.
Sardinhas a dois euros e meio, petinga a 3,49 ou camarão cozido a 12. O mercado do peixe, no centro de Atenas, já viu melhores dias, mas as bancas continuam repletas de peixe e marisco frescos. O barulho no interior do mercado é ensurdecedor. Cada vendedor grita a plenos pulmões enquanto enrola uns cartuchos de papelão, de tamanho padronizado, para transportar o pescado. Quase ninguém fala outra língua sem ser grego. Num inglês muito forçado, respondem que "o negócio vai mal". E atalham: "Mas agora não tenho tempo, tenho de trabalhar!" O carmim das guelras afiança que se trata de pescado fresco. A petinga tem olhos bem "vivos", mas, dada a
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barreira linguística, ninguém entende perguntas sobre padrões e condições de venda ditadas por Bruxelas. Foto: Ricardo Conceição/RR O peixe está no centro do mercado. Os lados são ocupados por bancas intermináveis de carne. As peças estão penduradas. Tudo está exposto, sem vidro. Os talhantes, de cigarro ao canto da boca, usam cutelos para cortar a carne e não usam luvas. Alguns têm os polegares entrapados. Gritam e gritam muito. Apregoam ter o melhor borrego do mercado ou a galinha mais saborosa. E a cinza cai sempre no chão e nunca na carne. Apesar da apresentação pouco comum para padrões portugueses (pelo menos no talho) tudo tem um ar suculento. É como se as cores e o brilho fossem selo de segurança alimentar. O som de Kolonaki São poucos os clientes que circulam por entre as bancas. Os talhantes e os peixeiros digladiam-se para cativar o freguês. É normal, é assim há muitos, muitos anos. Em Kolonaki o ruído é outro. É o som dos cafés, das esplanadas, dos carros de gama alta e das "milhentas" aceleras que se reúnem em exame nos sinais vermelhos. Em Kolonaki o ruído é outro, porque o poder de compra é outro. Este é um dos bairros ricos de Atenas. É nestas ruas rectilíneas, alojadas no sopé do monte Licabetus (a maior elevação da cidade, com 277 metros), que reside a elite ateniense. É aqui que estão as lojas mais caras e de produtos de luxo. Não se vêem clientes, mas as lojas permanecem abertas e as esplanadas cheias. Kolonaki fica junto ao Parlamento, em Syntagma, a praça central de Atenas, o local onde tudo acontece. Mas hoje as atenções estão viradas para outra praça, mais pequena, mais moderna e local de confluência de várias avenidas, que surgem da esquerda, do centro e também da direita. É lá, na praça de Omonia, que um engenheiro de 40 anos, nascido e criado na Grande Atenas, vai discursar. É Alexis Tsipras, que poderá ser o próximo primeiroministro grego. No palco, o líder do Syriza declara que a "esperança está a chegar" – o mote da campanha. No domingo ver-se-á se a "esperança" dos gregos numa política alternativa chega em forma de maioria absoluta ou se será necessário negociar uma solução de governo. Nesta altura ninguém arrisca prognósticos, excepção para as casas de apostas, onde o prémio se resume a 1,04 para quem apostar na vitória do Syriza. Quanto a uma maioria absoluta de um só partido, as casas de apostas entendem que será improvável: pagam entre 2,75 e 3,30 por cada aposta.
Morreu rei da Arábia Saudita Abdullah tinha 90 anos e reinava desde 2005.
Foto Jose Huesca/EPA
O rei Abdullah, da Arábia Saudita, morreu esta quintafeira aos 90 anos no hospital. Segundo uma declaração oficial, o príncipe herdeiro Salman, de 79 anos, foi já nomeado para a sucessão. O anúncio da morte do rei Abdullah bin Abdulaziz Al Saud foi feito pela televisão estatal, que citou um comunicado da casa real. O óbito, atribuído a uma pneumonia, ocorreu à 01h00 horas locais (03h00 de Lisboa), numa altura em que eram bem conhecidos os seus problemas de saúde. Abdullah reinava a Arábia Saudita desde 2005. Para a história ficou uma afirmação polémica, pouco depois de tomar o trono, em 2007, quando afirmou à televisão britânica BBC que o Ocidente estava a fazer pouco para combater o terrorismo. A agência Reuters lembra que Abdullah introduziu algumas alterações às leis de cariz conservador, aumentando ligeiramente os direitos das mulheres, mas sem alterações no sentido da democracia. A Arábia Saudita é o segundo maior país do mundo árabe, um dos maiores produtores de petróleo do globo e está organizado numa monarquia absoluta, sem partidos políticos e em que a sociedade se rege pela lei islâmica.
Presidente do Iémen demite-se Há violentos combates entre as forças da ordem e a milícia xiita que controla a capital. A demissão do Presidente do Iémen, Abdrabuh Mansur Hadi, está a provocar bolsas de instabilidade no país, que já de si atravessa uma crise político-militar. Homens armados atacaram esta quinta-feira duas viaturas do Exército na cidade portuária de Aden. A agência Reuters escreve que foram ouvidas três explosões, a que se seguiu uma troca de tiros. Ao início da noite quatro províncias do sul do Iémen
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Sexta-feira, 23-01-2015
vieram rejeitar quaisquer ordens provenientes da capital, Sanaa, após a demissão do Presidente. Abdrabuh Mansur Hadi e o primeiro-ministro iemenita demitiram-se na sequência de violentos combates entre as forças da ordem e a milícia xiita que agora controla a capital. O Presidente alega que o país está “num beco sem saída”.
Tailândia. Parlamento afasta ex-primeira-ministra política Yingluck Shinawatra deverá também ser acusada de corrupção, um crime punível com dez anos de prisão.
O Parlamento tailandês, nomeado no ano passado pela junta militar no poder, votou esta quinta-feira a favor do afastamento da política, por cinco anos, da antiga primeira-ministra Yingluck Shinawatra. No total, 190 membros votaram a votar da proibição, enquanto 18 deputados votaram contra e oito abstiveram-se. Yingluck Shinawatra deverá também ser acusada de corrupção, um crime punível com dez anos de prisão. A decisão do Parlamento de afastar a antiga primeiraministra da vida política pode agravar a tensão na Tailândia, país que continua dividido politicamente e a viver sob lei marcial depois de os militares terem tomado o poder em Maio do ano passado.
Mãe de refém japonês faz apelo emocionado "Por favor, salvem a vida de Kenji", pediu a mãe do jornalista em poder dos terroristas do Estado Islâmico. A mãe de um dos reféns sequestrados pelo autoproclamado Estado Islâmico (EI) apelou esta
quinta-feira ao Governo do Japão para pagar o resgate de 200 milhões de dólares. "Por favor, salvem a vida de Kenji", pediu Junko Ishido, mãe do jornalista Kenji Goto, numa declaração proferida no Clube de Correspondentes Estrangeiros de Tóquio. O apelo é feito no dia em que se cumpre o prazo de 72 horas imposto pelo EI ao Governo do Japão para pagar 200 milhões de dólares, cerca de 172 milhões de euros, em troca das vidas de Kenj Goto e do empresário Haruna Yukawa. Num vídeo divulgado na segunda-feira, o autoproclamado Estado Islâmico mostrou os dois reféns japoneses e lançou um ultimato. As imagens mostram um homem vestido de negro, numa zona desértica e os dois reféns ajoelhados, vestidos com uma farda cor de laranja. O jihadista faz um ultimato. Dá 72 horas à população japonesa para pressionar o Governo a travar o apoio à coligação internacional liderada pelos Estados Unidos que têm levado a cabo ataques contra posições do auto-proclamado Estado Islâmico na Síria e no Iraque. Se o Japão não recuar “esta faca vai tornar-se no vosso pesadelo”, avisa em inglês o extremista islâmico. O primeiro-ministro japonês exigiu a libertação imediata de dois reféns nipónicos. "Estou extremamente indignado com este acto e exijo vigorosamente que nenhum mal seja feito [aos reféns] e que sejam libertados imediatamente", disse Shinzo Abe à imprensa, em Jerusalém.
