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EDIÇÃO PDF Directora Graça Franco

Segunda-feira, 19-01-2015 Edição às 08h30

Editor Raul Santos

Partos por cesariana em queda nos hospitais públicos Garcia de Orta investiga morte de utente que esperava nas urgências

UE prepara contra-ataque ao terrorismo

Papa Francisco despede-se de milhões em Manila

Rui Rio volta a defender regionalização

2014 foi o ano mais quente desde Sete dias para continuar a ser que há registos Charlie

Região do Douro em agonia

Idas ao cinema são Vai alguma coisa as mais baixas mudar com uma desde 2004 vitória do Syriza?

MANUEL PINTO


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UE prepara contraataque ao terrorismo Ministros europeus vão debater em Bruxelas a resposta aos atentados de Paris.

Soldado patrulha ruas de Bruxelas. Foto: Julien Warnard/EPA

A luta contra o terrorismo vai dominar a reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE), hoje, em Bruxelas, poucos dias após uma operação policial de grande escala na Bélgica ter evitado atentados na capital do país. A questão já estava na agenda do encontro de chefes de diplomacia ainda antes da operação antiterrorista da passada quinta-feira à noite na Bélgica, que resultou na morte de dois radicais islâmicos e na detenção de outros 13 presumíveis terroristas, tendo sido inscrita na ordem de trabalhos na sequência dos atentados da semana passada em Paris. Os ministros dos 28, entre os quais Rui Machete, vão discutir com a Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Federica Mogherini, e com o coordenador antiterrorista da UE, Gilles de Kerchove, maneiras de reforçar a luta contra o terrorismo jihadista, ainda na sequência do ataque ao jornal satírico francês “Charles Hebdo”. Fontes comunitárias indicaram que não são aguardadas decisões no encontro de hoje, sendo o principal objectivo uma primeira troca de opiniões, também com vista à cimeira informal de chefes de Estado e de Governo europeus que se realizará no próximo mês, e que será dedicada à luta contra o terrorismo, tal como decidido na sequência dos ataques em Paris.

Papa Francisco despede-se de milhões em Manila Na última missa antes de voltar para Roma, o Papa foi recebido por seis milhões de pessoas, a maior assistência de sempre. Por Aura Miguel, enviada especial às Filipinas.

A multidão de seis milhões de pessoas não arredou pé

em Manila. À medida que os céus ficavam mais cinzentos, o número de pessoas aumentava pelas ruas circundantes do local da missa. Quem ali permaneceu, molhado até aos ossos, ouviu Francisco dizer que “os filipinos estão chamados a ser exímios missionários da Ásia”. E para cumprir essa missão o Papa deixou vários conselhos: “Recusar as seduções do diabo, que actua através da aparência do sofisticado, do fascínio de ser ‘moderno’, de ser 'como todos os outros’”, não se distrair “com a miragem de prazeres efémeros e passatempos superficiais”, nem desperdiçar os dons recebidos “com apetrechos fúteis” ou gastar “o nosso dinheiro em jogos de azar e na bebida”. Portanto, os filipinos devem centrar-se no essencial e “permanecer interiormente como crianças”. Inspirado na antiga imagem do “Santo Menino”, trazida para as Filipinas por Fernão de Magalhães em 1521 e colocada no altar, vinda de propósito do seu santuário em Cebu, o Papa confiou ao Menino Jesus a identidade, as famílias e todo o povo, para que “continue a abençoar as Filipinas e a sustentar os cristãos desta grande Nação na sua vocação de ser testemunhas e missionários da alegria, na Ásia e no mundo inteiro”. No final, muitos filipinos levantaram réplicas do Menino Jesus para receberem a bênção e outros associaram-se com uma vela na mão. “Partam daqui como filhos da luz, essa é a vossa missão”, conclui o Papa. Francisco, vestido com uma gabardina de plástico amarelo, subiu para um papamóvel adaptado de uma camioneta típica de Manila e percorreu lentamente a vasta extensão do recinto, apinhada de gente, de pé e acenando, como num último abraço, antes do regresso do Papa a Roma, segunda-feira de manhã.


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Linha Saúde 24 com atendimento especial para a gripe Este serviço funcionará a partir de Coimbra e irá responder apenas a casos suspeitos de gripe.

Foto: Lusa

A Linha Saúde 24 vai abrir dentro de dias um serviço de atendimento específico para a gripe. A garantia foi feita pela sub-directora geral da Saúde, Graça Freitas. A especialista em saúde pública, que participava num encontro de quadros do Ministério da Saúde, em Lisboa, defendeu o reforço da Linha Saúde 24, um serviço de aconselhamento telefónico (808242424) e anunciou que dentro de dias haverá um serviço específico para o atendimento de casos suspeitos de gripe. Este serviço funcionará a partir de Coimbra e irá responder apenas a casos suspeitos de gripe. Segundo disse Graça Freitas à agência Lusa, a triagem pela Linha Saúde 24 "é fundamental", defendendo que os cidadãos que se sentem doentes não devem ir logo para os serviços de saúde, uma vez que podem ficar infectados com outros agentes que possam existir nas instituições. A especialista recordou que se está na semana acima da linha de actividade basal e em franco período epidémico. Sobre o aumento do número de mortos acima dos esperados, Graça Freitas disse que estes não se podem atribuir apenas à gripe, considerando que o frio contribuiu seguramente para a subida de casos na primeira semana. "Quem não se vacinou ainda se pode vacinar, pois ainda vamos ter semanas de gripe", defendeu.

Garcia de Orta investiga morte de utente que esperava nas urgências A mulher, de 89 anos, faleceu na madrugada de sexta-feira para sábado. O Hospital Garcia de Orta está a investigar a morte de uma utente de 89 anos, que deu entrada nas urgências na passada sexta-feira e que acabou por morrer no serviço. A idosa terá falecido na madrugada de sexta para sábado e, de acordo com o comunicado do hospital enviado à Renascença, até ao momento não foram encontradas quaisquer inconformidades no serviço prestado à doente. “Após uma análise sumária e preliminar podemos avançar que não foram detectadas quaisquer inconformidades no serviço prestado à [paciente], nem terá ocorrido qualquer situação anómala nos cuidados prestados”, lê-se no documento. O hospital vai anunciar mais esclarecimentos sobre o caso quando o processo de investigação já estiver concluído. Segundo avança a RTP, nove pessoas morreram nos serviços de urgência à espera de atendimento desde o início do ano. No dia 11 de Janeiro um homem com cerca de 60 anos morreu depois de três horas nas urgências do Hospital Garcia Horta. O conselho de administração disse que a morte do doente “não se poderia ter evitado”.


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Partos por cesariana em queda nos hospitais públicos Números caíram para níveis de 2002. Ainda assim, Portugal continua acima da média europeia.

MANUEL PINTO

Sete dias para continuar a ser Charlie São inaceitáveis os atos de Estados, grupos ou indivíduos que visem censurar ou silenciar alguém, e nomeadamente os jornalistas, por divulgarem ideias e informações. Por maioria de razão são intoleráveis atos, quaisquer que sejam os seus motivos, para liquidar alguém por esses mesmos motivos, como agora (uma vez mais) sucedeu.

Foto: DR

A taxa partos por cesariana está em queda nos hospitais públicos, avança a edição desta segundafeira do jornal “Público”. O número de partos por cesariana caiu para níveis de há 13 anos. Em 2014, a taxa baixou para 28%, quando no ano anterior estava nos 31%. Ainda assim, o resultado do país é ainda de 33%, acima da média europeia, devido aos hospitais privados. A Comissão Nacional para a Redução da Taxa das Cesarianas apresenta, esta segunda-feira, os dados disponíveis em relação ao ano passado, até Setembro. Cesariana não é a forma mais segura de nascer O presidente da Comissão Nacional para a Redução da Taxa de Cesarianas, Diogo Ayres de Campos, considera que a descida verificada nos últimos anos é positiva. Em declarações à Renascença, Diogo Ayres de Campos defende que o principal motivo para controlar a taxa de cesarianas “tem a ver com os riscos acrescidos que a cirurgia tem”. “Sabemos que as cesarianas, quando são necessárias, podem salvar a vida das mães e dos bebés, mas quando são banalizadas, quando se transmite a ideia de que é a forma mais segurança de nascer, claramente não é aquilo que se passa”, afirma. “A cesariana tem riscos quer da própria cirurgia, porque tem mais hemorragia, tem mais infecção, quer depois no pós-operatório. A noção de que para o bebé é a forma mais segura de nascer, é uma noção errada, porque os bebés têm cerca de sete vezes mais complicações respiratórias quando nascem de cesariana, têm mais diabetes e mais asma na infância. É uma questão de apenas realizar as cesarianas necessárias e reservá-las só para as situações de risco de saúde”, defende Ayres de Campos. Em relação aos hospitais privados, onde a taxa de cesarianas chegou perto dos 70%, o presidente da Comissão Nacional para a Redução da Taxa de Cesarianas defende medidas para reduzir o número de partos através deste método.

No próximo dia 3 de maio celebra-se, por iniciativa da ONU, o Dia Mundial da Liberdade de Expressão e de Imprensa. A efeméride evoca-se desde 1993, mas depois dos ataques terroristas de Paris, em que foi assassinada uma parte da equipa da revista satírica Charlie Hebdo, a evocação reveste-se de uma carga simbólica especial. Como acontece desde há quatro anos, um grupo de instituições nacionais vai convidar os media a tomarem iniciativas no sentido de avivar a aprendizagem da liberdade de expressão e de imprensa, de conhecer os riscos e as dificuldades que hoje enfrentam os jornalistas e criadores e todos os que lutam pelos direitos humanos. Mas uma matéria destas deve estender-se a toda a população, em particular as escolas e outras instituições educativas. Também por isso é que a evocação se fará entre 3 e 9 de maio, sob o lema “sete dias com os media”, a fim de facilitar os dias e modos da evocação. Nessa semana, todos somos convidados a mostrar por atos que continuamos a ser Charlie. E podemos começar, desde já, a projetar modos de dar forma e vida a um projeto, por pequeno que seja, que ajude a dar densidade a um valor que é fundamento da nossa vida social e da própria democracia. Nas nossas sociedades a expressão é livre, o que significa que também tem de ser livre concordar ou discordar e mesmo defender direitos que se considerem violados com a expressão livre. Mas aprendemos a fazê-lo através de argumentos, do debate e, em última instância, dos tribunais. São


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inaceitáveis os atos de Estados, grupos ou indivíduos que visem censurar ou silenciar alguém, e nomeadamente os jornalistas, por divulgarem ideias e informações. Por maioria de razão são intoleráveis atos, quaisquer que sejam os seus motivos, para liquidar alguém por esses mesmos motivos, como agora (uma vez mais) sucedeu. Isto que parece evidente custou séculos a conquistar. Muitas vidas ficaram pelo caminho. E essa conquista é (cada vez mais?) frágil e ameaçada: pela ignorância, pelo medo, pelas pequenas e grandes prepotências e demissões. De novo só lhe podemos dar densidade cuidando de identificar e enfrentar as situações de ameaça. É fácil dizer “eu sou Charlie” e medir ou impor o grau em que os outros o são ou não são. Difícil é dar corpo, em cada dia, à vivência do direito à liberdade própria e de todos, em contextos diversos, assimétricos e multiculturais.

