
5 minute read
NOVOS TEMPOS DA PATERNIDADE
Discussão sobre o papel do pai no atual contexto ganha ainda mais relevância quando se aborda assuntos como estereótipos, padrões de comportamento, machismo e o papel como criador e educador.
Talvez seja possível dizer que o papel paterno tem passado por uma profunda transformação nos últimos tempos. Diversos fatores podem ser apontados como os que desencadearam essas alterações de funções, comportamentos e modo de se posicionar dentro de uma formação familiar. Nesse sentido, a luta contra atitudes machistas, a divisão justa e equilibrada de tarefas dentro de casa e uma relação mais sensível e carinhos com filhos são pontos de virada dessa nova era.
Advertisement
Observando o contexto e as pautas sociais, muitos pais se esforçam em realizar uma criação de filhos sem estereótipos machistas, de acordo com o estudo “Retrato da Paternidade no Brasil”, encomendado pelo Boticário, com o objetivo de traçar os perfis dos pais brasileiros e mapear desafios e caminhos para a consolidação de uma nova paternidade. O levantamento aponta para a construção de um legado por meio do exemplo, da educação e relação de afeto e amor entre pai e filhos.
Padr Es De Comportamento
Essa construção, no entanto, passa pela luta contra o machismo em meio a uma sociedade ainda machista e, a melhor forma de se fazer isso, é tentar quebrar padrões de comportamento que mantêm o cenário social da maneira que está.
A transformação começa pela identificação dos comportamentos a serem quebrados e esses podem ser identificados logo de início, de acordo com Thiago Queiroz, educador parental, escritor e palestrante de parentalidade, infância, relacionamentos e saúde mental, além de pai de quatro filhos e fundador do site e canal do YouTube “Paizinho, Vírgula!”. Segundo ele esse padrão parte da origem do problema da paternidade, que é a ausência paterna.

“Uma forma de começar a quebrar esses comportamentos é o homem criar essa consciência de que aquilo é trabalho e função dele, tal qual da mãe. As divisões de tarefas, principalmente no que diz respeito a criar um filho, devem ser divididas igualmente entre pai e mãe, porque as responsabilidades são iguais para os dois. É um processo interno de olhar, mergulhar de cabeça e exercer a função da melhor forma que ele puder”, detalha o educador parental.
Nessa direção, a pesquisa aponta que esse ponto vem sendo tratado com muita atenção pelos pais. Os dados mostram que os entrevistados afirmam ter reduzido frases como a expressão “seja homem”, uma redução de 50%. Já o dizer de que “menino não chora” registrou queda de 36%. A revisão de atitudes também pode ser percebida em outro dado: 56% dos entrevistados afirmam que consideram muito importante ser um exemplo positivo para os filhos.
Com isso, outros assuntos que antigamente poderiam ser vistos como sensíveis e difíceis de ser tratados entre pais e filhos, passaram a ser mais presentes nos diálogos familiares. Segundo o estudo, 69% dos pais relatam que explicam aos filhos temas como gênero e assédio, bem como as diferenças sociais entre homens e mulheres.
Cria O E Educa O
O começo da alteração dos padrões de comportamento acaba por influenciar diretamente a função dos pais como educadores e isso os faz transcender o papel de simplesmente representar a figura masculina dentro da família. O estudo mostra que 62% dos entrevistados são motivados pela transmissão de ensinamentos essenciais para a vida. Para mais da metade dos pais ouvidos, a educação recebida deve ser passada da mesma forma aos filhos.

“Esse rompimento é extremamente importante, pois é a forma mais potente com a qual as crianças aprendem a existir, a lidar com os outros e a entender o seu lugar no mundo. Se elas têm um exemplo de pai que está presente, que faz as suas funções e participa de uma forma amorosa e afetiva da rotina da casa e da família, dos cuidados, ela vai ter o melhor exemplo de uma figura saudável e masculina. É fundamental que os homens tenham uma muito mais alinhado a uma parceria, a uma presença afetiva segura e amorosa”, exemplifica Queiroz.
Afeto E Conex O
E quando o tema é conexão e afeto, a pesquisa mostrou que a mudança desse padrão melhora a relação entre os pais e seus filhos. O levantamento aponta que 62% dos pais entrevistados alegam que, sempre que possível, têm o hábito de beijar, abraçar e fazer carinho nos filhos; 59% dizem conversar sobre escolhas e consequências de ações; e 57% declaram que tem como hábito dizer frases amorosas e encorajadoras.
Os dados indicam maior participação e envolvimento emocional em relação ao “ser pai”, mas um quarto dos pais, ainda tem dificuldade de falar sobre a educação dos filhos com outras pessoas, seja porque não sente necessidade (68%), seja por não se sentirem à vontade (32%).

“truculentas”, que mal falavam “eu te amo”, que não davam abraços e beijos em meninos. A gente precisa desconstruir essa ideia do que é ser homem para essa nova geração ter uma referência muito diferente no futuro”, enfatiza o fundador do canal do YouTube “Paizinho, Vírgula!”.
Ainda de acordo com Queiroz, essa mudança de comportamento permite que uma conexão genuína e segura seja criada entre os pais e os filhos. Pois um pai que está presente, atento aos sinais desde o início da vida do filho, vai construir um vínculo de apego seguro com o bebê, porque ele também vai entender os motivos de choro daquele bebê, se é incômodo, cólica etc.

“Esse pai mais antenado, sintonizado com o bebê, nessa mudança de comportamento, consegue construir uma relação com base segura, com muito mais eficiência”, completa.
Além de tudo de bom que esse movimento pode trazer para a família, ele também traz benefícios incríveis para o próprio homem, pois ele se abre para novas experiência em uma vida com mais afeto, mais consciência de sentimentos e emoções.

Muito A Ser Feito
Esses novos tempos da paternidade são construídos diariamente, em um movimento que se mostra consistente, mas que ainda não é definitivo. “Hoje, eu vejo muitos homens falando sobre isso e acho que isso é uma evidência bem clara de evolução nessa discussão, mas ainda há muito o que se fazer. Ainda existem muitos homens que vivem na mesma casa da família, mas são completamente ausentes e não exercem a paternidade”, ressalta Queiroz.
E para ilustrar um pouco do que são alguns dos desafios futuros partindo do retrato mais atual da paternidade, a pesquisa revela que, enquanto 56% dos entrevistados declararam acreditar ser ótimo pai, apenas 27% afirmam que querem que seus filhos sejam felizes, mesmo que não seja da maneira que imaginaram.
No sentido do que, de fato, tem evoluído, os resultados apontam a ressignificação de alguns estereótipos acerca do papel paterno. Apenas 9% dos entrevistados se declaram “pai provedor”, ou seja, que tem como principal responsabilidade sustentar a família. E metade deles se considera “pai participativo”, que acompanha as etapas do desenvolvimento do filho, se colocando sempre à disposição.
O cenário atual é de esforço de grande parte dos pais em se tornarem figuras mais carinhosas e presentes na vida de seus filhos, cada vez mais se consolidando como personagem importante no legado mais importante que podem deixar para seus pequenos: educação e formação de caráter.
No embalo da evolução causada por essa reflexão tão importante, o Paineiras deseja a todos aqueles que se esforçam para ser cada dia melhores e fazer a felicidade de suas famílias, um feliz Dia dos Pais!
