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EDIÇÃO PDF Directora Graça Franco

Terça-feira, 10-03-2015 Edição às 08h30

Editor Raul Santos

“Os banqueiros estão acima da lei” FALAR CLARO

Passos “regou a fogueira com petróleo” na alusão a Sócrates Alô, Santana? Marcelo também se "encaixa" no Presidente que Cavaco quer Governo aprova incentivos para médicos e alarga contratação de aposentados Governo garante: Encontrar Deus "Aumento do IMI não ultrapassará os atrás das grades 10% em média" REPORTAGEM

Investigação portuguesa sobre odores em crimes desperta atenção do FBI

Belmiro de Azevedo deixa administração da Sonae

MARIA DO ROSÁRIO CARNEIRO

Efetivar o princípio

LIGA DOS CAMPEÕES

Infografia. Quem não tem Jackson, caça com Tello


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FALAR CLARO

Passos “regou a fogueira com petróleo” na alusão a Sócrates Opinião de Nuno Morais Sarmento, expressa no programa “Falar Claro”, da Renascença. Por José Pedro Frazão

O antigo ministro social-democrata Nuno Morais Sarmento considera que o caso das dívidas de Passos Coelho à Segurança Social foi mal gerido pelo primeiro-ministro do ponto de vista estratégico e comunicacional. "Esta comunicação decorre de uma falta de consciência que assusta em termos políticos. Aí sim, é do primeiro-ministro que estamos a falar, não do cidadão Pedro Passos Coelho. E no fim, quando acaba com inabilidade absoluta por fazer aquela referência não nominativa a José Sócrates, fez tudo o que podia para ‘deitar petróleo na fogueira’”, afirma no programa “Falar Claro” desta semana. Ainda assim, Morais Sarmento considera “que o assunto, honestamente, está encerrado. Não vejo muito bem o que é que se pode inventar mais à volta disto”. Mas acrescenta que, se Pedro Passos Coelho tivesse logo “esclarecido que tivera essas falhas e omissões; que tinha respondido por elas com os juros de mora ou com multas ou com aquilo a que qualquer cidadão fica sujeito” e ainda acrescentasse – “como fez e sei pessoalmente ser verdade – que houve momentos em que pagou porque não tinha [dinheiro] para pagar, se calhar a história tinha levado outro caminho”. O comentador não duvida que o caso emergiu pela mão do PS. “Depois daquela intervenção de António Costa, quando vi a maioria insistir, insistir e insistir, a minha dúvida era [saber] qual seria o caso que o PS iria trazer para cima da mesa para contrariar o caso de António Costa. E foi este”. O militante do PSD considera que maioria não devia ter apostado nesse ponto de ataque ao líder do PS. “Uma coisa é fazer referência, apontar a incoerência e depois deixar que as pessoas pensem com as suas cabeças. E não procurar intoxicar permanentemente as pessoas com uma insistência que, a partir de certa altura, se torna absurda, naquilo que não tinha mais do que o primeiro comentário oferecia”. Passos deve responder no Parlamento Convidado esta semana a ocupar a cadeira de Vera Jardim no “Falar Claro”, o fundador do Livre defende que as consequências políticas do caso se centram na esfera do Parlamento. “Se olharmos para o nosso desenho institucional, o primeiro-ministro responde perante alguém. Esse alguém é a Assembleia da República. Deveria ser o próprio primeiro-ministro, de modo próprio, a apresentar-se perante a Assembleia da República, uma vez que reconheceu o erro e as falhas”, argumenta o antigo eurodeputado, que pede ainda uma outra resposta a este caso.

“Seria desejável que deste caso, em vez de se retirar um debate com muitos decibéis acerca de comportamentos individuais, se conseguissem retirar ensinamentos para aquilo que em Portugal é um gravíssimo problema de endividamento das pessoas, das famílias e das pequenas e medias empresas, que muitas vezes vivem situações desesperadas e que não contaram com a ajuda do Estado. Pelo menos, durante o governo de Pedro Passos Coelho”. Rui Tavares diz que o caso é relevante em dois planos. “Tem a ver com questões a montante que nunca foram esclarecidas: Tecnoforma, exclusividade enquanto deputado, coisas mais sérias. E a jusante, pelo tipo de políticas que este Governo preconizou, com Passos Coelho à sua frente. Uma atitude muito dura, muito severa, muito implacável, até em certos momentos, quase persecutória em relação aos portugueses que não pagaram, muitas vezes porque não puderam ou porque estão enquadrados de uma forma desfavorável. Na sua dívida privada, não foram tratados com a sensibilidade com que o primeiro-ministro se absolve a si mesmo”, critica o historiador que se propõe ao eleitorado em nome da plataforma Livre/Tempo de Avançar, composta por grupos de independentes e dissidentes de partidos como o Bloco de Esquerda e o PCP.

“Os banqueiros estão acima da lei” Marc Roche, autor do livro “Banksters”, diz que o caso BES representa na perfeição tudo o que está mal no sistema financeiro.

Foto: Esfera dos Livros Por Sandra Afonso

“Os bancos controlam os políticos, os banqueiros estão acima da lei e ninguém é condenado.” As palavras são de Marc Roche, escritor e jornalista financeiro, que está de passagem por Lisboa. Em entrevista à Renascença, este belga, radicado em Londres, descreve o escândalo do BES como o exemplo perfeito do seu mais recente livro, “Banksters - Uma viagem ao submundo dos banqueiros". Marc Roche defende que o Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, já se devia ter demitido e acredita que o BES envolve actividades criminais, mas não será por os banqueiros mentirem no Parlamento que serão processados.


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Como comenta o caso do BES? O Banco Espírito Santo representa tudo o que está mal com o sistema financeiro. Que escândalo é este? Impunidade, ausência de controlo, mania das grandezas, megalomania, evasão fiscal e, finalmente, a aventura do risco, para lá da banca, é tudo o que está mal! Eu diria que o Espírito Santo representa o “Banksters” na perfeição, é o melhor exemplo de Banksters. Porque precisava o BES de um banco no Panamá? Porque no Panamá, que é um paraíso fiscal, pode fazer o que quiser. Não há regulador, não há controlo, é muito fácil instalar companhias sombra, falsas, onde se podem esconder as operações fora do balanço. É o local ideal para fazer operações desonestas. O governador do Banco de Portugal deve resignar? Nem acredito que ainda esteja no lugar! Devia ter saído de imediato! Em última análise ele é o responsável pelo que aconteceu, porque não supervisionou como devia o banco. Mas estas pessoas nunca se demitem! E quando os banqueiros ou os governadores centrais renunciam aos cargos, encontram logo trabalho na finança. Portanto, não acredito que não se tenha demitido, não é um homem moral. Acha que estamos perante um caso criminal? Não conheço os pormenores, mas pelo que li sobre o banco são actividades criminais, porque pensam que estão acima da lei, porque como estão tão próximos dos políticos podem fazer o que querem. Neste caso, é claro que irregularidades aconteceram. E acho que é outro exemplo do que está mal com o sector financeiro hoje, apesar do reforço da regulação. No seu livro fala da relação tóxica entre políticos e banqueiros. Acha que isto acontece com frequência? Este é um dos maiores problemas da banca e da democracia, os políticos estão muito próximos dos banqueiros. Os políticos enfrentam uma questão difícil. Se regulam demais os bancos, estes fazem chantagem e ameaçam deixar de ajudar a economia! Todos os políticos querem ser reeleitos, para isso precisam de uma economia saudável e, para isso, precisam dos bancos, por isso não podem ser muito severos com a banca. Essa ligação entre políticos e bancos é a verdadeira relação tóxica e uma ameaça à democracia. Os políticos não controlam os bancos, os bancos controlam os políticos. Os mesmos políticos estão neste momento no Parlamento a questionar estes banqueiros. Acha que este processo vai chegar a alguma conclusão? As comissões parlamentares são muito importantes porque nos permitem julgar o que aconteceu. É claro que não sabemos toda a verdade sobre as operações ocultas no panamá e outros locais, ou as evasões fiscais, mas fica uma ideia de como são estas pessoas e é muito importante que o gerente dê a sua versão do que aconteceu no Parlamento. Mas não vai levar a lado nenhum, não é por mentirem na Assembleia da República que vão ser processados. Eles acham que estão acima da lei, e eles estão acima da lei! Na sua opinião, nenhum destes banqueiros será condenado? Nenhum banqueiro foi condenado até agora, mesmo em casos com actividades ilegais.

Os clientes devem ser compensados, todos eles, mesmo os que investiram em produtos com risco? Quem investe em produtos com risco deve ser avisado pelo seu banqueiro, mas é claro que não foram avisados dos riscos e por isso foram enganados e é absolutamente normal que sejam reembolsados. Se o banco não lhes der o dinheiro, os banqueiros devem ser penalizados pessoalmente, e isso também não está a acontecer. Para concluir, o que se passa com os nossos bancos? Os bancos são demasiado grandes, devem ser reduzidos. Um país como Portugal não precisa de um banco tão grande como o BES. E mesmo os países maiores precisam de bancos pequenos, bancos de retalho, que ajudam a economia, não precisam de especulação, de actividades de casino. Neste preciso momento estamos a discutir em Portugal a fusão de outro grande banco, o BPI. Um negócio que não lhe agrada? Vai contra o que devemos fazer. Bancos grandes representam perigo, risco, grandes bónus, e quem perde no final é o público.

Defesa de Sócrates quer que seja o Supremo Tribunal de Justiça a julgar A lei diz que os crimes cometidos por um primeiro-ministro em função devem ser investigados e julgados pelo STJ. Mas há dúvidas quanto à interpretação.

José Sócrates, antes de ser detido. Foto: DR Por Liliana Monteiro

Dois novos pedidos de libertação imediata de José Sócrates estão no Supremo Tribunal de Justiça. A informação, avançada pela SIC, dá conta de que um dos "habeas corpus" é subscrito pela própria defesa do ex-primeiro-ministro e foi já entregue ao Tribunal Central de Instrução Criminal. Os advogados consideram que a prisão de Sócrates é ilegal e que a investigação está a ser conduzida pelas autoridades erradas. A defesa sustenta que os alegados crimes foram cometidos enquanto Sócrates era primeiro-ministro, pelo que a investigação só podia ser


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levada a cabo pelos juízes do Supremo Tribunal de Justiça. O outro "habeas corpus", também ele já redigido e entregue, é liderado, de acordo com o canal televisivo, por um grupo de juristas do mundo do direito e terá a mesma base de sustentação. O jurista Paulo Saragoça da Mata tem dúvidas de que essa seja a interpretação correcta da legislação: “A lei diz que, relativamente ao Presidente da República, ao presidente da Assembleia da República e ao primeiroministro, a competência para o julgamento e fases anteriores do processo cabe ao Supremo Tribunal de Justiça, mas exige um duplo requisito: ser uma destas figuras do Estado e por crimes cometidos no exercício das funções”. Já para o advogado Magalhães e Silva, não parece haver muitas dúvidas: “Aquilo que me parece é que a disposição que determina que a investigação criminal seja dirigida e fiscalizada pelo Supremo Tribunal de Justiça, quando está em causa o primeiro-ministro, protege o exercício do cargo. Por isso, o que está em causa não é ter-se praticado o crime enquanto se era primeiro-ministro e ser-se perseguido criminalmente depois disso. O que está em causa é se, no momento da investigação,o a pessoa ainda está ou não no exercício do cargo”. A defesa de Sócrates quer que o arguido volte a ser ouvido no processo à ordem do qual está em prisão preventiva. Sócrates alega que, aquando da reavaliação da medida de coacção, não teve oportunidade de voltar a falar. Contactada pela Renascença, a defesa de José Sócrates não confirmou nem desmentiu estas informações avançadas pela SIC. Depois dos três pedidos de "habeas corpus" apresentados em 2014, com estes mais recentes sobe para cinco o número de pedidos de libertação imediata apresentados.

