Catálogo do Prêmio Abril de Jornalismo 2015

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PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015



Cada vez mais leitor, cada vez mais perto dele Nem os ventos adversos do cenário econômico e político conseguem tirar o brilho da qualidade editorial dos trabalhos apresentados nas páginas deste catálogo. Eles mostram que, no papel das nossas revistas e nas telas das diversas plataformas dos nossos sites, a produção da Abril em 2014 manteve viva a chama que nos faz buscar de maneira incansável a excelência editorial. Parabéns aos vencedores. Eles são a prova viva de que estamos conseguindo seguir em frente. Quando este prêmio nasceu, não fazíamos ideia de que, 40 anos depois, registraríamos que mais da metade da audiência dos nossos sites passaria a ser originada nos smartphones. Nem de que mais de 90 milhões de usuários passariam a seguir nossos perfis nas redes sociais. Essas audiências somadas ao número de leitores das nossas revistas mostram que estamos falando com milhões e milhões de pessoas por este Brasil afora, o que só aumenta nossa responsabilidade como produtores de informação, serviço e entretenimento. Esse veloz crescimento do conteúdo digital faz com que a arte e a técnica de fisgar a atenção dos leitores se tornem cada vez mais cruciais para o sucesso nas diversas plataformas em que atuamos. Por isso, temos de ser tão competentes na apresentação do conteúdo digital, quanto temos sido na mídia impressa. Este catálogo reúne os melhores trabalhos produzidos pelas revistas e pelos sites da Abril em 2014. Foram 961 trabalhos inscritos, 127 finalistas, em 29 categorias. O júri contou com a colaboração de abrilianos e personalidades convidadas, todos profissionais de notório saber nas áreas em que atuam. A todos, nosso agradecimento pelo empenho com que colaboraram para o sucesso do prêmio. As profundas modificações pelas quais passa a mídia no Brasil e no mundo, em vez de nos deixar preocupados, fazem com que olhemos o presente e o futuro como tempos de desafios e oportunidades. Nunca as ferramentas para fazer bom jornalismo foram tantas e tão fascinantes. Nunca foi tão fácil chegar tão perto do leitor. E afinal, como sempre repetimos, é para ele que trabalhamos.

Thomaz Souto Corrêa


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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

ÍNDICE

Fernando CavalCanti

capa | negócios

tramas

TODOs Os HOmeNs De eiKe

matéria do brasil completa O hábito de trançar fios existentes na

natureza e transformá-los em utensílios acompanha nossa história desde antes do

descobrimento do país. Séculos depois,

esses elementos ainda têm lugar de honra na casa – não apenas em nome da mera praticidade mas também da pura beleza.

A história secreta do grupo de executivos que acumularam fortunas de até 200 milhões de reais enquanto as empresas de Eike Batista ruíam

A

maria luíza filgueiras

COMPORTAMENTO

ouro do cerrado Até então desconhecido pelo grande público, o capim-dourado, nativo das veredas do Jalapão, no Tocantins, começou a atrair olhares em 1997, graças a oficinas ministradas pelo designer Renato Imbroisi a moradores do vilarejo quilombola de Mumbuca, que aprenderam a entrelaçar os fios em tom raro com a já falecida e lendária dona Miúda. Sobre o banco, anéis de guardanapo do Depósito Kariri. O apartamento onde foram realizadas as fotos tem projeto de interiores de Aldi Flosi.

NEGÓCIOS e CARREIRA 0 0 0

CAPA | bolsa

CIÊNCIA e TECNOLOGIA

abertura de capital da ogx: executivos ricos, mesmo sem petróleo

10

ntes de assumir o cargo que faria dele um dos tubro de 2013. Torres foi demitido um ano e meio CASA e DECORAÇÃO executivos mais ricos do Brasil, o economista antes, após uma briga com Eike. Para qualquer Entramos de cabeça dentro do espelho e da vida da L.F., 16 anos, para Marcelo Faber Torres tinhaentender carreira mediana e profissional, ter participado tão ativamente do o que pensa, o que sente e o que enxerga uma garota com anorexia vida simples. Após uma década de trabalho sem Texto mais retumbante fracasso empresarial da históMariana Araújo Design Miro Branco grandes brilhos no mercado financeiro, seu pa- ria brasileira seria algo a lamentar — quem gosuando a minha mãe100 chega às vezes, não E, do distúrbio Foi assim que cheguei até a L.. Ela se trimônio se resumia a um apartamento de taria deexistem. colocar no decurrículo uma história dese faz o jantar, a Ana faz imagem, nascem distúrbios alimentares, olha no espelho todos os dias. Várias vezes meu prato, me diz o quanto como a anorexia a bulimia. dia. E,se apesar dos 45,5 kg cravados metros quadrados no bairro do Jardim Botânico, sas? MaseTorres não tempor de preocupar com posso e se posso comer.” Mas não é qualquer garota que se torna que pesa (em 1,57 m), enxerga um reflexo Talvez você conheça a anoréxica só por causaafinal do que vê ede ouvecontas, imenso eele ameaçador. “Não gosto de vai no Rio de Janeiro. Em julho de 2007, tudo comecurrículos: nunca mais Ana, a melhor amiga da L. por aí. Geralmente, a doença surge em nenhuma parte do meu corpo, e odeio Ou, pelo menos, já tenha meninas que já têm predisposição genética ainda mais as coxas e a barriga.” çou a mudar. Um amigo o indicou para o cargo precisar Ao cinco anos em ouvido falar dela. Em alemão, é conhecida para o problema.trabalhar. Aí, sim, o gatilho vem comlongo Umados anoréxica não come. A bulímica por Pubertaetsmagersucht, “a busca da bullying, uma rotina familiar turbulenta, quase nunca é supermagra, mas compensa que trabalhou para Batista, ele acumulou de diretor financeiro e de relações com investimagreza por adolescentes”, um desejo tão um comentário maldoso de um colega.Eikesurtos de comilança forçando o vômito, frequente e familiar para qualquer garota. Os padrões estéticos também reforçam tomando laxantes, malhando sem parar... uma fortuna de 110consciência milhões dores da OGX Óleo e Gás, companhia Não é? Prazer, ela é apetrolífeanorexia nervosa, a neura. Um exemplo? A L., lá doaproximadamente começo, A diferença é que ela tem do uma doença letal em até 20% dos casos. acha a Lorde gorda! erro, mas insiste nele por perceber que Não, o que mata não engorda. Eike Não importa emagreça, a95 000 funciona. Os dois transtornos andar de reais —o quanto ou quase reais por dia. podem Trocou ra que estava sendo criada pelo empresário Como repórter de comportamento, garota continua enxergando gordura onde juntos. A anoréxica faz de tudo para livrarcasa claudia 97 tempo todo relatos preocupantes tem. O índice de massa corpórea cai se do pouco que come.uma coberonão apartamento de classe média por Batista. Como tinha poucovejo aoperder deixando de garotas que lutam contra o próprio bruscamente, para menos que 17 (o IMC, Você deve estar pensando: o que isso peso, negam o próprio corpo e têm que equivale ao pe so dividido pela altura a ver comigo? Com sorte, nada. Mas, se de 9 milhões de reaistem na quadra da praia do seu emprego num banco de médio porte em Lon- tura dificuldade de se amar e serem amadas. O ao quadrado, em garotas normais, varia prestar atenção na história da L., talvez a bullying acompanha a maior parte delas. de 19 a 24). Perigoso. O corpo todo fica reconheça em alguém próximo. Importante no Rio. Desde foique,demitido, num dres, Torres aceitou o convite. Nospelo cinco anosda Leblon, E, influenciadas padrão estético carente de nutrientes básicos, e a saúde éque saber sem intervençãoestá (tipo contar moda, as redes sociais, com suas fotos, colocada em alto risco. Difícil entender a tudo pros pais dela), a garota com distúrbio —temeossos lá se vão 23 meses. coube a ele a tarefa dee seus comunicar aode “sabático” seus blogs programas capazes cabeça de alguém que aparentes alimentar dificilmente encontra o caminho COMPORTAMENTOseguintes, CULTURA EDUCAÇÃO alterar completamente a imagem, colocam e e quer emagrecer ainda mais. Era esse um de volta. Perder a amiga por um tempo dói umapetróleo lupa gigante sobre problemas que, dosHistórias objetivos desta reportagem. menos que perdê-la para sempre. como a de Marcelo Faber Torres mercado as descobertas de supostae CONSUMO mente incríveis e as promessas mirabolantes mostram uma faceta pouco conhecida da ascenO USO DE INFORMAÇÕES PRIVILEGIADASComo hodaquela que seria a “mini-Petrobras”. são e queda de Eike Batista e suas empresas. PARA NEGOCIAR UMA je se sabe, tudoAÇÕES aquilo É era umaPRAGA ilusão, o petróleo Marqueteiro como só ele, Eike criou a lenda do NOnão MERCADO BRASILEIRO. POR existia eFINANCEIRO a OGX entraria em colapso em ou- “X” como multiplicadornade riqueza: o sucesso A L. é uma garota como eu, como Ana. “Comecei a ler os pró-Ana e Mia

96 casa claudia maio 2014 Ele: jaqueta, R$ 900, e calça, R$ 800, ambas Adidas Originals by Jeremy Scott. Boné, New Era, R$ 170. Colares, acervo do cantor. Cueca (usada em quase todas as fotos), Calvin Klein, R$ 59. Ela: jaqueta, R$ 499, e hot pants, R$ 324, ambas Morena Rosa. Brincos, C&A, R$ 20. Luvas (usadas em quase todas as fotos), Herchcovitch; Alexandre, R$ 280. À esq., pulseiras: Lanvin, R$ 3,5 mil (maior), Michael Kors, R$ 740 (menor). À dir., pulseiras: R$ 597 (metal), R$ 741 (metal e cristal), cada uma, ambas Hector Albertazzi, e relógio, Michael Kors, R$ 2 mil.

8

12

Artes & Espetáculos

Q

CRIME NA 14 BOLSA

FORA DE

O

ECONOMIA

ILUSTRAÇÃO: DAVI AUGUSTO

HORIZONTE

GUES

M FOCO

CAPA | eleições

18

A indústria tem68vários CAPRICHO truques para baratear, conservar, maquiar e fazer render alimentos que consumimos todos os dias. Isso acontece porque há brechas na legislação. Alguns procedimentos são difíceis de engolir, mas outros estão na sua cara, codifcados no rótulo das embalagens. Atenção: informações indigestas a seguir...

38 | www.exame.com

BRASIL QUE QUEREMOS

O ideal, no Brasil, é consumir azeite extravirgem até 20 dias após abrir a garrafa

O óleo de oliva degrada com o tempo. Mas a Instrução Normativa do Brasil, assim como a europeia, não obriga a informar a data de prensagem das azeitonas, e sim a do envasamento, com validade de 18 a 36 meses. A fraude mais comum é misturar azeite com outros óleos vegetais – incluindo azeites impróprios para consumo humano

POLÍTICA

s avessas

ARTIGO

30

WILTON JUNIOR/AE, GERMANO LÜDERS, MÁRCIA RIBEIRO/FOLHAPRESS

FOTOS MARIO RODRIGUES

DANIEL BARROS E HUMBERTO MAIA JUNIOR

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Se na relação de ingredientes o primeiro item for “farinha de trigo” (“refnada” ou “enriquecida”), esse pão foi feito com mais farinha comum do que integral. Até hoje, o órgão responsável pela fscalização de alimentos no Brasil, a Anvisa, não determinou quanto de farinha integral é necessário para que o pão receba o título de integral

Há confusão entre bebida láctea, iogurte e leite fermentado. Se levar muito açúcar, estabilizantes, corantes e outras substâncias lácteas, não é iogurte. Iogurte tem base láctea de no mínimo 70% e resulta de fermentação com tipos específcos de bactérias. “Quanto menos ingredientes extras houver, mais autêntico ele é”, explica a nutróloga TamaraMARINA Mazaracki

20

VIAGEM

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O BRASIL DE

DILMA ROUSSEFF: a presidente O maior trem de longa distância do país, que percorre 892 quilômetros entre São Luís (MA) e Parauapebas (PA) tenta a reeleição, mas usa o slogan Mais Mudanças. A principal reforma que propõe é a política, com defesa do financiamento 120 | 14 DE MAIO, 2014 | � público de campanha

GASTRONOMIA

TREM

26

julho 2014

6/11/14 3:18 PM

f_ME154_SegredosIndustria.indd 19

Já entramos na vida por uma linha de montagem. O Brasil é um dos países que mais fazem partos por cesárea, o que permite um ritmo industrial: procedimentos rápidos e padronizados, com hora marcada, e mulheres anestesiadas, para não atrapalharem o processo.

ENTREVISTA

AÉCIO NEVES: o candidato tucano acena com propostas de reforma política e simplificação do sistema tributário para a implantação logo no início do mandato

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de Mato Grosso para as ruas do centro, 32 | www.exame.com o Loemy, de 24 anos, luta contra si própria r a dependência química e retomar a vida m meio a cachimbos de crack e prostituição

1º de outubro de 2014 | 33

26 de novembro, 2014

REPORTAGEM

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Veja São Paulo 26 de novembro, 2014

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19

6/11/14 3:18 PM

A PRIMEIRA LINHA

A Culpa É das Estrelas O Teorema Katherine Cidades de Papel Quem É Você, Alasca? Total

Por LAURA CAPANEMA Fotos FERNANDO MARTINHO Arte ANA CLAUDIA CRISPIM

07/05/14 22:46

LeTTering Grande Circular TraTamenTo de imagens Cristina Negreiros produção Bruna Sanches, Fabi Caruso e Tiago Jokura

As vendas dos livros de John Green no Brasil

Conferimos seis dos 31 trechos ferroviários para passageiros espalhados pelo país. Foi uma viagem por cinco regiões, foi uma profusão de histórias, de rostos, de paisagens. Foi Brazilzão na veia

O produto é turbinado com açúcar, fragrâncias, glucose e a traiçoeira frutose de milho. “Essa substância, comum em mel adulterado, não é detectada nem em laboratório”, conta o biólogo Osmar Malaspina, da Unesp. “Só testes sofsticados de carbono identifcam a adulteração, e pouquíssimos institutos no Brasil fazem essa análise”, ressalta Osmar

SILVA: a candidata do PSB herdou de Eduardo Campos o discurso em prol de uma reforma tributária que poderia ser enviada ao Congresso no início do mandato

Quase 2 milhões

CAPRICHO 69

VJ 120 CTI CTR.indd 120

mel

Maior fenômeno d literatura para jo americano John Green a difícil arte de se com com quem vive

“Os elogios só aumentaram depois que eu comecei a emagrecer. Mas minha menstruação atrasa meses e meus cabelos e minhas unhas andam caindo.”

3 de setembro de 2014 | 39

AzeIte

texto

NDERELA

SAÚDE, FITNESS e ESPORTE

“Águas minerais são registradas e têm procedência. O consumidor tem de fcar de olho em minas de que nunca ouviu falar, marcas novas ou águas compradas fora do comércio regular. Tem muita gente de má-fé que enche garrafas e galões de uma água qualquer e envasa”, explica José Luiz Negrão Mucci, professor de saúde ambiental da USP

IOGURte

EXAME OUVIU A NATA DO CAPITALISMO BRASILEIRO SOBRE AS REFORMAS MAIS URGENTES PARA QUE OS NEGÓCIOS PROSPEREM E O PAÍS CRESÇA. A BOA NOTÍCIA: DÁ PARA RETOMAR O DINAMISMO PERDIDO EM POUCO TEMPO. MAS QUEM VAI ENFRENTAR O DESAFIO?

M UMA HIPÓTESE OTIMISTA, O BRASIL INICIARÁ O PRÓXIMO ANO EXPERIMENTANDO UMA AGITAÇÃO HÁ MUITO ESPERADA — a produzida pela entrada em cena de uma série de reformas estruturais. O desejo dos brasileiros por transformações está expresso nas pesquisas com tal força que os discursos dos três principais candidatos à Presidência o incorporam. No caso da pretendente à reeleição Dilma Rousseff, do PT, a palavra “mudança” compõe o lema da campanha — embora daí é que menos se esperem alterações. Seus principais desafiantes, Marina Silva, do PSB, e Aécio Neves, do PSDB, acenam com reformas de impacto, não explicitando totalmente o que seriam. O gênero, o número e o grau das medidas futuras vão depender de quem for vitorioso nas urnas e dos apoios que juntar. A disposição para negociar e, idealmente, construir uma espécie de acordo nacional em prol de reformas será decisiva — caso o futuro presidente de fato queira mudar algo.

ÁGUA mINeRAl

ELA EXISTE!

19 de março de 2014 | 37

mental para que um mercado financeiro funcione direito. Torres e sua equipe — e é aqui que o caráter enlouquecedor de sua missão aparece — analisaram quase meio bilhão de transações em 2013. Ele tem a seu lado 110 profissionais e um avançado sistema de rastreamento que detecta qualquer anomalia na negociação de ações brasileiras: gente comprando demais, ritmos de negócios pouco

PÃO INteGRAl

f_ME154_SegredosIndustria.indd 18

E

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) analisou mais de 30 marcas e verifcou que pelo menos dez não tinham a quantidade de fruta exigida por lei. Há diferença entre suco e néctar: suco só pode conter fruta, água e a porcentagem de açúcar defnida para o tipo de fruta. Néctar pode receber corantes, mais água e mais açúcar

Bárbara Ragov Helena Peixoto design Fabi Caruso edição Tiago Jokura foTo

COmO tudO cOmEçOu

você. Determinada, até. Ela lê muito, (bulimia). Procurava dicas ou conselhos escreve, estuda. Tem desejos, sonhos. sobre os regimes, mas, agora que já sei O maior era o de brilhar nos editoriais tudo, parei um pouco. É sempre a mesma A fórmula da Coca-Cola de moda. “Começou quatro anos atrás. coisa. De vez em quando, procuro um novo temser muito segredo Minha mãe falava que eu não poderia pra ver se tem alguma novidade.” modelo, mas algumas amigas diziam que Os blogs não são só um tutorial do eu estava gorda e não conseguiria. Então, Markemagrecimento rápido e certeiro. A Em 1993, o jornalista arcos Torres, também conhecido por seus colegas sempre esse ponto, a L. já tinha uma autoestima A Coca-Colafui parando de comer. A gente Pendergrast investigou arquivos da Bolsa de Valores de São Paulo como “Delegado”, acha que tem algo acima da doCoca-Cola limite, mas detestava e não aceitava e recebeu a zeradíssima, cópia tem uma missão tão nobre quanto enlouquecedora. nega que alguém quando outra pessoa fala,deparece que antigo ocontendo próprio corpo. E aí as meninas de tenha descoberto a um documento Aos 50 anos, o economista paraense é um caçadorfórmula. A receitaaqueles ficar outros estaria, quilinhos a mais resolvem a fórmula original do farmacêuticoblogs se tornavam também uma de criminosos que operam na quinta maior bolsainclusive, guardadamais visíveis. Aí começamos a acreditar e a rede de apoio e empoderamento, já que em um John Pemberton: folhas de coca, de valores do mundo, a Bovespa. Um de seus prinisso também.” ela não encontrava mais isso na galera cofre, que pode server visitado nozes de cola,as baunilha daou América Não é que as amigas da L. sejam na família. “Eu falava só com uma cipais objetivos é flagrar quem estiver comprando no museu da empresa, do Sul, favorizantes (umaamiga, misturaespecificamente. Mas ela queria responsáveis por tudo o que você vai ou vendendo ações com base em informações que em Atlanta, EUA de óleos essenciais ler a seguir. Mas, para quem já é ou está de laranja, me obrigar a comer e dizia: ‘Se você não ainda não foram divulgadas ao mercado — prática noz-moscada, limão, canela, fragilizada, a menor faísca provoca um comer, não como’. Eu acabava comendo, mais conhecida pelo termo em inglês insider tracoentro, do óleoque de néroli oumas depois compensava vomitando ou incêndio. A perda de referencial ding. É um crime que pode levar um investidor à é gordo ou magro fez a L.bergamota), trocar os livros lax (laxante)... Aí, para evitar mais ácido cítrico,tomando suco cadeia, e coibir esse tipo de malandragem é fundapelos blogs de outras garotas “experts” de lima e açúcar. Será quebrigas cola? desnecessárias, parei de falar.”

Alimentos que não são bem o que parecem e podem estar na sua cozinha

TexTo

co nec

16

QUE NINGUÉM VAI PARA A CADEIA POR ISSO? VOCÊ É OTHIAGO QUE BRONZATTO VOCÊ COME

SUCO De FRUtA

OUÇA. PELO 36É| ASSIM, www.exame.com ADAELLI, DEFICIENTE CÓDIGO NO GOOGLE

maio 2014

A geraç

GILBERTO TADDAY

6

MODA e BELEZA

artesania industrial Incluída no acervo permanente do Museu de Arte Moderna de Nova York, a poltrona Vermelha (que aqui aparece em versão dourada), lançada pela grife italiana Edra em 1998, impulsionou a trajetória internacional dos irmãos Fernando e Humberto Campana. Emaranhar seus 500 m de corda de acrílico e algodão sobre a base metálica leva tempo: cada concha intrincada como esta exige, pelo menos, 45 horas de trabalho.

1,25

2

2

1 1,97

ANJO DE NEVE John Green brinca gelada nos arredores de seu escritóri Indianápolis: um desmentido, em nú previsões sobre o fim da leitura na e

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visual

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CAPA

DESIGN de MATÉRIA

Máscaras e tendas

70%

Cada hijab, nome genérico do véu, representa culturas diferentes.

BURCA

SÉC. 18-19

DAS AFEGÃS

ainda vestem burca – seja por tradição ou medo.

ANTIGUIDADE PENÍNSULA ARÁBICA

“Máscara”, em árabe. Peça comum em regiões conservadoras, que consideram o rosto da mulher uma parte íntima. ARÁBIA SAUDITA

PENÍNSULA ARÁBICA

É o país do niqab. Seu uso é visto como o mais adequado para:

Criada para ocultar o corpo, no princípio não tinha relação com o Islã e era usada como sinal de status. Seu uso foi obrigatório no Afeganistão durante o governo do Talibã (1995-2001).

HOMENS

1800 A.C.

O mais antigo registro de tatuagem está impresso no corpoOdovéu nodorosto Ötzi, ou Homem pode vir Gelo, uma múmia com costurado na peça 5.300 anos encontrada ou preso nos Alpes italianos por um em 1991. Mais dealfinete. 50 desenhos se espalham por seu corpo. Os cientistas acreditam que as tattoos, localizadas junto a pontos de acupuntura, podiam ter efeito terapêutico

Acredita-se que por essa época a arte da tatuagem foi levada do Egito para povos S Édo C UOriente LO 18 I R Ásia à Médio e da

Nós e espirais simples, duplas ou triplas eram comuns entre os celtas, povo que viveu na Europa Ocidental e deixou fortes traços culturais entre irlandeses e escoceses. As pinturas azuladas tinham significado místico e simbolizavam a caminhada pela vida. Guerreiros também se tatuavam quando iam lutar para intimidar os inimigos

Significa “tenda” em persa. É uma veste historicamente ligada aos xiitas e à Pérsia, o antigo Irã. Em 1936, no processo de ocidentali2160zação A.C.forçada no país, o uso foi proibido. Com No Egito antigo, a a Revolução Islâmica sacerdotisa Amumet, de 1979, ela virou dedicada à deusa Hathor, obrigatória.

64% 63%

retangular preto ou azul. Por baixo, calça e batas largas. É comum se maquiar.

O ator Brad Pitt tem no corpo réplicas de desenhos tatuados em Ötzi

INFOGRAFIA e GRÁFICOS

MULHERES AFEGÃS ANTES DO TALIBÃ, ELAS ERAM...

60%

48

Yuri Vasconcelos USO MAIS Sattu COMUM Arthuzzi Preto, Thalesvai Molina até a edição Tiagocintura. Jokura texto

iluStra

dos professores universitários*

dos médicos

Foto

*Universidade de Cabul

deSign

DEPOIS DO TALIBÃ...

32%

20%

tinha linhas, pontos, círculos e desenhos geométricos nas pernas, nos braços60% e no abdômen. Sua múmia foi encontrada em 1891 por arqueólogos DAS britânicos. Supõe-se que IRANIANAS as inscrições estavam têm diploma associadas a rituais de universitário. regeneração e fertilidade

QUAL A VESTE MAIS ADEQUADA?

Outras cores são toleradas em lugares menos conservadores.

AL-AMIRA 200 A.C.

É recorrente investir em maquiagens bem marcadas e, às vezes, coloridas.

SHAYLA

DÉCADA DE 1970 EMIRADOS ÁRABES

Surgiu no mesmo contexto que a al-amira, para quem não se sentia à vontade com o cabelo todo descoberto. Mesmo quem não usa véu regularmente veste a shayla para entrar em mesquitas, onde mulheres precisam cobrir o cabelo.

CABELO À MOSTRA No Líbano, habitado por muçulmanos sunitas e xiitas e cristãos católicos e ortodoxos, a cabeça descoberta é tida como mais adequada do que qualquer véu. Mas, mesmo em países menos conservadores, é difícil ver mulheres de decotes ou saias.