Unicef. Investimento na educação é cada vez menor Relatório apresentado em Davos, na Suíça, revela que, em muitos países, os alunos mais pobres recebem muito menos recursos públicos do que os mais ricos.
Foto: EPA Por Ana Rodrigues
O investimento na educação é cada vez menor e, em muitos países no mundo, os alunos mais pobres recebem muito menos recursos públicos para a educação que os mais ricos, alerta o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
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Sexta-feira, 23-01-2015
Segundo o relatório que apresenta esta quinta-feira, em Davos, na Suíça, a Unicef revela que a diferença pode chegar a ser até 18 vezes menos. Este relatório, que conta com o apoio da Fundação Bill e Melinda Gates, defende uma despesa mais equilibrada na educação. Faz ainda um apelo aos governos para que dêem prioridade às necessidades das crianças mais marginalizadas: As que são pobres, as raparigas, as que pertencem a minorias étnicas e linguísticas, as crianças com deficiência e as que vivem em zonas de conflito. “Os recursos públicos usados na educação das 20% crianças mais pobres da sociedade é muito menor do que é feito nos 20% mais ricos. Portanto, vem justificar as razões porque é importante que se invista na educação e lançar um apelo aos governos para que dêem prioridade às necessidades das crianças, sobretudo as que são mais pobres e marginalizadas, também àquelas que pertencem às minorias étnicas ou linguísticas, com deficiência, as que vivem em zonas de conflito e em regiões mais remotas”, disse à Renascença Madalena Marçal Grilo, da Unicef Portugal. O documento “Razões para Investir na Educação e na Equidade” destaca que, das mil milhões de crianças em idade escolar, são demasiadas as que não recebem uma educação de qualidade por causa da pobreza, dos conflitos, da discriminação devido ao género, à deficiência ou à origem étnica. O relatório realça que 58 milhões de crianças em idade escolar primária estão fora da escola e que é evidente que o Objectivo de Desenvolvimento do Milénio de alcançar a educação primária universal não será cumprido. Lê-se no documento que faltam 26 mil milhões de dólares por ano para assegurar a educação básica universal em 46 países de baixo rendimento, mas salienta que apenas 5% das receitas anuais das 15 empresas mais lucrativas do mundo seriam suficientes para eliminar esta lacuna de recursos.
Vinte africanos encontrados mortos no Mediterrâneo Marinha de Malta salvou 80 pessoas de um barco à deriva, no Mediterrâneo. Outras 20 já estavam mortas. A nacionalidade deste grupo de imigrantes do Norte de África ainda não é conhecida. Cerca de 20 imigrantes oriundos do Norte de África, tentando chegar à Europa, morreram numa embarcação, no Mediterrâneo, avança o Governo de Malta. Um navio patrulha da Marinha maltesa detectou o barco à deriva, conseguindo salvar 80 pessoas. Outras 20 não resistiram à viagem. De acordo com um porta-voz do Governo de Malta, tudo indica que os imigrantes tenham estado à deriva durante vários dias. Muitos precisam de cuidados
médicos. A nacionalidade deste grupo de imigrantes resgatado ao largo da ilha de Malta ainda não é conhecida. As autoridades maltesas têm vindo a pressionar a União Europeia e os países do arco mediterrânico no sentido de colaborarem nos esforços para travar a vaga de imigrantes, devolver aos países de origem ou integrá-los nos países europeus. A guarda costeira italiana também resgatou, esta quinta-feira, uma embarcação com cerca de 70 imigrantes ilegais, ao largo da costa da Líbia.
"Cada vida é um dom". Meio milhão de pessoas marcham em Washington A maior marcha "pela vida" do mundo decorre pelo 42º ano consecutivo. O Papa já expressou o seu apoio através do Twitter.
Alunos da Universidade de Notre Dame participam na marcha. Foto: Twitter Por Filipe d’Avillez
Centenas de milhares de pessoas voltam a enfrentar o frio que se faz sentir nesta altura do ano na capital dos EUA, para defender o valor da vida humana e protestar a decisão do Supremo Tribunal que, em 1973, legalizou o aborto em todo o país. O Papa Francisco voltou a solidarizar-se com os participantes da marcha, enviando um "tweet" a repetir o lema do encontro e com o "hashtag" (etiqueta) #MarchForLife2015. Não é a primeira vez que Francisco se une espiritualmente aos manifestantes das causas "pró-vida", tendo feito o mesmo, através de uma carta enviada através da nunciatura, para a caminhada pela vida em Lisboa, em Outubro de 2014. Every Life is a Gift. #marchforlife — Pope Francis (@Pontifex) January 22, 2015Para além desta marcha anual, estes movimentos continuam a tentar fazer aprovar leis para restringir o acesso ao aborto no país. Barack Obama tem sido um oponente de qualquer tentativa de o fazer ao nível federal e recentemente jurou que vetaria uma lei que o Congresso se preparava para discutir, que faria baixar o limite para o aborto legal até às 20 semanas. Nalguns
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Sexta-feira, 23-01-2015
estados americanos é legal abortar até ao terceiro trimestre da gravidez. Perante a ameaça do Presidente, o Congresso deixou cair a proposta de lei que iria ser discutida esta quintafeira, para coincidir com a marcha. Contudo, ainda assim, cerca de 500 mil pessoas que acorreram a Washington de todo o país, representando as mais variadas religiões e grupos políticos. No entanto, a maioria republicana fez aprovar outra iniciativa que proíbe o financiamento federal de qualquer programa que inclua ou promova o aborto, apesar de esta lei aguardar certamente o veto de Obama. Embora a marcha não seja uma iniciativa confessional, a Igreja Católica americana voltou a associar-se, nomeadamente através de uma missa de vigília presidida pelo cardeal Sean O'Malley. Durante a sua homilia, o cardeal disse aos presentes que a causa "pró-vida" deveria caracterizar-se por um "amor especial pelos pobres, pelos marginalizados, pelos que sofrem e, especialmente, pela vida que está em perigo de ser descartada". "Devemos trabalhar incansavelmente para mudar as leis injustas, mas devemos trabalhar ainda mais para mudar os corações e construir uma civilização do amor", afirmou. [Notícia corrigida às 21h14]
Americanos oferecem-se para ser chicoteados no lugar de blogger saudita São membros da Comissão Americana para a Liberdade Religiosa Internacional. Escreveram ao embaixador saudita pedindo a libertação de Raif Badawi.