Alô, Santana? Marcelo também se "encaixa" no Presidente que Cavaco quer À Renascença, Santana incluiu-se no retrato-robô do próximo Presidente traçado por Cavaco. Ao "Diário Económico", Marcelo faz o mesmo.

Fotos: Lusa

O comentador político e ex-líder do PSD Marcelo Rebelo de Sousa defende que o Presidente da República, Cavaco Silva, "tem razão" quando defende que a experiência em política externa é condição fulcral para um futuro Presidente. Em declarações à edição "online" do "Diário Económico", Marcelo Sousa disse que teve a "sorte em fazer política" em momentos crucias da política externa portuguesa e admite que "se não tivesse tido essa experiência seria uma limitação". O ex-social-democrata lembrou a sua "experiência" adquirida no período de adesão ao euro, em 1998, quando firmou uma "espécie de acordo de regime" com António Guterres "para viabilizar três orçamentos" que permitissem que Portugal aderisse à moeda única. Marcelo recorda que era o primeiro vice-presidente do Partido Popular Europeu (PPE) durante a preparação para o alargamento a Leste, quando passava metade da semana fora em contactos para viabilizar o processo. Refere ainda que foi pela sua mão que o PSD passou a pertencer ao partido PPE, "o que permitiu que Durão Barroso chegasse a Presidente da Comissão Europeia". Pedro Santana Lopes também já veio dizer que não tem dúvidas de que preenche o requisito defendido por Cavaco Silva… mas com um detalhe. Em declarações à Renascença, considerou que o actual Presidente põe de fora nomes como, note-se, Marcelo Rebelo de Sousa – além de Rui Rio, Sampaio da Nóvoa e Carvalho da Silva.


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Ao contrário do Presidente da República, Santana, que está agora à frente da Santa Casa da Misericórdia, entende que a experiência em política externa não é o mais importante, antes "o pensamento constitucional e o conhecimento profundo da realidade do país". As palavras mais escritas na parte do prefácio que detalha o perfil que o próximo PR deve ter. Imagem: RR Cavaco Silva publicou no "site" da Presidência o prefácio do IX Roteiros, dedicado exclusivamente à política externa. Ao longo de 27 páginas, o Presidente da República defende que o seu sucessor deve ser experiente em política externa porque esta "é hoje uma das principais funções" inerentes ao cargo. "Nos tempos que correm, os interesses de Portugal no plano externo só podem ser eficazmente defendidos por um Presidente da República que tenha alguma experiência no domínio da política externa e uma formação, capacidade e disponibilidade para analisar e acompanhar os dossiês relevantes para o País", lê-se.

Governo garante: "Aumento do IMI não ultrapassará os 10% em média" Subidas de 500% no IMI? "Manifestamente desproporcionado", diz o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais à Renascença.

Foto: Lusa Por João Carlos Malta

O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais diz que, em média, o IMI pago pelos portugueses vai aumentar 10%, este ano. "Os números que têm sido apresentados na comunicação social não fazem nenhum sentido", afirma Paulo Núncio, em entrevista à Renascença. O secretário de Estado diz que há 350 mil famílias isentas do pagamento deste imposto e argumenta que apenas 40 a 50% das casas reavaliadas tiveram um aumento efectivo do imposto. Núncio lembra ainda que o Governo fez com que esta isenção que, antes, tinha de ser comunicada pelo contribuinte, passasse a ser automática. Há ainda um milhão de famílias com baixos rendimentos - enquadradas no 1º escalão do IRS, ou

seja, com rendimentos até sete mil euros - que beneficiam de uma cláusula de salvaguarda especial, não podendo ver o imposto crescer mais de 75 euros por mês. O secretário de Estado dispara contra o PS, que veio, esta segunda-feira, dizer que reactivará a cláusula de salvaguarda geral, caso forme governo. "Não tem credibilidade", atira Paulo Núncio. Quantos proprietários ficam isentos de pagar e quais são os critérios para aceder a esse benefício? Em resultado da isenção permanente de IMI que foi aprovada por este Governo, em 2015 mais de 350 mil famílias de menores recursos deixarão de pagar este imposto de forma permanente. Estão abrangidas famílias do primeiro escalão do IRS [rendimentos até sete mil euros] e que tenham casas avaliadas até 66 mil euros. Qual é o universo abrangido pela cláusula de salvaguarda que mantém aumentos anuais de 75 euros para alguns agregados? Há diversas cláusulas de salvaguarda no IMI que se mantêm em 2015 e nos anos seguintes. Em particular, mantém-se a cláusula de salvaguarda especial que foi desenhada para proteger cerca de um milhão de famílias de baixo rendimento. Essas famílias têm uma cláusula que impede que o aumento por ano chegue a 75 euros. Estamos a falar de um milhão de famílias de baixos recursos que viram as suas casas serem objecto de um processo de avaliação geral e que por isso ficam abrangidas por esta cláusula. Estão abrangidas casas de qualquer valor neste caso? Neste caso, a única cláusula é [os proprietários] terem rendimentos compatíveis com o 1º escalão do IRS. Porque se tiverem uma casa com o valor inferior a 66 mil euros podem automaticamente pedir isenção permanente. Outra alteração que fizemos em 2015 foi transformar esta isenção de optativa em automática. Antes, os contribuintes tinham de pedir a isenção quando tinham uma casa com um valor inferior a 66 mil euros e tivessem rendimentos que se enquadrem no primeiro escalão do IRS. Havendo cinco milhões de imóveis que foram reavaliados, e com isenções para pouco mais de um milhão de famílias, como é que os aumentos serão, como diz o Governo, só para 30% dos proprietários? A cláusula foi sendo aplicada ao longo de três anos e este ano já só se aplica a um terço das pessoas. A cláusula geral tinha dois critérios: ou os 75 euros por ano ou um terço da diferença. Imaginando uma hipótese: numa casa em que alguém pagava 100 e depois da avaliação geral passa a pagar 400, a diferença é 300. Um terço desse valor é 100, que é superior a 75 euros. E as pessoas pagavam 100. Há muitas famílias que já esgotaram o valor da cláusula e que em 2015 já estão a pagar o valor da avaliação. Por isso, o último ano já só aproveita a 30%. Qual é o número então que vai pagar mais e quão mais? Os números que têm sido apresentados na comunicação social não fazem nenhum sentido. Em média, o valor do aumento do IMI este ano será muito inferior. De acordo com as estimativas do Orçamento do Estado, o aumento da receita do IMI não deverá chegar aos 10%. São valores muitíssimo diferentes e


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muito mais baixos dos que têm sido referidos. Muitas das famílias que viram os seus imóveis serem reavaliados já esgotaram a cláusula e de salvaguarda e por isso já não aproveitam essa prerrogativa. A Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas disse que, em alguns casos, o aumento pode chegar aos 500%. Confirma? É um número claramente desproporcionado. Em média, e são os únicos números que posso avançar, o valor será muito inferior a esse. De acordo com as estimativas do Orçamento do Estado, não ultrapassará os 10% para as famílias da cláusula geral, porque para as outras o aumento será muitíssimo inferior. O PS já veio dizer que se for governo vai recuperar a cláusula de salvaguarda geral. O PS não tem qualquer tipo de credibilidade nesta matéria. A avaliação geral dos imóveis foi decidida pelo anterior Governo e foi incluída no memorando de entendimento que foi acordado com a troika em 2011. O PS esqueceu-se de incluir qualquer cláusula de salvaguarda. Foi este Governo que, protegendo as famílias, decidiu incluir cláusulas de salvaguarda especiais para famílias de menores rendimentos, cláusulas de salvaguarda para senhorios com rendas condicionadas [que impedem que o aumento do IMI exceda o valor da renda]. Há quem diga que com estes aumentos haja mais um factor de pressão sobre os orçamentos familiares. É um perigo? Não podia o Governo ir um pouco mais longe nas cláusulas de salvaguarda? A introdução das cláusulas de salvaguarda visou precisamente proteger as famílias de menor rendimentos. Estas protegem um milhão de famílias de menor rendimentos em 2015 e nos anos seguintes. Tivemos essa preocupação social e concretizaram um conjunto de apoios sociais às famílias e em particular as de menor rendimento. MARIA DO ROSÁRIO CARNEIRO

Efetivar o princípio A igualdade entre mulheres e homens é um valor inquestionável, integra a matriz referencial da construção humana. A questão que se coloca não é, portanto, no plano do debate das ideias ou das grandes afirmações filosóficas ou ideológicas, mas na capacidade de identificar e combater desvantagens efectivamente sofridas. Recuperar todos os anos o significado do dia 8 de Março - Dia Internacional da Mulher - é o desafio para manter constante a luta contra todas as formas de discriminação. No conforto em que nos vamos instalando, na dormência da repetição, na sofisticação do desequilíbrio, introduz-se pouco a pouco um distanciamento e um esquecimento das violências praticadas, da desigualdade que persiste e por vezes se acentua, de tudo o que está por fazer. O mais recente relatório da OIT refere que serão necessários cerca de setenta anos para que se atinja a

igualdade de remuneração no trabalho entre mulheres e homens, que a presença de mulheres nos postos de trabalho com responsabilidades de chefia é residual, e que os registos da violência sobre as mulheres não baixam. São sobejamente conhecidos os estudos que referem o peso negativo da maternidade no valor das mulheres no mercado de trabalho, são amplamente sentidos os efeitos deste impacto nomeadamente na redução da natalidade; contudo, tardam os estudos que reflitam o valor económico da maternidade e as consequentes decisões políticas e modificações de organização social que os incorporem. Sabe-se e acredita-se que a conjugalidade é paritária, que a vinculação da criança é a ambos os progenitores e por isso a responsabilidade parental é de dois; no entanto e de acordo com o acima referido relatório, as mulheres na Europa trabalham vinte e seis horas em actividades domésticas e os homens, nove. A educação para a igualdade e para a partilha continua no plano teórico, tardando as necessárias modificações que só podem decorrer do aprender a fazer e do fazer com os outros. A igualdade entre mulheres e homens é um valor inquestionável, integra a matriz referencial da construção humana. A questão que se coloca não é, portanto, no plano do debate das ideias ou das grandes afirmações filosóficas ou ideológicas, mas na capacidade de identificar e combater desvantagens efectivamente sofridas. O desafio ainda por responder é o da recusa inabalável da discriminação que persiste, do imperativo ético da sua efectiva construção.

Inspecção de Saúde acompanha inquérito a morte de bebé no hospital Criança de dez meses sofria de uma cardiopatia congénita e encontrava-se internada com uma pneumonia. A Inspecção Geral das Actividades em Saúde (IGAS) está a acompanhar as diligências da Unidade Local de Saúde do Alto Minho ao caso de um bebé de dez meses que morreu domingo na instituição. A criança sofria de uma cardiopatia congénita e encontrava-se internada naquela unidade hospital com uma pneumonia, tendo a família pedido várias vezes para transferir o bebé para o Hospital de São João, no Porto, onde este era seguido. A avó do bebé, Maria do Céu Antunes, disse que levou o neto ao hospital, quinta-feira passada, por apresentar tosse. "Cerca das 10h30 começou a aparecer a febre. Por sorte, o pediatra que o acompanha no hospital de Viana encontrava-se de serviço, e decidiu interná-lo", adiantou. A avó garantiu que a partir de sexta-feira, "e porque a febre não cedia", a família "pediu várias vezes" para que


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fosse efectuada a transferência para o Hospital de São João, onde o menino era seguido devido ao seu problema de saúde. "Na sexta-feira às 21h30 a febre continuava a não ceder e insistimos para que o transferissem para o Porto mas disseram-nos que o estado de saúde do meu neto não cumpria os requisitos para a transferência", sustentou. No sábado, adiantou a avó, o bebé "foi transferido do serviço de pediatria para Neonatologia, no hospital da capital do Alto Minho. "Cerca das 20h15, depois do padre do hospital o ter baptizado pedimos novamente para que fizessem a transferência para o São João. O meu neto não estava nada bem. Só o começaram a preparar para seguir para o Porto cerca das 21h30. Entretanto chegou a ambulância do São João mas já era tarde", explicou a avó. De acordo com a nota enviada à imprensa, o hospital explicou que se tratava de uma criança com uma cardiopatia congénita, doença que "condicionou fortemente o seu desenvolvimento ponderal e saúde, com vários episódios prévios de descompensação respiratória". "O presente internamento deveu-se a um quadro de pneumonia com uma evolução rápida e grave, o que motivou a decisão de transferência para a Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos do Hospital de São João", lê-se naquele documento.