USO MAIS COMUM

27 A.C.-476 D.C.

Os pazyryk, povo nômade que habitou A MAIS PEDIDA a região da Sibéria, Entre os cinco véus, também se tatuavam. a al-amira é considerada a mais adequada para: A múmia de uma princesa encontrada nos anos HOM E N S90 35,2% trazia no ombro direito M U Lanimal HERES pinturas de um 40,2% mitológico: um cervo com bico de grifo e chifres de capricórnio

No Império Romano, a tattoo também marcava escravos – os que eram vendidos para a Ásia levavam a inscrição tax paid (imposto pago, em tradução livre). No século 4, o imperador Constantino, primeiro a se converter ao cristianismo, proibiu as tatuagens na face, alegando que o rosto era a representação da imagem de Cristo e não podia ser maculado

52

USO MAIS COMUM Duas e lenço). No Ocidente, é usado também com roupas coloridas.

tratamento de imagem Ruy Reis FonteS Livros Teorias da Tatuagem e As Nazi-tatuagens: peças (touca Inscrições ou Injúrias, ambos de Célia Maria Antonacci Ramos e sites Cultura Pop na Web, Tattoo Temple, Tattoo Symbol, Tattoo Archive, Tattoo Tatuagem e Whats Your Sign

Idade com que normalmente meninas passam a usar chador.

Touca prende o cabelo e dá

em torno 500 A.C.ficar do pescoço.

FOTO PRODUZIDA

12 ANOS

“Não façais incisões no corpo por causa de um defunto, nem façais tatuagem”, Levítico, terceiro livro do Antigo Testamento

sustento A tatuagem foi aobanida véu. entre os cristãos pelo papa Adriano 1º. Justificativa: as pinturas no corpo estariam associadas a práticas demoníacas e pagãs. A proibição levou a um declínio da tatuagem no mundo ocidental

Comprimento varia de região para região. Pode cobrir os ombros ou

512 A.C.

44

787

DÉCADA DE 1970 EMIRADOS ÁRABES

O povo yue, que vivia na China,

Após protestos decorava o corpofeministas com figuras nos países árabes, algumasde mitológicas para proteger-se mulheres dragões e abandonaram monstros marinhos oquando niqab, saíam enquanto para outras pescar adotaram esse novo modelo. É o mais usado por muçulmanas no mundo inteiro e o mais aceito na maioria dos países de população islâmica.

• tÉCniCa As pinturas eram feitas com uma planta, o pastel (Isatis tinctoria), que tinha um pigmento azul. Suas folhas eram esmagadas para formar uma pasta e aplicadas com objetos pontiagudos

Prisioneiros e escravos persas tinham letras tatuadas na testa – • tÉCniCa uma forma de serem facilmente Os tatuadores usavam identificados se tentassem fugir. agulhas de madeira ou USO MAIS COMUM Preto As inscrições foram registradas hastes de osso afiadas por tradição. Mas o que peloconta historiador Heródoto quando é ser escuro e discreto. Por para inserir tintas à base o imperador Dario 1º, da Pérsia, baixo, túnica ou calçaconquistou e blusa. a Trácia, próxima de vegetais abaixo da derme (camada à Grécia. A prática foi copiada intermediária pelos gregos, que imprimiam da pele) nos escravos o nome do dono

Mulheres que vestem niqab costumam cobrir as mãos com luvas.

delas das jovens* trabalham são alfabetizadas *(15-24 anos)

O primeiro registro de tatuagem no globo ocular é feito pelo médico e filósofo romano Cláudio Galeno, da cidade de Pérgamo. A técnica era usada para tratar doenças da visão

ILUSTRAÇÃO

2000 A.C.

CHADOR

150

A tatuagem de hena é uma prática milenar na Índia, citada nos Vedas (textos sagrados do hinduísmo) há 3.500 anos. Os hinduístas acreditam que pinturas no corpo aumentam o bem-estar espiritual. Noivas sempre usam em casamentos

41

3300 A.C.

MULHERES

Das primeiras inscrições, S E M D I P L O M A Uem N I V Euma R S I TÁ R I O descobertas 67% múmia de 5.300 anos, C O tatuagens M D I P L O M A Upublicitárias, N I V E R S I TÁ R I O às 47% conheça a trajetória dessa arte que já foi banida da sociedade, mas que hoje faz sucesso no mundo todo

USO MAIS COMUM Tecido

40%

NIQAB

1500 A.C.

abril 2014

Camisas de manga longa, jeans, coletes e lenços coloridos no pescoço.

USO MAIS COMUM

Longa e retangular, é envolta ao redor da cabeça e presa na região dos ombros. Pode deixar pescoço e parte do cabelo à mostra.

ENSAIO FOTOGRÁFICO

56

AO VENTO Mulheres não devem usar véu na opinião de libaneses: HOMENS 52% MULHERES 45%

C R I S TÃ O S ( 3 9 % D A P O P U L A Ç Ã O ) 98% S U N I TA S ( 2 7 % D A P O P U L A Ç Ã O ) 26%

31

X I I TA S ( 2 7 % D A P O P U L A Ç Ã O ) 20%

Muçulmanas mais liberais combinam a shayla com peças diferentes.

A opinião da população de sete países. (em %) A R Á B I A S A U D I TA

11

BURCA

1

EGITO

2

LÍBANO

1

2

TURQUIA

1

Entre poder de escolha, obrigação e proibição, veja a opinião em cada país. SIM

46

NÃO

A F E G A N I S TÃ O

13 44

31

3

FOTOJORNALISMO

CONTEXTO A burca

23%

40%

(HOMEM)

(MULHER)

CONTEXTO O véu era

já era um traje tradicional de algumas tribos, mas só se disseminou com a imposição do Talibã.

EGITO

39%

54%

(HOMEM)

(MULHER)

restrito até a Primavera Árabe, que derrubou a ditadura militar do país. Hoje, 90% usam véu por algum motivo.

IRAQUE

62

38%

52%

(HOMEM)

(MULHER)

24 17

57

RETRATO CONTEXTO O uso

CONTEXTO

Povos diferentes habitam o país, cada um com opiniões próprias sobre os véus.

MARROCOS

Tratamento de imagem Andre Luiz

83%

87%

(HOMEM)

(MULHER)

do véu é limitado. Mulheres que trabalham em instituições do governo são proibidas de usá-lo.

23

64 P A Q U I S TÃ O

60%

81%

(HOMEM)

(MULHER)

CONTEXTO A maioria das pessoas é a favor do poder de escolha. Mas, por ser um país bastante conservador, a escolha é quase sempre pelo uso do véu.

TUNÍSIA

87%

91%

(HOMEM)

(MULHER)

CONTEXTO A polícia revista mulheres de niqab a fim de evitar ataques terroristas. Liberal, o país não proíbe nenhuma veste.

FONTES Arlene Clemesha, professora de História Árabe da USP; CIA World Factbook; hananmustafa.com (blog de moda islâmica); Fernanda Kholoud, artesã da Kholoud Hijabs; The Investigative Project on Terrorism (EUA); Nasser Khazraji, representante do Centro Islâmico do Brasil; National Organization for Women Foundation (EUA); Pew Research Center (EUA); Soraya Misleh, diretora do Instituto da Cultura Árabe (ICArabe); O Significado do Véu , de Chahdortt Djavann.

digitais

APLICATIVO

68

EDIÇÃO DIGITAL de REVISTA

USO de REDES SOCIAIS

74

70

MULTIMÍDIA

VÍDEO

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especiais jurados SITE do ANO

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REVISTA do ANO

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90 PRÊMIO ROBERTO CIVITA

86

S H AY L A

52

12

2 2

10

A L-A M I R A

32 32 32

MULHERES PODEM DECIDIR SE USAM OU NÃO O VÉU?

8

CHADOR

20 8

3

3

P A Q U I S TÃ O

TUNÍSIA

63

NIQAB

9 4

IRAQUE

TURQUIA

89%

(HOMEM)



matĂŠria completa


matéria completa

PRÊMIO

MODA e BELEZA

NO EMBALO DO HIP-HOP E DO FUNK, CONVIDAMOS MC GUIMÊ E ISABELLI FONTANA PARA MOSTRAR QUE O SPORTSWEAR GANHA GINGA DE SOBRA E FAZ A FESTA NAS RUAS. Fotos Bob Wolfenson Realização Susana Barbosa Edição Larissa Lucchese

Ele: jaqueta, R$ 900, e calça, R$ 800, ambas Adidas Originals by Jeremy Scott. Boné, New Era, R$ 170. Colares, acervo do cantor. Cueca (usada em quase todas as fotos), Calvin Klein, R$ 59. Ela: jaqueta, R$ 499, e hot pants, R$ 324, ambas Morena Rosa. Brincos, C&A, R$ 20. Luvas (usadas em quase todas as fotos), Herchcovitch; Alexandre, R$ 280. À esq., pulseiras: Lanvin, R$ 3,5 mil (maior), Michael Kors, R$ 740 (menor). À dir., pulseiras: R$ 597 (metal), R$ 741 (metal e cristal), cada uma, ambas Hector Albertazzi, e relógio, Michael Kors, R$ 2 mil.

No flow

Bob Wolfenson, Fernanda Turetta, Larissa Lucchese, Susana Barbosa, Tarsila Martinez e Thiago Auge ELLE / setembro de 2014

Ela: blusa, Morena Rosa, R$ 349, sobre top, Billabong, R$ 160. Short, Movimento, R$ 390. Colar (usado como viseira), Chanel, R$ 10 290. Colares: R$ 1 095 (metal) e R$ 1 155 (metal e cristais), ambos Hector Albertazzi. Pulseiras: Camila Klein, R$ 791 (o kit). Botas, Prada, R$ 5 490. Ele: jaqueta, Herchcovitch; Alexandre, R$ 4 452. Calça, Giorgio Armani, R$ 8 550. Boné, New Era, R$ 170. Óculos, Dolce & Gabbana (na Luxottica), preço sob consulta. Tênis, Christian Louboutin, R$ 2 490.

Casaco, R$ 349, e bermuda R$ 289, ambos Ashish para Topshop. Short (usado embaixo), Morena Rosa, R$ 350. Sutiã, Herchcovitch; Alexandre, R$ 329. Anéis, Chanel (usados em quase todas as fotos), R$ 2 740 (o kit). Colar, Mawi para Lool, R$ 1 798. Relógio, Cartier, R$ 158 mil. Meias, Ellus, R$ 280. Tênis Chanel, preço sob consulta.

Editorial atual, bem de acordo com as propostas contemporâneas do diálogo entre a moda de rua e a moda sofisticada de marcas renomadas. Belas imagens de moda.

Colete, R$ 9 940, e tênis, R$ 2 530, ambos Prada. Calça, Giorgio Armani, R$ 8 550. Bandana (usada no pescoço), R$ 35, e anel, R$ 431, ambos Lab. Colar, Chanel, preço sob consulta. Pulseira, Skull Jewelry, R$ 950. Relógio e anéis, acervo do cantor.

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015


destaques Time to change

sede de poder beleza

OVERSIZED Curinga do inverno, o tricô ganha versão big em tamanho e quociente fashion. À esq.: tricô, R$ 3 670, Filhas de Gaia. Bermuda, Forum, R$ 2 820. À dir.: tricô, R$ 4 410, Filhas de Gaia. Bermuda, Forum, R$ 3,2 mil. Clutch, Giorgio Armani, R$ 5 550.

Fabio Bartelt, Larissa Lucchese, Sam Tavares, Tarsila Martinez e Thiago Auge

ELLE / março de 2014

time TIME

to TO

batom cereja (must-have da temporada), o novo olho esfumado para a noite, sobrancelha e blush perfeitos e uma pele de “acordei assim, linda”. Se você dominar esses truques, vai sair de casa confiante, pronta para conquistar o mundo (e a balada, o gato, o escritório...).

COLEÇÕES NOVAS, VITRINES NOVAS, DESEJOS NOVOS. SELECIONAMOS O MELHOR DA ESTAÇÃO PARA VOCÊ IR DIRETO AO PONTO E EMBARCAR JÁ NO INVERNO.

T E X TO A n d r e I A tA vA r e s F OTO s tA r C I s O d e L I M A E d i ç ãO d E m O d a t h A I s b A rA k At r E a l i z aç ãO vA L e n t I n e dA b u s

Fotos Fabio Bartelt (S. D MGMT) Edição Larissa Lucchese

sobrancelha perfeita

você já está cansada de ouvir que a sobrancelha é um item superimportante do make porque sozinha consegue definir o olhar. o melhor é começar a acreditar em todo mundo — e a fazer alguma coisa em relação a isso. o desenho, o formato ou o enchimento das sobrancelhas podem mudar radicalmente a sua expressão. Faça o teste! Colete, Ammis; brincos, Carla Amorim; anel, H.Stern

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Nova abril 2014

nova.com.br

JOGOS DE INVERNO Branco total + esporte é garantia de pódio fashion. À esq.: casaco, Coca-Cola Jeans, R$ 1 820. Top, R$ 839, e calça, R$ 1 090, ambos Gloria Coelho. Óculos, À la Garçonne, R$ 98. Botas, Cavalera, R$ 349. À dir.: colete, Morena Rosa, R$ 438. Blusa, R$ 1 847, e calça, R$ 1 947, ambas Osklen. Óculos, Herchcovitch, R$ 289. Luvas, Forum, R$ 599. Bastões de esqui, Casa Juisi, R$ 320.

pele natUral #sQn

Amada por todas as tops e presença vip nos desfiles internacionais, a pele perfeita veio para ficar e segura o look no escritório. Parece difícil? O segredo é só saber onde iluminar e trabalhar com as profundidades do rosto. Para isso, o pó translúcido não pode faltar no seu nécessaire. Aplicado na zona T, nas laterais do nariz e no queixo, ele ajuda a suavizar os traços da maquiagem e a fixá-la. Pulseiras de brilhantes, Emar Batalha; colete, Fethie

boca poderosa

HEAVY METAL Metalizado é o efeito mais desejado do inverno 2014. À esq.: blusa, R$ 3 475, e calça, R$ 2 420, ambas Patricia Motta. Capacete, Pretorian, R$ 800. À dir.: casaco, R$ 3 198, vestido, R$ 1 298, e cinto, R$ 148, tudo S. Label Sacada. Capacete, Pretorian, R$ 800.

FETICHE Superfeminina ou tomboy. Os extremos são sexy e poderosos. À esq.: blazer, Reinaldo Lourenço, R$ 1 498. Bermuda, Triton, R$ 350. Gargantilha, Chanel, R$ 14,2 mil. Cinto, R$ 196, e bolsa, R$ 596, ambos Alessa. À dir.: colete, Triton, R$ 2,5 mil. Camisa, R$ 990, e calça, R$ 852, ambas Mixed. Cinto, Alessa, R$ 196.

Um batom intenso é a forma mais fácil e rápida de transformar qualquer maquiagem de dia para a noite. E passaporte para se sentir sexy no mesmo instante. Está no escritório e o gato mais cobiçado do pedaço finalmente chamou você para sair? aposte na boca cereja, que vai bombar neste outono-inverno. Casaco de plumas, Lança Perfume; colar de brilhantes, Carla Amorim; bolsa, Serpui Marie

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Nova abril 2014

nova.com.br

nova.com.br

Nova abril 2014

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Sede de poder

Andreia Tavares, Cristiane Lacerda, Gislene Vieira, Lisa Ho, Tarciso De Lima, Thais Barakat e Valentine Dabus NOVA / abril de 2014

HOT, HOT, HOT Vermelhos e pinks andam juntos para aquecer o look nosso de cada dia. À esq.: casaco, R$ 50 100, Fendi. Body, Cris Barros, R$ 948. Saia, Reinaldo Lourenço, R$ 1 170. Boina, Plas, R$ 95. Bolsa, Sept Is, R$ 1 540. Luvas, Ellus, R$ 290. Meia-calça, Lupo, R$ 29. À dir.: casaco, Mares, R$ 3 980. Calça, Andrea Marques, R$ 1 245. Boina, Casa Juisi, R$ 25 (o aluguel).

LE E

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EM VERSÕES FLUIDAS, QUE DEIXAM A MULHER BEM LIVRE E SUPERFEMININA, O VESTIDO VIRA O PARCEIRO PERFEITO DO VERÃO

realização

LENA CARDERARI

fotos

PABLO SABORIDO

styling

BETO E CELSO

CAVALCANTI

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CLAUDIA

musa

DEZEMBRO 2014

SEM LIMITES Desejada pelos homens, querida entre as mulheres. Garota-propaganda popular, adorada por estilistas de luxo. Sexy e engraçada, inteligente e distraída, sarada e fashionista. Só mesmo Sabrina Sato é capaz de tanto. Na trilha das maiores divas pop internacionais, ela chega aos 33 anos no auge: linda, apaixonada, dona de um programa de TV e, finalmente, no controle da própria vida. POR

Calcinha e sutiã de renda, R$ 129, e camisola de cetim, R$ 159, Intimissimi, tel. (11) 3812 6290.

GIOVA NA ROM A N I FOTOS BOB WOLFENSON EDIÇÃO DE MODA FA BIO ISHIMOTO STYLING PA LOM A V ERGEIRO

o s stid po am e veo C br so rin 7, Vito 1 37 s R$ ambo ine, 7, ch 1 37 e de , R$ ep cr gette o de geor stid e Ve crep de

Musa sem limites

MODELO Lola (Joy Model Management) BELEZA Jayme Vasconcellos (CAPA MGT) PRODUÇÃO EXECUTIVA Renata Bonvino ASSISTENTE DE MODA Maria Antonia Valladares ASSISTENTES DE FOTOGRAFIA Lucio Almeida e Carlos Ximenes/ Fotos realizadas no Parque da Juventude "Città Di Moróstica"/PREÇOS PESQUISADOS EM NOVEMBRO, SUJEITOS A ALTERAÇÃO. CONFIRME NA LOJA ANTES DE COMPRAR

Leve

Beto Cavalcanti, Celso Cavalcanti, Lena Carderari, Maria Antonia Valladares, Pablo Saborido e Roberta Monteiro D’Albuquerque

Vestido de georgete, Carina Duek, R$ 4 450, tel. (11) 3086 1292. Casaqueto de tule e plumas, R.Rosner, R$ 4 300, tel. (11) 3129 5685. Óculos de acetato, Dior, R$ 1 710, tel. (11) 3750 4400. Brincos de ouro, diamantes, e safira, Talento, R$ 73 338, tel. (11) 3081 9000.

CLAUDIA / dezembro de 2014

Bob Wolfenson, Debora Sene, Fabio Ishimoto, Giovana Romani, Henrique Martins, Paloma Vergeiro e Vandeca Zimmermann

ESTILO / outubro de 2014

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

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matéria completa

NEGÓCIOS e CARREIRA

PRÊMIO

carreira

D E S E N VO LV I M E N TO

O que As empresAs esp erAm de vOcê AgOrA muitas companhias mudaram as competências e as atitudes que esperam dos profissionais de suas equipes. conheça nove habilidades atuais e saiba como envolvê-las

Case nivea

cuidado com as pessoas Christian Goetz, presidente da Nivea no Brasil,

explica por que o cuidado pode ser uma qualidade profissional importante

Vanessa Vieira e Gabriel Ferreira

N

as últimas semanas de 2014, a fabricante de cosméticos Nivea estreará um novo processo de avaliação de desempenho, que vai definir as metas de seus funcionários para 2015. a novidade fica por conta das competências pelas quais a equipe será avaliada: cuidado, confiança, simplicidade e coragem. No lugar de pensamento estratégico ou liderança, palavras comuns nas revisões anuais, a Nivea gastou dois anos discutindo seus valores corporativos e agora vai colocar os funcionários para praticá-los. “as competências de nossos executivos e nossos valores tinham de convergir”, diz Christian Goetz, presidente da Nivea no Brasil. Não se trata de truque de marketing ou política motivacional: a multinacional mudou seus valores porque acredita que eles tornarão a empresa mais competitiva. “o ambiente de cuidado e confiança estimula o trabalho de equipe e as decisões corajosas, nos tornando mais ágeis, enquanto a simplicidade permite investimento focado dos recursos”, afirma Christian.

3 4 | dezembro

“Toda a nossa cultura é permeada pelo valor do cuidado: com nossos consumidores, com os funcionários, com o meio ambiente. o cuidado anda lado a lado com outro valor que esperamos — a confiança. Juntas, as duas atitudes formam um ambiente de respeito e integridade, em que as promessas a nossos parceiros e consumidores são mantidas e em que não se promete o que não se pode cumprir. cuidado e confiança também estimulam o trabalho de equipe e deixam o processo de tomada de decisão mais ágil. Alguns dos comportamentos que demonstram se um líder tem essa competência são a busca por soluções que equilibrem diferentes interesses e o foco nas fortalezas de cada pessoa do time, e não em seus pontos fracos.”

Nos últimos anos, muitas empresas revisaram seus valores para traduzir melhor em ações sua estratégia corporativa. Boa parte desse movimento se deve à crise de 2008, quando várias companhias viram que seus executivos não praticavam o que elas escreviam na parede da recepção. “Foi aí que essa tendência de aproximar valores e competências ganhou força”, diz Cristina Nogueira, da consultoria Walking the Talk, especializada em cultura empresarial, de São paulo. De lá para cá, dezenas de companhias fizeram essa autoanálise e encontraram novas palavras para expressar sua forma de buscar resultados. Juntos, a ousadia do Facebook, a sinergia do Grupo pão de açúcar e o cuidado da Nivea, formam um conjunto daquilo que se espera dos profissionais hoje em dia. Conhecer e desenvolver essas habilidades é crucial num momento de maior disputa no mercado de trabalho. “Se a estratégia de uma empresa muda, mudam também as pessoas que ela precisa atrair para realizar aquela entrega”, diz rodrigo amantea, coordenador de educação executiva do insper.

d e 2 0 1 4 | V o c ê S /A

C omo de t eC ta r

Everton Prudêncio, Gabriel Ferreira, Lucas Lima, Murilo Ohl, Omar Paixão e Vanessa Chaves VOCÊ S/A / dezembro de 2014

mônica longo, vice-presidente de rH da nivea na américa latina, indica algumas perguntas que, numa entrevista de trabalHo, ajudam a verificar se o candidato pratica o cuidado

como você lida com os conflitos em sua equipe de trabalho?

como você demonstra o cuidado que tem com as pessoas que trabalham com você?

como você conduz as avaliações de desempenho de sua equipe?

Duas reportagens extraordinárias que tem em comum um evidente compromisso com a apuração rigorosa e isenta. Na primeira, investiga-se o comportamento exemplarmente negativo de um grupo de executivos que enriqueceram a despeito da derrocada das empresas que dirigiam. Na segunda, apura-se um conjunto de comportamentos exemplares que se transformaram em um perfeito modelo de novas competências gerenciais.

foto: omar paixão

matéria completa

PRÊMIO

O que as empresas esperam de você agora

NEGÓCIOS e CARREIRA

Fernando CavalCanti

capa | negócios

TODOs Os HOmeNs De eiKe A história secreta do grupo de executivos que acumularam fortunas de até 200 milhões de reais enquanto as empresas de Eike Batista ruíam

A

maria luíza filgueiras

ntes de assumir o cargo que faria dele um dos executivos mais ricos do Brasil, o economista Marcelo Faber Torres tinha carreira mediana e vida simples. Após uma década de trabalho sem grandes brilhos no mercado financeiro, seu patrimônio se resumia a um apartamento de 100 metros quadrados no bairro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Em julho de 2007, tudo começou a mudar. Um amigo o indicou para o cargo de diretor financeiro e de relações com investidores da OGX Óleo e Gás, companhia petrolífera que estava sendo criada pelo empresário Eike Batista. Como tinha pouco a perder deixando seu emprego num banco de médio porte em Londres, Torres aceitou o convite. Nos cinco anos seguintes, coube a ele a tarefa de comunicar ao mercado as descobertas de petróleo supostamente incríveis e as promessas mirabolantes daquela que seria a “mini-Petrobras”. Como hoje se sabe, tudo aquilo era uma ilusão, o petróleo não existia e a OGX entraria em colapso em ou-

abertura de capital da ogx: executivos ricos, mesmo sem petróleo

36 | www.exame.com

10

tubro de 2013. Torres foi demitido um ano e meio antes, após uma briga com Eike. Para qualquer profissional, ter participado tão ativamente do mais retumbante fracasso empresarial da história brasileira seria algo a lamentar — quem gostaria de colocar no currículo uma história dessas? Mas Torres não tem de se preocupar com currículos: afinal de contas, ele nunca mais vai precisar trabalhar. Ao longo dos cinco anos em que trabalhou para Eike Batista, ele acumulou uma fortuna de aproximadamente 110 milhões de reais — ou quase 95 000 reais por dia. Trocou o apartamento de classe média por uma cobertura de 9 milhões de reais na quadra da praia do Leblon, no Rio. Desde que foi demitido, está num “sabático” — e lá se vão 23 meses. Histórias como a de Marcelo Faber Torres mostram uma faceta pouco conhecida da ascensão e queda de Eike Batista e suas empresas. Marqueteiro como só ele, Eike criou a lenda do “X” como multiplicador de riqueza: o sucesso

19 de março de 2014 | 37

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

Todos os homens de Eike

Karina Gentile, Maria do Carmo Benicchio, Maria Luiza Gressi Almeida Filgueiras e Renata Lopes Toscano EXAME / março de 2014


destaques Ajuste o timing da sua carreira Alexandre Deruiz, Andre Lessa, Eduardo Teixeira, Mariana Lemos, Omar Paixão e Vanessa Chaves

VOCÊ S/A / setembro de 2014

capa

desenvolvimento

ajuste o timing de sua carreira

a

Luis Rezende, 34 anos, presidente da VolVo Cars: “aprendi tudo sobre a empresa em um ano e meio e me Candidatei para assumir a presidênCia”

ssim que chegou ao Brasil, em outubro de 2008, para presidir a divisão da Volvo Cars, o executivo sueco Anders Norinder marcou uma entrevista para conhecer o diretor financeiro da companhia, o economista paulista Luis Rezende, então com 28 anos. Durante a conversa, perguntou onde Luis gostaria de estar dali a três anos. “Em seu lugar”, respondeu o economista, sem pestanejar. Diante da surpresa de Anders, Luis emendou: “Mas nós vamos construir isso juntos”. Em janeiro deste ano, o economista cumpriu seu objetivo e assumiu a presidência da Volvo Cars no Brasil, aos 33 anos de idade. Luis é um dos mais novos representantes de uma safra de presidentes que chega ao topo da hierarquia corporativa antes dos 40 anos. Esse grupo ainda é pequeno, mas não para de crescer. Segundo a consultoria de recursos humanos Hay Group, em 2010 só 3% dos CEOs das companhias no Brasil chegavam ao posto com menos de 40. Hoje, já são 9%. “Os jovens erram muito, mas aprendem mais rápido também e têm menos problemas em mudar processos que não estão funcionando”, diz Yves Moyen, sócio da área de bens de consumo e varejo da Korn Ferry, consultoria especializada na contratação de executivos para o primeiro escalão. A habilidade para fazer mudanças rapidamente pode ajudá-los num período em que o mandato dos CEOs está cada vez mais curto. “Hoje, a

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presidentes que chegaram ao cargo até os 40 anos de idade contam como identificaram o momento certo de fazer as transições profissionais que aceleraram sua trajetória por Vanessa Vieira e mariana amaro

2 0 | setembro

N

CApA Oportunidades

a riquEza

quE vEM do

capa

os dicionários, lixo é um material sem valor ou utilidade que se joga fora. Mas, na mente de um empreendedor visionário, seu significado pode ser muito diferente. Para os seis donos das pequenas e médias empresas que protagonizam esta reportagem, lixo é uma grande oportunidade de bons negócios — e que não se deve jogar fora de jeito nenhum. Eles estão fazendo sua empresa crescer ao buscar, levar, separar, reciclar, comprar, vender e processar o que os brasileiros não querem mais. No Brasil, as cadeias produtivas envolvidas com lixo movimentam um

mercado enorme. São 22 bilhões de reais em receitas por ano, segundo uma estimativa da Abrelpe, a entidade que representa as empresas de limpeza pública do país. Esse número, que nem considera a manipulação de resíduos gerados por indústrias e hospitais, deverá aumentar rapidamente. “Até 2017, o tamanho do mercado vai dobrar”, diz Carlos Silva Filho, diretor da Abrelpe.

