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opinião
Escrever é bom. Ouvir histórias, melhor Escrever é bom. Ouvir histórias, melhor. Não sei há quantos anos escrevo “essas mal traçadas linhas” a vocês. Muitos e muitos anos sim. Mas sempre com enorme prazer. Tenho uma agenda sempre cheia de compromissos inadiáveis. Todos enrolados com muitos interesses que eu preciso decifrar. E quando chega a cobrança por essa crônica, fico agradecido. Ufa! Enfim vou me distrair um pouco. Quem me conhece sabe que nunca deixo de pensar no lugar onde moro. Que acho uma contradição insuportável, sonhar e discutir as questões do mundo sem se interessar pelo seu espaço. Então é com grande interesse e prazer que encontro vocês aqui nessas linhas, pra jogar conversa fora e às vezes filosofar um pouco. Desde o trivial ligeiro até a dramática exígua existência. Nossos mortos, e por aí afora. Mas é importante constatar que as coisas mudaram bastante. Não digo com pesar não, quero me recolocar apenas. Quando Capra esteve no Brasil, disse que o grande desafio era
recuperar a oralidade. Trocando em miúdos; as pessoas perderam o hábito de conversar. E alguém na plateia perguntou ao filósofo o que o seu instituto estava fazendo em prol da oralidade. Ele disse que todos os anos recebia um indígena, porque esse povo mantinha a cultura oral. E eu me lembro que Mario Juruna discursava por horas a fio na sua fala xavante. Então vamos refazer nosso bate papo. Conversar para restabelecer o diálogo. Porque escrever é bom, mas ouvir histórias é muito melhor.
José Luiz de França Penna Presidente de Honra do Centro Cultural Vila Madalena
expediente Marca Nominativa no INPI Nº 820.451.428
www. g u i a d a v i l a . co m . b r Redação e Publicidade Editora Vila Madalena R. Marco Aurélio, 780, Vila Romana CEP 05048-000 Diretores Ubirajara de Oliveira e Silvana Baia Redação Gerson Azevedo | Telefone: 97548-7629 Publicidade Anita Linetzky e Silvana Baia Telefones: Anita: 97317-6882 e Silvana: 97133-1808 | vendas@guiadavila.com.br Impressão Duograf Gráfica e Editora Ltda Foto da capa Divulgação / Léo Gola
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CULTURA
Ó do Borogodó resiste
Bar que é referência em roda de samba e chorinho na Vila Madalena desde 2001, o Ó do Borogodó luta para continuar a existir e conta com o apoio de músicos e frequentadores. Tudo começou em 2001 quando os irmãos Stefania e Léo Gola (morto em dezembro de 2021) abriram o bar com foco no samba e no choro. O bar que sobreviveu à pandemia do covid-19 graças a uma vaquinha que juntou 300 mil reais para pagar aluguéis atrasados e outras dívidas. Em maio deste ano, Stefania procurou o dono do imóvel com uma proposta de compra. Como resposta, recebeu uma intimação extrajudicial pedindo a desocupação do imóvel. Stefania protocolou um pedido na Prefeitura de São Paulo, para trans-
formar o bar em uma Zepec (Zona Especial de Preservação Cultural). Como Zepec, o bar pode ser tombado e continuar a existir. “Temos os requisitos necessários para enquadrar o Ó como Zepec”, diz Stefania. Na cidade, o Cine Belas Artes é uma Zepec e o Cine Itaú, na Rua Augusta e a sede do Santa Marina Futebol Clube, na Água Branca estão pleiteando que também sejam declarados Zepecs. Stefania lembra o apoio que o bar tem recebido da “comunidade de músicos e amigos está nessa causa. Ninguém suporta mais a destruição dos espaços para dar lugar a pré-
Foto: Inna zhdanova
COMUNIDADE
A cantora Raquel Tobias sempre se apresenta no Ó
cultura
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“no caso do Ó do Borogodó, vemos que não há motivação interna à dinâmica do próprio estabelecimento que o leve a sair dali, senão uma forte pressão externa causada pelo mercado imobiliário”.
dios, farmácias e mercados expressos. Estamos ali há quase 23 anos, temos uma história de encontros e construção de uma música paulistana naquelas paredes, naquele chão. Uma geração de músicos que ganhou voz ali e outra geração que se inspirou ali. Arrancar o Ó dali é empobrecer essa cidade, é preciso que o poder público reconheça a grandeza e contribuição desse espaço”.