Governo aprova incentivos para médicos e alarga contratação de aposentados Outro diploma preconiza que os médicos passem a poder receber incentivos, devido "às dificuldades identificadas em algumas regiões do país em recrutar e atrair profissionais médicos".

aprovou medidas de incentivo para médicos em regime de mobilidade parcial e para os que fixem em zonas carenciadas. As medidas estão contempladas em três diplomas aprovados pelo Ministério, tornados públicos esta segunda-feira. "Estas medidas decorrem da avaliação realizada pelo Ministério da Saúde à área dos recursos humanos nos cuidados de saúde primários e hospitalares, pretendendo criar condições de estímulo ao trabalho médico" no Serviço Nacional de Saúde (SNS), diz o documento. No diploma sobre os médicos aposentados o Governo prorroga por mais três anos a vigência do decreto-lei que aprova "o regime excepcional de contratação de médicos aposentados pelo SNS", e permite que o trabalho possa ser também prestado a tempo parcial, com alterações ao regime remuneratório, explica-se no comunicado. Uma alteração para, acrescenta-se, minimizar a falta de médicos em particular em determinadas especialidades, nomeadamente na área de Medicina Geral e Familiar. Outro diploma preconiza que os médicos passem a poder receber incentivos, devido "às dificuldades identificadas em algumas regiões do país em recrutar e atrair profissionais médicos". O decreto-lei estabelece nomeadamente um subsídio de colocação e um incentivo mensal durante cinco anos (de 900 euros nos primeiros seis meses e baixando depois), garantias de transferência escolar dos filhos e preferências de colocação para os cônjuges. Um terceiro documento aprovado regulamenta, ainda segundo o comunicado, um regime especial de ajudas de custo e transporte "aplicáveis ao pessoal médico que seja objecto de mobilidade a tempo parcial e envolva dois ou mais serviços que distem mais de 60 km entre si, estabelecendo os valores a atribuir a estes profissionais". A medida visa "colmatar as carências identificadas em alguns serviços e estabelecimentos de saúde, as quais aconselhavam o recrutamento de pessoal médico a tempo parcial", e também contribuir para "a efectiva mobilidade dos médicos no SNS", podendo no futuro estas medidas virem a ser alargadas a outros profissionais de saúde.

Associações de doentes gostariam de ajudar mais gente Grande parte das mais de 74 associações de doentes existentes em Portugal está relacionada com doenças raras e enfrenta dificuldades financeiras.

Foto: DR

O Ministério da Saúde alargou por mais três anos o período de contratação de médicos aposentados e

As mais de 70 associações de doentes existentes em Portugal dão, sobretudo, informação e apoio psicológico, mas gostariam de fazer mais. Falta-lhes, contudo, recursos. A conclusão sai de um estudo do ISCTE, que é lançado,


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esta terça-feira, em forma de livro. “São associações que se constituíram para apoiar os doentes e têm dificuldades no que respeita à sustentabilidade financeira. Têm também dificuldades de instalações, muitas delas, e em recrutar técnicos”, diz à Renascença Fausto Amaro, professor do ISCTE e um dos autores do estudo “As Associações de Doentes em Portugal - problemas, necessidades e aspirações”. As maiores associações chegam a ter mais de dois mil sócios, mas a maioria tem menos de 500. Fausto Amaro afirma que muitas delas surgem na sequência de problemas específicos. “Praticamente, quanto há um problema de saúde, dá origem a uma associação e cada uma trata da sua própria doença. Nestas 74 associações, foram identificadas quase 50 doenças, muitas delas raras”, explica. A associação mais antiga - a Associação de Protecção de Diabéticos de Portugal - foi criada em 1926. O “boom” deu-se depois de 1990. As associações sobrevivem graças às quotas dos associados, ao mecenato, o apoio da indústria farmacêutica e dos Ministérios da Saúde e da Solidariedade Social.

Portugal pode necessitar de mais medidas para cumprir meta do défice, diz Bruxelas Ministra das Finanças acredita que Portugal vai cumprir a meta ainda este ano, mas diz que o Governo está atento à situação e pronto a tomar medidas suplementares se for necessário. O Eurogrupo advertiu esta segunda-feira, em Bruxelas, que Portugal poderá precisar de mais medidas para atingir o compromisso do défice para este ano, um objectivo "ainda ao alcance" mas cujo cumprimento não está assegurado. Os ministros das Finanças da zona euro, reunidos em Bruxelas, fizeram um ponto da situação dos progressos realizados pelos sete Estados-membros que foram identificados, em Dezembro de 2014, como estando "em risco de incumprimento" do Pacto de Estabilidade e Crescimento em matéria de cumprimento do défice, um dos quais Portugal, que a Comissão duvida que consiga colocar o défice abaixo dos 3% do PIB, tal como se comprometeu. Na avaliação realizada esta segunda-feira, o Eurogrupo nota que Portugal "está a fazer alguns progressos com as reformas estruturais", mas as projecções não apontam ainda para uma "correcção atempada do défice excessivo em 2015, embora este objectivo ainda esteja ao alcance". Observando que a mais recente projecção da Comissão

Europeia aponta para um défice de 3,2% do PIB, quando Portugal se comprometeu a sair este ano do procedimento por défice excessivo – ou seja, abaixo dos 3% – o Eurogrupo adverte que, nesse cenário, "serão necessárias medidas efectivas para permitir uma melhoria do défice nominal de uma forma durável, de modo a cumprir as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento". "Neste quadro, saudamos a reafirmação por parte de Portugal do seu compromisso de Dezembro de 2014, no sentido de implementar as medidas necessárias para assegurar que os objectivos são cumpridos em 2015", indica o Eurogrupo na declaração adoptada no final da reunião. A 8 de Dezembro de 2014, o Eurogrupo concordou com a avaliação de Bruxelas, feita com base na análise dos planos orçamentais para 2015, "de que há um risco de incumprimento" das regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento no caso de Portugal, instando as autoridades a tomar "as medidas necessárias para assegurar uma correcção atempada" do processo por défice excessivo. No mesmo dia, a ministra das Finanças reafirmou perante os seus colegas do Eurogrupo o "compromisso firme" do Governo português de alcançar um défice abaixo dos 3% no próximo ano, com as medidas previstas no Orçamento do Estado para 2015. Em declarações aos jornalistas, Maria Luís diz que acredita que Portugal vai cumprir a meta ainda este ano, mas que o Governo está atento à situação e pronto a tomar medidas suplementares se for necessário.


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Novo Banco despediu 165 trabalhadores em cinco meses Em Dezembro de 2014, a instituição que resultou da divisão em “banco bom” e “banco mau” contava com um total de 6.834 colaboradores na rede doméstica, número que compara com 6.950 funcionários no fim do ano passado. No negócio internacional foram cortados 49 trabalhadores.

colaboradores. Excluindo os encargos não recorrentes, os custos com pessoal foram de 169,6 milhões de euros. Stock da Cunha sublinhou que nestes números não se integram os custos relacionados as saídas ou reformas dos antigos administradores da era Ricardo Salgado, cujas responsabilidades ficaram no Banco Espírito Santo (BES).

Portugal entre os países europeus que mais demoram a resolver litígios Estudo sobre eficiência da justiça revela que, em média, um litígio comercial ou civil levava em média 386 dias a ser resolvido.

O Novo Banco cortou 116 postos de trabalho entre o início de Agosto do ano passado, data da sua criação na sequência da resolução do BES, e o final de 2014. A estes soma-se mais 49 despedimentos fora de Portugal. Ou seja, em cinco meses, há menos 165 pessoas a trabalhar, Mas o número de agências em Portugal permaneceu inalterado. Assim, em Dezembro de 2014, o Novo Banco contava com um total de 6.834 colaboradores na rede doméstica, número que compara com os 6.950 funcionários que tinha a 4 de Agosto, já em termos ajustados. Ao nível dos balcões, não houve qualquer alteração em Portugal, mantendo-se em funcionamento 631 agências. Na actividade internacional, houve uma redução de 49 colaboradores para 888 funcionários e a rede de balcões fixou-se no final do ano passado em 44 agências, graças à abertura de uma nova agência. No total, houve um corte de 165 trabalhadores para 7.722 funcionários e um incremento de um balcão para o total de 675 agências. "Sem qualquer problema" Segundo Eduardo Stock da Cunha, presidente do Novo Banco, que falava aos jornalistas por videoconferência a partir de Londres, a redução do quadro de pessoal "correu sem qualquer problema". O Novo Banco, que apresentou esta segunda-feira as contas entre o início de Agosto e o final de Dezembro, revelou que teve custos com pessoal na ordem dos 191 milhões de euros, um valor onde se incluem 22 milhões de euros com a reforma antecipada de 53

Portugal é dos Estados-membros da União Europeia onde os litígios civis e comerciais mais demoram a ser resolvidos, segundo o painel de avaliação da Justiça de 2015 publicado pela Comissão Europeia. Se em termos de eficiência dos sistemas de Justiça Portugal continua com um desempenho modesto, tendo mesmo registado um ligeiro retrocesso relativamente a 2012, já ao nível de qualidade do sistema judicial Portugal apresenta boas classificações no que se refere à utilização da Internet pelos cidadãos, aos mecanismos alternativos de resolução de litígios e à percepção da independência dos tribunais. Em relação à eficiência dos sistemas judiciais dos Estados-membros, o relatório revela que, em 2013, um caso de litígio civil e comercial levava em média 386 dias para ser resolvido em Portugal, o sexto valor mais elevado entre os 23 países sobre os quais há dados disponíveis, e um pouco superior a 2012 (369 dias). O país onde os processos são mais rápidos é o Luxemburgo (53 dias), enquanto no extremo oposto se encontra Malta (750 dias). Portugal tira boas notas em dois pontos Já a nível da qualidade dos sistemas judiciais, Portugal apresentava, em 2013, nota máxima ao nível de utilização da Internet para procedimentos relacionados com queixas menores -juntamente com Malta e Grécia -, sendo ainda o quarto país, a par da Alemanha, onde é mais incentivado o recurso a mecanismos alternativos para resolução de litígios pelo sector público. Por fim, na terceira área analisada neste painel de avaliação, a independência do sistema de Justiça em cada Estado-membro, Portugal registou novo progresso, ao subir de 4,2 para 4,5 pontos (contra 3,9 pontos em 2010), numa escala que varia entre os 2,3 pontos na Eslováquia (valor mais baixo na UE) e os 6,6 pontos na Finlândia.


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FRANCISCO SARSFIELD CABRAL

Recuperar empresas Entraram este mês em vigor novas regras do Processo Especial de Revitalização de Empresas, que pretendem salvar empresas economicamente viáveis, mas financeiramente estranguladas.

