Crianças um espaço para a infância
Balneário Camboriú, outubro de 2012
Edição 5
C o m p o r t a m e n t o
E n t r e v i s t a
C o m p o r t a m e n t o
Desenvolvimento da linguagem: adultos têm papel fundamental
Pat Feldman, culinarista e estudiosa da alimentação saudável
A importância da paciência quando chega um novo filho na casa
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E d i t o r i a l
I n s p i r a ç ã o
Adoramos falar de crianças! Chegamos à quinta edição do Caderno Crianças satisfeitos em saber que conquistamos leitores que já aguardam os próximos números. Dessa vez, estamos trazendo uma entrevista literalmente saborosa com a culinarista Pat Feldman, que conta um pouco de sua experiência em promover a gastronomia saudável para adultos e crianças. A fonoaudióloga Suzi Morgado explica como podemos auxiliar nossos pequenos a desenvolverem de forma adequada a linguagem. Algumas dicas simples podem fazer toda a diferença. A psicanalista Rejane Rodrigues de Campos fala sobre os sentimentos que um novo irmão pode despertar no filho(s) mais velho(s) e mostra o caminho para que a nova fase seja vivenciada da melhor maneira possível por todos da famíla. Contamos ainda com a colaboração de Barbara Sturm (Cinerama BC/Pandora Filmes) que deu dicas de filmes interessantes para adultos e crianças assistirem juntos. E claro, nossos habituais colunistas enriquecem ainda mais este impresso e nos convidam à reflexão. Na contracapa, Daniel nos traz mais uma história bacana. Leia para uma criança que ainda não sabe ler! Se quiser comentar, acesse a versão online no www.pagina3. com.br. Se preferir, escreva para criancas@pagina3.com.br. Sua opinião é importante para nós!
E x p e d i e n t e ‘Crianças - um espaço para a infância’ é uma publicação do Jornal Página 3. Textos: Fernanda Schneider | Diagramação: Fabiane Diniz Comercial: Elis Liandra Escher Foto de capa: Ricardo Alves Email redação e comercial: criancas@pagina3.com.br Artigos assinados e colunas não refletem necessariamente a opinião deste caderno Redação: Rua 2448, 360e, Centro - Balneário Camboriú Santa Catarina
u m e s paç o pa ra a infâ n c i a
Fone/Fax: 3367-3333 Edição 5 - Tiragem: 2.130 exemplares
O que te inspira? Foto enviada por Analia Romero, de Buenos Aires, que flagrou a filha Valentina em momento de carinho com a cadela Laila. Mande para nós a sua foto-inspiração que a gente publica no próximo caderno.
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Olhar terapêutico C l a u d e t e
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Bebê a bordo: compartilhe de forma saudável a chegada do novo irmão
M o r a i s
Divulgação
Psicóloga - claudetedemorais@yahoo.com.br
O peso das palavras Você é uma decepção! Você não dá pra nada! Você é um estorvo! Você é minha cruz! Palavras duras e ferinas, ditas muitas vezes, no clamor dos conflitos ou no vazio da insatisfação de quem as pronuncia. Palavras são como sementes, que jogadas ao vento serão absorvidas, quando plantadas germinarão e o fruto das mesmas ficarão incrustados na estrutura do ser que se constrói. Sementes saudáveis irão contribuir para um desenvolvimento pleno, porém palavras permeadas de veneno e desamor terão o poder de atrofiar o crescimento do ser. Sementes estas que muitas vezes só serão identificadas em um processo psicoterapêutico. Diante do sofrimento, do descontentamento com suas escolhas e posturas, o questionamento borbulha: “Porque eu sou assim?” Inconformados com suas limitações tecem uma colcha de retalhos de sentimentos, tais como insegurança, medo, ‘não tenho potencial’, ‘não sou amado’, ‘me sinto ameaçado’, ‘o outro é melhor’, ‘tenho que agradar para não ser rejeitado’ e tantas outras expressões de sentimentos de inadequação e baixa auto estima expressam as leituras efetuadas ao longo de sua caminhada, com um olhar muito crítico e desfavorável, denotando a ausência da crença em si mesmo. Na busca pelo autoconhecimento, descobre, acessa situações de sua infância, que estavam no baú das emoções reprimidas, onde o peso das palavras foi aterrorizante, como: ‘Você é um nada! Você é um burro! Ninguém gosta de você’! O ser se encolhe, castra a sua criatividade, esconde o seu brilho, se anula, apenas por não acreditar em si mesmo. As crenças que moldam sua conduta foram germinadas com as sementes do desamor e do desrespeito, as quais induzirão o indivíduo a escolhas e comportamentos que comprovem a inadequação e o desafeto. Aos pais e professores, um alerta! Observem as palavras proferidas, pois elas podem construir a saúde emocional de uma pessoa, como também serem responsáveis por um padrão comportamental que irá levá-la a muito sofrimento. Use as sementes do amor, reforce sempre os aspectos positivos de seus filhos. Lembrando que o amor vem acompanhado do respeito e da necessidade de limites. Acolha seus filhos com o diálogo amoroso e transparente, nos olhos a crença no potencial deles, no sorriso a confiança, nas mãos a determinação da superação de suas dificuldades e, a obtenção do êxito desejado.
