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EDIÇÃO PDF Directora Graça Franco

Segunda-feira, 30-03-2015 Edição às 08h30

Editor Raul Santos

Miguel Albuquerque quer abrir novo ciclo de diálogo com a República LIVRO

"Os portugueses no Estado Islâmico podiam ser os nossos vizinhos do lado" Atchim! Chegou a época das alergias

ENTREVISTA

Paul Bhatti. "Perseguição aos cristãos tem origem na pobreza e na iliteracia" Comissão do BES “tinha tudo para correr mal mas a verdade é que correu bem”

Sarkozy vencedor. O silêncio dos Extrema-direita ecrãs sem departamentos em França

Crianças e jovens passam mais de seis horas por dia em frente a um ecrã

Germanwings. Identificado ADN de 78 vítimas

MANUEL PINTO

Isabel dos Santos. Do bar de praia à "Forbes", a história da milionária discreta


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LIVRO

"Os portugueses no Estado Islâmico podiam ser os nossos vizinhos do lado"

Angela faz parte do grupo português no autoproclamado Estado Islâmico. Foto: Facebook Por Ricardo Vieira

"É um fenómeno muito bizarro que está às nossas portas e em que participam pessoas que podiam ser os nossos vizinhos do lado." Podiam, mas agora estão na Síria ou no Iraque a combater nas fileiras do autoproclamado Estado Islâmico. Os jornalistas do "Expresso" Hugo Franco e Raquel Moleiro seguiram a pista dos cerca de 20 jovens portugueses que trocaram uma vida ao estilo ocidental pela "guerra santa". O livro "Os Jiadistas Portugueses" (ed. Lua de Papel) é o resultado de uma investigação de quase um ano. Em entrevista, Hugo Franco traça o perfil possível destes radicais e admite que "haverá um ou outro arrependido". Relata também do choque e da depressão em que mergulharam as famílias. Porque aderiram estes portugueses ao Estado Islâmico? É difícil ter uma resposta única para isso. Detectámos várias razões. Algumas delas passam, em primeiro lugar, pela influência do meio onde vivem. Alguns destes 15 a 20 portugueses e cidadãos com passaporte e bilhete de identidade português viveram na zona Este de Londres, onde a comunidade muçulmana é muito forte e onde a influência de grupos radicais faz-se sentir. E os restantes? Outra parte do grupo de portugueses são os lusodescendentes em França. Também sentiram a motivação de terem amigos que enveredaram por um islão mais radical, foi talvez o motivo principal. Há várias outras pequenas razões: a rebeldia da idade, o facto de acharem que as suas vidas teriam sentido numa guerra distante com que se identificaram por alegadamente sentirem que poderiam ir ajudar as crianças da Síria contra a guerra que se faz sentir no território sírio. Não há uma resposta única. Porquê estes e não outros? É difícil de responder objectivamente. Pode haver desequilíbrios emocionais pelo meio. É possível traçar o perfil do jihadista português?

Não há um perfil. O perfil mais "grosso modo" que podemos fazer: são jovens, têm entre 18 e 30 e alguns anos; são pessoas que, se calhar, não tiveram aquele emprego para a vida, tiveram vários empregos, estudaram e tiveram uma vida mais ou menos, não digo instável, mas que estava longe daquela vida clássica do pai de família que tem um emprego há dez anos. No fundo, acho que o espírito de aventura e o espírito de rebeldia ajudam a compor o perfil. O facto de conhecerem pessoas ligadas ao tal islão mais radical e o facto de acharem que por ali podiam ter uma vida com mais entusiasmo, risco, energia e adrenalina… É uma fase da vida deles em que se sentiram abertos a uma nova experiência e que acharam que uma alegada "guerra santa" podia ser uma experiência de vida. Como foram recrutados para o Estado Islâmico? A internet tem sido o principal meio de recrutamento, através das redes sociais, de vídeos do YouTube de pregadores radicais. Passa também por algumas mesquitas mais "underground" de Paris e de Londres, mas essas mesquitas já não são o principal vector de levá-los para a Síria e para o Iraque porque já estão muito vigiadas pelas secretas europeias. As mesquitas podem servir de ponto de encontro, mas não é ali que eles são recrutados, pensamos nós. Também não temos respostas objectivas e científicas para o assunto. A internet e as redes sociais são mais difíceis de controlar pelas autoridades? Muito mais difícil. Vários especialistas ingleses nesta área do terrorismo disseram-nos isso, que a polícia ainda continua a ter muitas dificuldades em detectar estes movimentos, porque são feitos muito informalmente. A internet é um mundo muito vasto em que é difícil monitorizar tudo. A vossa investigação levou-vos a Londres. O que encontraram lá? Fomos a Londres duas vezes, ao bairro de Leyton e de Walthamstow, na zona este, onde há uma comunidade muçulmana muito grande. Encontrámos alguns amigos e familiares deles em Leyton que desvendaram um pouco a realidade deles e como é que mudaram de estilo de vida. Contaram-nos como é que eles mudaram de jovens que jogavam à bola e tinham famílias cristãs, embora não fossem à igreja, mas tinham uma vida igual a milhões de pessoas na zona de Londres, Lisboa ou Porto. E contaram-nos um pouco como é que eles lá se integraram no novo grupo, como é que conheceram novas pessoas e como essas influências os levaram a converter-se ao islão e depois, mais tarde, a radicalizar-se e viajarem para a Síria, para um território que não conheciam até então. Foram conversas muito importantes para a reportagem e para o livro, conversas que nos fizeram perceber finalmente um pouco mais dessas razões e que nos permitiram fazer o tal perfil e perceber um bocado as razões. Como é que as famílias lidam com esta situação? É um horror. Elas ficaram chocadas, estupefactas, muitas delas continuam em depressão. É muito complicado para as famílias gerir isto, ainda por cima terem que ver vídeos deles, receber chamadas de jornalistas a perguntar e a querer saber das razões do filho, do neto ou do sobrinho ter ido para a Síria. Elas estão tão ou mais surpreendidas que nós porque os viram crescer e transformarem-se naquilo que não queriam. As suas vidas transformaram-se num


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pesadelo, basicamente. Muitas delas vivem na incerteza saber se continuam vivos, o que é feito deles, porque a comunicação é feita pelas redes sociais, que são sempre falíveis. Muitas vezes as páginas vão abaixo porque as administrações do Facebook e do Twitter estão a fechar as contas. Vocês acabaram por ser uma espécie de ponte entre as famílias e alguns desses jovens? Pelo menos em dois casos, sim. Mais recentemente quando as páginas deles do Facebook se iam abaixo muitas semanas e as famílias não tinham outra maneira de saber, no desespero, telefonavam-nos. No início, muitas delas até reagiam mal quando ligávamos para elas, o que é natural. No final do ano passado tivemos, pelo menos, dois casos e no início deste ano tivemos dois casos de mães e de pais que nos ligaram a perguntar: "Sabem alguma coisa deles?" E nós íamos, através das nossas fontes, tentar saber o que se passava com eles. Nos dois casos, felizmente, nenhum tinha morrido. No livro relatam que a mãe do luso-descendente Mickael dos Santos chegou a denunciar o filho à polícia francesa, mas aparentemente ninguém fez nada. Essa história é brutal. A própria mãe, vendo o filho transformar-se num radical em França, a tornar-se outra pessoa, achou por bem alertar as autoridades que ele poderia cometer um acto louco qualquer. Mesmo assim não foi possível impedir a viagem dele para a Síria. Também temos que nos lembrar que em França há, pelo menos, 1.200 rapazes e raparigas que viajaram para a Síria e é difícil para as autoridades conseguir impedir que cada um vá. Uma coisa é falarmos num cenário português, em que há um grupo de 15 ou 20, outra coisa é falar de 1.200. É difícil para as autoridades controlar todas as viagens e todos os cidadãos que querem ir para lá. Mais à frente relatam que a mãe de Dylan Omar foi tentar resgatar o filho ao Estado Islâmico. Nos contactos que mantiveram com os jihadistas, eles falam em regresso? Nenhum deles fala em regresso. Pelo menos, oficialmente não querem regressar e eles sabem que, se quiserem regressar, não será aos jornalistas que o vão confessar, porque sabem que a conversa deles pode ser publicada num órgão nacional. Basta alguém do Estado Islâmico saber ou desconfiar quem foi que disse isso e a pessoa fica logo em perigo de vida. Por estas razões, não sabemos se por convicção ou por medo, nunca confessaram que queriam regressar a Portugal, a França ou Inglaterra, onde viviam até há pouco tempo. Durante uma conversa que tiveram com o jihadista Fábio Poças, ele diz: "Havemos de voltar. Eu e o Estado Islâmico". Que ameaças pode esperar Portugal no futuro? Não vejo nenhum deles a voltar para cometer nenhum acto terrorista que ponha em causa a nossa segurança. Sinceramente, acho que não, mas tanto eu como a Raquel [Moleiro] sabemos muito pouco. Tentamos saber o máximo possível, mas temos a noção que sabemos muito pouco sobre eles. Precisaríamos de estar com eles, de ter horas e horas de conversas muito sinceras para perceber, de facto, o que passa na cabeça deles. Mas, pelo que vimos desde o início deste ano,