A lei das Zepecs diz que “poderão ser enquadrados como Zepec/APC sem prejuízos do atendimento à legislação própria, os locais destinados à formação, produção e exibição pública de conteúdos culturais e artísticos, como teatros e centros culturais, cinemas de rua, circos, residências artísticas e assemelhados, abertas ao público, assim como espaços com significado afetivo, simbólico e religioso para a comunidade, por atividades ali exercidas por período igual a superior a 7 anos, (...) é necessária para a formação e manutenção da identidade e memória do Município de São Paulo (...) assim como a dinamização da vida cultural, social, urbana, turística e econômica da cidade”.
Stefania protocolou na Secretaria do Patrimônio Cultural o pedido de reconhecimento do bar como Zepec. “A lei das Zepecs é nova e só é concedida após uma avaliação do Departamento do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da cidade de São Paulo”. Em novembro, pela primeira vez, o Compressp aceitou abrir um processo especial de tombamento do bar Ó do Borogodó, por entender a importância cultural do local para a cidade. A comissão técnica da SMC, incluiu no relatório que
Stefania luta para o Ó continuar aberto
Foto: Danilo Medeiros
O bar tem um abaixo-assinado em change.org, com a campanha “Quero o Ó Vivo” para reunir o maior número possível de apoiadores. Assim o bar poderá continuar aberto e bambas como Inimigos do Batente, Anaí Rosa, Grupo Cochichando, Raquel Tobias, Tirombaço, Tito Amorim, e outros e possam continuar a mostrar sua música. (GA)
Ó do Borogodó Bar Rua Horácio Leme, 21, Vila Madalena Telefone 3813-5898 facebook.com/odoborogodobar @odoborogodobar
RELIGIOSIDADE
A meditação através de Buda O Centro de Meditação Kadampa Mahabodhi é um espaço voltado aos ensinamentos de Buda e está em Pinheiros há mais de 15 anos. O CMKM faz parte do Centro de Dharma da Nova Tradição Kadampa fundado pelo Venerável Geshe Kelsang Gyatso Rinpoche, monge tibetano e mestre de meditação de renome internacional, grande difusor do Budismo no Ocidente e autor de mais de 20 livros sobre os ensinamentos de Buda. Hoje a União Budista Kadampa Internacional, com sede na Inglaterra, reúne centenas de centros de Dharma em todo o mundo. A professora residente Gen Kelsang Mudita, explica o que o centro “tem três programas de estudo. O Geral, com aulas sobre os ensinamentos de Buda com meditações guiadas com duração de 1h15, que aconte-
cem às quartas e quintas-feiras às 19h30 e domingos às 10h e 17h. O Fundamental oferece estudos sobre os livros do Venerável Geshe Kelsang Gyatso e o Programa de formação de professores do budismo kadampa. As aulas são abertas a qualquer um que deseje se beneficiar dos ensinamentos de Buda.” O CMKM oferece meditações guiadas de 30 minutos às quartas-feiras às 13h, para quem deseja aprender a meditar. No próximo ano acontecerão também em outros dias. Uma vez por mês há uma prece especial para os que faleceram recentemente. As preces são gratuitas e aberta a todos.