Badawi foi condenado a ser chicoteado 1.000 vezes por insultar o islão no seu blogue, embora o activista liberal apenas se tenha manifestado a favor de um sistema de governo secular. O castigo é suposto ser aplicado ao longo de 20 semanas, com 50 chicotadas por semana. A primeira série já foi administrada, mas o castigo da segunda semana foi suspenso por razões médicas e, entretanto, o rei saudita enviou o caso para o Supremo Tribunal do país. A pressão internacional tem sido grande, com organizações humanitárias de todo o mundo a pedir a libertação de Badawi. Até agora, contudo, ninguém se tinha oferecido para ser chicoteado no lugar do condenado. Os sete membros da comissão incluem homens e mulheres, conservadores e liberais e tanto cristãos como cristãos e muçulmanos. A carta é uma iniciativa de Robert P. George, professor conhecido como defensor de causas católicas e conservadoras. A carta, escrita por George e entregue ao embaixador saudita, explica o que move os subscritores: "A compaixão, uma virtude sublinhada no islão bem como no cristianismo e no judaísmo e outras fés, é definida como 'sofrer com o próximo'. Somos pessoas de credos diferentes, mas estamos unidos pelo sentido de obrigação de condenar e resistir à injustiça e, se for necessário, sofrer com as suas vítimas. Por essa razão, fazemos o seguinte pedido. Se o vosso governo não suspender a punição de Raif Badawi, pedimos respeitosamente que permita que cada um de nós receba 100 das chicotadas que lhe são destinadas. Preferimos partilhar da sua vitimização do que ficar parados a vê-lo sofrer esta cruel tortura". Os membros da comissão fazem uma ligação entre este caso e as recentes manifestações pela liberdade de expressão em França, após os actos de terrorismo contra o "Charlie Hebdo" e um supermercado judaico em Paris. "Gostámos de ver representantes do reino da Arábia Saudita a participar na marcha em Paris (…) A presença saudita foi uma afirmação importante sobre direitos e liberdades básicas." "Porém, notamos com tristeza que na Arábia Saudita Raif Badawi está condenado ao abrigo de leis que violam de forma flagrante estes direitos humanos e liberdades civis", escrevem.
Reflectir sobre Auschwitz em tempo de atentados e genocídios Manifestações de solidariedade por Badawi têm-se repetido por todo o mundo. Foto: EPA/Roland Schlager
Sete membros da Comissão Americana para a Liberdade Religiosa Internacional, um órgão dependente do congresso americano, escreveram ao embaixador saudita nos Estados Unidos a pedir a libertação imediata do blogger Raif Badawi. Caso a exigência não seja aceite, os americanos oferecem-se para receber 100 chicotadas cada um, no lugar dele.
Esther Mucznik, a vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa, lançou o livro "Auschwitz - um dia de cada vez". A obra propõe uma reflexão. Por Maria João Costa
A história do cardeal Jean-Marie Lustiger, arcebispo de
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Sexta-feira, 23-01-2015
Paris entre 1981 e 2005 e que se tornou no único bispo francês a ter nascido judeu, é uma das histórias que Esther Mucznik relata no livro “Auschwitz – um dia de cada vez”. A obra agora editada pela Esfera dos Livros reúne uma série de testemunhos de sobreviventes de Auschwitz e histórias cujos percursos se cruzam com aquele que para a autora se tornou o campo de concentração “símbolo do mal absoluto”. Uma dessas histórias é a de Aaron Lustiger que “nasceu em 1926, no seio de uma família judia polaca que emigrara para França" e que depois da ocupação da França pela Alemanha em 1940 é acolhido por uma família católica. “É aí que Aaron se converte ao catolicismo, contra a vontade dos pais, acrescentando o nome Jean-Marie ao seu próprio nome”, escreve Esther Mucznik que relata que a mãe deste que viria a ser o arcebispo de Paris morreu gaseada em Auschwitz. Em entrevista à Renascença, a autora vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa explica que resolveu escrever esta obra porque “um dia um professor universitário alemão fez um seminário sobre o Holocausto e ouviu da maior parte dos alunos dizer: “Holocausto, outra vez!?”. Então ele fez um pequeno inquérito entre os alunos e concluiu que a saturação de que falavam era directamente proporcional à ignorância”. Com isto Esther Mucznik quer dizer que a sua ideia foi “juntar um grão de areia ao conhecimento do Holocausto”. Depois de ter escrito a obra "Portugueses no Holocausto", Esther Mucznik lança agora este "Auschwitz - um dia de cada vez" porque diz também que é preciso reflectir. “Na realidade a História nunca se repete, mas vemos actos em que no âmago há coisas muito idênticas. Por exemplo, o arrogar-se o direito de decidir quem vive e quem deve morrer é, infelizmente, uma coisa que atravessa não só Auschwitz, mas todos os massacres.” Esther Mucznik faz um paralelo. “Os atentados terroristas de Paris e outros que infelizmente observamos na Nigéria e em outros lados é também isso. São seres humanos que acham que têm todo o direito, em nome de Deus de tirar o direito à vida. Espero que este livro seja uma reflexão sobre o passado e sobre o presente”, conclui. A estudiosa de questões judaicas lembra que “o Holocausto é uma história humana, de homens, mulheres e de crianças que é ainda mais doloroso”, desabafa. No subtítulo deste livro Esther Mucnik usa uma expressão de um dos sobreviventes: “Um dia de cada vez”. Explica-nos a autora que quer dizer que “em Auschwitz não havia amanhã. Vivia-se o dia-a-dia. Porque reinava o arbitrário total, uma pessoa quando acordava de manhã não sabia se iria estar viva à noite. Portanto, era de facto um dia de cada vez”.
Implementado primeiro pâncreas artificial para tratar diabetes A cirurgia foi feita na Austrália a Xavier Hames, um menino de quatro anos que sofre de diabetes de tipo 1 e que corre o risco constante de hipoglicémia. Por Pedro Caeiro
Do outro lado do mundo, na Austrália, a medicina pode ter dado um passo de gigante no tratamento da diabetes. Uma criança de quatro anos de idade foi a primeira pessoa em todo o mundo a receber um pâncreas artificial. A cirurgia foi feita no Hospital Princess Margaret em Perth, a capital do estado da Austrália Ocidental, a um menino que sofre de diabetes de tipo 1 e que corre o risco constante de hipoglicémia que pode causar convulsões, coma e, em casos extremos, leva à morte. Esta nova técnica consiste em colocar o pâncreas artificial, um aparelho que é ligado através de tubos ao resto do organismo, na anca do doente. New media release: Princess Margaret Hospital world first in diabetes treatment http://t.co/XvNrTTlhw5 pic.twitter.com/lVTWThzRyL — WA Health (@WAHealth) January 21, 2015 Basicamente, funciona como se fosse uma bomba de insulina, mas que consegue prever quando é que os níveis de açúcar se tornam perigosamente baixos e entra em acção, substituindo o pâncreas e libertando insulina sempre que esta é necessária. A técnica está, ainda, a dar os primeiros passos, por isso o dispositivo tem uma vida média de apenas quatro anos e um custo de cerca de 7 mil euros. Contudo, se funcionar, pode ter um impacto significativo nos diabéticos, nomeadamente em crianças, onde a vigilância em relação à alimentação é muito mais difícil de fazer do que num adulto. Esse é, de resto, um dos pontos positivos destacados: oferece uma maior liberdade na alimentação. Outro ponto positivo é o da melhoria das condições de vida dos próprios pais, que deixam de ter que se levantar regularmente durante a noite, quando o risco de hipoglicémia é maior. Os próximos dias vão ser cruciais para perceber se esta nova técnica funciona, ou não.
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Patriarca recusa “qualquer tipo de violência no agir e no reagir” D. Manuel Clemente voltou a falar dos acontecimentos de Paris, na celebração do mártir S. Vicente.
coexistência colocam”. “Somos livres com os outros que a tal nos induzem e nunca são dispensáveis”, continuou o Patriarca, fazendo então referência aos acontecimentos de Paris. E daí voltou ao exemplo de S. Vicente, para o indicar como exemplo para a Igreja de hoje: “O modo como Vicente viveu e compartilhou até ao fim as suas convicções deve também inspirar-nos como Igreja para uma correcta posição no mundo. Posição que o Papa Bento xvi apresentou entre nós com palavras basilares: ‘nada impomos, mas sempre propomos’.” Um exemplo de evangelização ainda mais a ter em conta num tempo que a diocese de Lisboa se encontra em caminho sinodal. Um caminho que, como disse D. Manuel, deve ser feito “nada impondo ou coagindo, mas propondo sempre”. “Não se trata de impor o que quer que seja, mas propor e oferecer a quem quer que precise o mesmo que Cristo nos ofereceu a todos: presença, companhia, pão do corpo e do espírito, esperança preenchida por acções solidárias que a sustentem”, concluiu o Patriarca de Lisboa.