A família aumentou com a chegada de um novo filho e o mais comum de se ouvir é ‘ele(a) morre de ciúmes do irmão’. Pois nada mais natural do que sentir ciúmes, diz a psicanalista Rejane Rodrigues de Campos. Segundo ela, é preciso que os pais compartilhem a chegada do irmão e dêem espaço para o sentimento do primogênito, que pode vir em forma de birra, de agressividade, infantilização (quando crianças maiores), xixi na cama, entre outras atitudes. O segredo está na dose de atenção dispensada às crianças, na maneira como se conduz as variadas situações, porque os pequenos refletem o comportamento dos adultos. O exemplo mais comum é presentear o filho mais velho, quando a visita é para o recém nascido. “Ele tem que saber que o presente é para o bebê, estão festejando a chegada dele e o irmão pode festejar junto, abrir o presente para o bebê... Ele tem o espaço dele, mas não necessariamente toda hora precise
receber um presente porque o outro está recebendo. O lugar do primeiro filho continua ali e por insegurança, os próprios pais acabam provocando uma sensação de abandono na criança”, explica Rejane. Outra situação freqüente é colocar o filho pequeno na escola quando nasce o irmão, o que pode ser interpretado inconscientemente pela criança como abandono, ou seja, ‘tenho que sair para dar espaço para o outro que chega’. Nesse caso, a psicanalista orienta que a criança passe a frequentar a escola antes mesmo da chegada do novo irmão.
Paciência: a chave da boa convivência Se com um filho precisamos ser pacientes, eleve agora esta virtude ao quadrado, ou ao cubo, de acordo com o número de crianças na casa. Se o maior botou a calça virada ou fez xixi na cama, nada de xingar ou reprimir. Lembre-se que atitudes
como estas podem ser simples defesas, formas de tentar buscar a atenção dos pais, que muitas vezes acabam relegando o filho maior a segundo plano. Por que não chamar o irmão para ajudar e participar de tarefas simples, como uma visita ao pediatra do bebê? “Filho, me ajuda aqui e depois vamos ver o que você quer... A criança precisa entender que naquele momento o bebê está precisando mais, e logo vai ter atenção. Trazer um pouco da história dele, contar que também foi assim, bebê, para que se sinta valorizado...”, pontua Rejane. E o mais importante nessa história toda, é jamais fazer comparações. Muitos pais imaginam um filho que nasce diferente do idealizado e deixam transparecer a insatisfação. “Comparar é terrível. Isso faz marcas muito intensas e que podem repercutir pelo resto da vida. E o adulto segue a vida a partir do que viveu na infância”, nos lembra a psicanalista.
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O maior erro é achar que
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criança que não come doce não tem infância”
culinarista Pat Feldman idealizou o projeto Crianças na Cozinha (www.criancasnacozinha.com.br), cujo objetivo é
ricana Weston A. Price, de pesquisa e divulgação
oferecer receitas saudáveis e saborosas que agra-
valoriza o ato de se alimentar com prazer e saúde.
dem adultos e especialmente crianças. Escreveu
Pat vive em São Paulo, mas visita com frequência
também em parceria com o marido que é médico
Balneário Camboriú, onde também ministra cur-
(Dr Alexandre Feldman), ‘ A Dor de Cabeça Morre
sos para adultos e crianças. A seguir você confere
Pela Boca’ (Ed. Girafa/2004). Engenheira Têxtil de
trechos da entrevista que ela concedeu ao Caderno
formação, Pat se auto intitula como uma pesqui-
Crianças, onde deixa claro que é possível criar nos-
sadora incansável na área de nutrição e gastrono-
sos pequenos com mais saúde e alegria, modifi-
mia infantil. É membro da Fundação norte ame-
cando hábitos alimentares errados.
