EDIÇÃO PDF Directora Graça Franco
Quinta-feira, 19-02-2015 Edição às 08h30
Editor Raul Santos
"Troika pecou contra a dignidade de portugueses, gregos e irlandeses" REPORTAGEM
Alerta amarelo. Há uma cor de Manchester a dar dores de cabeça nas urgências ENTREVISTA
Bispo do Porto: "É tempo de dizermos
INÍCIO DA QUARESMA
Precisa-se: corações fortes para combater a indiferença Ucrânia quer capacetes azuis a monitorizar cessar-fogo
Governo quer criminalizar apologia ao terrorismo
Medicamento para a hepatite C comparticipado a 100% e dado a quem precisa
Cardeal diz que sinais de recuperação demoram a chegar às famílias
FERNANDO J. REGATEIRO
“Três pais” para um filho
Cáritas Portuguesa lança campanha para ajudar crianças da Síria
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REPORTAGEM
Alerta amarelo. Há uma cor de Manchester a dar dores de cabeça nas urgências A Renascença esteve sete horas na urgência do Santa Maria, em Lisboa.
Amarela. A linha que mais custa a passar nas urgências. Foto: RR Por João Carlos Malta
São quase 21h30. Os altifalantes das urgências do Santa Maria ecoam "Maria Ramos". Tem 60 anos e vem acompanhada pela filha. Em frente ao triador, é ela quem toma a liderança na descrição dos sintomas da mãe: dores de cabeça fortes, falta de ar e uma impressão no peito que não passa. Poucos minutos antes, um desmaio foi decisivo para a vinda ao hospital lisboeta. As perguntas sucedem-se e, três minutos depois, sai o veredicto: pulseira amarela para Maria. O protocolo de triagem de Manchester colocá-la-ia uma hora depois em frente a uma médica. Não aconteceu. Neste fim de noite, a palavra "caos", que tantas vezes é associada às urgências hospitalares, não entrou nos corredores do Santa Maria. Uma primeira olhadela pela sala onde os "laranjas" estão e não encontrámos mais de quatro pessoas. No outro extremo da escala, nos "azuis" e "verdes", não mais de dez. Até que um salto ao meio, aos "amarelos", mostra outra realidade. Seis macas alinhadas junto à parede e um familiar junto a cada um delas. Na sala, há 30 pessoas entre pacientes e acompanhantes. É aí que, horas depois, vamos encontrar novamente Maria. Então, ainda cá está? "Já estou aqui há três horas e era suposto ter um atendimento mais rápido devido aos meus sintomas. Sinto dores no peito, falta de ar e cansaço. Estou extremamente cansada e rouca", diz, cruzando os braços sobre a barriga e baloiçando. A filha até já foi perguntar às enfermeiras o porquê de tanto tempo à espera. A resposta até foi pronta: "São só mais duas pessoas". Mais lenta foi a concretização: "Mas já entraram mais do que duas pessoas", devolve Maria. A calcificação da aorta abdominal diagnosticada a esta
mulher de 60 anos não lhe tem dado paz. Resigna-se com a espera. Conta com o comprimido "SOS" que tomou para lhe valer na atenuação dos sintomas. O Santa Maria à frente do ministério As mortes no início do ano nas urgências sem que os doentes fossem vistos por um médico reacenderam a discussão sobre os meios humanos disponíveis nos hospitais, mas também sobre a triagem de Manchester. Os "amarelos" são o grupo que mais preocupação levanta. O director do Santo António no Porto, Sollari Allegro, chegou mesmo a dizer à Renascença que este grupo de doentes de gravidade intermédia é muito numeroso e que, por isso, em alguns hospitais há dificuldades em aceder ao contacto com o médico. A espera dura horas. "Algumas mortes que ocorreram podiam assim ter sido evitadas", frisou. A triagem do Santa Maria demora em média três minutos "Os amarelos não são todos iguais. É preciso estabelecer um sistema de retriagem, garantindo que o doente que ao fim de uma hora não esteja visto o seja, para perceber o que se passa e se pode ou não esperar", dizia Allegro. Na mesma linha, o secretário de Estado da Saúde, Fernando Leal da Costa, defendeu o aumento do "número de triadores" e o cumprimento das regras do protocolo de Manchester, que determinam a repetição da triagem "quando o tempo de espera até à primeira observação médica for ultrapassado". Sem retriagem, mas na vanguarda da triagem No Santa Maria nenhuma destas situações vai ser aplicada. Não há retriagem. Nem o número de triadores foi aumentado. Vamos por partes. Em relação aos doentes que esperam mais tempo para serem vistos do que "Manchester" prevê, o enfermeiro que chefia o turno desta noite, Tiago Ribeiro, explica o motivo da inexistência de uma reavaliação formal do estado do doente no Hospital de Santa Maria. "Há dois enfermeiros por sala de espera e existe a preocupação de acompanhar as necessidades dos doentes e as solicitações dos familiares e perceber se alguém pede ajuda porque o faz", garante. "Mas uma retriagem ao fim de duas ou de quatro horas não temos instituída", sublinha. "Era impossível fazer isso com 20 ou 30 doentes que estão nas salas", adianta outra enfermeira. O acréscimo de afluência às urgências devido ao pico de gripe motivou por parte do Ministério da Saúde a vontade de reforçar as equipas de triadores com enfermeiros e de dar a possibilidade de estes profissionais pedirem exames complementares de diagnóstico. A Ordem dos Médicos está contra. Argumenta que vai levar a uma quebra na qualidade. No entanto, tudo isto já acontece há mais de uma década no Santa Maria. E com bons resultados, diz quem lá trabalha. "Somos os profissionais de saúde mais bem habilitados para fazer este trabalho, porque não nos perdemos a encontrar um diagnóstico médico. E numa primeira fase, em que os médicos ainda faziam triagem, percebemos isso, perdiam muito tempo a arranjar um diagnóstico. Nós cingimo-nos aos
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sintomas que os doentes apresentam e, tendo em conta o protocolo de Manchester, encaminhamo-los", refere o enfermeiro Tiago Ribeiro, que indica que uma triagem demora em média três minutos. A ideia vai ser defendida também por um médico, o chefe da equipa de medicina das urgências, Luís Pinheiro. "A experiência é positiva porque a triagem não é um momento de diagnóstico, mas de hierarquização e de observação", argumenta. Da triagem para os exames, as urgências do Santa Maria também têm sido precursoras no que diz respeito à acção dos enfermeiros no pedido de exames complementares. Entram neste universo os raios X, como já lá estavam os electrocardiogramas. O enfermeiro-chefe expõe a tese que defende a classe a que pertence. "O bastonário [da Ordem dos Médicos] alega que os enfermeiros vão gastar mais tempo a pedir os exames complementares de diagnóstico e também aí atrasar a triagem. A nossa experiência não é essa. Já o fazíamos antes de isto se falar e o nosso tempo de triagem não sofreu grandes alterações desde que mais recentemente foi instaurado o protocolo do monotrauma. Há muito tempo que já fazemos o electrocardiograma. São três 'clicks' e não é por aí que a triagem vai demorar mais", garante. Tiago Ribeiro diz que a maior intervenção dos enfermeiros levará a uma redução do tempo de espera porque diminui o número de passos pelos quais é necessário o doente passar. Com a saúde não se brinca? Esta redução do tempo de espera já é conseguida por alguns doentes. Também queimam etapas. Como? Com manhas. Sentamo-nos junto à enfermeira Dina Pereira. Há mais de uma década a triar no Santa Maria, defende a escala de Manchester, mas assume que não é infalível. "Há pessoas que vêm cá muitas vezes e nos tentam enganar. Tentam demonstrar uma dor que não têm", começa por contar. Algum caso pessoal? "Já me aconteceu uma doente chegar aqui a torcer-se de dores. Dei-lhe um laranja. Chegou à sala e disse que não tinha dor nenhuma. E aí já não há nada a fazer. Não podemos retriar para uma cor mais leve. Apenas podemos alterar para uma cor superior", garante. Do outro lado do corredor, o enfermeiro João Faria anui. É complicado contrariar alguém que diz que está com uma dor insuportável. Esta é uma componente importante da triagem. A intensidade da dor (0-4 azul e verde; 5-7 amarelo; 8-10 laranja) tem uma preponderância relevante na atribuição da prioridade, mas é complementada por uma bateria de questões levantadas depois de o triador incluir o doente numa das 52 tipologias de sintomas que existem no protocolo de Manchester. A maior parte dos 450 a 500 casos diários que chegam ao Santa Maria são verdes e amarelos. Seguimos de novo a linha amarela que no chão das urgências nos encaminha a cada uma das salas de espera e encontramos Maria de Fátima. Está há mais de quatro horas na sala. Um enfarte há cerca de um ano fez com que as visitas indesejadas às urgências crescessem. A impaciência sobe na mesma proporção que a língua começa a disparar críticas em todas as direcções. "Sempre que venho para aqui estou cá cinco ou seis
horas. Estou muito tempo à espera das análises. Isto estava uma calamidade. Estava muita gente com tosse ali nos contagiosos", descreve. "Falta gente, médicos, enfermeiros", sentencia. Um "gap" geracional que retira experiência Maria dá voz a uma das maiores críticas aos serviços de urgência. A enfermeira Dina dá-lhe razão. "Se calhar, se tivéssemos mais médicos e enfermeiros tínhamos menos tempo de espera. É o que temos de pior [nas urgências]. Supostamente um doente amarelo devia esperar uma hora, mas não é isso que acontece. Espera três, quatro ou cinco horas." O chefe da equipa médica, Luís Pinheiro, contradiz esta tese. Tem 12 médicos. "Não tenho problemas de falta de pessoal. Esta equipa é suficiente. A nível de gestão superior, há flexibilidade para poder reforçá-la em momentos de maior aperto, nomeadamente quando se percebe que a afluência vai ser maior ou a complexidade dos casos vai aumentar", explica. Este médico elogia a eficiência do serviço, o trabalho dos enfermeiros, os meios disponíveis. Nem falta de macas há. Tantos elogios, levam à pergunta: o Santa Maria é um milagre no meio das urgências nacionais? "Não diria que era um oásis, isso quereria dizer que tudo é perfeito, que todos os doentes eram observados no tempo ideal de triagem, o que não acontece. Porém, o tempo médio está abaixo dessas metas indicativas. Seria ideal que todos os doentes estivessem contentes com o serviço, mas ainda assim a larguíssima maioria está. E as situações iminentemente graves são vistas e identificadas precocemente", garante. Neste pingue-pongue argumentativo, algumas vozes ouvidas pela Renascença nas salas de espera não calam críticas à tenra idade de muitos médicos das urgências do Santa Maria. Dizem os doentes que isso prejudica os diagnósticos e que aumenta também o tempo de espera. "A insegurança de quem está a nossa frente" faz com que tudo demore mais, argumentam. Luís Pinheiro confirma que na noite e madrugada acompanhadas pela Renascença 60% dos médicos que estão com ele são internos, ou seja, que estão terminar a sua formação. Mas, salienta, que há médicos com mais experiência que supervisionam. "Alguém que esteja no início tem menos experiência", reconhece. "Um especialista é mais experiente do que um interno, mas um interno é um médico de pleno direito", adverte. "E aos que não conseguem resolver os casos deve ser assegurado que haja alguém que os possa ajudar." Mas isso não pode levar a que haja mais demoras? "Sim, pode." O caso pessoal "é sempre o mais grave" O clínico não pensa que equipas mais jovens representem um menor investimento nas urgências. Há uma questão geracional que explica o fenómeno. "Não conseguimos fugir ao facto de termos um hiato geracional de dez anos. Há poucos médicos com idades entre os 40 e os 50 anos. Há muitos com 50 ou 60 anos, e agora há um novo preenchimento com uma nova geração com idades entre os 20 e os 30 anos." Independentemente de possíveis deficiências operacionais, há uma dimensão psicológica cujo valor será sempre difícil de contabilizar. "É natural que quando as pessoas estão doentes e vêm a uma urgência sintam que o seu problema é mais urgente do
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que todos os outros e, por isso, queiram ter uma resposta o mais rápido possível e, muitas vezes, até imediata", analisa Luís Pinheiro. A enfermeira Dina é uma das que vivem este "drama" quase irresolúvel. Muitos doentes pensam que deviam ser triados com uma cor mais grave: "As pessoas querem ser vistas todas de forma muito rápida, mas temos de perceber que há prioridades e que uma gripe não é um AVC, uma gripe não é a mesma coisa que uma crise compulsiva. Todavia, há pessoas que não entendem. Entram por aqui a dentro e querem ser vistas." E finaliza com um desabafo: "Acham que o caso delas é sempre o mais grave."
"Troika pecou contra a dignidade de portugueses, gregos e irlandeses" "Pareço estúpido ao dizer isto, mas temos de tirar lições da História e não repetir os mesmos erros", afirma o presidente da Comissão Europeia avisa que a Europa não pode repetir erros do passado.