Por Eunice Lourenço
Especialistas vão tratar das "doenças" da Igreja dos Jerónimos
O Patriarca de Lisboa aproveitou a celebração do padroeiro da diocese, o mártir S. Vicente, para voltar a falar dos recentes ataques terroristas em Paris. D. Manuel Clemente disse que a liberdade deve guiar-se pela consciência do dever e não por qualquer coacção, identificou liberdade com responsabilidade e recusou toda a violência. “Voltando aos trágicos acontecimentos de Paris, diremos que não se pode por em causa a liberdade de expressão, nem esquecer que ela inclui intrinsecamente a responsabilidade. Responsabilidade que deve ser apurada nos órgãos que a sociedade democrática mantém para tutelar o bem comum e rejeitando qualquer tipo de violência no agir e no reagir”, afirmou o Patriarca de Lisboa, na homilia que proferiu na Sé. D. Manuel Clemente começou por lembrar a história de S. Vicente, um diácono de Saragoça, martirizado em Valência durante a perseguição de Diocleciano. Elogiou o desempenho e a coragem de S. Vicente, que não se impunha, e disse que “só a caridade convence e atrai”. Mas aquele era um tempo em que o Império considera que não praticar o culto oficial era enfraquecer as estruturas, por isso todos eram coagidos a praticá-lo. “Vicente salvou-se porque manteve a integridade”, disse o Patriarca, acrescentando que “a população cristã fortaleceu-se com a memória viva dos que deram a sua fé até ao fim”. E, daí, D. Manuel partiu para uma reflexão sobre o exercício da liberdade, feita a partir do decreto conciliar sobre a liberdade religiosa. Para o Patriarca o exercício da liberdade deve guiar-se “pela consciência do dever e não por qualquer coacção”. E liberdade e responsabilidade não se opõem, “não só coexistem como quase se identificam”. Ou seja, “liberdade é responsabilidade ou disponibilidade pessoal e publicamente garantida para responder por si às questões que a existência e a
As pedras de Lioz, usadas para construir o monumento há quase 500 anos, estão a ser tratadas para evitar a degradação do monumento, devido à humidade e à poluição.
Foto: João Relvas/Lusa
Uma equipa de especialistas em conservação e restauro do património vai tratar das "doenças" da igreja dos Jerónimos até 2022, data em que o monumento mais visitado do país, com 2,5 milhões de entradas anuais, celebra 500 anos. No local, e após terem sido realizados estudos de investigação, os especialistas estão a tratar as patologias das pedras de Lioz usadas para construir o monumento há quase 500 anos, uma obra da responsabilidade de João de Castilho (1470-1552) que
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dirigiu a empreitada entre 1517 e 1522. Foram definidas estratégias e metodologias de intervenção para tratar a degradação do monumento, um problema "recorrente" desde o século XIX, sobretudo devido à humidade e à poluição. A intervenção – em curso desde 2013 – foi esta quintafeira apresentada pelos responsáveis da Direcção-Geral do Património (DGPC) e da World Monuments Fund Portugal (WMF Portugal), que apoia o projecto científica e financeiramente. "É um projecto de grande importância porque é fundamental a prevenção e a recuperação do património do país", sublinhou o director-geral do Património, Nuno Vassallo e Silva, antes da visita às abóbadas que estão a ser intervencionadas. De acordo com o arquitecto Delgado Rodrigues, da Comissão Científica da WMF, a última grande intervenção na igreja dos Jerónimos data dos anos 1960. Depois de fazerem uma profunda limpeza dos vários tipos de pedra de Lioz, os especialistas tratam fissuras, fracturas e desprendimento de fragmentos, num trabalho moroso que já foi terminado numa das abóbadas, na Sala da Torre Sineira e na nave da igreja. Projecto "urgente" Questionado pela Lusa sobre se as várias fases das obras de restauro vão implicar o encerramento total ou parcial da igreja nalgum momento, o arquitecto respondeu que "não será necessário". O Plano de Conservação e Restauro das Abóbadas da Igreja do Mosteiro dos Jerónimos começou em 2012 e está estimado num total de dois milhões de euros, segundo a tutela, que considera o projecto "urgente". A igreja dos Jerónimos, com entrada livre, é o monumento mais visitado do país, com 2,5 milhões de entradas anuais, calculados pela DGCP com base nas entradas nos claustros (pagas), que em 2014 ascenderam a 807.845 visitantes.
"Baco, Vénus e Cupido" no Museu de Arte Antiga Pintura de Rosso Fiorentino pode ser admirada até Maio.
A pintura "Baco, Vénus e Cupido", de Rosso Fiorentino (1494-1540), proveniente do Museu Nacional de
História da Arte do Luxemburgo, vai ser exibida a partir desta quinta-feira no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa. Esta obra do artista do século XVI, que não está representado em nenhum museu nacional do país, vai ser exibida no âmbito do ciclo "Obra Convidada", até 18 de Maio. Na Florença da segunda década do século XVI, Pontormo (1494-1556) e Rosso Fiorentino (1494-1540) foram os principais artistas de um movimento que explorou um estilo de pintura muito sofisticado na composição e na expressão, a que se convencionou chamar Maneirismo, assinala o MNAA. Francisco I, rei de França, convidou Rosso Fiorentino a ir para Paris em 1530, como seu primeiro pintor de corte, e o artista dedicou toda a última década da sua carreira aos grandes trabalhos de decoração dos novos espaços do Palácio Real de Fontainebleau. Iniciado em 2013, com uma obra de Lucas Cranach, o Velho (1472-1553), vinda do The Metropolitan Museum of Art, de Nova Iorque, o ciclo de exposições designado por "Obra Convidada" tem vindo a apresentar no MNAA algumas obras de arte de grandes museus estrangeiros.
Cinema português vai ter agência para a internacionalização Acompanhamento de longas e curtasmetragens de novos realizadores, de pequenas produtoras que não tenham grande capacidade de divulgação no circuito internacional e a criação de uma rede de contactos são os objectivos da agência. A procura de cinema português em festivais internacionais levou a associação cultural IndieLisboa a criar uma agência de internacionalização do sector, a Portugal Film, que será apresentada hoje em Lisboa. Margarida Moz, uma das responsáveis pelo projecto, explicou à agência Lusa que a Portugal Film deu os primeiros passos em 2014, no seguimento de um trabalho que o festival IndieLisboa, organizado por aquela associação cultural, tem feito de divulgação internacional de obras portuguesas. "Percebemos que havia interesse em certos filmes e que se podia trabalhar, de uma forma mais consistente, essa aposta na divulgação internacional", explicou Margarida Moz. O trabalho da agência consiste no acompanhamento de longas e curtas-metragens de novos realizadores, de pequenas produtoras que não tenham grande capacidade de divulgação no circuito internacional ou de criação de uma rede de contactos. "Estabelecemos um agenciamento de proximidade para cada filme, acompanhando se possível desde a fase de finalização, para traçar uma estratégia de internacionalização", referiu. Desde 2014, ainda antes de ser formalizada, a agência apoiou a internacionalização de quatro
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curtas-metragens e da longa-metragem "A toca do lobo", de Catarina Mourão, seleccionada para o festival de Roterdão. Nos próximos meses, a Portugal Film estará presente nos festivais de Berlim e de Clermont-Ferrand, estando ainda por confirmar a presença em Cannes. A ideia é que os filmes tenham um tempo de vida mais prolongado, capitalizando o historial de presença e reconhecimento do cinema português no circuito dos festivais, afirmou Margarida Moz. A par do trabalho fora de portas, a agência também pretende captar atenções em Portugal, nomeadamente convidando programadores de festivais internacionais para visionamentos de cinema português. Nesses visionamentos serão mostrados filmes que, por exemplo, foram seleccionados para o IndieLisboa e outros que "pela sua relevância interesse divulgar". A agência Portugal Film contará com um apoio financeiro de 45.000 euros do Instituto do Cinema e Audiovisual a repartir por três anos.