Como seis empreendedores enxergaram bons negócios no que a maioria das pessoas considera apenas entulho — um mercado com receitas de mais de 20 bilhões de reais por ano no Brasil

O padrão de vida do cidadão brasileiro prosperou muito nos últimos

anos, sobretudo nas classes mais baixas da pirâmide social, cujo poder de consumo aumentou. Viver melhor, como se sabe, significa consumir. E consumir gera mais — às vezes muito mais — lixo. É o que está acontecendo no Brasil — e com uma velocidade bem maior do que a média do mundo. Segundo o Banco Mundial, em 2025 cada brasileiro deverá produzir 584 quilos de lixo urbano — um aumento de 50% em duas décadas. Nesse período o lixo mundial aumentará

— LEo BraNCo

25%. Nos países com economia madura ou com programas eficientes de tratamento de resíduos, o lixo urbano deverá até diminuir.

Ao contrário dos Estados Unidos, a maior parte do lixo brasileiro é or-

gânica — basicamente, restos de alimentos. Mas isso deverá mudar. O descarte de aparelhos eletroeletrônicos está crescendo mais depressa do que a atual capacidade de dar um destino decente para eles. Num espaço de sete anos, a venda de eletrodomésticos como aparelhos de TV, fogões e geladeiras aumentou 50%. Neste ano, serão comercializados 66 milhões de aparelhos celulares no país — 10% mais do que apenas dois anos atrás. Esse fenômeno deverá se repetir em vários setores da economia. Segundo um estudo da consultoria McKinsey, o poder de consumo dos brasileiros em 2020 deverá ser 60% mais alto em relação a 2010.

O desafio é gigantesco. Uma ta-

refa urgente é modernizar a infraestrutura básica. No Brasil, 41% de to-

d e 2 0 1 4 | V o c ê s /A

V o c ê s /A | s e t e m b r o d e 2 0 1 4 |

foto: OMAR pAixãO

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des en v olv im en to

média de permanência de um presidente em uma empresa é de quatro anos. Nem sempre esse tempo é suficiente para encerrar ciclos, entregar projetos e mostrar resultados”, diz Fernando Andraus, diretor da page Executive, divisão de recrutamento executivo do page Group. Os jovens líderes são mais frequentes em companhias de setores como varejo, alimentos, bebidas, internet, tecnologia da informação e telecomunicações. O mesmo não acontece em setores tradicionais, como metalurgia, papel e celulose, indústria farmacêutica, engenharia e construção. “A presença de presidentes jovens varia segundo o perfil da indústria. As mais antigas, como a de base, tendem a privilegiar executivos com maior experiência, que fizeram carreira na área”, diz Daniela Simi, diretora do Hay Group. “Organizações que estão crescendo e precisam acelerar ainda mais esse crescimento tendem a contratar presidentes mais jovens. por outro lado, aquelas que passam por situações complicadas vão procurar um profissional mais experiente e cauteloso”, diz Fernando Andraus, da page Executive. Uma pesquisa da Universidade da pensilvânia em parceria com o Massachusetts institute of Technology, publicada em maio, concluiu que empresas que têm executivos-chefe mais novos têm maior probabilidade de inovar. para os especialistas em gestão, a presença crescente de jovens executivos no topo da hierarquia é facilitada pela criação de programas de sucessão mais estruturados. “Trinta anos atrás, quando um presidente saía, o departamento de RH tinha de se virar e buscar no mercado. Hoje, os jovens já têm suas habilidades de gestão testadas quando fazem o processo de trainee”, diz Yves Moyen, da Korn Ferry. “Os jovens já são preparados desde cedo para assumir cargos altos”, afirma.

CLaudia sendeR, de 39 anos, da tam linhas aéreas: de estagiária a presidente em 15 anos

RisCo CaLCuLado

O economista paulista Luis Rezende fala sobre as apostas profissionais que o levaram, em janeiro, à presidência da Volvo Cars, aos 33 anos

1998 estagiária da bain & Company 2002 Consultora da bain & Company

Você fez uma carreira linear até a Philips. O que o motivou a trocar de empresa? saí da Philips, onde estava tranquilo, porque queria implementar produtos e negócios. Fui chamado para fazer o plano de negócios da Volvo cars, e o presidente da empresa na época me falou que era para avaliarmos se a companhia deveria mesmo ficar no brasil. Juntos, convencemos a matriz de que a empresa deveria permanecer. Luis Rezende, em junho de 2009, virei cFo da companhia. de 34 anos, da VolVo Cars: de estagiário a presidente em 14 anos

2000 estagiário da peugeot Citroën 2002 analista finanCeiro da maxxium 2003 deCisão de estudar sete meses na inglaterra 2004 admissão Como business Controller da philips 2007 gerente de auditoria da philips 2008 Cfo da VolVo Cars 2009 liderança da separação entre VolVo e ford 2012 superVisão da transição entre dois ex-presidentes da VolVo Cars 2014 Ceo da VolVo Cars no brasil

2005 gerente de planejamento estratégiCo da Whirlpool 2007 gerente-geral para laVanderia, CoCção e linhas espeCiais

Como preparou essa virada em sua carreira? Na Philips, passei três anos como controller e depois um ano como gerente de auditoria. dessa fase veio um aprendizado muito grande. Quando saí da Philips, fui para a Volvo cars, que na época era uma divisão da Ford. entrei num posto semelhante ao de meu diretor da Philips, que cuidava da divisão Walita. eu tinha sido durante três anos o número 2 desse chefe da Philips e ainda tive esse período de aprendizado intenso na auditoria.

2009 ViCe-presidente de marketing da Whirlpool 2011 ViCe-presidente ComerCial e de marketing na tam

problemas complexos de seu negócio, que não conseguiu resolver sozinha. se você é estagiário da companhia, dificilmente será envolvido nessas discussões. Essa experiência contribuiu para sua entrada na TAM? Ainda como consultora, estive envolvida em projetos que a bain tocou na tAm e conheci o marco Antônio bologna [atual presidente da holding TAM S.A.]. Após a fusão com a LAN, o marco estava buscando alguém para comandar a vice-presidência de marketing nessa fase turbulenta. como a bain continuou a fazer trabalhos na tAm, meu nome foi sugerido.

2013 presidente da tam

O que pauta suas movimentações profissionais? o aprendizado que aquela nova experiência pode representar. Quando resolvi sair da bain para trabalhar na Whirlpool, foi para ganhar a experiência de tocar um negócio. depois, quando fui para a tAm, queria participar do projeto de colocar uma companhia brasileira no mapa mundial da aviação.

Você planejava se tornar presidente? Quando o presidente Anders Norinder chegou ao brasil, em outubro de 2008, ele fez uma entrevista comigo, para me conhecer, e me perguntou onde eu gostaria de estar dali a três anos. respondi: “em seu lugar”. ele disse: “Você é ousado, não?”. então eu falei que construiríamos isso juntos. Foi uma grande parceria. Como você preparou o caminho até a presidência? Quando surgiu a notícia de que a separação entre a Volvo e a Ford foi aprovada, pedi para liderar a operação inteira. sabia onde isso daria: teria como conhecer a empresa inteira em um ano e meio, como de fato conheci. depois, fiz a transição entre os presidentes Anders Norinder e Paulo solti. com isso, me aproximei dos dois e pude participar das decisões deles. Podia dar minha opinião, e eles avaliavam. Isso foi uma escola e contou muito para minha escolha como presidente.

CaRReiRa nas aLtuRas

Depois de um ano e meio como vice-presidente comercial e de marketing, Claudia Sender assumiu a presidência da TAM no ano passado, aos 38 anos O que pode ter acelerado seu desenvolvimento? Ainda no começo da carreira, fui trainee da consultoria bain & company. Ali, tive um amadurecimento acelerado, que dificilmente teria se tivesse passado por uma empresa só, com uma exposição a negócios e líderes de 15 indústrias diferentes. Quando uma empresa contrata uma consultoria, quer solucionar

Já tomou decisões profissionais erradas pela vontade de crescer? Quando ainda era gerente, eu tinha muita ansiedade de crescer e achava que já estava pronta. surgiram convites para assumir a diretoria de empresas que não necessariamente tinham a ver com meu planejamento de carreira. Hoje vejo que ter apostado na companhia que apostava em mim, pensando não só num crescimento de cargo, valeu a pena.

Com reportagem de Christian Miguel 26 | Exame pmE | Abril 2014

Abril 2014 | Exame pmE | 27

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capa

CAPA Oportunidades CApA

Mais EsCaLa Para quEM rECiCLa

P roNaLdo dE souza Tecscan Recibel

— Contagem (MG) Máquinas trituradoras e coletoras De onde vem a receita Empresas de reciclagem Por que pode crescer As recicladoras precisam de tecnologia para acompanhar o ritmo de crescimento na geração de lixo no Brasil Faturamento 3 milhões de reais(1) leo DrUMonD / niTro

1. Em 2013 Fonte Empresa

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ode-se dizer que o en-

genheiro Ronaldo Carvalho de Souza, de 57 anos, é um Professor Pardal do mercado de lixo. Ele criou uma máquina enorme que faz picadinho de grandes quantidades de borracha, ferro e madeira. Dependendo do material, o equipamento processa até 7 toneladas em 1 hora. Esse é o principal produto da Tecscan Recibel, empresa que pertence a Souza e fica na cidade mineira de Contagem. Da fábrica da Tecscan saem trituradores, esteiras transportadoras de detritos e carrinhos motorizados para catadores. “Coletar material reciclável envolve uma logística que custa caro”, diz Souza. “Os negócios de reciclagem precisam de escala para ser viáveis.” Segundo os cálculos do empresário, em 2014 a Tecscan deverá faturar 3,5 milhões de reais, quase 20% acima do ano passado. Os clientes são empresas de reciclagem, como a Bemplast, de Betim, em Minas Gerais. A Bemplast compra pedaços de aparelhos como geladeiras e máquinas de lavar roupas e peças automotivas dos próprios fabricantes — geralmente material reprovado no controle de qualidade. Depois de ser transformada em grãos, a matéria-prima é vendida a montadoras e indústrias de eletrodomésticos, que a usam na fabricação novamente. Até 2010, a transformação de materiais na Bemplast era feita artesanalmente com serrinhas de cortar madeira. “Era um processo cansativo, demorado e pouco produtivo”, diz Marcelo Serpa, de 48 anos, sócio da Bemplast. Uma trituradora da Tecscan Recibel foi adquirida há três anos. A máquina processa 300 toneladas de

sucata de uma vez. “A produtividade triplicou, e hoje atendo pedidos bem maiores”, diz Serpa. “Nossas receitas cresceram 15%.” A busca por escala também esteve por trás da fundação da Tecscan Recibel em 2002. Na época, Souza instalava antenas de telefonia celular para grandes empresas do setor. “A infraestrutura de meus clientes não estava precisando mais de tantas antenas”, diz. “Havia cada vez menos serviço.” Nessa época, Souza assistiu a um documentário no canal Discovery sobre sistemas mecanizados de reciclagem em países europeus. No programa, Souza ficou entusiasmado ao ver equipamentos moendo todo tipo de entulho. “Não encontrei nada parecido com aquilo no Brasil”, afirma Souza. “Fui prospectar o mercado para descobrir se havia espaço para fabricar equipamentos como aqueles.” Ao conversar com donos de empresas de reciclagem, Souza ouvia queixas sobre a falta de tecnologia capaz de reciclar quantidades de lixo que não param de crescer. “Resolvi projetar máquinas por conta própria para atender à demanda”, diz. “Foi uma decisão acertada.” Existem 1 200 recicladoras no país, segundo estimativa da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública. “Esse número está aumentando conforme os brasileiros consomem mais produtos industrializados”, diz Carlos Roberto Silva Filho, diretor da associação. “Mas a maioria delas está num estágio rudimentar de desenvolvimento tecnológico.” Isso explica por que, com exceção de latinhas de alumínio, os índices de reciclagem no Brasil são menores do que nos Estados Unidos e no Japão. “Sem tecnologia não há como sair do atraso.”

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desenvolvim ento

decisões consistentes

CadE ia s Produtivas

V o c ê s /A | s e t e m b r o d e 2 0 1 4 |

fotos: OMAR pAixãO

Mas o que faz com que alguns profissionais tenham a carreira mais acelerada do que outros? Em busca da respost a pa ra essa perg u nt a , VOCÊ S/A entrevistou oito presidentes que chegaram ao cargo antes dos 40. É possível identificar pontos em comum nas decisões de carreira desses profissionais. Todos disseram não fazer um planejamento profissional com base numa ascensão vertical. Em muitas ocasiões, eles recusaram promoções ou optaram por trilhar um caminho que, em princípio, parecia

ana zambeLLi, de 41 anos, diretora mundial de operações submarinas na transoCean: de engenheira de Campo a duas presidênCias em 16 anos 1996 engenheira na sChlumberger 1999 gerente nos estados unidos 2001 gerente em angola

2006 diretora de Carreira na frança

2012 presidente da transoCean no brasil

2 4 | setembro

Em janeiro deste ano, aos 36 anos, Romero Rodrigues, fundador do Buscapé, tornou-se presidente global de um grupo de 15 sites de comparação de preços do grupo Naspers Quando criou o Buscapé, você imaginava chegar aonde está hoje? Nunca imaginei. Nunca fiz muito planejamento de carreira. continuo me considerando empreendedor, e não algo como “presidente global de comparadores de preço”. tudo o que fiz foi em função do sucesso do buscapé. Ainda hoje não saberia dizer onde quero estar daqui a cinco anos. sei onde quero que o buscapé esteja.

duas pResidênCias no CuRRíCuLo

Aos 39 anos, a engenheira carioca Ana Zambelli assumia, em 2012, sua segunda presidência no setor de óleo e gás

RomeRo RodRigues, de 36 anos, do busCapé Company: de Criador de startup a Ceo global em 15 anos

Que escolhas podem ter acelerado sua carreira? A primeira foi entrar no mercado de óleo e gás, quando nem havia curso de engenharia de petróleo. A segunda foi, já na schlumberger, ter topado ir para a operação de Aracaju, quando a maioria dos colegas preferia macaé, mais perto do rio de Janeiro e com trabalho mais glamouroso. ter aceitado ficar com o “primo pobre”, com menor salário e mais trabalho, me deu visibilidade. e aprendi mais em menos tempo.

1999 Criação do busCapé 2006 aquisição das operações do riVal bondfaro na amériCa latina

Que oportunidades essa decisão gerou? transitar entre as áreas técnica e administrativa da companhia, o que foi essencial para que eu assumisse posições estratégicas, dentro e fora do país.

2003 gerente para brasil, argentina, bolíVia e Chile

2007 presidente no brasil

de empReendedoR a Ceo gLobaL

sinalizar um crescimento mais lento. “Quando ainda era gerente de planejamento estratégico da Whirlpool, eu tinha muita ansiedade de crescer e me sentia pronta. Surgiram convites para assumir a diretoria de planejamento estratégico em duas outras companhias. Tive muitas conversas com João Carlos Brega [atual CEO da Whirlpool], que foi um de meus mentores. percebi que não fazia sentido mudar. Ter apostado na companhia que apostava em mim, pensando não só num crescimento de posto, valeu a pena”, diz a engenheira quí-

2009 Venda de 91% das ações do busCapé para o grupo de mídia sul-afriCano naspers, por 342 milhões de dólares, mantendose no Cargo de presidente

Como foi o convite para a presidência? Quando trabalhei na matriz, em Paris, o presidente me convidou para assumir a presidência no brasil. Fiquei preocupada e procurei meu chefe, que disse: “Você tem razão, não está pronta. mas não vai falhar”.

2014 Ceo global do busCapé Company, holding de 15 sites de Comparação de preços adquiridos pela naspers em 11 países

Você já duvidou de sua capacidade como gestora? A sensação de pânico é constante. mas é importante trabalhar num lugar onde apostem em você.

d e 2 0 1 4 | V o c ê s /A

Que características podem tê-lo ajudado a chegar até aqui? A primeira é a resiliência. o buscapé morreu várias vezes, todo mundo dizia que não daria certo. A segunda foi a consistência, para me manter caminhando na mesma linha, mesmo quando tudo era muito difícil. Quando colocamos o buscapé no ar, fomos processados pelas lojas, que queriam sair. Foram dois anos e meio até conseguir convencê-las a pagar pelo destaque em nossa página. em terceiro lugar, não ter medo de fracassar e, se errar, ter coragem para corrigir e retomar o prumo. Quais os principais desafios de ser um presidente tão jovem? Fui apontado como presidente em 1999 [aos 23 anos] para apresentar o buscapé aos investidores. eu nunca tive chefe, mas tive de aprender a ser chefe. Quando você é jovem, é mais intempestivo, está mais aberto ao risco, tem menos medo de cair. mas o grande desafio é ter maturidade para cuidar do time.

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foto: OMAR pAixãO

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CAPA Oportunidades CApA

PE s soa s

Mais rENda Para quEM Cata soBras á cinco anos o ba-

charel em história Vinicius Fonseca, de 39 anos, parou de dar aulas para catar lixo. “Minha família foi contra e meus filhos sofreram preconceito na escola, mas não me arrependo”, diz Fonseca. Diariamente, ele recolhe 800 litros de óleo de cozinha usado em bares e restaurantes de Arraial do Cabo, balneário no litoral norte fluminense, onde mora. “O óleo entope as tubulações das casas”, diz Fonseca. “Mas o que é estorvo para uns é matéria-prima para outros.” Fonseca leva o material até a sede da CoopClean, cooperativa de catadores que preside, onde máquinas processam o óleo para transformá-lo em biodiesel, que serve de combustível. “Vendo a produção a donos de barcos da região”, diz ele. Os equipamentos da CoopClean para fabricar biodiesel foram feitos pela Biotechnos, de Santa Rosa, cidade gaúcha de 60 000 habitantes. A Biotechnos foi fundada em 2007 pela administradora Márcia Werle, de 41 anos. Na época ela era gerente de uma empresa de peças para o setor de agronegócio. “Eu tinha vontade de ter um negócio para ajudar a resolver algum desafio ambiental”, diz. Numa feira de energias renováveis na Alemanha, Márcia conheceu uma tecnologia de fabricação de biodiesel de óleo de cozinha usado. De volta, descobriu que mais de 1,5 bilhão de litros de óleo de fritura são descartados anualmente no país. Márcia fez as contas e percebeu que esse material poderia gerar receitas de quase 3,5 bilhões de reais por ano se fosse transformado em biodiesel. “É muito dinheiro jogado pelo ralo”, diz ela.

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Márcia pediu ajuda a especialistas e montou um protótipo com base no que viu na Alemanha. Nascia a Biotechnos. No início a matéria-prima para a geração de biodiesel era coletada por estudantes de Santa Rosa. Em troca, eles recebiam da Biotechnos bônus como material escolar e ajuda de custo para a formatura. Márcia treinava os professores para incluir o problema do óleo usado nas aulas. Nas de matemática, por exemplo, os estudantes faziam contas da quantidade de água que deixava de ser contaminada com o que haviam coletado. “As pessoas começaram a ficar inconformadas”, diz ela. “Foi o que me fez acreditar no potencial desse mercado.” Veja o caso de Fonseca. Hoje, ele ganha cerca de 4 000 reais por mês. “É mais do que eu recebia como professor”, diz. Desde a construção da fábrica de biodiesel da CoopClean, em 2009, Fonseca já comprou geladeira e fogão novos para sua casa, que é própria. Na garagem, há uma Land Rover de segunda mão. Dois anos atrás, viajou pela primeira vez com a família para o Nordeste. Em breve, vai começar uma pós-graduação em negócios sociais pela Fundação Dom Cabral. “Quero capacitar outros catadores”, diz. Em 2014, a Biotechnos deverá faturar 2,8 milhões de reais, o triplo do ano passado. Os principais clientes da empresa são cooperativas de catadores, como a CoopClean. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), existem 400 000 catadores no Brasil. Em média, eles ganham menos de um salário mínimo por mês. “A maioria recolhe só latinhas e garrafas”, diz Márcia. “Muitos deles podem diversificar a coleta para aumentar a renda.”

MárCia WErLE

Biotechnos — Santa Rosa (RS) Máquinas para fabricar biodiesel com óleo usado em frituras De onde vem a receita Cooperativas de catadores que precisam faturar mais Por que pode crescer Há 400 000 catadores de lixo no país, que ganham menos de um salário mínimo, em média Faturamento 2,8 milhões de reais(1) 1. Estimativa para 2014 Fonte Empresa MArcelo correA

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A riqueza que vem do Lixo

Alessandra Fernandes, Christian Miguel, Daniela Toviansky, Fabiano Accorsi, Giuliano Muccioli, Leandro Almario Fonseca, Leo Drumond/Nitro, Leo Vieira Branco, Marcelo Correa, Maria Luisa Mendes e Viviane Andrade EXAME PME / abril de 2014

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

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matéria completa

PRÊMIO

CASA e DECORAÇÃO

Decoração no

Prateleira montada com duas pranchas de MDF na cor nogal (1,20 m x 30 cm, por 49,90 reais, cada uma), trilhos (9,49 reais) e suportes (15,90 reais) da Leroy Merlin. Os quadros custam 29,90 reais, cada um.

home center

Formam um aparador: dois nichos de 70 x 30 x 18 cm* (com gaveta, 309,90 reais, e sem, 199,90 reais) e dois cubos de 35 x 35 x 30 cm* (fechado, 184,80 reais, e aberto, 199,90 reais). Da Leroy Merlin.

Decoração no home center

Resolver o décor de um jeito fácil e econômico, quem

Amanda Sequin, Cristina Castanho, Evelyn Müller, Julio Rosa, Rosana Grimaldi e Zizi Carderari

não quer? Nossa equipe montou estes ambientes com 72 achados de grandes lojas de construção, além de hipermercados e outros fornecedores em conta. Aproveite!

*LARGURA x PROFUNDIDADE x ALTURA./**DIÂMETRO x ALTURA.

CASA CLAUDIA / julho de 2014

O tapete trançado (1,20 m de diâmetro), levemente deslocado da mesa de centro, deu cor e graça à composição. Na Leroy Merlin, por 377,90 reais.

Para delimitar a região do estar, foram colocados, ainda, tapetes de sisal de 2 x 1,50 m, fáceis de aspirar. Cada um custa 329,90 reais na Leroy Merlin.