com os atentados em Paris, as rusgas policiais na Bélgica, o atentado na Dinamarca, tudo é possível. As nossas autoridades têm que estar atentas. Nesses contactos, algum deles mostrou algum arrependimento por ter partido para a Síria? Também não. É um pouco como a pergunta sobre se querem voltar. Eles não nos confessam isso. É impossível obtermos essa informação, porque eles sabem que se nos contam uma coisa dessas põem em risco a vida deles lá. Imagino que há alguns que queiram regressar, temos informações por portas muito travessas de que haverá um ou outro arrependido e o próprio ministro [dos Negócios Estrangeiros] disse numa entrevista à Renascença que havia três portugueses que estavam arrependidos e queriam voltar. Qual foi o caso que o impressionou mais? Se calhar, a entrevista que fizemos em Setembro ao Mikael Batista, um luso-descendente que foi para a Síria com o Mickael dos Santos, um amigo dele também luso-descendente. Talvez o relato dele muito duro e muito frio: afirmava que o que gostava mais de fazer na Síria era "treinar e matar". De repente, ter alguém a dizer-nos isto impressionou-nos, dado o grau de frieza e percebemos, um pouco, como funciona a cabeça deles. Talvez tenha sido um dos factos e uma das partes da investigação que nos impressionou mais. A que conclusão chegaram após um ano de investigação? Começámos isto em Abril do ano passado. Tentámos perceber o que leva um jovem que vive aqui alistar-se num exército bárbaro que mata inocentes, que corta cabeças, que faz aqueles horrores todos que nós vimos, aqueles vídeos de decapitações. E é de facto estranho porque nenhum deles tem cadastro criminal, não tem um passado de violência. É um fenómeno muito bizarro que está às nossas portas e em que participam pessoas que podiam ser os nossos vizinhos do lado. Tanto eu como a Raquel crescemos em zonas suburbanas de Lisboa, ironicamente não muito longe da casa de dois deles. Quando nós escrevemos que podia ser quase um de nós é um bocadinho a pensar nisso. Podia ser o nosso vizinho do lado, um amigo qualquer de infância que, de repente, lhe deu na cabeça e enveredou por esta via. Eles sabem que vai publicado um livro sobre eles? Imagino que sim. Não os informámos, não tínhamos que o fazer. Informámos o Fábio quando ele falou connosco, ele sabia que nós íamos escrever um livro. Tivemos o cuidado de informar os familiares com que falámos sempre desde o início e também tivemos o cuidado de não os identificar no livro, não escrever o apelido, dar o mínimo possível de pistas sobre onde é que eles estão. Mantivemos uma relação de confiança com eles e a prova disso é que perguntam-nos onde os filhos estão, dizem que gostavam de ler o livro.


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Miguel Albuquerque quer abrir novo ciclo de diálogo com a República Vencedor das eleições na Madeira falou em exclusivo à Renascença. O líder do PSD/Madeira, Miguel Albuquerque, diz que a conquista de maioria absoluta foi “muito importante para a futura governação” do arquipélago. Em entrevista exclusiva à Renascença, Albuquerque diz-se “satisfeitíssimo” por ter conseguido a maioria, “um resultado que era o nosso objectivo”, lembra. “Precisamos de estabilidade política e de um quadro parlamentar que nos permita governar dentro daquilo que são os nossos compromissos para com os madeirenses”, acrescentou. Para o futuro, Miguel Albuquerque aponta como necessário “estabelecer pontes de diálogo permanente com a República, sem abdicar daquilo que são os nossos direitos fundamentais enquanto região autonómica”. Albuquerque acrescenta que é preciso “resolver questões pendentes que estão, neste momento, sobre a mesa”. Já antes, no discurso de vitória, Miguel Albuquerque lembrou que este é um “novo ciclo que hoje se abre", um "novo rumo" para sair da "actual encruzilhada" do arquipélago. O PSD soma 44,33% dos votos contra 13,69% do CDS e 11,41% da coligação "Mudança", que inclui o PS. O quarto classificado é a coligação "Juntos pelo Povo" com 10.34% e depois estão CDU (5.54%) e BE (3.80%). Miguel Albuquerque, de 53 anos, foi o primeiro dos 47 deputados (oficialmente eleito) que vão representar madeirenses no parlamento regional e vai suceder a Alberto João Jardim. O partido "laranja" consegue 24 deputados confirmados, o CDS sete, a coligação Mudança seis e a coligação Juntos pelo Povo cinco, a CDU dois, o BE dois e o PND um.

O calor vem mesmo aí Na quarta-feira, a temperatura máxima dá um salto. As autoridades chamam a atenção para os raios ultravioletas: o risco de exposição é alto e muito alto.

Foto: DR

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) prevê, para esta segunda-feira, céu pouco nublado ou limpo no continente, apresentando períodos de maior nebulosidade no litoral das regiões Norte e Centro até final da manhã. As temperaturas máximas vão andar acima dos 20 graus, excepto em Coimbra, Braga, Leiria e Porto. Para o final do dia, o vento deverá soprar fraco do quadrante norte e moderado no litoral oeste e nas terras altas. Na terça-feira, no litoral Centro e Norte podem ocorrer alguns aguaceiros e, na quarta-feira, as temperaturas máximas vão subir. Na Madeira, o céu vai estar muito nublado, podendo ocorrer aguaceiros fracos. Nas terras altas, o vento vai soprar moderado a forte, com rajadas da ordem dos 60 quilómetros por hora até final da manhã. O céu também vai estar nublado nos Açores, mas com abertas e aguaceiros fracos e pouco frequentes. Quanto às temperaturas, vão variar, em Lisboa entre os 11 e os 22 graus, no Porto entre 10 e 16 graus, em Vila Real entre 7 e 24, em Viseu entre 7 e 22, em Bragança entre 8 e 25, na Guarda entre 8 e 20, em Castelo Branco entre 10 e 28, em Évora entre 8 e 26 em Beja entre 8 e 27, em Faro entre 13 e 24 e no Funchal as entre os 16 e os 23 graus. No arquipélago açoriano, as temperaturas vão oscilar, em Ponta Delgada, entre 13 e 18 graus, em Angra do Heroísmo entre 13 e 17, na Horta entre 14 e 18 e em Santa Cruz das Flores entre 14 e 19. Quase todo o país com risco muito alto de exposição aos UV O Funchal apresenta esta segunda-feira um risco muito alto de exposição à radiação ultravioleta (UV), enquanto as regiões de Aveiro, Beja, Bragança, Braga, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Faro, Guarda, Leiria, Lisboa, Penhas Douradas, Porto, Portalegre, Porto Santo, Sagres, Santarém, Setúbal, Sines, Viana do Castelo, Viseu, Vila Real, Horta, Angra do Heroísmo e Ponta Delgada estão com níveis altos.


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Apenas a região de Santa Cruz das Flores, Açores, apresenta níveis moderados de exposição à radiação UV neste início de semana. O IPMA recomenda o uso de óculos de sol com filtro UV, chapéu, t-shirt, guarda-sol e protector solar e evitar a exposição das crianças ao sol. A radiação ultravioleta pode causar graves prejuízos para a saúde se o nível exceder os limites de segurança, sendo que o índice desta radiação apresenta cinco níveis, entre o baixo e o extremo, com onze.

Atchim! Chegou a época das alergias O clima desta época do ano favorece a manifestação de episódios de alergias. Numa semana em que se prevê que as temperaturas aumentem significativamente, o alerta é particularmente dirigido a um em cada três portugueses.

Não é fácil combater as alergias, Foto: DR Por Hugo Monteiro e Teresa Almeida

O número de pessoas alérgicas continua a aumentar em todo o mundo e, em Portugal, um terço da população tem alguma espécie de alergia. Os dados são avançados pela Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), no início de uma semana de Primavera que se prevê mais quente e com vento, condições que favorecem o aparecimento de episódios de alergia. A vice-presidente da SPAIC, Elisa Pedro, diz à Renascença que o problema atinge, principalmente, os países desenvolvidos. mas “as alergias tem aumentado em todo o mundo". "Calcula-se que um terço da população portuguesa tenha alergias. Temos estudos em que se demonstra o aumento da prevalência de asma e renite, especialmente nas crianças", acrescenta a especialista. As alergias levam ao aumento das faltas ao trabalho e à escola. O absentismo está a aumentar, Elisa Pedro, lembrando que “também o rendimento laboral e escolar pode estar afectado, porque estes problemas trazem noites mal dormidas, maior cansaço, incómodos que põem em causa a rendibilidade de quem trabalha ou estuda". Elisa Pedro sublinha que é difícil inverter esta situação, porque ela está relacionada com "múltiplos factores",

que vão do "meio ambiente, à poluição", sendo, por isso, “um problema global". "Não creio que seja fácil inverter a situação. Estabilizála, talvez", remata. Numa semana que se prevê de subida das temperaturas, pode verificar as zonas onde há maior concentração de pólenes na atmosfera. A Rede Portuguesa de Aerobiologia disponibiliza semanalmente o Boletim Polínico, informação está disponível nos sites www.spaic.pt ou www.rpaerobiologia.com

Mais de 80% dos idosos em lares têm múltiplas doenças Estudo teve a duração de um ano e envolveu 23 instituições e 1.500 idosos, que foram avaliados por especialistas. Um estudo da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), divulgado, esta sexta-feira, revela que mais de 80% das pessoas que vivem em lares são "muito idosas", têm múltiplas doenças e mais de 30% têm demência. O psiquiatra Manuel Caldas de Almeida, responsável pelo estudo, explicou que "o projecto pretende, por um lado, saber a realidade da demência nos lares e nas instituições e, por outro lado, poder desenhar algumas estratégias para melhor responder a estas pessoas". O estudo veio confirmar que "há uma maioria muito alargada de pessoas nos lares com deterioração cognitiva" e mais de 30% com demência, disse à agência Lusa Caldas de Almeida. "Não só é um número elevado mas também há uma heterogeneidade grande. Ou seja, não podemos dizer que há só pessoas com demência muito avançada ou só com demência ligeira, há de tudo", comentou. Além destas situações, há também "um número elevadíssimo de pessoas com fragilidade geriátrica", referiu o coordenador do estudo, que foi divulgado no seminário da UMP, a decorrer no Centro João Paulo II, em Fátima. "Mais de 80% das pessoas nos lares são muito velhas - a média etária das 1.500 pessoas é de 82 anos - com múltiplas patologias" e os equipamentos não estão preparados para responder a estas situações. Novo perfil obriga a adaptações Caldas de Almeida observou que o perfil das pessoas que reside em lares actualmente é diferente daquele para o qual estes equipamentos foram criados. "São lares que foram feitos para dar resposta hoteleira, com suporte social, de cama, mesa e roupa lavada", e neste momento estão "a ser utilizados por outro tipo de pessoas, muito mais dependentes, muito mais doentes e com demência". Esta situação obriga os lares a fazerem uma adaptação. A "boa notícia", disse Caldas de Almeida, é que na maioria dos casos é possível adaptar estes lares para que estes idosos possam ali "viver com qualidade". O estudo, que faz parte do projecto VIDAS - Valorização