Juncker considera que falta legitimidade à troika. Foto: EPA
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, admite que a troika "pecou contra a dignidade" de portugueses, gregos e irlandeses A declaração de Juncker foi feita perante o Comité Económico e Social, em Bruxelas, com o antigo primeiro-ministro luxemburguês a apontar, ainda, a necessidade de aprender com as “lições do passado”, de modo a “não repetir os mesmos erros”. “Pecámos contra a dignidade dos povos, sobretudo na Grécia, em Portugal e muitas vezes na Irlanda. Eu era presidente do Eurogrupo e pareço estúpido ao dizer isto, mas temos de tirar lições da História e não repetir os mesmos erros.” O presidente da Comissão Europeu insiste na ideia de que falta à troika legitimidade democrática, apesar de considerar que as três instituições que a formam devem estar presentes na estrutura. "Quando chegar o momento, tudo isto deve ser revisto", afirmou Juncker, sublinhando, contudo, que os países
devem continuar a seguir o caminho da consolidação das finanças públicas, porque não devem hipotecar o futuro de outras gerações. Jean-Claude Juncker escusou-se a comentar o impasse das negociações com a Grécia, apenas indicando que a situação foi discutida no colégio de comissários. Teceu ainda críticas à anterior Comissão Europeia liderada por Durão Barroso, ao afirmar que "antes não se falava em absoluto" na Grécia porque se "confiava cegamente no que dizia a troika", formada pela Comissão, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu. De Alexis aos ziguezagues. O glossário da nova Grécia NOTA DE ABERTURA
Início da Quaresma Com a mensagem papal para a Quaresma como pano de fundo, a Comissão Nacional Justiça e Paz propõe, por seu turno, como contraponto da globalização da indiferença, a ética do cuidado: cuidado com tudo e com todos. No início da Quaresma a mensagem do Papa Francisco veio, uma vez mais, alertar contra a globalização da indiferença. Quer o Papa que os problemas, as tribulações e as injustiças não passem sem o nosso olhar atento – pois que é dever dos cristãos revelar que o amor não se cala. Convidando cada homem de boa vontade a efectivos gestos de caridade, Francisco exprime um desejo com destinatários concretos: que os lugares onde a Igreja se manifesta, particularmente as paróquias e comunidades, se tornem ilhas de misericórdia. Com a mensagem papal para a Quaresma como pano de fundo, a Comissão Nacional Justiça e Paz propõe, por seu turno, como contraponto da globalização da indiferença, a ética do cuidado: cuidado com tudo e com todos. Trata-se, diz o texto, de um movimento do coração para fora; mas que simultaneamente fortalece por dentro o coração de cada um. Motivos que revelam a urgência desta ética do cuidado não faltam: desde os desequilíbrios sociais, ao misterioso mundo dos mecanismos do mercado; desde a insegurança e o desprezo das minorias, aos que vivem no limiar da pobreza das diversas periferias; desde o desemprego, o subemprego ou o trabalho escravo, aos que são privados da saúde e do direito ao lazer. A cada um cabe lavar o respectivo olhar, para ver e intervir – rompendo com o sossego da sua própria fartura ou com a tranquilidade de quem está habituado e já não sente as dores alheias.
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Grécia apresenta nova proposta ao Eurogrupo Varoufakis considera que a proposta “vai ser redigida de tal maneira que vai convir à parte grega e ao Eurogrupo”.
A Grécia vai apresentar esta quinta-feira uma nova proposta ao Eurogrupo. O ministro grego das Finanças mostra-se “optimista quanto a uma solução positiva” a alcançar até sexta-feira nas discussões entre a Grécia e a Zona Euro. Varoufakis considera que a proposta “vai ser redigida de tal maneira que vai convir à parte grega e ao chefe do Eurogrupo”, que junta os ministros das Finanças na Zona Euro. O Banco Central Europeu prolongou o acesso dos bancos gregos ao mecanismo de empréstimos de emergência. A informação é avançada pela agência de notícias francesa France Press, que cita uma fonte do sector bancário. Foi decidido um aumento do limite máximo para a concessão de empréstimos de emergência aos bancos gregos para 68,3 mil milhões de euros. Já Angela Merkel insistiu que o programa de assistência financeira à Grécia exige em troca um compromisso do Governo grego com a aplicação das reformas exigidas pelos credores internacionais. De Alexis aos ziguezagues. O glossário da nova Grécia
Ucrânia quer capacetes azuis a monitorizar cessarfogo As notícias de violação das tréguas são constantes. Nas últimas 24 horas, morreram 14 soldados ucranianos.
Tropas ucranianas retiraram de Debaltseve. Foto: EPA
O Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, quer capacetes azuis das Nações Unidas a monitorizar o cessar-fogo no leste do país. O pedido foi aprovado, na quarta-feira à noite, numa reunião de emergência do conselho de segurança e defesa nacional da Ucrânia. “Seria a garantia mais eficaz de segurança numa altura em que a paz não está a ser observada pela Rússia” e pelos separatistas pró-russos, defende Petro Poroshenko. O pedido de envio de capacetes azuis foi feito no dia em que o exército ucraniano retirou de Debaltseve, uma cidade estratégica do leste da Ucrânia. O cessar-fogo entrou em vigor no domingo, mas os combates prosseguiram em Debaltseve. Os soldados de Kiev estavam cercadas e deixaram a cidade na quartafeira. As notícias de violação das tréguas são constantes. Nas últimas 24 horas, morreram 14 soldados ucranianos e 173 ficaram feridos no leste da Ucrânia, de acordo com fonte militar citada pela agência Reuters.
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FERNANDO J. REGATEIRO
“Três pais” para um filho O avanço técnico aqui descrito tem uma finalidade preventiva relevante - libertar um casal da fatalidade de ter filhos doentes. Contudo, e havendo, ainda, múltiplas incertezas inultrapassáveis à luz do conhecimento actual, deve imperar o princípio da precaução. Notícias recentes têm vindo a chamar a atenção para uma nova forma de prevenir a transmissão de doenças hereditárias, combinando células germinais de duas mulheres e de um homem. No caso vertente, trata-se de doenças raras causadas por anomalias do DNA mitocondrial. E como as mitocôndrias são transmitidas aos filhos de um casal apenas por via materna, através do citoplasma dos ovócitos, se a mulher for doente, todos os filhos do casal herdam a doença, embora a intensidade com que se manifesta, em cada filho, possa ser variável. Para evitar a transmissão da doença aos filhos, uma das técnicas disponíveis usa ovócitos de uma mulher dadora com DNA mitocondrial normal. Destes ovócitos, retira-se o núcleo e fica o citoplasma com as mitocôndrias e os restantes componentes citoplasmáticos. Seguidamente, transfere-se para o citoplasma doado o material nuclear de um ovócito da mulher doente. O ovócito reconstituído é fecundado com espermatozóide do marido, o ovo inicia o desenvolvimento embrionário e o embrião é transferido para o útero materno. De diferente, em relação a um ciclo de fecundação in vitro habitual, há o facto de o citoplasma do ovo e as respectivas mitocôndrias serem de uma dadora. Será errado dizer que são “três pais”. Comparativamente, quando um casal recorre a esperma de dador anónimo para fecundar um ovócito materno e ter um filho, metade da informação genética é estranha ao casal. A técnica aqui descrita troca apenas 37 genes em cerca de 20 mil genes. E também me parece errado falar de manipulação genética, já que não é modificado o DNA mitocondrial utilizado. As mitocôndrias da dadora são usadas, de forma intocada, para substituir as mitocôndrias maternas, com manutenção integral do material nuclear do pai e da mãe no ovo ou zigoto. Será, sim, uma forma de terapia génica germinal assente na transferência indirecta de genes. Um aspecto habitualmente não abordado prende-se com a acção dos factores citoplasmáticos que “comandam” as primeiras fases do desenvolvimento embrionário – proteínas e moléculas de ácido ribonucleico (RNA). Sendo da mesma espécie, esperase que os “novos factores” não gerem anomalias, mas poderão gerar formas diferentes do desenvolvimento do novo ser. Aliás, em filhos da mulher dadora do ovócito, serão idênticos componentes citoplasmáticos a “comandar” o desenvolvimento embrionário. O avanço técnico aqui descrito tem uma finalidade
preventiva relevante - libertar um casal da fatalidade de ter filhos doentes. Contudo, e havendo, ainda, múltiplas incertezas inultrapassáveis à luz do conhecimento actual, deve imperar o princípio da precaução.
Cardeal diz que sinais de recuperação demoram a chegar às famílias D. Manuel Clemente anunciou que a Casa do Gaiato e a Comunidade Vida e Paz serão os beneficiários da renúncia quaresmal.
O Cardeal Patriarca considera que os sinais de recuperação económica ainda não permitem a muitas famílias olhar o futuro imediato com optimismo. D. Manuel Clemente pede, por isso, aos cristãos que ajudem os mais frágeis. Poderá ser esse o “jejum” para esta Quaresma: a solidariedade. “Mesmo alguns sinais de recuperação económica demoram em repercutir-se na vida e no estado de espírito de muitas pessoas e famílias, que por sucessivos encargos, falta de trabalho e perspectivas não conseguem satisfazer necessidades básicas, nem olhar com optimismo o futuro, especialmente os mais jovens. Os crentes participam com os seus concidadãos nas alegrias e esperanças, nas tristezas e angústias da sociedade que integram, mas exactamente por serem crentes em tudo estarão com os sentimentos de Deus revelados em Cristo, isto é, com misericórdia que os aproxime de toda a pobreza e fragilidade em comprovada presença e concreto apoio correspondendo às multiplicadas carências dos outros”, disse. Na sua mensagem para a Quaresma, lida esta quartafeira na Sé de Lisboa, o Cardeal-Patriarca anunciou que a Casa do Gaiato e a Comunidade Vida e Paz serão os beneficiários da renúncia quaresmal deste ano. “Esmola e jejum traduzem-se como sobriedade solidária para que o espaço que esvaziamos em nós se transforma em lugar para os outros. A renúncia quaresmal deste ano de 2015 no Patriarcado destina-se
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a apoiar as instituições sociais diocesanas, designadamente as que acompanham os mais novos, como a nossa Casa do Gaiato de Lisboa ou pessoas sem-abrigo e fragilizadas como a Comunidade Vida e Paz”. No ano passado o Patriarcado de Lisboa recolheu 300 mil euros para a associação Ajuda de Berço. ENTREVISTA
Bispo do Porto: "É tempo de dizermos É preciso "uma luz no fundo do túnel", diz D. António Francisco dos Santos, que reclama caminhos alternativos à austeridade. Entrevista à Renascença, por ocasião do primeiro aniversário da sua nomeação. Por Henrique Cunha
A experiência de austeridade sem resultados práticos visíveis levou muitos portugueses a perderem a confiança nos políticos, diz D. António Francisco dos Santos, que cumpre esta semana um ano enquanto bispo do Porto. "Precisamos de uma forma nova de ser líder e de ser protagonista, de ser governante e de ser responsável deste país", diz numa entrevista para ouvir na Renascença esta quarta-feira às 23h00. Uma nova forma que passa por "dizer a verdade" aos cidadãos. Portugal viveu um período de ajustamento que, dizem as próprias estatísticas, aumentou as assimetrias, sitiou a classe média e fez aumentar o número de pobres. À crise económica junta-se ainda uma crise de confiança nas instituições e, em particular, na classe política. Precisamos de uma nova forma de pensar a política perante o estigma da corrupção? Sem dúvida. A experiência que vivemos, de um esforço de austeridade muito intenso sem se ver no horizonte próximo os resultados, muitas vezes pode ter levado muitos de nós a desanimar e a perder a confiança. Penso que o valor que não podemos perder é a confiança em nós próprios, nos outros e também naqueles que nos governam. É tempo de dizermos que há caminhos novos a percorrer. O esforço tem de ter o seu resultado e o trabalho que se realizou até aqui tem agora de criar patamares novos de desenvolvimento da economia e de justiça social, de equidade entre todos para que as provações e as dificuldades não pesem sobre aqueles que menos têm. É tempo de dizermos "basta" ao sacrifício e ao sofrimento dos mais pobres e é tempo de dizermos que todos somos necessários para construir um futuro melhor em que as desigualdades sejam diminuídas e em que a justiça seja a resposta. Em que o futuro para os jovens, para os idosos e para as famílias veja uma luz no fundo do túnel e comecemos a percorrer caminhos novos de esperança com confiança uns nos outros. E a classe política está preparada para esse caminho? Tem de estar e têm de estar todos. Isto não se faz só com grupos, só com alguns partidos, só com determinadas pessoas. Isto faz-se quando nos respeitarmos a todos, quando nos implicarmos a todos,
quando sentirmos que todos somos necessários e todos estamos envolvidos. Todos somos imprescindíveis na construção de um país melhor. Se o país pensa que pode dispensar seja quem for está a percorrer um caminho errado. E se alguém se pretender marginalizar ou colar-se ao deste esforço colectivo também não está a contribuir par o bem comum. Penso que o bem comum tem de ser uma meta e um objectivo que todos temos de procurar, em conjunto. Neste diálogo conjunto, nós podemos fazer de Portugal um país melhor, mais justo, mais solidário, onde as novas gerações possam colocar os talentos a render e onde os idosos sintam que contribuíram e que o tempo em que viveram não foi um tempo que agora é ignorado ou desvalorizado. E precisamos, por exemplo, ao nível político, de novos protagonistas que encarnem esse novo caminho? Precisamos de uma forma nova de ser líder e de ser protagonista, de ser governante e de ser responsável deste país. Através de uma forma de falar claro, de dizer a verdade, de dar as mãos em conjunto para todos construirmos o bem. E isso pode-se fazer com pessoas que sintam o seu coração disponível e que sintam que, mais do que o interesse próprio, está o interesse de todos e o bem comum a construir. E que papel está reservado aos cristãos para dar confiança às instituições e à política de que fala? Eu penso que aos cristãos está reservado desde sempre, desde o tempo de Jesus Cristo, o seu compromisso no meio do mundo. Os cristãos têm de ser trabalhadores incansáveis por um mundo mais juto e por uma sociedade mais fraterna. Cada um no seu lugar, na sua família, na sua comunidade, na sua profissão, na sua responsabilidade, tem de fazer o melhor, de acordo com os critérios do Evangelho, segundo o paradigma que Jesus nos veio trazer para esta sociedade onde todos queremos ser próximos e irmãos uns dos outros. Eu creio que o Papa Francisco hoje nos ensina que não podemos viver apenas de teorias, nem apenas de convicções, nem apenas de doutrina. Temos de exercitar na experiência diária da nossa vida aquilo em que acreditamos. Mais acção e sobretudo melhor acção. Nós sabemos que Deus nos ama. Temos de comunicar isso sem medo, sem receio, sem subterfúgios, com convicção e com alegria. Depois, temos de traduzir em obras aquilo que a fé nos oferece em convicção. E por isso as nossas obras revelam que a nossa fé está viva e que a nossa fé é actual e tem um contributo a dar ao mundo moderno e que tem uma expressão concreta na nossa família, no nosso bairro, na nossa cidade, na nossa aldeia, na nossa comunidade paroquial, no nosso trabalho, no nosso compromisso político, na nossa intervenção social, no nosso voluntariado generoso, nas iniciativas criativas que os jovens têm. Os jovens vão muitas vezes já muito longe de nós. Precedem-nos no caminho porque eles vêem com uma clareza e uma transparência de espírito que não está presa nem a interesses, nem a conveniências, nem a calculismos. Eles vêem que o caminho do futuro passa por outros critérios que não os calculismos interesseiros. Eles têm a visão da utopia que o Evangelho também nos oferece e que Deus nos revela.
