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Balneário Camboriú, 14 de abril de 2012
Entrevista
Na medida que você fizer algo que te dá prazer, deixa de ser trabalho, é uma ocupação
Alexandre de Sá Oliveira, empreendedor e professor universitário
n o s s a g e n t e Fernanda Schneider fernanda@pagina3.com.br
Fernanda Schneider
E
le é mestre em administração com especialização em gestão da qualidade e da produtividade, MBA em
gestão empresarial. Professor universitário, Alexandre de Sá Oliveira, já foi proprietário do saudoso restaurante Inconfidência Mineira e também da primeira cachaçaria do Estado, aqui na cidade. Foi ainda um dos mentores e produtor da banda local Nego Joe, que hoje figura no cenário nacional.
Nome – Alexandre de Sá Oliveira Idade – 49 Nascido em – Belo Horizonte Em Balneário desde – 1997 Formação – Administração Profissão – Professor universitário Estado civil - casado com Patricia Filhos - Bruno, 16 e Maria Clara, 17 Lazer – Música Prato predileto – Arroz, feijão, angu, couve e torresmo Filme – Matrix 1 Livro – ‘Segunda-feira nunca mais’, de Dan Miller Momento bom – Quando estou com as pessoas que gosto Momento ruim – Quando se sofre uma injustiça Alexandre por Alexandre – Uma pessoa que quer ser melhor.
Atualmente, Alexandre divide o tempo entre os alunos da Univali, Udesc e os clientes do Armazém do Pão de Queijo Inconfidência Mineira, onde literalmente bota a mão na massa. Nessa entrevista, com jeito manso,
típico de um bom mineiro que gosta de um dedo de prosa, ele divide um pouco da experiência como empreendedor e professor e defende algumas idéias, a principal delas: temos que trabalhar naquilo que nos faz feliz, e isso é sempre possível. Acompanhe.
Entrevista JP3 – Todas as pessoas podem ser boas empreendedoras?
Alexandre – Sempre há controvérsias, mas o que eu venho estudando, me mostrou que todos os indivíduos são empreendedores. A origem desse termo ‘empreendedor’ data do século 13 na França e os primeiros registros onde ele aparece, refere-se a pessoas que aceitavam desafios grandes. Todo ser humano precisa lutar para viver e as pessoas que estão envolvidas com o que gostam de fazer, têm atitudes empreendedoras, são persistentes, entusiastas, inovadoras, criativas... JP3 - O termo é usado de forma inadequada, porque a ideia que se tem é que empreendedor é o empresário, o proprietário.
Alexandre – Exatamente. Recentemente meu filho me perguntou qual a profissão que dá dinheiro. Ele está naquela fase de escolher, tem 16 anos. Eu pensei, ‘vou ter que dar uma resposta que seja inspiradora’ e disse ‘a profissão que dá dinheiro é aquela que você faz bem feita’. Conheço engenheiros pobres e serventes de pedreiros ricos. Na verdade você ganha dinheiro com o que faz bem feito. A gente não pensa sobre isso, mas vamos passar a maior e melhor parte de nossas vidas, trabalhando. Então, o trabalho é muito mais que um meio para se ganhar dinheiro, mas para se realizar como pessoa. Os pais têm que tomar um cuidado danado porque o filho fala por exemplo, ‘pai quero ser ator’, e o pai responde, ‘que ator meu filho? Você vai ser médico, engenheiro’. A gente tem em mente que essas profissões é que dão dinheiro, mas quer dizer, e se ele tiver vocação para artes cênicas e for bem sucedido? Temos que pensar sobre isso. Não sei se já aconteceu com você, no trabalho ter algum colega com um desempenho medíocre, não pejorativo, um desempenho médio, e depois você encontra essa pessoa numa outra situação fazendo e acontecendo. Você vê ela trabalhando por necessidade e depois fazendo o que gosta. JP3 – O dinheiro é necessário, mas não o mais importante...
Alexandre – É, a nossa sociedade vive dessa forma. Nos países mais desenvolvidos do mundo, e a gente tem o que aprender com eles, tentam identificar a vocação nas crianças desde cedo, fazendo brincadeiras nas escolas. A criança que gosta muito de atividade física, pode ser atleta, aquela que gosta de jogos lógicos, pode ser um cientista, o outro gosta de matemática... JP3 – E então investe naquela área...