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e Inovação em Demências, da UMP, teve a duração de um ano e envolveu 23 instituições e 1.500 idosos, que foram avaliados por especialistas para determinar o grau e a taxa de demências. O projecto Vidas também envolveu a formação de 500 profissionais que estão nestas instituições. "Claramente é uma área a apostar porque a competência dos profissionais é algo fundamental na qualidade de vida das pessoas com demência", frisou. O responsável explicou que se os lares tiverem profissionais competentes vão "evitar em muito a agitação e a agressividade e os problemas secundários da demência". MANUEL PINTO

O silêncio dos ecrãs É verdade que quando se olha apenas para a quantidade de horas, se corre o risco de considerar como homogéneo aquilo que é diferente. Um ambiente digital e em rede como o da internet, por exemplo, abarca atividades de natureza muito distinta, incluindo a pesquisa, a informação ou a edição de informação. Porém, para os adolescentes, em especial, as redes sociais foram-se posicionando no centro do uso dos ecrãs.

Está a crescer de uma forma acentuada o número de horas por dia que crianças e adolescentes passam agarrados a diferentes tipos de ecrãs. Em média, cada um dos mais pequenos gasta seis horas e meia com a TV, os videojogos, a internet e o telemóvel. E, se se considerar apenas o segmento dos 13-16 anos, essa média sobe para oito horas. Os dados referem-se ao Reino Unido, constando de um estudo da agência Childwise divulgado este mês, mas nada indica que sejam substantivamente diversos do que se passa noutros países da União Europeia como Portugal. Se tivermos em conta os últimos 20 anos, a situação alterou-se significativamente, nesta matéria. É certo que em décadas passadas se levantava ciclicamente o alerta para o volume de horas de consumo de televisão. Mas esse consumo afetava sobretudo as crianças pequenas, e, ainda assim, de forma bastante desigual. A multiplicação de ecrãs conectados à internet, combinada com a acessibilidade e portabilidade das

tecnologias de informação, comunicação e entretenimento, induziu e multiplicou práticas sociais e usos do tempo substancialmente diversas. É verdade que quando se olha apenas para a quantidade de horas, se corre o risco de considerar como homogéneo aquilo que é diferente. Um ambiente digital e em rede como o da internet, por exemplo, abarca atividades de natureza muito distinta, incluindo a pesquisa, a informação ou a edição de informação. Porém, para os adolescentes, em especial, as redes sociais foram-se posicionando no centro do uso dos ecrãs. Era esta a preocupação há dias manifestada pelo pediatra e professor Eduardo Sá, num programa que tem com Isabel Stilwell, na rádio pública. Impressionava-o nas refeições das famílias ao fim de semana, ver os filhos a jogar ou a enviar sms, a mãe a consultar o tablet e o pai a ler o jornal ou a seguir as notícias na TV. E ninguém conversa com ninguém, restando saber se a falta de conversa se deve aos ecrãs ou se estes são o pretexto ou alibi para não se conversar. Neste caso, Eduardo Sá sugeria que os donos dos restaurantes colocassem à porta um convite a desligar o telemóvel. Tal como se aprende a conectarse, é vital aprender a desconectar-se. Do ponto de vista cultural e antropológico, uma geração que desvaloriza o encontro face a face ou a conversa presencial é uma geração em perda face a dimensões centrais da vida humana e em sociedade.

Comissão do BES “tinha tudo para correr mal mas a verdade é que correu bem” A opinião é do socialista Pedro Nuno Santos. O deputado diz que o espírito geral foi o de apurar os factos. Mariana Mortágua, do BE considera que “questões técnicas” diluíram clivagens ideológicas. Cinco meses depois a comissão parlamentar ao BES/GES chegou ao fim e os partidos são unânimes no balanço positivo. Ainda assim, há quem pense que nem tudo apontava nesse sentido. Pedro Nuno Santos diz que todos estiveram com vontade de apurar os factos, mas que que a comissão "tinha tudo para correr mal, mas a verdade é que correu bem", o que resultou numa "grande vitória do parlamento e [no] contributo para a credibilização da actividade política". A agência Lusa falou com os cinco deputados coordenadores dos partidos - PSD, PS, CDS-PP, PCP e BE - na comissão de inquérito, numa altura em que estão encerradas as audições e se aguarda o relatório final, a ser feito pelo deputado do PSD Pedro Saraiva. Para Mariana Mortágua, única deputada do Bloco de Esquerda na comissão, o facto de haver muitas


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"questões técnicas" na comissão atenuou as "divergências políticas e ideológicas" dos partidos. "Foram meses intensos", prosseguiu a deputada, que ao estar sozinha a representar o Bloco diz ter tido a "vantagem" de concentrar informação e não a separar "em várias pessoas, cérebros, cabeças", o que permitiu "fazer algumas ligações" entre as audições e as personalidades escutadas. O PSD, através do coordenador Carlos Abreu Amorim, pensa “que todos os grupos souberam encontrar um ponto de equilíbrio no sentido da responsabilidade, seriedade, e apuramento da verdade nesta comissão de inquérito. E [isso] foi feito de uma forma exemplar, com muito trabalho, estudo e muito empenho político", vincou. Já a deputada Cecília Meireles, coordenadora do CDSPP, sublinha que a comissão funcionou "de forma diferente do que é habitual, quer das comissões de inquérito quer das comissões em geral". Os partidos, sustenta, "estavam a remar para o mesmo lado: toda a gente queria perceber o que tinha ali acontecido e isso foi um excelente sinal". Autópsia em directo Para Miguel Tiago, deputado do PCP, partido que propôs a comissão, o essencial a reter desta comissão é que houve um conhecimento "muito mais aprofundado" - que chegou ao público - de um grupo "monopolista" como o GES. "Os portugueses tiveram oportunidade quase de em tempo real assistir a uma autópsia de um grupo monopolista e de perceber como o sistema não está preparado minimamente para lidar com estes grupos", declarou à Lusa. A última audição da comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES deu-se na quarta-feira, e no dia 29 de Abril terá de estar concluído o relatório final sobre os trabalhos.

Morreu o exministro da Agricultura Sevinate Pinto Foi ministro da Agricultura no Governo de Durão Barroso. A actual ministra, Assunção Cristas, define-o como um mestre que deixa muitos discípulos, lote em que se inclui.

Armando Sevinate Pinto morreu esta madrugada aos 69 anos. Da sua vida pública destaca-se a pasagem pela pasta da Agricultura durante o Governo de Durão Barroso, o trabalho de consultoria de Cavaco Silva para os assuntos agrícolas e rurais, e ter feito parte da equipa que negociou a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia. Em declarações à Renascença, a ministra da Agricultura, Assunção Cristas, teceu grandes elogios à obra política de Sevinate Pinto. "Eu creio que hoje o momento bom que se vive na Agricultura deve-se muito também ao trabalho do engenheiro Armando Sevinate Pinto, quer enquanto ministro, quer enquanto consultor, e pessoa muito activa do desenvolvimento da nossa agricultura". Assunção Cristas fala do ex-ministro como um mestre e demostra profundo pesar. "Pessoalmente, guardo dele uma extraordinária gratidão, foi ele que me deu a minha primeira lição de agricultura e políticas agrícolas, logo após ter sido indicada para este cargo. Passei longas horas em casa do engenheiro Armando Sevinate Pinto, onde aprendi muito daquilo que, ainda hoje, uso nas minhas funções quotidianas. Portanto, só posso estar profundamente triste, mas creio que ficará bem viva a memória dele, os discípulos também que deixa e, nesse sentido, eu também me sinto muito discípula dele”, remata. De Ferreira do Alentejo a Lisboa Sevinate Pinto nasceu em Ferreira do ALentejo em 1 de Janeiro de 1946, e licenciou-se em Engenharia Agronómica, Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa. Passou pelo Centro de Estudos de Economia Agrária da Fundação Gulbenkian e pelo Ministério do Comércio, onde ocupou cargos de técnico superior.