Um porto de abrigo chamado “irmão” Este sábado, no Porto, o escritor Pedro Mexia apresenta o livro "O Meu Irmão". A obra vencedora do último Prémio Leya foi escrita por um trineto de Eça de Queirós.
Por Maria João Costa
Aos 24 anos, Afonso Reis Cabral escreveu um livro que tem por base a vivência pessoal, mas onde deixou também a ficção respirar. “O Meu Irmão”, a obra distinguida por unanimidade com o último Prémio Leya, relata a relação entre dois irmãos, um deles com síndrome de Down. O título “O Meu Irmão” remete-nos logo para o enredo do livro Não foi o primeiro título que pensei, mas depois achei, com o tempo, quando já tinha metade do livro escrito, que tinha de ir directo ao assunto. “O Meu Irmão” era a melhor maneira de revelar um pouco do livro, sem revelar nada. Essa relação é central no livro. A certa altura escreve: “Tratar de outro ser vivo representava para ele um feito. Era como libertar-se das amarras e estender os braços para a vida”. É isso que é tratar de um irmão? É o que o narrador tenta fazer. Depois não sei se será bem-sucedido ou não (risos). Ele tenta libertar-se pelo
amor que tem ao irmão. Como é que surgiu a ideia para este livro? Já há algum tempo, antes de 2011 que foi quando comecei a escrever o livro, que tinha algures esta ideia muito latente. Depois em 2011 comecei a pensar na ideia mais a sério e a entusiasmar-me. Até essa altura não tinha tido com nenhuma outra história o entusiasmo que tive com esta e percebi que não conseguia escrever outra história que não aquela. Isso indicava que iria conseguir acabar. Esse era o meu grande medo: não conseguir acabar como em outras vezes. As melhores histórias de um escritor são as que vêm de dentro da sua própria vida? Pelo menos que se transformam da própria vida. É um assunto que eu conheço e que portanto conseguia trabalhar, sem deixar de ser pura ficção. Era uma história que me dizia alguma coisa, portanto ia conseguir entrar nos meandros dela. O livro é escrito a duas vozes. Eu tentei que o narrador estivesse sempre em combate consigo mesmo e não só com o irmão Miguel. Ele em todo o livro combate a solidão, a sua dificuldade de relacionamento com o outro e consigo mesmo. E essa segunda voz que foi um acaso, achei a certa altura que não conseguiria escrever sem essa voz. Daí esses textos inseridos no corpo do texto principal e que são uma voz ainda mais honesta. No epicentro está esta relação entre os dois irmãos, um deles, o Miguel, tem síndrome de Down. Escreve que “O Miguel sente-se seguro ao pé de mim, apaziguado mesmo em circunstâncias adversas”. O irmão narrador é um porto seguro? Num mundo ideal é o que tem de ser. Temos de cuidar dessas pessoas, temos que acolhê-las e fazê-las felizes. É isso que o narrador tenta fazer. É dar um porto de abrigo ao irmão Miguel depois dos pais morrerem. Os pais sempre foram esse porto de abrigo e chega o momento em que morrem e o Miguel fica só. Alguém tem de cuidar dele e neste caso foi o narrador que se chegou à frente. Agora se tivesse cuidado bem dele eu penso que não havia história, seria uma relação pacífica e eu não conseguiria escrever o livro. Coloca-se a questão da institucionalização deste tipo de pessoas com síndrome de Down. É uma das grandes preocupações das famílias e em particular dos pais quando pensam que vão morrer. Agora eu no livro não apresento soluções, talvez até pelo contrário. Há sempre um segredo entre estes dois irmãos que não vamos revelar Ah! Obrigado. Tentei que no fim se percebesse o que já se passava no inicio. Tentei que fosse revelado aos poucos. Como é que recebeu a noticia da voz de Manuel Alegre que tinha ganho o Prémio Leya? É difícil descrever. É pura emoção. Eu quase não conseguia ficar de pé. A certa altura, ao telefone, Manuel Alegre perguntava pequenos dados da biografia como onde estudou? Que idade é que tem? E eu questionava-me “onde é que eu estudei?”, “como é que me chamo?” E o Manuel Alegre dizia “Acalme-se homem!” Já regressou à escrita? Claro que sim e com mais entusiasmo e talvez com
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segurança de vir a poder publicar outro livro com mais facilidade. ENTREVISTA
Gisela João: "Eu não me seguro" "Eu não quero nunca deixar de ser eu – Deus me livre e guarde de alguma vez dizer coisas pensadas antes, de dizer aquela frase feita". Palavra da fadista, que se estreia nos Coliseus para mostrar canções novas. Por Pedro Rios (texto), Inês Rocha e Edgar Sousa (vídeo)
Miguel Esteves Cardoso disse: "Gisela João é a grande fadista do século XXI". Como um estrondo, lançou um disco em 2013 e, em pouco tempo, garantiu um lugar de topo no fado contemporâneo. Esta sexta-feira, no Coliseu do Porto, e no dia 31, no de Lisboa, a fadista de Barcelos, fixada em Lisboa, abre um novo capítulo na sua carreira. Os espectáculos, em que apresentará novas canções, têm encenação de André Teodósio, do Teatro Praga. "Não é bem uma encenação", esclarece, "ele sabe que eu não me seguro". Falámos com ela no arquivo de discos da Renascença, entre rodelas de vinil de Amália, Carlos Ramos, Camané (Gisela descobriu nas prateleiras um disco do fadista ainda adolescente) e muitos outros fadistas. Gisela parecia uma criança numa loja de doces. Depois do CCB, da Casa da Música e de outros palcos grandes, atribui aos Coliseus uma importância especial na sua curta mas fulgurante carreira? Atribuo pois. São salas muito grandes e isso assusta porque é muita gente, mas também e principalmente porque senti que devia dar um passo em frente. Gravei aquele disco, as pessoas ouviam aquele disco e eu ia fazendo os concertos daquele disco, cantava aquelas músicas e, de certa forma, começava a ser confortável para mim cantar aquelas músicas. Achei que agora devia aproveitar os Coliseus, e o facto de ser início de ano novo, para dar um passo em frente. Fazer um espectáculo completamente diferente, com músicas completamente diferentes. Seguir em frente. Marcar este concerto foi uma forma de ter uma meta, de obrigar estas canções a ganharem forma? Acho que as coisas acontecem não por acaso, às vezes. Os Coliseus estão marcados desde o Verão. Andava com muito trabalho, não gosto de me estar a dispersar. Decidimos juntar-nos há uns meses para nos sentarmos: "Então, o que é que vamos fazer?". E decidimos, pusemos todas estas ideias em cima da mesa e decidimos fazer isto. E decidimo-nos juntar a partir de Dezembro todos os dias para trabalhar este conceito: basicamente, gosto de cantar, os meus músicos gostam de tocar, o meu produtor gosta de fazer som, de produzir, temos todos muito prazer naquilo que fazemos. E é isso que queremos fazer, só que com outras músicas agora. É um novo capítulo que agora começa? Sim. E em 2015 terá um novo disco?