Portuguesa distinguida com Prémio Europeu do Jovem Investigador Rita Guerreiro foi seleccionada pelo trabalho sobre as mutações do gene TREM2, possível factor de risco da Doença de Alzheimer e de outras doenças degenerativas. A investigadora portuguesa Rita Guerreiro, da University College London, em Londres, no Reino Unido, vai receber o "Prix Européen Jeune Chercheur" (Prémio Europeu do Jovem Investigador), a 19 de Janeiro, numa gala em Paris. "Isto é um prémio que vem reconhecer o trabalho que temos desenvolvido nestes últimos tempos e é também uma motivação muito grande para o futuro. É um prémio que foi atribuído, por votação, por outros investigadores e, portanto, é um reconhecimento pela comunidade científica internacional", disse à agência Lusa Rita Guerreiro. A cientista foi seleccionada pelo trabalho sobre as mutações do gene TREM2, indicado como possível factor de risco da Doença de Alzheimer e de outras doenças degenerativas como a Demência Frontotemporal. A votação foi feita por um comité científico europeu e o prémio é atribuído pela "Association pour la Recherche sur Alzheimer" (Associação para a Investigação sobre Alzheimer), criada em 2004, em França, e dedicada à pesquisa sobre a doença. A investigadora fez questão de sublinhar que "é um prémio que reflecte todo o trabalho de uma equipa" nos últimos dez anos, em referência ao laboratório Guerreiro-Bras, chefiado por ela e pelo marido José Miguel Brás e que faz parte do Departamento de Neurociência Molecular do Instituto de Neurologia da University College London.

"É muito gratificante vermos que uma descoberta que nós fizemos - que não está tão directamente associada com o doente mas que claramente levou a um melhor conhecimento da doença - está neste momento a fazer com que haja investigação mais aplicada, principalmente em termos de fármacos que se estão a basear nestas descobertas", continuou a investigadora. O prémio é de dez mil euros, um montante que pretende "apoiar e encorajar um jovem investigador que tenha projectos de investigação prometedores", de acordo com a página da internet da associação. "É sempre dinheiro essencial para conseguirmos manter o laboratório a funcionar e vai ser essencial para conseguirmos continuar os estudos que temos estado a desenvolver", explicou a investigadora de 34 anos, acrescentando que o laboratório continua a "estudar famílias com doenças raras". Rita Guerreiro saiu de Portugal em 2006 e não pensa regressar porque "na mesma área será muito difícil", ainda que gostasse "muito". "Os apoios à ciência são cada vez menores e para fazer trabalhos deste género é necessário um investimento muito grande, os projectos são muito caros, manter um laboratório custa muito dinheiro - especialmente na área da genética - e é necessário estar ligado a grupos e a instituições com uma grande capacidade financeira. Eu diria que seria quase impossível fazer o mesmo tipo de trabalho em Portugal", concluiu.

Rui Rio volta a defender regionalização "Pode ser uma ferramenta importantíssima para o país", sustentou.

O antigo presidente da Câmara do Porto Rui Rio afirma que a "regionalização podia ser talvez o maior abanão para alterar o sistema político" actual. A regionalização é "algo que temos à mão que nos pode ajudar muito nesta nova etapa do regime", afirmou o social-democrata, que esta tarde participou no debate organizado pela Federação Distrital do PS do Porto sobre "Melhor Estado -- Mais Democracia", que decorreu em Leça da Palmeira, concelho de Matosinhos, distrito do Porto. Rui Rio, que votou não no referendo e que tem defendido regularmente uma reforma do regime,


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considerou que "a regionalização é seguramente uma medida que merece ser muito bem estudada no sentido de se conseguir um consenso" no país. "Pode ser uma ferramenta importantíssima para o país", sustentou, acrescentando que desde o referendo sobre a regionalização até agora "as coisas agravaram-se". "Aquilo que achava que era possível [fazer] sem regionalização manifestamente não só não se fez como se agravou", vincou. Defendendo a alteração da Constituição, que considerou que se "desgastou com o tempo", Rui Rio salientou que "ninguém vai criar mais serviços" com a regionalização, quanto muito altera-se apenas a tutela dos serviços. "O ponto de partida para qualquer reflexão sobre regionalização tem que partir do pressuposto que vamos fazer melhor com menos dinheiro", disse. Afirmando estar convencido de que "se os partidos fundamentais se entenderem, em diálogo com a sociedade, o referendo terá uma inclinação para o sim muito grande, mas sem as picardias do costume, que não levam a nada e afastam cada vez mais a sociedade dos políticos", Rio defendeu que, "na primeira oportunidade", deve ser feito "um debate aberto entre sociedade e partidos para analisar as competências, as finanças regionais e a arquitectura orgânica da regionalização".

Açores defende revisão do acordo das Lajes com EUA Vasco Cordeiro lembra que o acordo vai muito além da parte técnica, com consequências para a economia do arquipélago e da região no seu todo.

O presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro, defende a revisão de todo o acordo com os Estados Unidos relativo à base das Lajes, e não apenas a sua parte técnica, como admitiu o primeiro-ministro. "Quando falamos de rever o acordo técnico, estamos a falar, a circunscrever o impacto desta decisão apenas à base das lajes e o que eu acho é que a forma como este processo foi conduzido pelos Estados Unidos da América merece uma resposta mais firme, mais determinada, da parte do Estado português", disse Vasco Cordeiro, numa entrevista à RTP, acrescentando

que, "naturalmente, tem de ser desencadeada a revisão do acordo [todo]". O presidente do executivo açoriano sublinhou que os EUA confirmaram no início deste mês que vão retirar das Lajes, na ilha Terceira, 500 civis e militares norteamericanos e despedir 500 trabalhadores portugueses, exactamente a mesma decisão que haviam já transmitido a Portugal há dois anos. "Durante os últimos dois anos, os mais variados níveis de representação política e institucional do nosso país demonstraram aos EUA que esta era uma decisão que necessitava ser modelada, era uma decisão que, como fora anunciada, não deveria ir avante", sublinhou, repetindo a expressão "monumental bofetada na casa do Estado português", que utilizou no dia em que se soube da decisão norte-americana. O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, defendeu, na sexta-feira, que os EUA "não podem deixar de atender" ao impacto económico da redução da sua presença na Base das Lajes e admitiu suscitar a revisão do acordo técnico bilateral. Vasco Cordeiro referiu que o Acordo de Cooperação e Defesa entre Portugal e os EUA prevê "os mecanismos" para ser acionada a sua revisão e integra várias áreas, que vão desde a utilização das instalações da base das Lajes, a cooperação militar ou investigação e desenvolvimento na área da Defesa. O presidente do executivo açoriano, que na segundafeira se reúne com o Presidente da República, admitiu ainda a possibilidade de a infra-estrutura das Lajes ser usada por outro país que não os EUA, como a China, com quem Portugal tem "uma relação diplomática" que é "muito anterior" àquela que tem com Washington. "Se é certo que, do ponto de vista militar, há muito que nos distingue, do ponto de vista do interesse comercial se calhar, não há assim tanto", afirmou, admitindo a possibilidade de serem avaliadas "as pretensões que podem existir quanto à rentabilização das instalações que existem nos Açores, no meio do atlântico, para um conjunto de interessados que podem ter uma comunhão de interesses" com os nacionais.


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Região do Douro em agonia Extinção e insolvência da Casa do Douro pode agudizar a já “dramática” situação dos funcionários da instituição e dos pequenos e médios vitivinicultores.

Vitral na sede da Casa do Douro. Foto: Olímpia Mairos/RR Por Olímpia Mairos

A Região Demarcada do Douro vive um dos momentos mais conturbados da sua história. A extinção da Casa do Douro (CD) como instituição pública, o pedido de insolvência e as consequências para todo o sector do vinho Douro e Porto preocupam vitivinicultores, funcionários e direcção da extinta CD e os sacerdotes da região. Uns e outros falam em processo “mal conduzido” que pode levar à “ruína” da mais antiga região demarcada do mundo. António Januário, director da extinta CD, não poupa palavras para dizer que “quem criou estes imbróglios foi o Governo e, em particular, o secretário de Estado da Agricultura e, portanto, tem que ser o Governo a resolvê-lo”. O dirigente reconhece legitimidade política ao Governo para “extinguir a Casa do Douro”, mas coloca em causa a forma como o processo foi lançado e está a ser conduzido e que classifica como “um assalto ao património da Casa do Douro, para ser entregue a uma associação privada”. António Januário denuncia ainda que o “senhor secretário de Estado da Agricultura - segundo indícios que circulam há muito tempo - esteja a favorecer uma dessas entidades privadas”. Também o processo de insolvência, pedido pelo estado, ao qual foi atribuído um valor de 124,6 milhões de euros, está a motivar preocupações, já que “tem a ver com cerca de 30 mil pipas de vinho do Porto, que pode ser lançado no mercado de uma vez só, e que pode ter graves implicações no sector do vinho do Porto”, alerta António Januário. Dois anos de salários em atraso A Casa do Douro enquanto associação de direito público foi extinta a 31 de Dezembro de 2014, dando cumprimento a um decreto-lei publicado em Outubro, que extinguiu também os postos de trabalho afectos à organização, onde desempenham funções funcionários privados e públicos.

Maria José é funcionária do quadro da CD há 15 anos. Há dois que não recebe salário. Permanece na instituição porque “a Autoridade para as Condições do Trabalho - Centro Local do Douro, ao pedido de esclarecimento feito pela direcção da CD, respondeu que a instituição não foi extinta, mas apenas a sua qualidade, enquanto associação pública”. Maria José vive angustiada porque “ninguém diz como e quando vão pagar as indemnizações e os ordenados em atraso”. “É um momento muito difícil porque não temos perspetiva nenhuma. Está a decorrer agora um concurso. É pedida a insolvência da Casa do Douro a 31 de Dezembro. Deveria ter havido uma preocupação em manter os nossos postos de trabalho para a associação que viesse a seguir, mas não foi o caso. Isto causa-nos muito transtorno”, conta à Renascença. Também José Carlos, funcionário da Casa do Douro há 12 anos, não sabe se vai receber os “dois anos de salários em atraso” e admite a necessidade de recorrer à ajuda da mãe e da irmã “para viver”. José Carlos revela que é “o amor à instituição, à região e a preocupação com os vitivinicultores” que o faz permanecer no seu posto de trabalho, “apesar da angústia e da indefinição criada pela extinção da CD”. Vitivinicultores amargurados José Morais de 68 anos é vitivinicultor em Vilar de Maçada, no concelho de Alijó. Produz anualmente cerca de 20 pipas de vinho. Acompanha com apreensão a situação em torno da Casa do Douro e alerta para a ruína da região. A sua maior preocupação prende-se com a possibilidade de o 'stock' de vinho do Porto da CD, em consequência da insolvência, ser vendido de uma só vez. “Será a ruína completa”, afirma o produtor, para quem “todo o processo da extinção da Casa do Douro foi muito precipitado e está a ser mal conduzido”. O vitivinicultor fala ainda em “tempos difíceis para os lavradores” e afirma que “é insuportável granjear a vinha”, ilustrando com o abaixamento dos preços do vinho, face ao aumento dos factores de produção. “O generoso [vinho do Porto] estava entre os mil e os mil e duzentos euros e está nos oitocentos; o de consumo anda aí nos cem e cento e cinquenta euros. E os factores de produção estão cada vez mais caros”, afirma José Morais, concluindo que “não se consegue pagar a um trabalhador para granjear as vinhas e o melhor é deixá-las a monte, que é o que está a acontecer”. Segundo as contas do vitivinicultor, do ano passado para este ano “há uma diminuição de cerca de quinze mil vitivinicultores” na região do Douro. Também Alfredo da Mota, vitivinicultor em Peso da Régua, descreve a situação como “critica”. Apesar de produzir cerca de cem pipas por ano, afirma que “o preço a que o vinho é pago não compensa o sacrifício de trabalhar a vinha”. “É só impostos atrás de impostos e as pessoas vivem com muitas dificuldades”, lamenta o produtor. De proprietários a trabalhadores rurais As dificuldades por que passam muitos pequenos e médios vitivinicultores estão a preocupar os párocos da região do Douro - Régua, Santa Marta de Penaguião e Mesão Frio - que já em Setembro último alertaram para