Crianças - Pat, você é engenheira, como é que foi esse despertar para a culinária? Pat Feldman - Sempre amei cozinhar. Um hobby meu desde criança, primeiro acompanhando meus pais e depois comecei a me aventurar sozinha. E quando a gente gosta do assunto, naturalmente pesquisa mais e melhora a cada dia. Crianças – E o site? Como é que aconteceu o ‘Crianças na Cozinha’? Pat - O site veio do meu trabalho com meu filho mais velho. Eu não consegui amamentar. Meu marido, que é médico, sempre pregou uma alimentação isenta de industrializados. Eu ajudava os pacientes dele a comerem bem, gostoso e prático sem industrializados, formulando cardápios, dando receitas, treinando-os na cozinha. Quando comecei a fazer o mesmo com a comida do meu filho e conversar com os outros a
da alimentação tradicional e saudável, e também associada ao movimento mundial Slow Food, que
respeito, percebi a enorme dificuldade das pessoas. Hoje em dia poucos sabem comer sem depender de industrializados. No site eu recebo inúmeros depoimentos, dúvidas, mensagens em geral, que sempre me ajudam a desenvolver o conteúdo.
Crianças - Você costuma dar cursos para mães e também para crianças. O que você observa de diferenças nesses dois grupos? Pat - As mães em geral são mais resistentes às novidades que as crianças. As crianças chegam meio desconfiadas, mas é só fazer uma brincadeira, lançar algum tipo de desafio, que elas se animam a provar. Elas se sentem orgulhosas de provar aquilo que prepararam! Já as mães, quando vêm com a certeza de que o filho não vai gostar de uma coisa, ninguém tira essa idéia delas! Crianças - Você prioriza a alimentação saudável, com ingre-
dientes orgânicos, mas infelizmente no Brasil, orgânicos custam muito mais caro e não cabem em todos os bolsos... Pat - Na verdade a conta é outra. Realmente se você for comparar os preços individualmente, o orgânico ainda é mais caro, mas as pessoas esquecem de colocar na conta que quando você se alimenta de forma mais saudável, você deixa de comprar muita coisa, e muitas vezes a conta do supermercado, da feira até diminui. E deixa-se de gastar com remédios, médicos e exames. E deixa-se de perder dias de trabalho, momentos de prazer... Crianças - A conta faz sentido. Mas o modo de preparo desses legumes também faz a diferença, certo? Pat – Claro. Verduras como a couve ou o espinafre são piores cruas do que cozidas, são melhores refogadas na manteiga ou óleo de côco do que só cozidas. Não se
deve comer brócolis, espinafre, couve, couve flor, couve de bruxelas crus, essas verduras cruas contém fatores antinutrientes, que dificultam a absorção de certos nutrientes. Existem muitas sutilezas, dá pra escrever um livro imenso sobre o assunto...
Crianças - Qual sua opinião a respeito do leite e derivados? As opiniões se dividem muito entre os especialistas de nutrição, uns dizem que faz bem, outros são contra... Pat - Novamente esse é um assunto cheio de sutilezas, porque há uma diferença gritante entre o leite que acabou de sair da vaca e aquele “leite” que vem na caixinha e dura meses numa prateleira. O da caixinha é completamente desnaturado e oxidado, pobre em nutrientes e o que diz ‘baixa lactose’, é ainda mais processado e qualquer coisa que passe por muito processamento se altera, se desnatura. Acabei de voltar da Califórnia e fiquei maravilhada
com os cuidados que eles têm lá.... leite cru legalizado, vendido em garrafas de vidro e indicando o tipo de vaca que deu o leite, até a raça da vaca faz diferença na qualidade do leite.
Crianças – E custa caro? Pat - Um pouco mais caro que aqui, US$3,00/litro. Crianças - E onde a gente consegue o direto da vaca? Pat - Além de ter uma vaca no quintal (risos) o jeito é procurar alguém de confiança que crie vacas soltas e que trabalhe com condições de saúde e higiene perfeitas, ou seja, não é nada fácil, mas não é impossível! Crianças - Não é impossível, mas a maioria das pessoas prima pelo mais fácil. Qual é o maior erro alimentar que os adultos cometem com as crianças? Pat - O maior erro é achar que criança que não come doce não
u m e s paç o pa ra a infâ n c i a tem infância. E em seguida, oferecer bolachinhas e doces “pra forrar o estômago” caso a criança não coma a comida. Crianças podem ser muito felizes sem fast foods e outras porcarias do gênero. Meus filhos são a prova disso! Criança que come melhor fica menos doente e tem mais tempo e disposição pra brincar, ou seja, com certeza serão muito mais felizes!