Talvez. Não gosto de pensar muito nisso. Gosto de fazer as coisas com pés e cabeça e acho que para isso, para as coisas serem bem feitas na nossa vida, devemo-nos entregar a elas de corpo e alma no momento que é preciso. Se não acabamos a divagar e não fazemos nada bem. Neste momento estou focada nos Coliseus, no dia a seguir podem vir-me falar de outro disco. Tudo a seu tempo. Gosto de aparecer com as coisas feitas, se não andamos aqui "eu faço, aconteço e apareço" e, pumbas, não fazes nada. As canções de "Gisela João" já fazem parte de si – como faziam no disco, mas agora provavelmente ainda mais porque o fado tem muito isso, de absorção. As novas canções ainda têm que fazer esse processo? Não, porque para mim passa tudo pura e simplesmente pela interpretação do poema. Repito-me muitas vezes, sou uma chata a dizer que gosto de contar histórias porque é mesmo isso que gosto de fazer. Posso cantar o "Meu Amigo Está Longe" amanhã e a forma como a vou cantar vai-me dar gozo, como se fosse a primeira vez, porque vou estar a interpretar aquele poema outra vez. Nós não acordamos todos os dias iguais, a nossa vida vai mudando. Inspiro-me em como estou a sentir aquele poema naquele momento. Por isso, é que nunca me vou fartar daquilo que faço. Todos os dias posso cantar a mesma música que há sempre uma coisa que vai ser diferente. É claro que o palco dá-nos outra estaleca porque tens as pessoas à frente, é o imediato, tem que ser. Se te engasgas tens que continuar a música. Ainda não tenho isso com estas músicas. Andamos a ensaiar porque é preciso muito trabalho para experimentar, dar voltinhas com voz. Eles experimentarem malhas com os instrumentos mas quando chegar ao palco, vou cantar e sei lá como vou acordar naquele dia. Estas novas canções apareceram quando? Desde sempre. As pessoas, há uns meses, perguntavam-me: "Então o disco novo, estás a trabalhar para ele?" Eu dizia: "Não estou, mas ao mesmo tempo estou". É inevitável porque no meu dia-a-dia quando ouço um fado de que gosto muito, penso "ei caramba! Já nem me lembrava deste fado, deixa-me anotar aqui". Tu no teu trabalho também fazes isso, provavelmente. Estás em casa no teu momento de lazer, mas provavelmente lembras-te de alguma coisa, "se calhar era bom fazer isto". Fica ali guardado para depois pôr tudo em prática quando chega a hora de trabalhar. Gosto de fazer assim. Este concerto terá encenação de André Teodósio. É algo de novo para si trabalhar esse lado cenográfico? É novo para mim, é uma coisa que gostava de fazer desde que apareci, só que as coisas são difíceis – ter-se as condições necessárias para se fazer aquilo que se gostava de fazer. Agora, senti que talvez fosse a hora de... "Pronto, são os Coliseus, quero lá saber, 'bora lá' fazer, se calhar já posso." Não é bem uma encenação, se não as pessoas pensam que vou estar ali a debitar um texto que me foi encomendado. Tenho essa salvaguarda com o André. Ele sabe que não me seguro: acabo de cantar aquele poema e aquilo mexe comigo. É claro que o que vou dizer a seguir vai ser consequência do que acabei de fazer. Se acabei de cantar uma coisa muito séria, que mexia muito comigo naquelas situações menos boas que temos na vida, é normal que a seguir – já me conheço – faça uma grande piada para
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cortar a tensão (porque eu fico com vergonha, porque estou-me a mostrar, não é?). Estou a viver sentimentos que tive e as pessoas que me conhecem sabem provavelmente em que estou a pensar para cantar aquilo. Isso faz-me ficar com vergonha e nesses momentos faço logo uma piada a seguir e desconstruo logo. Sabendo disso, tem mais a ver com a cenografia, a direcção, onde vamos estar. Eu não quero nunca deixar de ser eu – Deus me livre e guarde de alguma vez dizer coisas pensadas antes, de dizer aquela frase feita. É engraçado que diga isso quando a Gisela canta poemas alheios. Mas sinto mais "eu" no que faz do que em alguns artistas que escrevem as suas próprias canções. No meu disco só tinha dois poemas originais. Havia pessoas que me diziam: "Tu devias ter mais poemas teus, nem que fossem teus, mas que fossem originais, feitos para ti". Sinceramente não me preocupa nada disso. Não vejo como menor eu reinterpretar coisas antigas – muito pelo contrário, é um dos meus desafios. Vou ouvir a senhora dona Amália cantar uma música belissimamente bem, mas ela está a interpretar à maneira dela. Se calhar ela própria vivia a vida dela assim, só ela sabia o que ia dentro do coração dela. E interpreto à minha maneira. Por isso, é que sou completamente contra as pessoas que andam sempre a imitar. Nós não somos assim: somos seres individuais e pensantes, com a nossa cabecinha, e isso é um luxo, é o grande trunfo que temos na nossa vida. Quando canto os poemas antigos estou a interpretá-los à minha maneira e estou a levá-los a gente nova. Os meus irmãos com 16 anos não fazem puto de ideia de quem é o Carlos Ramos sequer, embora já tenham ouvido o "Não Venhas Tarde". Não conhecem, não sabem, não sabiam que existia uma Maria Teresa de Noronha ou uma Berta Cardoso. E, como os meus irmãos, muitos miúdos com 17 anos que vão ver os meus concertos. Esse poder que eu tenho em mãos é incrível. Fazer com que essas pessoas não sejam esquecidas. É uma forma de as coisas continuarem. Da série de elogios que recebeu há um do "Público" que destaco: "Nada em Gisela João faz lembrar uma fadista, nada parece ligá-la a uma tradição. Excepto a voz." Já colaborou com um músico da electrónica (Nicolas Jaar), com uma banda rock (Linda Martini), com uma artista hip-hop (Capicua). No entanto, tem um disco tradicional. Como sente que é vista no meio fadista? Ou isso não lhe interessa minimamente? Tenho o maior dos respeitos pelo meio fadista, adoro cantar fado, adoro tudo o que há nele –, mas é uma das premissas que tenho para a minha vida: quem paga as minhas contas sou eu, quem põe comida na minha mesa sou eu, tenho que fazer aquilo que para mim faz sentido. Não estou a tratar mal de ninguém, não estou a faltar ao respeito a ninguém. Temos que fazer aquilo de que gostamos no nosso trabalho, independentemente do que digam. É claro que no início houve uma ou duas situações que chegaram até mim e eu chorei, fiquei triste. As pessoas, às vezes, dizem coisas muito feias e muito más. Mas serviu-me de experiência de vida para crescer, para pensar: "Não, calma, tu não tens que ver sequer estas coisas, as pessoas têm direito à sua opinião. Não gostam, põem na beira do prato." Pessoas com muito
mais fama do que eu devem sofrer horrores se estiverem sempre a ligar a essas coisas. Recebeu outros elogios, de Miguel Esteves Cardoso ao editor da Valentim de Carvalho. Na altura, no meio da excitação, não saboreava estas conquistas, confessou. E, agora, como olha para trás? Olha, dei por mim no fim do ano: "O que é que aconteceu?". E pensei: "Não usufruí tanto das coisas boas". Mas também se não usufruí é porque não tinha de usufruir. Foco-me muito no trabalho. Quando essas coisas boas apareciam, ficava contente mas depois logo a seguir pensava: "Ui, tenho que trabalhar muito porque a expectativa está aqui e as pessoas não me perdoam". "Então andam a dizer isto dela e fui ver o concerto dela e aquilo foi uma xaropada?". Não posso fazer isso com as pessoas, as pessoas pagam bilhetes e tenho que estar impecável a fazer aquilo, porque é o que peço enquanto público.