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o “drama social” que se vive na região e pediram a intervenção “urgente” do Presidente da República, Governo e Assembleia da República. “É um drama humano” , diz à Renascença o pároco do Peso da Régua, padre Luís Marçal, que explcia: "Implica com a própria pessoa e não apenas com a forma de viver”. Acresce que “denota falta de dignidade e de respeito para com as pessoas”. O sacerdote refere que “muitas famílias estão a emigrar” e revela que “proprietários de vinhas, que antes tinham pessoas a trabalhar para si, agora se veem obrigados a trabalhar como trabalhadores rurais e que, com a vergonha - porque de patrões passaram a empregados - vão para outras terras”. “Isto conduz à separação das famílias e à degradação das habitações”, lamenta o padre Marçal. “Saem ao domingo à tarde e, depois, vêm à sexta-feira à noite. Ao sábado e domingo trabalham nas vinhas deles. É triste!”, sublinha. “Casa do Douro forte” é a solução O padre Luís Marçal nota que, nos últimos 10 anos, o preço dos vinhos, para os pequenos e médios vitivinicultores, “diminuiu mais de 50%”, ao mesmo tempo que “as despesas de cultivo foram sempre aumentando”, havendo, por isso, “vitivinicultores a arrancarem as vinhas, porque não chegam a receber das uvas o necessário para pagar a própria vindima”, conta. A solução está, segundo o sacerdote, numa “Casa do Douro forte”, que é preciso “defender com unhas e dentes”. “A Casa do Douro é a mãe - o património. Sem ela, os vitivinicultores ficam órfãos”, diz o sacerdote, garantindo que “é possível" fazer do Douro uma “mesa enorme”, onde todos se sentem “ao mesmo nível, a comer do mesmo pão, a brindar ao e com o mesmo vinho”. “É preciso é união e autoridade”, remata. Criada em 1932, a Casa do Douro vive há anos asfixiada em problemas financeiros e possui actualmente uma dívida ao Estado na ordem dos 160 milhões de euros. Esta segunda-feira termina o prazo para apresentação de candidaturas à sucessão da Casa do Douro, extinta como entidade pública, a 31 de Dezembro de 2014. Podem candidatar-se à CD as associações ou federações de direito privado, sem fins lucrativos, que estejam constituídas nos termos da lei geral, tenham como associados pelo menos cinco mil viticultores da Região Demarcada do Douro com uma superfície de vinha superior a cinco mil hectares e apresentem uma situação tributária e contributiva regularizada. A associação que vier a ficar com a instituição poderá continuar a usar o nome “Casa do Douro” e ficará com o património da organização, a sede, delegações e ainda com a participação na Real Companhia Velha.

Agitação marítima e vento forte motivam aviso Semana começa com mau tempo de norte a sul do país.

Foto: EPA

Cinco distritos portugueses estão sob aviso laranja, o segundo mais grave de uma escala de quatro, devido à previsão de agitação marítima e vento forte, avança o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Os distritos de Leiria, Lisboa, Setúbal, Beja e Faro estão sob aviso laranja até às 9h00 desta segunda-feira devido à previsão de ondas altas, que podem atingir os seis metros, e de vento forte, com rajadas até aos 90 quilómetros/hora no litoral, passando depois os mesmos distritos a aviso amarelo ainda devido à ondulação e ao vento forte até às 18h00. Os restantes 13 distritos portugueses estão sob aviso amarelo também devido ao vento forte, já que são esperadas rajadas na ordem dos 100 km/hora nas terras altas, enquanto no interior podem chegar aos 70 km/hora até às 12h00. A costa norte da Madeira e Porto Santo estão igualmente sob aviso amarelo devido à agitação marítima sendo esperadas ondas de noroeste com quatro a cinco metros até ao meio-dia. Para esta segunda-feira, o IPMA prevê para as regiões do norte e centro céu pouco nublado, apresentando períodos de maior nebulosidade no interior norte e centro, tornando-se gradualmente muito nublado a partir do meio da tarde. Estão previstos períodos de chuva fraca para o final do dia no Minho e Douro Litoral, com queda de neve acima de 600/800 metros. O vento será moderado de norte, soprando forte (40 a 55 quilómetros/hora) com rajadas da ordem dos 100 quilómetros/hora no litoral, em especial a sul do Cabo Mondego, e nas terras altas até ao meio da manhã, tornando-se gradualmente fraco a moderado (10 a 25 quilómetros/hora), rodando para sudoeste no Minho e Douro Litoral para o final do dia. Prevê-se ainda uma pequena descida da temperatura mínima e uma ligeira subida da máxima. Nas regiões mais a sul, o céu estará também pouco nublado ou limpo, aumentando de nebulosidade para o final do dia, com o vento moderado de norte, mas soprando forte (35 a 55 quilómetros/hora) com rajadas


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da ordem dos 90 quilómetros/hora no litoral, em especial a sul do Cabo de Sines, e nas terras altas, até ao meio da tarde. Quanto às temperaturas previstas, as mínimas rondam os menos dois e os oito graus celsius, com as cidades do norte do país a registarem as temperaturas mais baixas, exemplo da Guarda, com menos dois graus, em Viseu é esperado um de mínima, enquanto Vila Real e Bragança têm zero graus. Para terça-feira, as previsões apontam para a continuação das nuvens e da chuva de norte a sul do país. É esperada queda de neve nos distritos da Guarda, Vila Real e Bragança. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera indica que na quarta-feira poderá acontecer um ligeira melhoria do estado do tempo, com aguaceiros e vento fracos em praticamente todo o país. A excepção é Faro, onde o Sol vai brilhar.

2014 foi o ano mais quente desde que há registos Com a excepção de 1998, os dez anos mais quentes de sempre foram registados depois de 2000.

de gases com efeito de estufa”, explicou Gavin Schmidt, da NASA. O vídeo mostra a evolução das temperaturas anuais de 1880 (o último ano registado) até 2014. "Achamos que os valores das temperaturas máximas continuarão a ser quebrados - não em todos os lugares e não todos os anos - mas sim de forma crescente, o que não augura nada de bom para uma civilização que está continuamente a enviar gases com efeito de estufa para a atmosfera", alerta Gavin Schmidt. Apesar de 2014 seguir uma tendência crescente nos últimos anos, os cientistas acreditam que vão continuar a ser registadas flutuações de ano para a ano, devido a fenómenos como o "El Niño", que "aquecem ou arrefecem o Pacífico tropical". Os dados da NASA resultam do cruzamento das medições da temperatura do ar feitas em mais de 6.300 estações meteorológicas, das medições da temperatura da superfície do mar feitas em postos de observação aquáticas e das medições feitas nas estações de investigação na Antárctida.

Idas ao cinema são as mais baixas desde 2004 Filmes "The Hunger Games: A revolta - parte 1" e "Os Maias - Cenas da vida romântica", de João Botelho, foram os mais procurados nas salas portuguesas.

Foto: Lusa

O ano passado foi o mais quente alguma vez registado, segundo estudos independentes da NASA e da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) norte-americana. Com temperaturas globais 0,69 graus celsius superiores à média do século XX, os cientistas indicam que 2014 foi mais quente do que 2005 e 2010, anos em que foram obtidos os anteriores recordes. Com a excepção de 1998, os dez anos mais quentes de sempre foram registados depois de 2000. O registo da temperatura começou a ser feito em 1880. Desde essa altura, as médias aumentaram 0,8 graus celsius devido ao aumento das emissões de dióxido de carbono e outras contribuições poluentes resultantes da actividade humana. “Enquanto o 'ranking' de anos individuais pode ser afectado por padrões meteorológicos, as tendências a longo prazo [como as temperaturas no novo milénio] são atribuídas a agentes de mudança climática, que actualmente são dominados pelas emissões humanas

Desde 2004 que os portugueses não iam tão pouco ao cinema. Dados do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA) mostram que estiveram nas salas pouco mais que 12 milhões de espectadores. No ano passado, cada sessão contou, em média, com 20 espectadores, o que equivale a 62,7 milhões de euros de receita de bilheteira - os piores valores de consumo desde há dez anos. Em 2004, foram contabilizados 17,1 milhões de espectadores. Em 2014 foram pouco mais do que 12 milhões. Comparando com 2013, em 2014 as salas portuguesas receberam menos 481.371 espectadores, o que representou menos 2,7 milhões de euros de receitas de bilheteira. Quanto aos filmes mais procurados, o “The Hunger Games: A revolta - parte 1", de Francis Lawrence, que estreou apenas em Novembro, foi o mais visto de 2014 em Portugal, totalizando 344.075 espectadores. Nos portugueses, destaca-se "Os Maias - Cenas da vida romântica", de João Botelho, somando 114.817 espectadores. “Virados do Avesso”, de Edgar Pêra e "Os gatos não têm vertigens", de António-Pedro Vasconcelos, também lideram a tabela dos mais vistos. Os dados do ICA mostram ainda que os portugueses preferem os filmes de origem norte-americana (com 8,5 milhões de espectadores) aos de origem europeia (com 1,5 milhões de espectadores).


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Lisboa, Porto e Setúbal são os distritos que registam maior número de espectadores, assim como um maior número de salas, embora a média tenham sido emitidos 22 bilhetes por sessão.

Cultural (DGCP), os museus, palácios e monumentos nacionais receberam mais de 3,5 milhões de visitantes, em 2014, num aumento de perto de 3% no número de entradas, em comparação com 2013.

Quais os museus e monumentos mais visitados?

Fenprof convoca greve em Fevereiro contra prova de avaliação de docentes

Mais de 3,5 milhões visitaram os museus, palácios e monumentos nacionais no ano passado. Um aumento de perto de 3% no número de entradas, em comparação com 2013.