Crianças - E aquela regrinha de um doce no fim de semana... não pode? Pat - Associar os melhores momentos, de brincadeiras, companhia dos pais e relaxamentos com docinhos? Acho outro grande erro, porque aí fica aquela coisa: durante a semana, chatice, correria, longe dos pais, come aquela ‘coisa chata’ do arroz, feijão, carne e salada.. Crianças - Um leitor - ou melhor, vários leitores que estiverem lendo essa matéria, vão se identificar em oposição, porque as ‘más regras’ já estão estabelecidas em casa. Como é que faz para uma criança de dez anos que não come verde, comer? Pat - Uma das coisas que eu mais vejo funcionar nas minhas aulas com crianças é fazê-las participar do preparo, mostrar formas alternativas de preparar os ingredientes que elas gostam menos e desafiá-las, “você preparou isso e nem vai dar uma provadinha?” Mas uma vez que a criança tem birra pela comida, realmente não é sempre fácil mudar, por isso é que eu sempre friso a importância de uma alimentação excelente desde sempre! Crianças – E tem a questão do exemplo né... Pat - Exemplo é tudo! Eu vejo mães comendo mil porcarias na frente dos filhos querendo que eles comam carnes, ovos e verduras. Milagre não existe!!! Crianças - E a carne, como é que fica nessa história? Porque também há controvérsias. Criança precisa? Pat - Na minha opinião, precisa sim. Não precisa comer um boi inteiro todos os dias, mas precisa um pouco de carne todo dia sim. Crianças - Tem alguma carne em especial? Pat - De acordo com o que venho pesquisando durante todos esses anos... a carne de qualquer animal, seja gado, ave ou peixe, deve vir de animais criados soltos, comendo naturalmente. Galinhas de granja que comem ração são péssimas. Salmão hoje é um horror, criado em fazendas marinhas totalmente à base de ração, no Brasil o linguado é uma boa opção, assim como a pescada. Mas numa boa peixaria, com certeza podem te indicar
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Crianças – E nas opções de lanches da escola... Pat - Uma fruta e iogurte (natural ou batido com fruta e mel) vai bem, queijos em cubinhos... nozes e castanhas levemente torradas em casa, se a criança gostar. Eu não acho sanduíche uma boa, o pão é refinado demais e provavelmente o recheio virá com algum embutido industrializado, tipo presunto ou peito de peru.
alguns outros peixes pescados e não cultivados. O gado brasileiro entretanto é bem melhor, nossas criações são praticamente todas extensivas, gado solto em pasto. Bicho que come a comida que foi programado pra comer e que fica ao sol fornece carne, ovo, leite muito mais nutritivos!
Crianças – E aquele esquema de ‘tapear’ a comida... bate tudo no liquidificador para a criança não ver as verduras.. o liquidificador é outro vilão nesse caso não? Pat - Muitos pediatras e nutricionistas demonizam o liquidificador, mas o engraçado é que esses mesmos profissionais não acham nada demais da criança comer chocolate, salgadinhos e outros industrializados. Tem sempre o que é ideal, e aí é comer pedaci- Pat - Certíssimo! Aquela velha nhos, é saber o que está comendo frase que diz que “somos o que e tal, mas se não der, bate tudo comemos” é muito verdadeira, no liquidificador, diz que é um especialmente com as crianças, “molho de gostoso” - minha mãe mas é difícil associar, porque não sempre falava assim- e dá pra é uma coisa instantânea: nincriança comer! Com certeza o guém come um doce e imediatabatido no liquidificador é infini- mente tem uma crise de hiperatividade ou depressão, tamente melhor que ninguém toma um qualquer industria“ É um processo refrigerante e imelizado e é com cerdiatamente tem uma teza melhor do que de estrago crise diabética. É um a criança simpleslento, hoje a processo de estrago mente não comer. lento, hoje a criança criança toma Crianças - Tudo toma tudo isso, come tudo isso, come besteira e está apasem sal? (risos) Pat - Comida tem besteira e está rentemente bem. Qualquer alteração que ter graça, né! aparentemente no comportamento E sal dá graça pra é justificada como comida. Não só sal, bem....” “coisa da idade”, como pimenta, ervas até se tornar grave e condimentos natudemais, até ser tarde demais...e rais. Até porque o sal nos fornece muitas vezes o tarde demais é um nutriente, um mineral imporbem lá na frente, na idade adulta, tantíssimo: o iodo, mas não precom alterações hormonais graves, cisa exagerar. O ideal é usar o sal obesidade, diabetes e até câncer. não refinado, sal de córrego como se chama no norte. Crianças- A minha pergunta Crianças - Refrigerante que não faz parte da rotina.. pode? Pat - Com refrigerante eu sou radical, acho que não pode nunca! Se a mãe compra refrigerante, toma sempre, não tem como impedir, mas existem bebidas interessantíssimas, lactofermentadas, que são os primórdios do refrigerante, que fazem parte de culturas culinárias tradicionalíssimas. No meu site eu tenho a receita do “beet kwass”, que é à base de beterraba, chega até a ficar borbulhante naturalmente, tem também o “ginger ale”, são bebidas bem refrescantes, isotônicas e de quebra são ricas em probióticos, ou seja, fazem um bem enorme para a flora intestinal e o sistema imunológico.