Fotos: Divulgação
bem-estar
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RELIGIOSIDADE
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“Como outros centros de Dharma da Nova Tradição Kadampa, o CMK Mahabodhi não tem fins de lucro e é totalmente movido por trabalho voluntário. Os recursos vem através de aulas, cursos, retiros, eventos e doações de benfeitores que entendem que nosso trabalho é para o benefício da sociedade como um todo”, lembra a professora. “Apresentar os milenares ensinamentos de Buda, que apesar de tão antigos são absolutamente atuais e benéficos para as pessoas deste mundo moderno. Ao compreendê-los e colocá-los em prática na vida, no trabalho e na família e amigos, podemos alcançar a paz mundial”, explica, A professora lembra que “através das práticas de meditação e do cultivo e desenvolvimento de virtudes como amor, equanimidade, generosidade, os praticantes budistas aprendem a usar as adversidades como alavancas para o seu próprio desenvolvimento, e assim cultivam uma mente mais tranquila e equilibrada. Essa paz interior não apenas beneficia aquele que pratica o budismo, mas também contribui para a construção de uma sociedade mais harmoA sede do CMKM em Pinheiros
Professora Gen Kelsang Mudita niosa e compassiva. Dessa forma podemos entender o quão importante é o papel do budismo na construção de um mundo melhor.” Ela lembra que “Buda veio a este mundo para nos ensinar a alcançarmos o que mais desejamos, a nossa felicidade, e habilmente nos mostra, que somos nós próprios que a destruímos por respondermos às situações que nos aparecem, com mentes negativas. Se respondêssemos às situações com mentes serenas e positivas, elas não seriam um problema para nós. Mas para invertermos essa resposta, de negativa para positiva, precisamos treinar o caminho espiritual que Buda nos ensina, que são métodos que aplicamos na nossa vida diária. Como esses métodos visam transformar nossa mente de negativa para positiva, não podemos realizá-los sem a prática da meditação que no budismo kadampa é definida como familiarizar a mente com virtude. (GA) Centro de Meditação Kadampa Mahabodhi Rua Artur de Azevedo, 1.326, Pinheiros Telefone 97524-7125 (Whats) www.meditadoresurbanos.org.br @cmk_mahabodhi
NOVIDADE
O irresistível aroma das castanhas A Nutty Bavarian começou em 1989 nos EUA e chegou ao Brasil em 1996. Aqui no país, a marca está em franca expansão por meio de franquias e inaugurou loja conceito na Vila Madalena. A empresária Adriana Auriemo, trouxe a marca Nutty Bavarian para o Brasil e o primeiro quiosque surgiu em Campos do Jordão, no inverno de 1996, com grande sucesso. Danilo Tanaka, gerente de marketing e produtos, lembra que “a Nutty Bavarian é uma operação independente da marca que começou nos EUA”. A partir daí a marca não parou de crescer. É fácil encontrar quiosques da Nutty Bavarian em lugares de grande fluxo de pessoas como shoppings centers, aeroportos, cinemas, rodoviárias e outros locais.
Segundo Danilo, a Nutty Bavarian é a maior rede de franquias que comercializa nuts e castanhas glaceadas no Brasil. “Vendemos mais de 30 toneladas de nuts por mês e realizamos cerca de 165 mil atendimentos mensais em nossas mais de 155 franquias ativas. As castanhas, no geral, são nativas de várias regiões do Brasil e compradas através de um formato de homologação com grandes empresas parceiras”, informa. A loja conceito da Vila Madalena traz alguns itens que não são encontrados em outras unidades da Nutty
Fotos: Divulgação
comer e beber
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NOVIDADE
Bavarian. “A escolha pela Vila Madalena para instalarmos a loja vem ao encontro com o conceito da marca. Inauguramos a loja em setembro e o cliente encontra produtos novos e exclusivos, disponíveis somente lá. Além dos produtos tradicionais, a loja tem uma infinidade de produtos em formato de presente, para uso em receitas e que podem ser personalizados para eventos corporativos ou comemorativos. Também oferecemos aos clientes sorvete feito na hora, bolos e bebidas. Nosso objetivo principal é trazer uma nova experiência para os clientes e aumentar o processo de expansão de nossas lojas”, explica Danilo. O espaço da Nutty Bavarian da Vila Madalena é caprichado com os produtos expostos que atraem a atenção dos visitantes. O irresistível aroma da castanhas desperta nosso sentido olfativo. Para quem deseja empreender, a franquia da Nutty Bavarian é um negócio altamente estratificado. A marca fornece todas as informações necessárias para que a operação seja aberta, com indicações de
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Loja conceito tem novidades, café, sorvete...