Museu de Arte Antiga. Foto: DR

O Museu de Arte Antiga e o Mosteiro dos Jerónimos foram os monumentos mais visitados em Portugal, em 2014, segundo os dados do Direcção-Geral do Património Cultural (DGCP). No ano passado, além da colecção permanente, o Museu de Arte Antigo mostrou exposições temporárias - em parceria com as produtoras privadas Everything is New e actualmente a UAU - como "Rubens, Brueghel, Lorrain. A Paisagem Nórdica do Museu do Prado", "Os Saboias. Reis e Mecenas (Turim, 1730-1750)" e "FMR. A Colecção Franco Maria Ricci", que se mantém até Abril deste ano. De acordo com as estatísticas de visitantes, o Museu de Arte Antiga foi visitado por 221.675 pessoas e o dos Coches, também em Lisboa, registou 206.887. O terceiro museu nacional mais visitado em 2014 foi o Museu do Azulejo, também na capital, com 115.515 entradas. Com mais de cem mil visitantes em 2014, encontra-se ainda outro museu de Lisboa: o de Arqueologia. Acima das 50 mil entradas ficaram os museus Grão Vasco (Viseu), Conímbriga e Machado de Castro (Coimbra), do Teatro (Lisboa) e Soares dos Reis (Porto). Top dos monumentos Nos monumentos, o Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, foi o mais visitado, com 807.845 entradas. Logo a seguir surge o Mosteiro da Batalha com 300.565 visitas. Relativamente aos palácios nacionais, Mafra manteve a liderança, com 274.255 entradas. De acordo com a Direcção-Geral do Património

A partir do dia 22 de Janeiro o sindicato vai também organizar várias manifestações em defesa dos docentes contratados das escolas especializadas públicas de ensino artístico. A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) convocou, para Fevereiro, greve a todo o serviço relacionado com a Prova de Avaliação de Capacidades e Conhecimentos dos professores. A decisão foi tomada este sábado em conselho nacional. A greve surge como forma de protesto contra a prova obrigatória a que estão sujeitos todos os professores contratados, com menos de cinco anos de serviço. O Ministério da Educação ainda não marcou a data da prova. Durante a reunião foi ainda decidida uma série de protestos, a começar no dia 22 de Janeiro, em defesa dos docentes contratados das escolas especializadas públicas de ensino artístico. Entre o conjunto de decisões tomadas este sábado, a Fenprof vai também "desenvolver as iniciativas necessárias, institucionais e jurídicas, [com vista] à correcção e ao ressarcimento dos docentes penalizados por terem sido ilegalmente retirados das listagens de concursos e também à indemnização devida e adequada dos docentes prejudicados pela incompetência do Ministério da Educação e Ciência e na divulgação das colocações da chamada BCE 1 (bolsa de contratação de escola).


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Bloco avança sozinho nas regionais da Madeira Novidade foi deixada este domingo por Catarina Martins.

preferem que o sufrágio tenha lugar em 29 de Março. "Nós não deixamos de lembrar que Miguel Albuquerque, durante duas décadas, esteve à frente da Câmara Municipal do Funchal por indicação de Alberto João Jardim e conviveu e apoiou o `jardinismo` e foi cúmplice do clientelismo, da corrupção e da falta de liberdades na Madeira", sublinhou ainda Catarina Martins. SETÚBAL

Técnicos começam a ser julgados por negligência em explosão de prédio Rebentamento obrigou ao realojamento de 48 famílias durante 17 meses. A porta-voz do Bloco de Esquerda (BE) anunciou este domingo que o seu partido vai apresentar-se em listas independentes nas futuras eleições antecipadas para a Assembleia Legislativa da Madeira, acusando o PS de estar "nos antípodas" da coligação que governa o Funchal. "O BE da Madeira propôs hoje à Mesa Nacional a apresentação de uma candidatura autónoma nestas eleições legislativas que, previsivelmente, serão antecipadas. A mesa apoiou e votou favoravelmente esta decisão por uma larguíssima maioria e apenas com três abstenções", afirmou Catarina Martins, após a reunião do órgão executivo bloquista, em Lisboa. Sábado, o representante da República naquela região autónoma comunicou ao Presidente da República a situação de impasse devido ao pedido de exoneração do histórico líder do Governo Regional, Alberto João Jardim, e Cavaco Silva convocou todas as forças políticas com representação regional para audiências na quinta-feira. "Lamentavelmente, a proposta do PS está nos antípodas do que é a coligação `Mudança` porque o programa político não oferece condições de ruptura e de mudança e porque não teve abertura do ponto de vista dos seus protagonistas para existir a pluralidade e a base social necessárias para dar força a essa alternativa", continuou a dirigente do BE, referindo-se à junção das forças de PS/BE/PND/MPT/PTP/PAN, que conseguiu reconquistar a autarquia do Funchal ao PSD em 2013. A também deputada do BE salientou que o desacordo com os socialistas vê-se, desde logo, quanto às medidas a tomar sobre o `off-shore` madeirense, além da elaboração de listas conjuntas, lamentando que o PS queira ter uma candidatura em que as outras forças políticas sejam meros apoios. O Presidente da República, perante a decisão de Jardim de deixar o "trono" que ocupa desde 1978, terá ainda de convocar o Conselho de Estado a fim de marcar uma data para as eleições antecipadas na Madeira, num prazo de 60 dias, sendo que a maioria dos partidos com assento na assembleia regional já fizeram saber que

Foto: Lusa

Começa esta segunda-feira, em Setúbal, o julgamento de três técnicos acusados de comportamentos negligentes que terão estado na origem da explosão no 11.º andar de um prédio do Montebelo, a 22 de Novembro de 2007. O julgamento decorre no auditório Charlot, cedido pela Câmara Municipal, devido ao elevado número de pessoas envolvidas, mas também pelos incómodos provocados pelas obras em curso no Palácio da Justiça, que, por vezes, provocam ruídos que tornam as gravações imperceptíveis, segundo fonte judicial. No despacho de pronúncia, de Janeiro de 2010, o Ministério Público acusou os três arguidos, técnicos das empresas Ecatotalinspe, Gasfomento e Setgás, do crime de explosão, entre outros, por alegados comportamentos negligentes quando procediam a testes de verificação de uma conduta, para a mudança de gás propano para gás natural. Os três arguidos contestaram a acusação e o juiz de instrução não os pronunciou (Julho de 2011), mas o Ministério Público interpôs recurso para o Tribunal da Relação de Évora, que, em Dezembro de 2012, determinou a realização do julgamento. A explosão que ocorreu no prédio n.º 13 da Praceta Afonso Paiva, alegadamente devido à abertura indevida de uma válvula e de uma torneira segurança do 11.º C, obrigou ao realojamento de 48 famílias durante 17 meses, provocou danos significativos no prédio e


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outros imóveis vizinhos, destruiu 14 viaturas e fez estragos em mais de uma centena. As obras de estabilização do prédio, que ascenderam a mais de 750 mil euros, foram executadas de acordo com as orientações do Laboratório Nacional de Engenharia Civil e suportadas pelo Governo Civil de Setúbal. A reconstrução do prédio, que custou cerca de 1,3 milhões de euros, foi paga apelas seguradoras dos condóminos, que, tal como os moradores, pretendem ser ressarcidas dos prejuízos que sofreram com a explosão.

Autarca contesta redução de 50 comboios na Linha de Cascais O presidente da autarquia, Carlos Carreiras, vai tentar reverter a decisão da CP.

Foto: RR

O presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, manifesta-se contra a redução de comboios em circulação na Linha de Cascais fora das horas de ponta, que entrou em vigor no domingo. Carlos Carreira sublinha, num comunicado enviado à agência Lusa, que está é uma "medida que vem na senda de outras que a empresa já tinha tomado em 2011". O autarca adianta ter entrado já em contacto com a administração da CP e com a Secretaria de Estado dos Transportes, "ficando agendadas reuniões para a próxima terça-feira, dia 20, de modo a analisar e a eventualmente reverter a decisão tomada". O autarca social-democrata lembra que a administração da CP "assumiu o compromisso de monitorizar atentamente a evolução e comportamento da procura na Linha de Cascais, realizando os ajustamentos que se justificassem". "Reforcei o apelo a uma urgente clarificação do modelo de negócio da linha, que promova os investimentos necessários e que têm sido adiados há dezenas de anos", acrescentou Carlos Carreiras. Segundo o presidente da Câmara de Cascais, esta linha "é uma infra-estrutura decisiva como elemento socialmente insubstituível na política de mobilidade metropolitana que serve diariamente milhares de

cidadãos de Lisboa, Oeiras e Cascais, e de muitos outros concelhos". Para o autarca, a responsabilidade pela situação da Linha de Cascais "é transversal a vários governos, que desinvestiram grosseiramente" na via, "em especial o anterior Governo do PS, que anulou o concurso público de aquisição de novas carruagens". A Linha de Cascais passou, a partir de domingo, a ter menos 51 comboios - os que faziam o trajecto rápido entre as 10h00 e as 17h00 -, e ter novos horários de circulação, informou a CP-Comboios de Portugal. Na Linha de Cascais, que liga esta cidade ao Cais do Sodré, em Lisboa, circulavam 251 comboios por dia e agora passam a circular 200. A decisão, segundo a empresa, surgiu após uma análise feita à procura daquela linha férrea, da qual se constatou que o volume total de passageiros naquele período não justificava a frequência de comboios rápidos. Dados da CP revelam que dos 80.250 passageiros por dia útil, apenas cerca de 19 mil viajam em período fora das horas de ponta (10h00 às 17h00 e após as 20h00). Cerca de 80% dos clientes portadores de passe ou assinatura mensal viajam nos períodos de hora de ponta, nos quais a oferta não é alterada e, por fim, a capacidade de lugares oferecidos cobre o volume da procura. "É de salientar que nos comboios da `família de Oeiras` (ligações Oeiras-Cais do Sodré-Oeiras), no horário 10h00 – 17h00, as taxas médias de ocupação rondam os 11%, e nos comboios que asseguram a ligação total (Cais do Sodré-Cascais-Cais do Sodré) situam-se nos 22%", acrescentou a CP. Nas chamadas horas de ponta, entre as 7h00 e as 10h00 e entre as 17h00 e as 20h00, os horários não são alterados, mas no restante período do dia todos os comboios passam a fazer o percurso total da linha, de Cascais a Lisboa, com paragem em todas as estações, com ligações cadenciadas de 20 em 20 minutos. "A implementação deste horário permitirá uma gestão mais eficaz do material circulante, incrementando os níveis de fiabilidade e pontualidade do serviço CP nesta linha, sem qualquer aumento de custos", revelou a empresa. A CP assegurou, ainda, que irá monitorizar "atentamente a evolução e comportamento da procura na Linha de Cascais", para verificar a necessidade de eventuais ajustamentos.