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Segue depois para o Ministério da Agricultura, onde conheceu quase todos os cargos. Desempenhou, sucessivamente, a função de técnico superior, e a de director de serviços e director-geral. Neste período foi ainda membro da Comissão Interministerial para a Integração Europeia e fez parte das negociações para a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia. Prestígio internacional É precisamente com a entrada de Portugal na CEE, em 1987, que Sevinate Pinto chega a Bruxelas. Inicialmente como director no Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola (FEOGA) e na Investigação Agrícola. Mais tarde passa a dirigir o Desenvolvimento Regional. O político português fez parte do grupo da última reforma da Política Agrícola Comum. Foi considerado como um dos mais prestigiados altos funcionários portugueses da União Europeia. Em Abril de 2002, com a eleição do XV Governo, ocupa o cargo de Ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas a convite do primeiro-ministro socialdemocrata Durão Barroso. Dois anos depois, deixa o cargo. Ao longo da carreira foi ainda professor universitário e consultor agrícola, nomeadamente de Cavaco Silva. A 9 de Junho de 2005 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo. Recentemente, subscreveu o manifesto Preparar a Reestruturação da Dívida para Crescer Sustentadamente. Condolências do Presidente da República O Presidente da República, Cavaco Silva, enviou sentidas condolências à família do ex-ministro da Agricultura Sevinate Pinto, falecido esta noite aos 69 anos, um homem que "possuía um conhecimento ímpar da realidade do mundo rural português". Na mensagem de condolência, publicada na página da presidência na internet, o presidente destacou que Armando Sevinate Pinto "possuía um conhecimento ímpar da realidade do mundo rural português, fruto do seu labor académico, da sua proximidade aos problemas da terra e da sua experiência como Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas do XV Governo Constitucional". O ex-ministro, hoje falecido aos 69 anos, exerceu funções como Consultor da Casa Civil do Presidente da República até Março de 2014, altura em que foi exonerado, a pedido do próprio, depois de ter assinado o "Manifesto dos 70", no qual diversas personalidades pediam a reestruturação da dívida pública portuguesa. "Tive o privilégio de contar com o extraordinário apoio do seu saber e da sua experiência e, a par disso, de testemunhar as suas invulgares qualidades humanas: o seu sentido patriótico de dever, a sua profunda dedicação a Portugal, a calorosa afabilidade de trato, o apreço pelo convívio fraterno com os seus semelhantes", realçou o presidente. Sevinate Pinto "aliava essas qualidades profissionais e pessoais a uma discrição que é própria daqueles que não almejam protagonismos nem buscam palcos mediáticos", destacou.

Psiquiatra português é o melhor jovem investigador na área de esquizofrenia Tiago Reis Marques tem 38 anos, é psiquiatra e especializou-se na área de esquizofrenia. É o primeiro português a ganhar o prémio de melhor jovem investigador nos Estados Unidos. É português e psiquiatra. E foi distinguido nos Estados Unidos como o melhor jovem investigador na área de esquizofrenia. Tiago Reis Marques tem 38 anos e foi premiado no 15º Congresso Internacional de Investigação da Esquizofrenia, que distingue os melhores trabalhos de “investigação básica ou clínica”. O investigador português, numa nota enviada à imprensa, esclarece que o trabalho que desenvolveu tem como objectivo entender "de que forma o stress provoca alterações cerebrais na conectividade cerebral” e a sua relação com a maneira como os doentes respondem ao tratamento. Tiago lecciona e investiga no Instituto de Psiquiatria de Kings College, em Londres, e tem vindo a estudar a forma como novos medicamentos poderão actuar no tratamento das doenças psiquiátricas. Acrescentou ainda que este prémio é “um reconhecimento” de todo o trabalho que desenvolveu junto da sua equipa e “um importante estímulo” para a sua carreira de médico e investigador.


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Crianças e jovens passam mais de seis horas por dia em frente a um ecrã São os rapazes na adolescência que gastam mais tempo a ver televisão, a usar computadores, tablets e telemóveis. Nestes casos adependência chega às oito horas. Em 20 anos, o tempo que as criancas e os jovens passam em frente e um ecrã duplicou.

Seis horas e meia por dia. É este o tempo médio diário que as crianças e jovens, entre os cinco e os 16 anos, passam em frente a um ecrã. Um novo estudo divulgado pelo Childwise, centro de investigação britânico, garante que nos últimos 20 anos, o tempo que os mais novos gastam com brinquedos tecnológicos duplicou. Se por um lado, os rapazes na adolescência são os que estão mais horas em frente a um ecrã, cerca de oito por dia. Por outro, são as raparigas de oito anos que estão menos tempo, apenas três horas e meia. A investigação inclui o tempo passado em frente a televisões, com videojogos, com telemóveis ou nos tablets. Foram inquiridas 2000 crianças, entre os 5 e os 16 anos de idade. Outra das conclusões do relatório Connected Kids, citada pela BBC, foi que actualmente as crianças e jovens utilizam mais do que um aparelho ao mesmo tempo. Por exemplo, enquanto estão a ver televisão, estão, simultaneamente, a navegar na internet através do telemóvel ou do tablet. A forma de verem televisão também mudou. Hoje em dia, a maioria dos jovens recorre a canais como Youtube, em vez da tradicional TV.

Igreja de Canelas lacrada com produto químico A GNR foi forçada a abrir os portões da igreja. A Guarda Nacional Republicana (GNR) de Canelas, Vila Nova de Gaia, foi chamada a intervir, antes da missa das 11h00 deste domingo, na igreja local, depois de o sacristão ter encontrado a entrada da igreja bloqueada. A GNR foi forçada a abrir os portões da igreja, cuja fechadura se encontrava lacrada com um produto químico. O sacristão deparou-se, por volta das 10h00, com os portões lacrados com “bucha química”, o que impedia a sua abertura e dirigiu-se ao posto territorial de Canelas da GNR, avança a Agência Lusa citando fonte daquela força policial. "Tentámos primeiro retirar a massa da fechadura, mas não conseguimos, porque já tinha solidificado, por isso uma das portas foi retirada e recolocada, já em posição aberta", explicou. Na sequência do incidente - que não atrasou a realização da missa, pelas 11h00 - a GNR diz ter instaurado um auto de notícia por dano causado por "desconhecidos". Durante a missa, e tal como vem acontecendo há já várias semanas, permaneceu no exterior da igreja um grupo de cerca de uma centena de paroquianos do movimento "Uma Comunidade Reage", que contestam a substituição do padre Roberto Sousa pelo padre Albino Reis, exigindo o regresso do primeiro sacerdote.

Mais de metade dos eleitores madeirenses não votaram Neste noticiário: abstenção bate novos recordes nas eleições regionais da Madeira; PSD saúda resultados, PS olha para o lado; Sarkozy regressa às vitórias nas eleições francesas; Portugal em primeiro lugar do grupo de qualificação para o Euro2016; vêm aí as primeiras alergias do ano. Por Teresa Abecasis


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Isabel dos Santos. Do bar de praia à "Forbes", a história da milionária discreta A história dela tem tudo (ou quase): guerra, paz, poder, dinheiro, mistério, mito, diamantes e influência. "Segredos e Poder do Dinheiro", de Filipe Fernandes, traça o percurso da filha mais velha do Presidente angolano que se tornou a mulher mais rica de África.

Foto: EPA Por Paulo Ribeiro Pinto

Antes de ser a empresária que quase todos conhecem em Angola, Portugal e no mundo financeiro global -, Isabel dos Santos começou a sua ligação aos negócios num bar de praia. Em meados da década de 1990, a filha mais velha de Eduardo dos Santos torna-se sócia do Miami Beach Club, na ilha de Luanda. Um investimento "insignificante", mas que singrou: "Dezasseis anos depois, ainda é um ‘hot spot’ de fim-de-semana", escreve o jornalista Filipe Fernandes, em "Segredos e Poder do Dinheiro", uma biografia da empresária acabada de editar. O grande salto para os negócios dá-se com a Unitel. A empresa de telecomunicações venceu o concurso para a instalação da rede móvel em Angola. Estamos no início da década de 2000, altura em que a Portugal Telecom entra no universo empresarial de Isabel dos Santos, com uma participação de 25% da Unitel. A partir daqui, além de diversificar os investimentos, a fortuna de Isabel dos Santos começa a crescer até chegar aos 3,5 mil milhões de euros, segundo a revista norte-americana "Forbes". Filipe Fernandes explica à Renascença que o império da empresária se deve ao contexto político de Angola. E elenca três factores: "O facto de ser filha de José Eduardo dos Santos, estar aliada à [petrolífera angolana] Sonangol e a uma 'holding' que liga alguns generais e pessoas importantes". É um "capitalismo de compadrio", diz o jornalista.

Acrescenta ainda o facto de Angola, saída de uma guerra civil de décadas, ter a necessidade de criar empresários – rapidamente. E Isabel dos Santos estava bem colocada. Mas a empresária "tem algum talento, estratégia e visão" dos negócios, reconhece Filipe Fernandes. Os três negócios – mais os diamantes e o cimento Os sectores das telecomunicações, banca e energia são os grandes pilares da fortuna de Isabel dos Santos. Filipe Fernandes acredita que as telecomunicações são o negócio onde a empresária mais se sente à vontade: "Ela toma decisões e tenta acompanhar o quotidiano do negócio." O interesse na banca e na energia tenta fazer a intersecção entre Portugal e Angola. Para o biógrafo, a entrada no negócio dos diamantes (Santos é accionista da joalheira suíça De Grisogono) é uma "experiência", uma tentativa de controlar a cadeia de valor desde a exploração à venda de jóias. Em Angola, Isabel dos Santos tem ainda interesses numa cimenteira. Um investimento secundário, contudo. Portugal como porta de entrada A ligação de Isabel dos Santos a Portugal começa com a entrada da PT no capital da Unitel. As relações empresariais começaram no início do século e foram sendo reforçadas ao longo dos últimos anos. Hoje, é accionista de referência do BPI, do BIC, da NOS e da Galp, através da Amorim Energia. Filipe Fernandes acredita que esta ligação está relacionada com a necessidade de Isabel dos Santos ter acesso aos mercados financeiros europeus. Portugal é a porta de entrada. O autor do livro "Segredos e Poder do Dinheiro" está convicto que Isabel dos Santos não pode ser considerada a "salvadora" de empresas portuguesas em dificuldades (aconteceu recentemente com a venda da PT, SGPS). Se os interesses estiverem noutro sítio "Isabel dos Santos vai procurá-los", avisa. "Muito pouca gente a conhece" Escrever a biografia de Isabel dos Santos é quase como montar um puzzle: juntar peças e tentar encaixá-las no tabuleiro. A empresária não dá entrevistas, raramente é vista em público (recentemente esteve na inauguração de uma exposição da colecção de arte do marido, Sindika Dokolo, no Porto). "É discreta, mas não deixa de gozar os prazeres da vida. Frequenta bons restaurantes, vai para os melhores sítios que há para as férias", afirma. "Muito pouca gente a conhece de facto", resume. A única excepção, sublinha, foi quando "não gostou de uma reportagem da revista 'Sábado', em que se socorreu do Direito de Resposta e revela muita coisa sobre ela. Explica até o seu casamento e o menu". Não foi só em Portugal. Na mesma altura surgiu um artigo no jornal italiano "La Stampa", que "ela considerou muito agressivo e achou atentatório do que ela é". "Há um certo mistério em algumas coisas do seu início da sua carreira. Por exemplo, as ligações aos diamantes. Pode não ser nada, mas vai alimentando o mito."