Por Francisco Sarsfield Cabral

Em 2012 fechou a quase centenária Cerâmica de Valadares. Mais de 300 trabalhadores ficaram então sem emprego. Mas houve quem não desistisse de recuperar esta empresa, onde existia um apreciável “know how”. A primeira tentativa falhou. Mas hoje a Cerâmica de Valadares está de novo a trabalhar. Neste momento, a empresa emprega 40 trabalhadores, mas em Novembro serão 135, na esmagadora maioria antigos operários da Cerâmica de Valadares. É uma excelente notícia, até porque este mês entraram em vigor novas regras do Processo Especial de Revitalização de Empresas. Por exemplo, agora basta uma maioria simples de credores concordar com a revitalização, em vez da anterior maioria qualificada. Um processo que pretende salvar empresas economicamente viáveis, mas financeiramente estranguladas. Os processos deste tipo são difíceis. É preciso pôr de acordo muita gente, incluindo o fisco, que nem sempre ajuda. Entre Maio de 2012 e Junho de 2014 entraram 1.842 processos. Um pouco menos de metade teve sucesso. Esperemos que esta taxa de sucesso suba com as novas regras.

Passos, incendiário em causa própria <font face="Tahoma" size="2">Neste noticiário: Nuno Morais sarmento critica a forma como o Primeiro-ministro geriu o caso das dívidas à Segurança Social; defesa de Sócrates pede libertação imediata do exprimeiro ministro e defende que a investigação deve ser conduzida pelo Supremo Tribunal de Justiça; Governo quer alargar regime de contratação de médicos aposentados; autor de "Banksters" defende que governador do Banco de Portugal já se devia ter demitido; m</font>

Detidos quatro suspeitos de burlas ao Estado no valor de 2,1 milhões Operação decorreu nas zonas de Lisboa, Setúbal, Évora, Faro e Madeira. Os suspeito são três cidadãos portugueses e um estrangeiro, com idades entre os 22 e os 37 anos. A Polícia Judiciária deteve quatro homens suspeitos de burla qualificada, falsificação de documentos e branqueamento de capitais que terão lesado autarquias e serviços do Estado num montante de 2,1 milhões de euros. A operação, que decorreu nas zonas de Lisboa, Setúbal, Évora, Faro e Madeira, foi realizada pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC), no âmbito de um inquérito dirigido pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) relacionado com uma investigação iniciada em Outubro de 2014. Os suspeitos são três cidadãos portugueses e um estrangeiro, com idades compreendidas entre os 22 e os 37 anos. No decurso da investigação e subsequente operação foram realizadas 11 buscas, tendo a PJ apreendido diverso material informático e documentação com grande relevância para provar os factos. Os detidos retiravam dinheiro de contas bancárias de dezenas de pessoas colectivas e singulares, utilizando dados falsos de contas bancárias de privados. Além disso, desviavam pagamentos a prestar por organismos públicos a empresas prestadoras de serviços e fornecedoras de bens ao Estado, para contas


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por eles controladas, mediante a falsificação de dados. A PJ refere também que até agora câmaras, hospitais, institutos públicos e serviços centrais do Estado em Lisboa, Setúbal, Matosinhos, Maia, Porto e Algarve terão sido lesados em 2,1 milhões de euros. No decurso da investigação foram apreendidos os saldos bancários de diversas contas tituladas pelos suspeitos, cujo valor ronda 1,5 milhões de euros. Três dos detidos vão aguardar julgamento em prisão preventiva e um ficou sujeito a apresentações periódicas às autoridades policiais.

Desmantelada actividade de contabilista ligada à imigração ilegal

LOURES

Pena suspensa e prisão ao fim-desemana para jovens perseguidos por polícias Arguidos, detidos na sequência de uma perseguição em que morreram dois agentes da PSP, colhidos por um comboio, foram julgados à revelia.

Contratos fraudulentos eram emitidos a troco de avultadas quantias monetárias, facultavam aos estrangeiros a sua regularização junto do SEF. O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras realizou buscas a duas residências e a um escritório de contabilidade, em Lisboa, tendo apreendido documentação comprovativa de actividade ligada ao auxílio à imigração ilegal e falsificação de documentos. Foi constituído arguido um contabilista, suspeito da investigação criminal que está em curso sob orientação do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa. Segundo o SEF, a investigação permitiu desmantelar a actividade do contabilista que, de forma reiterada, emitia contratos de trabalho em nome de empresas que eram suas clientes, sem que estas tivessem conhecimento. Aquele serviço de segurança refere que "os contratos fraudulentos, emitidos a troco de avultadas quantias monetárias, facultavam aos estrangeiros a sua regularização junto do SEF". Por cada contrato emitido, o arguido cobrava ainda a cada suposto trabalhador verbas alegadamente destinadas a pagar as prestações à segurança social, cujos montantes se apropriava, indica o SEF, acrescentando que "a actividade ilícita do contabilista motivara já a apresentação de queixas por parte dos responsáveis das empresas que eram usurpadas". O SEF diz ainda que foram apreendidos computadores, suportes digitais, carimbos e documentação diversa, nomeadamente contratos de trabalho, extractos bancários, minutas de requerimentos e agendas, que constituem prova dos crimes praticados.

Foto: Mário Cruz/ Lusa

O Tribunal de Loures condenou um dos jovens perseguidos por polícias que foram colhidos por um comboio a sete meses de pena suspensa e outro a nove meses de prisão, a cumprir aos fins-de-semana. Os dois jovens 17 e 19 anos, que não estiveram presentes na sessão e foram condenados por tentativa de furto, foram detidos há duas semanas no concelho de Loures, após uma perseguição policial em que morreram dois agentes. Os jovens, já com antecedentes criminais, começaram a ser julgados em processo sumário no dia 26 de Fevereiro pelos crimes de furto qualificado na forma tentada a uma residência na freguesia da Bobadela, Loures, e um deles pela posse de arma proibida. O tribunal deu como provado que os dois homens, juntamente com um terceiro que ainda não foi detido, tentaram assaltar uma residência e encetaram uma fuga quando avistaram agentes da PSP, mas decidiu "atenuar a pena a aplicar devido à idade dos arguidos". Ao jovem de 17 anos o tribunal aplicou uma pena de nove meses de prisão por dias livres, cumpridos por 54 períodos de 36 horas, aos fins-de-semana. A pena de prisão por dias livres consiste numa privação da liberdade por períodos correspondentes a fins-desemana, não podendo exceder 72 períodos, e pode aplicar-se apenas em penas não superiores a um ano. Por seu turno, o jovem de 19 anos foi condenado a sete meses de pena suspensa, ao pagamento de mil euros de multa, pelo crime de arma proibida, e a uma indemnização de 150 euros ao proprietário da residência que sofreu uma tentativa de assalto. No final da sessão, os advogados dos dois jovens


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disseram que ainda iriam rever e analisar as provas antes de decidir se vão ou não recorrer da sentença. No dia 25 de Fevereiro, os dois detidos foram interceptados num canavial perto da estação ferroviária, depois da tentativa de assalto. Os dois agentes da PSP que morreram, de 23 e 26 anos, pertenciam à esquadra de São João da Talha e foram colhidos por um comboio entre a Bobadela e Sacavém.

do final de mandato dos seus antecessores – recordemo-nos de Ramalho Eanes e da criação do PRD, de Mário Soares e da organização do célebre congresso "Portugal: que futuro?" e de Jorge Sampaio e da sua polémica dissolução de um governo maioritário que acabaria por levar ao poder José Sócrates. Tudo bons exemplos que deveriam justificar um novo olhar sobre os poderes e os mandatos presidenciais.

RAQUEL ABECASIS

Cinema português tem mais mulheres a trabalhar, mas ainda há desigualdade

Eu é que sou o Presidente da República Numa altura em que o país está de facto em pré-campanha eleitoral, o Presidente devia fazer um esforço por se preservar

Por Raquel Abecasis

Lembra-se daquele "sketch" humorístico em que há um senhor sempre em bicos dos pés a dizer "Eu é que sou o presidente da junta"? É exactamente o que fazem lembrar os célebres prefácios do Presidente da Republica à sua publicação anual dos "Roteiros". É bom que os políticos façam um balanço dos seus mandatos, mas ele deve ser feito no final e em relação a um programa mais global de acção. Ao fazer estes balanços ano a ano, Cavaco Silva corre sempre o risco de ser interpretado e as interpretações normalmente não são boas, sobretudo porque colocam o Presidente não como árbitro do sistema, mas como actor da cena política, dando razão a uns e tirando razão a outros. No prefácio deste ano, Cavaco Silva vai mais longe e procura definir o perfil do seu sucessor. Ao fazê-lo, o Presidente intervém num processo de que não devia ser parte e, no fundo, tenta valorizar-se em relação a quem vem a seguir. Tudo ao contrário do que devia fazer. Numa altura em que o país está de facto em précampanha eleitoral, o Presidente devia fazer um esforço por se preservar. Não comentar os factos que animam o debate político, nem dar a entender que toma partido, que foi o que infelizmente aconteceu com os seus comentários este fim-de-semana sobre os casos de atrasos tributários do primeiro-ministro. Dito isto, é justo também reconhecer que a acção de Cavaco neste final de mandato não é muito diferente

"As mulheres chegaram tarde aos lugares de topo, mas actualmente ocupam cargos importantes", diz José Manuel Costa, sublinhando que sucedeu, à frente da Cinematica, à primeira e única mulher que dirigiu o Museu do Cinema, Maria João Seixas. O sector do cinema português passou a ter mais mulheres na produção de documentários e de longasmetragens de ficção, em dez anos, mas Portugal ainda está longe da igualdade de género, segundo dados revelados esta segunda-feira em Lisboa. A Cinemateca acolheu um encontro internacional, promovido pelo fundo europeu Eurimages, sobre igualdade de género no cinema na Europa, e em particular em Portugal, e os dados estatísticos apontam para uma maior presença de mulheres, em áreas como a realização e a produção. "Ainda assim, ainda há muito poucas mulheres a trabalhar na indústria cinematográfica", afirmou Sanja Ravlic, presidente do grupo de trabalho para a igualdade de género, criado em 2013 pelo fundo Eurimages. Sobre Portugal, a investigadora Teresa Duarte Martinho, do Instituto de Ciências Sociais, comparou dados de dois períodos específicos – de 2001 a 2003 e de 2011 a 2013 –, registando dois aumentos significativos sobre presença de mulheres no cinema português. A percentagem de mulheres produtoras de longasmetragens de ficção passou de 19,3 por cento (20012003) para 37,8% (2011-2013) e de documentários subiu de 36% (2001-2003) para 53,8% (2011-2013). Na realização, tanto de longas de ficção como documentais, o aumento é ligeiro ao longo da década analisada e está ainda aquém da equidade, comparando com a presença de homens no sector. Nas áreas de produção como guarda-roupa e maquilhagem, o domínio continua a ser feminino. "As mulheres chegaram tarde aos lugares de topo [no cinema], mas actualmente ocupam cargos importantes", valorizou o director da Cinemateca, José Manuel Costa, sublinhando que sucedeu no cargo à primeira e única mulher que dirigiu o Museu do Cinema, Maria João Seixas.


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Já Pandora da Cunha Telles, produtora, tem outra opinião; há "mais mulheres a trabalhar, mas há menos em cargos de decisão". A produtora defendeu ainda a existência de quotas sobre participação das mulheres no cinema português e lamentou que estas "tenham menos apoio financeiro do Instituto do Cinema e Audiovisual". Quase dois anos depois da criação do grupo de trabalho, o Eurimages apresentou esta segunda-feira em Lisboa os primeiros dados estatísticos sobre a presença de mulheres na indústria cinematográfica europeia. O retrato final sobre o sector só deverá ser apresentado em Outubro, segundo Sanja Ravlic. De acordo com esta responsável, ainda há muitas assimetrias entre homens e mulheres: As realizadoras e as actrizes têm salários mais baixos do que os homens, os filmes que produzem têm menos prémios – recorde-se que o festival de cinema de Cannes só premiou uma mulher, Jane Campion. Segundo aquela responsável, Nicole Garcia e Susanne Bier são duas das poucas realizadoras europeias que, entre 1997 e 2011, integraram a lista dos 500 filmes mais lucrativos exibidos na Europa. Sanja Ravlic referiu ainda que no âmbito do fundo de financiamento Eurimages, das 26 realizadoras que apresentam projectos cinematográficos apenas dez receberam apoio. O Eurimages tem estado a reunir dados sobre a participação das mulheres nesta área, com o objectivo não só de produzir estatísticas, mas também para poder apresentar propostas, a nível europeu, para que os Estados-membros prestem mais atenção ao tema. No encontro participaram ainda várias mulheres protagonistas do cinema português, nomeadamente as produtoras Graça Castanheira e Joana Ferreira, as realizadoras e produtoras Catarina Alves Costa e Filipa Reis, às quais se juntou Maria João Seixas e o realizador João Mário Grilo.