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Alexandre – Isso. Você tem uma formação geral para todos, mas dá para as crianças chances de exercitar a vocação. O que acontece? Viram adultos e são grandes cientistas, grandes médicos, grandes engenheiros, administradores, atletas de ponta. Porque foram trabalhados desde pequenos, isso é responsabilidade com o futuro, não temos isso no Brasil. JP3 – É comum a gente ver no Brasil os adolescentes chegarem no vestibular com essa dúvida do que fazer. Com 16,17 anos, não é cedo para ter que escolher a profissão?
Alexandre – Essa idade de 16, 17 anos quando se começa a fazer opção de carreira, é muito cedo, agravado pelo fato de não ter tido chance de entender o que gosta de fazer. Alguns pais procuram o teste vocacional nos psicólogos... geralmente temos vocação para mais de uma profissão.
O ajudante ‘Baixinho’ mostrando parte do vistoso bufê do Inconfidência Mineira - no fogão a lenha, como manda a tradição.
JP3 – Vocação para uma área específica.
Alexandre – Uma área que permite trabalhar com várias atividades profissionais e aí deveríamos permitir que o jovem escolhesse aquilo que gostaria de fazer. Quer dizer que vai dar certíssimo, vai fechar 100%? Talvez não, comece e perceba que não é aquilo, não tem problema. Desiste, tenta outro, mas ao menos está sendo encaminhado numa área que a chance de dar certo, é bem maior. Você vai ter um desempenho superior, o retorno financeiro pelo seu talento e vai se realizar. JP3 – Antigamente o trabalho era visto como uma obrigação, hoje se divulga muito que as pessoas devem trabalhar no que gostam...
Alexandre – As relações de trabalho estão mudando. O que está claro para os gestores é que as pessoas felizes com aquilo que fazem, tem desempenho melhor do que as que fazem por obrigação, não há dúvida, é ponto pacífico. Eu vou definir para um cargo qual o conhecimento que eu preciso, quais as habilidades e as atitudes e vou buscar na sociedade pessoas com essas competências técnico-comportamentais. Quem contrata aleatoriamente tem resultados aleatórios. Se eu tenho uma cultura na minha organização, tenho que trazer pessoas que estejam afinadas com isso e não dar curso disso, curso daquilo para tentar mudar a pessoa. Isso é caro e não funciona. JP3 – Mas e o fato de treinar para uma função alguém sem experiência, sem os chamados vícios?
Alexandre – Aí é treinamento, parte técnica, mas a parte comportamental é mais difícil. Nós não nos conhecemos, não sabe-
Entrada do Inconfidência na Via Gastronômica: muito lembrado até hoje. Nas floreiras, plantação de couve...
mos o que somos capazes de fazer. Ninguém muda ninguém mas cada um é capaz de mudar a si próprio, se quiser. Se achar que é importante mudar, muda. Mas voltando ali no empreendedorismo, é fundamental que a gente encontre na sociedade pessoas que queiram abrir seu próprio negócio, porque elas geram renda, emprego, impostos e o Estado faz ações sociais a partir do que arrecada. E muita gente se realiza nisso, eu estou no meu quinto negócio, será que alguém tem dúvida que gosto de ter meu próprio negócio? JP3 – Mas aí tem uma outra questão. Hoje se fala em trabalhar menos e ‘viver’ mais. E há uma ideia equivocada, porque quem é dono sempre trabalha mais, não é?
Alexandre – Trabalha muito mais. Mas tem que equilibrar, tempo para o trabalho, para o lazer, para a família, enfim.. mas isso de querer trabalhar menos e viver mais, está muito associado ainda à ideia de que o trabalho é obrigação. Na medida que você fizer algo que te dá prazer, deixa de ser trabalho, é uma ocupação. Você vai se ocupar
com uma coisa que te realiza. Naquele livro ‘Segunda-feira nunca mais’, o Dan Miller fala sobre isso: todo mundo que não quer que chegue a segunda-feira é porque vai fazer alguma coisa que não gosta. Normalmente as pessoas fazem coisas porque a vida encaminhou naquela direção, mas as escolhas são nossas. Esse livro é ótimo, tem um capítulo com uma tirinha do Charlie Brown conversando com o Snoopy e o Charlie Brown diz ‘puxa, não agüento mais jantar todo dia a mesma coisa’, e o Snoopy pergunta quem faz o jantar dele. É ele mesmo quem faz o jantar (risos). Então a gente é um pouco assim, eu reclamo da minha vida, da minha sorte, mas nunca é culpa minha. A culpa é do pai, da esposa, do marido, do governo, mas nunca a culpa é minha. O que eu posso fazer para mudar? JP3 – Porque as pessoas se acomodam...