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Base das Lajes chinesa? Neste noticiário: presidente do Governo Regional dos Açores quer ver outros países na Base das Lajes; ameaça terrorista em debate em Bruxelas; chegou ao fim a visita do Papa às Filipinas; "Douro em Agonia" para ver na página da Renascença; há menos comboios a circular na linha de Cascais. Por Teresa Abecasis

"Um indivíduo que está detido não perde o seu direito à opinião" É a opinião do juiz Renato Barroso, do Tribunal de Relação de Évora, sobre o caso de José Sócrates, transmitida no programa "Em Nome da Lei" da Renascença. Apesar de estar detida, uma pessoa não perde o direito à opinião. É a consideração do juiz do Tribunal de Relação de Évora, Renato Barroso, quando lhe perguntam se um preso pode dar entrevistas. “Um indivíduo que está detido não perde o seu direito à opinião. Depois a forma como a manifesta é que é mais ou menos discutível”, disse o juiz à Renascença, sobre o caso de José Sócrates. O ex-primeiro-ministro está impedido de dar entrevistas, com base num parecer do juiz Carlos Alexandre, e admite-se que Sócrates possa vir a ser acusado de violação do segredo de Justiça, pelas declarações que prestou à TVI. Contudo, Renato Barroso diz que o “segredo de Justiça neste momento não faz sentido, não existe”, e reconhece que é normal que a avaliação dos juízes seja agravada sobre casos de personalidades com “importância social”. “O juízo de censura de alguém (…) com funções públicas ou funções de autoridade no cometimento de um crime é necessariamente agravado, porque sobre essas pessoas decorre um especial dever de pautar a sua conduta pelo respeito das normas comunitárias”, considera o juiz. “Por isso quando alguém dessa importância social comete um crime, necessariamente que a forma com que os juízes olham para esse crime, é agravada. Ainda mais se o crime resulta do exercício dessas funções”, acrescenta. Outro factor que afecta os processos é a opinião pública, que quanto maior é o processo e mais importantes as pessoas envolvidas, mais tem a expectativa da condenação.

“Quanto maior for a dimensão social, o gigantismo do processo-crime – os megaprocessos – ou quanto mais sensíveis forem os interesses em causa ou as pessoas envolvidas, maior é a necessidade de se encontrarem culpados ou de pelo menos todo aquele mega processo dar resultado. E o resultado [para a opinião pública] só pode ser a condenação”, diz. Contudo, “as pessoas esquecem-se que se faz justiça condenando e absolvendo”, critica. O "Em Nome da Lei” é um programa com edição da jornalista Marina Pimentel. Pode ser ouvido aos sábados na antena da Renascença, depois do meiodia, ou a qualquer altura na internet. CONVERSAS CRUZADAS

2015: Depois da tempestade, a bonança perfeita “Tão cedo não vamos voltar a ter estas condições”, defende Álvaro Santos Almeida. Petróleo, juros e euro em queda. “Na minha vida, nunca vi igual”, diz Daniel Bessa. “Não sei o que falta para ser melhor”. Por José Bastos

“Para 2015 prepara-se uma tempestade perfeita ao contrário. Isto é, um cenário em que tudo corre bem”. É a leitura de Álvaro Santos Almeida ao alinhamento das variáveis económicas. O economista identifica um factor chave. “Refiro-me ao facto do preço do barril estar a baixar o que, por si só, implica imediatamente o aumento do rendimento disponível em todos os países importadores”, indica. O professor da Universidade do Porto contabiliza que “no caso português, por cada 10 euros de redução no preço do barril de petróleo poupa-se entre 700 e 800 milhões de euros. Portanto, como o petróleo já desceu 40 euros, estamos a falar de 2,5 mil milhões de euros, quase 2% do PIB, metade das exportações anuais para Angola”. “No rendimento disponível o ganho é de uma dimensão tal que só pode trazer benefícios para o mercado interno, não só em Portugal como em toda a Europa. Como o principal mercado das nossas exportações continua a ser a Europa vamos, também por aí, ter um impulso”. “Acresce que ao mesmo tempo – e não por coincidência, geralmente as duas coisas acontecem em simultâneo – o euro está a desvalorizar. Por um lado, limita o impacto doméstico da descida do barril, em euros não desce tanto, mas por outro, aumenta a competitividade das exportações da zona euro”. Santos Almeida acrescenta que “a zona euro vai, também por aí, crescer. Crescer mais do que estava à espera e, por arrastamento, trazer benefícios para as empresas portuguesas que vendem para essa zona euro”. “E ainda por cima, também temos a deflação. A dita


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‘deflação’ - que não é uma verdadeira deflação também vai ajudar. Vai ajudar, porque vai incentivar o Banco Central Europeu a adoptar uma política monetária ainda mais expansionista do que até aqui o que vai também facilitar as empresas da zona euro como um todo – e das empresas portuguesas em particular – que vão ter condições de crédito que já não têm há muitos e muitos anos”, sustenta Álvaro Santos Almeida. O ex-quadro do FMI refere que “todo este conjunto: melhores condições de crédito, crescimento do mercado interno português - e da zona euro - vai permitir um crescimento económico muito acima do que aconteceria se estas variáveis não estivessem reunidas”. Daniel Bessa, ex-ministro da Economia, subscreve a explicação de Álvaro Santos Almeida, mas introduz na equação o factor Angola. “A Europa no seu conjunto beneficia da queda dos preços do petróleo. Seja em termos de competitividade por comparação com os Estados Unidos, seja em termos de nível de poder de compra e de nível de vida interno, porque a descida do preço da energia traduz-se numa melhoria do nível de vida das pessoas”. “Em Portugal há um problema particular que é a exposição da economia em termos de mercado a pelo menos dois grandes produtores: Angola e Venezuela. Sobretudo a Angola. Angola é o quarto ou quinto destino das exportações portuguesas. É uma situação atípica na União Europeia”, refere o ex-ministro. Mas... e a deflação? Mas não pode o ‘fantasma deflação’ contaminar a análise optimista? Álvaro Santos Almeida não compromete a equação. “Para isso acontecer era preciso uma condição que, acho, não se vai verificar. Temos de distinguir inflação negativa de deflação. A deflação é um processo sistemático de inflação negativa, ou seja, de queda de preços. Não é um processo originado por um evento transitório como o que está a acontecer neste momento”. “A inflação negativa que existe na zona euro – e em Portugal – resulta, essencialmente, da queda do preço do petróleo. É um fenómeno transitório que não vai subsistir. Mesmo que o petróleo continue aos preços actuais, em termos de inflação acaba a descida”. “Portanto, só teremos deflação se os efeitos transitórios se transformarem em efeitos sistemáticos. Para isso é preciso uma condição: que os salários acompanhem o nível geral de preços. Ou seja: que os salários caíssem em termos nominais. Isso não vai, acho eu, acontecer. Nem em Portugal, nem mesmo na Europa, porque a mesma rigidez que existe em Portugal à descida dos salários nominais existe noutros países europeus, embora menos intensa”. “Donde, acho que o risco de uma queda de preços temporária – a de 2014 – se transformar num processo de deflação é, neste momento, praticamente nulo na zona euro. Portanto, não tenho receio do problema da deflação porque acho que não se irá colocar” conclui O professor de Economia na Universidade do Porto. Daniel Bessa: “Temos a bonança perfeita. Temos brisa pelas costas” Daniel Bessa tonifica a análise. “Os portugueses, um povo normalmente muito pessimista – o vício maior que o Cristiano Ronaldo nos atribuiu na entrevista ao

Prof. Marcelo – criaram essa ideia da tempestade perfeita que reúne um conjunto de factores que dão cabo das nossas vidas. Somos uns infelizes, uns desgraçados, tudo nos acontece”. “Pois, agora, acho que nós estamos confrontados com a bonança perfeita. Nunca tivemos tanto tempo com bonança. Diria mais que bonança: temos brisa pelas costas. O euro a descer para vendermos melhor fora da zona euro. O petróleo a descer, melhorando o nosso poder de compra e de todos os compradores de petróleo na zona euro, o nosso maior mercado de exportação.” “E, finalmente, taxas de juro historicamente baixas. Não sei o que falta para reunir melhores condições” faz notar Daniel Bessa robustecendo o argumento: “na minha vida nunca vi estas condições reunidas”. Álvaro Santos Almeida acentua a singularidade do momento. “Não vamos voltar a ter estas condições tão cedo. De facto, nunca houve este conjunto de variáveis com esta intensidade. Houve fenómenos de descida do preço do petróleo significativos. Em ambos os casos com benefícios muito grandes para os portugueses”. “Em 1980 a economia portuguesa cresceu bastante e o rendimento disponível ainda mais até porque se aproveitou para revalorizar o escudo. E, depois, em 8586, a seguir à intervenção do FMI que permitiu que Portugal saísse dessa intervenção do Fundo Monetário com uma economia totalmente diferente e com condições de crescimento muito rápidas. Em termos políticos levou a duas vitórias do governo no poder” E agora? Estão então criadas condições políticas para aproveitar este contexto de bonança perfeita? Daniel Bessa responde: “Para as eleições eu mantenho as minhas apostas. Tenho uma aposta, há muito tempo, de que vai haver uma mudança. Haverá alternância” antecipa. “Não sei se chega a tempo das eleições” sustenta Álvaro Santos Almeida. “Provavelmente não chegará a tempo para se fazer sentir de uma forma tão sustentada na carteira dos portugueses para que eles se esqueçam dos últimos quatro anos que, esses sim, foram complicados”. “Não sei se vai ter impacto nas eleições. Agora, estou plenamente convencido de que vai ter impacto na vida dos portugueses”. Daniel Bessa identifica uma “Europa em movimento”. “O que se está a passar em Portugal beneficia, em grande escala, das alterações no contexto europeu. Os perigos que persistem sobre o nosso futuro têm que ver com a política interna. É aqui que me situo”. “Refiro-me à incapacidade de obter consensos e às dúvidas e hesitações que surgem constantemente sobre o rumo a adoptar. Quando vejo aparecer gente a dizer ‘ah, a nossa proposta agora é desfazer tudo ou uma grande parte do que foi feito’ é evidente que não tranquiliza” diz o director geral da Cotec-Portugal. “Portanto, do ponto de vista da política europeia na parte monetária – não me refiro tanto à parte das finanças públicas – houve uma evolução extraordinária. Não vejo realmente grande diferença no comportamento do Banco Central Europeu e o da Reserva Federal dos Estados Unidos” defende Daniel Bessa. “Acho que o Banco Central Europeu mudou muitíssimo para melhor e no sentido em que as forças mais à


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esquerda pretendiam na Europa” CHOQUE DE LIBERDADES

Santana Lopes: crescente liberdade de expressão prejudica respeito pelas crenças dos outros Santana e António Vitorino, dois 'presidenciáveis', analisaram os acontecimentos de Paris à luz do debate sobre a liberdade de expressão e a convivência entre religiões na Europa. Todas as semanas vestem a pele de comentadores no Fora da Caixa, às sextas à noite, na Renascença. Por José Pedro Frazão

Terá o “Charlie Hebdo” passado das marcas, mesmo que isso não justifique um massacre ? Para António Vitorino, a resposta é simples. Nas democracias – onde "não há uma polícia do bom gosto" – a lei e os tribunais são os mecanismos que decidem se um órgão de comunicação social atenta contra valores fundamentais. "Sim, várias vezes foi processado. E nunca foi condenado. Esse é que é o ponto. O Estado de direito democrático nunca se mostrou indiferente ao tipo de liberdade de expressão do “Charlie Hebdo”. Várias vezes os judeus foram 'alvejados' e reagiram. Os católicos franceses foram 'alvejados' e reagiram. Não houve condenações judiciais contra o 'Charlie Hebdo'”, diz. “Nós podemos achar que tudo aquilo é de mau gosto mas, na realidade, os mecanismos do Estado de direito democrático não censuraram aquele tipo de humor", argumenta António Vitorino no programa Fora da Caixa da Renascença. Santana Lopes contra-argumenta: "Não há condenações porque os tribunais e a sociedade em geral dão cada vez mais valor à liberdade de expressão, de pensamento, de opinião, mesmo prejudicando o respeito que é devido muitas vezes ao bom nome, à dignidade da pessoa humana, aos valores das suas crenças e das suas convicções. Na velha questão da nossa liberdade acabar onde começa a dos outros, cada vez a dos outros vai recuando mais, a vários níveis, nomeadamente no plano das convicções". O antigo primeiro-ministro, tido como um possível candidato presidencial, recorda a polémica em Portugal em torno de uma caricatura de João Paulo II cuja imagem vinha acompanhada de um preservativo. "Quem é católico e vê um cartoon assim, sente-se atingido", assegura Santana Lopes.