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Quinta-feira, 19-02-2015
Nesta Quaresma, o Papa convida a Igreja e a sociedade a superar "o mar da indiferença" que ignora o sofrimento de milhões de pessoas em todo o mundo. Este é um dos grandes problemas da actualidade, a forma como arranjamos argumentos para evitar o outro? Esse é certamente um dos grandes problemas. Na perspectiva do Papa Francisco é por aí que a Igreja tem de ajudar o mundo a repensar-se e a descobrir que neste mar de indiferença em que tanta gente vive, nós temos de ser terra de misericórdia, de bondade e de proximidade. E a mensagem do Papa é um desafio extraordinário: que todas pessoas sejam reconhecidas, respeitadas e valorizadas na sua dignidade humana, na sua vida, na sua relação com os outros e na construção de um mundo melhor. E como é que se consegue fazer essa mudança? Primeiro, através da conversão do coração de cada pessoa. Ninguém nos deve ser insensível, ignorado, esquecido, marginalizado, ninguém deve ser abandonado. Foi isto que Jesus Cristo nos ensinou. E é este caminho que a Igreja tem de percorrer. Mas existe resistência à mudança... Muita resistência. Nós vivemos 21 séculos depois da mensagem cristã e vemos que ainda estamos tão longe de construir uma humanidade onde a fraternidade, o reconhecimento, o valor do outro, o assumir do lugar do outro na nossa vida está muito distante. Para vivermos a Páscoa temos de vencer este mar de indiferença e aproximarmo-nos uns dos outros. Outra ideia forte do Papa Francisco é a do combate à pobreza e desigualdade. No domingo pediu uma Igreja que acolha os marginalizados. Esta insistência do Papa faz crer que é preciso combater a ideia de uma Igreja instalada, acomodada? É sobretudo preciso reconhecer que a Igreja tem uma missão e um compromisso a desenvolver. E este compromisso é de respeito por todos, mas sobretudo de atenção aos mais pobres. E é para eles que a Igreja mais deve trabalhar: na aproximação aos que estão desempregados, aos jovens que não têm futuro, aos que não têm casa, aos sem-abrigo, aos que são marginalizados, a este mundo imenso de refugiados, e de proscritos dos seus países que morrem, como as crianças na Síria. Tantos milhões de pessoas que vivem vítimas da violência, da guerra. A Igreja não pode calar a sua voz e não basta falar. É preciso ter gestos concretos em que estes males se vão erradicando e se vão eliminando. Por isso, a Quaresma também de ser, com o esforço do coração e com a intensificação da oração, um espaço de partilha e de solidariedade com aqueles que estão a sofrer mais e a viver momentos de provação. O Papa Francisco não se cansa de nos alertar para esse dever e a Igreja não se pode cansar de realizar essa missão. E como é que a Igreja em Portugal se está a adaptar a esta mensagem? A Igreja em Portugal esteve desde sempre, e desde o início da eleição do Papa, muito atenta a acolher a mensagem e a seguir os seus passos. Todo o esforço que as instituições estão a promover no sentido de ajudar os mais necessitados e na denúncia de injustiças... A Igreja tem de estar na primeira linha. Por vezes é acusada de não o fazer.
É natural que nem tudo o que se tem feito tenha tido a visibilidade e o efeito benéfico que gostaríamos que tivesse, mas o é certo é que nos momentos determinantes, perante situações de injustiça, a Igreja não se tem cansado de as denunciar. E não esgota a sua missão na denúncia, mas sim no anúncio e na construção de meios e de formas em que a igualdade e a justiça sejam respeitadas. Cumpre esta semana o primeiro ano da sua nomeação como bispo do Porto. 2014 foi um ano atípico? Foi um ano inesperado. 2014 era um ano em que eu tinha um trajecto definido, depois de um trabalho de acção pastoral programado para terminar no fim de 2013 na diocese que servia [Aveiro]. O Papa Francisco convidou-me a deixar a diocese em que servia como bispo há oito anos e a iniciar, no Porto, um trabalho novo no ministério episcopal. Foi assim um ano inesperado. E ficou surpreendido com o estado da diocese? Fiquei surpreendido na medida que tudo era conhecimento novo. 2014 foi para conhecer, primeiramente a própria geografia da diocese, que é muito grande na sua diversidade e ao mesmo tempo muito bela na sua unidade, com um percurso de 15 séculos. Eu vinha de uma diocese que tinha 75 anos de vida. O Porto tem dinâmicas que vêm de longe e dinamismos muito interessantes. É preciso conhecer as pessoas e as comunidades. Para lá do valor da história tem a riqueza de 2.300 milhões de habitantes e 477 paróquias. Tem paróquias a mais? Tem as paróquias que a história foi delimitando e definindo. Na estrutura actual, nós temos paróquias que estão unidas umas às outras. Se hoje se fizesse a reorganização administrativa, eclesiástica, as paróquias teriam uma redefinição diferente. Sente essa necessidade de redefinir? Sentimos a necessidade de um trabalho interparoquial. Mais consistente, mais criativo e com a ousadia de ir vencendo algumas barreiras, mas respeitando também a tradição de muitos séculos. Mas isso é um problema mais do interior da diocese? Tem duas facetas. Nas zonas urbanas a densidade populacional é maior; noutras – por exemplo, na zona história do Porto – é menor. E o trabalho interparoquial tem todo o sentido numa zona urbana. Nas zonas rurais essa inter-paroquialidade tem outra vertente, mas não deixa de ser também importante até porque há menos população e porque há realidades e iniciativas pastorais que podem ser conjuntas. Essa é uma das urgências pastorais que nós teremos sempre presente. É o trabalho na comunhão entre as várias paróquias, a valorização das vigararias e o sentido da vida e da unidade diocesana. Eu creio que estes três aspectos são fundamentais para percebermos como queremos trabalhar no todo da geografia diocesana. Essa é uma das reformas da Igreja do Porto? É sem dúvida. Vamos por aí. Primeiro para assumirmos todos com alegria a beleza do sentido da vida da diocese, na sua comunhão que vai de Antuã ao Ave e do mar ao Marão. E ao mesmo tempo para valorizarmos o trabalho pastoral das vigararias e da inter-paroquialidade. Sinto que os nossos sacerdotes estão muito disponíveis para este trabalho e para esta
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forma de renovação pastoral. Falamos das dificuldades que o país vive. A Igreja do Porto também vive tempos de alguma complexidade ao nível económico-financeiro? Vive certamente. A diocese tem despesas avultadas. Tem responsabilidades financeiras acumuladas ao longo do tempo, mas também capacidade. Temos que contar muito com a generosidade das paróquias, das comunidades e das pessoas. E isso não me intimida. Eu creio que o que importa é termos no horizonte do nosso trabalho, também aqui no campo financeiro, o conhecimento e uma planificação de uma estratégia estrutural que possa valorizar, primeiro, as receitas que são as normais, mas também o contributo da generosidade das pessoas e das comunidades. Haverá mudanças a esse nível? Certamente. Estamos fazer um estudo da realidade para depois propor-nos iniciativas concretas nesse sentido. Para 2015 há algum lema especial? O nosso lema pastoral é fazer da "Alegria do Evangelho" a nossa missão. Isto vincula-nos à exortação apostólica do Papa Francisco, sobre a "Alegria do Evangelho", que ele quis que fosse o texto programático do seu ministério como sucessor de Pedro e, ao mesmo tempo, paradigmático da forma como ele vê a Igreja. Esse é o nosso lema. Se conseguirmos motivar as pessoas e mobilizar as comunidades, teremos uma diocese que caminha ao mesmo ritmo, que se renova, que se transforma e que se torna sinal de mudança e de renovação para o mundo. E o bispo do Porto vai estar pouco tempo no Paço Episcopal? Sim, para poder ir ao encontro de todas as pessoas e para poder estar mais nas comunidades. Não podemos ser uma Igreja que apenas recebe, que apenas diz "vem". Temos de ser uma Igreja que sabe ir, que sabe estar e que sabe encontrar-se com todos, independentemente da sua origem, do seu credo e estatuto social. Estar, sobretudo, junto daqueles que mais precisam, dos mais pobres e dos que mais sofrem, porque é para eles que o rosto de Deus e o olhar de Deus mais deve estar presente. Aliás, na reflexão que o Papa fez aos novos cardeais no sábado – e também na homilia de domingo – diz-nos muito isso: é necessário que a Igreja saiba ir ao encontro de todos, sem medo de perder algo de si. Em cada uma daqueles que encontra, dizia o Papa Francisco, ganha um irmão.
INÍCIO DA QUARESMA
Precisa-se: corações fortes para combater a indiferença Três católicos e um não crente comentam a mensagem do Papa. Guilherme d'Oliveira Martins, Catarina Martins, Henrique Pinto e Pedro Adão e Silva reflectem sobre o desafio colocado por Francisco.