sobre o ‘de vez em quando pode?’, é justamente porque nossos filhos vivem em sociedade. Precisa ser radical ou dá para ter o meio termo? Pat - Até uma certa idade, lá pelos 5 ou 6 anos, tem que ser o mais radical possível. Depois disso a criança já está com o paladar mais estabelecido, pode até gostar das porcarias, mas não se entope e muito menos quer toda hora. Eu vou a muitas festinhas e fico observando, as crianças raramente querem parar para comer alguma coisa. Quem faz parar, faz comer e ensina que a tal porcaria é uma delícia, são os adultos. Claro que pode ter docinho na festa. Mais do que ter, é valorizar ou não aquilo para a criança!
Crianças - Tudo isso que estamos falando aqui está relacionado diretamente com o humor, energia e diversas doenças como hipertensão e diabetes, certo?
Crianças – As pessoas reclamam muito da falta de tempo, dizem que é mais fácil comprar o que está pronto, mas é possível preparar e congelar muita coisa...
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Pat – É e o congelamento caseiro é super seguro, desde que observadas regras mínimas de higiene. Os bolinhos de carnes em geral são uma opção ótima para o congelamento. Bolinho de carne, de peixe, de ovas, bolo de carne ou de carne com legumes. Você escolhe um final de semana daqueles meio sem ter o que fazer e se mete na cozinha: prepara um montão de bolos e bolinhos, congela e vai tirando aos poucos. Os bolinhos podem ser assados, ensopados ou até fritos - desde que a fritura seja em óleo ou gordura de côco.
Crianças – Para a falta de tempo, as polpas de frutas congeladas são uma boa alternativa não? Pat – Elas em geral são pasteurizadas, sabia? E isso faz com que percam grande parte dos seus nutrientes....Estou detonando com tudo o que você achava que podia ser bom? Crianças – Sim, está, mas a intenção da entrevista é essa mesmo né... Pat - ... mas nada te impede de bater frutas no liquidificador e congelar em forminhas!
Crianças - Mesmo o integral? Pat - O pão integral comercial tem pouca farinha integral, só o suficiente para dar a coloração característica, o ideal é fazer em casa. Aí sim, mas dá mais trabalho do que embalar frutas ou pedaços de queijo, né! Apesar de adorar cozinhar, eu detesto ser escrava da cozinha, ter trabalho demais! A vida é muito boa pra gente se enterrar em excesso de tarefas. Crianças - O que se salva nas prateleiras do supermercado? Pat - A seção de carnes, queijos, frutas e verduras, mas com ressalvas mesmo assim. A verdade é que quem quer melhorar e tem força de vontade, procura e acha! Eu por exemplo, vou até Balneário pra comprar bacon sem aditivos... Crianças - Onde tem? Pat - Na feira, que acontece aos sábados, pertinho da Central. Aquela feira é um verdadeiro tesouro!!!!! Tem galinha caipira de verdade, manteiga artesanal, ovos caipiras, queijo artesanal, melado de cana excelente e embutidos sem aditivos químicos. Crianças – Agora, a pergunta que não quer calar: você tem uma vaca no quintal de casa? Pat - Adoraria ter!! Mas nem em casa eu moro, tenho um apartamento com uma varandinha minúscula. Leite aqui, só se for de gata persa....
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Filmes para crianças e adultos dividirem o sofá
Reprodução
Fili@ção M e l a n i a
H o r s t
Educadora / Psicanalista - quintalmagico@quintalmagico.com.br
Estamos falando de Crianças! “O indivíduo é social não como resultado de circunstâncias externas, mas em virtude de uma necessidade interna”. Henri Wallon, médico e psicólogo.