Música para os ouvidos de quem gosta de música O mercado assiste à chegada de novos produtos que têm por alvo os que apreciam som de alta qualidade. Porque "a música é um bocadinho mais do que um gigabyte de ficheiros".

Foto: DR

Chamam-se TIDAL e Pono. Um é uma plataforma que disponibiliza música online de alta resolução e o outro é um leitor de áudio portátil de alta-fidelidade, criado pelo músico Neil Young. Os dois produtos aparecem porque há quem questione a forma como ouvimos música hoje em dia. “Tudo o que seja para melhorar a forma como entregamos o áudio aos nossos clientes e aos ouvintes de música, como o Pono, por exemplo, é bom. Portanto, todas estas iniciativas que existem, apesar de não serem iniciativas conjuntas por parte de todos os fabricantes, são boas”, diz à Renascença Miguel Marques, técnico de masterização. Primeiro, o vinil. Depois, o CD. Agora, o mp3. Esta evolução trouxe vantagens e desvantagens e, para as gerações mais novas, a música é, muitas vezes, apenas um ficheiro e não uma arte. A opinião é expressa por João Brandão, um dos proprietários dos estúdios Sá da Bandeira. “Acho que, em primeiro lugar, houve uma grande desvalorização da música enquanto arte e enquanto negócio também. Se calhar, (a solução] passa por pessoas perceberem que a música é um bocadinho mais do que um gigabyte de ficheiros que sacaram num domingo à noite, para ouvir durante a semana num telefone. Parte, primeiro, pelas pessoas terem mais respeito por aquilo que estão ouvir e tentarem ouvir música com atenção e não como um ruído de fundo”, avisa João. O TIDAL e o Pono são dois de alguns exemplos que querem remar contra a maré. Reaver a qualidade sonora de outros tempos sem comprometer aquilo que ouvimos.


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Um livro já lido pode ajudar Chama-se Déjà Lu. É a primeira livraria solidária do país. Abriu em Cascais e ajuda a Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21.

Foto: Déjà Lu Por Maria João Costa

Ao entrar na livraria, encontramos na mesa central uma secção denominada “Os autores que estão quase a ser Nobel”. É lá que estão obras de autores como António Lobo Antunes ou Haruki Murakami. Mais à frente, está a secção dos “Romances Arrebatadores”, depois a dos “Livros que metem muito medo”, onde estão alguns policiais ou a “Literatura marota”, muito procurada agora, explica-nos a livreira Francisca Prieto. É ela a alma desta Déjà Lu, a primeira livraria solidária do país, que abriu portas em Cascais, no espaço da Cidadela. Francisca Prieto, antiga publicitária, procurou o Grupo Pestana, proprietário da Pousada de Cascais, em busca de um espaço. Joana Soeiro, a directora da Pousada que ocupa a fortaleza da Cidadela, explica: "Tínhamos um restaurante de petiscos, a Taberna da Praça, em que a génese do conceito são tertúlias, e pensamos que isso casaria muito bem [com a livraria]". A Déjà Lu ocupa o segundo andar da Taberna da Praça. A sua relação com o espaço do piso inferior não se faz apenas pela partilha do edifício. A livraria de paredes e tectos em abóbada usa as caixas de vinho de madeira para expor os livros que surgem entre antigas máquinas de escrever, malas de viagem vintage ou televisores, agora cheios de livros. Mas recuemos no tempo. Esta livraria de livros já lidos que estão à venda com fins solidários começou num blogue em que eram leiloadas obras. Francisca Prieto diz à Renascença que o projecto nasceu quando eu teve "uma filha com Trissomia 21, há nove anos". "Fui ter com uma equipa de técnicos extraordinários da Associação de Portadores de Trissomia 21, que pertenciam à parte clínica e terapêutica e faziam um acompanhamento extraordinário destes miúdos. À medida que fui conhecendo a associação, achei uma pena eles perderem tanto tempo a fazer angariação de fundos", recorda. Assim, Francisca deitou por isso

mãos à obra e, depois de ter terminado a sua carreira de publicitária, resolveu “oferecer as horas” livres e o conhecimento a esta causa. Na Cidadela de Cascais, o espírito desta livraria solidária já contaminou o chef Manuel Alexandre, da Pousada de Cascais. Joana Soeiro explica que, na Taberna da Praça, o chef "procura nos livros que a Francisca seleccionou ideias para receitas". De olhos postos nos livros, estavam duas clientes. Guilhermina Cunha de Sá e Maria Eugénia Baltazar. A primeira já conhecia o espaço e levou a amiga até lá. Guilhermina aproveitou a ocasião para se inscrever como voluntária para a Déjà Lu. Quer dar o seu tempo a esta causa. A amiga, que se diz leitora compulsiva, aproveita o passeio para levar dois livros franceses que encontrou. No final da compra, Francisca Prieto a livreira oferecelhes uma frase. Do pote cheio de papeis coloridos, Maria Eugénia tira a frase de Mário Quintana do livro “Dupla Delícia”: “Um livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhados”.

Quase oito mil alunos entraram na universidade, mas não chegaram ao segundo ano Abandono universitário é mais expressivo no ensino privado do que no público. Quase oito mil alunos que se inscreveram pela primeira vez numa licenciatura abandonaram os estudos no ano seguinte. Os dados são do Ministério da Educação, que destacam pela negativa os cursos de Ciências Sociais, Comércio e Direito. Mais de um em cada dez caloiros que entraram no ensino superior público em 2011 abandonou a universidade ou o politécnico no ano seguinte, segundo dados da Direcção-Geral de Estatística da Educação e Ciência (DGEEC). Nos politécnicos a percentagem de abandono da licenciatura em que se tinham inscrito foi de 12,6% enquanto nas universidades foi de 11,8%. No total, "não foram encontrados no ensino superior" público quase seis mil alunos: 2.926 nas universidades e 3.100 nos politécnicos. Já no ensino privado a percentagem de abandono foi muito maior – 17,2% nas universidades e 14,4% nos politécnicos – mas como entraram apenas cerca de 13 mil novos alunos, o número real de abandono foi pouco mais de dois mil estudantes. Entre instituições privadas e públicas, a DGEEC perdeu o rasto a cerca de oito mil alunos no ano lectivo de 2012/2013. Foi nos cursos de Ciências Sociais, Comércio e Direito que se registou mais casos de abandono


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(menos 2.460 alunos), seguindo-se as áreas de Artes e Humanidades (972 alunos) e as Engenharias, Industrias Transformadoras e Construção (957 alunos). Em termos percentuais é nos cursos da área da agricultura que se regista maior abandono, com 15% dos estudantes a desaparecerem do sistema de ensino. Seguindo-se novamente as áreas da Ciências Sociais, Comércio e Direito; Artes e Humanidades e a área da Educação. Nos mestrados de 1.º ciclo, a percentagem de abandono é muito inferior: 3,6% no ensino público universitário e 7,9% no privado. No entanto, nos mestrados de 2.º ciclo, mais de um em cada cinco alunos de uma instituição pública abandonou os estudos no ano seguinte: 22,6% nas universidades e 22,3% nos politécnicos. Nos doutoramentos a situação agravou-se, com 32,3% dos estudantes de ensino privado a abandonar no ano seguinte assim como 20,5% dos alunos do ensino público.

Investigação portuguesa sobre odores em crimes desperta atenção do FBI Primeiros resultados experimentais revelam que a memória olfativa da vítima pode ser mais assertiva na identificação do criminoso do que a auditiva ou mesmo a visual. Uma investigação feita na Universidade de Aveiro sobre a identificação de odores corporais em crimes violentos está a suscitar o interesse nos meios forenses e policiais internacionais. O trabalho, realizado por Laura Alho no Laboratório de Psicologia Experimental e Aplicada (PsyLab), despertou a atenção após a publicação na revista "Plos One" e levou ao estabelecimento de colaborações internacionais, nomeadamente com a investigadora Kate Houston, da Texas A&M International University (EUA), especialista em psicologia forense e colaboradora do FBI. Os primeiros resultados experimentais revelam que uma vítima de um crime violento pode identificar o agressor pelo olfacto e que a memória olfactiva da vítima pode ser mais assertiva na identificação do criminoso do que a auditiva ou mesmo a visual. Cheirar odores de criminosos ajudou os participantes no estudo a identificar correctamente 75% dos agressores, percentagem que deixa à distância, por exemplo, os 45 a 60% das identificações corretas alcançadas em alguns dos tradicionais testemunhos oculares. O trabalho de Laura Alho, orientado por Sandra Soares, Carlos Fernandes da Silva (investigadores do PsyLab) e Mats Olsson, cientista do Instituto Karolinska (Suécia), considerado um dos maiores especialistas mundiais do

olfacto, envolveu a participação de 80 voluntários. O trabalho da investigadora envolveu depois uma segunda fase, em que foram observados os procedimentos usados em trabalhos sobre testemunhos oculares, com a informação dada ao participante de que o odor podia estar ou não presente no alinhamento. "Os resultados revelaram que, quando o odor alvo estava presente [no alinhamento de cinco odores dados a cheirar aos participantes] o acerto na identificação foi de 75%", afirma Laura Alho. A "prova rainha" e a nova pista Apesar do testemunho ocular ser amplamente considerado em tribunais de todo o mundo, sendo conhecido como a "prova rainha", existem vários casos de indivíduos condenados injustamente através de testemunhos oculares. A investigadora admite que o testemunho olfactivo não permita, por si só, chegar a um veredicto correto, mas acredita que "se vier a ser comparado com outras modalidades sensoriais e se se vier a provar cientificamente que tem menos falsas identificações" poderá vir a ser relevante em contexto judicial. "Temos de ressalvar que, embora não possa ser usado como prova [porque o testemunho olfactivo não está enquadrado legalmente] pode ser usado como uma pista que leva à obtenção de provas", comenta a investigadora. "Em casos onde a vítima tenha contacto directo com o ofensor, como em casos de crime sexual ou de agressão física, o odor corporal deste pode ser recordado pela vítima e a sua descrição pode estreitar a lista de suspeitos. Existem vários casos nacionais e internacionais que demonstram isso", refere. Apesar dos dados alcançados na UA "serem interessantes", salienta que "precisam de ser replicados noutros laboratórios e é necessário investigar a influência de determinadas variáveis no testemunho olfactivo, quer em contexto laboratorial, quer em contexto real".