Fotos: Lusa/DR Por Filipe d'Avillez
No dia em que começa a Quaresma, a Renascença pediu a quatro figuras da sociedade portuguesa (três católicos e um não crente) para comentarem a mensagem do Papa para estes 40 dias de penitência que antecedem a Páscoa. Francisco convidou a sociedade a superar o "mar da indiferença". "Quando estamos bem e comodamente instalados esquecemo-nos facilmente dos outros, não nos interessam os seus problemas, nem as tribulações e injustiças que sofrem. Assim, o nosso coração cai na indiferença", escreveu o Papa na mensagem para a quaresma. A "atitude egoísta de indiferença" atingiu "uma dimensão mundial tal que podemos falar de uma globalização da indiferença", lamenta. A caridade enquanto exigência perante o nosso próximo Guilherme d' Oliveira Martins, presidente do Tribunal de Contas e do Centro Nacional de Cultura, católico Foto: Lusa A mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2015 é muito forte e articula-se com o que o Papa nos tem dito sobre o combate à indiferença e a necessidade de nos empenharmos na ajuda aos outros, na compreensão dos outros, e por isso o título é: "Fortalecei os vossos corações". Falar da necessidade de fortalecer os nossos corações é, antes de mais, perceber aquilo que São Paulo nos diz, de que se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros. A crise é o pano de fundo desta mensagem. O Papa não usa a palavra crise, mas fala da necessidade de estarmos atentos e de cuidarmos
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daquilo que nos rodeia. Há profundas injustiças que a crise gerou e agravou e é por isso que esta mensagem deve ser lida em paralelo com a exortação apostólica "Evangelii Gaudium", designadamente quando o Papa muito claramente diz: "Cuidado, aqueles que pensam que o mercado só por si vai resolver as injustiças estão profundamente enganados, porque o mercado nesse particular é cego e, sendo cego, é indispensável que nós, cristãos, possamos contrapor a atenção e o cuidado." Falar de cuidado é falar da caridade. A virtude da caridade é hoje mais importante que nunca, e não é uma virtude defensiva, é uma virtude afirmativa. Se alguém sofre ao nosso lado, muitas vezes não o exprimindo, porque a pobreza pode ser encoberta, todos sofrem, pelo que é indispensável termos respostas adequadas. Há um segundo ponto em que o Papa nos pergunta: "Onde está o teu irmão?". É uma afirmação muito forte, que vem a propósito da relação entre Caim e Abel. A morte de Abel obriga a perceber que descurámos o cuidado do nosso irmão, mas de facto a caridade é um dever, uma responsabilidade, uma exigência, perante o nosso próximo. A terceira ideia tem a ver justamente com o título: "Fortalecei os vossos Corações". Temos de combater a tentação da indiferença. Diz o Papa que estamos saturados de notícias e imagens impressionantes que nos relatam o sofrimento humano, sentindo ao mesmo tempo toda a incapacidade de intervir. Que fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de terror e impotência? É um apelo a todos nós que abrimos as televisões, que vemos na internet, tudo aquilo que se passa, sendo que o nosso coração fica de algum modo indiferente. Tanta é a dificuldade, tanto é o terror, que dizemos que nada podemos fazer. O Papa vem dizer: fortalecei os vossos corações e estai atentos para garantir que afinal os outros não são algo de distante e indiferente, relativamente àquilo que devemos fazer. Contra a "nova normalidade" Pedro Adão e Silva, professor universitário, não crente Foto: DR A força da voz depende sempre da capacidade, por um lado de mobilizar os crentes e, por outro, de interpelar os não-crentes. Aliás, há uma passagem em que o Papa diz mesmo que a Igreja não pode viver fechada sobre si mesma. Esta mensagem em particular interpela os não crentes, como é o meu caso, porque tenta ter uma resposta para as questões que se nos colocam e que se colocam hoje na nossa vida quotidiana. Há duas dimensões que me interpelam nesta mensagem. Uma é a forma como a compaixão e a capacidade de nos colocarmos no lugar dos outros surge e é enfatizada. Isso está articulado com a segunda dimensão, que é a expressão que o Papa usa: a "globalização da indiferença". A forma como estamos saturados com os relatos diários do sofrimento humano, a forma como lemos, vemos e ouvimos esses relatos com alguma indiferença, é uma nova normalidade, que é talvez o principal mal dos nossos
dias. O que o Papa aqui sugere é que a solidariedade e a compaixão podem ser uma resposta aos egoísmos e à fragmentação e a esta anomia social. Isto é particularmente premente nos nossos dias. A última nota que gostava de salientar é a forma como o Papa de certa forma tenta materializar um princípio espiritual, que é o compromisso com o mundo de que fala. Ou seja, isto não é apenas uma mensagem espiritual, pelo contrário, é uma tentativa de transpor um princípio numa prática e materializá-lo. O poder da oração Catarina Martins, directora da fundação Ajuda à Igreja que Sofre, católica Foto: DR Na sua mensagem da Quaresma, o Papa Francisco pede-nos para não subestimarmos a força da oração e deixa também uma ideia muito clara que para nós, na Ajuda à Igreja que Sofre, tem muito sentido: se um membro está a sofrer, todos os membros sofrem com ele. Estas duas imagens que o Papa Francisco deixa na sua mensagem são muito importantes para nós na Ajuda à Igreja que Sofre. A oração, nós sabemos que é fundamental. A primeira coisa que nos pedem todas as pessoas que nos ligam, que nos telefonam e escrevem e-mails a contar as situações dramáticas que vivem nos seus países, são orações. Orações para continuarem a ter força, para continuarem a ter fé, para continuarem a estar e serem um testemunho de Deus naquele país. A outra mensagem, de que se um membro sofre, todos os membros sofrem, é também muito importante para nós porque é nesta citação que se baseia o nosso trabalho. Se temos alguém no mundo que está a sofrer porque é cristão, porque está a ser perseguido pela sua fé, nós, cristãos do Ocidente, também estamos a sofrer e com eles vamos aprender que neste sofrimento também há muita alegria. Eles dão-nos um exemplo de fé que para nós, que vivemos aqui na Europa, é muito importante receber. Esta é uma mensagem que nos mostra o poder da oração, que é um valor imenso, incalculável, e tão importante para quem está no terreno e necessita dela. A necessidade de nos sentirmos comunidade Henrique Pinto, fundador da Impossible – Passionate Happenings e responsável pela campanha "Movimento Pobreza Ilegal", católico Foto: DR Esta mensagem está na linha de uma Igreja que o Papa quer pobre, para os pobres. É um texto que toca num ponto que no meu entender é principal factor para tantas assimetrias, tanta pobreza e empobrecimento, do qual todos os dias muita gente se lamenta: a globalização da indiferença. Hoje vivemos tremendamente indiferentes em relação à história dos outros. Vivemos como se a história e o destino dos outros não nos diz respeito. O Papa contesta isso e contesta-o a partir da própria revelação, quando diz que Deus não é um Deus indiferente, porque se O fosse não teria encarnado, não teria Ele mesmo vivido um abandono de Si mesmo, a favor da humanidade, da criação, de tudo quanto é, obra
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querida e amada por Deus. E é à imagem de um Deus que não é indiferente, em Jesus, que ele convida todas as paróquias e comunidades a serem missionárias, para poderem ser ilhas de misericórdia que vão para fora de si mesmas e vão ao encontro dos outros, porque a mensagem do Evangelho não é uma mensagem apenas para um pequeno grupo, um grupo de crentes, de cristãos, mas para toda a humanidade. Creio que o Papa se dá conta que actualmente, sobretudo no Ocidente, vivemos uma experiência remota de comunidade, porque combater a indiferença, esta globalização da indiferença, exige que nos sintamos e vivamos como comunidade. Como o Papa diz, sendo todos parte de um todo, havendo quem no todo esteja mal todos os outros membros se devem sentir mal e devem preocupar-se com esse membro da comunidade que está mal, sendo ele eventualmente pobre, desempregado, imigrante, marginalizado, abandonado. V+ INFORMAÇÃO
Três vozes contra o "pecado" da austeridade (e uma dissonante) Neste noticiário: veja como no mesmo dia, o presidente da Comissão Europeia, o bispo do Porto e o cardeal patriarca se fazem ouvir sobre a austeridade e a troika; a destoar o ministro das Finanças alemão, na companhia de Maria Luís Albuquerque, diz que Portugal é a "prova" de que "funciona"; demissão no Hospital de Santa Maria; a aventura de Porto e Sporting na Europa. Por Edição de Maria João Cunha
Director do Hospital de Santa Maria abandona o cargo A mexida na administração do maior hospital do país acontece na mesma semana em que 28 directores de serviço do Hospital Amadora-Sintra apresentaram a demissão, alegando falta de condições de trabalho. Por André Rodrigues
O director clínico do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, Miguel Oliveira e Silva, abandonou o cargo. É mais uma demissão no sector da saúde e há duas versões para a explicar. De acordo com o “Diário de
Notícias”, haverá um quadro de incompatibilidade com as restantes equipas da maior unidade hospitalar do país, mas Miguel Oliveira e Silva avança outro motivo: questões académicas. O jornal acrescenta que Oliveira e Silva não terá conseguido estabelecer um ambiente de trabalho saudável com os colegas e a relação com os directores de serviço terá sido sempre conflituante. O mal-estar acabou mesmo por alastrar aos restantes médicos do hospital. Mas não é tudo: em Dezembro, o director demissionário comunicou ao conselho de administração a compra de material cirúrgico sem caderno de encargos, o que foi visto como uma suspeição generalizada pelo director clínico. Após esse episódio, Miguel Oliveira e Silva diz ter sido alvo de inúmeras pressões. Esta saída da direcção clínica do maior hospital do país acontece três meses depois de Oliveira e Silva ter sido indicado pela própria administração do Santa Maria e nomeado pelo ministro da Saúde, Paulo Macedo. O substituto deverá ser conhecida esta quinta-feira. O “DN” refere que Margarida Lucas, a actual directora do serviço de urgência do Santa Maria, será o nome escolhido. A mexida na administração do Santa Maria acontece na mesma semana em que 28 directores de serviço do Hospital Amadora-Sintra apresentaram a demissão, alegando falta de condições de trabalho.
Pediatra é a nova directora clínica do Hospital AmadoraSintra Um grupo de 28 dos 33 directores de serviço apresentou demissão, em ruptura com a administração do hospital. O director clínico retirou-se do cargo e esta quarta-feira foi conhecido o nome do seu substituto. Helena Isabel Almeida, pediatra do quadro, é a directora clínica do Hospital Amadora-Sintra. O nome indicado pelo conselho de administração foi acolhido pelos directores de serviço demissionários e ao que a Renascença apurou, junto de fonte do hospital, a nova responsável deve reconduzi-los no cargo. O nome foi anunciado na final reunião, desta quartafeira, entre a administração do hospital e os 28 chefes de serviço que se demitiram por falta de condições de trabalho. Na sequência desta tomada de posição, o director clínico Nuno Alves apresentou demissão. Na reunião, a administração "esclareceu detalhadamente todas as questões apresentadas na carta assinada pelos 28 directores de serviço, nomeadamente: recursos humanos, investimentos e actividade assistencial". "Estas questões têm merecido a atenção e esforços no sentido da sua resolução por parte deste conselho",
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lê-se na nota enviada à comunicação social. A administração reconhece que "ficou também demonstrado que as preocupações manifestadas pelos directores dos serviços clínicos têm tido acolhimento do conselho de administração, como evidenciado na posição manifestada nos relatórios e contas, efectuados nos últimos três anos". A mesma nota refere que a administração do AmadoraSintra "manifestou também a disponibilidade para a elaboração de um documento conjunto, a enviar à tutela, no sentido de apresentar, uma vez mais, os problemas e respectivas propostas de solução". Em carta, os médicos afirmam que se assiste, desde há dois anos, a uma "progressiva degradação da capacidade de resposta às adversidades e uma diminuição preocupante da qualidade assistencial".
Mais dinheiro, mais férias e outras benesses para médicos que se fixem no interior Propostas do Governo, que são válidas por cinco anos, estão em discussão pública. Estão previstas penalizações para quem não cumprir o acordado.
Também está previsto o aumento para o dobro das licenças (que agora são de 15 dias úteis) para formação e actualização profissional sem perda de remuneração. Estes benefícios não existem em mais nenhum sector da função pública e são válidos por cinco anos. Se o médico mudar de ideias antes de chegar ao fim do tempo vai ter de devolver parte do dinheiro ficará impedido de exercer no Serviço Nacional de Saúde (SNS) durante dois anos e de se candidatar a novo regime de incentivos no prazo de cinco. Para que os candidatos possam concorrer, as zonas com falta de médicos vão ser identificadas no primeiro trimestre de cada ano por estabelecimento de saúde e especialidade. O Ministério da Saúde não indica quantos médicos podem beneficiar deste incentivo, mas o ministro Paulo Macedo já disse que esta medida vai custar entre dois a quatro milhões de euros por ano. As propostas do Governo estão em discussão pública desde 13 de Fevereiro.
Medicamento para a hepatite C comparticipado a 100% e dado a quem precisa Acordo com o laboratório foi assinado às 21h00 de terça-feira. Presidente do Infarmed revela que 44 doentes já foram dados como curados, graças a esta terapêutica.
Foto: Lusa Por Anabela Góis
O Governo quer pagar mais aos médicos que aceitem trabalhar nas zonas do interior do país, onde há falta destes profissionais. Para além de um incentivo de mil euros por mês, os clínicos vão também receber compensações para despesas de deslocação e de transporte, ter direito a mais dois dias de férias por ano e ainda a garantia na transferência de escola para os filhos e facilidades na colocação de emprego para o cônjuge. Os médicos que optarem por trabalhar no interior do país vão receber uma compensação de mil euros por mês no primeiro semestre, valor que passa para metade nos seis meses seguintes. A partir daí esta compensação será de 250 euros, até ao final do contrato de cinco anos.