Fabricada com madeira de reflorestamento, a poltrona Madalena tem estofado de sarja 100% algodão. Vale 579 reais na Oppa.

A banqueta de pínus (27 x 22 cm**, 32,90 reais na Telhanorte) serve de apoio para a begônia, plantada na panela de barro (Depósito Kariri, 55 reais).

Sob o nicho, futons (45 x 45 cm, 59,90 reais, cada um, na Leroy Merlin) e pufe Paint (32,7 x 29,5 x 40,6 cm*, 99 reais na Tok & Stok) podem criar assentos extras.

112 cAsA clAuDiA jul 2014

Abajur Torre (22,5 x 56 cm**) com estrutura de alumínio e cúpula de tecido, da Ricci, à venda na Telhanorte por 172,90 reais.

cAsA clAuDiA jul 2014 113

A reportagem ajuda o leitor a vencer o desafio de decorar sua casa com qualidade, a partir de um orçamento limitado. A seleção das peças e a montagem dos ambientes oferecem um serviço rico e de bom-gosto, derrubando o mito de que decoração boa é sempre cara.

matéria completa

PRÊMIO

CASA e DECORAÇÃO

tramas do brasil

Tramas do Brasil

O hábito de trançar fios existentes na

Marco Antonio, Rosana Grimaldi, Rosele Martins e Zizi Carderari

natureza e transformá-los em utensílios acompanha nossa história desde antes do descobrimento do país. Séculos depois,

CASA CLAUDIA / maio de 2014

esses elementos ainda têm lugar de honra na casa – não apenas em nome da mera praticidade mas também da pura beleza.

Fotos primorosas narram a história do design brasileiro,inspirado na riqueza do nosso artesanato. Bela sacada e realização caprichada, poética.

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ouro do cerrado Até então desconhecido pelo grande público, o capim-dourado, nativo das veredas do Jalapão, no Tocantins, começou a atrair olhares em 1997, graças a oficinas ministradas pelo designer Renato Imbroisi a moradores do vilarejo quilombola de Mumbuca, que aprenderam a entrelaçar os fios em tom raro com a já falecida e lendária dona Miúda. Sobre o banco, anéis de guardanapo do Depósito Kariri. O apartamento onde foram realizadas as fotos tem projeto de interiores de Aldi Flosi. 96 casa claudia maio 2014

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

artesania industrial Incluída no acervo permanente do Museu de Arte Moderna de Nova York, a poltrona Vermelha (que aqui aparece em versão dourada), lançada pela grife italiana Edra em 1998, impulsionou a trajetória internacional dos irmãos Fernando e Humberto Campana. Emaranhar seus 500 m de corda de acrílico e algodão sobre a base metálica leva tempo: cada concha intrincada como esta exige, pelo menos, 45 horas de trabalho. casa claudia maio 2014 97


destaques Grandes projetos em pequenos apartamentos

Alexandre Ferreira, Cacá Bratke, Deborah Apsan, Evelyn Müller, Joana Lehmann, Luciana Braggion, Luisa Cella, Marianne Wenzel , Renata Rise e Sérgio Bergocce

Os irmãos gêmeos dividiram o aluguel por 12 anos e, na hora de comprar o primeiro imóvel, decidiram fazê-lo juntos. Na reforma, equilibraram as expectativas de ambos na área enxuta.

ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO / junho de 2014 Neste caso, a obra veio acompanhada de um pedido de casamento. Além de acomodar a esposa, os arquitetos precisaram considerar outro importante elemento: ela chegaria com seu cachorro e fiel amigo.

Com o estilo de morar cada vez mais compacto nas cidades, é preciso aprender a viver em poucos metros quadrados. E, nesse momento, um bom projeto se mostra aliado essencial para chegar a soluções que garantam conforto ao pequeno lar, doce lar. Três histórias confirmam a tese POR DEBORAH APSAN (VISUAL), JOANA L. BARACUHY E LUISA CELLA (TEXTO) ILUSTRAÇÕES SÉRGIO BERGOCCE

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ocê está pronto para editar sua casa e vida? Dados do mercado e o discurso de profissionais antenados comprovam: o morar urbano está mais enxuto, o que também pressupõe menor quantidade de pertences. Entre as causas do quadro, destaque para o adensamento populacional, a falta de terrenos livres e a alta no preço dos imóveis, além de novos arranjos familiares e hábitos. “A tecnologia nos libertou, e alguns costumes e funções de repente soam bizarros: se posso trabalhar na cama, por que deveria me sentar no escritório?”, diz Li Edelkoort, holandesa especialista em tendências. Presidente da agência Eugenio, empresa que presta consultoria às construtoras, Carlos Valladão aponta a mudan-

ça no perfil dos compradores: “Há pouco mais de dez anos, prevaleciam famílias com filhos. Hoje, a gama se mostra diversa em razão do crescimento das cidades, da maior mobilidade e do foco no trabalho”. Segundo o portal WGSN, um terço da população mundial irá morar sozinha em 2026. De olho nesse futuro próximo, o termo “compartilhamento” já marca os novos edifícios residenciais, que apresentam áreas e funções comuns (antes privadas), como lavanderia, restaurante e academia. Nessa toada, desponta o piso térreo livre e equipado com serviços – a ideia é estimular a vivência da cidade, e não o isolamento típico dos condomínios fechados. Dentro do lar, funcionalidade, economia e flexibilidade sobressaem, inclusive, na arquitetura.

O mais compacto dos espaços que apresentamos passou por uma repaginação para atender bem ao único morador. O ar masculino e moderno predomina no novo layout, que ficou mais amplo e integrado.

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ESPECIAL DECORAÇÃO

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Gêmeos de personalidades complementares conseguiram equilibrar seus desejos na reforma do primeiro lar, de 62 m2

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POR DEBORAH APSAN (VISUAL) E LUISA CELLA (TEXTO) PROJETO ALDI FLOSI FOTOS CACÁ BRATKE

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e voltássemos três anos no tempo e viéssemos parar dentro deste apartamento, seria necessário explorar vários recursos da imaginação para tentar mentalizá-lo da forma como o vemos hoje. Sua condição, na época, era muito precária (confira nas fotos das págs. 64 e 65). No entanto, isso não desanimou os irmãos Aldi (à esq. no retrato) e Anderson Flosi, que compraram o imóvel num prédio da década de 70, em São Paulo, e o submeteram a oito meses de repaginação. Autor do projeto, Aldi revela que, na segunda visita ao espaço todo detonado, já sabia como incrementá-lo. “Fechava os olhos e o enxergava praticamente assim, renovado”, revela o criterioso designer de interiores, que coordenou a obra atento aos desejos do gêmeo. “Eu me lembro dos primeiros pedidos dele: área para uma cama decente e mais um banheiro”, conta, rememorando a fase em que dividiam o aluguel de uma quitinete de 35 m2. Para quem sabia compartilhar um teto tão compacto, distribuir as tarefas da obra foi fichinha. As diferentes personalidades até ajudaram no processo, como você verá a seguir.

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A CH decorou três espaços inspirados nas personagens das nossas séries favoritas para você copiar. Action!

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Fotos Jaime Alves Texto Malu Pinheiro Edição Aline Fava Produção de objetos asprodutoras.com.br Design Camila Marques

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HANNA • PRETTY LITTLE LIARS Os objetos de decoração são pequenos, deixando tudo romântico e delicado, a cara da personagem. Alguns até remetem a moda, já que ela é bem ligada ao assunto. A poltrona e o espelho reforçam o ar vintage do quarto!

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1. Quadro Dom Mascate (R$ 24); 2. Base de luminária Pensando Colorido (R$ 50) e cúpula Etna (R$ 69,99); 3. Espelho Zara Home (R$ 209,90); 4. Manequim Dom Mascate (R$ 140); 5. Quadro Estúdio Glória (R$ 500); 6. Caixinhas Daiso (R$ 6,90 cada uma); 7. Porta-retratos Zara Home (R$ 75,90); 8. Lata Estúdio Glória (R$ 59); 9. Bandeja Dom Mascate (R$ 50); 10. Escrivaninha Via Vila/blogueira Lucinha (R$ 1 060); 11. Almofadas: estampada Etna (R$ 39,99) e de pelúcia Zara Home (R$ 69,90); 12. Poltrona Arte Moderna Retrô (R$ 1 299,99); 13. Caixinha Daiso (R$ 6,90) e flores Etna (R$ 59,99); 14. Latinhas Estúdio Glória (R$ 59 cada uma); 15. Caixas redondas Via Vila/blogueira Lucinha (R$ 198 a grande e R$ 188 a pequena); 16. Caixa Estúdio Glória (R$ 59); 17. Telefone Retrô 63 (R$ 300); 18. Caixa Paris, Via Vila/ blogueira Lucinha (R$ 95), e livros Chanel (R$ 170) e Dior (R$ 374), ambos Livraria da Vila; 19. Porta-livros Daiso (R$ 6,90); 20. Sandália Zara Home (R$ 119,90); 21. Tapetes Etna (R$ 99,99 cada um).

Otimizar a cozinha era um grande desafio da intervenção. A derrubada de duas paredes (veja a planta na pág. 64) melhorou a iluminação, integrou o cômodo à sala e abriu caminho para a bancada, que faz o papel de mesa de jantar. Afinal, como a ideia era manter os dois quartos, a área social não pôde crescer.

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QUEM MORA Os gêmeos vivem juntos há cerca de 12 anos, desde que deixaram a casa dos pais. Em 2012, decidiram comprar este apartamento na zona sul de São Paulo. Aldi trabalha como designer de interiores e editor visual da revista CASA CLAUDIA, da Editora Abril. Anderson atua na área de tecnologia da informação.

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JUNHO 2014 ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO

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Com algum investimento, 36 m 2 são mais que suficientes para alguém viver bem sozinho. O segredo é otimizar a área disponível com soluções inteligentes e caprichar na personalização, como aconteceu neste apartamento em São Paulo

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POR DEBORAH APSAN (VISUAL) E JOANA L. BARACUHY (TEXTO) PROJETO GABRIEL VALDIVIESO FOTOS CACÁ BRATKE

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Nesta foto: presente em quase todos os ambientes, o cimento queimado (em quadrados de 1,20 x 1,20 m) foi executado por um empreiteiro de confiança. Cinza, o piso combina com o azul, que pontua todo o projeto. Almofadas e banco vermelho da Conceito: Firmacasa. À dir.: sempre ligado, o jovem também faz de casa seu escritório informal – nessas horas, a mesa de jantar oferece apoio ao notebook.

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JESS • NEW GIRL Não dá para falar da garota sem se lembrar do estilo descontraído dela. A parede azul e o tapete colorido deixam o quarto mais vivo; já as estampas florais lembram a fofura de Jess. Alguns objetos, como os quadrinhos em tamanhos diferentes, dão o toque retrô.

PENNY • THE BIG BANG THEORY Uma bagunça, digamos, organizada é a cara da personagem. As estampas estão em todos os lugares e, mesmo diferentes, se encontram em tons parecidos. Tudo é colorido: cômoda azul, cortina amarela, lâmpadas chinesas... Pro azar do Sheldon!

1. Cabideiro Estúdio Glória (R$ 105); 2. Quadro Estúdio Glória (R$ 500); 3. Quadro Etna (R$ 29,90); 4. Espelho Estúdio Glória (R$ 555); 5. Bolsinha Pylones (R$ 128); 6. Cúpula Pensando Colorido (R$ 20); 7. Quadro Estúdio Glória (R$ 450); 8. Quadro Etna (R$ 99,99); 9. Almofadas: verde Etna (R$ 39,99) e floral Zara Home (R$ 119,90); 10. Caneta Pylones (R$ 29); 11. Base de luminária Estúdio Glória (R$ 400); 12. Cofre Buda SouQ (R$ 39); 13. Porta-retratos CAPRICHO para Ludi (R$ 32,90), 14. Buquê de flores Daiso (R$ 6,90); 15. Escova Pylones (R$ 78); 16. Porta-retratos Dom Mascate (R$ 125); 17. Porta-anéis Daiso (R$ 6,90); 18. Mesa Via Vila/blogueira Lucinha (R$ 583); 19. Agenda Pylones (R$ 88); 20. Caixa Dom Mascate (R$ 52); 21. Baú Casa Beta (R$ 315); 22. Mochila SouQ (R$ 189); 23. Pufe Etna (R$ 79,90); 24. Tapete Zara Home (R$ 559,90); 25. Sapatilha SouQ (R$ 219).

1. Luminárias Daiso (R$ 6,90 cada uma); 2. Relógio Pylones (R$ 68); 3. Cortina Zara Home (R$ 209,90); 4. Cúpula Estúdio Glória (R$ 210) e base Etna (R$ 249); 5. Espelho Arte Moderna Retrô (R$ 49,99); 6. Espelho Arte Moderna Retrô (R$ 89,99); 7. Coelhinhos Daiso (R$ 6,90 cada um), caixa colorida SouQ (R$ 129) e caixas-arquivos Daiso (R$ 6,90 cada uma); 8. Garrafa térmica Pylones (R$ 125); 9. Massageador de cabeça Pylones (RS 22); 10. Case Pylones R$ 49); 11. Copo CAPRICHO para Ludi (R$ 34,90); 12. Bandeja (R$ 69) e porta-velas (R$ 19 cada um) SouQ e canetas Daiso (R$ 6,90 cada uma); 13. Poltrona Q-Spaço (R$ 1 337); 14. Almofadas Souq (R$ 115 cada uma), 15. Luminária Japonique (R$ 69,90); 16. Cabide Zara Home (R$ 49,90 o jogo com quatro); 17. Secador Pylones (R$ 188); 18. Toalha Zara Home (R$ 49,90); 19. Cômoda Via Vila/blogueira Sílvia (R$ 1 315); 20. Lixeira Estúdio Glória (R$ 187); 21. Tapete Zara Home (R$ 169,90); 22. Sapatos Zara Home (R$ 111,90); 23. Toalha Zara Home (R$ 69,90); 24. Cesto Etna (R$ 49,99); 25. Tapete Etna (R$ 129,90).

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QUEM MORA Solteiro, Fernando Henrique Augusto atua no mercado financeiro. Na hora de adquirir seu primeiro imóvel, preferiu este ultracompacto no centro da capital paulista, porque cabia no bolso e ainda ficava perto do banco onde trabalha.

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JUNHO 2014 ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO

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ESPECIAL DECORAÇÃO

CANTOnovo

meu

A equipe da CH invadiu o quarto da Letícia Akemi, da Galera CH, e mudou tudo de lugar. Vem ver como ficou!

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Fotos Rodrigo Sacramento Texto Malu Pinheiro Edição Aline Fava Produção de objetos asprodutoras.com.br Design Camila Marques

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O quarto da Letícia já era a cara dela. A frase na parede, as luzinhas, os cartazes... Nosso desafio era transformá-lo, mas sem apagar o estilo da Lê. O primeiro passo foi trazer um pouco de cor pro ambiente: optamos por tons fortes na cortina, na cadeira e na penteadeira. O segredo é usar cores lisas, assim uma ressalta a outra. As luzinhas, um toque boho, foram trocadas pelas lâmpadas com flores chinesas: muito mais estilosas. Na parede, o mural vira o espaço pra Letícia escrever, e as mandalas – que ela ama! – ficaram mais alegres. A escrivaninha deu lugar à penteadeira sonho e ao criado-mudo branco. Uma pra se maquiar e outro pra guardar bugigangas. Ficou mais organizado. Distribuímos a luz pelo quarto e deixamos uma luminária ao lado da cama. O ambiente fun libera pra brincar também com o tapete, a roupa de cama e as almofadas. São eles que deixam o quarto bem confortável! Ah, quase nos esquecemos do caixote que virou prateleira. Ok, pra que resistir? Pode copiar!

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ANTES

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Quarto em cena!

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DEPOIS

KIT MUDANÇA: 1. Mandala I-Stick (R$ 119); 2. Bandeja I-Stick (R$ 89); 3. Cômoda Via Vila/blogueira Lucinha (R$ 267); 4. Cadeira Wish Design (R$ 399); 5. Luminária Pylones (R$ 279); 6. Luminária de fio SouQ (R$ 199); 7. Pente Pylones (R$ 38); 8. Penteadeira Via Vila/blogueira Lucinha (R$ 1 195); 9. Cesto Etna (R$ 49,99); 10. Cortina Etna (R$ 39,90); 11. Luminária Etna (R$ 29,99); 12. Caixa Pylones (R$ 68); 78 CAPRICHO

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13. Criado-mudo Pensando Colorido (R$ 150); 14. Quadro de aviso Japonique (R$ 69,90); 15. Minicaixa I-Stick (R$ 99; 16. Porta-celular Daiso (R$ 6,90); 17. Xícara Pylones (R$ 33); 18. Almofada Zara Home (R$ 199,90); 19. Almofada SouQ (R$ 189); 20. Almofada de veludo Zara Home (R$ 69,90); 21. Lençol Zara Home (R$ 99); 22. Tapete Zara Home (R$ 859,90).

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Adoro objetos pequenos, e os detalhes em cada lugar do meu quarto fizeram toda a diferença. Mas não dá pra negar: meu xodó mesmo é a penteadeira. Amei!

"

CAPRICHO 79

Aline Fava Moreno, Camila Marques, Cleber Maciel, Deborah Du Vernay, Jaime Alves, Mariana Luisa Pinheiro, Rodrigo Sacramento e Thiago Justo CAPRICHO / outubro de 2014

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

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matéria completa

CIÊNCIA e TECNOLOGIA

PRÊMIO

INOVAÇÃO

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APONTE O CELULAR PARA O QR CODE E OUÇA. É ASSIM, PELO ÁUDIO, QUE O PROGRAMADOR LUCAS RADAELLI, DEFICIENTE VISUAL, SE GUIA PARA CRIAR LINHAS DE CÓDIGO NO GOOGLE ≥ POR

PAULA ROTHMAN ≥ FOTOS

/ BELO HORIZONTE

THYAGO RODRIGUES

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A “AI MEU DEUS! O que é que eu vou fazer com você agora?” O paranaense Lucas Radaelli havia se mudado há apenas duas semanas para Belo Horizonte quando ouviu a pergunta da atendente de um restaurante. Parado na porta, segurando a coleira de Timmy, seu cão-guia da raça labrador, ele apenas deu risada e respondeu: “Bom, eu cheguei aqui sozinho, então você pode me dar uma ficha, por favor”. Com paciência, bom humor e sotaque puxado no R, Radaelli já aprendeu a lidar com as diferentes reações das pessoas diante de um deficiente visual. O espanto da atendente não é nada perto das reações que ele presencia quando diz com o que trabalha. Aos 23 anos, Lucas Radaelli tem acesso a um dos segredos mais bem guardados do Google. Como engenheiro do time de Search da empresa, ele atua diretamente no mecanismo de

buscas, a ferramenta utilizada mais de 3 bilhões de vezes por dia no mundo. Seu trabalho é analisar e modificar esses complexos algoritmos para garantir os melhores resultados sempre que uma palavra, em qualquer idioma, for colocada na caixa de pesquisa. A tarefa requer concentração, conhecimento técnico e capacidade para resolver problemas complexos, todas qualidades que Radaelli possui, apesar de não enxergar nenhuma linha de código.

como seus colegas, ele passa o dia com fones de ouvido, digitando freneticamente no desktop Windows ou em um dos dois notebooks, Mac e Linux, em sua bancada. “Uso as mesmas coisas que outros engenheiros: um navegador para a internet e um editor de texto para os códigos. A única diferença é que, por cima deles, uso leitores de tela.” Os leitores ditam para ele tudo o que aparece no computador ou no celular. Comandos no teclado ajudam a especificar o que ele quer saber. É possível ler uma janela de um site, por exemplo, ou o título do resultado de

“Tive descolamento de retina e fiquei cego quando era criança. Não me lembro de muita coisa, mas minha mãe diz que eu sabia identificar algumas cores”, diz ele, sentando em sua mesa de trabalho. Formado em ciência da computação na Universidade Federal do Paraná, Radaelli é um dos 100 engenheiros do time do Google em Belo Horizonte, o único escritório da empresa na América Latina a ter uma equipe de desenvolvimento. Assim

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CAMINHO / Radaelli se formou em ciência da computação, morou sozinho na Alemanha e hoje é engenheiro do escritório do Google em Belo Horizonte

uma conversa normal, uma pessoa fala, em média, 180 palavras por minuto. Simultaneamente, Radaelli ouve música enquanto trabalha. De seus fones saem dois sons distintos, o dos softwares de leitura e o de bandas de rock pesado, como Amon Amarth. Complicado? “É questão de costume”, diz. Basicamente, as ferramentas de leitura permitem que ele consuma em áudio a mesma informação que seus colegas têm na tela do computador. Seria como baixar o audiobook de um livro, porém com uma história milhões de vezes mais complexa. “No Google, temos componentes de ranking que variam de centenas de linhas de código a dezenas de milhares de linhas ”, diz Bruno Possas, engenheiro-chefe de buscas. Para propor alguma alteração ou adicionar um novo elemento ao código, é preciso entender antes em detalhes como esses componentes funcionam. “Programar está ligado ao conceito de abstração”, diz Radaelli. “As pessoas imaginam coisas em até três dimensões. Com quatro ou mais, não tem como imaginar a forma como esses espaços vão se relacionar. Acho que sou bom em abstração. Não penso conceitos de imagem, penso na lógica.” Além dos programas de leitura, a única coisa que diferencia o engenheiro de seus colegas na rotina de trabalho é Timmy, que passa o dia em uma cama de cachorro a seu lado. “O Lucas se mostrou tão eficiente quanto qualquer outro engenheiro do meu time”, diz Possas.

cada busca feita no Google. “Posso navegar por eles até chegar ao resultado que procuro e então dar um comando para ler a descrição do texto”, diz Radaelli. “É assim que funciona também com programação. Eu leio linha por linha, pulo para a próxima, volto.” A voz robotizada do software está ajustada para uma velocidade de 700 palavras por minuto em português, e 500 por minuto em inglês. Para ter uma ideia de quão rápido isso é, em

Código falado

Fernando Pires, Giuliana Moura, Katia Militello, Paula Rothman, Rafael Costa e Thyago Rodrigues INFO / dezembro de 2014

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Os colegas de Lucas Radaelli disputam partidas de videogame vendados (abaixo à esq.); liderada pelo engenheiro Bruno Possas (abaixo à esq.) , o time tem como mascote o cão-guia Timmy

PARA PROGRAMAR, LUCAS RADAELLI USA UM SOFTWARE QUE DITA AS LINHAS DE CÓDIGO NO COMPUTADOR A UMA VELOCIDADE DE 700 PALAVRAS POR MINUTO

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ROTINA /

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

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Fora da bancada, no entanto, o escritório precisou passar por adaptações para receber um deficiente visual. Placas em braile foram colocadas nas portas dos banheiros e em equipamentos da sala de ginástica, como a esteira. Na hora do almoço, o chef do restaurante ajuda Radaelli a montar um prato. Latas de suas bebidas preferidas também são colocadas deitadas nas geladeiras, para que ele possa identificá-las. Mas nem tudo sempre dá certo. “Outro dia, inverteram as prateleiras em que ficam as barras de chocolate e peguei uma daquelas ruins de soja. Que decepção quando fui comer”, diz.

seu primeiro notebook, aos 9 anos, ele dependia do pai para traduzir as lições feitas em braile para que pudessem ser corrigidas pela professora. Radaelli estudou em colégios de Cascavel, cidade de 260 000 habitantes no Paraná. Também frequentou um centro de apoio à tarde para aprender o que não conseguia pegar na sala de aula, como geometria. No colegial, conheceu um professor com um novo método de ensino para deficientes vi-

O ESCRITÓRIO DO GOOGLE PRECISOU SE ADAPTAR. ALÉM DE PLACAS EM BRAILE, AS GELADEIRAS FORAM REORGANIZADAS PARA FACILITAR A IDENTIFICAÇÃO DOS PRODUTOS A organização e a sinalização são essenciais para que o deficiente visual possa manter sua independência. Na rua, a falta de semáforos sonoros é uma grande barreira mesmo para aqueles que têm um cão-guia como Timmy. Mas talvez uma das maiores dificuldades de quem não enxerga seja o acesso a conteúdo, em especial, materiais de estudo. Durante a escola e a faculdade, por exemplo, Radaelli contou com a ajuda de colegas e professores para ler aquilo que não estava disponível em braile, em áudio ou em formato digital. Antes de ganhar

suais. O sistema Multiplano, criado por Rubens Ferronato, é uma tábua com furos, pinos e elásticos usada para criar formas geométricas tridimensionais. “Comecei a ter aulas com ele uma vez por semana para fazer exercícios de Olimpíada de matemática. Me diverti muito e acabei desistindo de prestar faculdade de direito”, diz.

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Pela originalidade da pauta e pelo trabalho de reportagem, que garimpou um personagem tão especial, capaz de trazer humanidade e frescor para o tema.

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destaques

INOVAÇÃO

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Onças d’água Na Amazônia, quando o rio inunda a várzea, os maiores felinos das Américas deixam de ser animais terrestres.