Identificadas 15 novas variações genéticas que aumentam risco de cancro da mama "Estamos perto do momento em que podemos começar a estabelecer qual o risco de uma mulher herdar cancro da mama, a partir de testes para diversas variações genéticas", afirma co-autora do estudo. Cientistas identificaram 15 novas variações genéticas que aumentam o risco de cancro da mama, revela hoje um estudo publicado na revista Nature Genetics. O estudo eleva para 90 a quantidade de "pontos quentes" do ADN humano, em que a variação do código genético está ligada ao desenvolvimento da


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doença. Equipas do Instituto para a Investigação do Cancro, de Londres e da Universidade de Cambridge, ambos no Reino Unido, analisaram o material genético de mais de 120 mil mulheres descendentes de europeus, das quais algumas tiveram cancro da mama. Os dados recolhidos permitiram identificar 15 novos polimorfismos de nucleotídeo simples, variações de uma só base de ADN (material genético) que aumentam o risco de cancro da mama. "Estamos perto do momento em que podemos começar a estabelecer qual o risco de uma mulher herdar cancro da mama, a partir de testes para diversas variações genéticas", afirmou um dos co-autores do estudo, Montserrat García-Closas, professora no Instituto para a Investigação do Cancro. Segundo a investigadora, a descoberta pode facilitar o desenvolvimento de novos testes de avaliação do risco de cancro, ao acrescentar um novo painel de marcadores genéticos. "Cada um dos marcadores tem um pequeno efeito sobre o risco de se ter a doença, mas, combinando a informação de muitos, poderemos identificar com precisão que mulheres podem desenvolver cancro da mama e adoptar estratégias para preveni-lo", defendeu Montserrat García-Closas.

Líder do Podemos: “Será que Merkel prefere sentar-se a meu lado ou de Le Pen?” Pablo Iglesias, líder do partido de esquerda que os partidos tradicionais do arco da governação em Espanha, alerta para o crescimento da direita e coloca-se ao lado do Syriza grego para pedir outro olhar sobre a saída da crise.

Foto: EPA

A Europa tem de acabar com as políticas de austeridade ou os movimentos de extrema-direita irão continuar a crescer e a representar um verdadeiro perigo para a democracia, defende o líder do partido espanhol

Podemos. Apoiante da causa grega lançada pelo Syriza da Grécia, Pablo Iglesias avisa que “talvez no prazo de um ano, Marine Le Pen [líder da extrema-direita francesa] obtenha um lugar no Eurogrupo” e questiona: “Será que Angela Merkel [chanceler alemã] prefere sentar-se a meu lado ou de Marine Le Pen?”. “É muito importante aceitar a mão estendida por aqueles que, como nós, são pró-Europa e que defendem o projecto europeu”, refere o político espanhol, de 36 anos, numa entrevista à agência Reuters. Espanha está emergir de uma crise económica de sete anos, mas a saída da recessão ainda não aliviou a austeridade sobre milhões de famílias e quase uma em cada quatro pessoas em idade activa continua desempregada. Pablo Iglesias considera que qualquer coligação entre o centro-direita e o centro-esquerda espanhóis apenas irá prolongar o que apelida de desastre económico nacional. “Tenho a impressão de que se não ganharmos, poderá haver neste país uma grande coligação, como aquelas que têm dominado em muitos outros países europeus. E vão manter-se as políticas que nos levaram ao desastre”, defende o líder, numa altura em que o Podemos começa a conquistar os lugares cimeiros das sondagens, ultrapassando o Partido Popular e o Partido Socialista. O partido defende a reestruturação da dívida, mas o seu líder reconhece que essa opção implica ultrapassar muitas resistências. Basta ver o que se está a passar com o novo Governo grego liderado pelo Syriza. Pablo Iglesias lembra que Espanha é a quarta economia da União Europeia e diz ser muito importante que a Europa a ouça “com atenção”. “As políticas de austeridade estão a levar-nos perto do caos e nós podemos fazer melhor”, afirma. O Podemos, que ganhou cinco lugares no Parlamento Europeu nas últimas eleições em Maio, pretende alcançar o crescimento económico impulsionando a despesa pública e a procura interna. No seu manifesto eleitoral, defende a reforma do sistema fiscal, de modo a passar o peso do trabalho para o capital, o aumento dos impostos para os mais ricos e mais poder para os agentes fiscais, de maneira a evitar a fuga aos impostos e aumentar as receitas do Estado.


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Presidente do Eurogrupo: Negociações com a Grécia devem arrancar rapidamente Jeroen Dijsselbloem disse que "não houve progressos" reais nas últimas semanas. É necessário "parar de perder tempo". O presidente do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem, diz ser preciso "parar de perder tempo" e começar rapidamente as negociações sobre as reformas precisas que a Grécia deve executar. A mensagem deixada, esta segunda-feira, à entrada para a reunião que junta, em Bruxelas, os ministros das Finanças da Zona Euro para discutir de novo o problema grego. Em discussão vão estar as medidas e reformas que Atenas tem de passar à prática. Dijsselbloem afirmou que nas últimas semanas "não houve progressos" reais, uma vez que as "negociações de verdade não começaram" e que é necessário "parar de perder tempo" quanto às medidas que a Grécia deve implementar para o fecho do actual programa de resgate. Depois de um intenso mês de Fevereiro, durante o qual o Eurogrupo teve de se reunir por diversas ocasiões devido às negociações em torno do prolongamento da assistência financeira à Grécia, foi alcançado um compromisso no passado dia 20 para prorrogar o actual programa de resgate por quatro meses, com Atenas a comprometer-se a apresentar medidas perante os parceiros da Zona Euro com vista a avançar o desembolso da última tranche do empréstimo. O responsável holandês disse que, desde então, se adiantou pouco trabalho, pelo que é preciso acelerar, uma vez que o "tempo está a contar" e a prorrogação do actual programa é só até final de Junho. No final da semana passada, o ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, enviou uma carta ao presidente do Eurogrupo com um conjunto de medidas que Atenas pretende implementar e que passam por planos para arrecadar mais impostos combatendo a fraude fiscal, redução da burocracia e medidas sociais. Da reunião desta segunda-feira não se espera que saia qualquer acordo definitivo, mas um entendimento para continuar a trabalhar e aproximar posições.

Conselho de Segurança vai discutir perseguição aos cristãos no Médio Oriente O Estado Islâmico tem cometido incontáveis crimes nos territórios que ocupa, mas o tratamento dado a cristãos e membros de outras minorias, como os sabeus e os yazidis, tem sido particularmente brutal. O Conselho de Segurança das Nações Unidas vai reunir no dia 27 de Março para discutir e condenar a perseguição aos cristãos - e a outras minorias religiosas - no Médio Oriente. A reunião foi convocada por França, que preside ao Conselho de Segurança, e anunciada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, esta segundafeira, à margem de uma visita a Marrocos. “Estamos do lado das minorias perseguidas”, afirmou Fabius, em declarações reproduzidas pela agência France Press. O ministro francês diz que ele mesmo presidirá à reunião que servirá para mostrar que a comunidade internacional não aceitará as atrocidades cometidas por extremistas que “negam às minorias o direito a existir”. “O que tem sido feito a estas minorias é completamente inaceitável”, afirmou. Referindo-se, especificamente, ao auto-proclamado Estado Islâmico pelo seu acrónimo árabe, Fabius acrescentou: “O Daesh e os terroristas que estão com eles querem simplesmente erradicar, remover fisicamente ou guilhotinar quem não pensa como eles”. O Estado Islâmico tem cometido incontáveis crimes nos territórios que ocupa, mas o tratamento dado a cristãos e membros de outras minorias, como os sabeus e os yazidis, tem sido particularmente brutal. Só na semana passada cerca de 220 cristãos de etnia assíria foram raptados, levando à fuga de outras cinco mil pessoas da região. Foi, aliás, a perseguição movida contra os Yazidis, no Verão de 2014, que levou à decisão da comunidade internacional, liderada pelos EUA, de iniciar ataques aéreos contra o Estado Islâmico.


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Estado Islâmico rapta grupo de trabalhadores estrangeiros na Líbia Nove pessoas, de várias nacionalidades, foram sequestradas em Al-Ghani, um campo petrolífero. Terroristas do autoproclamado Estado Islâmico raptaram nove estrangeiros na Líbia. A informação é avançada pela agência Reuters que cita fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros austríaco. O porta-voz das forças armadas líbias anunciou esta segunda-feira que militantes do ramo do Estado Islâmico daquele país africano decapitaram oito guardas depois de um assalto a um campo de petróleo na semana passada, altura em que nove estrangeiros foram raptados. Quatro filipinos, um austríaco, um checo, dois bangladeshis e um ganês foram levados do campo, cuja proprietária é uma empresa austríaca, na sextafeira. O porta-voz, Ahmed al-Mesmari, disse ainda que um funcionário do campo de petróleo de al-Ghani observou as decapitações e acabou, subsequentemente, por morrer de um enfarte, segundo o jornal britânico “The Guardian”. Al-Mesmari não revelou as fontes de informação do exército líbio, mas a força que servia de guarda ao petróleo está intimamente ligada às forças armadas da Líbia, que responde perante o governo sedeado no oeste do país. As autoridades das Filipinas e da Áustria confirmaram os raptos, ainda de acordo com o “Guardian”. Os raptores ainda não fizeram qualquer tipo de exigências. “Sabemos que não estão feridos e que foram levados de Al-Ghani”, confirmou o porta-voz da diplomacia austríaca. [Notícia actualizada às 15h26]

Alemã de 19 anos morre na frente de batalha contra o Estado Islâmico Ivana Hoffmann juntou-se aos militares curdos para defender aldeias cristãs no noroeste da Síria depois de ataques dos terroristas. Uma rapariga alemã de 19 anos morreu enquanto lutava contra o Estado Islâmico na Síria. Um grupo comunista turco afirma que a rapariga se tinha alistado

nas forças armadas curdas. Ivana Hoffmann era uma dos cerca de cem estrangeiros que lutam contra os terroristas nesta altura. Foi morta numa aldeia junto da cidade de Tel Tamr, no noroeste do país, de acordo com o oficial curdo Nasir Haj Mansour, citado na agência Reuters. Hoffmann ter-se-á juntado aos militares há dois ou três meses, disse. Nawaf Khalil, porta-voz do partido curdo PYD, na Europa, confirmou que a rapariga morreu durante o fim-de-semana, enviando uma fotografia de Hoffmann de uniforme frente a uma bandeira do partido comunista turco, o MLKP. O MLKP descreveu a alemã como uma cidadã de 19 anos, de ascendência africana, que se associou cedo ao partido enquanto ainda vivia na Alemanha. Hoffmann juntou-se aos militares curdos para defender aldeias cristãs no noroeste da Síria depois de ataques do autoproclamado Estado Islâmico no local. O partido descreve-a como uma lutadora de boa pontaria e anunciou que terá morrido durante os conflitos na frente de batalha. As autoridades alemãs recusaram-se a comentar o sucedido.

Os verdadeiros Indiana Jones usam sapatilhas para fugir mais depressa Abdul Rahman al-Yehiya e Ayman al-Nabu usam sacos de areia e máquinas fotográficas para combater o “pior desastre cultural desde a Segunda Guerra Mundial”: a destruição de património pelo Estado Islâmico.