Alexandre – É comodismo sim, mas muitos de nós não têm consciência. Claro, não estou satisfeito, não vou chegar amanhã pedir demissão e procurar outro
emprego, isso é irresponsabilidade. Eu vou continuar naquela atividade e vou começar a me capacitar para depois pleitear trabalhar em outra área. JP3 – Mas isso vale para um determinado grupo de pessoas... E aquele cara que tem que dar duro 12 horas no dia para botar a comida na mesa?
Alexandre – O censo comum é de que empreendedor é empresário, isso é um reducionismo na linguagem acadêmica. O Adam Smith, economista famoso que escreveu o livro ‘A riqueza das nações’, base da teoria econômica contemporânea, defendia a livre iniciativa e o livre mercado. Quer dizer, se a pessoa quer entrar no mercado, tem o direito de fazer isso. Conheço empreendedores empresariais que não tiveram ainda a oportunidade de abrir seu próprio negócio. Aqueles que empreendem, não necessariamente precisam ter uma empresa. Um encanador é considerado empreendedor empresarial. Você tem um grande número de pessoas que são empreendedoras por necessidade e por oportunidade.
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“mas isso de querer trabalhar menos e viver mais, está muito associado ainda à ideia de que o trabalho é obrigação” limites legais, ver se pode ser compulsório ou como sugestão e oportunidade: os empresários que fizerem um curso, ganham incentivo fiscal da prefeitura de três anos por exemplo. JP3 – Esperar pelo governo, a gente sabe que é difícil, é mais pela mobilização civil mesmo, não?
Alexandre – Poderia começar pelo governo, mas eu não percebo essa possibilidade e quem se beneficia ou quem é prejudicado por essa falta de lucidez em relação ao desenvolvimento econômico social é a própria sociedade.
As cachaças típicas de Minas: toque todo especial nos estabelecimentos de Alexandre. JP3 – A maioria é por necessidade...
Alexandre – Já foi mais. Tem uma pesquisa feita mundialmente conhecida como GEM (Global Entre preneurship Monitor). É uma avaliação para comparar diversos países, com dados interessantes, um deles é este: historicamente o Brasil é um dos países com maior índice de empreendedorismo no mundo, entre os BRIC´s (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), só não temos maior taxa que a China. Agora é preciso relativizar os dados porque o Brasil é considerado por exemplo o país que mais recicla lata de alumínio no mundo, o cara lá fora que ler esse dado vai pensar ‘poxa, que povo que tem consciência ecológica’, mas se ele vier no Brasil, ele vai ver o seguinte, se o pessoal não catar lata, não come. Então não é consciência ecológica, é necessidade mesmo, desigualdade social, etc. Aqui no Brasil, sempre tivemos mais empreendedores por necessidade e no último GEM em 2010, temos 2 empreendedores por oportunidade para 1 por necessidade. Isso está acontecendo porque está melhorando a distribuição de renda, o poder aquisitivo, as classes hoje que mais consomem educação são a C e D, então essas pessoas estão tendo condições de competir no mercado por melhores cargos, tendo acesso a mais conhecimento, enfim, estamos vivendo uma mudança no Brasil muito importante. E o empreendedorismo por oportunidade é o bom, porque gera emprego, novos produtos, renda. JP3 – Mas a durabilidade das empresas que abrem no Brasil é pequena, as estatísticas vêm mostrando isso. Alexandre – É, mas essas estatísticas são controversas. Você abrir um negócio exige toda
uma logística, você precisa ter uma reserva, às vezes demora meses, um ano e meio para começar a dar lucro e até lá você vive do quê? Além disso, existe a questão do preparo gerencial. É mais fácil ter sucesso se você tiver o conhecimento, mas só o conhecimento não é suficiente. Você precisa conhecer sobre gestão financeira, fluxo de caixa, demonstrativo de resultados para avaliar se está tendo lucro ou prejuízo e tomar decisões, precisa entender um pouco de marketing, gestão de pessoas para trazer as pessoas certas. Existe uma série de competências técnicas e se elas não estão presentes, a chance de dar errado é muito grande. JP3 – E dá muito errado aqui no Brasil. As pessoas não se preparam é isso?