DO

O VOO FALCÃO

No alto das árvores, as onças-pintadas caçam, alimentam seus filhotes, dormem – e de lá saem nadando quando precisam explorar outras partes de seu território na Reserva Mamirauá. 83

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O PRIMEIRO DRONE MILITAR BRASILEIRO ESTÁ PRONTO PARA MONITORAR FRONTEIRAS, FLORESTAS E ATÉ PESSOAS A 15 000 PÉS DE ALTITUDE ≥ POR RODRIGO BRANCATELLI ≥ FOTOS MARCUS STEINMEYER

Na época da cheia, o Rio Solimões alaga toda a área da Reserva Mamirauá, no Amazonas. Para observar as onças, os pesquisadores usam barcos e uma base flutuante.

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QUATRO TELAS ESTÃO RELATANDO EM TEMPO REAL TODAS AS INFORMAÇÕES DA AERONAVE.

SÃO DADOS QUE INDICAM ROTA DE VOO, altitude, velocidade,

O DRONE NACIONAL

Acima, o Falcão no hangar da Harpia, em Jacareí, São Paulo. A sala de comando e o joystick usado como controle remoto

direção, temperatura, pressão, tráfego aéreo, combus­ tível, sistema hidráulico, posição do leme e mais uma centena de números e letrinhas que mudam frenetica­ mente e piscam como árvore de Natal. Estão ali mais elementos do que o olhar leigo consegue distinguir, algo impossível de ser decifrado por quem não passou quase 1 300 horas por ano estudando e treinando para ser piloto de caça, uma profissão dificílima, que exige sobreviver a quase uma década de aulas, cursos e espe­ cializações até finalmente pilotar uma aeronave militar. Então por que o piloto de testes da aeronave de co­ dinome Falcão está olhando para as quatro telas usan­ do um jaleco branco, sem capacete ou equipamento de segurança, de óculos de grau, jeans e tênis? Pior. Ele está no chão, em uma sala climatizada, onde poderia tomar uma xícara de café e comer bolachas recheadas.

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Por Daniel Nunes Gonçalves Fotos de Luciano Candisani

O voo do falcão

Primeiro aparece o filhote. Acomodado entre os galhos no

alto da árvore, exibe um olhar assustado. Pelo seu tamanho, calcula-se que deve ter uns 6 meses de vida. Quando a canoa se aproxima a 3 metros do tronco submerso, dá para ver a mãe, uns 20 metros acima da linha d’água. Ela olha, dá uma espreguiçada como se estivesse enfadada para receber visitas, vira a cara e se afasta copa adentro. Tudo muito natural. “E então ficamos ali observando por uns 20 minutos, como se fôssemos babás, até que o filhote dormiu e decidimos partir”, conta o biólogo carioca Emiliano Esterci Ramalho. Em cerca de dez anos observando a onça-pintada nas florestas de várzea da Amazônia, ele nunca tinha visto seu objeto de estudo tão à vontade naquele ambiente aquático. A evidência de que antes suspeitava agora parece incontestável: dono de incrível flexibilidade ecológica, o maior felino das Américas pode viver no alto das árvores. “Mesmo a 12 quilômetros do solo seco mais próximo, as onças não se sentiram ameaçadas e pareciam tranquilas em casa”, conta Emiliano. Para o pesquisador da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, que há seis anos monitora o ziguezague florestal dos bichanos, deparar ao vivo com a onça-mãe – apelidada de “Cotó” por não ter rabo – nessa condição é uma parte importante de um inédito quebra-cabeça ecológico: descobrir o que as onças fazem quando toda a floresta da Reserva Mamirauá fica alagada. Nenhum dos oito animais monitorados desde 2008 abandonou o ambiente inundável da várzea nos três ou quatro meses anuais de cheia – um comportamento inusitado e nunca antes observado em felinos de grande porte.

INFO / janeiro de 2014

Emiliano conta essas e outras histórias dos felinos selvagens para um grupo de turistas hospedados na Pousada Flutuante Uacari, base para quem visita Mamirauá, quando o telefone toca. São 22 horas de uma noite de Lua cheia em março, e uma emergência o obriga a interromper a palestra: um jovem bolsista que tinha saído pela manhã para instalar armadilhas fotográficas não havia voltado do trabalho de campo – assim como o guia “mateiro” que o acompanha. Estudar um animal desse porte no ambiente inóspito da maior floresta do planeta (e a mais de 500 quilômetros da capital mais próxima, Manaus) é uma atividade de risco, e Emiliano teme pelo pior. Convoca por rádio moradores locais para o

O biólogo Emiliano Ramalho, com a antena na mão (acima), tenta localizar as onças marcadas com colares de telemetria VHF e GPS na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, que fica a 1 hora de barco da cidade de Tefé (no mapa).

ÁREA AMPLIADA

A M A Z O N A S

Manaus

AMAZONAS

Ja pu

acompanharem, equipa-se, assume o volante de uma voadeira e desaparece na escuridão do Rio Solimões floresta adentro. Nós, visitantes, não sabíamos, mas os traiçoeiros rios da região já tinham feito o próprio pesquisador capotar com o bote metálico três vezes: duas delas ao passar sobre os gigantescos peixes pirarucus durante o dia e outra ao atropelar um jacaré à noite. Nos dias anteriores, ao explorar uma milésima parte desse exuberante laboratório natural

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Onças d’água

R E S E R VA M A M I R A U A Sol

0 km

Daniel Nunes, Luciano Candisani, Angelica Santa Cruz, Miguel Tome Vilela, Roberto Sakai e Ronaldo Ribeiro

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nat ional geo g r aph i c • N OVEM BRO 2 0 1 4

NATIONAL GEOGRAPHIC / novembro de 2014

MAPA DE LF MARTINI

Quantos likes esse presidente merece?

Carol Castro, Felipe Van Deursen, Flávio Pessoa, Gabriela Namie, Jun Ioneda, Kamila El Hage, Nathan Fernandes, Renata Miranda, Roberto Maxwell e Sasha Yakovleva SUPERINTERESSANTE / dezembro de 2014 INTERNET 1 9 D O S 1 0 0 PA Í S E S AVA L I A D O S

11 REDES

14 REDES

BRASIL

13 REDES

ESTADOS UNIDOS

As manifestações de 2013 fizeram Dilma Rousseff levar redes sociais a sério. A criação do Gabinete Digital tornou a comunicação da presidenta com a população mais maciça: com 14 contas, o governo é recordista mundial. Tem perfil no Tumblr e até no SlideShare.

O Twitter de Barack Obama, essencial na eleição de 2008, é um dos maiores do mundo. A foto da reeleição (o abraço em Michelle Obama), é uma das mais curtidas da história do Facebook. As outras contas não têm o mesmo peso global.

FRANÇA

O governo aposta em vídeo, especialmente no Dailymotion, rede francesa concorrente do YouTube. DESTAQUE V I N E Élysée Além do Brasil, é o único país a usar a rede de microvídeos para mostrar a agenda do presidente.

ARGÉLIA Reeleito em abril, Abdelaziz Bouteflika largou o Twitter. Perfis falsos ironizam seu extenso mandato de 15 anos.

CHILE Eleita em 2013, Michelle Bachelet fez bastante campanha nas redes sociais. Em 2014, elas foram postas de lado.

DESTAQUE

DESTAQUE T U M B L R Planalto

I N S TA G R A M The

White House Muita Tem reportagens e descontração de perfis sobre brasileiros Obama e equipe notáveis. na Casa Branca.

10 REDES

MÉXICO

Pouco criativo, abusa das fotos e vídeos de eventos inaugurais. 8 REDES

10 REDES

REINO UNIDO

ARGENTINA

É dos poucos governos que têm uma posição oficial de não responder mensagens via redes sociais, apesar de ter vários perfis, incluindo um no Audioboom, com playlists e discursos.

No Twitter presidencial, infográficos para falar de planos de governo. No Google Plus, posts com um caráter mais pessoal, como fotos da juventude e do cachorro.

DESTAQUE NEGATIVO I N S TA G R A M Peña Nieto Em meio à

crise política e social do país, o presidente posta fotos da família feliz – e é detonado nos comentários.

incluir o primeiro-ministro em sua rede de contatos?

INTERAÇÕES POR SEMANA

CAMPEÕES DE POSTS Muitos governos postam muito conteúdo todos os dias. Mas poucos interagem com a população. E, quando o fazem, é de maneira esporádica. Veja nas próximas páginas a quantidade de posts semanais e de interações com o público.

17 VENEZUELA

16 C O S TA R I C A

15 G U AT E M A L A

14 ESPANHA

13 ESTÔNIA

12 BÉLGICA

11 CHINA

10 ÍNDIA

9 PAR AGUAI

8 REINO UNIDO

7 ISRAEL

6 REPÚBLICA DOMINICANA

5 MÉXICO

4 BRASIL

3 E S TA D O S U N I D O S

2 ARGENTINA

1 COLÔMBIA

AT U A L I Z A Ç Õ E S P O R S E M A N A

32

IDIOMAS USADOS

INGLÊS

É O MAIS C O M U M : 1 9 PA Í S E S

NEM O MÍNIMO

15 PAÍSES

Governantes que notificaram que a mensagem foi ao menos recebida. Poucos responderam de fato. 1 2 3 4 5

HOLANDA REINO UNIDO

24 PT

SUÉCIA AUSTR ÁLIA BÉLGICA

6

COSTA DO MARFIM

7

AR ÁBIA SAUDITA

8

BR ASIL

9

CAMARÕES

10 COLÔMBIA

Redigiram mensagens personalizadas agradecendo, mas não quiseram responder.

12 PT

Mensagem padrão de agradecimento, dizendo que retornariam. Mas sumiram.

11 FR ANÇA 12 KUWAIT 13 NOVA ZEL ÂNDIA 14 OMÃ

11 PT

Confirmação de recebimento padrão, agradecendo a mensagem.

48

modo de envio nos siTes do poder execuTivo

50

VIA FORMULÁRIO FA L E C O N O S C O

40

VIA E-MAIL

10

7,5 PT

Não confirmou recebimento. Mas agradeceu o convite 34 dias depois.

FA L H A NO ENVIO

3. Pontuação

F O R A M AVA L I A D O S :

SUPER / DEZEMBRO 2014

Muitos posts, poucas respostas

HOLANDA E SUÉCIA são discretos nas redes sociais, mas demonstraram mais atenção quando foram contatados.

11 PAÍSES

Eles não informam que a mensagem foi recebida.

É impossível falar com eles na internet. 41 ESLOVÁQUIA

66 MÉ XICO

42 ESLOVÊNIA

67 NIGÉRIA

18 ANGOL A

4 3 ESTADOS UNIDOS

68 NORUEGA

19 ARGÉLIA

4 4 ETIÓPIA

69 PANAMÁ

45 FILIPINAS

70 POLÔNIA

46 FINL ÂNDIA

7 1 PORTUGAL

47 GANA

72 QUÊNIA

48 GRÉCIA

73 REPÚBLICA

24 BEL ARUS

49 HUNGRIA

25 BOLÍVIA

50 IÊMEN

26 BULGÁRIA

51 ÍNDIA

28 CATAR

33 COREIA DO SUL

58 JAPÃO

82 TRINIDAD E TOBAGO

59 JORDÂNIA 60 LETÔNIA

95 UCR ÂNIA 96 ARGENTINA 97 PAQUISTÃO 98 PAR AGUAI

80 TAIL ÂNDIA 81 TANZ ÂNIA

34 CROÁCIA

91 ESTÔNIA 93 PERU 94 REPÚBLICA TCHECA

99 VIETNÃ

78 SUDÃO 79 SUÍÇA

56 ISR AEL 57 ITÁLIA

35 CUBA

Erro no envio da mensagem e impossibilidade de outra forma de contato.

74 ROMÊNIA 76 SÉRVIA 7 7 SRI L ANK A

5 4 IR AQUE 5 5 IRL ANDA

36 DINAMARCA

-5 PT

89 CA Z AQUISTÃO 90 COSTA RICA

75 RÚSSIA

52 INDONÉSIA 5 3 IR Ã

29 CHILE 31 CHIPRE 32 CINGAPUR A

37 EGITO

Sem formulário Fale Conosco, e-mail ou telefone no site e nas redes.

DOMINICANA

30 CHINA

38 EL SALVADOR

-2 PT

92 GUATEMAL A

20 ÁUSTRIA 2 1 A ZERBAIDJÃO 22 BANGL ADESH 23 BAREIN

O único e-mail no site da presidência é do webmaster.

83 TUNÍSIA 84 TURCOMENISTÃO

61 LÍBANO

85 TURQUIA

62 LITUÂNIA

86 URUGUAI

63 LUXEMBURGO

87 UZBEQUISTÃO

39 EMIR ADOS ÁR ABES UNIDOS

6 4 MAL ÁSIA

88 VENEZUEL A

40 EQUADOR

65 MARROCOS

0 PT

a notificação de recebimento da mensagem; b respostas; c tempo entre o envio e o recebimento das respostas.

TRAGÉDIA

73 PAÍSES 16 ÁFRICA DO SUL 17 ALEMANHA

27 CANADÁ

15 ESPANHA

envio (horário de Brasília)

Para testar a acessibilidade de cada um dos cem governantes, a SUPER criou um ranking inédito. Mandamos a mesma mensagem, ao mesmo tempo, para todos eles. Veja quem respondeu.

O único governo que respondeu por e-mail e retornou ligações, interessado no ranking. Mas, por questões de agenda, o primeiro-ministro Mark Rutte não pôde nos atender.

15 PT

P R I M E I R O : Nova Zelândia (18h, 10/11) Ú LT I M O S : México e El Salvador (12h, 11/11)

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20

APENAS OK

1. Mensagem

R E D I G I M O S O M E S M O T E X T O para os cem governos avaliados, na língua oficial de cada um. Ele explicava o ranking e fazia uma única pergunta: “qual a importância de um governante ser acessível?”, que podia ser respondida da forma como o governo quisesse (tuíte, via Skype ou um e-mail padrão, por exemplo).

A MENSAGEM FOI ENVIADA ÀS 9H (horário local) em um dia que não foi feriado em nenhum dos cem países: 11 de agosto. Por conta dos fusos horários, o período de envio durou 18 horas ininterruptas.

ÍNDIA Empossado em maio, Narendra Modi reativou os perfis do governo, abandonados pelo antecessor.

NARENDR A MODI (FACEBOOK, 2/10) P O S T O U U M A F O T O S U A VA R R E N D O A R U A PA R A D I V U L G A R U M A C A M PA N H A Q U E C O N V I D A “ 1 B I L H Ã O D E I N D I A N O S PA R A C R I A R U M A Í N D I A L I M PA” . F O I O P O S T D E POLÍTICO MAIS POPULAR DO ANO: 2,4 MILHÕES DE C U R T I D A S E 1 4 1 M I L C O M PA R T I L H A M E N T O S .

denta ostenta fotos com a área VIP do mundo, do papa Francisco a Fidel Castro.

COMO FOI FEITO

2. Disparo CAMARÕES O presidente Paul Biya está ativo no Facebook desde a eleição de 2011. Caso raro para alguém no poder há 32 anos.

HOJE, EU INTEGREI A CAMPANHA POR UMA ÍNDIA LIMPA.”

DESTAQUE I N S TA G R A M Cristina Kirchner A presi-

1º RANKING SUPER

muda a postura de governos na internet.

e apostam em vídeos, conteúdo multimídia e infográficos.

DESTAQUE L I N K E D I N David Cameron Que tal

EDIÇÃO Felipe van Deursen DESIGN Flávio Pessoa R E P O R TA G E M Renata Miranda, Carol Castro, Nathan Fernandes, Roberto Maxwell, Sasha Yakovleva, Kamila El Hage e Felipe van Deursen ILUSTRAÇÃO Gabriela Namie e Jun Ioneda

ELEITOREIROS A proximidade de eleições (e o resultado)

POTÊNCIAS DIGITAIS Eles têm muitos perfis oficiais com milhões de seguidores

DE ACESSIBILIDADE PRESIDENCIAL

GOVERNOS QUE LEVAM REDES SOCIAIS A SÉRIO.

Ao longo de seis meses, a SUPER seguiu nas redes sociais os governantes dos cem países mais ricos do mundo. Acompanhamos presidentes, primeiros-ministros, reis, xeques e afins para fazer um levantamento inédito sobre como é a relação de cada governo com as mídias sociais. Entre prestações de contas, campanhas eleitorais, muita propaganda, micos e algumas selfies, veja o que esses líderes andam postando.

QUEM USA MAIS?

tiveram eleições em 2014.

QUANTOS LIKES ESSE PRESIDENTE MERECE?

86

Carlos Grillo, Marcus Steinmeyer, Rafael Costa, Rodrigo Brancatelli, Thiago Cianga Tanji e Wagner Rodrigues

100 SÍRIA

Único sem site nem rede social, não pontuou.

Se você fosse cidadão desses países, ficaria no vácuo ao escrever para o governante.

G O V E R N O S L AT I N O -A M E R I C A N O S sabem que o povo adora uma rede social, então investem pesado. Mas são pouco acessíveis.

O governo do B R A S I L é o maioral no uso de redes sociais. Mas não conseguimos uma resposta da presidenta no site do Planalto.

Fontes Andrew Ledford, pesquisador do Departamento de Sociologia da Universidade Princeton (EUA); Jan Nolin, especialista em redes sociais e professor da Universidade de Borås (Suécia); Joseph Kahne, professor da Mills College (EUA) e pesquisador de política participatória da Fundação MacArthur; Nuno Coimbra Mesquita, pesquisador da USP e membro do Research Committee de Comunicação Política (RC22) da Associação Internacional de Ciência Política (IPSA); Sérgio Praça, professor de Políticas Públicas da UFABC

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Potências como E U A , FRANÇA E REINO UNID O estão em muitas redes, mas os sites do governo têm pouca abertura para comunicação.

SUPER / DEZEMBRO 2014

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matéria completa

COMPORTAMENTO e CONSUMO

PRÊMIO

COMPORTAMENTO

Entramos de cabeça dentro do espelho e da vida da L.F., 16 anos, para entender o que pensa, o que sente e o que enxerga uma garota com anorexia Texto Mariana Araújo Design Miro Branco

Q

uando a minha mãe chega e faz o jantar, a Ana faz meu prato, me diz o quanto posso e se posso comer.” Talvez você conheça a Ana, a melhor amiga da L. Ou, pelo menos, já tenha ouvido falar dela. Em alemão, é conhecida por Pubertaetsmagersucht, “a busca da magreza por adolescentes”, um desejo tão frequente e familiar para qualquer garota. Não é? Prazer, ela é a anorexia nervosa, uma doença letal em até 20% dos casos. Não, o que mata não engorda. Como repórter de comportamento, vejo o tempo todo relatos preocupantes de garotas que lutam contra o próprio peso, negam o próprio corpo e têm dificuldade de se amar e serem amadas. O bullying acompanha a maior parte delas. E, influenciadas pelo padrão estético da moda, as redes sociais, com suas fotos, seus blogs e seus programas capazes de alterar completamente a imagem, colocam uma lupa gigante sobre problemas que,

FORA DE 68 CAPRICHO

às vezes, não existem. E, do distúrbio de imagem, nascem distúrbios alimentares, como a anorexia e a bulimia. Mas não é qualquer garota que se torna anoréxica só por causa do que vê e ouve por aí. Geralmente, a doença surge em meninas que já têm predisposição genética para o problema. Aí, sim, o gatilho vem com bullying, uma rotina familiar turbulenta, um comentário maldoso de um colega. Os padrões estéticos também reforçam a neura. Um exemplo? A L., lá do começo, acha a Lorde gorda! Não importa o quanto emagreça, a garota continua enxergando gordura onde não tem. O índice de massa corpórea cai bruscamente, para menos que 17 (o IMC, que equivale ao pe so dividido pela altura ao quadrado, em garotas normais, varia de 19 a 24). Perigoso. O corpo todo fica carente de nutrientes básicos, e a saúde é colocada em alto risco. Difícil entender a cabeça de alguém que tem ossos aparentes e quer emagrecer ainda mais. Era esse um dos objetivos desta reportagem.

Foi assim que cheguei até a L.. Ela se olha no espelho todos os dias. Várias vezes por dia. E, apesar dos 45,5 kg cravados que pesa (em 1,57 m), enxerga um reflexo imenso e ameaçador. “Não gosto de nenhuma parte do meu corpo, e odeio ainda mais as coxas e a barriga.” Uma anoréxica não come. A bulímica quase nunca é supermagra, mas compensa surtos de comilança forçando o vômito, tomando laxantes, malhando sem parar... A diferença é que ela tem consciência do erro, mas insiste nele por perceber que funciona. Os dois transtornos podem andar juntos. A anoréxica faz de tudo para livrarse do pouco que come. Você deve estar pensando: o que isso tem a ver comigo? Com sorte, nada. Mas, se prestar atenção na história da L., talvez a reconheça em alguém próximo. Importante saber que, sem intervenção (tipo contar tudo pros pais dela), a garota com distúrbio alimentar dificilmente encontra o caminho de volta. Perder a amiga por um tempo dói menos que perdê-la para sempre.

COmO tudO cOmEçOu A L. é uma garota como eu, como você. Determinada, até. Ela lê muito, escreve, estuda. Tem desejos, sonhos. O maior era o de brilhar nos editoriais de moda. “Começou quatro anos atrás. Minha mãe falava que eu poderia ser modelo, mas algumas amigas diziam que eu estava gorda e não conseguiria. Então, fui parando de comer. A gente sempre acha que tem algo acima do limite, mas quando outra pessoa fala, parece que aqueles quilinhos a mais resolvem ficar mais visíveis. Aí começamos a acreditar e a ver isso também.” Não é que as amigas da L. sejam as responsáveis por tudo o que você vai ler a seguir. Mas, para quem já é ou está fragilizada, a menor faísca provoca um incêndio. A perda de referencial do que é gordo ou magro fez a L. trocar os livros pelos blogs de outras garotas “experts”

FOCO

na Ana. “Comecei a ler os pró-Ana e Mia (bulimia). Procurava dicas ou conselhos sobre os regimes, mas, agora que já sei tudo, parei um pouco. É sempre a mesma coisa. De vez em quando, procuro um novo pra ver se tem alguma novidade.” Os blogs não são só um tutorial do emagrecimento rápido e certeiro. A esse ponto, a L. já tinha uma autoestima zeradíssima, detestava e não aceitava o próprio corpo. E aí as meninas de outros blogs se tornavam também uma rede de apoio e empoderamento, já que ela não encontrava mais isso na galera ou na família. “Eu falava só com uma amiga, especificamente. Mas ela queria me obrigar a comer e dizia: ‘Se você não comer, não como’. Eu acabava comendo, mas depois compensava vomitando ou tomando lax (laxante)... Aí, para evitar mais brigas desnecessárias, parei de falar.”

“Os elogios só aumentaram depois que eu comecei a emagrecer. Mas minha menstruação atrasa meses e meus cabelos e minhas unhas andam caindo.” CAPRICHO 69

uma mOrdida “Até atingi o peso esperado, mas não posso mais ser modelo. É que tenho cicatrizes por causa de outros problemas de uns dois anos depois, quando criei um Tumblr e comecei a seguir uma menina que postava coisas sobre cutting (se cortar). Ela dizia que ‘aliviava’ a dor. Eu estava me sentindo incompetente, feia, gorda. Aí decidi ver se ajudava. Quando me corto, por um momento, parece que só existe eu no mundo e está tudo resolvido. Mas depois volta tudo com mais força.” Criar rituais para a refeição é uma forma para lidar com a culpa. Tanto é que o dia da L. gira em torno da Ana. De como escondê-la dos outros. De como ceder a ela. “Se não atinjo uma meta em relação ao meu peso, se como quando não deveria

Como dizia, entre as meninas que criam esse relacionamento com a Ana, rola uma união. Elas dão força uma às outras para continuar se controlando. Para experimentar o êxtase da sensação de poder sobre o próprio corpo. “No começo, após dias de NF (no food), eu tinha alguns surtos de comer sem parar. Não pensava, só queria comer até explodir. Eu sentia muita fome. Mas depois aprendi a me controlar. Fico sem comer o máximo que conseguir. Ou até alguém me obrigar.” “Quando minha mãe começou a desconfiar e me obrigar a comer, tive que achar uma forma de comer e não engordar. Então comecei a vomitar três ou quatro vezes por dia, dois meses depois do início dos meus regimes. Me sentia um lixo. Eu tinha nojo de vomitar e depois vi isso como minha única saída. Nessa época, também vieram os laxantes. Ninguém nunca achou nada nas minhas coisas. Peço a grana pra minha mãe como se eu fosse comprar outra coisa, algo pra escola e vou sozinha na farmácia. É isso ou fico gorda.