Foto: DR
O medicamento inovador Sofosbuvir para o tratamento da hepatite C está desde as 21h00 de terça-feira comparticipado a 100% pelo Estado e será administrado a todos os doentes que dele precisarem, garante o presidente do Infarmed. Eurico Castro Alves falava no final de uma reunião com todos os presidentes dos conselhos de administração e os directores clínicos dos hospitais que tratam a hepatite C em Portugal, o Infarmed e o secretário de Estado da Saúde. De acordo com o presidente do organismo que regula o
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sector do medicamento, o acordo com o laboratório foi assinado às 21h00 de terça-feira e desde então está a ser comparticipado a 100% pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS). 44 casos de sucesso Este procedimento refere-se aos 95% dos doentes que devem ficar curados com o Sofosbuvir ou outros semelhantes, estando previsto para os restantes cinco por cento o recurso a autorizações de utilização excepcional, que o Infarmed se propõe responder em dois dias. Eurico Castro Alves garante que todos os doentes que precisam de tratamento vão receber os fármacos e acrescentou que actualmente existem 602 a receber o Sofosbuvir. O dirigente disse ainda que 44 doentes foram já dados como curados, graças a esta terapêutica. O Sofosbuvir é um antiviral usado no tratamento da hepatite C e que tem uma taxa de cura superior a 90%. Em Portugal, o Ministério da Saúde chegou a acordo com o laboratório para fornecer o tratamento gratuitamente a 13 mil doentes.
Pedido para revisão da lei do aborto entregue no Parlamento Mais de 48 mil signatários querem "maior apoio à natalidade e à paternidade, que seja reconhecido o direito a nascer e que se criem medidas de apoio concreto às famílias". Já foi entregue à presidente da Assembleia da República a iniciativa legislativa de cidadãos sobre "apoio à maternidade e paternidade e pelo direito a nascer". A presidente da Federação Portuguesa pela Vida, Isilda Pegado, disse aos jornalistas, após o encontro com Assunção Esteves, que "esta é uma iniciativa legislativa em que o povo apresenta no Parlamento um projectolei". "Isto é, o povo apresenta a lei que pretende que veja ser aprovada dentro desta casa". Isilda Pegado reforça que o objectivo desta iniciativa é que "haja um maior apoio à natalidade e à paternidade, que seja reconhecido o direito a nascer e que se criem medidas de apoio concreto às famílias e, acima de tudo, para que Portugal possa crescer na natalidade". Foram recolhidas 48.115 assinaturas em menos de três meses.
Oposição quer compensações mais rápidas para famílias de pescadores A actual legislação prevê que só passados dez anos é que se pode presumir a morte dos pescadores, mas os partidos da oposição querem encurtar esse prazo. Por Susana Madureira Martins
A Assembleia da República discute esta quinta-feira três projectos de lei para diminuir o prazo de reconhecimento de morte dos pescadores desaparecidos em caso de naufrágio. A lei em vigor prevê que passem dez anos até que seja reconhecida a morte dos pescadores. O Partido Socialista, Partido Comunista e Bloco de Esquerda querem encurtar esse prazo para agilizar os processos de indemnizações, seguro e pensões às famílias. Os três partidos reagem com iniciativas legislativas ao drama das famílias dos pescadores do "Mar Nosso", a embarcação de Viana do Castelo que em Abril do ano passado naufragou nas Astúrias. Há dois pescadores desaparecidos e os familiares mantêm-se sem acesso a indemnizações. A actual legislação prevê que só passados dez anos é que se pode presumir a morte dos pescadores, mas os partidos da oposição querem encurtar esse prazo, explica o deputado comunista João Ramos. "Enquanto não é presumida a morte toda a vida da família fica um bocadinho em suspenso, quer no acesso às indemnizações, e é verdade que o comportamento das seguradoras já é diferenciado. Há seguradoras que pagam muito mais rapidamente, mas outras não. Há depois todo um processo de registo civil, de mexer nos bens, do acesso a pensões, que para tal é necessário que a pessoa que faleceu seja registada no Registo Civil o seu óbito e isso só acontece, segundo a legislação, passado dez anos", refere João Ramos.
Governo quer criminalizar apologia ao terrorismo Conselho de Ministros discute, esta quintafeira, a Estratégia Nacional Contraterrorista. Por Celso Paiva Sol
O Conselho de Ministros discute, esta quinta-feira, a Estratégia Nacional Contraterrorista que prevê, entre outras medidas, a criminalização da apologia do terrorismo e a definição de critérios mais apertados
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para a concessão da naturalização. O documento, que tem sido mantido sob reserva em S. Bento e vai implicar que se proceda a uma série de ajustes, sobretudo no Código Penal, chega ao plenário do Governo depois de algumas semanas de debate, durante as quais foram também ouvidas todas as forças e serviços de segurança, a Procuradoria-Geral da República e todos os partidos com assento parlamentar. As alterações previstas são inspiradas por sucessivas reflexões que há quase uma década vêm sendo feitas na União Europeia e nas Nações Unidas e que, face ao ambiente geral de ameaça que se verifica no espaço europeu, saem agora definitivamente da gaveta. No caso português, a estratégia contraterrorista prevê mexidas pontuais em quase uma dezena de leis algumas de forma mais imediata, outras ainda dependentes de reformas ainda em curso e, portanto, de mais médio e longo prazo. A prioridade vai para o reforço legal daquilo que polícias e serviços secretos podem fazer, sobretudo na fase da detecção e prevenção de eventuais ameaças. Propõem-se mais mecanismos para descobrir, vigiar e infiltrar organizações terroristas, que as autoridades tenham poder de actuar de forma mais incisiva na internet, bloqueando por exemplo sites conotados com o terrorismo, que o Código Penal passe a incluir o crime de apologia ao terrorismo, ou seja, mais do que incitar, também o simples facto de louvar actos terroristas e ainda alterações cirúrgicas na Lei da Nacionalidade, com critérios mais apertados para a concessão da naturalização. A nova estratégia contraterrorista prevê ainda uma maior centralização de informação e capacidade de gestão de meios na Secretaria Geral do Sistema de Segurança Interna, bem como um maior envolvimento do Ministério Público em todos os cinco pilares que servem de base ao documento: A detecção, a prevenção, a protecção, a perseguição e a resposta.
Passos e Portas juntos nas Jornadas do Investimento Iniciativa da maioria PSD/CDS vai contar com a presença do chefe do Governo e do vice-primeiro-ministro.
Pedro Passos Coelho e Paulo Portas assinalam hoje o arranque das Jornadas do Investimento, a primeira de várias "sessões políticas" que a actual maioria PSD/CDS-PP organiza em conjunto até ao final do mês. O encontro está marcado para as 19h00, num hotel de Lisboa. Além do líder do PSD e primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e do presidente do CDS-PP e vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, estarão presentes os presidentes das distritais de Lisboa dos dois partidos, além do secretário de Estado da Inovação, Investimento e Competitividade. Nos dias seguintes, dirigentes dos dois partidos e membros do Governo percorrerão o país em mais sessões políticas, onde se pretende apresentar "as estratégias de investimento" dos sociais-democratas e dos democratas-cristãos. De acordo com informações disponíveis no site do PSD, na sexta-feira irão realizar-se mais três sessões das jornadas, na Lourinhã, em Castelo Branco e Bragança (Macedo de Cavaleiros). Além de dirigentes locais dos dois partidos, na Lourinhã está também presente a ministra da Agricultura e do Mar, Assunção Crista, enquanto em Castelo Branco é esperada a presença do secretário de Estado da Administração Interna, João Almeida, e em Bragança estará presente o secretário de Estado das Finanças, Manuel Rodrigues. No sábado irão realizar-se mais três sessões das "Jornadas do Investimento", com o secretário de Estado do Emprego, Octávio Oliveira, a deslocar-se a Viana do Castelo, o secretário de Estado da Inovação, Investimento e Competitividade, Pedro Gonçalves, a deslocar-se até Santarém, e o ministro da Saúde, Paulo Macedo, a marcar presença na sessão em Vila Pouca de Aguiar (Vila Real). Na terça-feira, o ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro, estará em Setúbal. Quarta-feira será a vez do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio, participar na sessão que irá decorrer em Beja, enquanto o ministro da
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Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, Jorge Moreira da Silva, estará em Coimbra.
Obras públicas não seguem recomendações do Tribunal de Contas
Costa apresenta proposta fiscal "repescada" a Seguro O líder do PS propôe alterações na área fiscal para dinamizar a economia e as empresas.
Das 27 recomendações formuladas pela instituição em 2009 só 13 foram acolhidas. Menos de metade das recomendações do Tribunal de Contas feitas na auditoria de 2009 a obras públicas foram acolhidas seis anos depois, tendo até aumentado o recurso a ajustes directos. De acordo com a instituição, das 27 recomendações formuladas só 13 foram acolhidas, sendo que apenas oito totalmente e cinco tiveram um acolhimento parcial. No documento divulgado esta quarta-feira, uma auditoria de seguimento ao acolhimento das recomendações formuladas no relatório de 2009, o tribunal considera que persistem problemas que carecem de solução, tendo até identificado um aumento do recurso a ajustes directos. "Constata-se que as entidades adjudicantes têm vindo a aumentar o recurso a procedimentos contratuais não competitivos, pela crescente adopção de ajustes directos, contrariamente ao recomendado pelo Tribunal", lê-se na auditoria, que realça que o recurso a este procedimento "não garante que o custo financeiro e o prazo de execução das obras públicas sejam os economicamente mais vantajosos para o interesse público". O tribunal defende que só se deve aceitar a utilização dos ajustes directos "quando se demonstre inviável qualquer outra solução procedimental que melhor salvaguarde o princípio da concorrência". Nos empreendimentos públicos continua também sem solução a falta de estudos prévios, incluindo de análise custo-benefício que tenha em consideração o custo do ciclo de vida dos projectos, os atrasos na entrega e a sua falta de revisão, bem como a previsão rigorosa de custos e prazos. No relatório, a instituição refere ainda a falta de um sistema de incentivo e de penalizações para os que assessoram o dono da obra e o estabelecimento de um regime que fomente a estabilidade e a responsabilização dos responsáveis pelos empreendimentos das grandes obras públicas não tiveram acolhimento por parte do Governo. Pelo lado positivo, o Tribunal de Contas refere a entrada em vigor do Código dos Contratos Públicos como o factor mais determinante para o acolhimento das recomendações feitas em 2009.
António Costa esteve na Assembleia da República. Foto: Tiago Petinga/Lusa Por Susana Madureira Martins
Depois do anúncio na semana passada da recuperação de propostas de António José Seguro sobre enriquecimento injustificado, António Costa avançou esta quarta-feira com mais uma medida segurista. O líder do PS propôs alterações na área fiscal para dinamizar a economia e as empresas. "[As medidas querem] garantir que, em sede de IRC, se uma empresa se for financiar à banca conta como custo. Se se financiar nos sócios isso não conta como custo. Assim como, em sede de IRS, valia a pena dar um incentivo positivo aos sócios das empresas que investem nas empresas", disse o líder socialista na Assembleia da República, onde se reuniu com empresários. Estas medidas implicam alterações legislativas, mas António Costa afasta a ideia de reencetar negociações com a maioria parlamentar para mexer no IRC e no IRS. Para dinamizar a economia, o líder do PS propõe ainda que se dê uso aos dinheiros dos vistos dourados. "[Queremos] criar mecanismos que permitam, por exemplo, reorientar os investimentos mobilizados pelos vistos 'gold' – que têm sido usados sobretudo para escoar imobiliário paralisado na banca – para um fundo de capitalização que possa ser utilizado para capitalizar as empresas", exemplificou o socialista. António Costa voltou a propor que se agilizem os fundos comunitários para serem usados pelas empresas e que se defina o papel do Banco de Fomento.
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Créditos considerados irrecuperáveis são conhecidos, diz exdirector do BESA O BES Angola deu como irrecuperáveis 5,7 mil milhões de euros. Os empréstimos concedidos pelo BES-Angola e a que o banco perdeu o rasto considerando irrecuperáveis são conhecidos. É a garantia do ex-director do departamento de risco do BESA. João Moita esteve esta quarta-feira na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES. Com estas declarações este antigo quadro da sucursal angolana do Espírito Santo põe em causa o que tem sido dito por inúmeros ex-responsáveis do banco. “Para a dimensão que estamos a falar nem 20% nem 10% eram desconhecidos quanto mais 80%. Mais de 90% dos créditos são conhecidos”, disse. O BES Angola deu como irrecuperáveis 5,7 mil milhões de euros.
Portugal emite dívida de curto prazo com taxas históricas Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) colocou 1.250 milhões de euros em dívida de curto prazo e vai pagar uma taxa de 0,138%. Portugal conseguiu mais um sucesso no que toca à emissão de dívida, conseguindo o valor mais baixo de sempre nos Bilhetes do Tesouro a 12 meses. A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) colocou 1.250 milhões de euros em dívida de curto prazo. Vai pagar uma taxa inferior a 1%: mil milhões a 12 meses, com uma taxa de média de 0,138%, e 250 milhões a três meses, com uma taxa média de 0,061%. Filipe Silva, gestor de dívida do Banco Carregosa diz à Renascença que a taxa anunciada esta quarta-feira é “historicamente baixa” e praticamente igual a zero. É mais um sucesso da dívida pública portuguesa. O IGCP continua a conseguir baixar a sua taxa média de custo de financiamento da dívida portuguesa o que é extremamente positivo para os interesses nacionais”, considera. Na opinião deste especialista é um bom sinal Portugal não ter sido afectado pelas notícias negativas que têm existido à volta da Grécia. “Quer na emissão de obrigações de tesouro que fizemos este mês, quer agora nos bilhetes de tesouro
(que é a dívida mais a curto prazo) acabámos por assistir a novos mínimos históricos nas taxas e a não sentir qualquer tipo de contágio o que é muito positivo”, sublinha.