Pedimos à Barbara Sturm, curadora do Festival Cinerama BC e integrante da Pandora Filmes,a gentileza de fazer uma seleção de bons títulos para crianças e adultos assistirem juntos. Confira: UP - ALTAS AVENTURAS Animação infantil da Disney. Carl Fredricksen (Edward Asner) é um vendedor de balões que, aos 78 anos, está prestes a perder a casa em que sempre viveu com sua esposa, a falecida Ellie. O terreno onde a casa fica localizada interessa a um empresário, que deseja construir no local um edifício. Após um incidente em que acerta um homem com sua bengala, Carl é considerado uma ameaça pública e forçado a ser internado em um asilo. Para evitar que isto aconteça, ele enche milhares de balões em sua casa, fazendo com que ela levante vôo. O objetivo de Carl é viajar para uma floresta na América do Sul, um local onde ele e Ellie sempre desejaram morar. Só que, após o início da aventura, ele descobre que seu pior pesadelo embarcou junto: Russell (Jordan Nagai), um menino de oito anos. O filme trata sutilmente do preconceito com idosos, do instinto de aventuras de uma criança, e principalmente do desapego de bens materiais. AS BICICLETAS DE BELLEVILLE Animação francesa para todas as idades. Champion é um menino solitário, que só sente alegria quando está em cima de uma bicicleta. Percebendo a aptidão do garoto, sua avó começa a incentivar seu treinamento, para fazê-lo um verdadeiro campeão e poder participar do Tour de France, principal competição ciclística do país. Porém, durante a disputa, Champion é seqüestrado. Sua avó e seu cachorro Bruno partem então em sua busca, indo parar em uma megalópole localizada além do oceano e chamada Belleville. O filme tem poucos diálogos, explorando profundamente a
música. Não é uma animação bonitinha e clássica, por isso o público infantil destinado seria a partir de 12 anos, mesmo o filme sendo livre. O PEQUENO NICOLAU (foto) Filme infantil francês. Nicolau (Maxime Godart) leva uma vida tranqüila, sendo amado por seus pais e com diversos amigos, com os quais se diverte um bocado. Um dia ele surpreende uma conversa frente os pais, a qual faz com que acredite que sua mãe está grávida. Ele logo entra em pânico, pois acredita que assim que o bebê nascer ele não mais receberá atenção e será abandonado na floresta, assim como ocorre nas histórias do pequeno Poucet, de Perrault. O filme é uma comédia dramática bem leve, divertida e emocionante, e destinada a crianças e adultos. EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA Filme americano/britânico. J.M. Barrie é um bem-sucedido autor de peças teatrais, que apesar da fama está enfrentando problemas com seu trabalho mais recente, que não foi bem recebido pelo público. Em busca de inspiração para uma nova peça, Barrie faz sua caminhada diária pelos jardins Kensington, em Londres. É lá que ele conhece a família Davies, formada por Sylvia, que enviuvou recentemente, e seus quatro filhos. Barrie logo se torna amigo da família, ensinando às crianças alguns truques e criando histórias fantásticas para eles, envolvendo castelos, reis, piratas, vaqueiros e naufrágios. Inspirado por esta convivência cria seu trabalho de maior sucesso: Peter Pan. Fantástico para crianças e adultos, mistura vida real com a história do Peter Pan.
ONDE VIVEM OS MONSTROS Filme americano. Max é um garoto confuso que do alto de seus nove anos de idade, não consegue lidar muito bem com a sua própria raiva. Depois de ficar bravo com a mãe que leva um namorado para casa, ele veste a fantasia de lobo com a qual costuma perseguir o cachorro da família e arranja uma confusão: chega a morder a mãe e foge de casa logo em seguida. No meio do mato, encontra um barco e sai para navegar, chegando a uma ilha estranha, cheia de monstros assustadores. Apesar de ser uma fábula, “Onde vivem os monstros” não é fácil e nem bobo - em alguns momentos de descontrole dos monstros, chega a ser assustador. Max embarca em uma montanha-russa de sentimentos, e consegue comunicar cada um deles com poucas palavras, olhares certeiros e silêncios expressivos. Filme para todas as idades. A GUERRA DOS BOTÕES Filme francês. É o regresso das aulas e como todos os anos, os estudantes de Longeverne, liderados por Lebrac, declaram guerra aos de Velrans. Numa dessas batalhas, Lebrac tem uma idéia brilhante: arrancar todos os botões e confiscar os cintos aos presos, para que sejam castigados pelos próprios pais... O filme é um antídoto maravilhoso para nos aliviar das preocupações com que o dia-a-dia nos depara. Convertido num clássico do cinema francês dos anos 60 é um filme formidável, onde infância rima com inocência. Lançado na França em Abril de 1962, o filme foi aplaudido por todo o país, batendo todos os recordes de bilheteira.