Especialistas em arqueologia defendem património da destruição Por Filipe d'Avillez

A guerra na Síria e no Iraque pode ter começado como uma simples revolta contra a ditadura de Bassar AlAssad, mas é hoje uma verdadeira confusão de conflitos interligados. Um dos que menos atenção estava a receber era a guerra pelo património arqueológico e cultural. Pelo


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menos, até ao momento em que o Estado Islâmico decidiu arrasar as ruínas de Nimrud, uma jóia arqueológica que data do século XIII antes de Cristo. Mas há quem resista a esta destruição, apesar da enorme desproporção de meios e o risco envolvido. Abdul Rahman al-Yehiya e Ayman al-Nabu usam sacos de areia e máquinas fotográficas em vez de camuflados e armas automáticas. A dupla foi entrevistada recentemente pela cadeia americana NPR, do lado turco da fronteira com a Síria. A sua missão é proteger o riquíssimo património cultural do país ou, na pior das hipóteses, documentar a destruição e os roubos. “Somos uma equipa de especialistas em arqueologia, engenharia e artistas”, afirmam. E enfrentam o perigo constantemente, sendo que os bombardeamentos e os ataques de artilharia como apenas um dos problemas, referem. A principal ameaça vem de atiradores furtivos. Para não darem nas vistas, estes “agentes especiais” fazem por fingir ser o mais normais possível. “Usamos roupa normal, mas estamos sempre prontos a correr. Usamos calças de ganga e sapatos de ténis, para podermos fugir rapidamente”. Armam-se depois de máquinas fotográficas digitais, cedidas por colaboradores internacionais, para poder documentar artigos pilhados e vendidos no mercado negro. Para o fazer fingem ser compradores interessados em adquirir as peças e tiram furtivamente as fotografias. As peças poderão nunca mais ser vistas, mas ao menos sabe-se o que lhes aconteceu. A missão desenvolvida por estes amantes da cultura é semelhante ao que foi levado a cabo por grupos de militares aliados na Europa no final da Segunda Guerra Mundial, conhecidos como os “Homens dos Monumentos”. Uma alcunha que é agora reaproveitada e usada por pessoas como Brian Daniels, do Museu Penn, em Filadélfia, que colabora com o grupo e que não tem dúvidas de que a destruição do património mundial se trata do “pior desastre cultural desde a Segunda Guerra Mundial”. Apesar de todos os desastres e os incontáveis monumentos, artefactos e peças perdidos ou destruídos, há algumas vitórias animadoras. O alvo da mais recente operação foi o museu de Ma’arra, que tem uma vasta colecção de mosaicos antigos. O grupo dirigiu-se ao local em segredo e usou sacos de areia para fortalecer as paredes, fotografando o interior e registando o que já tinha sido danificado pelos bombardeamentos. Depois, os dois resistentes taparam as paredes todas com lençóis de Tyvek, uma material protector próprio, e cola. O mais difícil foi justificar a entrada do material, mas a imaginação resultou: “Muita gente está a morrer na Síria, por isso dissemos que eram mortalhas para embrulhar os mortos”, explica Yehiya.

REPORTAGEM

Encontrar Deus atrás das grades Celine rezava o terço quando ouviu a notícia da sua libertação – para trás estava um processo de aproximação ao catolicismo. Antonieta e Armindo fazem trabalho voluntário nas cadeias há mais de uma década. Uma forma de viverem a fé. Por Liliana Monteiro

"Eu tive a minha liberdade na hora do meu terço. O dia passou mal, eu estava abatida. Fui para o meu quarto e pus-me a rezar – precisava de força. E antes de começar o 5.º Mistério, a guarda abre a porta e diz: 'Celine Veiga, você está livre'." Às 21h00 desse mesmo dia Celine terminou o terço em Fátima. Celine estava presa em Tires. Terá sido uma das reclusas mais difíceis que passaram pelas mãos de Antonieta, que faz voluntariado naquela prisão. Pelo menos uma vez por semana há voluntários cristãos que se deslocam aos estabelecimentos prisionais para ajudar e conversar com quem cumpre pena atrás das grades. "O sol parece que não bate, o vento não se sente. Lá não há nada, é um mundo fechado e vazio", diz Ana (nome fictício). "Falta o ar, falta a família, falta a nossa casa", confessa Celine. Ambas são ex-reclusas do estabelecimento prisional de Tires. Estar presas afastou-as dos filhos durante mais de quatro anos. Muitas vezes faltaram as forças: não havia rumo, nascia o desespero e o medo. Ana recorda-se bem do primeiro dia em que entrou na prisão. "Ficamos numa sala de observação sozinhas. Lembro-me que na minha cama estava pendurado um terço que era fluorescente e à noite brilhava. Eu não sabia como rezar o terço – peguei nas bolinhas e fiz tudo ao contrário. Num dia perguntei à Antonieta como se rezava." Antonieta é voluntária há 13 anos. Visita reclusas em Tires. É católica e tem a sua actividade profissional, mas todas as semanas guarda espaço para dar de si. "Durante aproximadamente três meses, rezava o terço completamente sozinha. Chegava com uma imagem de Nossa Senhora, que levo sempre, e rezava sozinha porque não vinha ninguém. Até que um dia uma brasileira que ia a passar viu-me e sentou-se comigo a rezar. Nas semanas seguintes começou a aparecer mais gente", recorda Antonieta. "Nos primeiros dias vamos lá uma primeira vez e não ligamos nenhuma àquilo", conta Ana. "Só vamos porque aquele bocadinho é diferente. É uma hora que passa e parece que não estamos naquele espaço. Vai uma falando, a outra respondendo, outra vai partilhando um problema. Até as pessoas que convivem todos os dias naquele bocadinho são diferentes’. Das "zaragatas" à oração Antonieta é natural de Vila do Conde. "Percebi aos meus 40 anos que tinha algo mais para dar e que Deus me estava a pedir isso. Resolvi vir para Lisboa para ir


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para as missões, Cabo Verde, Angola ou Timor", conta. Mas foi convidada a participar num presépio vivo na prisão. "Quando lá cheguei algo aconteceu dentro de mim e senti que era aquilo", revela. A decisão não foi bem recebida pela família. "Os meus irmãos quiseram que eu fosse vista por um psiquiatra. Fui vista, mas não tinha nada, andava era à procura de algo que ia além do que eles me podiam dar." Começou por ir à prisão uma única vez por semana. Hoje está lá uma média de duas a três horas por dia em oração. Conversa, escuta e é muitas vezes chamada em períodos de maior fraqueza de algumas reclusas. A prisão tornou Celine uma pessoa rebelde. "Tudo me corria mal, as guardas eram más. Tinha de ser sempre tudo eu, eu, eu", diz. Antonieta conta-nos esta história. "Ela tinha um poder grande lá dentro perante as outras reclusas. Sempre que havia zaragatas, a Celine estava metida. Fazia uma guerra enorme contra a oração, ria-se quando eu passava, fazia pouco do que eu estava a fazer. Tudo isto só para tentar que eu não fizesse a oração." Antonieta percebeu que Celine podia mudar numa procissão do 13 de Maio. As reclusas aperaltaram-se e colocavam-se cada uma no seu lugar, de papel na mão, prontas a participar na celebração. "Nesse dia, a Celine, para meu grande espanto, estava pronta também para participar na procissão e tinha tirado o Mistério que ia ser meditado à pessoa que o ia ler. Leu, muito bem arranjada com os seus ouros, os brincos e maquilhada. Na semana seguinte, quando fui rezar, no sábado, a Celine apareceu, entrou e ficou em silêncio no fundo da sala". Um engenheiro na biblioteca Armando, engenheiro já reformado, faz voluntariado cristão há mais de dez anos. Sente que é preciso lutar cada vez mais por uma sociedade do "ser" e não do "ter". Foi por isso que decidiu dar de si aos reclusos do estabelecimento prisional de Lisboa. Todas as terças-feiras entra na biblioteca desta prisão e ali fica disponível para os reclusos. "Já tive situações de ter apenas um recluso na sala. Quando estamos sozinhos eu vou para a porta da biblioteca para ver no corredor da ala se conheço algum. Já cheguei a ter 13, 14 reclusos". "Ao ver as experiências de vida, os amigos que tiveram e o meio por onde andaram, chegamos à conclusão que a falta de valores é tão grande." Esta reportagem, emitida no último programa Princípio e Fim, faz parte de um ciclo de trabalhos da Renascença que partem do desafio do Papa Francisco na sua mensagem para esta Quaresma. A Renascença partiu à procura de cristãos que se dão aos outros em áreas habitualmente esquecidas ou periféricas, contrariando a "indiferença" denunciada por Francisco

"Explica-me". Jovens da Cáritas de Leiria dão explicações a alunos carenciados Vinte crianças beneficiam de explicações gratuitas graças a um grupo de jovens monitores da Colónia Balnear da Praia do Pedrógão. Por Paula Costa Dias

Todos os sábados, na sede do Centro de Apoio ao Ensino Superior (CAES) da diocese de Leiria-Fátima, jovens monitores da Colónia Balnear da Cáritas na Praia do Pedrógão dão explicações gratuitas a alunos carenciados cujas famílias são apoiadas por aquela instituição da Igreja. São 20 as crianças e adolescentes do 2º e 3º ciclos de ensino que beneficiam deste apoio gratuito dado por voluntários. Provêm de famílias com problemas financeiros, acompanhadas pela Cáritas. André, de 14 anos, aluno do 7º ano, faz os trabalhos de casa e tira as dúvidas com a Inês porque teve "negativas altas a Físico-Química e a Ciências". Reconhece que "não estudava", coisa que aqui tem de fazer, com a ajuda de Filipa Jesus, farmacêutica que dedica o seu pouco "tempo disponível" a "ajudar a mudar a vida destes meninos". Depois de ter dado explicações a familiares e amigos que necessitavam, voluntariou-se para ajudar gratuitamente estes jovens carenciados. "É uma forma de lhes permitir ter melhor sucesso escolar, uma vez que as famílias não têm capacidade económica para lhes proporcionar este tipo de actividades", refere. O projecto "Explica-me" é uma iniciativa do CáritasJovem, grupo de jovens monitores da Colónia Balnear da Praia do Pedrógão. "Achámos que devíamos fazer mais que não apenas no Verão, mas durante todo o ano", diz a coordenadora Inês Martins. O "Explica-me" surgiu "para dar resposta a necessidades que crianças e jovens apresentam a nível escolar". O objectivo, salienta, é "criar um modelo de apoio escolar, através da criação de hábitos de estudo, orientar as várias disciplinas, esclarecer as dúvidas que os alunos têm e ajudar nos trabalhos". Objectivo: "um maior sucesso escolar".


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PRIMEIRA LIGA

Sporting aprendeu a lição dos três porquinhos Sporting 3-2 Penafiel. Leão faz uso útil dos erros cometidos na primeira metade, regressa aos triunfos e impede atempadamente novo empate em Alvalade. Equipa de Marco Silva jogou 80 minutos em inferioridade numérica mas consegue consolidar o terceiro posto do campeonato.

complementar, rearranjou as peças, retirou um apagado Adrien Silva e permitiu a estreia de Ewerton. Reequilibrada a equipa no processo defensivo, restava contornar o aspecto das condicionantes físicas. É a fase da colocação do tijolo e da argamassa. Difícil, custosa, trabalhosa, esforçada. Foi isso que o Sporting conseguiu, com critério, coesão e determinação. Tanto que fechar a porta na cara do "lobo" tocou a uma das suas unidades em maior evidência. Aos 70', Carrillo cruzou e Nani, de cabeça, bateu Coelho, fixando o resultado final. Moral da história: trabalhar com afinco e controlar a ansiedade, apesar das dificuldades, dá esperança de que o esforço valha a pena. E se valeu. O leão regressa aos triunfos, quebra um ciclo negativo de três partidas sem o sabor da vitória, cimenta o terceiro posto do campeonato e passa a ter quatro pontos de avanço sobre o Sporting de Braga. Quanto ao Penafiel, tal como o lobo no conto dos "três porquinhos", tanto soprou contra a casa de tijolo que perdeu o fôlego, terminando até o desafio reduzido a nove unidades (expulsões de Dani Coelho e Pedro Ribeiro). E continua a ocupar o último posto da Primeira Liga. PRIMEIRA LIGA

Nani decidiu triunfo do Sporting, aos 70' Por José Pedro Pinto

"Era uma vez três porquinhos". Bom, o conto de crianças já toda a gente conhece. A transposição para a realidade da lição a retirar da história aconteceu esta noite, em Alvalade. E até pode servir de metáfora para a evolução de um leão que, noutro contexto ou circunstâncias, dificilmente conseguiria conquistar os três pontos. Os dois golos inaugurais, de William Carvalho (5') e Slimani (7') assumiram-se como a construção da casa de palha, sem a ameaça próxima de um qualquer "lobo". Mas ele veio. E de onde menos se esperava. O argelino, que tão bem havia estado antes ao ampliar a vantagem leonina, colocou a bola nos pés de Guedes, isolando o adversário. Sem soluções, Tobias Figueiredo travou o avançado e viu vermelho direito. Na cobrança do livre directo que se seguiu, Braga reduziu. E, aos 12', surgia o primeiro "sopro". Posto isto, o Sporting partiu para a construção da casa de madeira. As bases pareciam aguentar com relativa solidez, mesmo com menos um "pilar" em campo. Partida controlada? Sim, até aos 41'. Altura em que o "lobo" assumiu a pele de Vítor Bruno. O médio, lançado em cena pelo técnico Rui Quinta - bela leitura de jogo do timoneiro do "lanterna vermelha" do campeonato -, aproveitou a falta do tal esteio na defesa leonina e empatou o marcador. Segundo "sopro", em cima do intervalo. Partir da madeira para o tijolo não é empreitada para qualquer um. Mas Marco Silva deu o exemplo. Apostou em William Carvalho para "tapar" o buraco proporcionado pelo vermelho directo visto por Tobias, até ao final da primeira metade. No arranque da etapa

Candidatos a candidatos anulamse no Arcos Rio Ave 1-1 Nacional. Golos de Marvin Zeegelaar e Marco Matias mantêm vilacondenses e insulares longe dos lugares de acesso às provas europeias.