Sindicato dos Quadros Tecnicos do Estado marca greve para 13 de Março O sindicato está contra aquilo a que chama o “despedimento sem justa causa" a que o Governo chama requalificação. O Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE) marcou uma greve para dia 13 de Março. Os elementos do STE queixam-se da “manutenção de cortes salariais iniciados em 2011, do congelamento de progressão na carreira desde 2011, do sistemático adiamento dos procedimentos de revisão de carreiras, da não actualização do valor das pensões”. O sindicato está ainda contra o “despedimento sem justa causa a que o Governo insiste chamar ‘requalificação’”. “Aos trabalhadores cabe dizer: Basta”, lê-se ainda no comunicado.
Metro de Lisboa. Greves parciais a 24 e 27 de Fevereiro Paralisação decorrerá entre as 6h00 e as 9h00, para a generalidade dos trabalhadores, e as 9h30 e as 12h30 para os administrativos, apoio e técnicos superiores.
Foto: Tiago Petinga/ Lusa
Os trabalhadores do Metropolitano de Lisboa convocaram dois dias de greve parcial, para 24 e 27 de Fevereiro, anunciou a Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans). A paralisação decorrerá nos dois dias "entre as 6h00 e
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as 9h00, para a generalidade dos trabalhadores, e as 9h30 e as 12h30 para os trabalhadores administrativos, apoio e técnicos superiores". Esta greve parcial, a primeira este ano, faz parte da "luta em defesa da empresa como empresa pública ao serviço dos utentes e pela defesa dos postos de trabalho, do Acordo de Empresa e em defesa da sua [dos trabalhadores] dignidade". O concurso público de concessão do Metro e da Carris deve ser lançado em breve pelo Governo.
“Operação Carnaval” com menos mortos e feridos graves Foram detidos quase 400 condutores, a maioria por conduzir com uma taxa de alcoolemia superior ao permitido por lei. A Guarda Nacional Republicana (GNR) registou menos quatro vítimas mortais na “Operação Carnaval 2015”, quando comparado com o ano anterior. Em quatro dias foram registadas 942 acidentes (menos 72), dos quais resultaram três mortos (menos quatro do que em 2014) e 10 feridos graves (menos 10). Um comunicado refere ainda que foram fiscalizados 23.578 condutores e detidas 383 pessoas, a maioria por condução com excesso de álcool (234) e falta de habilitação legal para conduzir (55). A GNR apanhou ainda 1.946 condutores em excesso de velocidade e multou 7.353, nomeadamente 825 por excesso de álcool, 312 por utilização de telemóvel durante a condução, 263 por falta de inspecção periódica obrigatória, 137 por falta de seguro, 302 pela não utilização de cintos de segurança e 21 pela não utilização de cadeirinhas para crianças. Durante a operação, levada a cabo entre os dias 13 e 17 de Fevereiro, estiveram nas estradas cerca de 5.500 militares da GNR de todos os comandos territoriais e da Unidade Nacional de Trânsito. O objectivo foi “combater a sinistralidade rodoviária, regular o trânsito e garantir o apoio a todos os utentes das vias”, garante a nota disponível no site. Os militares estiveram "especialmente atentos" à velocidade, condução sob a influência do álcool e de substâncias psicotrópicas, não utilização do cinto de segurança e cadeirinhas para crianças e falta de habilitação legal para conduzir.
Chaves. ASAE apreende parcómetros e câmara lamenta "espectáculo" Autarca explica que o material está bloqueado e fora de serviço, considerando "triste" que uma entidade pública trate uma câmara municipal desta forma. A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) apreendeu os parcómetros da cidade Chaves devido à falta de certificação do equipamento, uma situação classificada como uma "atitude exagerada" pelo presidente do município. Os parcómetros foram alvo de uma vistoria na segunda-feira por parte da ASAE, que acabou por tapar os equipamentos com um saco de plástico negro e colocar etiqueta a indicar que se tratava de material "apreendido". António Cabeleira, presidente da Câmara de Chaves, classificou a atitude como exagerada e frisou que, quando muito, está "bloqueado e fora de serviço". "A apreensão é qualquer coisa de ilegal, de contrafacção", afirmou à agência Lusa. Neste caso, segundo o autarca, o que falta é a certificação do equipamento. António Cabeleira explicou que a certificação do material tem que ser pedida todos os anos, porque se trata de equipamento que faz medição de tempo e emite recibos. Salientou que a empresa municipal Gestão de Equipamentos do Município de Chaves (GEMC) solicitou "em tempo útil", "aliás como sempre fez", a certificação dos parcómetros à empresa que habitualmente prestava este serviço, no entanto a mesma empresa informou em Janeiro que já não está habilitada para estes fins. Por isso, o município teve "que rapidamente" encontrar uma nova empresa (LABCAL) a quem já solicitou a certificação dos parcómetros. A verificação do equipamento deverá ser feita, segundo o autarca, na quinta-feira, esperando-se que depois e o mais brevemente possível, os parcómetros "sejam desbloqueados e voltem ao normal funcionamento". "O material não está apreendido, está bloqueado e fora de serviço e mesmo isso acho que foi excessivo. A autoridade deveria ter passado uma contra-ordenação por estar a operar sem o material estar certificado, dar um período para regularizar a situação e só depois apreender o material", referiu. O autarca lamentou o "espectáculo" montado pela ASAE em Chaves e considerou que é "triste" que uma entidade pública trate uma câmara municipal desta forma.
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Homem condenado a 24 anos de prisão por violações em série Factos remontam a 2011, 2012 e 2103, tendo sido praticados em Famalicão, na Maia e em Esposende. O Tribunal de Vila do Conde condenou um homem a 24 anos de prisão por crimes de violação em série, roubo e violação de domicílio, anunciou a Procuradoria-Geral Distrital do Porto. "Em cúmulo jurídico, foi o arguido condenado na pena única de 24 anos de prisão", adianta a PGD na sua página na internet, referindo que o acórdão data do dia 2 deste mês. O arguido foi condenado por seis crimes de violação, um crime de violação na forma tentada, um crime de roubo e um crime de violação de domicílio. Os factos remontam a 2011, 2012 e 2103, tendo sido praticados em Famalicão, na Maia e em Esposende, tendo um dos crimes ocorrido na ciclovia que liga Famalicão à Póvoa de Varzim. A PGD refere que o arguido "abordou mulheres, forçouas a manter consigo trato sexual em seis das situações", não tendo conseguido concretizar uma das violações. O tribunal deu como provado que o homem "actuou relativamente a vítimas cujas rotinas conhecia, aproveitando situações em que sabia que estas se encontravam sozinhas, actuando em cinco casos de madrugada ou às primeiras horas da manhã". Uma das vítimas tinha 82 anos e foi violada em sua casa, onde vivia sozinha, sendo que outra mulher foi vítima do arguido "em duas datas distintas, ambas às primeiras horas da manhã, quando esta iniciava ou dava início ao giro diário exigido pela sua profissão", escreve a PGD.
Tomar. Apreendido material de guerra após queixa de violência doméstica Homem, de 23 anos, foi constituído arguido e fica a aguardar em liberdade, sob Termo de Identidade e Residência. A GNR apreendeu material de guerra e armamento que estava na posse de um homem, no seguimento de diligências por denúncia de violência doméstica realizadas, ao final da tarde de terça-feira, numa localidade do concelho de Tomar. Por indicação obtida durante a ocorrência, a GNR realizou uma busca à viatura do homem, de 23 anos, onde encontrou o material bélico, tendo sido chamada uma equipa de desactivação de engenhos explosivos
do comando territorial de Leiria da GNR, disse à Lusa fonte da guarda. Na operação foram apreendidas seis granadas, três recargas/detonadores de granada, uma pistola de calibre 6,35 milímetros, uma pistola de ar comprimido, 233 munições (177 de salva de calibre 5,56 milímetros, 53 de salva de calibre de guerra e três de calibre 6,35) e um carregador de espingarda semiautomática, segundo o comunicado. Presente ao Tribunal de Tomar, o detido, constituído arguido, fica a aguardar os trâmites processuais em liberdade, sob Termo de Identidade e Residência, por determinação do magistrado do Ministério Público. A vítima de violência doméstica está a ser acompanhada de acordo com os procedimentos adoptados neste tipo de casos.
Cáritas Portuguesa lança campanha para ajudar crianças da Síria Organização da Igreja Católica lembra que há quase dois milhões de crianças sírias refugiadas em países vizinhos em situações muito difíceis.
A Cáritas Portuguesa lança uma campanha nacional de recolha de roupa, cobertores e agasalhos para as crianças refugiadas da Síria, para dar expressão ao valor da solidariedade perante uma emergência humanitária. Em declarações à Renascença, o presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio da Fonseca, explica que esta acção vai ao encontro da mensagem do Papa para o tempo da Quaresma, que se inicia nesta Quarta-feira de Cinzas. “O Papa pede que não fiquemos indiferentes a qualquer situação onde o egoísmo, a desumanidade das pessoas gera situações de pobreza horríveis, de sofrimentos incomensuráveis e, portanto, eu chamo à atenção que este é o tempo para trazermos ao de cima a nossa misericórdia, como pede o Santo Padre”, apela Eugénio da Fonseca. O presidente da Cáritas acredita que os portugueses vão aderir a esta campanha, que decorre até 25 de
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Fevereiro, e vão continuar a demonstrar a solidariedade, apesar das dificuldades que também sentem no dia-a-dia. "Temos um povo que já deu mais do que provas, que não conseguimos qualificar, de gestos de solidariedade que têm permitido que, nos últimos anos, a situação social, familiar, pessoal, saúde física e psíquica de muitos dos seus concidadãos não fosse pior do que poderia ser se não houvesse essa solidariedade. O nosso povo é um povo de uma generosidade que chega ao ponto de dar do pouco que tem", sublinha Eugénio da Fonseca. A Cáritas lembra que há quase dois milhões de crianças sírias refugiadas em países vizinhos, a maior parte no Líbano, Jordânia, Iraque, Turquia e Egipto, e que "a violência e as deslocações forçadas terão transtornado profundamente a vida de mais de sete milhões de crianças na região". Um estudo da Unicef realizado em Outubro e Novembro do ano passado mostrou que cerca de duas mil crianças sírias "estão em risco de morte e necessitam de tratamento imediato para sobreviver". O relatório apontava que as regiões mais afectadas se situam no norte e leste do Líbano, onde os casos de "desnutrição severa" duplicaram nos últimos dois anos, e alertava que a chegada de mais refugiados e o aumento dos preços da comida poderia conduzir a uma "deterioração rápida". A campanha é lançada esta quarta-feira, em Lisboa, numa cerimónia que conta com a presença do presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, do ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, e com uma plataforma de parceiros, designadamente a Comunidade Islâmica de Lisboa, a Comunidade Ismaili, a Cruz Vermelha, a Cruz de Malta, a Câmara de Lisboa, entre outras entidades.
Obama volta a atacar terroristas do EI Líder norte-americano reafirma que não está "em guerra com o Islão", mas "com as pessoas que perverteram o Islão”. O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, reafirma que os jihadistas do auto-proclamado Estado Islâmico (EI) “não são líderes religiosos, são terroristas”. Obama fez esta declaração em Washington precisamente durante um discurso sobre terrorismo. “A Al Qaeda e o Estado Islâmico e grupos como estes estão desesperados por legitimidade. Eles querem ser reconhecidos como líderes religiosos, guerreiros sagrados em defesa do Islão. É por isso que se autoproclamam Estado Islâmico. E propagam a noção de que os Estados Unidos e o Ocidente em geral estão em guerra com o Islão. É assim que eles recrutam e que tentam radicalizar os jovens”, disse o presidente norteamericano. Barack Obama reafirma a tese de que não há uma guerra com o Islão, mas sim "com as pessoas que perverteram o Islão”.
Estado Islâmico vê Líbia como "porta de entrada estratégica" na Europa Terroristas vêem na Líbia um país que tem grande importância económica e militar e que permite a infiltração de operacionais na Europa.