Alexandre – Dá muito errado. Quando a gente abre um negócio, abre primeiro no município. E os municípios de forma geral no Brasil, não têm política de desenvolvimento econômico. No empre-endedorismo empresarial, não há exigência, o pensamento é da livre iniciativa. As pessoas costumam dizer, ‘é bom que muitos tentem e os que derem errado ao menos vão deixar uma contribuição à comunidade, de que aquilo não deu certo’. É muito bom que dê errado quando não é você, certo? E aquela pessoa que deu errado, você foi lá ver o que aconteceu com ela? Geralmente é alguém que aplicou as economias no negócio, não estava preparado, não tinha talento e deixaram ele empreender. Você quer abrir um negócio e vai pedir o alvará de localização na prefeitura. Penso que lá na prefeitura deveria ser questionado que tipo de serviço é. Ah, é uma farmácia, na Avenida Brasil? Não, na Avenida Brasil eu não te dou o alvará, porque já tem 80 farmácias ali, mas ali naquele bairro
eu preciso de uma farmácia e se você abrir ali, eu não só te dou o alvará, como te dou um incentivo fiscal. JP3 – Mas quem se importa?
Alexandre – As pessoas pensam, ‘pra ganhar dinheiro, eu tenho que estar na Brasil’. O aluguel ali é caro, você vai disputar com um monte de gente o mesmo negócio. Eu vou te dar o alvará, reduzo seu ISSQN durante seis meses para você poder decolar. Isso é bom para a sociedade, ao invés de pegar dois ônibus para chegar lá na Brasil, você vai contratar pessoas que moram naquele bairro, você está desenvolvendo a economia local e gera renda para o município do mesmo jeito, enfim, você está ajudando a solucionar um problema social. JP3 – Isso está longe de nós, mas no Canadá acontece assim.... essa preocupação.
Alexandre – Na Alemanha acontece também. A pessoa aceitou abrir a farmácia lá no bairro.. e ela entende de fluxo de caixa, parte fiscal? Não entende, só entende de remédio. Então vai ter que freqüentar o curso no Sebrae e se tiver bom aproveitamento nessa prova, aí sim recebe o alvará. São dois aspectos, a capacitação e a chance de obter sucesso. Para isso precisa ter uma secretaria de desenvolvimento econômico.
JP3 – Enquanto o empreendedorismo não integra o currículo, os pais podem fazer isso em casa...
Alexandre – Podem. Os pais precisam entender isso. O que eu estou fazendo com meu filho? Ele diz que quer ser ator e eu respondo, ‘ator, não... ator não dá dinheiro’. JP3 – A gente pode falar também de sucessão familiar, que é muito comum e se encaixa aí.
Alexandre – Outro problema. JP3 – Problema?
Alexandre – Os filhos não querem muitas vezes seguir. Eu tenho um grupo empresarial grande, na minha mente é natural que meus filhos queiram me suceder, mas é muito comum de não querer. Tenho muitos alunos nessa situação, os filhos não querem, mas existe uma pressão da família, de cuidar do patrimônio da família. É possível sim que não tenha ninguém que queira te suceder. JP3 – E aí se torna problema.
Alexandre – Se o pai não tiver uma visão voltada à felicidade dos filhos, vai ter pessoas conduzindo um negócio e que talvez nem sejam bem sucedidas, porque não vão se envolver, se dedicar, então é preferível profissionalizar a direção e deixar aquela pessoa ser o que ela quiser ser. Claro que por força da necessidade algumas pessoas são forçadas a fazer algo que não gostam, mas para esse tipo de situação, a recomendação é que continue fazendo, mas se prepare paralelamente para poder viver de outra coisa. Você viver decentemente de uma coisa que você gosta de fazer, deveria ser um sonho de todo mundo. E o sonho
“... e a gente tem o que aprender com eles, tentam identificar a vocação nas crianças desde cedo”
JP3 – Em Balneário tem núcleos de jovens emprendedores, na Acibalc, na CDL. É um caminho?
Alexandre – É um caminho, e penso que é um fórum que poderia ser aberto à comunidade. Convidar a sociedade a refletir sobre isso. Ver experiências, os
das pessoas é ganhar dinheiro, mesmo que para isso, eu faça alguma coisa que me contrarie. JP3 – Um parênteses. Ainda sobre a sucessão familiar, tem o outro lado. Conseguir trazer aquele filho, porque é uma processo natural que gera segurança também...