"A primeira reacção de quem olha para um desses cartoons é sentir uma agressão à sua fé, às suas convicções, ao ver a figura do Santo Padre retratada daquele modo". A diferença está depois no modo de reagir a caricaturas do género. No mundo ocidental, "nós reagimos com tolerância. Noutras civilizações reage-se do modo que vimos", acrescenta. Viver a religião na Europa Para Pedro Santana Lopes, Paris trouxe um "choque de diferentes culturas civilizacionais", em especial no plano das liberdades. O antigo primeiro-ministro acrescenta que o problema está na coexistência na Europa entre uma cultura onde a liberdade "é cada vez mais valor supremo" e uma "civilização" completamente diferente, que, por exemplo, está longe de garantir uma igualdade de sexos ou admitir certos comportamentos em público. "Sentimos o Estado Islâmico à porta de casa", diz Santana. O antigo comissário europeu António Vitorino detecta um paradoxo no mundo globalizado. "Cada vez dependemos mais uns dos outros à escala planetária e depois refugiamo-nos em políticas 'identitárias', sejam elas de raiz religiosa, étnica, cultural, de território de origem ou de residência. Este 'identitarismo' tem como objectivo exacerbar as diferenças e não criar as pontes para o entendimento na diversidade. As nossas sociedades europeias são cada vez mais diversas, cada vez mais multi-étnicas e multirreligiosas. Temos que fazer um apelo aos valores que unem as pessoas e não aos que as dividem ou separam", considera o antigo ministro socialista. Vitorino, nome que também entra no lote dos 'presidenciáveis', recusa alimentar um "estigma" em relação aos muçulmanos. "Tenho a certeza absoluta que uma leitura adequada do Islão não é uma leitura belicista. Nenhuma religião pode ter uma interpretação de morte, de extermínio dos outros”, diz. E acrescenta: “O Papa disse isso com uma grande clareza. Temos que respeitar a dignidade de cada fé religiosa. Esse respeito significa o convívio, que nem sempre é fácil e tem picos de choque provocados por minorias", assinala Vitorino, acentuando a natureza excepcional deste tipo de criminalidade. "Nós temos uma comunidade que também tem criminosos, que são sempre uma minoria. Temos criminosos portugueses. Não são terroristas, mas praticam outro tipo de actos. Isso significa que os portugueses têm alguma propensão para a criminalidade? Não". O comentador da Renascença considera que este atentado tinha um objectivo claramente mediático. "Há aqui uma nova tendência, que é a tomada de reféns. Tem um efeito pensado sobre o impacto mediático. A tomada de reféns prolonga a situação de crise, mantém a atenção mediática – e da opinião pública – durante longas horas, em torno de um 'enquistamento de uma crise', o que amplia o impacto e a repercussão", assinala Vitorino. O "Fora da Caixa", que pode ouvir sexta-feira a partir das 23h00, na Edição da Noite, é uma colaboração da Renascença com a Euranet Plus, rede europeia de rádios.


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Quatro em cada 10 franceses dizem que não se devem publicar cartoons de Maomé Segundo este estudo, 50% dos inquiridos são favoráveis a uma limitação da liberdade de expressão na internet. Uma semana depois da manifestação em Paris pela liberdade de expressão, este domingo há uma sondagem que mostra que 42% dos franceses dizem que se deve evitar a publicação de cartoons sobre Maomé. Já 57% consideram que as ameaças não devem ser consideradas e que os desenhos devem continuar a ser publicados. Segundo este estudo, 50% dos inquiridos são favoráveis a uma limitação da liberdade de expressão na internet. O Journal du Dimanche apresentou o estudo do Ifop feito a mais de mil pessoas. As manifestações “Je suis Charlie” juntaram mais de quatro milhões de pessoas em várias cidades francesas depois do atentado contra o jornal satírico ter feito 12 vítimas mortais.

Bélgica destaca militares para proteger potenciais alvos de ataques Embaixadas, edifícios da NATO e da UE e comunidades judaicas passam a contar com a protecção de 150 soldados.

Soldados nas ruas de Bruxelas. Foto: Julien Warnand/ EPA

A Bélgica vai aumentar a presença policial nas ruas do país, com o destacamento de centenas de militares para proteger potenciais alvos de ataques terroristas,

como locais ligados à religião judaica. O anúncio foi feito este sábado pelo ministro da Defesa belga, Steven Vandeput, numa conferência de imprensa no âmbito das operações antiterroristas levadas a cabo esta semana, que fizeram dois mortos e levaram à detenção de 15 suspeitos. Desde este sábado 150 militares passam a vigiar as embaixadas dos Estados Unidos, do Reino Unido e de Israel (em Bruxelas) assim como os edifícios da NATO e da União Europeia. O número de tropas pode subir para 300 elementos caso seja necessário. “É muito importante referir que isto não foi uma decisão simples. Mas é necessário, numa altura em que a polícia já está tão ocupada, incluir o exército num papel de apoio”, disse o ministro. Desde os anos 80 que a Bélgica não requeria a intervenção das suas forças armadas para ajudar a proteger locais públicos e civis nas suas cidades. A maior parte dos militares destacados está em Bruxelas, mas cerca de 30 elementos estão na região da Antuérpia, onde residem as maiores comunidades judaicas na Bélgica.

Itália expulsou nove suspeitos de pertencer a grupos terroristas Do grupo de pessoas expulsas fazem parte cinco tunisinos, um turco, um egípcio, um marroquino e um paquistanês. Todos tinham vistos de residência. A Itália já expulsou nove alegados militantes islamitas desde o início do ano e poderá expulsar mais, segundo o ministro italiano da Administração Interna. “Foram feitas nove expulsões. Não vou parar por aqui e, relativamente às expulsões, vamos continuar a ser extremamente rígidos”, disse Angelino Alfano em conferência de imprensa. Do grupo de pessoas expulsas fazem parte cinco tunisinos, um turco, um egípcio, um marroquino e um paquistanês. Todos tinham vistos de residência. O ministro acrescentou ainda que dois dos suspeitos expulsos preparavam-se para viajar para a Síria para se juntarem aos rebeldes islamitas. A acção decorre do aumento dos níveis de alerta de segurança por toda a Europa, depois dos ataques terroristas que fizeram 17 vítimas em Paris na primeira semana de Janeiro. Aos jornalistas o ministro avançou que o Governo tem “muito mais” do que 100 suspeitos sob vigilância e que já tinham sido identificados 59 jihadistas no Médio Oriente com ligações a Itália e 14 deles foram confirmados mortos. No mesmo dia das declarações de Angelino Alfano, o Governo de Israel anunciou que neutralizou a primeira célula do Estado Islâmico dentro do país, constituída por sete cidadãos árabes. Os suspeitos, com idades entre os 22 e os 40 anos


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presos desde Novembro, vão ser julgados pelas acusações de planear ataques contra o Estado judeu e de comunicar com o grupo terrorista na Síria. ANDRÉ COSTA JORGE

"Europa privilegia segurança das fronteiras a salvar pessoas" Director do Serviço Jesuíta aos Refugiados lamenta discurso securitário cada vez mais frequente na Europa e pede coragem para se dizer "não" ao medo.

Foto: DR Por Cristina Nascimento

Da vaga de imigração de brasileiros e cidadãos do Leste a um grupo de refugiados vindos de Marrocos. Em 23 anos, o Serviço Jesuíta aos Refugiados já ajudou muitas pessoas a conseguirem plena integração na sociedade portuguesa e europeia. O director do serviço, André Costa Jorge, vê os recentes atentados em Paris como uma ameaça à cultura de acolhimento. Este domingo é o Dia Mundial dos Refugiados e Migrantes. O Serviço Jesuíta aos Refugiados tem 23 anos de existência. O que é que mudou nestes anos? São 23 anos que não tiveram sempre a mesma intensidade de trabalho e a mesma disponibilidade de meios e de recursos. Tivemos um trabalho muito forte na primeira fase com o "boom" da imigração no final dos anos 90. Depois, toda a década seguinte no acompanhamento sobretudo da população que não tinha referenciais culturais próximos à cultura portuguesa. Os imigrantes de Leste foram um desafio tremendamente difícil, mas fantástico. Recordo os projectos que desenvolvemos no âmbito da integração profissional destas pessoas, muitas traziam qualificações elevadas, por exemplo, médicos, enfermeiros, engenheiros, profissionais com qualificações que era um desperdício Portugal não estar a aproveitar. Mais recentemente, os migrantes que vamos acompanhando são sobretudo de origem africana, concretamente guineenses e são-tomenses, zonas

mais próximas culturalmente de nós, aparentemente. Mas estas pessoas trazem problemas sociais gravíssimos, muitas delas requerem um trabalho para a inclusão que passa também pela aprendizagem do contexto cultural onde estão. O SJR tornou-se num dos parceiros do estado português, do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e da União Europeia no acolhimento a refugiados reinstalados em Portugal. Estamos a executar um primeiro projecto, recebemos cerca de 14 pessoas, entre elas seis crianças que estavam ao abrigo do ACNUR em Marrocos. E como tem estado a correr esse trabalho? Estas pessoas representaram um desafio novo, estamos a trabalhar com população refugiada, gente que vem de várias paragens, nenhuma delas próximas do contexto cultural português. São pessoas vítimas de violência, de perseguição, são refugiados e não imigrantes económicos e que merecem de todos nós, e do Estado português e da União Europeia, uma atenção especial. Deste grupo, que chegou a Portugal em Julho, em seis meses, todos já têm conhecimentos de português que lhes permite ter conversações simples e já tiveram experiências de trabalho e alguns já estão a trabalhar. Por exemplo: um dos refugiados tem formação em arqueologia, é oriundo de um país do Médio Oriente e vai desenvolver um estágio nesta área numa autarquia na Grande Lisboa. Isto é altamente motivador para todos, representa alguém que tem uma competência que pode emprestá-la a sociedade portuguesa. Como tem corrido a integração das pessoas que apoiam? Cada caso é um caso. Muitos deles têm histórias traumáticas, mas também têm uma enorme vontade de vencer e de participar, de serem incluídos. Essa vontade esbarra às vezes numa dificuldade que é a sua própria história, a história dos seus familiares – muitos deles não sabem onde estão os familiares, marido, filhos. Mas diria que, no total de migrantes e refugiados que vamos recebendo, o saldo é altamente positivo. Temos uma taxa de empregabilidade muito boa para o público que estamos a falar (pessoas que não estão preparadas, nem formadas com as habilitações necessárias que o mercado de trabalho oferece), mas denotam todos uma enorme tenacidade e uma enorme capacidade de integração. Cerca de metade das pessoas que atendemos são casos de sucesso de integração na sociedade portuguesa, o que, aliás, vêse... Os portugueses receberem aqui milhares e milhares de cidadãos de Leste e boa parte deles estão perfeitamente integrados. A maioria das histórias tem, então, um final feliz… É uma felicidade que dá trabalho. A nossa experiência é que os portugueses são um povo acolhedor, mas na sociedade portuguesa é difícil haver oportunidades que permita que as pessoas se tornem autónomas e que aqui vivam e trabalhem. Até para os portugueses é difícil. As migrações são uma realidade que veio para ficar, há uns que vêm para cá e há outros de cá que vão para outras paragens. Há neste momento mais portugueses em Angola do que angolanos em Portugal, só para dar um exemplo. Há cidades europeias onde há mais portugueses do que em algumas cidades em Portugal.