João Sousa e Federer fora do Open da Austrália Tenista português foi afastado na terceira ronda pelo britânico Andy Murray.
Tenista português caiu na terceira ronda. Foto: Made Nagi/EPA
João Sousa caiu na terceira eliminatória do Open da Austrália. O tenista português foi esta quinta-feira eliminado pelo britânico Andy Murray. A partida não começou bem para João Sousa, número 55º do ranking ATP, que perdeu os primeiros dois “sets” por 6-1 e 6-1. No último “set” o tenista vimaranense demonstrou a sua fibra e bateu-se bem, perdendo por 7-5 frente ao favorito Andy Murray, actual 6º classificado do ATP. O britânico vai defrontar na próxima ronda o búlgaro Grigor Dimitrov, que afastou o cipriota Marcos Baghdatis. A terceira ronda do Open da Austrália também fica marcada pela derrota do segundo cabeça de série Roger Federer. O suíço perdeu com o italiano Andreas Seppi, pelos parciais de 6-4, 7-6(5), 4-6 e 7-6(5).
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ARBITRAGEM
Proença confirma fim da carreira. "Saio a bem com todos" O agora ex-juiz internacional de Lisboa também não afastou a possibilidade de continuar ligado ao sector. Luís Filipe Vieira e Bruno de Carvalho estiveram presentes na sede federativa. Pedro Proença anunciou, esta quinta-feira à tarde, na sede da Federação Portuguesa de Futebol, em conferência de imprensa, que coloca um 'ponto final' na carreira de árbitro. O agora ex-juiz internacional, de 44 anos, confirma o que já tinha sido avançado há dias, assegurando: "saio a bem com todos". "Sinto-me extremamente realizado. Saio com a consciência tranquila. Foi uma decisão ponderada e tomada em consciência", justificou, destacando o "desgaste" provocado pela carreira e por ter conseguido "cumprir os objectivos" que queria. "Ao longo da minha carreira consegui angariar respeito pela minha conduta. Apesar dos erros, as pessoas sabem que sempre fui muito correto", comentou. No seu discurso, o ex-árbitro elogiou o presidente federativo, Fernando Gomes, a quem ofereceu uma camisola, e não afastou a possibilidade de continuar ligado ao sector. "Estarei sempre, sempre disponível para contribuir em prol da arbitragem e do futebol português", explicou, perante uma sala repleta e com vários dirigentes. Entre eles, Bruno de Carvalho (Sporting), Luís Filipe Vieira (Benfica), Antero Henrique (FC Porto) ou Luís Duque (presidente da Liga de Clubes). "Herança de peso" Neste momento de despedida, Pedro Proença deixou igualmente uma palavra de confiança à nova geração da arbitragem portuguesa, afirmando que "é tempo de dar lugar aos actuais valores", uma geração de árbitros "entusiasta e bem preparada". "Fecha-se um ciclo enquanto árbitro, estando certo que atingi um patamar único, que muito me orgulha e sinto que contribui de forma humildade para uma projecção da arbitragem portuguesa além-fronteiras", reforçou. "Delego às novas gerações uma herança de peso. De um percurso que sempre foi pautado pela máxima dedicação e entrega". "Tenho, por isso, consciência que deixo uma imagem de profissionalismo, competência, credibilidade perante todos os agentes desportivos com os quais me cruzei ao longo deste tempo", disse. "Estive em competições extraordinárias..." Pedro Proença encerra uma carreira cujos pontos altos foram o facto de ter dirigido as finais do Europeu e da Liga dos Campeões, em 2012, sendo então classificado como o "melhor do Mundo". Recentemente, na Gala dos 100 anos da FPF, Proença foi eleito o "árbitro do século" no nosso futebol. A última prova internacional em que participou foi o Mundial de Clubes, em Dezembro, em Marrocos.
"Ao longo destes 26 anos tive o privilégio de apitar jogos fantásticos, quer no panorama nacional quer no plano internacional. Estive em competições extraordinárias, com os mais talentosos intervenientes, fui um privilegiado. Estar presente em várias finais únicas, como a Champions League e o Campeonato da Europa, foi o culminar de uma jornada para o qual eu e a minha equipa muito trabalhámos", afirmou. HENRIQUE CALISTO
“Paga-se miseravelmente mal aos treinadores” Henrique Calisto denuncia vencimentos muito baixos, da formação à principal Liga do futebol português. Em entrevista a Bola Branca, treinador dá favoritismo ao Benfica na luta pelo título. Henrique Calisto elogia a qualidade da actual geração de treinadores portugueses mas encontra um galho difícil de quebrar para a classe. “O grande problema que se coloca é ao nível dos salários, cada vez mais prioritária para a contratação de treinadores. As remunerações em prejuízo da competência. Paga-se mal, miseravelmente mal. Há treinadores na formação que ganham 100 euros. Há treinadores na 2ª Liga que ganham mil euros. E na 1ª Liga, comparados com 2000, altura em que sai para o Vietname, são muito baixos”, afirma em entrevista a Bola Branca. O treinador pela realidade que conhece do futebol português revela que os treinadores “ganham à volta de 5 mil euros. É pouco para a carreira curta de um treinador. Tirando o caso de Jorge Jesus, os grandes também baixaram os salários aos treinadores, e os restantes clubes também reduziram. Há muitos treinadores que me contactam para sair de Portugal, sabendo dos contactos que tenho lá fora, principalmente na Ásia”, refere.Benfica favorito na corrida pelo título Num balanço á 1ª volta do campeonato, Henrique Calisto, começa por salientar o percurso do V. Guimarães. “É a confirmação de um projecto de um clube que baixou o défice em 10 milhões de euros, em três anos. Tem sucesso desportivo e mais de metade dos habituais jogadores jogam no campeonato nacional de seniores. É um exemplo a seguir”, observa. Pela negativa, Calisto menciona “a qualidade de jogo. Cada vez mais, os clubes médios tendem a desaparecer. O campeonato é a cinco. Os grandes, mais o Braga e o V Guimarães. Há que repensar a sustentabilidade financeira do futebol português e da formação dos jogadores. E os fundos deveriam ser muito bem tratados. Se faltar a formação internacional de Benfica, Porto e Sporting, será a falência do futebol português”, adverte. Quanto á corrida pelo título, Henrique Calisto resume-a a Benfica e FC Porto. “É uma corrida a dois. E haverá um outro campeonato para o terceiro lugar entre
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Sporting, Braga e V Guimarães. Um dos piores resultados que há no jogo é o 2-0. E o Benfica está a ganhar 2-0 porque tem duas vitórias a mais”, refere. Até ao fim da época, Calisto aponta o Benfica como favorito para a reconquista do título. Está a jogar muito bem e a crescer mesmo sem Enzo Perez. Jorge Jesus é um óptimo treinador e tem uma coisa que joga a favor em relação aos outros, seis anos à frente da equipa. A cultura transmite-se do modelo e filosofia de jogo. Nunca defendi as grandes revoluções com a saída de mais de metade do plantel efectivo. Um dos grandes sucessos do FC Porto foi manter de geração para geração essa cultura”, sustenta. Treinador mais jovem da 1ª Liga Henrique calisto tinha 26 anos quando iniciou a carreira de treinador. “Abandonei a carreira de jogador cedo e tive a possibilidade de tirar o curso de Educação Física. Devo tudo a António Teixeira que foi meu treinador no Leixões. Convidou-me para ser adjunto e depois avancei para principal”, explica o treinador. Contextualizando, Calisto argumenta que “era um momento conturbado no futebol português. No início dos anos 80 assistiu-se à introdução dos professores de Educação Física no futebol português. Uma nova época em termos da abordagem do treino. O pontapé de saída para o treino mais planificado e as ciências do treino passaram a ter um papel importante”, acrescenta. A imagem do treinador português era muito diferente da actualidade. “Para se ter a noção do que era o prestígio dos treinadores nessa época, após o Mundial de 1986, foi escolhido um advogado, Rui Seabra, para o lugar de José Torres. Imagine-se se hoje fosse tomada uma decisão dessa natureza”, exemplifica o treinador. Henrique Calisto lembra que “em 1985, numa fusão de Sindicatos, criamos a Associação Nacional de Treinadores. Fui o primeiro presidente. Formamos a associação de classe para pugnar pela defesa e progresso do futebol. Hierarquizamos os cursos com quatro níveis. Ultrapassamos barreiras e filiamo-nos na Associação Europeia de Treinadores de Futebol”, enfatiza. REVISTA DA IMPRENSA DESPORTIVA
Dragão quer reforço e Ewerton já chegou
"Lopetegui pede outro avançado", lê-se na primeira página de O Jogo. Adrian Lopez tem lesão para mês e
meio e o treinador do FC Porto quer uma alternativa. Na edição Sul, O Jogo avança: "Leão sobe parada por Hassan". Nos jornais de Lisboa, é Ewerton, reforço do Sporting, que surge em destaque. "Aí está Ewerton", proclama o Record, enquanto A Bola cita o jogador: "Estou muito feliz".