Alexandre – Sim, conheço diversas pessoas que sucederam os pais e estão felizes. Só acho que precisa ser feito respeitando as partes. Tem que ouvir o que o filho pensa. Permitir experimentar para ver se gosta. E se o filho não quiser, existem várias soluções. Abrir mão da felicidade, em nome do status ou de uma situação, é muito sacrifício, e a gente se arrepende lá na frente. JP3 – Agora vamos falar do Alexandre empreendedor, você começou aqui com o restaurante Inconfidência Mineira.
Alexandre – É. Durante 11 anos trabalhei como funcionário da Varig, depois trabalhei mais 10 como representante comercial da Varig, comecei em Blumenau e depois vim pra cá, foi minha primeira empresa. Em 2006 a Varig quebrou. Mas antes disso, em 98, eu já estava aqui e sentia muita falta da comida mineira. O restaurante mais próximo era em Curitiba... JP3 – E você saía daqui para comer lá?
Alexandre – De vez em quando. Aí identifiquei a oportunidade de abrir um negócio. Meu projeto era permitir que as pessoas que fossem ao restaurante pudessem reconhecer a cultura mineira através dos cinco sentidos. Era música mineira ou de raíz, contratei três músicos de BH para isso. A decoração era toda típica, fui buscar inspiração lá no interior de Minas, além do cheiro da própria comida, eu usava lampião a querosene, passava cera à base de solvente no chão, o cheiro da lenha queimando... isso tudo transportava as pessoas para uma casa de fazenda de interior, e a gente emplacou, foi um sucesso na época. Inauguramos dia 21 de abril de 1998... JP3 – Dia da Inconfidência Mineira, propositadamente...
Alexandre – Claro, nos programamos pra isso. Quando eu falava para as pessoas que eu ia abrir no mês de abril, diziam que eu era louco, que eu tinha que abrir na temporada. Mas a minha formação me indicava: abre na baixa temporada, vai ajustando equipe e forma de trabalhar para chegar na temporada ‘pronto’.
Entrevista
Balneário Camboriú, 14 de abril de 2012
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“os municípios de forma geral no Brasil, não têm política de desenvolvimento econômico ” JP3 – E você botava a mão na massa?
Alexandre – Na cozinha não. Eu gostava da parte de relacionamento, receber as pessoas, conversar... claro, eu tinha influência sobre tudo, determinava o cardápio, mas o que gostava mesmo era de receber. JP3 – E acabou sendo um agitador cultural na cidade com o Inconfidência né?
Alexandre – Esse restaurante mexeu de tal maneira com a cidade, não achei que fosse tanto. Eu criei o Terça Maior, todas as terças-feiras tinha um quarteto de jazz lá e lotava. Nas quartas-feiras, era música latina, e quem comandava era o Daniel Montero. Trouxe o show ‘Conspiração dos Poetas’ pra cá, Lô Borges, Flavio Venturini, Beto Guedes, os letristas do Clube da Esquina, depois trouxe um trio de músicos que tocavam no Chapuri, restaurante tradicional de Minas, conhecido no Brasil todo, ‘roubei’ eles de lá, paguei 6 meses de aluguel, não acreditei que eles vieram. Eram meus músicos fixos... JP3 – E aí o restaurante fechou em 2002. Por quê?
Alexandre – Porque eu cansei. Nesse meio tempo, um amigo ligou, tava voltando do Japão, querendo abrir um negócio aqui. Eu disse que já tinha o restaurante, mas tinha ideia de
abrir uma cachaçaria, porque não tinha ainda aqui, para valorizar a cachaça típica brasileira, que é o que acontece em Minas. Isso foi em 98, abri a cachaçaria (Inconfidência Mineira, ficava na Alvin Bauer) meses depois do restaurante. Mas a gente vendia a cachaça e o pessoal queria experimentar, degustar. Eu não queria, porque ia virar bar, mas o sócio convenceu e começamos a servir cachaça. Aí ele queria vender uma cervejinha, whisky, o pessoal ia lá tomar a cachaça e pedia. Virou um bar e foi um sucesso. JP3- Foi a primeira cachaçaria do Estado.
Alexandre – Sim, a primeira, depois o amigo e sócio foi embora, e eu acabei vendendo para o meu gerente, durou até 2006. JP3 – Mas por que você deixou a cachaçaria?
