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Balneário Camboriú, 5 de fevereiro de 2011
Especial
Bariloche, sem esquis ou chocolates caros
V
Textos e fotos Caroline Cezar
ocê pode desenhar um perfil de um turista que vai para o Hawaii. Para Londres. Amsterdam. Você sabe quem combina com Paris ou Tókio. Você pode desenhar o perfil de qualquer turista de qualquer lugar. E a forma como imaginamos mentalmente os turistas dos lugares nos diz muito sobre o que carregamos na nossa bagagem de visão de mundo, nos diz muito sobre nós mesmos.
Confesso que me envergonhava em dizer, entre um ‘tuit’ ou outro, “estou em Bariloche”. Porque minha imagem mental sobre o turista desse lugar era bastante caricata, mais ou menos como dizer, “adorei minhas férias em Dubai”. Ir para Bariloche me parecia algo “in”, que gere status, que seja tão caro quanto superficial. “Patagônia Argentina” me soava muito mais poético, muito mais romântico, e isso, apesar da bagagem ter aumentado um tanto (se bem que ao mesmo tempo que juntamos coisas novas, deixamos outras pelo caminho), não mudou. Ainda prefiro “Patagônia Argentina”, porque vai além, engloba muito mais coisa, e sim, -culpa da bagagem- é poético, e isso já está impregnado. Já era apaixonada por esse lugar, apenas confirmei o sentimento. Ele já fazia parte das minhas memórias, levando em conta que as histórias das pessoas próximas se fundem com as nossas pró-
prias, deixando tudo numa atmosfera muito familiar. As lembranças das lembranças. Temos alguns bons amigos que são conectados de forma muito sincera com a Patagônia. Já existia uma ligação e um respeito e um amor. Era só chegar em casa e se entregar para isso. Bariloche, cidade, em época de temporadas, basicamente janeiro e julho, tem o centro tumultuado, e tirando a diferença gritante entre as montanhas e as praias- lembra Balneário Camboriú. Fica apertado, mas mesmo assim as pessoas se amontoam em frente às vitrines. A idéia, parece, é comprar ALGUMA COISA. Também tem uma noite movimentada e bastante badalação. Restaurantes. Pizzarias. Bares. Cervejarias. Pista de patinação no gelo. Sorveterias, muitas e excelentes. Lojas e lojas e lojas. Ofertas turísticas. Tem gente de todas as idades, e jeitos, e aquela imagem da madame cheia de penduricalhos, maquiagem, salto alto e calça legging de oncinha, também é real. Ela está em Bariloche. Também estão os estudantes de 17, 18, 19 anos, a galerinha que faz viagem de formatura; “uma fã de Caras com esquis a tiracolos”, e “o burguês, ou de família tradicional. Porque parece uma tradição antiga, como ir pra
Disney” (as aspas identificam as colaborações-imagens-mentais de @claudinha_bc e @Biliz, respectivamente, numa rápida pesquisa-de-campo no twitter). A Fab Diniz também opinou: “turista de Bariloche, nem imagino, turista que quer esquiar? Sempre imaginei aqueles chalés estilo Suiça ou Canadá que a gente vê nos filmes sabe? Mas acho que é turista que quer frio e quer esquiar”. E eles também estão lá: os fãs de Caras, o burguês, o cara que quer ir pro frio e os chalés, tudo lá. Temos bastante diversidade então no nosso desenho “turista de Bariloche”. A nossa família, “casal jovem com filhos pequenos que não quer gastar dinheiro e busca paisagens pouco habitadas”, ainda não se encaixou em nenhuma dessas figuras. E até nós podemos mudar de figura, veja: “jornalista e biólogo, com filhos curiosos”; ou: “casal que busca um lugar tranquilo para os filhos explorarem”; ou:
“família disposta a acampar”; ou: “gente doida da cabeça que leva criança montanha acima”; “Gente que acredita que levar criança montanha acima é a melhor forma de educação possível”; ou “Irresponsáveis, cretinos, isso é falta de ocupação (à la Prates). Enfim. Na verdade, tem uma porção de não-encaixados no retrato turista-de-Bariloche: escaladores de rocha; montanhistas; exploradores de todas as idades; velhinhos, velhinhas, hippies, malucada, músicos com violões pendurados nas mochilas, e gente que carrega a casa em cima da bicicleta. Brasileiros! Muitos brasileiros. Todo tipo de brasileiros. Tem de tudo. Na verdade a palavra “turista” soa meio mal mesmo e parece não combinar com eles. Tirando o excesso de gente, que me incomoda também quando estou “em casa”, Bariloche é uma cidade adorável, porque
-outra diferença de Balneárioanoitece quase dez da noite e há flores por tudo. Não canteiros minguados em retornos de avenidas, ou que servem de depósito de lixo de quiosques à beira mar. Todo mundo tem uma flor na frente de casa, dentro de casa, nos portões, nas janelas, nos arbustos. Todo mundo planta, todo mundo cuida, todo lugar tem flor, todo tipo de flor, e isso deixa tudo mais feliz e enfeitado, com uma cara de amor e dedicação. Árvores, muitas; montanhas nevadas, muitas; lagos, muitos. Saindo do “grosso” do centro fica bastante agradável e existe um ar “alternativo” que paira. Mas o que a faz mais adorável mesmo, é que é dali, da Bariloche-cidade (que nos leva àquelas figuras meio consumistas), é que se SAI. Tem ônibus de linha que passa no centro e leva mais além. As opções são muitas. Falaremos aqui apenas das que conferimos in loco.