Um dia na vida da L. “Hoje já me controlo melhor. Acordo de manhã e me peso. Tenho uma balança do lado da minha cama. Minha mãe reclamou um pouco quando eu a coloquei lá, disse que não tinha razão pra ter uma balança ao lado da cama. Sei que ela nota minha perda de peso, mas só faz piadinhas, diz que prefere ser gorda do que parecer um palito. Não ligo. Me olho no espelho, saio do quarto e me concentro na tevê pra não pensar em comer no café da manhã. Não me sinto mal porque eu ocupo a mente. Depois, vou para a escola. Na hora do almoço, eu tomo água pra enganar o estômago e me peso de novo. Passo a tarde vendo tevê ou lendo pra não comer e, toda vez que sinto fome ou vontade de comer, a Ana me lembra que não posso porque não tô no peso certo. Sinto vontade de comer, quero comer, mas tenho nojo, olho pra comida e imagino aquilo dentro de mim, me imagino gorda... Sinto nojo quando vejo outras pessoas comendo. Comida

70 CAPRICHO

Fora de foco

Mariana Alves e Miro Branco CAPRICHO / julho de 2014

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disse pra ela que era uma crise de gastrite e ela não tocou mais no assunto.” O silêncio da mãe e elogios de outros reforçam a determinação em enfrentar qualquer dor para continuar emagrecendo. Afinal, se a gente perde uns quilinhos, as amigas não morrem para saber qual é o milagre? Pois é. No caso da L., ela corre o risco de morrer mesmo só para ouvir isso. “Sinto muita tontura. Agora, desmaiar só aconteceu uma vez. Estava vomitando e não tinha comido quase nada. Mas vale a pena. Desde que os regimes começaram, já ouvi que estou com o corpo perfeito, que estou linda assim e não preciso emagrecer mais. Mas não é vontade, é necessidade. Só não considero um problema o que me deixa bem comigo mesma.”

Já tEntEi parar!

“Durante um ano, tentei ser ‘normal’ de novo. Eu queria ser como as outras meninas, sabe? Poder sair sem calcular as calorias que eu posso comer. Ser normal como as outras sem me importar com meu peso ou com o tamanho das minhas roupas. Mas parei de comer de novo porque voltei a engordar. Toda vez que ia me pesar e via 52 ou 54 kg, eu surtava.” O maior peso nesse caso é o da exclusão. A L. perdeu toda a vida social para a Ana. E até tentou voltar atrás. Mas, para o cérebro dela, se recusar a comer é

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

engorda e gordura é nojento. Quando como, sempre como antes de todo mundo, pra evitar que me olhem ou algo do tipo, e como pouco, quase nada. Geralmente, passo o dia sozinha em casa porque minha mãe trabalha. Meu único problema é a hora de jantar. Tenho que comer, mas espero ela terminar e se concentrar em outras coisas para ir tomar banho. Ligo o chuveiro pra abafar o barulho, pego minha escova de dentes e forço o vômito. Às vezes, uso dois dedos. Chega a sangrar minha garganta, doi, fico rouca. Mas vale a pena. Ou então, tomo uns comprimidos de lax. Depois de vomitar, sempre espero uns 15 minutos e escovo os dentes, já que não posso escovar assim que vomito, logo de cara. É que tem um ácido no estômago que corroi o esmalte dos dentes e piora se eu escovar logo de cara. Se eu vacilo e me escutam, falo que é uma crise de gastrite. Aí me peso e vejo se vou poder comer no outro dia.”

um vício. É como se ela fumasse, ela não tem controle sobre essa vontade. “Se eu não tiver fazendo NF, que é passar o dia sem comer, toda vez que me alimentar, vou forçar o vômito. Acho que a lembrança mais forte que tenho foi quando voltei a engordar e todos falavam “nossa, você tá mais cheinha”, “deu uma engordada boa, hein” e eu entrei em desespero. Comecei a me ver como uma bola. E isso foi pesado pra mim porque eu queria comer normalmente, mas não queria engordar. Então, perdi 12 kg.”

Um EstilO dE vida?

Fotos Getty Images (abre) e Corbis

“É que tenho 1,57 m e preciso pesar 40 kg ou menos. É o meu padrão perfeito. Eu estabeleci. Sei que vou ser dependente do regime para sempre.”

comer, preciso de uma forma de me punir que não seja forçar o vômito. Preciso de algo que cause dor, como cortes ou um elástico no pulso. Toda vez que sentia que ia passar dos limites, puxava-o e soltava até ficar roxo e ferir. Aprendi a suportar a dor. E sinto muito prazer quando deixo de comer, me sinto mais forte.” Não foi só a rotina da L. que se reorganizou totalmente em torno da Ana, mas o organismo também. É muito comum em quem vomita muito que o estômago não consiga mais segurar o pouco que tem. “Minha mãe desconfiou uma vez quando cheguei a passar mal. Eu estava tão viciada em comer e vomitar que, até quando não ‘queria’, acabava vomitando. Meu organismo rejeitava a comida. Mas eu

Apesar de tudo, a vida da L. é mais comum do que você imagina. Ela vai para a escola e, aonde vai, leva a Ana com ela. Quando a encontrei, ela fazia parte de um grupo no Face que ajudava outras garotas a recuperar a autoestima. “Algumas meninas querem parar e postam que precisam de ajuda, então me ofereço pra ouvi-las e dar força. Tento convencê-las de que são lindas do jeito que são. Independentemente do peso delas ou qualquer outra coisa. Escolher esse tipo de vida pode trazer consequências que elas não estão prontas pra enfrentar. Eu não aconselho ninguém a continuar com a Ana. Eu, por exemplo, já acostumei, virei dependente e sei lidar com as minhas escolhas. Mas tento fazê-las parar porque,

de certa forma, isso destrói a vida da gente e pode se tornar uma loucura se você não conseguir controlar.” Não que a L. ache que tem transtorno alimentar. “Não tenho. É um estilo de vida pra mim. Acho que tudo depende do ponto de vista. Pra mim, não é um problema. Para meus amigos, sim. Eles acham que isso vai me matar. Mas acredito que nunca tive problema de saúde por isso. Tenho gastrite, mas não acho que seja resultado da Ana.” Cheia da certeza de que está saudável e certa, ela esconde os sinais da própria doença. Por isso, se afasta cada vez mais do mundo e cria um só para ela. “Se alguém descobre, fala que você é louca e doente. Você perde amigos, perde sua vida social.” Se fosse só isso que ela pode perder...

“Não acredito que eu seja bonita para outra pessoa. Eu realmente não me acho bonita e soa como mentira quando dizem que sou. Eu sei a verdade. Se eu fosse mais magra, ainda não seria bonita, mas seria magra. Já bastaria pra mim.”

Quem deu as informações Claudia Cozer, coordenadora do Núcleo de Obesidade e Transtornos Alimentares do Hospital Sírio Libanês, e Fábio Salzano, vice-coordenador do Programa de Transtornos Alimentares do IPq-USP. CAPRICHO 71

O que enxerga no espelho uma garota com distúrbio de imagem, como a anorexia ou a bulimia? Partindo dessa premissa, a repórter constrói o perfil de uma adolescente aprisionada por seus medos e delírios. CAPRICHO ajuda a leitora a compreender o problema e a buscar ajuda.


destaques

polêmica

polêmica

J uSTO agora?

a sociedade espera que a mulher abra mão de seus sonhos. eu não queria isso.

“nunca imaginei que fosse engravidar sem planejar, não com 34 anos. eu tinha preconceito, pensava: ninguém fica

grávida sem querer. até que aconteceu comigo. Quando descobri, estava completamente dentro das condições que as pessoas esperam para se querer um bebê. tinha um relacionamento estável: sou casada há sete anos, não temos filhos, e desejamos ter. mas só faltava um ano para terminar minha tese de doutorado e realizar um sonho, um plano que eu tracei para mim ainda na adolescência: seguir carreira acadêmica. havia parado a pílula dois anos antes, porque sou fumante e quis reduzir o risco de uma trombose. eu e meu marido controlávamos as relações na base da tabelinha e nem sempre usávamos preservativo. foi nesse negócio de começar a transa sem camisinha e colocar depois que acabou acontecendo. como a minha menstruação era muito regulada, nem esperei completar uma semana de atraso para fazer o teste de farmácia. Quando vi os dois tracinhos de ‘Positivo’, desabei em choro. assim que meu marido chegou em casa, contei. essa conversa foi fundamental para mim. ele me apoiou e disse que a decisão era minha. antes, já tínhamos conversado sobre adiar os planos de ter filhos. ele defendeu doutorado no ano passado, e vi o trabalho que dava, as noites em claro… as pessoas sempre dizem que você dá conta. mas fiz o cálculo: o parto seria bem no período de entrega da tese. e uma gestação tem uma rotina própria muito trabalhosa. É uma exigência de tempo e dedicação que seria impossível nesta fase. acho que a sociedade sempre espera que as mulheres abram mão de seus sonhos. mas eu não queria fazer isso. comecei a procurar uma clínica de aborto. Não quis recorrer a um remédio — uma amiga médica me explicou que não dá para saber se vão te vender a pílula verdadeira, pois você tem que comprar no mercado negro. e pode não dar certo, ter efeitos colaterais, causar hemorragia... eu tinha pânico de ir parar no hospital e ser denunciada. Perguntando para amigas, cheguei a uma clínica bem recomendada. o ginecologista me explicou o procedimento: como era bem no início, faria uma aspiração, com uma anestesia por inalação. Paguei 3 500 reais. entre o teste de farmácia e o aborto, se passaram dez dias. dez dias desesperadores. eu tive muito medo de chegar à clínica e ela ter péssimas condições. depois, fiquei com receio de uma batida policial. meu marido foi comigo no dia marcado. uma enfermeira me deu um daqueles aventais para eu me trocar e, em seguida, o médico me chamou. abracei meu marido antes de ir — e chorei. estava apavorada, com medo de ficar estéril, de sentir muita dor... a enfermeira se aproximou e disse baixinho: ‘Não chora, porque, se o doutor te vir chorando, não faz’. segundo ela, aquele médico só realiza o aborto se tiver certeza de que a pessoa está consciente da decisão. enxuguei os olhos e fui. Não vi nada acontecer. Passei o mês seguinte apreensiva, não sabia se tinha dado certo, até a minha menstruação vir. mas a questão física, no meu caso, foi menor. Psicologicamente, foi bem mais traumático. mesmo assim, hoje considero uma das decisões mais acertadas que já tomei na minha vida. eu não poderia levar as duas coisas ao mesmo tempo. teria que abandonar uma — e seria o doutorado. e eu não conseguiria criar o bebê sem passar para ele essa culpa.”

o aborto clandestino parece um problema distante — até que sua amiga precisa dele. sua irmã. você. acredite: a cada ano, 1 milhão de mulheres, com um perfil muito parecido com o seu, recorrem ao procedimento ilegal, apesar do risco de morte. veja por que você tem que se informar sobre o assunto — passe ou não pela sua cabeça a hipótese de um dia interromper uma gravidez e diç ão j ul i an a d i niz reportagem isa bela n o ro nha

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foto Nicolas haNseN/GettY imaGes, iaN hootoN/ GettY imaGes (mão seGuraNdo teste de Gravidez)

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das mulheres que vivem nas cidades brasileiras já realizaram um aborto*

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ocê acaba de receber uma megapromoção no trabalho e, no próximo ano, vai precisar de foco total para provar que é merecedora da confiança da empresa. Ou está juntando dinheiro para dar entrada no financiamento. Ou ainda: acabou de ser chamada à sala da chefe e ela disse que sua sonhada transferência para uma filial da empresa no exterior saiu. Música para os seus ouvidos. Mas há uma nota dissonante. Sua menstruação está atrasada e você anda se sentindo cansada, esquisita. Depois de uma rápida pesquisa na internet, a desconfiança que um simples teste de farmácia pode eliminar. Você compra, faz. E descobre: existe mais alguém que deve ser considerado nos seus planos. E que talvez seja motivo suficiente para você abrir mão deles.

O que vOcê faria?

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delas estavam em uma relação estável

Abandonaria seu sonho para levar adiante a gravidez inesperada ou adiaria a ideia de ser mãe (que até passa pela sua cabeça, mas não agora) para seguir com seu projeto de vida? Neste exato momento, milhares de mulheres no país tentam tomar essa decisão. E grande parcela vai optar pelo aborto: as estimativas apontam 1 milhão de procedimentos por ano no Brasil. Segundo a Pesquisa Nacional sobre o Aborto, uma em cada cinco brasileiras com até 40 anos já interrompeu a gravidez. E, para grande parte, a escolha não tem a ver com necessidade financeira ou emocional — elas não engravidaram na adolescência ou de um cara porcaria. “As mulheres que fazem aborto são comuns: de todas as classes sociais, muitas vezes casadas e com religião”, diz

Nova.com.br | Novembro 2014

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maria fernanda, 34 anos, professora universitária, são paulo (sp)

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a professora da Universidade de Brasília Débora Diniz, coordenadora da pesquisa, realizada em 2010, considerada a mais completa já feita no país. Elas até poderiam bancar ter um filho. Apenas não desejam isso agora.

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tendo a procedimentos perigosos”, afirma o médico Osmar Colás, responsável pelo Programa de Violência Sexual e Aborto Previsto em Lei, da Unifesp. Na falta de orientação especializada, muitas mulheres contam com a indicação de amigas para encontrar uma clínica ilegal. Outras, no desespero, acabam decidindo sozinhas e se expõem ao risco de esterilidade, infeção, hemorragia, perfuração do útero e até morte. Para tentar diminuir essa probabilidade, Colás não nega informação às pacientes que chegam ao consultório em busca de ajuda. “Não vou fazer o aborto. Mas é meu dever profissional orientá-la para escolher o método mais seguro. Peço a ela para refletir. Digo que, depois do aborto, poderá se sentir aliviada, mas não se sentirá feliz. Mas, se está decidida, pergunto no que está pensando e dou uma orientação para diminuir os danos. Peço também que volte após o aborto ou vá a um hospital humanizado, preparado para recebê-la”, diz o médico.

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delas fizeram seu último (ou único) aborto entre os 18 e 29 anos, mas, principalmente, entre os 20 e 24 anos

TãO lOnge, TãO perTO Embora tanta gente faça, aborto não é o tipo de assunto que se leva à mesa do bar ou se comenta fora do círculo de confiança das amigas mais íntimas. Ainda é tabu. Mesmo quem consegue fazer o procedimento com sucesso, carrega algum tipo de trauma — por ter contrariado seus valores morais, por ter dúvidas sobre a decisão ou por ter sentido na pele o que é estar fora da lei. O aborto só é permitido no Brasil se a gravidez for fruto de estupro, se colocar a vida da mãe em risco ou se o feto for anencéfalo. Em todos os outros casos, é ilegal. A mulher pode ser denunciada e, se condenada, pegar de um a três anos de prisão. A pessoa que a ajudar (médico, enfermeira, curandeiro...) pega até quatro anos. Por isso, é difícil conseguir uma indicação de um profissional qualificado e ajuda em caso de complicações. É aí que começa o perigo. Só nos últimos meses, duas mortes de mulheres que tentavam interromper a gravidez em clínicas clandestinas ganharam os jornais e mostraram que a lei em vigor não bate nem um pouco com a realidade. Jandira Cruz, 27 anos, desapareceu no fim de julho após sair de casa, no Rio de Janeiro, para fazer um aborto. Seu corpo foi encontrado carbonizado dias depois — ela teve complicações durante o procedimento. Em setembro, Elizângela Barbosa, 32 anos, foi vítima de um sangramento provocado por um aborto malfeito, em Niterói (RJ). Essas mortes teriam sido evitadas se as mulheres tivessem recebido assistência. “A maioria dos ginecologistas conhece uma clínica de alto padrão de aborto clandestino. Mas, por medo das críticas, muitos deles deixam as pacientes ao léu e elas acabam se subme-

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das mulheres que optaram pelo aborto utilizaram algum tipo de medicamento para induzi-lo

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caminhO SOliTáriO Quem não conta com essas informações está mais propensa a entrar em uma triste estatística: por ano, 250 mil mulheres são internadas após um aborto ilegal, realizado por profissionais despreparados, em lugares sem o mínimo necessário de higiene e cuidado. Em uma megaoperação contra a máfia do aborto, em outubro, a polícia prendeu uma quadrilha que faturava mais de 2 milhões com clínicas clandestinas, onde aparelhos usados nas cirurgias foram encontrados ensanguentados, todos juntos, acondicionados dentro de uma máquina de lavar, e ainda havia caixas de sedativos com prazo de validade vencido. Tudo isso coloca o aborto inseguro como a quinta maior causa de mortalidade materna no Brasil. “Ser crime não diminui o número dessas ocorrências. Na verdade, só tem gerado um efeito colateral perverso: provocar a esterilidade ou a morte de mulheres em procedimentos inseguros”, afirma Juliana Belloque, defensora pública do estado de São Paulo e membro do Comitê Latino-Americano e do Caribe de Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem). Há quem sustente que a descriminalização causaria a banalização do aborto, pois ele passaria a ser usado como método contraceptivo. “É um argumento machista, porque considera as mulheres irresponsáveis. O preservativo pode romper, e o anticoncepcional, falhar. E ninguém faz aborto assobiando”, diz o ginecologista Thomaz Gollop, coordenador do Grupo de Estudos sobre o Aborto, que reúne especialistas para discutir o tema. No Uruguai, onde a prática deixou de ser crime no fim de 2012, os dados reforçam a opinião do médico. No ano seguinte à lei, segundo o governo, não houve mais mortes causadas por aborto. E o número drealizado também caiu significativamente: de 33 000 por ano para 6 700. São sinais de que trazer o aborto para debate amplia também a discussão sobre métodos anticoncepcionais e planejamento familiar.

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precisaram ser internadas após o procedimento

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Justo agora?

Cristina Naumovs, Isabela Noronha, Juliana Diniz e Lorena Nobrega NOVA / novembro de 2014

aDRoGA NeRÐ

INOVAÇÃO

COM A PROMESSA DE TORNAR QUEM TOMA MAIS INTELIGENTE E PRODUTIVO, O MODAFINIL É A DROGA DOS EMPREENDEDORES DO VALE DO SILÍCIO. MAS É POSSÍVEL SER CRIATIVO E EFICIENTE COM UM COMPRIMIDO? E, SE FOR, QUAL O LIMITE DO DOPING INTELECTUAL?

≥ POR RODRIGO BRANCATELLI ≥ FOTO THOMAS SUSEMIHL

H

á um segredo e n t r e os empreendedores e funcionários de empresas de tecnologia do Vale do Silício que passam horas e horas acordados, criando centenas de linhas de programação. Não tem nada a ver com organização, perseverança, sorte ou qualquer outra dica de sucesso publicada em livros de autoajuda. O segredo é ovalado, branco, pesa de 100 a 200 miligramas e custa tão pouco quanto um café pequeno no Starbucks, ou cerca de 5 dólares. Se há algo em comum entre as quase 500 companhias da região,

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“MEU CÉREBRO TRAVOU EM UMA TAREFA, SEM DIVAGAÇÕES OU DISTRAÇÕES. NÃO VIREI O EINSTEIN, MAS CONSEGUI MEU MELHOR DESEMPENHO”

as aulas da Universidade Stanford e as do Massachusetts Institute of Technology (MIT), as reuniões de gigantes como Facebook e Twitter e as madrugadas insones dos programadores de startups, essa coincidência é um pequeno comprimido de modafinil, a droga que move o maior polo de empreendedorismo digital do mundo. “Dois meses depois que cheguei para estudar e trabalhar na Califórnia, me ofereceram uma pílula dessas. Chamam de ‘smart drug’, uma espécie de Viagra para o cérebro. Óbvio que achei que era mentira e também fiquei com receio de aumentar a pressão, dar taquicardia. Mas aí vi que todo mundo daqui tomava para trabalhar sem cansaço. Até meus professores tomavam. Tinha gente que colocava o remédio para dissolver em um copo de Mountain Dew (um refrigerante cítrico) e tomava o dia inteiro. Então experimentei. E, para ser sincero, mudou meu rendimento.”

O brasileiro Fábio, que aceitou contar sua experiência para esta reportagem, é estudante do MIT, trabalha em um laboratório dentro da universidade, em Boston, e faz estágio não remunerado em uma empresa de mídia social. Acorda às 6 horas da manhã e vai dormir sempre depois da meianoite. Come mal, não faz exercícios e, claro, dorme muito menos do que o recomendável. Tinha uma rotina estafante, pelo menos até ser apresentado ao modafinil, droga comercializada apenas com receita médica desde 1998 e criada para o tratamento de pacientes com narcolepsia, mas que também passou a ser utilizada por um número cada vez maior de pessoas em busca de uma suposta melhora cognitiva.

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De acordo com um estudo da Universidade da Califórnia publicado na revista da Associação Médica Americana, a quantidade de usuários da droga aumentou cerca de dez vezes nos últimos seis anos. De 500 000 a 700 000 pessoas tomam o medicamento regularmente nos Estados Unidos. “No mundo das startups, em que todos são levados a fazer mais coisas do que o dia permite, os chamados estimuladores cognitivos são muito comentados”, escreveu no site swombat.com o empreendedor inglês Daniel Tenner, diretor das empresas GrantTree e Woobius. “O modafinil é um atalho para você conseguir ser muito produtivo. Realmente acho que tive algumas ideias mais criativas e respostas que não teria sem o remédio.” Em um mundo onde todos querem vencer o sono, ser mais produtivos e acabar com a procrastinação, o modafinil ganha adeptos exponencialmente, como um Red Bull 2.0: algo supostamente inofensivo e extremamente eficaz. Nenhum estudo, no entanto, atestou até hoje como a substância age no cérebro e, pior, quais efeitos colaterais pode causar no longo prazo. Trata-se de um fenômeno com muito mais perguntas do que

respostas. É realmente possível melhorar o desempenho sem ter consequências para o organismo? É seguro trabalhar quase 20 horas sem dormir? E, afinal, se existe mesmo um comprimido que pode deixar alguém brilhante e genial, quais são as implicações éticas e morais desse doping intelectual? Vendido com o nome comercial de Provigil ou Stavigile, o modafinil é o medicamento mais recente a entrar na longa lista de substâncias utilizadas para aumentar a produtividade, como o café, o guaraná, a cocaína, as anfetaminas e a ritalina. Como todo fármaco, no entanto, foi desenvolvido com propósitos bem diferentes. A intenção de seu criador, o médico e professor francês Michel Jouvet, era encontrar uma solução para a narcolepsia, distúrbio que causa sonolência excessiva em cerca de 0,5% da população mundial. O resultado da pesquisa, realizada na década de 70, foi uma droga que estimula o sistema nervoso central, excitando áreas do cérebro responsáveis pela vigília. Ela atua cerca de 3 horas após a

ingestão e seu efeito tem duração de até 9 horas. Os benefícios são cada vez mais discutidos em fóruns online como o Reddit, mas quase nada tem a ver com a narcolepsia de fato. Os usuários falam em aumento da concentração, foco durante o dia inteiro, ausência de cansaço e fim do jet lag. “Experimentei pela primeira vez em um sábado de manhã. Tomei metade de um comprimido. Não tive nenhuma sensação diferente, não fiquei agitado, não tive palpitação, nada. Também não fiquei mais inteligente. Mas aí, do nada, percebi que já era de tarde e que fiquei direto trabalhando no computador, sem distrações, muitíssimo mais focado do que de costume. Normalmente sempre me distraio muito. Entro no Facebook, vejo um vídeo no YouTube, fico lendo o Twitter. Mas, com o modafinil, meu cérebro travou em uma tarefa, sem divagações. Era muito mais fácil lembrar a palavra certa, lembrar uma fórmula, lembrar uma citação. Achei sensacional e desde então tomo quando preciso estudar ou trabalhar de madrugada. Às vezes fico um pouco nervoso, tenho uma sensação estranha atrás do globo ocular. Mas não dá para ficar indiferente quando você completa um trabalho acadêmico de 3 000 palavras em apenas 2 horas. Não virei o Einstein, mas consegui ter meu melhor desempenho.”

nos Estados Unidos, os pacientes continuaram funcionais por até 85 horas seguidas sem dormir, e apenas 1% dos voluntários reclamou de efeitos colaterais da droga. Era de esperar, portanto, que o uso indiscriminado explodisse, principalmente em comunidades de profissionais que passam noites em claro, como programadores e empreendedores digitais. O laboratório Cephalon, que tem o registro do modafinil nos Estados Unidos, vende cerca de 600 milhões de dólares da droga por ano, o que a coloca na lista dos 30 remédios mais comercializados no país. Conseguir o medicamento não é difícil, apesar de ser vendido apenas com receita médica. Fábio, por exemplo, compra de um intermediário na própria universidade, por 5 dólares cada comprimido. Sites também prometem entregar caixas do medicamento em qualquer ponto do mundo por preços que variam de 300 a 500 reais. No Brasil, o

segundo maior consumidor mundial de remédio para déficit de atenção e hiperatividade, não é diferente. O laboratório Libbs, que comercializa a substância por aqui, recusou-se a dar informações ou entrevista sobre o assunto. Mas é só ligar em farmácias para conferir o sucesso. “Não tenho mais em estoque. Vêm poucas caixas e acabam rapidinho”, disse a atendente de uma farmácia de São Paulo, por telefone. A fama da pílula mágica, no entanto, preocupa a comunidade médica, principalmente pelo fato de que não há literatura sobre a ação do modafinil. “Falar que um medicamento é bom sem ter estudos é um absurdo completo”, afirma a médica neurofisiologista Marlene dos Santos Amendale, especializada em medici-

100 MG DE INTELIGÊNCIA COMO ATUA O MODAFINIL >> O medicamento estimula o sistema nervoso central, inibindo o sono e excitando áreas do cérebro responsáveis pela vigília. Alguns mecanismos têm sido discutidos para explicar seu efeito estimulante. Um deles seria o aumento da liberação de dopamina, neurotransmissor responsável pela sensação de prazer. O modafinil também aumentaria a quantidade de histamina, o que promoveria a vigília. >> Segundo o laboratório que comercializa a droga no Brasil, os efeitos colaterais mais comuns são dor de cabeça, náusea, nervosismo, ansiedade, insônia, dor lombar, diarreia, dispepsia, rinite e vertigem. >> Estudos recentes mostram que o medicamento também pode causar depressão, confusão, amnésia, tremor, alteração do paladar, visão anormal e retenção urinária. >> Foi criado para o tratamento da narcolepsia. Mas há estudos clínicos para analisar seu uso contra depressão e esquizofrenia.