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As migrações não podem ser só tratadas pela metade. Podemos dizer que Portugal é um "paraíso" da integração? Os portugueses não são propriamente dados a um racismo demasiado explícito, mas todos nós somos racistas. Todos nós temos uma tendência para a exclusão, para a diferenciação, até discriminatória. Os portugueses e a sociedade civil tiveram uma atitude positiva perante as migrações. A resposta a isto talvez esteja no facto de os portugueses, de há 500 anos a esta parte, terem uma relação com o mundo mais aberta. Por outro lado, também os portugueses sempre foram um povo de emigração - há 10 milhões de portugueses em Portugal e mais cinco milhões espalhados pelo mundo inteiro. Da minha experiência de trabalho, eu só faço uma excepção relativamente à população cigana. Calcula-se que há cerca de 50 mil ciganos em Portugal e aí há, no território português, situações de exclusão, de racismo muito flagrante, situações muito preocupantes do ponto de vista de desigualdade. Não há um partido político com representação parlamentar e com aspirações a governar, com um discurso xenófobo, de fechamento cultural ou contra a imigração, ao contrário do que acontece noutros países da Europa. Em Portugal não há, mas pode haver. A Suécia, que tem uma enorme tradição no acolhimento de refugiados, neste momento tem um partido de extrema-direita anti-imigração. No Reino Unido há o surgimento de um partido nacionalista. Na Holanda, em Itália, na Grécia, há partidos de cariz nacionalista com um discurso contra o emigrante. Receia que os atentados de Paris possam vir a pôr um travão na capacidade de acolhimento? Temo o pior do ponto de vista daquilo que é a responsabilidade da protecção humanitária. A Europa vai estar mais preocupada com as suas fronteiras do que em proteger aqueles que tentam chegar e salvar a sua vida, vítimas de violência. Enquanto estes acontecimentos prevalecerem na memória dos decisores políticos, que têm preocupações eleitorais e procuram falar para o eleitorado (que acaba por ficar com medo), a resposta dos políticos não será muito diferente senão tomar decisões num sentido de proteccionismo. A operação "Mare Nostrum" que a Itália desenvolveu em 2014 permitiu a salvação de 140 mil pessoas. Esta operação, que era coordenada por Itália, terminou e passou para a União Europeia, para a Agência Europeia de Gestão das Fronteiras Externa (Frontex), recebendo o nome Triton. Ora, esta operação tem um terço do orçamento da operação que salvou 140 mil pessoas e opera apenas a 56 quilómetros da costa. A Europa desistiu de uma parte do mar, desistiu de uma parte da protecção das pessoas. A Europa privilegia a necessidade de defender as suas fronteiras, numa lógica securitária, do que salvar a vida das pessoas, pelo menos as que estão mais longe, as que ainda não chegaram a 56 quilómetros da costa. A Europa não pode renegar aquilo que são os seus valores fundamentais. Passamos a vida a falar em valores, da necessidade de olhar outra vez para os nossos valores... mas quais é que são os nossos valores?

AURA MIGUEL

O dom das lágrimas Os seis milhões de fiéis na missa de Manila batem certamente recordes de Guinness. Mas o sucesso desta viagem revelou a beleza de uma profunda simplicidade que nem sempre as palavras conseguem definir.

Por Aura Miguel

A pequena Glyzelle tem 12 anos e vive hoje numa instituição que tenta recuperar crianças abandonadas. A miúda começou a ler diante do Papa umas perguntas dramáticas sobre a realidade dos meninos da rua, que ela própria experimentou: “Porque Deus permite coisas do género se as crianças não são culpadas? E porque tão poucas pessoas nos ajudam?” Mas Glyzelle, lavada em lágrimas, parou de ler. Quando se recompôs e acabou as perguntas abraçou-se ao Papa. Não sei o que foi mais comovente: se a atitude da menina, se a reacção de Francisco. É que, apesar da sua habitual expressividade, onde não faltam abraços ternos e acolhedores, desta vez, aquelas lágrimas levaram o Papa a alterar o discurso que tinha para fazer. Pôs de lado o texto escrito e deixou falar o coração: “Vejam só, ela fez perguntas para as quais não encontramos respostas, fê-las através das lágrimas; muitas vezes, só pelas lágrimas chegamos lá”. Depois, desabafou: “Falta ao mundo de hoje a capacidade de chorar, pois há certas realidades da vida que só percebemos através das lágrimas”. Com este critério podemos entender esta viagem de milhares de quilómetros à Ásia, quer no encontro com os que sofreram o horror de 30 anos de guerra civil do Sri Lanka, quer com as vítimas do tufão, nas Filipinas, com as crianças abandonadas e tanta gente simples que apesar da chuva vieram ao seu encontro, aos milhões. Porventura, não foi isso que também fez Francisco, ao enfrentar a tempestade em Tacloban e, encharcado até aos ossos, marcar presença junto dos sobreviventes do Yolanda, pedindo desculpa “por não ter palavras que respondam a tanto sofrimento”? Os seis milhões de fiéis na missa de Manila batem certamente recordes de Guinness. Mas o sucesso desta viagem revelou a beleza de uma profunda simplicidade que nem sempre as palavras conseguem definir. Só mesmo as lágrimas.


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FRANCISCO SARSFIELD CABRAL

A semana do euro Seria também importante que o BCE contribuísse para reduzir o fosso entre os juros que os credores entre nós pagam aos bancos e os juros, muito mais baixos, pagos por outros parceiros no euro.

O futuro do euro e das economias nele integradas, como a portuguesa, vai depender muito do que se passar nos próximos dias. No domingo há eleições na Grécia, estando à frente nas sondagens um partido que diz não aceitar mais austeridade – o que poderá levar os gregos a saírem da moeda única. Antes disso, na quinta-feira, o BCE anunciará a compra de títulos no mercado (incluindo dívida pública). Tudo está em saber a dimensão desse programa, as suas características e se ele conseguirá dinamizar a estagnada economia da zona euro, afastando a deflação. Seria também importante que o BCE contribuísse para reduzir o fosso entre os juros que os credores entre nós pagam aos bancos e os juros, muito mais baixos, pagos por outros parceiros no euro. Diz-se que o BCE pôs a hipótese de comprar dívida pública apenas aos países da zona euro com notação máxima de risco (triplo A). Parece absurdo. Outra hipótese ventilada seria colocar os bancos centrais nacionais (no nosso caso, o Banco de Portugal) a comprar dívida dos respectivos Estados. Esperemos ter melhores notícias no próximo dia 22.

Vai alguma coisa mudar com uma vitória do Syriza? Se o Syriza ganhar as eleições e formar governo na Grécia, o que vai mudar no país e na União Europeia? Nada ou pouco. Muito. São duas linhas de expectativa em confronto, através da opinião de dois economistas: João César das Neves e José Reis.

O Syriza continua à frente nas sondagens. Foto: Restis Panagiotou/ANA-MPA/EPA Por Raul Santos

O Syriza continua a liderar as sondagens na Grécia, fazendo ganhar forma a ideia de que o partido, extremista e radical, na perspectiva de muitos, formará Governo. Esta possibilidade gera grande expectativa junto dos que insistem na necessidade de uma mudança na Europa, tal como dá também origem a muitos receios dos que temem que tudo mude para pior. Entre estas duas vias, surge também a ideia de que o Syriza é ‘fogo de vista’ e tudo ficará mais ou menos na mesma. A ‘calçar’, de algum modo, este argumento, está o facto de o Syriza, face à expectativa de chegar à governação, ter alterado o seu discurso. Por exemplo, a ameaça de rompimento com o euro já deu lugar a juras de fidelidade à moeda única. Para o economista João César das Neves, professor da Universidade Católica Portuguesa (UCP), este dado não surpreende: “Os partidos extremistas, assim que têm a responsabilidade de tomar decisões, mudam completamente de atitude. É fácil dizer, de fora, coisas dramáticas, mas, quando se lá chega, é preciso tratar dos problemas como eles são”. Outro economista, José Reis, da Universidade de Coimbra, tem opinião divergente, considerando “natural” que o discurso do Syriza no poder venha a ser diferente. “Admito que haja já uma atenuação do discurso, mas isso é parte da solução”, defende Reis, argumentando: “Uma das funções - e das vantagens do debate democrático é proporcionar o confronto de diferentes perspectivas. Qualquer partido ou voz politicamente organizada é parte do debate entre oposição e governo e quem chega da oposição ao governo tem, evidentemente, de se confrontar com situações complexas que não enfrentava quando não