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Sarkozy vencedor. Extrema-direita sem departamentos em França Eleições locais são consideradas uma antevisão das presidenciais e, antes disso, das regionais (marcadas para finais de 2015). A esquerda perdeu a maioria dos departamentos.

viragem à direita. O chefe do Governo reconheceu uma "vitória incontestável" para "a direita republicana", que atribuiu às divisões "da esquerda, demasiado dispersa", e lamentou também "os resultados demasiado elevados" da FN. "A rejeição em relação ao poder é absolutamente definitiva. Nunca uma maioria tinha perdido tantos departamentos. Nunca um Governo em funções tinha suscitado uma tal desconfiança e uma tal rejeição", sustentou Nicolas Sarkozy, líder da UMP. "A alternância está em marcha, nada a deterá", reafirmou o ex-chefe de Estado francês (2007-2012), cujo futuro político continua, contudo, a depender da evolução dos processos judiciais em que o seu nome está envolvido. O escrutínio foi novamente boicotado por um em cada dois eleitores, dos cerca de 40 milhões de cidadãos franceses chamados às urnas, segundo as empresas de sondagens. FRANCISCO SARSFIELD CABRAL

Putin e as Falkland (Malvinas) Em 2017 há eleições presidenciais e Nicolas Sarkozy é, em princípio, candidato. Foto: Etienne Laurent/EPA

O partido da extrema-direita francês Frente Nacional não conseguiu conquistar nenhum departamento nas eleições locais no país, admitiu o número dois da formação política, Florian Philippot. "Está confirmado", declarou Philippot, inquirido pela agência de notícias francesa, AFP, sobre se confirmava que o seu partido não ganhara em nenhum departamento, apesar de ter obtido mais votos. A presidente da Frente Nacional, Marine Le Pen, tinha anteriormente considerado "possíveis" vitórias do seu partido nos departamentos de Vaucluse (sul) e Aisne (norte). A dois anos das presidenciais de 2017 em França, a oposição de centro-direita venceu por uma grande margem os socialistas no poder nas eleições locais no país. O partido da direita UMP, do ex-presidente Nicolas Sarkozy, e os seus aliados centristas (UDI) garantiram o controlo de entre 65 e 71 dos 101 departamentos em que se divide o país, segundo os institutos de sondagens. Uma vitória da Frente Nacional pelo controlo de um departamento teria constituído uma estreia histórica, após os seus avanços nas municipais e nas europeias de 2014. As eleições locais são consideradas uma antevisão do resultado das presidenciais e, antes disso, das regionais de final de 2015. A esquerda detinha até agora 61 dos 101 departamentos. Hoje à noite, as projecções não lhe davam mais que entre 28 e 35. Entre as suas perdas mais simbólicas estão Corrèze (sudoeste), departamento do Presidente francês, François Hollande, e Essonne, perto de Paris, bastião do primeiro-ministro, Manuel Valls, onde se registou uma

A Rússia vai enviar 12 bombardeiros para a Argentina, em troca de carne e trigo. A GrãBretanha reforçou os seus meios militares nas Falkland, onde foi descoberto petróleo.

Por Francisco Sarsfield Cabral

Nas últimas semanas falou-se pouco de Putin. Mas ele esteve de alguma forma presente nas eleições locais em França, pois Marine Le Pen defende-o, bem como às suas políticas. Amor com amor se paga: Le Pen teve financiamentos de um banco russo próximo de Putin. Também foi noticiada a ameaça do Kremlin à Dinamarca, caso este país aceite mísseis da NATO. Mais interessante, mas menos noticiado, foi o apoio às pretensões argentinas quanto às ilhas Falkland (Malvinas). Moscovo diz que Londres não é coerente, por manter a soberania naquelas ilhas enquanto a maioria dos seus habitantes assim o desejar, mas repudiar o referendo na Crimeia como factor de legitimidade para a anexação pela Rússia daquele território. Só que o referendo na Crimeia foi realizado sob armas russas. A Rússia vai enviar para a Argentina doze


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bombardeiros, em troca de carne e trigo argentinos. A Grã-Bretanha reforçou os seus meios militares nas Falkland, por causa das quais em 1982 venceu uma guerra contra a Argentina, reforçando a posição política de Margaret Thatcher. Entretanto, foi descoberto petróleo nas Falkland...

Terra treme na Papua Nova Guiné. Alerta de tsunami activado

Morto responsável pelo ataque ao Museu Bardo na Tunísia Lokmane Abu Sakhr foi abatido este sábado, confirmou o primeiro-ministro.

As autoridades pedem às populações para estarem atentas se morarem em zonas costeiras. Um sismo de magnitude 7,7 na escala de Richter atingiu as ilhas da Papua Nova Guiné, Um alerta de tsunami está em vigor. Segundo a agência geológica dos Estados Unidos (USGS), o epicentro do tremor-de-terra, a 33 quilómetros de profundidade, ocorreu perto da cidade de Rabaul no nordeste do país. Já o Centro de Alerta de Tsunamis no Pacífico alertam para a possibilidade da ocorrência de ondas que possam atingir a costa num raio de mil quilómetros a contar do epicentro do forte abalo. Apesar de tudo, os especialistas não esperam ondas destrutivas. No entanto, podem atingir entre um e três metros. “As populações que morem em zonas costeiras da área que pode ser atingida devem estar alerta às informações e seguir as instruções dadas pelas autoridades nacionais e locais”, acrescentou a mesma fonte. Não há, para já, notícia de vítimas ou estragos.

O líder do principal grupo 'jihadista' tunisino, Abu Sakhr Lokmane, acusado de ter executado o ataque de 18 de Março contra o Museu do Bardo, foi morto no sábado por forças tunisinas, anunciou o primeiro-ministro da Tunísia, Habib Essid. "As forças tunisinas mataram ontem à noite (sábado) os elementos mais importantes da Brigada Okba Ibn Nafaa, liderada por Lokmane Abu Sakhr", disse o primeiro-ministro aos jornalistas, classificando esta operação como "muito importante na campanha [da Tunísia] contra o terrorismo". Este sucesso reclamado pelas autoridades da Tunísia ocorre no dia de uma grande marcha "contra o terrorismo", que está a juntar em Tunes dezenas de milhares de pessoas e funcionários estrangeiros de alto nível. Abu Sakhr foi morto numa operação das forças especiais na região de Gafsa (centro-oeste), na qual foram mortos ao todo nove 'jihadistas' armados. Os homens pertenciam alegadamente à brigada Okba Ibn Nafaa, ligada à Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQIM), que as autoridades acreditam estar por trás do ataque de 18 de Março ao Museu do Bardo, que vitimou 21 turistas e um polícia, apesar do mesmo ter sido reivindicado pela organização 'jihadista' rival do Estado Islâmico. A brigada Okba Ibn Nafaa integra, de acordo com as autoridades, dezenas de homens, entre os quais estrangeiros, especialmente mais argelinos do que tunisinos, e será responsável pela morte de sessenta polícias e militares desde Dezembro de 2012. Este grupo reivindicou o ataque do ano passado contra a casa do ministro do Interior de então, em Kasserine, cidade vizinha de Monte Chaambi, onde se encontra o principal grupo 'jihadista' na Tunísia.


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Aviões de guerra atacam capital do Iémen Rebeldes xiitas “Houthi” ocupam uma grande parte do país, mas vão em breve ter que medir forças com uma força unificada regional, criada pela Liga Árabe.

Arábia Saudita lançou um raid aéreo sobre Sana contra os rebeldes. Foto: Yahya Arhab/EPA

A capital do Iémen, Sanaa, foi alvo de novos raides aéreos esta segunda-feira de madrugada, liderados pelas forças rebeldes xiitas que lutam contra o regime do Presidente, Abd-Rabbu Mansour Hadi. De acordo com iemnitas citados pela agência Reuters, os ataques terão ocorrido junto do quarteirão diplomático, nomeadamente no Palácio Presidencial. Testemunhas dizem ainda que alguns armazéns de armas, situados perto da montanha Nugum, também terão sido atingidos. “Foi uma noite infernal”, refere fonte diplomática à mesma agência noticiosa. Desde a passada semana que uma coligação árabe liderada pela Arábia Saudita lançou uma ofensiva contra os rebeldes “Houthi”, que ocupam uma grande parte do Iémen. A Arábia Saudita acusa o Irão, o seu grande inimigo regional, de apoiar os rebeldes, mas Teerão nega as acusações. Mas o governo iraniano já condenou os ataques levados a cabo pela aliança entre Riade e nove outros países muçulmanos aos rebeldes xiitas. Entretanto, a Liga Árabe anunciou a criação de uma força unificada regional contra as ameaças à segurança. E a China decidiu seguir o exemplo da Índia e do Paquistão, por exemplo, que já anunciaram a retirada dos seus cidadãos do Iémen.