Para cristalizar ainda mais essa aura do modafinil como “a droga da inteligência”, os usuários não aparentam sofrer consequências ou sequelas comuns a outros remédios usados para aumentar a vigília, como as anfetaminas, que podem causar problemas cardíacos, depressão e visões. Em testes clínicos no Instituto de Pesquisa do Exército Walter Reed, em Maryland,

na do sono. Segundo ela, o descanso à noite funciona como uma espécie de “zelador” do cérebro. “Cedo ou tarde, não dormir vai cobrar seu preço”, diz. A lém da questão puramente médica, há diversas questões éticas envolvidas, principalmente quando o modafinil parece ser apenas o primeiro passo de uma nova farmacologia que promete aumentar a cognição humana e melhorar a memória de pacientes com mal de Alzheimer. Os laboratórios americanos Cortex, Axonyx e Memory Pharmaceuticals, por exemplo, desenvolvem três tipos de estimulador cognitivo. Russell Grant Foster, renomado neurocientista inglês, chegou a afirmar em um artigo na revista New Scientist que estamos prestes a experimentar uma revolução sensorial. Segundo Foster, seremos capazes de usar diferentes fármacos para desligar e ligar o sono, sem consequências negativas. “Há uma corrida por remédios que nos tornem mais produtivos, mas não sabemos os efeitos para a sociedade”, diz Barbara Sahakian, professora do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Cambridge, que já publicou cerca de 300 estudos sobre farmacologia cognitiva e ética médica. Para ela, essa nova área da indústria farmacêutica é um caminho sem volta, mas que deveria ser precedida por uma série de reflexões. “Como o cérebro de um jovem reage quando mudamos o equilíbrio químico dele? Vamos tomar pílulas para ficar produtivos dia e noite? Vamos conseguir viver em uma sociedade tão competitiva assim?”, diz Barbara, sem ter qualquer tipo de solução na ponta da língua. Se nem com modafinil conseguimos responder a essas perguntas, então é bem possível que estejamos ainda longe de uma droga da inteligência perfeita.

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PRODUÇÃO PAULA GUGLIANO MAKE JULLIANA FRAGA MODELO TEODORO BAVA/L'EQUIPE AGRADECIMENTOS OTICA VENTURA, STEIN

TWITTER.COM/_INFO ILUSTRAÇÃO DENIS FREITAS

TWITTER.COM/_INFO

A droga nerd

Denis Freitas, Rafael Costa, Rodrigo Brancatelli, Thiago Bolotta e Thomas Susemihl INFO / fevereiro de 2014

COMPORTAMENTO

Mix certeiro Hora de clicar! Pense em uma cartela de cores para explorar nas combinações. Invista em acessórios poderosos para bombar peças básicas e sugira looks completos. Se ligue nas proporções: uma peça muito justa pede uma mais soltinha para acompanhar. Pesquise ideias de fotos e looks em blogs e revistas.

Tutorial sem erro A bolsa colorida é ousada e dita as cores de outras peças: o azul surge na saia arrumadinha, que complementa a T-shirt básica. Já o verde dá as caras também na sandália.

Neste look boho de paleta neutra, o short jeans com camiseta ficou chique por causa dos detalhes: o bordado, a bolsa-saco de franja e a power sandália.

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Fotos Acervo pessoal e Mariana Pekin Agradecimentos: Cholet, Missbella, Renner, Zatz, Shop 126, Espaço Fashion, Spezzato Teen, Luxottica, Cavalera e Botswana

Com estes segredos infalíveis, vai ser difícil a Fla perder o próximo passo VOCÊ VAI PRECISAR DE:

Cliques dos detalhes fazem um post com mais informação do visual

A um clique do look do dia mais despretensioso e moderninho

Texto Mariana Araújo Ilustrações Estúdio Meio Fotos Mariana Pekin Produção de objetos Fabiana Neves Beleza Camila Irala Design Débora Islas

Beauty queen

O help da Ju Costa, editora de beleza da CH, para o melhor post de beleza. EVER!

Street style

Flavia Pavanelli, 16 anos, estava ficando famosa nas redes, mas queria uma pegada profissional para seu blog. Nossa redação deu o empurrãozinho que faltava!

1, 2, 3... clique!

Nossa editora de moda, Aline Fava, ensina a fazer posts com looks legais e muita informação

A Fla não sabia como produzir a melhor foto. Mas demos uma força e aí...

Espelho dupla face com luz (R$ 75). No paraisofeminino. com.br

ERRADO O que não rolou na imagem anterior... Perspectiva: fotografar de cima para baixo aumentou muito o peito e o ombro da Fla e não mostrou bem as peças. Escolha do lugar: roupa sexy no parquinho? Salto na grama? Não combina! O mix: falamos que duas peças justas ou curtas não funcionam? Aqui, a oncinha com a saia deixou o look sexy demais e pouco moderno.

CERTO Upgrade no look do dia: Clicada de frente, ela mostra o look inteiro. De perna cruzada, ainda parece mais alta. Dê um toque pessoal na edição das peças, mesmo que tenha buscado inspiração em outro lugar. Assim você cria um diferencial. Make e cabelo são complementos. Look de dia pede produção leve. Tente poses naturais, que lembram um flagra. Duck face já era!

LUZ, CÂMERA E AÇÃO Dicas da Maqui, editora de mídias sociais da CH e videomaker da Karol Pinheiro: Grave sempre com a mesma luz. Se for de dia, é mais fácil ter um resultado bom e natural. Mas, se você costuma gravar à noite, invista em uma luminária forte. Sempre posicione a luz atrás da câmera para iluminar seu rosto todo, sem sombras. Use uma distância padrão da câmera para falar e outra, mais aproximada, para o tutorial. Grave as partes separadas, assim você não “dança” na tela. Antes de ligar a câmera, faça uma lista do que falar. Planeje! Se sua câmera não tiver foco automático, mostre o produto próximo à mão ou ao rosto para não embaçar.

E AGORA... CORTAAA! Cleber Assunção, nosso designer por trás dos vídeos da CH Week, dá os truques: Vídeos muito longos são cansativos. Estipule um limite para a versão final. E sempre assista inteiro antes de postar. Assim, se sentir que está chato, você pode cortar! Invista em toques pessoais, como os balõezinhos com comentários na tela. Não deixe os barulhos do seu ambiente no final. Coloque uma trilha mais calminha ao fundo. O YouTube disponibiliza algumas na sua ferramenta de criação. Acelerar as partes pouco importantes dão tom de humor e leveza. Crie uma abertura que tenha a ver com o visual do seu blog. Se alguém te conhecer pelo canal, pode passar lá depois.

Câmera EOS Rebel T5, Canon (R$ 2 300)

Minitripé Flexível para Máquina Fotográfica, D-Concepts (R$ 9,90). No submarino. com.br

Por lá, a Flavia conheceu a Vanessa Machado, gerente de perfumaria e maquiagem da Quem Disse, Berenice?, e o maquiador da marca Raul Melo Hora de testar os produtos da nova coleção e contar tudo no blog

DICA 1:

Tire as fotos fechadas nos detalhes que você quer mostrar, bem de pertinho. Faça legendas curtas, explicando o que você fez naquele passo.

Detalhes no Insta! Você vai parecer ligada em novidade

DICA 2:

Seja clara nas dicas e tente não cobrir nenhum movimento com a mão ou o cabelo. Mas mantenha a naturalidade dos movimentos.

Não deixe de pegar dicas certeiras com o expert para os seus posts

#COMOLIDAR ...com lançamentos por Fabi Marques, da Nova Comunicação: Entre em contato com a assessoria de imprensa, passe o seu mídia kit (veja abaixo) e demonstre interesse em saber mais daquela marca. Mas não insista. Leve um cartão com a cara (e as infos) do seu blog e os seus contatos. Se apresente ao chegar. Interaja com outras blogueiras e faça perguntas à marca sobre os produtos. Assim pode conseguir informações exclusivas! Experimente os produtos e use as redes para mostrar momentos do evento.

Ela aproveitou para aprender bastante com o Raul por lá. Tanto que ele até fez um make nela! Selfie rapidinha no espelho. #quemnuncaberenice

Dê o seu recado Conversar com as leitoras e com as marcas tem lá seus desafios, mas a gente facilita

DICA 3: Papel de parede Harmonia Floral, 10 x 0,52 m (R$ 159,90). Na Etna

A Fla acompanhou o lançamento da nova coleção da Quem Disse, Berenice?

Se errar, não fuja da situação. Aproveite a oportunidade para mostrar seu truque para consertar. Suas leitoras vão aproveitar mais. É importante mostrar os produtos e ferramentas antes de cada passo. Ah, e ouça os pedidos do seu público para makes futuros, ok?

Invista nos seus conteúdos: para manter o público que já conquistou, a Fla precisa aprofundar seus posts. Já que o blog é pessoal, ela pode dar suas opiniões sobre produtos que testou. Também deve fazer uma pesquisa ou entrevista antes de escrever para dar mais informações que a concorrência. Se ligar nas tendências de blogs gringos, por exemplo, é uma boa. Ah, e sempre ficar de olho no português, né?

84 CAPRICHO

Se relacione nas redes: fique ligada na frequência dos seus posts. No Face, a Flavia pulou todo o mês de junho. Não dá: atualize pelo menos uma vez por dia. E fique de olho também na vocação de cada rede: o Insta é legal para mostrar um pouco mais da sua vida, coisas que nem sempre vão pro blog! Já no Face, poste os links chamando para cada post. Assim, o seu perfil não fica desatualizado e você atrai mais audiência.

Com as marcas: para fazer parcerias, vender espaço no seu blog, fazer posts publicitários, você vai precisar de um mídia kit. É um arquivo que reúne uma descrição do seu blog, do público, números de acessos, seguidores nas redes e os valores que cobra para cada formato de anúncio. Não sabe quanto cobrar? A Karol Pinheiro dá um conselho: “O lance é conversar com as amigas blogueiras que estão

no mercado e fazer uma média entre os preços”. Mas a Bruna Vieira ainda faz um alerta: “Muita gente acha que o mais importante são os números (do blog), mas o que faz diferença é provar que a sua marca tem influência entre os leitores”. Por isso, mostre que rola interação por lá. No fim, coloque um e-mail de contato no blog para que interessados possam pedir o seu mídia kit.

CAPRICHO 85

Flavia veste jaqueta Calvin Klein Jeans (R$ 359), blusa Misbella (R$ 186,90), short TNG (R$ 129,90), bolsa Renner (R$ 199) e botas Espaço Fashion (R$ 645). CAPRICHO 83

CAPRICHO, reforma meu blog!

Camila Hirala, Debora Islas, Estúdio Meio, Fabiana Neves, Mariana Alves e Mariana Pekin CAPRICHO / agosto de 2014

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

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matéria completa

PRÊMIO

CULTURA e EDUCAÇÃO

Artes & Espetáculos

Especial

A voz da geração

co nectada Maior fenômeno da atual literatura para jovens, o americano John Green domina a difícil arte de se comunicar com quem vive on-line

Quase 2 milhões As vendas dos livros de John Green no Brasil A Culpa É das Estrelas

1,25 milhão

O Teorema Katherine

270 000

Cidades de Papel

280 000

Quem É Você, Alasca?

GILBERTO TADDAY

Total

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Rio de Janeiro

∑ Felipe Viana Brasil, 18

∆ Nathane Costa Negreiros, 23

João Pessoa, Paraíba

João Pessoa, Paraíba

“Leio John Green porque ele descreve como ninguém o adolescente, o que não é lá muito simples. Há ainda humor em seu texto. E os personagens em geral são nerds, o que faz com que nos identifiquemos ainda mais. Em 2012 fui até a Bienal de São Paulo para conhecer outros fãs de Green. Ficamos muito amigos. Costumo dizer que, ao acabar um romance de Green, há uma ressaca literária. Você fecha o livro, mas fica vivendo ele por muito tempo.”

“Ele é diferente dos outros escritores, é mais social e humano. Em Quem É Você, Alasca?, consigo me ver em muitas situações. O protagonista é apaixonado pela menina e ela não dá bola. Foi o que aconteceu comigo. Aprendo com os personagens: antes eu esperava as coisas acontecerem. Hoje, vou lá e faço.”

LEO CALDAS

RENANI DíALMEIDA

“John Green entende o que todo mundo pensa mas não consegue dizer. Escreve o que passa pela nossa cabeça e coloca de um jeito bonito. Seus personagens são uma inspiração para fazermos as coisas. Eles são normais, pessoas que vivem sua vida, e ao mesmo tempo têm caráter e são corajosos. Percebo que muitos livros dele não são feitos para minha idade, mas não me incomodo, porque ele descreve as situações de um jeito que não é pesado, justamente para pessoas como eu ler. É meu escritor preferido.”

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A voz da geração conectada/O primata que conta histórias Bruno Meier, Geraldo De Moura Filho, Gilberto Tadday, Jerônimo Teixeira e Marcelo Marthe VEJA / maio de 2014

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se (Curso Rápido), o escritor condensa, em exíguos dez minutos, temas amplos da história como Revolução Industrial, civilização islâmica e II Guerra Mundial. “Não acredito que a educação online poderá jamais substituir uma sala de aula”, adverte Green. Os vídeos de história serviriam, diz ele, como uma ferramenta auxiliar. O texto de CrashCourse, aliás, é elaborado por um professor chamado Raoul Meyer, que deu aulas para Green em um internato no Estado do Alabama ó matriz da escola de Quem É Você, Alasca?. Para os fãs, Green não é apenas o escritor, nem somente o sujeito que tem um canal de vídeo engraçado na internet: as duas facetas são complementares e indissociáveis. Os admiradores mais empenhados do autor foram batizados por ele de nerdfighters, algo como “guerreiros nerd”. Os nerdfighters brasileiros são bastante ativos. Já se organizaram para levar ao escritor um exemplar de Alasca com várias assinaturas de fãs e uma camisa 10 da seleção, autografada por Pelé. Green conta que fez força, mas não conseguiu disfarçar: entusiasmou-se mais com a camisa do que com o livro. E, se no Brasil só se comenta a exclusão de Robinho do time de Felipão, Green estará decepcionado por outras razões: torcedor do Liverpool, ele queria ver, na Copa do Mundo, Lucas Leiva, que joga no time inglês. O escritor já comentou, em vídeo,

ALÔ, NERDFIGHTERS Green em seu estúdio supersaturado de brinquedos: cursos de história e conversas com o irmão via YouTube

∑ Mayara Barbosa, 18

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14 DE MAIO, 2014 |

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sua admiração com o sucesso que faz no Brasil. Em conversas on-line com leitores brasileiros, Green até teve uma provinha de certa radicalização política recente. Durante as manifestações de junho de 2013, ele tentou argumentar que, sim, era justo protestar por saúde, educação, transporte – mas que os brasileiros não deveriam perder de vista o enorme avanço que a estabilidade econômica permitiu ao país nas últimas décadas. “Não era o que eles queriam ouvir. A maior parte dos jo-

∆ Dayse Mara Dantas, 24

Curitiba, Paraná

Goiânia, Goiás

“John Green é envolvente, encantador e viciante da primeira à última página. Ler suas palavras é como estar dentro da história e sentir todas as sensações dos personagens. Ele tem o dom de transformar o que tinha tudo para ser um romance-clichê em algo surpreendentemente diferente. Os romances comuns nos fazem acreditar no casal que será feliz para sempre, enquanto ele mostra que nem todos os finais são completamente felizes. Isso traz realidade para os enredos.”

“Leio Green porque sou formada em letras e aprecio quem sabe usar as palavras. Alguns fãs e eu fizemos uma surpresa para ele. Pusemos um livro seu para percorrer o Brasil. Coletamos mais de 100 assinaturas, do Sul ao Norte. Uma das meninas entregou o livro, junto com uma camiseta da seleção assinada pelo Pelé. Foi emocionante. Fizemos dois vídeos, um com a reação dele e o outro com seu depoimento.”

vens nem lembra o que é inflação. Por que ouviriam um velho conservador fazendo o elogio da estabilidade?” Green está, claro, brincando: ele não é, nem de longe, um conservador. Nos poucos comentários que faz sobre matéria abertamente política na internet, suas bandeiras — casamento gay, taxação para grandes fortunas — são próprias do Partido Democrata. Como escritor, porém, Green se declara um conservador no pleno sentido da palavra: “Minhas escolhas de estilo são tradicionais. Encontro valor nas convenções de gênero”. Em A Culpa É das Estrelas, ele só fez questão de romper com uma convenção dos romances sobre vítimas de câncer — o otimismo. Green não compra uma certa cultura da autoajuda que acredita ser profundamente americana: “É essa ideia de que uma atitude positiva faz toda a diferença, e de que se pode derrotar até o câncer com otimismo. Isso é uma ofensa às vítimas da doença”. Já comprometido a futuramente trabalhar com a Fox na produção de Cidades de Papel, Green deu palpites na versão

∑ Iris Maria F. da Costa, 21

Mateus Lima, 17 ∂

“As histórias dele não giram em torno do que acontece, mas sim do personagem. Ele comanda. Muitos acham que A Culpa É das Estrelas é sobre o câncer da Hazel. Errado. A doença é só mais uma coisa que faz parte dela, como os livros que ela lê, os filmes que ela vê ou a relação dela com Gus. Seus personagens têm um pouco de cada um de nós, com seus defeitos e qualidades.”

“Eu gostava da forma como Green e o irmão falavam um com o outro no blog, como se conversassem comigo. Tinha a sensação de que ele era meu amigo. Depois, um colega me mostrou Quem É Você, Alasca?. Eu me apaixonei de cara. Ele lida com assuntos comuns sem cair no óbvio. E sou grato a ele. Há três anos, ajudou-me numa tristeza. Lendo, eu não me sentia sozinho.”

São Gonçalo, Rio de Janeiro

final do filme baseado em seu maior best-seller (vetou, por exemplo, uma estrela cadente brega que apareceria no céu noturno que Hazel admira na cena final). A Culpa É das Estrelas resultou bastante fiel ao veio sentimental do livro, e aconselha-se aos espectadores que levem lenços ao cinema. Mas está lá também, pelo menos em parte, o humor meio mórbido com que Hazel e seu namorado, Augustus — que perdeu uma perna para o câncer ósseo — enfrentam a doença. Filme e livro são melancólicos, mas conservam a leveza e a agilidade que John Green imprime a suas aparições no YouTube. “Pessimismo não é a resposta certa para a condição humana”, diz o escritor. ƒ COM REPORTAGEM DE BRUNO MEIER

Fortaleza, Ceará

DRAWLIO JOCA

∑ Carolina Azevedo, 11

Quentin, de Cidades de Papel, é um rapaz esperto mas sem traquejo social que se vê envolvido em um enigma: a garota de seus sonhos desapareceu. Colin, de O Teorema Katherine, é um gênio da matemática que foi dispensado por dezenove namoradas, todas elas chamadas Katherine. A única menina do time é Hazel, de A Culpa É das Estrelas, adolescente que sofre de câncer mas se recusa a ter sua breve vida definida pela doença. Com 36 anos e pai de duas crianças, Green conserva uma certa agitação pueril própria de seu público leitor. Quando o fotógrafo Gilberto Tadday propôs que ele saísse para fazer um “anjo de neve” nas calçadas geladas da vizinhança, ele topou na hora (o resultado é a foto que se vê na página 120). VEJA acompanhou a gravação de um vídeo que Green fez para o site da revista de curiosidades Mental Floss, sobre a história das tiras em quadrinhos publicadas em jornais. Diante da câmera, ele é um dínamo: brinca com os elementos do cenário (uma parede cheia de brinquedos) e improvisa sobre o roteiro. “Demorei a encontrar meu estilo no vídeo”, diz ele. “Quero ser autêntico, mas preciso de um elemento de atuação. Se me apresentasse assim como sou, seria muito chato.” O estilo usual de Green conjuga agilidade ó a fala é rápida, a edição é frenética ó e muita, muita informação. Na série CrashCour-

ERNANI D’ALMEIDA

Ligado nos fãs e no mundo, inteligente, bom escritor, cheio de respeito para com o adolescente: os leitores de John Green dizem por que gostam tanto de seus livros

MICHELE MULLER

LUIZ MAXIMIANO

Amigo de todas as horas

ele participa, cada um deles com cerca de 60 000 exemplares comercializados no Brasil ó Will & Will (Record), romance escrito em parceria com David Levithan, e a coletânea Deixe a Neve Cair (Rocco), na qual ele participa com um conto. Seus títulos individuais são publicados no Brasil pela editora carioca Intrínseca, a não ser por Quem É Você, Alasca?, seu livro de estreia, lançado pela paulista Martins Fontes (a Intrínseca renegociou os direitos também desse livro e deve relançá-lo no segundo semestre). A Intrínseca é a casa de outro fenômeno da literatura juvenil, a série Crepúsculo, de Stephenie Meyer. Embora dispute a mesma faixa etária que HUMOR E CÂNCER a criadora do vampiro água Ansel Elgort e Shailene com açúcar, Green é um autor Woodley como Augustus de outra estirpe. Há uma sensibilidade genuinamente literáe Hazel em A Culpa É das ria em seus livros. Seus heróis Estrelas: atitude não são objetos de desejo para positiva, por si só, não adolescentes que suspiram por cura ninguém vampiros ou lobisomens, mas adolescentes comuns, que vivem a rotina comezinha do ensino médio. Green também se afasta de outra vertente costumeira entre livros para jovens hoje: a ficção científica distópica de séries como Divergente, de Veronica Roth, e Jogos Vorazes, de Suzanne Collins. As realidades opressivas que pesam sobre os personagens de Green são aquelas próprias da idade: inadequação, aborrecimentos escolares, paixões frustradas ó e alguns dramas mais pesados: suicídio, câncer. Esse registro realista encanta seus leitores: “John ∆ Vanessa Murandi Green mostra que nem todos os finais Aveiro, 18 são completamente felizes. Ele põe Ribeirão Preto, São Paulo realidade no enredo”, diz Mayara Bar“Ele está sempre por dentro bosa, 18 anos, de Curitiba (veja mais de tudo: posta fotos no Insdepoimentos de leitores nos quadros tagram, fala com fãs, grava destas páginas e das seguintes). com o irmão, arrecada diOs heróis de Green têm certo perfil nheiro para fundações. Em nerd. Pudge, de Quem É Você, Alasca?, 2012, designei cada pessoa é um aluno apenas mediano, fraco em de um grupo do Nerdfighters matemática (tal como foi confessadapara gravar um capítulo de mente o próprio Green), mas com uma A Culpa É das Estrelas e fiobsessão por memorizar as últimas pazemos um audiobook para lavras de figuras históricas (Thomas uma amiga tetraplégica.” Edison: “Lá adiante é muito bonito”). DIVULGAÇÃO/JAMES BRIDGES

somados, perto de 2 milhões de exemplares ó metade da venda dos sete volumes da série Harry Potter (da qual, aliás, Green é fã). Como nenhum outro autor hoje, Green é o representante literário da geração que se comunica por celular e cultiva relações pelas redes sociais. “Vejo jovens fazendo amigos on-line, e são amizades tão profundas e verdadeiras quanto as que fazemos ao vivo. Isso me parece ao mesmo tempo legal e estranho”, diz. O escritor americano é um fenômeno do vigoroso segmento que, no mercado editorial de seu país, foi batizado de young adult (jovem adulto). A Culpa É das Estrelas ocupa o primeiro lugar na lista dessa categoria do jornal The New York Times. Em VEJA, nesta semana, o livro está no primeiro lugar da lista de ficção — e seus outros três romances (veja o total de suas vendas na pág. 121) também estão lá. É seguro supor que a grife John Green tenha alavancado ainda as vendas de dois outros livros de que LEO CALDAS

Vlogbrothers, o canal do YouTube que o escritor mantém junto com seu irmão, Hank Green (que acaba de lançar no iTunes um bem-humorado disco de rock, Incongruent), é seguido por mais de 2 milhões de pessoas. O escritor tem números ainda mais polpudos: lançado em 2012, A Culpa É das Estrelas já vendeu 7 milhões de cópias nos Estados Unidos e 1,2 milhão no Brasil. Aqui, seus quatro romances venderam,

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Especial

GILBERTO TADDAY

Especial

14 DE MAIO, 2014 |

DE I NDIANÁPOLIS

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ANJO DE NEVE John Green brinca na calçada gelada nos arredores de seu escritório, em Indianápolis: um desmentido, em números, das previsões sobre o fim da leitura na era digital

CRISTIANO MARIZ

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170 000 1,97 milhão

JERÔNIMO TEIXEIRA,

az pouco tempo que John Green está instalado em seu novo escritório e estúdio, em um bairro de restaurantes e baladas em Indianápolis, no Meio-Oeste dos Estados Unidos. Há marcas da mudança recente: ferramentas e materiais de construção espalhados pelo estúdio onde grava seus vídeos, e muitas caixas pelas outras salas. No cômodo em que ele concede entrevista a VEJA, latas de refrigerante vazias acumulam-se sobre a mesa de centro, restos de alguma reunião no dia anterior (ou de uma sessão de videogame: a mulher de Green, Sarah — que, aliás, trabalha na única sala bem-arrumada do escritório —, baniu o XBox 360 da casa da família). “Foi nesta poltrona que escrevi todos os meus livros”, diz Green. Trata-se de um trambolho cujo estofamento marrom claro está sujo e um tanto puído — e por isso também foi expulso pela sanha saneadora da mulher do escritor. Vai demorar até que a poltrona seja usada novamente não para games, mas para a literatura. Green não tem planos imediatos para um novo livro. “Talvez no ano que vem. Ou em 2016”, diz. Neste momento, o autor está empenhado na divulgação do filme baseado em seu grande best-seller, A Culpa É das Estrelas, que estreia nos Estados Unidos e no Brasil em junho. E ainda mantém a produção de vídeos para o YouTube, seu canal mais imediato de comunicação com jovens fãs. Sim, ele faz sucesso nas livrarias e na internet: Green desautoriza os recorrentes vaticínios tecnofóbicos sobre o ocaso da leitura na era digital.