Em todas as fases dos sujeitos em desenvolvimento, carece atenção, esta que muitas vezes não só está depositada nos filhos, mas, principalmente nos adultos que os educam. As crianças demandam sem cessar por proteção, seja no olhar, nos toques, nos significantes que dirigimos na direção dos mesmos, manejos e recursos que, dependendo da situação os adultos se vêem em “papos de aranhas”, dificuldades enfrentadas desde os doutores em educação aos menos letrados. Todos, indubitavelmente, já se depararam com momentos de difíceis manejos com os pequenos, questões estas que para alguns, apesar do tamanho, sabem manipular muito bem, deixando qualquer adulto, a depender da situação, em total desvantagem. Há nesta geração de crianças uma urgência em atualizar os significantes, questões que antigamente surtiam efeitos, como ameaças, medos, hoje não têm mais lugar, e, todo aquele legado deixado por nossos pais e avós, se não atualizados, não sustentam o percurso que os nossos filhos estão construindo. A demanda atual das crianças não cessa na materialidade, exige dos adultos, reflexão e flexibilidade nas devolutivas, palavras que vão atenuar ou demandar maiores detalhes na continuidade dos diálogos. Tempos atrás um pai se referia a um filho que repetia o ato de esquecer-se de – “bobalhão que se esquece de tudo”! – com estas colocações sublinhadas na adjetivação, tentava provocá-lo para fazer diferente, mudar, ficar mais atento. Hoje estes endereçamentos não produzem mais este efeito, provocam outros dispositivos de rebeldias, provocam constrangimentos, e, sinalizam que assim não se educa. A atualidade exige reciclagem, reformular a nossa forma de compreender as mudanças, propor significantes que facilitem a condição de mediação entre: “aquilo que tenho e o que busco dentro das minhas melhores possibilidades, melhorar”. Tentar contemplar a complexa rede educativa resulta em submeter-se a muitas leituras e reflexões no campo das ciências pessoais e sociais; utilizar-se dos novos paradigmas procurando sempre considerar a história pessoal e social dos sujeitos. Compreender que intervir e colocar limites, também é, da ordem da construção, desde que não nos esqueçamos dos termos que ali referimos, pois são dizeres que, talvez, não consigam mais serem desdobrados ou metaforizados, prevalecendo vivo no inconsciente de quem os recebeu, provocando alterações significativas no decorrer das suas vidas, interrompendo ciclos valorosos de aprendizagens. Sejamos cautelosos.
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Desenvolvimento da linguagem: família e ambiente são determinantes pequenas ordens como ‘pegue um copo pra mamãe, jogue um beijo pra vovó’. Cantar durante a troca de fraldas, nomear as partes do corpo durante o banho, contar histórias infantis, explicar onde vai e o que fará, são ações que contribuem para organizar e estruturar seu desenvolvimento. Suzi ressalta que crianças que frequentam a escola e ainda não falam, podem apresentar reações muitas vezes chocantes para pais, colegas da classe e professores, porque para se defender ou mostrar algum desejo, têm atitudes agressivas, como morder o amigo. Diante dessas situações, professores e familiares deve ter tranqüilidade. Brigar e punir, mesmo através do olhar, não ajuda, pelo contrário, agrava a situação.
O desenvolvimento da linguagem começa antes mesmo de a criança nascer. Ainda no útero materno, o bebê já é capaz de responder a sons e sensações vivenciadas pela mãe. A mãe deve estar atenta para responder as necessidades da criança com estimulação adequada, já que nos primeiros anos de vida, a linguagem acontece através do olhar, do choro, sorriso e gestos. Converse com o bebê interpretando seus balbucios, pois ele se diverte muito com os sons diferentes que emite e com a possibilidade de escutar sua própria voz. O entusiasmo dos
pais e o “brincar de conversar” são determinantes para que se desenvolva a linguagem. Algumas crianças podem falar mais tarde e esta dificuldade pode ser passageira, porém, é preciso ficar atento e descartar possíveis patologias que podem estar interferindo no desenvolvimento adequado. A fonoaudióloga Suzi Morgado(foto) explica que entre 10 e 14 meses de idade a criança fala poucas palavras como, mãma, pápa, mas já deve compreender uma mensagem simples e executála. Ela diz que é importante dar
O esperado é que até os cinco anos de idade a criança tenha adquirido todos os sons da fala, pois este momento coincide com a alfabetização, mas vale lembrar que quando uma criança tem seus desejos imediatamente atendidos e a um simples apontar recebe o que deseja, não sente a necessidade de falar e esta facilitação vai adiando seu desenvolvimento em todos os aspectos. Os adultos devem evitar o falar errado com as crianças. Sabe aquela coisa bonitinha de bebê? - “mamãe quero a tetê” - não é necessário brigar e nem dizer que está errado, mas completar dizendo: “ah, você quer a mamadeira?” Evite também usar diminutivos, pois a palavra fica maior e de difícil compreensão. Você diz ‘pegue a bonequinha!’ Perceba que a palavra é mais complexa do que dizer apenas ‘pegue a boneca’.