Uma cruz e o Corão juntos numa vigília pelos cristãos decapitados, em Amã, Jordânia. Foto: Jamal Nasrallah/EPA
A Fundação Quilliam, que se dedica ao estudo do terrorismo, revelou esta quarta-feira um documento do autodenominado Estado Islâmico sobre rotas e planos estratégicos daquele grupo extremista na Líbia. No documento, intitulado "Líbia: A porta de entrada estratégica para o Estado Islâmico", o grupo terrorista considera que os jihadistas têm que ir urgentemente para a Líbia, um país de grande importância do ponto de vista económico e que potencia a a infiltração de operacionais na Europa. "Deus deu a este país uma posição estratégica e um imenso potencial. Destes aspectos seria possível tirar grandes benefícios se eles fossem devidamente explorados", escreve o autor do texto. O autor evidencia três vantagens principais da exploração da Líbia pelo Estado Islâmico: a proliferação de armas no país, a possibilidade de aliviar a pressão sentida no Iraque e na Síria (resultado dos ataques aéreos da coligação internacional às posições dos terroristas) e a proximidade ao Sul da Europa. O documento, usado para propaganda e recrutamento, diz que a partir da Líbia a costa europeia pode ser atingida "com facilidade até com um barco rudimentar", como fazem, todos os dias cerca de 500 migrantes ilegais, exemplifica o autor. "De acordo com muitos destes imigrantes, é possível passar pelos 'checkpoints' de segurança marítima e chegar às cidades. Se isto fosse explorado e desenvolvido estrategicamente, podíamos criar o pandemónio no Sul da Europa", diz. Líbia em "estado crítico" Haras Rafiq, o director-gerente da Fundação Quilliam, diz que este documento, a par do vídeo revelado no fim-de-semana que mostrou a decapitação de 21 cristãos egípcios numa praia no Leste líbio, revelaram o
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"estado crítico" em que a Líbia está. "A comunidade internacional deve agir para ajudar a trazer estabilidade ao país antes que se transforme numa nova Síria, seja para o autoproclamado califado [do Estado Islâmico] ou para qualquer outra organização jihadista", alerta. A decapitação dos 21 cristãos egípcios provocou uma chamada de atenção internacional para a presença dos jihadistas naquele país. No dia seguinte à divulgação do vídeo, reivindicado por um grupo fiel ao Estado Islâmico, a força aérea do Egipto realizou ataques aéreos a posições dos terroristas na Líbia. A Líbia também participou nos raides de segunda-feira de manhã. Entre 40 a 50 militantes do Estado Islâmico foram mortos nos bombardeamentos, avançou o comandante da força aérea líbia. Os presidentes da França e do Egipto apelaram ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para que discuta a situação na Líbia e que toma novas medidas. O país vive uma época fragilizada desde 2011 quando uma guerra civil, apoiada pela NATO, derrubou a ditadura militar de Muammar Khadafi, entregando a gestão da Líbia a um governo provisório.
"Será preciso uma geração para derrotar ideologia do Estado Islâmico" Ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido alerta para “uma ideologia venenosa” e agradece o esforço de Portugal no combate a este grupo terrorista. O ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Philip Hammond, estima que será necessária uma geração para derrotar os combatentes islâmicos e que vão continuar a surgir outras manifestações do que disse ser uma "ideologia venenosa". "Vamos derrotar o Estado Islâmico (IE) do Iraque e Síria. Mas temos de reconhecer que o desafio de derrotar o islamismo militante é maior que o desafio no Iraque e na Síria", disse após um encontro com o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, no Palácio das Necessidades. "Continuaremos a lutar contra esta ameaça enquanto for preciso e é preciso uma geração para derrotar esta ideologia", disse Philip Hammond. O governante britânico alerta para “uma ideologia venenosa” - que actualmente se manifesta sobretudo no Iraque e na Síria - mas que, quando for derrotada, pode surgir noutros lados. “Já estamos a assistir a isso na Líbia, com o Boko Haram, na Nigéria”, explicou. “Continuaremos a lutar esta ameaça enquanto for preciso e vai ser uma preciso uma geração para derrotar esta ideologia”, afirmou o ministro, aproveitando para agradecer o "esforço de Portugal" no âmbito das acções da coligação internacional contra o Estado Islâmico.
Prolongar sanções à Rússia Noutro plano, falou também sobre o conflito na Ucrânia, admitindo que a União Europeia deve considerar o prolongamento até ao final do ano das sanções impostas à Rússia caso o cessar-fogo no país seja abandonado. O ministro britânico recordou que está em estudo uma lista de novas opções de sanções, que podem vir a ser utilizadas. "Todos desejamos a paz, mas tenho de dizer que os sinais não são bons. Putin está a apelar às forças ucranianas para que se rendam em Debaltseve, o que não está minimamente no espírito do que foi acordado na semana passada e revela as verdadeiras intenções da Rússia", afirmou Philip Hammond. O exército ucraniano está a retirar algumas das suas tropas que se encontram cercadas em Debaltseve, após uma ofensiva dos rebeldes pró-russos naquela cidade estratégica do leste da Ucrânia. "Apelo a todas as partes envolvidas no acordo de Minsk da semana passada para que observem o espírito dos compromissos que fizeram, que deponham as armas, que se retirem da linha de conflito e que movam a artilharia pesada do campo de batalha e que respeitem todos os compromissos que fizeram no acordo de Minsk no outono passado", sublinhou Hammond, que avisou: "Nada menos que isso irá resultar". Até que a Rússia e os separatistas "cumpram as suas obrigações", os Estados-membros da União Europeia devem manter-se "fortes, unidos e determinados para manter as sanções impostas à Rússia".
Ameaças terroristas levam Vaticano e Itália a reforçar nível de vigilância Novo comandante dos guardas suíços admitiu medidas adicionais de precaução para garantir a segurança do Papa Francisco.
Foto: EPA
O nível de vigilância no Vaticano e em diversas regiões da Itália foi reforçado devido aos atentados e ameaças de grupos ligados ao extremismo islâmico e ocorridos nos últimos meses.
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Um dia após a aprovação pelo Governo italiano de novas medidas de segurança devido aos receios de um aumento das ameaças terroristas provenientes do caos em que se encontra a Líbia, o novo comandante dos guardas suíços, Christoph Graf, admitiu medidas adicionais de precaução para garantir a segurança do Papa Francisco. "O que aconteceu em Paris com o [atentado ao semanário satírico] “Charlie Hebdo” pode também acontecer no Vaticano, e estamos prontos a intervir para defender Francisco", afirmou ao joranal “Il Giornale” o comandante desta força responsável pelo corpo policial militar que protege o Papa. "Pedimos a todos os guardas suíços que estejam mais atentos, que observem cuidadosamente os movimentos das pessoas", acrescentou Graf, mas sublinhando que apenas um serviço de informações poderá fornecer informações precisas sobre um perigo eventual. Segundo o cardeal Pietro Parolin, número dois da Santa Sé, o ministro italiano do Interior, Angelino Alfano, assegurou-lhe na terça-feira que "não existe uma ameaça [terrorista] particular relacionada com o Vaticano". O cardeal apelou à vigilância mas "sem cair no alarmismo". O gosto do Papa argentino pelos contactos directos não facilita a tarefa dos corpos de segurança, mas Francisco "não gosta quando as pessoas, e também o pessoal de segurança, ficam muito perto dele. Respeitamos esse pedido e permanecemos um pouco distantes", explicou o comandante. O essencial da segurança do Papa, no Vaticano e nos outros locais, assenta na Gendarmaria (polícia) vaticana, que integra 150 homens. Fundada no século XIX, utiliza meios informáticos modernos em ligação com a Gendarmaria e os serviços secretos italianos. Desde 2008 que dispõe de um grupo de intervenção rápido com treino antiterrorismo. Ao seu lado, os 110 guardas suíços asseguram a guarda à entrada do Palácio pontifical, com a sua célebre indumentária do período do Renascimento, mas também a protecção próxima do Papa, e neste caso à civil.
Papa critica "hipócritas" que "não sabem chorar" "Faz-nos bem a todos, especialmente a nós, sacerdotes, no início desta Quaresma, pedir o dom das lágrimas", disse Francisco.
Papa celebrou missa de imposição das cinzas. Foto: EPA Por Filipe d'Avillez
"O dom das lágrimas ajuda à conversão e combate a hipocrisia", disse esta quarta-feira, em Roma, o Papa Francisco. Cumprindo a tradição pontifícia de celebrar a missa de imposição das cinzas na Basílica de Santo Anselmo e Santa Sabina, Francisco condenou a atitude dos "hipócritas" que "não sabem chorar" e deixou um conselho para esta Quaresma. "Faz-nos bem a todos, especialmente a nós, sacerdotes, no início desta Quaresma, pedir o dom das lágrimas para, assim, tornar a nossa oração e o nosso caminho de conversação sempre mais autêntico e sem hipocrisia", disse. Não é a primeira vez que o Papa refere o "dom das lágrimas". O termo tem as suas raízes nos escritos dos padres do deserto, os primeiros monges e monjas cristãos que deixavam o mundo para viver longe da civilização, sobretudo, na altura, na região do Egipto. Segundo estes, as lágrimas são sinal de verdadeira compaixão, de um coração amolecido, por oposição a um coração duro e incapaz de sentir emoção e de sofrer com quem sofre. Nos Evangelhos, Jesus chora pelo menos duas vezes durante a sua vida pública, uma quando morre o seu amigo Lázaro, outra quando olha para a cidade de Jerusalém, antevendo a sua destruição. "Faz-nos bem interrogarmo-nos: eu choro? O Papa chora? Os cardeais choram? Os bispos, os consagrados e sacerdotes choram? O choro está nas nossas orações?", questionou Francisco. A capacidade de chorar é, segundo o Papa, aquilo que separa os verdadeiros crentes dos hipócritas. "Os hipócritas não sabem chorar, esqueceram-se de como se chora, não pedem o dom das lágrimas", salientou.
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Nigéria mata 300 elementos do Boko Haram O grupo fundamentalista islâmico, que quer impor a lei islâmica na Nigéria, tem sido o responsável por vários ataques dentro e fora do país. Vários ataques da Força Aérea da Nigéria provocaram a morte de 300 elementos pertencentes ao grupo fundamentalista islâmico Boko Haram. A notícia é avançada pela agência Reuters, que cita fonte militar do país. “Foram apreendidas várias armas e equipamentos e algumas foram destruídas”, revelou o Major-General Chris Olukolade. É o balanço de uma operação que teve início esta semana e visa recuperar 11 cidades e aldeias. O Boko Haram, que se opõe à ocidentalização na Nigéria e pretende impor a lei islâmica em todo o território, tem sido o responsável por vários ataques dentro e fora do país. A Nigéria está dividida entre o norte de maioria muçulmana e o sul de maioria cristã. O grupo está também a tentar alastrar a sua influência aos países vizinhos.
Judeu filma-se a passear por Paris para revelar antisemitismo Um jornalista israelita andou dez horas pela capital francesa com o kippah judaico. Foi insultado e até cuspido. O vídeo tornou-se viral.
Zvika Klein durante o seu passeio de dez horas. Foto: DR
Um jornalista judeu filmou-se a passear durante dez horas nas ruas de Paris para chamar a atenção para os comportamentos anti-semitas em França. O resultado
da experiência é um vídeo de 90 segundos que se tornou viral. O vídeo começa em frente à Torre Eiffel, onde Zvika Klein coloca o kippah, a peça com que os judeus tapam tradicionalmente o topo da cabeça. Várias pessoas seguem o jornalista, chamam-no de judeu, cospem para o chão à sua passagem e um grupo de homens finge atiçar um cão para cima de Klein. Quando Zvika Klein passa por um parque da cidade cheio de jovens, uma mulher grita "Viva Palestina". Numa entrevista à CNN, Klein contou que se sentiu "como um alvo andante". "Estava acompanhado por um guarda-costas e em algumas alturas ele disse-me para sair dali porque notou alguma comoção por causa da minha presença em alguns locais", disse. Apesar de se ter sentido assustado várias vezes, o israelita confessou que "esperava pior" e que a maior parte dos insultos aconteceram nos subúrbios mais pobres predominantemente muçulmanos. Paris: 10 hours, silent walking as a Jew. I got spit at, cursed and threatened. Unfortunatley, this is France2015 pic.twitter.com/3BZ9Jaqluh — Zvika Klein (@ZvikaKlein) February 15, 2015"A França fica na Europa, a França é uma democracia e não deveria ser um problema uma pessoa que acredita em qualquer religião passear por qualquer rua nestas cidades", sublinhou. De acordo com informação do vídeo, que já tem mais de três milhões de visualizações, em 2014 foram registados 851 ataques anti-semitas em França. Segundo a Liga Anti-Difamação, organização internacional de combate ao anti-semitismo, a França é o país com mais ataques contra judeus na Europa Ocidental. Sucessão de ataques Em Janeiro, quatro judeus foram assassinados num supermercado judaico, na sequência dos atentados ao jornal "Charlie Hebdo". No fim-de-semana de 15 de Janeiro, outro atentado, aparentemente com motivos religiosos, fez dois mortos em Copenhaga, um dos quais resultou de um tiroteio à porta de uma sinagoga. No dia seguinte, um cemitério judeu foi vandalizado em França. No âmbito destes incidentes, o primeiro-ministro de Israel já apelou várias vezes a que os judeus europeus regressem a Israel, uma atitude que não foi bem recebida pelo governo francês.