GRAÇA FRANCO

Porquê? O homem do século XXI continua a precisar de um sentido para a vida. E, perante o choque da notícia sobre o jovem piloto que terá procurado a morte arrastando consigo mais de uma centena de pessoas, a questão coloca-se ainda com maior actualidade em torno da pergunta sem resposta: porquê?

Por Graça Franco

Na próxima semana, para muitos cristãos espalhados pelo mundo (do Paquistão ao Afeganistão, passando pelo Egipto, Irão, Iraque, Líbia, Nigéria, Arábia Saudita, Somália, Sudão, Síria, Iémen, Eritreia, Coreia do Norte, Azerbaijão e o Usbequistão e muitos mais), a simples presença nas cerimónias da Semana Santa acarretará o risco de martírio. Esta sexta-feira, a Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), no seu texto de alerta de preparação para a Páscoa, parafraseando os conhecidos versos de Sophia, "vemos ouvimos e lemos", recorda que não temos o direito de continuar a ignorar os irmãos perseguidos nem de deixar esquecer o grito do sangue destes novos mártires. Paul Bathi, o médico paquistanês e activista da liberdade religiosa (irmão do ex-ministro das minorias religiosas, assassinado por ser cristão), traz, esta sextafeira, esse grito a Lisboa, num testemunho corajoso feito na primeira pessoa. Vale a pena passar pelas 19h30 na grande tenda montada em Belém, Lisboa, só para o ouvir. Trata-se da iniciativa anual do Meeting Lisboa, lançada há alguns anos por um grupo de jovens cristãos apostados em trazer o debate sobre as questões da fé para o espaço público e que, este ano, deixará o habitual espaço no Campo Pequeno para o novo espaço do Centro Cultural de Belém. Como refere o Papa Francisco, e bem recorda a CNJP, "o sangue dos nossos irmãos cristãos é um testemunho que grita". Cabe-nos não o deixar abafar. "Pouco importa que sejam católicos, ortodoxos, luteranos, coptas: são cristãos e o sangue é o mesmo, o sangue confessa Cristo". Nada disto significa que nos desinteressemos das perseguições que sofrem outras religiões ou até pessoas sem religião. São sempre um atentado à dignidade humana. Mas é um facto que, hoje, os cristãos voltaram a ser o maior alvo da intolerância


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religiosa. Estranho recorde este, que parece evidenciar um retrocesso de séculos no direito à liberdade religiosa e se traduz na larga ultrapassagem do número de mártires cristãos alvo das violentas perseguições romanas pelos que já foram chacinados em virtude do seu testemunho de fé só nos últimos 15 anos. É a esta situação que não podemos conformar-nos. Daí, a importância do apelo da CNJP a todas as pessoas de boa vontade e a todos os cristãos para que não ignorem os irmãos perseguidos e às autoridades políticas nacionais e internacionais para que "façam tudo o que está ao seu alcance, em ordem a pôr termo a esta situação". À comunicação social reserva-se um último apelo para que não remetamos à categoria de "não notícia" o registo dos repetidos massacres. Nada mais embrutecedor das consciências do que a indiferença que leva à banalização do mal. O homem do século XXI continua a precisar de um sentido para a vida. E a religião constitui-se num importante reduto para a busca e encontro desse mesmo sentido. Algo que só pode acontecer num espaço de liberdade sem constrangimentos pessoais ou sociais. Nestes dias em que ainda nos perdemos no choque da notícia sobre um jovem piloto que terá aparentemente procurado a própria morte (arrastando consigo mais de uma centena de pessoas a bordo do avião que comandava), esta questão coloca-se ainda com maior actualidade em torno da pergunta sem resposta: porquê? Também por isso vale a pena passar pelo Meeting: "Se a felicidade não existe, para que serve a vida?" É este o tema que estará em debate até domingo na tenda de Belém. E já sábado, pelas 21h30, na conferência sobre "A vida não é um prémio", três grandes premiados – Henrique Leitão (Prémio Pessoa 2015), Afonso Reias Cabral (Prémio Leya) e Elvira Fortunato (uma das cientistas mais laureadas em termos europeus) – darão certamente um triplo testemunho. Rigorosamente a não perder.

Germanwings. Identificado ADN de 78 vítimas Os trabalhos de busca no local do acidente prosseguem pelo sexto dia consecutivo.

Os investigadores franceses já identificaram o ADN de

78 dos 150 ocupantes do avião A320 da Germanwings que se despenhou nos Alpes franceses na terça-feira passada, indicou o líder que dirige a equipa de investigação, Brice Robin. De momento não se identificou nenhum passageiro, o que será feito posteriormente em Paris, comparando as amostras colhidas no local da tragédia com as amostras trazidas por familiares, indicaram ainda à agência espanhola EFE fontes da investigação. Os trabalhos de busca dos restos dos corpos dos passageiros no local do acidente prosseguem pelo sexto dia consecutivo. Por dia, são feitos 50 voos de helicópteros para transportar técnicos de busca.

Papa Francisco evoca vítimas da tragédia dos Alpes O Santo Padre recordou os 150 mortos do avião da Germanwings afirmando que os confia "à protecção de Maria". O Papa Francisco recordou durante as celebrações do Domingo de Ramos, no Vaticano, as vítimas do acidente com o avião da Germanwings que se despenhou na terça-feira nos Alpes franceses, provocando 150 mortes. “Confio à protecção de Maria as vítimas do acidente aéreo da última terça-feira, entre os quais havia também um grupo de estudantes alemães”, disse, no final da celebração que decorreu na Praça de São Pedro, citado pela agência Ecclesia. O voo partiu de Barcelona em direcção a Düsseldorf e, segunda a investigação, o copiloto fez embater o Airbus A-320 contra as montanhas dos Alpes franceses. [em actualização]


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RIBEIRO CRISTÓVÃO

Passo importante Era grande a expectativa gerada à volta do jogo a disputar no estádio da Luz. O resultado permitiu que a selecção portuguesa desse um salto precioso na classificação, passando a exercer o comando. França ficou agora mais perto.

Por Ribeiro Cristóvão

Melhor do que a exibição foi o resultado alcançado pela selecção portuguesa frente à sua congénere da Sérvia, que a coloca no topo da classificação do seu grupo e com o apuramento para a fase final do Campeonato da Europa praticamente garantido. Era grande a expectativa gerada à volta do jogo a disputar no estádio da Luz. Por um lado, Portugal contava com um adversário constituído por jogadores de alta qualidade na sua grande maioria, o que provocava alguma desconfiança em relação resultado final; por outro, a sua selecção estava pressionada no sentido de não poder dar passos em falso rumo a uma qualificação que nunca, desde o início, pareceu ser objectivo inalcançável. Não foi possível juntar ontem todos os proveitos. Isto é, o resultado permitiu somar mais três pontos e dar um salto precioso na classificação, passando agora a exercer o comando, mas o desafio a que o país assistiu no estádio da Luz não foi de molde a poder figurar aparte no lote daqueles que fazem parte do historial da sua selecção. As opções de Fernando Santos, cuja preocupação primeira tem a ver com a obtenção de resultados que não permitam desvios do rumo traçado, não foram discutidas antes nem devem ser objecto de controvérsia agora, sobretudo depois da recolha preciosa de três pontos, fundamentais para conseguir a almejada qualificação. Sem que se possa afirmar que o mais difícil está feito, a verdade é que tudo parece ter ficado distante de todos os constrangimentos. Vem aí um jogo fácil com a Arménia e depois, no começo do Outono, será cumprido o resto do calendário com duas deslocações a envolver algum perigo, à Albânia e à Sérvia. Ou seja, a França ficou agora mais perto depois do passo decisivo dado ontem no estádio da Luz, consubstanciado na vitória conseguida frente à Sérvia. E até lá, Fernando Santos dispõe de tempo suficiente para encetar a renovação de que a selecção portuguesa

parece carecer a cada jogo que passa. REVISTA DA IMPRENSA DESPORTIVA

Dia de Portugal

A vitória da selecção nacional, frente à Sérvia, está nas manchetes dos três diário desportivos. "Passo de gigante" é o título de O jornal, enquanto A Bola viu "Pura classe" e o Record individualiza: "Fábio de ouro". De volta a O Jogo, o jornal nortenho sublinha o regresso aos treinos de Aboubakar, no FC Porto e destaca uma declaração de Heldon, jogador emprestado pelo Sporting ao Córdoba: "Vou dar a vida quando voltar". No Record, Luisão elogia colega - "Jardel é o meu grande parceiro na defesa" - e A Bola anuncia reforços internos para o Sporting: "Gauld, Wallyson, Matheus Pereira e Rubio com lugar no plantel principal". GP MALÁSIA

Vettel vence pela primeira vez na Ferrari No final da prova Vettel gritou a plenos pulmões: "O número um voltou, a Ferrari está de volta". Lewis Hamilton foi segundo.

Foto: EPA/DIEGO AZUBEL

Sebastian Vettel partiu atrás de Hamilton mas venceu o Grande Prémio da Malásia, voltando às vitórias quase


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ano e meio depois. É o primeiro triunfo ao volante da Ferrari, escuderia que volta a subir ao lugar mais alto do pódio, quase dois anos depois. A última vitória da Ferrari tinha sido a 12 de maio de 2013, com Fernando Alonso, no GP Espanha. Vettel foi melhor do que toda a concorrência e venceu a segunda corrida do Mundial 2015, alcançando o 40.º triunfo da sua carreira. A entrada do "safety car" durante a prova beneficiou o piloto germânico que até aí seguia atrás de Lewis Hamilton. No final o britânico da Mercedes ficou a 8,5 segundos do alemão da Ferrari, enquanto Nico Rosberg, também piloto da Mercedes, completou o pódio. No final da prova Vettel gritou a plenos pulmões: "O número um voltou, a Ferrari está de volta". "Obrigado, obrigado. Força Ferrari" disse repetidamente enquanto empunhava a bandeira a escuderia italiana.