Gagueira Durante os anos de aquisição e desenvolvimento da linguagem é comum que existam períodos variáveis no grau de fluência e apareçam as gagueira. Essas variações são decorrentes das incertezas morfo-sintáticas e do amadurecimento neuromotor para o ato da fala e podem desaparecer espontaneamente. Com o avanço dos estudos genéticos, tem sido constatado que a gagueira decorre de uma predisposição hereditária. Portanto, o que atualmente se aceita é que a gagueira seja uma desordem de aspecto multifuncional, ou seja, mesmo com fatores hereditários positivos, a influência ambiental poderá, ou não, contribuir para este desenvolvimento. “Os pais são as melhores e mais indicadas pessoas para ajudar a criança a superar suas dificuldades. Os pais não podem mudar a gagueira do filho, mas
podem e são determinantes na mudança das atitudes e do ambiente desfavorável a fluência”, alerta a fonoaudióloga. Se o seu filho anda gaguejando e isso lhe incomoda, observe algumas dicas de Suzi: Não diga para uma criança que gagueja para que fale mais devagar ou para respirar fundo antes de falar. Fale com esta criança de forma calma, sem pressa, pausando frequentemente sua fala. Antes de começar a falar, ouça a criança até o fim e espere alguns segundos após ela ter concluído aquilo que queria dizer. Isso desacelera o ritmo da conversa. Use expressões faciais, contatos visuais e outras formas de linguagem corporal para demonstrar que você está prestando atenção ao conteúdo da mensagem e não somente a forma de como ela está falando. Reduza as críticas e não complete o que a criança tem a dizer e nem fale por ela.
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Balneário Camboriú . outubro . 2012
Histórias do tio Dani
u m e s paç o pa ra a infâ n c i a
D a n i e l
A Casa Enterrada
O
R o s a
d o s
S a n t o s
Contador de histórias - nhoc_contadores@yahoo.c o m.b r
nome da menina era Flora, e ela gostava de flores, folhas, florestas, bolo nega maluca, folhagens, floricultura, etcétera. Ela gostava de tanta coisa que nem cabe nesta folha de papel. Flora passou diante de uma casa que achou engraçada. A casa parecia enterrada no chão. As paredes estavam debaixo da terra, o que se via era apenas o telhado que saía já do chão. Curiosa, perguntou à mãe – que dirigia apressada e nervosa com o trânsito – por que aquela casa era assim. A mãe respondeu que o nome daquele tipo de casa era chalé. Flora perguntou ao irmão, Olavinho que era mais novo que ela, mas era metido a sabe tudo - por que enterraram aquela casa. Olavinho explicou que enterraram a casa para refrescar do calor, que a terra era gelada e refrescava a casa no verão. Aquela resposta não convenceu Flora, que partiu em busca de uma segunda opinião. Ela perguntou ao tio que era meio maluco e que usava cueca por cima da calça ... “como o Super-homem”... respondia o tio a quem questionasse sua moda. O tio explicou que a casa era enterrada assim por causa da neve. Flora não
se convenceu muito com essa resposta, até mesmo porque não tinha neve onde eles moravam. Ela foi em busca de uma terceira opinião. Perguntou à avó, que lhe contou que há muitos anos, quando a cidade ainda nem tinha prédios, um gigante passou por aquelas terras e resolveu descansar, pois ainda estava longe do seu destino. A avó disse que a mãe de sua mãe estava lá no dia e na hora que o gigante sentou sobre a casa para descansar e a casa afundou na terra. Disse ainda que o gigante pegou um boi que pastava por ali, colocou no meio de duas fatias gigantescas de pão e comeu o sanduíche de boi com três dentadas apenas. A avó ainda contou que a mãe de sua mãe contou que por todo o caminho, de vez em quando, o gigante sentava numa casa para descansar, e, sem querer, enterrava mais uma casa no chão, afundando até o telhado. Segundo a mãe da mãe da avó da Flora, foi assim que aconteceu. Flora se convenceu de que aquela era a resposta certa para o mistério das casas enterradas. Das três respostas, aquela foi a que Flora gostou mais e achou que fazia mais sentido.