Rio Ave e Nacional empataram (1-1), esta segundafeira, em jogo da jornada 24 da Primeira Liga. Os candidatos ao apuramento para as competições europeias da próxima época mantêm-se, assim, longe desses lugares. Após uma primeira metade de domínio vila-condense e na qual Hassan chegou mesmo a falhar uma grande penalidade, o arranque da etapa complementar foi agitado. Logo no primeiro minuto, o holandês Marvin Zeegelaar abriu o activo. Respondeu, aos 52', Marco Matias. O goleador dos insulares fixou o resultado final do desafio.


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Logo no primeiro minuto, o holandês Marvin Zeegelaar abriu o activo. Respondeu, aos 52', Marco Matias. O goleador dos insulares fixou o resultado final do desafio. Com este resultado, o Nacional mantém-se no oitavo posto, mas passa a somar 32 pontos e está a um de distância do Paços de Ferreira. O Rio Ave sobe ao nono lugar, igualando o Marítimo, com 30 pontos. REVISTA DA IMPRENSA DESPORTIVA

Nani que resolve, Lopetegui que sonha

RIBEIRO CRISTÓVÃO

Acertar o passo O Sporting voltou a sentir-se mais confortável no terceiro lugar, mercê da derrota do Braga frente ao FC Porto, mas, a dez jornadas do termo do campeonato ficam ainda muitas dúvidas que só os próximos jogos ajudarão a esclarecer.

Por Ribeiro Cristóvão

Nani "esmaga", esta terça-feira, nas primeiras páginas dos desportivos, depois de marcar o golo decisivo na vitória do Sporting (3-2) frente ao Penafiel. "Outra vez mortal", lê-se no Record, com a imagem do jogador em comemoração acrobática. O Jogo destaca: "Nani e mais nove". Por sua vez, A Bola titula: "Leão de sacrifício". O FC Porto-Basileia de logo à note, para a Champins, está também nas primeiras páginas, com A Bola a reproduzir palavras do treinador basco dos portistas: "Dragão quer ser orgulho nacional". O Record cita o técnico - "Temos de ir aos limites" enquanto O Jogo titula: "À procura do quinto apuramento". Trata-se do quinta vez nos quartos-definal.

Porto e Benfica já haviam somado vitórias nos seus jogos mais recentes, o Sporting acertou o passo ontem à noite com um triunfo tangencial conseguido após viver alguns sustos, com os quais certamente não contava e que até acabaram por não se justificar. Contra o Penafiel, a viver o drama de não conseguir libertar-se do último lugar da classificação, os leões tiveram um começo deveras auspicioso marcando dois golos no curto espaço de oito minutos, ficando aí a ideia de que, finalmente, a equipa de Marco Silva poderia chegar a uma exibição de qualidade e um resultado a condizer. Com a imprevista expulsão de Tobias Figueiredo, após uma correcta avaliação do árbitro da partida, iniciou-se de imediato um período de menor clarividência que o Penafiel aproveitou para marcar dois golos e chegar à igualdade, deixando a pairar, em Alvalade, a sensação de que se aproximava mais uma noite de desassossego. Os leões tardaram a regressar à normalidade, o que só aconteceu quando, a vinte minutos do fim, Nani pôs termo a todas as dúvidas que ainda permaneciam, obtendo um golo de qualidade que cortou pela base toda a expectativa dos nortenhos poderem sair de Alvalade e regressarem a casa com pelo menos um ponto. O Sporting voltou a sentir-se mais confortável no terceiro lugar, mercê da derrota do Braga frente ao FC Porto, dispondo de uma considerável vantagem de quatro pontos. Mas, a dez jornadas do termo do campeonato ficam ainda muitas dúvidas que só os próximos jogos ajudarão a esclarecer completamente. Entretanto, logo à noite regressa a Liga dos Campeões, iniciando-se a disputa dos oitavos-de-final. Depois do empate conseguido na Suíça, cabe aos portistas levar a cabo uma tarefa que parece estar ao seu alcance. Face aos dados disponíveis tudo aponta para que seja


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possível passar por uma noite de sucesso. TAÇA DE INGLATERRA

Old Trafford em choque. Arsenal elimina United

Herrera e Reyes chamados ao México Jogadores do FC Porto continuam a manter a confiança do seleccionador Miguel Herrera.

"Gunners" apuram-se para as meias-finais da Taça de Inglaterra às custas de um dos seus eternos rivais.

O Arsenal apurou-se para as meias-finais da Taça de Inglaterra, esta segunda-feira, ao eliminar o Manchester United, em Old Trafford. No "jogo grande" da ronda da "prova rainha" do futebol português, Nacho Monreal abriu o activo aos 26', iniciando a noite de "gelo" que se viveu nas bancadas do "teatro dos sonhos". Três minutos volvidos, Rooney alcançou a igualdade, relançando a partida. Contudo, o golo do triunfo dos "gunners" surgiria por autoria de um ex-jogador dos "red devils". Danny Welbeck assinou, aos 62', o golo da passagem dos londrinos às "meias". Até ao final, destaque para a expulsão de Ángel Di María.

Miguel Herrera, seleccionador do México, convocou os portistas Hector Herrera e Diego Reyes, para os encontros de carácter particular, com Equador e Paraguai, a 28 e 31 de Março. Para as partidas que terão lugar nos Estados Unidos, o seleccionador norte-americano divulgou, somente, os atletas convocados que actuam no estrangeiro. Lista de convocados do MéxicoGuillermo Ochoa – Málaga Jesús Manuel Corona – FC Twente Héctor Moreno – Espanhol Javier Hernández – Real Madrid Raúl Jiménez – Atlético de Madrid Giovani Dos Santos – Villareal Jonathan Dos Santos – Villareal Diego Reyes – Porto Héctor Herrera – Porto Andrés Guardado – PSV Eindhoven Miguel Layún – Watford FC Rafael Márquez – Hellas Verona NÉLSON ÉVORA

O campeão voltou. "Quero ficar na história do triplo salto" Dezenas de pessoas receberam o novo campeão europeu do triplo salto em pista coberta, no regresso a Lisboa. "Finalmente consigo mostrar que estou totalmente recuperado e pronto para lutar nas próximas competições", afirmou Nélson Évora. Nélson Évora foi recebido em clima de festa, esta segunda-feira, no Aeroporto da Portela, em Lisboa, por algumas dezenas de pessoas que felicitaram o novo campeão europeu de pista coberta em triplo salto. "Muito feliz" pela recepção no regresso a Portugal, o atleta do Benfica confessa que "não poderia estar mais


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satisfeito" por voltar à ribalta do atletismo mundial, após um longo "calvário" de lesões. "É um momento que me dá forças par continuar a trabalhar. Fénix renascida das cinzas? É quase isso mesmo (risos). Vocês não têm noção do que passei. Só quem lá esteve e eu é que sabem o que aconteceu. Está ultrapassado. Finalmente consigo mostrar que estou totalmente recuperado e pronto para lutar nas próximas competições", afirmou aos jornalistas, visivelmente contente e emocionado. Agora, Nélson Évora, campeão olímpico, do mundo e da Europa só tem uma meta: "Faltam-me saltos longos para subir no 'ranking' mundial e ficar na história do triplo salto". O atleta do Benfica conquistou a medalha de ouro nos Europeus de Praga, na República Checa, no passado sábado, com a marca de 17m21, batendo a concorrência do espanhol Pablo Torrijos (17m04) e do romeno Marian Oprea (16m91).

Renascença e acompanhamento ao minuto em rr.sapo.pt.

Belmiro de Azevedo deixa administração da Sonae Paulo Azevedo e Ângelo Paupério são dois dos nomes que serão propostos para cargos de chefia, depois de Belmiro de Azevedo abandonar a administração da Sonae.

LIGA DOS CAMPEÕES

Infografia. Quem não tem Jackson, caça com Tello Tello e Gashi são as principais figuras do FC Porto-Basileia, mas as equipas têm outros elementos para fazer a diferença. Veja a infografia com os jogadores que já decidiram jogos na Liga dos Campeões.

O desequilíbrio do FC Porto-Basileia deverá passar pelos pés de Tello e Gashi. Foto: DR Por Rodrigo Machado (infografia) e Sílvio Vieira

Não será um duelo entre Tello e Gashi, mas há uma grande probabilidade de as decisões passarem pelos pés das duas figuras do momento de FC Porto e Basileia, respectivamente. A ausência de Jackson Martínez fere o FC Porto, mas os recursos da equipa de Julen Lopetegui não se esgotam no seu máximo goleador. Gashi esteve apagado no primeiro jogo, mas não deixa de ser o jogador com maior influência na equipa de Paulo Sousa. Derlís González e Streller são outros dois elementos a ter em atenção. O FC Porto-Basileia, a contar para a 2ª mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, começa às 19h45. O jogo tem relato na

Paulo Azevedo e Belmiro de Azevedo. Foto: Lusa

Belmiro de Azevedo não se vai candidatar ao Conselho de Administração da Efanor, a sua holding pessoal e que detém a maioria do capital da Sonae, da Sonae Capital e da Sonae Indústria, a eleger a 30 de Abril. A informação foi avançada esta segunda-feira em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) pela Sonae, que indica ter recebido a mesma da parte da Efanor, que detém 51% da Sonae Indústria, 53% da Sonae e 63% da Sonae Capital, segundo a informação disponível na página da Sonae na internet. De acordo com a mesma nota, será proposto ao Conselho de Administração eleito que "este considere a pertinência" da eleição de Paulo Azevedo para os cargos de presidente do Conselho de Administração e co-presidente da comissão executiva. Para este último lugar será igualmente proposto o nome de Ângelo Paupério. O objectivo destas duas propostas de nomes é "assegurar uma filosofia de continuidade da gestão da sociedade para o futuro, em coerência com aquela que sempre foi desenvolvida até este momento em concertação com os interesses estratégicos dos seus accionistas", acrescenta a Sonae, em comunicado. A empresa informa ainda que a lista de membros do Conselho de Administração que a Efanor Investimentos apresentará em assembleia geral "será oportunamente divulgada". Na quarta-feira, data em que se assinalam 50 anos de actividade de Belmiro de Azevedo na Sonae, o actual presidente do Conselho de Administração do grupo vai anunciar os seus planos para o futuro, indicou também à Lusa uma fonte do grupo.


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Página1 é um jornal registado na ERC, sob o nº 125177. É propriedade/editor Rádio Renascença Lda, com o nº de pessoa colectiva nº 500725373. O Conselho de Gerência é constituído por João Aguiar Campos, José Luís Ramos Pinheiro e Ana Lia Martins Braga. O capital da empresa é detido pelo Patriarcado de Lisboa e Conferência Episcopal Portuguesa. Rádio Renascença. Rua Ivens, 14 - 1249-108 Lisboa.

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