Portugal vence e é líder Portugal 2-1 Sérvia. Recorde os melhores momentos em rr.sapo.pt.

Foto: Mário Cruz/Lusa Por Carlos Calaveiras

A selecção portuguesa de futebol venceu a Sérvia no estádio da Luz, assumiu a liderança do Grupo I de qualificação e deu um passo importante para marcar presença no Euro 2016 em França. A equipa das quinas ganhou com golos de Ricardo Carvalho e Fábio Coentrão. Pelos sérvios descontou o conhecido Matic. Os comandados de Fernando Santos, que esteve na bancada por castigo, dominaram a maior parte do encontro e justificaram o triunfo numa partida que não teve muitas ocasiões de golo, mas em que os portugueses foram quase sempre mais perigosos. Agora, Portugal soma nove pontos em quatro jogos, mais dois pontos que Dinamarca e Albania. 95'- Final (2-1) 92'- Cartão AMARELO para João Moutinho (Portugal). 90'- Quatro minutos de descontos. 90'- Cartão AMARELO para Djuricic (Sérvia). Falta sobre Cristiano Ronaldo. 88'- Remate perigoso de Nani. Bola bate num defesa e vai para canto. 86'- SUBSTITUIÇÃO. Em Portugal sai Danny e entra William Carvalho.

85'- SUBSTITUIÇÃO. Na Sérvia entra Skuletic. 83'- Cartão AMARELO para Tosic (Sérvia). Falta sobre João Moutinho. 78'- SUBSTITUIÇÃO. Em Portugal sai Fábio Coentrão e entra Quaresma. 77'- Boa defesa de Rui Patrício. 73'- Remate de Ljajic contra Eliseu. 70'- Remate de Fábio Coentrão na área, contra um defesa sérvio. 65'- SUBSTITUIÇÃO. Na Sérvia sai Markovic e entra Djuricic. 63'- GOLO de PORTUGAL. Marca FÁBIO COENTRÃO após grande jogada de Cristiano Ronaldo e João Moutinho (2-1) 62'- Remate de Nani, fácil para Stojkovic. 61'- GOLO da Sérvia. Marca MATIC após um canto. Remate cruzado sem hipóteses para Rui Patrício. Eliseu é mal batido (1-1) 53'- OPORTUNIDADE. Cabeceamento de Mitrovic por cima após cruzamento de Tadic. João Moutinho estava lesionado,sofreu um pisão involuntário de Markovic. 48'- Tiago cabeceia em balão e a bola sai fácil para o guarda-redes sérvio. 48'- Cartão AMARELO para Kolarov (Sérvia). Falta sobre Ronaldo. 46'- Falta perigosa de Bosingwa à entrada da área. 20h47: Segunda parte perante 58.430 espectadores. Vantagem justa de Portugal sobre a Sérvia ao intervalo. A equipa das quinas marcou um golo por Ricardo Carvalho e teve a outra grande oportunidade (por Cristiano Ronaldo). 46'- Intervalo (1-0) 45'- Um minuto de descontos. 41'- Cartão AMARELO para Fábio Coentrão (Portugal) e Ljajic (Sérvia). Os dois jogadores desentendem-se. 39'- Bom remate de João Moutinho, mas por cima. 38'- Remate torto de Tiago. 32'- Cabeceamento de Fonte ao lado. 30'- Jogada individual de CR7 pela esquerda, mas o cruzamento vai contra um defesa sérvio. 29'- OPORTUNIDADE. Grande remate de Cristiano Ronaldo ao ângulo superior direito, mas Stojkovic defendeu para canto. 26'- Erro de Eliseu que faz uma "assistência de cabeça" para um sérvio que remata com perigo. Bola vai para canto. 24'- Cartão AMARELO para Matic (Sérvia). Falta sobre Cristiano Ronaldo. 21'- Ofensiva de Mitrovic, com Bruno Alves a cortar já dentro da área. 17'- SUBSTITUIÇÃO. Em Portugal sai Ricardo Carvalho (lesionado) e entra José Fonte. 14'- Primeiro ataque da Sérvia que ganha um canto. Remate de Tadic. 10'- GOLO de PORTUGAL. Marca RICARDO CARVALHO de cabeça, após um canto marcado curto entre Fábio Coentrão e Danny (1-0) 6'- Cruzamento de Nani. A bola seguia para Fábio Coentrão, mas Basta cortou. 4'- Primeiro remate do jogo foi de Danny. Stojkovic agarrou à segunda. 19h46: Começa o jogo na Luz. Sai Portugal. É uma partida importante para a selecção nacional no estádio da Luz. Em caso de vitória, Portugal passa a liderar o grupo I de qualificação para o Europeu de


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2016. Entre os 11 escolhidos por Fernando Santos destaque para a dupla à esquerda (Eliseu e Fábio Coentrão) e para a ausência de um ponta de lança de raiz na equipa das quinas. Do lado sérvio, destaque para duas ex-águias (Matic e Markovic) e um ex-leão (Stojkovic). Para este grupo já se realizou este domingo o Albânia 2-1 Arménia. Ficha do Jogo Qualificação do Europeu Estádio da Luz, Lisboa Árbitro: Gianluca Rocchi (Itália) PORTUGAL TITULARES: Rui Patrício; Bosingwa, Ricardo Carvalho, Bruno Alves, Eliseu; Tiago, Moutinho, Coentrão; Danny; Ronaldo e Nani Suplentes: Anthony Lopes, Ventura, Antunes, Fonte, Hugo Almeida, Vieirinha, William, André Gomes, João Mário, Quaresma, Cédric e Éder Treinador: Ilídio Vale [Fernando Santos está castigado] SÉRVIA TITULARES: Stojkovic; Basta, Ivanovic, Nastasic, Kolarov; Petrovic e Matic; Markovic, Ljajic e Tadic; Mitrovic Suplentes: Brkic, Lukac, Obradovic, Dusko Tosic, Gudelj, Zoran Tosic, Maksimovic, Tomovic, Milivojevic, Kostic, Djuricic, Skuletic. Treinador: Radovan Curcic ENTREVISTA

Paul Bhatti. "Perseguição aos cristãos tem origem na pobreza e na iliteracia" Médico e activista pelo diálogo interreligioso no Paquistão, Bhatti luta contra os extremismos e o medo de ser morto por professar uma fé. O ex-ministro da Harmonia Nacional do Paquistão conversou com a Renascença. Por José Pedro Frazão

Paul Bhatti, activista pelo diálogo inter-religioso no Paquistão, denuncia a existência no Paquistão de uma ideologia extremista que nada tem a ver com o islão. As desigualdades sociais são apontadas como o problema cuja solução é essencial para acabar com a discriminação da minoria cristã naquele país. A Renascença entrevistou o médico, que vive sob constante ameaça de morte. Bhatti formou-se para salvar vidas, mas a prática clínica deu lugar a uma luta pela sobrevivência da minoria cristã do Paquistão, que o levou ao simbólico cargo de ministro da Harmonia Nacional no governo de Asif Ali Zardari. Paul sucedeu nessa missão ao seu irmão Shabazz, assassinado em Março de 2011, quando

era também ministro das minorias num país de esmagadora maioria muçulmana. Antes de discursar no Meeting Lisboa, iniciativa organizada por universitários ligados ao movimento católico Comunhão e Libertação, Paul Bhatti aceitou falar sobre a sua luta. Contra os extremismos, que justifica com desigualdades sociais. Contra o medo de ser morto, que associa a um recuo nessa mesma luta. Como descreve actual situação da minoria cristã no Paquistão? O meu país está a passar um momento muito difícil da sua história. Temos instabilidade política, económica e social. Nunca tivemos, até agora, uma situação política estável. Tivemos, por várias vezes, leis marciais, duas guerras com a Índia, uma ditadura militar;, temos agora três milhões de refugiados nas fronteiras. Tudo isso mina a estabilidade política e social do Paquistão. Muitas forças e ideologias extremistas cresceram neste país. E desbalizaram-no e, infelizmente, às minorias religiosas. Em particular, os cristãos, que pertencem à parte mais pobre da sociedade. Quando um país está sob ameaça e instável, em tempos de crise, é claro que os pobres sofrem mais do que os outros. Neste contexto, muitas ideologias extremistas apenas criam divisões e ódios entre pessoas de diferentes credos. Alguns consideram que a comunidade cristã no Paquistão é a representante do mundo ocidental, em especial, do mundo cristão. Por isso, como vingança para com a comunidade internacional, especialmente com os Estados Unidos e a Europa, tentam atingir a comunidade cristã do Paquistão. Além disso, há muitas pessoas que acreditam, literalmente, que os cristãos são os seus inimigos. Portanto, os actos de violência contra os cristãos e outras minorias religiosas são muito comuns. Isso é muito diferente do que encontrávamos em 2001, após o 11 de Setembro. Havia pressão, mas não este tipo de violência contra os cristãos. A ideia de um ministério para as minorias religiosas deveria fornecer algum enquadramento diferente. Isso tudo desapareceu? Nunca houve, propriamente, um ministério das minorias religiosas. Havia uma espécie de ministro estadual com esta pasta, no âmbito do Ministério das Religiões. Quando o meu irmão se tornou ministro federal, então criou-se um ministério federal, em Islamabad. Mas, infelizmente, foi feita uma emenda na Constituição do Paquistão a dar mais autonomia aos ministérios provinciais. O ministério das minorias passou para o âmbito das províncias, pouco depois de seu estar no ministério. Então, fiz um apelo ao primeiro-ministro e ao Presidente do Paquistão para a criação de uma plataforma das minorias religiosas, para promover a coexistência pacifica de pessoas de diferentes credos. Esse apelo foi aceite de forma muito simpática e criámos o novo ministério da Harmonia Nacional, que existe, agora, no contexto do Ministério das Religiões. A discriminação dos cristãos é um problema que se resolve com leis ou com outras ferramentas na sociedade? Há duas coisas que constituem o problema de base: a pobreza e a iliteracia. A pobreza, porque essas pessoas pertencem à classe mais baixa e marginalizada da