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encarava o exercício do poder”. “Não vejo mal nenhum que o discurso do Syriza venha a ser matizado por soluções de compromisso a que uma governação obriga. O Syriza não vai desdizer o que disse nem mostra-se do avesso”, reforça José reis, convicto de que “uma eventual vitória do Syriza terá como consequências uma alteração do quadro lamentável em que a Europa tem vivido”. João César das Neves entende que a prática não corresponderá ao discurso porque “a margem de manobra que o Syriza terá no poder será muito pequena” e o maior partido da esquerda grega, “provavelmente, vai fazer o que está a ser feito por outros”. Se assim não for, Neves não tem dúvidas: “Será uma catástrofe para a Grécia”. “O caminho é muito estreito porque a Grécia enfiou-se num buraco. Ou continua a fazer um esforço no sentido de estabilizar a situação, de recuperar a confiança e de dinamizar a economia, e talvez se possa estabilizar o país, ou, então, pode-se fingir que o problema não existe e, no fundo, agravá-lo”, sentencia. No plano dos efeitos que uma vitória do Syriza possa ter noutros países, o professor da UCP mostra-se céptico. “Algum efeito terá, com certeza, mas será residual e ambíguo. Uma vitória de um partido extremista dá fôlego a outros partidos extremistas, mas as dificuldades que esse partido revelará quando começar a formar governo irão vacinar algum eleitorado quanto a soluções que parecem mágicas”. O foco na questão da dívida Com a mudança de posição face ao euro, o Syriza reforçou a sua posição em defesa de um debate sobre a dívida e essa é, para José Reis, “a questão essencial”. “Aí,o Syriza está a fazer certo e o mesmo deveria ser feito em Portugal”, defende o também director da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, argumentando que “a dívida inibe, asfixia qualquer possibilidade, não apenas de crescimento, mas de bem-estar nas nossas sociedades”. Assim, “o problema da dívida é difícil, mas tem de ser encarado". João César das Neves tem um entendimento contrário e lembra: “A Grécia já faliu duas vezes, pelo menos. Já nem sei se foram três, já perdi a conta. O Syriza pode fazer falir a Grécia outra vez, pode dizer ‘não pago’ e, aí, os credores nada poderão fazer. Mas é certo que ninguém mais emprestará à Grécia”. Para o presidente do Conselho Científico da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da UCP, “o problema decisivo é que a Grécia quer voltar aos mercados e isso será difícil de conseguir se o Governo disser ‘não pago’”. “As coisas não são assim lineares. Se fossem, já tinha sido feito”, remata João César das Neves. José Reis sublinha que a questão não passa por um simples ‘não pago’, porque “ninguém que defenda a restruturação das dívidas pretende uma restruturação desonesta”, passando a solução do problema pelo debate, pela discussão com ‘o outro lado’. “Se há país europeu que na História do séc. XX foi beneficiado, privilegiado na questão da sua dívida, foi a Alemanha. No pós-guerra, a Alemanha beneficiou de condições excepcionais, sem as quais não teria sido possível o ‘milagre alemão’, e essas condições consistiram exactamente no que agora está a ser proposto: restruturação, alargamento de prazos,

diminuição de juros. A Europa tem de aceitar esta discussão”, insiste. Do ponto de vista de José Reis, um dos problemas do momento prende-se com o facto de, em matéria de financiamento, termos deixado “colonizar as nossas cabeças pela ideia de que há uma entidade única, exclusiva, poderosa e indiscutível que são os ‘mercados’, relativamente aos quais, os estados, as nações, os povos são pigmeus que têm de baixar a cabeça”. “O financiamento tem de resultar de múltiplos mecanismos”, sustenta o economista da Universidade de Coimbra, sublinhando que “os países periféricos são necessários para alterar a actual situação”. “A Grécia, em particular, é decisiva, mas também o são, por exemplo, a Irlanda, que já veio falar numa conferência sobre a restruturação, e terá de ser Portugal. Não com este Governo nem com esta ideologia submissa de direita são decisivos”, afirma José Reis. Mudar a Europa O investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra insiste: “A política europeia tem de mudar. Tem necessariamente de mudar, porque a situação europeia não é recomendável. As instituições europeias, as ideias prevalecentes na União têm sido um acelerador da crise, um acelerador dos problemas, não têm sido solução, não têm encontrado respostas. A situação é insustentável, intolerável”. Para João César das Neves, “não pode dizer-se que a forma como se encaminhou a situação foi a melhor, que não teve erros”, acreditando o economista da UCP que “podia-se ter feito algumas coisas de outra maneira”. Contudo, em relação ao caso grego, “também é preciso dizer que o capital de confiança era muito baixo, porque a Grécia violou compromissos e promessas durante décadas”. Independentemente de um ou de outro erro cometido, “o problema da Europa é um problema de confiança, ou de falta dela, portanto, de desconfiança”. João César das Neves detalha: “Os credores desconfiam dos devedores, os devedores desconfiam de quem empresta. A Alemanha já está farta de pagar e diz ‘já chega’, os países do sul pedem ‘dê-me lá mais um bocadinho’, etc. Esta desconfiança, felizmente, é temperada e, pelo facto de ser temperada, se evita a espiral de catástrofe, também impede que se arranque para um novo surto de crescimento. As pessoas não acreditam”. José Reis aponta a outra frente no diagnóstico sobre a situação da União Europeia. “A Europa precisa de democracia, de discussão e de deliberações políticas e é para isso que há eleições”. Em defesa de uma mudança, o economista de Coimbra sublinha que “a pior das alternativas nós conhecemola bem: é esta política de austeridade que devastou países, criou desigualdades, produziu transferências de riqueza para pequenos sectores, tirando a todos para dar a poucos”. Neste quadro, José Reis entende que, “independentemente da nossa posição sobre o Syriza, só podemos saudar que ele tenha aberto na Grécia uma consciência política e uma capacidade de debate que é necessária para que a Europa se reconstitua, de modo a


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deitar fora esta canga horrível que produziu uma crise fracturante da própria Europa”.

Mali está livre da epidemia do ébola Doença matou mais de 8.400 pessoas.

O ministro da Saúde do Mali anunciou este domingo que o país está há 42 dias sem um novo caso da doença. "Declaro este dia o dia do fim do vírus do Ébola no Mali", disse o ministro da Saúde do país, Ousmane Kone, citado pela agência France-Presse. O Mali regista 300 casos e seis mortos vítimas do ébola. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a doença matou mais de 8.400 pessoas nos países vizinhos: Guiné-Conacri, Serra Leoa e Libéria. FUTEBOL

Jornada 17. Resultados e classificação Terminou a primeira volta do campeonato de futebol. Recorde aqui todos os resultados e classificação.

Terminou a primeira volta. Os seis primeiros classificados venceram. Liga - 17.ª Jornada V. GUIMARÃES 4-0 ACADÉMICA

[Ricardo Valente, André André, Tomané, Hernâni] PENAFIEL 1-3 FC PORTO [Rabiola; Herrera, Jackson Martinez, Oliver] BELENENSES 2-0 GIL VICENTE [Pelé, Deyverson] BOAVISTA 1-2 ESTORIL [Idris; Kléber (2)] P. FERREIRA 2-3 NACIONAL [Urreta, Cicero; Lucas João, Luís Aurélio, Marco Matias] MOREIRENSE 1-0 AROUCA [Vítor Gomes] V. SETÚBAL 1-3 Sp BRAGA [Zéquinha; Danilo, Frederico Venâncio, Zé Luís] MARÍTIMO 0-4 BENFICA [Salvio (2), Ola John, Lima] SPORTING 4-2 RIO AVE [Nani, Montero, João Mário, Tanaka; Del Valle, Hassan] Classificação 1- Benfica 46 pontos 2- FC Porto 40 3- Sporting 36 4- V. Guimarães 34 5- Sp Braga 31 6- Belenenses 26 7- Rio Ave 24 8- Moreirense 24 9- P.Ferreira 23 10- Estoril 22 11- Marítimo 20 12- Nacional 18 13- Boavista 16 14- Arouca 15 15- V. Setúbal 14 16- Académica 12 17- Penafiel 11 18- Gil Vicente 9

Domingos já não é técnico do Setúbal? Direcção esteve reunida com o treinador após a derrota deste domingo.

Domingos Paciência já não será treinador principal do Vitória de Setúbal. Os sadinos voltaram a perder este domingo, em casa, diante do Sp. Braga (1-3) e estão em 15º lugar do campeonato. A direcção do clube e o técnico estiveram reunidos


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após o jogo e, segundo Record e O Jogo, chegaram a um entendimento para a rescisão do contrato. A informação oficial ainda não foi divulgada pelas duas partes. RIBEIRO CRISTÓVÃO

Águia voa mais alto Para além de possuir uma equipa confiável e na qual a ausência de Enzo Perez tende a esbater-se cada vez mais, o Benfica conta ainda com uma vantagem que se reflecte no único compromisso que tem pela frente, o de tentar repetir o título de campeão nacional.

No fecho da primeira volta do campeonato nada se alterou, pelo que o Benfica avança para as 17 jornadas que falta cumprir no campeonato com uma vantagem considerável sobre a concorrência mais próxima. A sua deslocação à Madeira, que se antevia rodeada de dificuldades, acabou por transformar-se num passeio e numa afirmação de classe que não vai ser fácil superar. Para além de possuir uma equipa confiável e na qual a ausência de Enzo Perez tende a esbater-se cada vez mais, o Benfica conta ainda com uma vantagem que se reflecte no único compromisso que tem pela frente, o de tentar repetir o título de campeão nacional. Dir-se-á que, pelo meio, existe ainda a Taça da Liga. Mas esse é, todos o sabemos bem, um objectivo relegado para plano secundário, o que se passa, igualmente, com outros sérios candidatos à sua posse. Os portistas também não perderam mais terreno, mas passaram por grandes dificuldades em Penafiel onde arrancaram a ferros uma vitória envolta em grossa polémica. Dos três golos alcançados pelo ataque dos dragões dois, pelo menos, deixaram dúvidas quanto à sua legalidade, o que confirma o facto de nem sempre haver razões de queixa quanto ao deve e haver das actuações arbitrais. Os leões assinaram no seu estádio a oitava vitória consecutiva com um jogo que valeu sobretudo pela segunda parte, onde foi possível assistir ao regresso à forma antiga de alguns dos seus excelentes praticantes. A isso se juntou também a confirmação de outros menos experimentados, aos quais o seu treinador não deixará de dar oportunidades quando entender necessário. Veremos o que nos reservam as suas

próximas exibições. E num ano em que a dança de treinadores não tem sido muito intensa, o último registo vai para a saída de Domingos Paciência do comando do Vitória de Setúbal. Onze derrotas e 30 golos sofridos em 17 jornadas, representam um score demasiado pesado para um clube com tantas e tão ricas tradições. O desenlace já era previsível há algum tempo. Veremos é se ainda vem a tempo. REVISTA DA IMPRENSA DESPORTIVA

Vitórias lisboetas em destaque

As vitórias de Benfica e Sporting estão em destauqe nos jornais desportivoas e o Record junta as duas para titular: "Festival". "Líder implacável" é o título maior de A Bola que, sobre o Sporting, escreve: "Leão ri-se da crise". No nortenho O Jogo é o Sporting que surge em destaque, com o título "Tanaka tira-teimas". Sobre o Benfica, o jornal escreve: "Sálvio aos comandos da trituradora". Sobre o FC Porto, O Jogo diz que o dragão "vira campeonato com ataque histórico", numa referência o número de golos: o maior, desde 1995/96. Ainda em O Jogo, anuncia-se a saída de Domingos Paciência do Vitória de Setúbal.

Página1 é um jornal registado na ERC, sob o nº 125177. É propriedade/editor Rádio Renascença Lda, com o nº de pessoa colectiva nº 500725373. O Conselho de Gerência é constituído por João Aguiar Campos, José Luís Ramos Pinheiro e Ana Lia Martins Braga. O capital da empresa é detido pelo Patriarcado de Lisboa e Conferência Episcopal Portuguesa. Rádio Renascença. Rua Ivens, 14 - 1249-108 Lisboa.


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