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MARCO SILVA
Missão: trazer decisões para Alvalade Treinador do Sporting pede "superação" aos seus jogadores para defrontar o poderio do Wolfsburgo e deixar eliminatória em aberto. Marco Silva confirma: na Alemanha será Rosell e mais dez.
português Vieirinha. "Teremos de nos superar amanhã para manter a discussão da eliminatória", exortou. Regresso à Alemanha após "injustiça" de Gelsenkirchen"Não adianta estar a falar muito disso". A resposta mais curta da antevisão do desafio da Liga Europa surgiu quando Marco Silva foi questionado sobre as más memórias da fase de grupos da Liga dos Campeões, com a controversa derrota frente ao Schalke 04"A nossa passagem pela Champions dignificou-nos. Todo o mundo percebeu essa injustiça, mas já passou muito tempo", completou. O Wolfsburgo-Sporting arranca às 18h00 de quintafeira, na Volkswagen Arena, com arbitragem do israelita Alon Yefet. Jogo com relato na antena da Renascença e acompanhamento ao minuto em rr.sapo.pt e em bolabranca.rr.sapo.pt. LIGA DOS CAMPEÕES
Marco Silva pretende ver um Sporting apto a "discutir a eliminatória" com o Wolfsburgo, sem a obrigação de decidir a passagem aos oitavos-de-final da Liga Europa em solo alemão. O objectivo passa por trazer a decisão da ronda para Alvalade, dentro de uma semana. "O nosso foco está concentrado no jogo de amanhã e no jogo seguinte, em Alvalade. O Wolfsburgo é um adversário de qualidade que nos vai obrigar a estar no topo das nossas capacidades para discutir a passagem. O adversário está obrigado a fazer o mesmo em relação a nós. O nosso adversário atravessa um bom momento, mas amanhã é um jogo de provas europeias. Amanhã, precisamos de um resultado que nos permita discutir a eliminatória", afirmou o técnico leonino, esta quartafeira, em conferência de imprensa, reconhecendo a valia do segundo classificado da Bundesliga mas apontando igualmente as lacunas da equipa de Dieter Hecking. "Nos últimos três jogos, fez 12 golos para o campeonato. Sabemos a valia desse tipo de equipas, que têm uma capacidade ofensiva muito grande. É uma equipa equilibrada, forte, com jogadores de qualidade técnica e velocidade. Em alguns momentos, também se expõe e sofre alguns golos. Tem pontos fortes e menos fortes. Estamos preparados para contrariar o momento ofensivo e explorar os momentos de desconcentração do adversário. Queremos discutir o jogo", prosseguiu. Rosell e mais dez para a superaçãoNão quis confirmar os restantes dez titulares, mas anunciou o já esperado substituto de William Carvalho. O catalão Uri Rosell renderá o habitual "trinco", no meio-campo do Sporting. Será esse o onze que terá, na opinião do treinador, de assumir uma transcendência particular, face ao poderio do adversário, que conta nas suas fileiras com nomes como Kevin De Bruyne, Andre Schurrle ou o
Danilo foi o mais inteligente no "contrarrelógio" suíço Basileia 1-1 FC Porto. Lopetegui chegou a complicar aquilo que parecia - e poderia ter sido - fácil. Resultado positivo, com vantagem portuguesa na eliminatória. "Penalty" cobrado por Danilo, no gelo de Basileia, emendou teimosia do treinador basco.
"Penalty" convertido por Danilo, aos 79' [Foto: uefa.com] Por José Pedro Pinto
Soube a vitória? Claro que soube. Mas a vitória esteve à distância de um "clique". Neste caso, o "clique" de um treinador que demorou uma hora a perceber que só com Ricardo Quaresma em campo poderia adquirir a chave para desbloquear a muralha suíça que Paulo Sousa ergueu quando o Basileia se colocou em vantagem no marcador. O mal da teimosia é adiar o inevitável. E foi isso que Julen Lopetegui não percebeu. A opção inicial de
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colocar Tello no onze, em detrimento do "Harry Potter", custou longos minutos de ansiedade à equipa. E as mudanças tardias na equipa só agudizaram esse cenário. Valeu Danilo, em plano de evidência, a ter a frieza que faltou ao timoneiro. A vantagem da eliminatória, rumo aos quartos-de-final, está do lado português. Tello, Derlis, eficácia e a falta delaA animosidade entre Julen Lopetegui e Ricardo Quaresma é sobejamente conhecida. Vamos em frente. O internacional português tem estado em bom plano, atravessa um momento de relativa inspiração e essa evidência, comparada com o registo intermitente de Cristian Tello, deixa o catalão naturalmente pressionado e força-o a erros e a momentos de ansiedade. Foi o que aconteceu na primeira metade, não obstante a desconcentração que o dragão, no colectivo, acabou por assumir. E, logo aos 11', Derlis González fez algo para o qual certamente a equipa portuguesa estaria preparada: linha defensiva avançada, "corredor" aberto na zona central e o paraguaio, ex-Benfica, a fazer a diagonal, a escapar a Alex Sandro e a bater Fabiano Freitas, que aparenta ter saído dos postes com um cálculo desmedido. O único "tiro nos pés" que o FC Porto dava saía caro. O golo afectou a equipa, que até dispos de duas boas ocasiões de golo, por Danilo e Casemiro. Mas a primeira metade, mesmo com o crónico domínio da posse de bola por parte dos azuis e brancos, sorria aos homens de Paulo Sousa. Pressionantes, acutilantes, forçavam o erro do portador da bola e até as unidades mais esclarecidas pareciam estar envoltas num colete de forças. Lopetegui, esse, também não ajudou. Danilo deitou abaixo a muralhaQuaresma aqueceu durante grande parte da primeira metade. E durante o intervalo. E continuou a "escaldar" no arranque da etapa complementar. Lopetegui insistia em manter Tello, mas o basco esquece-se que teimosia não equivale a perseverança. E até tirou Brahimi para colocar o "Mustang" em campo, mantendo o espanhol emprestado pelo Barcelona no relvado do St. Jakob Park. Antes, porém, o árbitro anulava um golo a Casemiro, mais de um minuto depois de a bola ter entrado na baliza helvética. A ilegalidade é evidente, mas os jogadores portistas chegaram a festejar. A entrada do luso "mexeu" com a capacidade de "cerco" do FC Porto, permitiu aumentar a intensidade e o desgaste de dois laterais com óptimo poder de choque (Xhaka e Safari) mas que acusaram a natural quebra física de um jogo passado quase em exclusivo na expectativa. E foi esse mesmo desgaste que permitiu a Danilo escapar-se nas costas da defesa do Basileia e "provocar" o "penalty" cometido por Walter Samuel. Na conversão, a justiça foi célere: disparo rápido, seco e fora do alcance do guarda-redes Vaclik. Naquilo que foi um "contrarrelógio" que poderia ter sido evitado, o FC Porto ganhou minutos para poder decidir tudo na última e derradeira etapa. Dentro de três semanas.
REVISTA DA IMPRENSA DESPORTIVA
Danilo em todas
Danilo é a imagem comum a todos as manchetes, depois do empate do FC Porto em Basileia. "Justiça à força" é a manchete de O Jogo, enquanto A Bola escreve "Fogo de dragão". Por sua vez, o Record diz que "Danilo atrai milhões". O Wolfsburgo-Sporting tem chamada em todas as primeiras páginas, com a edição Sul de O Jogo a destacar uma declaração do treinador Marco Silva: "Temos de fazer dois grandes jogos". Sobre o Benfica, avança o Record: "Renovação de Salvio discute-se na próxima semana".
Acreditar, sempre Hoje, para fechar a semana europeia, o Sporting tem na Alemanha trabalho ciclópico à sua espera. O adversário tem lastro comprovado e até saiu da recente hibernação revelando enorme capacidade que, de resto, comprovou nos últimos jogos da Bundesliga. O Futebol Clube do Porto podia ter feito uma viagem de regresso de Basileia bem mais tranquila, pois fez o suficiente para vencer a equipa suíça e encarar ainda com maior optimismo o jogo da segunda mão, aprazado para o próximo dia 10 de Março. Mas, mesmo empatando o jogo de ontem, os portistas deixaram uma imagem muito segura da superioridade que não se discute e muito ajudará a confirmar, na cidade invicta, a chegada aos quartos-de-final. Convirá, no entanto, não repousar sobre os louros por agora conquistados. Há mais noventa minutos para jogar, e Paulo Sousa já prometeu uma equipa forte, e consciente de que eliminatórias como esta não se ganham antecipadamente. De resto, o Basileia até deixou uma razoável imagem na primeira parte do confronto com os dragões. O segundo tempo é que lhe viria a ser fatal e conduziria a um resultado que até se pode considerar lisonjeiro. Aí, o Porto foi mais eficaz e deixou sempre a ideia de que vantagem helvética não poderia durar por muito mais tempo. A porta está aberta, mas ainda não completamente
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escancarada. Essa é uma tarefa que incumbe aos portistas desempenhar com enorme competência perante o seu público e em condições que, reconheçamos, lhes são totalmente favoráveis. Hoje, para fechar a semana europeia, o Sporting tem na Alemanha trabalho ciclópico à sua espera. O adversário tem lastro comprovado e até saiu da recente hibernação revelando enorme capacidade que, de resto, comprovou nos últimos jogos da Bundesliga. Que Sporting teremos, logo à noite? É, para já, uma pergunta de difícil resposta.
Já há datas e horários para as "meias" da Taça Jogos da primeira mão. Nacional-Sporting a 5 de Março e Sporting de Braga-Rio Ave no dia 7 do mesmo mês.
FIFA
Figo lança candidatura em Wembley O ex-internacional português substituiu Stamford Bridge por Wembley para apresentar a sua candidatura à presidência da FIFA. O local foi alterado por uma questão logística.
A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) anunciou, esta quarta-feira, as datas e horários dos jogos da primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal. O Nacional recebe o Sporting a 5 de Março (uma quinta-feira), a partir das 20h15. Já o Sporting de Braga recebe o Rio Ave à mesma hora do dia 7, sábado. PRIMEIRA LIGA
FC Porto-Sporting marcado para 1 de Março Luís Figo vai apresentar oficialmente a sua candidatura à presidência da FIFA, esta quinta-feira, no Estádio de Wembley , pelas 11h00. Depois de Stamford Brigde ter sido a primeira opção, o antigo internacional português mudou o local do lançamento da sua candidatura, devido à falta de espaço no estádio do Chelsea. Figo vai lançar o seu manifesto e falar sobre o seu plano para restaurar a credibilidade e reconstruir a confiança no organismo mundial de futebol FIFA. O português concorre com Joseph Blatter, Ali Bin alHussein e Michael van Praag para a presidência do órgão directivo do mundo do futebol.
Clássico entre dragões e leões marca a jornada 23 da Primeira Liga. Confira o calendário.
O FC Porto-Sporting, clássico que marca a jornada 23 da Primeira Liga, está marcado para as 19h15 de 1 de Março, um domingo. A informação foi divulgada, esta quarta-feira, pela Liga Portugal. A recepção do Benfica ao Estoril, por seu turno, está
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marcada para as 17h00 de sábado, dia 28 de Fevereiro. Primeira Liga23ª jornada Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 201520h30Vitória de Guimarães-MarítimoSábado, 28 de Fevereiro de 201516h00Gil Vicente-BoavistaNacional-Vitória de Setúbal17h00Benfica-Estoril20h15Rio Ave-Sporting de BragaDomingo, 1 de Março de 201516h00AcadémicaAroucaPenafiel-Moreirense19h15FC PortoSportingSegunda-feira, 2 de Março de 201520h00Belenenses-Paços de Ferreira
Carnaval. Escola do Beija-Flor ganha com dinheiro da Guiné Equatorial País terá oferecido três milhões de euros. A escola de samba Beija-Flor ganhou o Carnaval do Rio de Janeiro de 2015, com um desfile patrocinado com dinheiro da Guiné Equatorial e que exaltou aquele país africano. Dias antes do desfile foi noticiado que a escola recebeu um apoio de três milhões de euros por parte do Governo da Guiné Equatorial, mas o presidente da instituição, Farid Abraão, afirmou que recebeu apenas contribuições pessoais daquele país. Em causa está o facto de o Governo de Teodoro Obiang, há 35 anos a comandar o país, ser suspeito de várias violações dos direitos humanos, algo que motivou o protesto de várias organizações nãogovernamentais. "Criámos um enredo para falar de um país africano, um país que até então muita gente não conhecia. A nossa questão aqui é o Carnaval, o regime não nos compete. Cuba era odiada pelo mundo democrático e hoje está a ser abraçada", disse Farid Abraão ao site G1. O embaixador da Guiné Equatorial no Brasil, BenignoPedro Matute Tang, que participou no desfile também negou que o Governo tenha patrocinado o enredo, admitindo apenas que as contribuições para o desfile da escola de samba vieram de “financiadores culturais”. Esta é a 13ª vez que a Beija-Flor ganha o título do Carnaval.
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