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sociedade e isso cria vítimas fáceis. Em parte, há a discriminação religiosa e, por outro lado, há um problema de castas. Os cristãos fazem o trabalho mais sujo, mais pobre e mais humilde. Não são considerados valiosos para o país. Mas o Paquistão não foi criado com o sistema de castas da Índia? Não, mas a Índia e o Paquistão têm a mesma tradição. O sistema de castas existe há muitos anos na Índia. A ideia acaba por ser a mesma, com o correr dos tempos. Em países pobres, existe a discriminação contra as classes mais baixas. À margem dessa questão, há um grupo que quer impor uma filosofia radical no Paquistão e vê as minorias religiosas como uma ameaça. Você disse que encontrou, em 2001, uma situação melhor do que a actual, mesmo com a pressão sobre os cristãos. Mas há muitos anos, mesmo antes da sua viagem ao Paquistão, o sistema escolar estava nas mãos dos cristãos, até mesmo o sistema de saúde. A maioria das pessoas - a “nata da sociedade”, incluindo o primeiro-ministro e o presidente - estudou em escolas cristãs. Éramos a minoria, mas éramos respeitados. A ideologia - não dizendo que tinha base cristã - era, contudo, muito livre. Isso mudou em 15 anos? Isso mudou muitas vezes, porque perdemos muitas escolas. Apareceram muitas 'madrassas' [escolas islâmicas] e surgiram muitas outras coisas. Além disso, há agendas políticas, contra a América, grupos que queriam atacar e que quiseram destruir as Torres Gémeas. E pessoas que expressam ódios contra os países ocidentais. São pessoas que vêem os cristãos como inimigos. O que é que se pode fazer, para além de se denunciar, a nível internacional, em vários fóruns, que os cristãos deviam ser salvos, deviam ser protegidos? Isso está tudo bem, mas, à margem disso, a raiz do problema está na educação e na pobreza. Se eliminarmos a pobreza, se dermos mais oportunidades de educação aos cristãos, eles tornam-se alguém com mais valor para a sociedade. Eles não são considerados valiosos para o país. Se não receberem educação, se não trabalharem, os cristãos vão continuar a ser desvalorizados. Shahbaz Bhatti, irmão de Paul, foi assassinado por defender a abolição da lei da blasfémia. Paul dá continuidade ao seu trabalho. Foto: DR A legislação antiblasfémia pretende reprimir a ofensa às religiões. No papel, claro, porque a prática parece bem diferente. Será este o caso de uma lei que deve ser liminarmente rejeitada ou contém alguma semente, uma base que se possa trabalhar para a protecção de todas as religiões, colocando o diálogo acima de tudo? Há várias formas de o conseguir. O mais importante é parar com essa espécie de lavagem cerebral que está a ser feita às crianças, que são ensinadas a transmitir mensagens de ódio contra outras religiões. Por exemplo, se a lei for agora retirada, mas não for travada a criação ou o crescimento dessa ideologia, não se consegue parar nada. Até agora, foram poucas ou quase nenhumas as pessoas que foram acusadas de blasfémia e mortas pela força da lei. Foram pessoas que mataram pessoas. Em primeiro lugar, temos de parar com essa ideologia que é tão perigosa, violenta e está a ameaçar toda a sociedade. Se não pararmos isso,

mesmo que se altere a lei, isso não será resolvido. E este é apenas um problema do Paquistão? A sua descrição vai ao encontro de outros países onde os cristãos são perseguidos... Talibãs, Al-Qaeda, Boko Haram, Estado Islâmico. São tudo diferentes caras da mesma ideologia. Se este tipo de problema for ultrapassado no Paquistão, vai tornarse num modelo a seguir para outros países. O Paquistão é um poder nuclear, tem tradições religiosas muito fortes. E, ao mesmo tempo, tem uma tradição e uma história cultural muito forte, tal como a Índia. Tivemos filósofos, como Mahatma Puhle e Mahatma Ghandi, provenientes dessa cultura, que transmitiam uma mensagem de paz e amor. Essa terra pertence a uma cultura tão harmoniosa que, se ultrapassarmos isto e ela se tornar pacífica, acho que os outros não vão ter dificuldades para, automaticamente, seguirem esse caminho. Parece estar optimista. Porquê? Porque há um poder na "contaminação" entre diversos países? O Presidente afegão dizia-se, esta semana, preocupado com a entrada do Estado Islâmico no seu país. Juntando-se aos talibã, é um cenário de pesadelo para os cristãos... Isso vai ao encontro da minha tese. O Estado Islâmico vai ter com os talibã porque partilham a mesma ideologia e de alguma forma apoiam-se mutuamente. Os talibã são as pessoas mais fortes e resistentes do mundo. Lutaram contra os russos, os britânicos, muitos outros invasores. Cresceram neste tipo de ideologia. Duas igrejas foram atacadas em Lahore, no Paquistão. Mas houve também uma resposta... Dos cristãos... Cem cristãos foram detidos na sequência de protestos e de um linchamento de suspeitos. Como que vê esta resposta violenta dos cristãos? Em primeiro lugar, condenamos duramente este tipo de violência contra as igrejas e ficámos muito sentidos, com uma dor muito profunda face a este acto de violência. Mas nunca esperámos que estes dois muçulmanos fossem imolados. Foram mortos e queimados. Esta é a ideologia que condenamos. Não podemos fazer o mesmo que os outros estão a fazer. Já dei o meu testemunho, em várias estações de televisão e jornais do Paquistão. Não queremos este tipo de resistência por parte dos cristãos. É claro que não aceitamos que alguém ataque as nossas igrejas, as nossas orações e mate a nossa gente. Foi um acto de desespero? Mas até em momentos de desespero, por exemplo, se sou uma pessoa que defende os valores humanos e que está a proteger as pessoas, eu não vou começar a matar outras pessoas. As minhas convicções tornamse fracas. Não posso. Sou um médico. Basicamente, o meu papel é salvar pessoas. Não posso começar a matar pessoas. Este acto é absolutamente condenável, não tem justificação. Como se dialoga com alguém que nos oprime? Isso é interessante. Não tenho que dialogar com pessoas que me oprimem, que estão convencidas que têm que matar e morrer. Essas pessoas sofreram uma lavagem cerebral. Tenho que dialogar com outras pessoas, que têm poder e que acreditam genuinamente que somos os seus inimigos. Tenho que dialogar com o Governo, que tem poder para parar com este tipo de ideologias, em que as pessoas são vítimas de lavagens


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cerebrais e que crescem com estas ideologias. Temos que falar com líderes religiosos, que estão convencidos de que os cristãos são os seus inimigos. Quando fui ministro federal da Harmonia Nacional, tive muitos diálogos com líderes religiosos muçulmanos com muito bons resultados. O mais histórico dos resultados diz respeito a uma rapariga que foi acusada de blasfémia e muita gente queria atacar a comunidade cristã. Nessa altura, fiz um apelo aos lideres religiosos muçulmanos para que ajudassem. Se ela tivesse cometido blasfémia, o caso deveria seguir pelos canais judiciais. Mas se nada fez, que mal fizeram os cristãos? Tivemos um diálogo, eles acreditaram em mim, apoiaram-me. E, no fim, ela foi libertada. E a pessoa que falsamente a acusou foi levada à justiça. Tem o apoio de muçulmanos moderados ou que alinham com os cristãos? Claro. Tivemos o governador do Punjab, que apoiou a causa de Asia Bibi [paquistanesa condenada à pena de morte por alegada blasfémia] e foi assassinado por isso. Alguns advogados que defenderam cristãos acusados de blasfémia foram mortos. Tenho amigos muçulmanos que me defendem. Meu amigo, não existem os "muçulmanos moderados versus muçulmanos extremistas". Os muçulmanos ou o são ou não são. Por norma, aprendi que o islão é uma religião muito boa no que concerne aos valores humanos. A questão é a forma como eles interpretam a sua religião, como transmitem estes valores aos outros. Se tiverem uma agenda pessoal, alguns pensarão que se deve constituir um ataque ao mundo ocidental. Eles financiam e patrocinam algumas escolas onde estes alunos são ensinados por uma ideologia extremista. Não há um islão extremista. É a ideologia que está por trás que patrocina este extremismo. É isso que tem que ser atacado. Como é que ultrapassa o medo de ser morto, como o seu irmão? O medo existe, está lá. Somos seres humanos, sabe, somos pessoas. Se disser que não tenho medo, estarei a mentir. Temos medo. Mas, por outro lado, se uma pessoa vir qual é a sua força e qual é a sua luta, tem de enfrentar esse medo. A partir daí, isso torna-se secundário. Se começo a recuar, estou a acabar com a minha luta. Por isso, tenho de ultrapassar o medo e ser cuidadoso. Não quero ser morto só porque, sendo morto, a minha luta acaba. Mas, ao mesmo tempo, sei que a minha hora está destinada e que, a uma determinada altura, temos que morrer. Por isso, temos de tomar medidas razoáveis de precaução. Eu continuo a minha luta e tomo medidas para me proteger. Mas, se acontecer na segunda-feira, acontece. É assim.

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