Sair pela porta grande O rico currículo de Pedro Proença, que dispensa enunciados, coloca-o num patamar nunca antes atingido por qualquer árbitro português, mesmo tendo em conta outros nomes que no passado também honraram o sector. O futebol português tem sido um campo de sucesso comprovado, sobretudo na última década. Ter os melhores do mundo tornou-se uma evidência, em diversas áreas: Cristiano Ronaldo, jogador, José Mourinho, treinador, Pedro Proença, árbitro, e Jorge Mendes, empresário, tornaram-se emblemas que nenhum outro país teve o condão de igualar, anos a fio. Todos eles trouxeram para o nosso país prestígio impossível de alcançar em qualquer outra área de actividade, ajudando a colocar o futebol num plano de inegável importância, embora reconhecida muitas vezes com enorme dificuldade, mesmo entre nós. Este quarteto de figuras ilustres sofreu hoje uma baixa muito importante. Com efeito, Pedro Proença acaba de colocar de lado o apito, abandonando assim a actividade, ainda antes de atingir o limite de idade. Tratou-se de uma iniciativa pessoal, sem constrangimentos, ditada apenas pelo entendimento do próprio de que esta é a altura mais recomendável para o abandono. O rico currículo de Pedro Proença, que dispensa enunciados, coloca-o num patamar nunca antes atingido por qualquer árbitro português, mesmo tendo em conta outros nomes que no passado também honraram o sector. Por isso teve à sua volta, na hora da despedida, uma grande parte dos dirigentes do futebol nacional, até mesmo muitos daqueles que algumas vezes não estiveram de acordo com os seus desempenhos. É inteiramente justo este reconhecimento, ao qual nos associamos. Pedro Proença sempre mereceu sair pela porta grande.
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JORGE MENDES
INGLATERRA
"Ronaldo vai retirarse no Real Madrid com 38, 39 ou 40 anos"
Benfica "roubou" Dí Maria ao Arsenal
O empresário do melhor jogador do mundo lançou o livro "A Chave de Mendes", em Madrid, e enalteceu a responsabilidade do capitão da selecção como profissional de futebol.
Jorge Mendes, o super empresário de futebol português, revelou esta quinta-feira que é quase seguro afirmar-se que Cristiano Ronaldo terminará a sua carreira ao serviço do Real Madrid. "Tenho quase a certeza que sim. Quando se retirar será com 38, 39 ou 40 anos, mas ainda tem muitos anos para jogar. Todos sabem que o Cristiano Ronaldo, como profissional, é o melhor exemplo que podemos ter, uma pessoa que se preocupa muito", afirma o agente do melhor jogador do mundo. Mendes apresentou esta quinta-feira o livro "A Chave Mendes", com a sua biografia. Contou nesta apresentação com a presença de muitos dos jogadores que representa, entre eles, Cristiano Ronaldo. A relação entre ambos é bem próxima e o agente, sempre que pode, não se cansa de destacar o profissionalismo de CR7. "Um clube gasta muito dinheiro a comprar jogadores e a responsabilidade como jogador é dar uma resposta positiva dentro e fora do campo", justificou Jorge Mendes, lembrando que Cristiano Ronaldo é "um exemplo" pelo trabalho que faz fora de campo, ou seja, a parte "invisível" da sua preparação.
Arséne Wenger explica que o argentino não foi para o Arsenal porque a legislação britânica não o permitia. Diz o francês que "só quando valem muito dinheiro é que os jogadores podem jogar em Inglaterra".
O Arsenal perdeu Dí Maria para o Benfica quando o argentino tinha 17 anos. A revelação foi feita pelo treinador dos "gunners", Arséne Wenger, que afirmou ter observado o jogador "numa competição internacional". Apesar da vontade do clube inglês, Dí Maria "acabou por ir para Portugal". "Porquê? Porque não conseguimos que ele tivesse uma licença de trabalho em Inglaterra", explicou Wenger. O técnico criticou a actual legislação britânica, que defende que "só quando valem muito dinheiro é que os jogadores podem jogar em Inglaterra". Dí Maria é agora jogador do Manchester United após ter passado por Benfica e Real Madrid.
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Caracóis portugueses estão na moda Produção já ultrapassou as 500 toneladas por ano e dá três milhões de euros.
Foto: Wikipedia
A produção de caracóis em Portugal ultrapassou as 500 toneladas por ano. Segundo os dados divulgados esta quinta-feira na Lourinhã, no I Encontro Nacional de Helicicultores, está em causa um rendimento na ordem dos três milhões de euros. De acordo com Paulo Geraldes, presidente da Cooperativa dos Helicicultores, há em Portugal cerca de 150 produtores espalhados de norte a sul do país. Este número equivale a uma área de produção de 300 hectares. Nos últimos três anos o aumento de produtores foi na ordem dos 200% e deveu-se em parte ao financiamento comunitário. Este apoio por parte da União Europeia tem sido fundamental para a divulgação do produto a nível internacional e consequente incremento da produção e consumo interno. Falamos de 13 mil toneladas de caracóis. Este é o número do consumo desta iguaria em Portugal. E embora seja um valor considerável, o alvo dos produtores é o mercado da exportação. Quando questionado sobre a razão para “ocupar” o mercado internacional com caracol português, Paulo Geraldes indica que “a qualidade do nosso produto” é de facto o elemento-chave. Actualmente os países que fazem parte da lista de exportação são a Espanha, França e Itália e tem como mercados emergentes o asiático e o árabe. Geraldes volta a referir a qualidade como factor diferenciador “na promoção e aposta da comercialização internacional da helicicultura”. Os mais jovens também estão interessados na produção de caracóis. Paulo Geraldes refere que os agricultores mais jovens são os que mais têm investido na área e mostram mais vontade de expandir e melhorar a qualidade do caracol português. “Os jovens agricultores fazem neste momento uma série de opções e análises dessas opções e alguns enveredam por outras áreas, como a pêra abacate, na zona sul, e os pequenos frutos, as ervas aromáticas, os cogumelos e
alguns pela helicicultura”.
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