Alexandre – Porque eu tinha três negócios. Nesse período, eu dormia de manhã, ia para Varig de tarde, no restaurante à noite e de madrugada na cachaçaria... Aí em 2001, a Argentina quebrou, eu não tinha muitos clientes argentinos, mas eles eram clientes dos meus clientes, não vinham mais para Balneário Camboriú. Como já estava cansado e a clientela diminuiu naquele ano, resolvi fechar o restaurante também em 21 de
Seu Emílio, Marcelinho e Marcelo: o trio ‘roubado’ de Minas - época de movimentação cultural na cidade.
abril, de 2002. A marca Inconfidência Mineira ainda é minha, qualquer hora que quiser abrir de novo, eu posso. JP3 – E a Univali?
Alexandre – Eu dava aula no Sinergia, em Navegantes. A Varig quebrou, eu já fazia mestrado na Esag/Udesc, e aí resolvi dar aula. Passei nos dois processos seletivos da Univali e da Udesc.Sou efetivo desde 2007 no curso de Administração da Univali e na Udesc como colaborador nos cursos de Administração Pública e Engenharia do Petróleo. JP3 – E o pão de queijo?
Alexandre – A gente servia pão de queijo no restaurante, fazia muito sucesso no bufê. Minha esposa teve ideia de abrir uma fábrica de pão de queijo. Fiz
Falando nisso... Mineiro uai... Depois de ler a entrevista do gente boa Alexandre, me identifiquei muito com o que ele fala sobre a necessidade de Balneário Camboriú ter uma secretaria específica, de desenvolvimento econômico, que direciona o pessoal que chega aqui encantado com o movimento de temporada e orienta pra que não entrem em uma fria. Nós estamos acostumados todos os anos a ver negócios se instalando antes do verão, gastando uma fortuna em decoração, marketing etc e nem bem chegou março, muitos deles estão levantando acampamento, quando não estão devendo pra meio mundo. Isso é o quê? Falta de orientação, de dicas e isso uma cidade turística tem obrigação de oferecer. O prefeito Piriquito ainda não
preencheu o cargo de secretário de Turismo. Tá aí uma boa dica. O homem sabe o que faz e entende muito disso. Só que não é político..
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uma pesquisa no mercado e vi que a gente tem mais de 25 marcas de pão de queijo congelado aqui. Convenci ela que não era bom negócio. Aí um dia vim abastecer aqui no posto e vi esse lugar aqui, estava abandonado, era um café fechado. Me interessei e acabei fazendo negócio com a Rita, que era dona do café, ficamos sócios. Aí convenci ela de que cafés a gente tem muitos, precisava um diferencial. Se a gente mostrar que faz o melhor pão de queijo da cidade, a pessoa vai sair lá da Avenida Brasil para comer pão de queijo aqui. Ela topou e a gente acabou criando o ‘Armazém do Pão de Queijo - Inconfidência Mineira’. Fez um ano agora em março, o negócio vai bem. E o pessoal vem aqui e pergunta do restaurante.
Agora, dia 21 de abril, completa 10 anos que o restaurante fechou e falam como se ele tivesse fechado mês passado, é incrível. JP3 – Fica no ar então que um dia a gente pode ter o restaurante de novo?
Alexandre – Pode. Talvez não no mesmo formato, mas com a mesma proposta e trazendo sempre esse lado cultural, da poesia, música, artes plásticas. JP3 - Você é a prova de que dá para ser um empreendedor multifacetado, porque é um professor universitário que hoje também vende pão de queijo e parece realizado...
Alexandre – Eu sou realizado, sou feliz, porque faço o que gosto. Se faço bem feito, meus alunos e meus clientes podem dizer.
Marlise S. Cezar
marlise.jp3@gmail.com Daniele Sisnandes
É sério Essa semana conversei com o pesquisador Leonardo da UFSC sobre o problema das algas na areia, que estão aumentando e sinalizando que é preciso tomar uma atitude (leia matéria na página 11). Ainda não acordamos para o tamanho daquele problema, que exige uma ação conjunta e urgente, antes que as algas interfiram diretamente na vida de todos nós. A prefeitura não pode resolver sozinha, mas pode tomar a dianteira e chamar os entendidos no assunto e a população toda para agir o quanto antes. Mas o quanto antes mesmo!
Todo mundo sabe que lixo fede, mas lixo de sobras de frutos do mar, é mais do que mau cheiro, é ânsia de vômito, é insuportável. Há duas semanas o jornal está denunciando e conferindo ‘in loco’ uma montanha desse lixo que alguém está jogando na beira do rio, ali no mangue... E fica por isso mesmo, os responsáveis não fazem nada, não há punição e aquele troço nojento fica ali mesmo. Que bom exemplo para uma cidade turística. Vergonha é pouco!