custos e todos os pormenores. O plano de marketing é completo, os franqueados compram as castanhas de fornecedores aprovados pela marca e toda a produção é feita no próprio local no espaço da loja ou do quiosque. A flexibilidade da franquia permite que o produto seja oferecido a terceiros em eventos, festas e por delivery. E oferece o suporte técnico, treinamento e capacitação da equipe de atendimento. São realizadas reuniões mensais, através de vídeo-conferência, além do acompanhamento da marca para sanar eventuais dúvidas que surjam durante o funcionamento da unidade franqueada. A Nutty Bavarian promove convenções com todos os franqueados para troca de experiências e melhorias no desenvolvimento do negócio. (GA)
A Nutty Bavarian, da Vila Madalena
Nutty Bavarian Rua Aspicuelta, 288, Vila Madalena @NuttyBavarian www.nuttybavarian.com.br
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CRÔNICA
Biquinho voador Por Pedro Costa Sabadão combinado. Todos dispostos e a postos. No bar Calçadão da Vila onde cabe todo mundo lá fora e ninguém lá dentro, tomávamos cervejas enquanto fazíamos no guardanapo a lista dos assados e dos convocados. As brejas desciam e os nomes aumentavam. Jura leva o carvão, Nelsão as asinhas e linguiças de frango, Chaguri leva sempre o mais barato: o pãozinho, Zé Eduardo o violão e o que vos escreve a cachaça, o Ge entra com a casa, o Isaías passa seu inseparável chapéu de pano para arrecadar mais algumas cervejas. Tá feito o churrasco.
enquanto o Ge sempre estabanado e prestativo esguicha como bisnaga a garrafa de álcool e... BBRRUMM, pega fogo sua camisa e a sobrancelha. Correria e paralisia. Instintivamente todos jogam a cerveja do copo sobre o Ge. O Isaías, antes dá o último gole. Para tudo. –“Vamos pras Clínicas”, diz o Juarez.
Sábado prematuramente interrompido. Na segunda-feira, horário de visita, lá vai a trupe visitar o acidentado. O peito todo enrolado em faixas e mais faixas feito uma meia múmia, mesmo assim com aquele sorriso que não sai da boca do Ge. Eis que Papo vem, papo vai e o sinal de fuo Nelson com uma cara de dó tremenda maça começa a se espalhar como neestampada no rosto e sem os óculos avista blina num canto da Vila Madalena. Entre cantorias e piadas, a maioria delas, já um “mosquitinho preto” em cima das faicansada de ser contada novamente, graças a xas do peito do amigo e gentilmente dá uma perca de memória recente que acometa esta rápida estilingada com o dedo indicador naquele intruso. Daí ouviu-se o maior grito moçada, que riem como se fosse à primeira ungido das Clínicas daquela tarde. O “mosvez que ouvissem a mesma piada. Risonhos jovens grisalhos! Estes que ainda não são calquito” nada mais era que o mamilo do Ge fora das faixas, pendurado e vos ou as duas coisas juntas. queimado feito carvão, que Acho que riem mais de si mesmos do que aquilo que ouvem. passou voando pela janela do É como se a idade trouxesse quarto e sem piedade ou destino foi atropelado pelo “rush” a sabedoria de o quanto que da Avenida Dr. Arnaldo, no ainda somos crianças,imagino. mesmo instante, todos nós na Sem que ninguém notasse, moldura da pequena janela do hospital. Mudos, assustados e o fogo se apaga. Num ímpeto tardio, um abana recude bocas abertas pensamos o perando a pequena chama pedrocosta.pira@uol.com.br mesmo palavrão.