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Além de trazer uma entrevista exclusiva, muito bem articulada e repleta de informações inéditas com o autor de um dos maiores fenômenos editoriais da atualidade, a reportagem brinda o leitor com um retrato preciso do contexto em que o fenômeno se dá: perfila o escritor em questão e também os seus leitores. Para completar, recorre ao bom jornalismo factual para explicar um dos traços mais notáveis da natureza humana: a capacidade de produzir e consumir ficção.


destaques A fortaleza do imperador

a fOrtaleza

Danilo Molina, Rogério Maranhão, Rosana Grimaldi, Rosele Martins e Zizi Carderari

dO imperadOr

O universo mágico dos livros de Ariano Suassuna, morto no mês passado,

permeia toda a casa onde o escritor morou com a mulher durante 55 anos, no recife.

CASA CLAUDIA / agosto de 2014

Educação no campo

As escolas e o MST

na REVISTa dIGITaL mais fotos das escolas em assentamentos visitadas para a reportagem. iba.com.br

Conheça as propostas educacionais e a realidade dos trabalhadores sem terra

ELISA MEIRELLES, de Parauapebas, PA, e FERNANDA SALLA, de Querência do Norte e Londrina, PR fernanda.salla@fvc.org.br

marcelo almeida

no assentamento Eli Vive, a escola é itinerante. até 2015, se tornará fixa

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É a segunda vez que CASA CLAUDIA fotografa a morada de Zélia Andrade Lima e de Ariano – a primeira foi em 1997. Na última, em março, ele não pôde posar para o retrato. O genro Alexandre Nóbrega fez o clique ao lado três meses depois.

Mônica Molina e Helana Freitas no texto Avanços e Desafios na Construção da Educação do Campo (disponível em bit.ly/educ-campo). Diferentemente de outras escolas, essas surgem no contexto de luta por direitos. A EMEF Crescendo na Prática, em Parauapebas, a 707 quilômetros de Belém, é um exemplo. “Em 1994, participei da ocupação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Marabá (a 554 quilômetros de Belém), exigindo a posse da terra. Na época, levantamos quantas crianças havia no grupo e montamos turmas multisseriadas. Eu lecionei para algumas delas”, diz Clívia Uhl, hoje diretora da escola. Dois anos depois, o grupo obteve a terra, e nasceu o Assentamento Palmares 2. Já como parte integrante da rede municipal, a instituição passou a funcionar em um barracão de madeira, se mudando depois para o prédio atual, de alvenaria. Fato semelhante ocorreu no centro-oeste do Paraná. Com a mecanização do campo e a construção das hidrelétricas de Salto e Santiago e de Itaipu, em Foz do Iguaçu, a 635 quilômetros de

Na casa, a paixão pela cultura nordestina Assassinado por um cangaceiro, João Grilo, protagonista da peça Auto da Compadecida (1955), recebe autorização para ressuscitar. Mas o perdão não vem facilmente: como havia ludibriado seu algoz, além do padre, do sacristão, do bispo e do padeiro da cidade com mentiras, o personagem precisou enfrentar um julgamento, no qual Jesus, na figura de um homem negro, e o Diabo, vestido de vaqueiro, disputam sua alma. Não fosse a intercessão da Virgem, o herói malandro (autodenominado “um amarelo muito safado”) padeceria no fogo eterno. Já no Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971), o fidalgo dom Pedro Dinis Ferreira-Quaderna narra sangrentas e mirabolantes epopeias medievais, ocorridas em pleno sertão, com vocabulário pitoresco, em que onças, anjos e caboclos dividem as páginas com bestas marinhas e menções aos escritores Homero e Euclides da Cunha. Situações insólitas como essas, repletas de fantasia e elementos da cultura regional (a exemplo da literatura de cordel e de versos dos repentistas), caracterizam os textos de Ariano Suassuna (1927-2014), o Imperador da Pedra do Reino – a nobre condecoração ele recebeu dos organizadores de uma cavalgada que acontece anualmente em São José do Belmonte, no interior pernambucano, inspirada em lendas locais e em seu livro mais famoso. Assim como as demais, a obra foi escrita à mão, no gabinete da casa na qual esse paraibano, radicado no Recife desde a adolescência, morou por mais de cinco décadas com a parceira de toda a vida, Zélia Andrade Lima. “Ele era muito rigoroso e disciplinado. Acordava cedo e trabalhava de domingo a domingo. Só interrompia o ofício para ler”, conta um de seus genros, o artista plástico Alexandre Nóbrega,

Educação em assentamentos As matrículas de Educação Básica em escolas de assentamento brasileiras somam

Isso representa quase 1% do total no país. fonte censo escolar 2012

aGosto 2014 novaescola.org.br

novaescola.org.br aGosto 2014

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aulas de cultura camponesa marcam a rotina dos estudantes do portal do Tigre

Curitiba, muitas famílias perderam o emprego. Então, grupos se organizaram e fizeram a primeira ocupação na região, em 1984. Não conseguiram a posse da terra e, em 1988, migraram para Querência do Norte, a 630 quilômetros da capital. Ficaram acampados por sete anos, até a criação do Assentamento Portal do Tigre. “O Centro Municipal de Educação no Campo Chico Mendes surgiu quando ainda estavam acampados”, conta a diretora Maria Edi Comilo, que começou a lecionar na época, mesmo sem formação. “As crianças escreviam com carvão em papelão. Quando preenchiam a página por completo, elas apagavam com as mãos e recomeçavam”, conta. Ela se formou no Magistério em 1994, fez o Normal Superior a distância em 2005, cursou Pedagogia e depois se dedicou ao mestrado em Educação sobre Políticas Públicas na Educação no Campo.

Valorização da realidade local

Quando a regularização de uma escola ocorre, ela passa a ser regida pelas regras da rede pública. Isso implica mudanças. Uma delas tem a ver com a contratação de docentes via concurso público e muitas vezes reflete na saída dos mais antigos de cena. “Em 1998, houve um concurso em Parauapebas e quase todos os professores da Crescendo na Prática foram substituídos. Restaram seis formados, que passaram na prova. Os demais foram estudar, voltaram e hoje são maioria”, diz Clívia.

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fotos janduari simões

marcelo almeida

Educação no campo O investimento para proporcionar estudos aos docentes é um ponto forte no MST. Além de organizar cursos próprios, o movimento pressiona as redes para garantir outros em universidades locais. “A Educação é vista como algo emancipatório”, diz Maria Edi. As aulas são organizadas em regime de alternância, nos fins de semana e durante as férias. “Assim, os docentes não têm de se afastar da sala de aula”, explica Marcos Gehrke, professor da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), que trabalha há mais de 25 anos com educadores do campo. Outra mudança que ocorre nas escolas de assentamento quando são incorporadas à rede é que elas passam a ter de seguir as diretrizes curriculares municipais ou estaduais, oferecendo aos alunos aulas das disciplinas obrigatórias por lei. Mas, ainda assim, persistem algumas diferenças. “É possível trabalhar os conteúdos segundo a realidade local e, nessa perspectiva, inserir outras disciplinas no currículo”, explica Arlete dos Santos, autora de Ocupar, Resisitir e Produzir, Também na Educação! (284 págs., Paco Editorial, tel. 11/4521-6315, 48,51 reais). Em Querência do Norte, por exemplo, os alunos têm aulas de Práticas Agrícolas e Ambientais, em que visitam as plantações, e de Cultura Camponesa. “A Educação se estende para outros espaços, como marchas, congressos, seminários e ocupações”, diz Arlete. O calendário escolar leva em conta datas comemorativas da rede, mas também considera as significativas para o MST. Por exemplo, o massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em abril de 1996, no município de mesmo nome, no Pará. A respeito desse cenário, é inevitável o questionamento sobre como as convicções do MST adentram as classes. “Qualquer prática educativa é baseada numa concepção de ser humano, numa visão de mundo”, afirmam Mônica e Helana. Quer dizer, no campo ou na cidade, a escola reflete a comunidade.

Para que a organização seja possível, as escolas precisam ter certa autonomia em relação à Secretaria de Educação a qual são ligadas. “O MST traça estratégias com o estado para implementar sua proposta”, explica Arlete. Por ser um movimento nacional estruturado, consegue garantir seu espaço e sua identidade, coisa que nem sempre acontece em outras instituições de ensino do campo.

braço direito na tarefa de migrar o conteúdo manuscrito para o computador. Uma espreguiçadeira – gênero de móvel pelo qual Ariano tinha especial predileção – deixada na sala de jantar (foto à direita, ao fundo) era sua companhia na leitura do jornal, logo após o café da manhã. No ambiente, decorado com móveis de jacarandá do século 19, piso de ladrilhos hidráulicos também antigos e um belo painel de azulejos (detalhe nesta página), presenteado pelo amigo Francisco Brennand, o autor de Uma Mulher Vestida de Sol (1947) e O Santo e a Porca (1964) saboreava almoços com os seis filhos e os 15 netos aos domingos. Mantê-los por perto, aliás, era uma de suas grandes alegrias. Tanto que vários integrantes da família moram neste mesmo lote, em outras construções, e se visitam cotidianamente. “Sou patriarcal”, declarou Ariano na reportagem publicada por CASA CLAUDIA em 1997. Quando não estava lendo ou escrevendo, exercia outra atividade: ministrava aulas-espetáculo sobre a cultura popular brasileira, acompanhado de músicos e bailarinos. A última delas ocorreu cinco dias antes de encontrar Caetana, como se referia à morte, parafraseando um termo comum no sertão da Paraíba e de Pernambuco. O ritmo das saídas, no entanto, diminuiu desde o ano passado, quando ficou hospitalizado para tratar dois infartos e um aneurisma cerebral. Mais recolhido, pôde concluir o livro O Jumento Sedutor, que vinha preparando há 33 anos, com previsão de lançamento ainda para 2014. “Fiz um pacto com Deus. Se ele achasse que o romance tinha algo de sacrílego ou de desrespeitoso, que o interrompesse pela morte”, disse o escritor numa entrevista concedida em dezembro último ao jornal Folha de S.Paulo. Pelo jeito, o interesse em ver a obra pronta não era apenas terreno.

A pia batismal no painel de Brennand foi presente de um irmão de Zélia. Logo abaixo dela, da esquerda para a direita, veem-se obras de Alexandre Nóbrega, do sobrinho Romero de Andrade Lima e de Zé do Mandacaru. A mesa dos anos 1800 é herdada.

112 casa claudia agO 2014

Em palmares 2, o esquema de transporte bem organizado garante acesso à escola

“As escolas de comunidades rurais menores geralmente não têm essa força e acabam desassistidas”, complementa Gehrke. Um exemplo bem-sucedido ocorreu em Parauapebas. Quando os dirigentes da Crescendo na Prática notaram que o espaço estava pequeno para o número de matriculados, reivindicaram o terreno vazio vizinho e foram autorizados a usá-lo. A ampliação do prédio está sendo feita pela prefeitura. A seriedade dos gestores também é refletida no transporte escolar. Oito ônibus e três micro-ônibus passam nos lotes diariamente. “Sabemos quem vem em qual veículo. Assim, minimizamos as faltas”, diz Clívia. O princípio que norteia as escolas é a gestão democrática. Em Londrina, por exemplo, o assentamento tem dez brigadas com 50 famílias divididas em núcleos, um deles responsável por questões relacionadas à Educação. Os integrantes do primeiro se reúnem semanalmente para tratar de questões como transporte e, depois, lutam com os órgãos públicos por melhorias. Crianças e jovens fazem parte dos grupos setoriais organizados pela escola. Cada um deles é responsável por uma área, como manutenção da horta. De acordo com o documento de autoria de Mônica e Helana, “ensinar a trabalhar em coletivos é um relevante mecanismo de formação e de aproximação das funções que a escola pode ter nos processos de transformação social”.

autonomia para trabalhar

AlexAndre nóbregA

A

s histórias das escolas em assentamentos no Brasil têm particularidades, mas o enredo principal de todas é semelhante. Começa com a chegada de famílias a uma terra considerada improdutiva. Depois que elas montam acampamento, recebem a diretriz do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) para criar um espaço de Educação. Em muitos casos, não há professores formados: quem mostra aptidão para lecionar e sabe um pouco mais que os outros ganha a função. Paralelamente, o grupo pressiona o governo para que a ocupação seja reconhecida como assentamento e a escola se torne parte da rede pública e receba investimentos. Enquanto a situação não é resolvida, a instituição funciona no modelo itinerante: se os trabalhadores forem expulsos, ela acompanha o grupo para onde for. É o caso da Escola Itinerante Maria Aparecida Rosignol Franciosi, em Londrina, 386 quilômetros de Curitiba, no Assentamento Eli Vive, criado em 2013, depois de quatro anos de acampamento. A instituição está em processo de se tornar fixa até 2015. “No início, as aulas ocorriam nas cocheiras da fazenda ocupada. Depois, em barracos de lona e hoje em salas de madeirite”, diz Vanderleia Fortes, coordenadora pedagógica. De acordo com o Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), até 2012, foram criados no país 9.070 assentamentos, nos quais vivem 933.836 famílias. Elas fazem parte de um cenário que vem ganhando força desde o fim dos anos 1990, protagonizado pelos trabalhadores rurais. “Esses sujeitos coletivos, com suas lutas sociais e práticas educativas, têm sido capazes de interrogar e apresentar alternativas ao projeto hegemônico de desenvolvimento rural, às tradicionais escolas rurais e aos processos de formação de educadores”, explicam

agosto 2014 novaescola.org.br

devido à quantidade de alunos, a instituição está sendo ampliada pela prefeitura

dilemas e ideologias

Dois aspectos merecem atenção quando se fala em escolas em assentamentos. O primeiro é que nem todas estão alinhadas ao MST. Como instituições públicas, são geridas por funcionários concursados ou nomeados, que podem ter valores diferentes. “Mas pessoas contrárias aos princípios do movimento acabam tendo dificuldades em implementar sua proposta”, diz Arlete. Para minimizar essas situações, as lideranças pedem às redes que os gestores sejam indicados por elas ou eleitos. O segundo tem a ver com as famílias que não são sem-terra. Normalmente, não há problemas, já que a questão da terra costuma ser relevante para elas também.

imagens religiosas e míticas em harmonia Zélia emprega seu talento na criação de peças como a da foto acima, à esquerda, que enfeita o jardim. Já à direita, está a espreguiçadeira na qual o morador se sentava para ler o jornal todas as manhãs. Com belo efeito gráfico, o piso de ladrilhos hidráulicos foi assentado no século 19, na época da construção da casa. Abaixo, à esquerda,

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detalhe da cristaleira antiga, de jacarandá, na qual se guardam louças com o monograma de Ariano e da mulher, presente de casamento do amigo Brennand. Ao lado desse clique, aparecem a pintura retratando São Miguel – trabalho de Dantas Suassuna, filho do casal – e esculturas de pedra calcária (no chão) assinadas por Arnaldo Barbosa.

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As escolas e o MST

Beatriz Vichessi, Denise Pellegrini, Elisa Meirelles, Fernanda Salla Paulilo, Janduari Simões, Marcelo Almeida, Margit Krause e Victor Borges Malta NOVA ESCOLA / agosto de 2014

Neste tríptico, pintado nos anos 1970, Dantas Suassuna homenageia o Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, o livro mais comentado do pai, eleito para a cadeira número 32 da

Academia Brasileira de Letras (ABL) em 1989. Sob o banco torneado, Zélia dispôs pratos cerâmicos de sua autoria – como se pode perceber, o pendor artístico está no DNA da família inteira.

casa claudia agO 2014 115

Educação por trás das grades

Ana Ligia Scachetti, Beatriz Vichessi, Bruna Parizi, Denise Pellegrini, Edson Ruiz, Elisa Meirelles, Janduari Simões, Larissa Teixeira, Manuela Novais e Margit Krause NOVA ESCOLA / fevereiro de 2014

pOLÍTICAS pÚBLICAS

pOLÍTICAS pÚBLICAS

“Parei de estudar na 5ª série porque me envolvi com o tráfico e passei a ser ameaçado. Aqui, tenho a oportunidade de frequentar a escola e de sonhar com o futuro.” mArCos*, 19 anos, aluno do segmento 2 da eJA

Os desafios para garantir o direito de estudar a adultos e adolescentes em conflito com a lei

“A princípio, as grades dão medo. Mas é preciso desconstruir as ideias que temos sobre o sistema. Estamos diante de adolescentes que desejam ser ouvidos e olhados.”

ANA LIGIA SCACHETTI, de São Paulo, bEATrIz VICHESSI, do Rio de Janeiro, brUNA NICOLIELO, de Salvador, e ELISA MEIrELLES, de Santa Isabel do Pará, PA elisa.meirelles@fvc.org.br Colaborou LArISSA TEIXEIrA

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Os docentes ainda precisam fazer inúmeras adaptações em sua prática. Os materiais didáticos, muitas vezes escassos, devem respeitar algumas normas. Tesouras, por exemplo, costumam ser proibidas. Há locais em que nem canetas podem entrar. E os livros e vídeos são selecionados para não causar agitações desnecessárias ao ambiente. A situação já foi pior. “O debate sobre a Educação das pessoas privadas de liberdade ficou suspenso no Brasil por mais de 20 anos e só foi retomado recentemente”, diz Roberto da Silva, coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação em Regimes de Privação da Liberdade, da Universidade de São Paulo (USP). Hoje, documentos como o Plano Estratégico de Educação no Âmbito do Sistema Prisional e o Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo estabelecem metas e padrões mínimos, como a separação entre as atribuições dos órgãos de Justiça e Educação. Entre as conquistas para os adultos está a remissão da pena por dias de estudo – antes uma exclusividade de quem trabalhava. Esse benefício já é realidade em presídios como os do Pará, onde a alfabetização também recebe atenção especial. No Rio de Janeiro, a parceria entre as áreas que integram a gestão da unidade resulta no respeito à aprendizagem e até a lição de casa é incentivada. Avanços também são vistos nos locais voltados aos adolescentes. Em Salvador, o cuidado com a documentação durante a internação ajuda na continuidade dos estudos e os agentes de segurança são chamados de orientadores; e, em São Paulo, os jovens são vinculados a uma escola estadual externa à instituição. Conheça a seguir mais detalhes sobre essas histórias.

Vínculo com a escola regular

“Eu fiquei três anos sem estudar e voltei quando cheguei aqui. Os professores são diferentes dos que tive no ‘mundão’. Se alguém tem uma pergunta, eles sentam do lado e explicam. Quando sair, quero estudar e fazer faculdade. Minha mãe está guardando dinheiro para isso.” CArLA*, 14 anos, aluna da 4ª série * Para preservar a identidade dos entrevistados, os nomes são fictícios.

As salas de aula da Casa Chiquinha Gonzaga, unidade feminina da Fundação Casa, em São paulo, têm algumas particularidades. Ao lado de cada pesada porta de ferro, há sempre um agente de segurança, que fica de olho nas estudantes. As que saem da classe são revistadas e há grades antes das escadas que levam a outros andares. Apesar de não deixarem a Casa, todas estão matriculadas na EE Oswaldo Cruz, uma escola regular no mesmo bairro. Com isso, ao deixar a internação, elas levam a certificação de uma escola comum. As aulas seguem o currículo da rede estadual e as garotas participam de avaliações externas, seguindo a determinação da Secretaria da Educação do Estado. As 115 alunas estão divididas em turmas multisseriadas do Ensino Fundamental e do Médio. Os 19 docentes – que são contratados pela Secretaria sem concurso e recebem adicional de 20% pelo local em que atuam – participam de aulas de trabalho pedagógico coletivo (ATpC) na Fundação Casa e na escola estadual. Uma coordenadora pedagógica faz a ponte entre as duas instituições. Tudo o que é realizado nas classes precisa contar com a anuência da área de segurança. Os cadernos, por exemplo, foram substituídos por folhas avulsas que ficam com o professor porque as jovens usavam o material para se comunicar umas com as outras. Além das salas de aula, a Casa possui duas quadras e alguns espaços para oficinas. Muitas das garotas que as frequentam têm em comum o fato de chegar ali após um período de vivência nas ruas, o uso de drogas e muito tempo afastadas do ensino formal. por isso, um dos trabalhos da equipe pedagógica é o de dar novo sentido para a relação delas com o espaço escolar e colaborar para que continuem o estudo depois da passagem pela instituição.

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JAne sAnTos DA siLvA, professora de História

reJAne roCHA, professora polivalente

Lição de casa feita na cela

foTos eDson ruiZ

pessoa que perde o direito à liberdade não pode ter negado o seu direito à Educação. Nas instituições que recebem adolescentes em conflito com a lei, a continuidade do ensino é uma obrigação e parte integrante da internação. Já entre os presídios, onde estão os adultos, estima-se que metade possua alguma estrutura escolar. Só 8,5% dos encarcerados tiveram alguma atividade educacional em 2012 em todo o país. Embora as legislações para adultos e adolescentes sejam distintas, os desafios enfrentados por professores e alunos nesses contextos são semelhantes. Os entraves começam pelo espaço. Muitos prédios não são adequados para abrigar salas de aula. É comum que elas tenham grades e sejam pouco ventiladas. Inspeções feitas em 2013 pelo Ministério Público em 88,5% das unidades de medida socioeducativa do país encontraram instalações inadequadas em todas as regiões. Rosana Heringer, da Relatoria Nacional para o Direito Humano à Educação, considera a situação precária. “Há tantas violações de direito que, embora a Educação esteja prevista em lei, na prática ela é tratada como um luxo e não é priorizada”, diz. Outro aspecto fundamental é a relação entre as equipes de segurança e de Educação. Muitas aulas deixam de acontecer porque há suspeita de rebelião ou outra ameaça à estabilidade. Presos com mau comportamento ou que entram em conflito com os agentes penitenciários são comumente impedidos de frequentar as aulas. “O trabalho das áreas de Educação e segurança deve ser complementar, não competitivo”, ressalta Beatris Clair Andrade, da Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina.

mAnueLA novAis

A

“Os alunos têm sede de aprender e gostam de discutir o que acontece na sociedade, o que é ótimo para o ensino de História.” foTos mAnueLA novAis

Educação por trás das grades

nA rEVISTA dIGITAL vídeo e galeria de fotos com alunos e professores.

portfólio para a transição Quando chegam à Comunidade de Atendimento Socioeducativo (Case) Cia, em Salvador, os garotos, que muitas vezes não têm documentação, passam por uma entrevista e por uma avaliação diagnóstica. Esses procedimentos determinam o ano em que serão matriculados na EM Yves de roussan, escola de Ensino Fundamental e Médio que funciona dentro da instituição. Aí começa a ser formado o portfólio de cada um, que também pode reunir o histórico e outros registros da vida escolar. Os dados são úteis no caso de transferências – algo frequente em unidades de atendimento socioeducativo. pela manhã, os internos participam de oficinas de Arte e iniciação profissional. À tarde, frequentam a Educação de Jovens e Adultos (EJA). A modalidade foi escolhida

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porque, segundo a equipe gestora, é a mais adequada ao perfil dos meninos. nas aulas de Educação Física, os garotos praticam futebol, vôlei e até natação. Atividades externas, como visitas a eventos e sessões de cinema, também são realizadas. Os educadores demonstram preocupação em considerar o universo cultural dos jovens. Uma expressão usada por eles, “castelar”, que significa entender, foi adaptada e deu nome ao jornal de parede Casteler. A Fundação da Criança e do Adolescente (Fundac) é responsável pela instituição e garante a formação dos docentes. A troca de informações entre a equipe escolar e a de segurança é valorizada e, diariamente, os professores recebem um relatório sobre o clima durante a madrugada. Com base nisso, eles adaptam as atividades programadas para o dia.

Como qualquer aluno da rede, os cerca de 300 estudantes do CE Anacleto de Medeiros, no presídio Evaristo de Moraes, no rio de Janeiro, usam o uniforme da Secretaria de Estado de Educação, carregam cadernos, canetas, lápis e borracha, fazem provas e têm dever de casa (ou para cela, como alguns dizem). Embora seja quase natural pensar que o clima de medo e tensão impera, os 28 professores, a diretora – que está à frente da instituição há 26 anos – e os outros integrantes da equipe gestora circulam normalmente entre as salas, a cozinha onde é feita a merenda, o auditório e a biblioteca. A tônica é que aluno é aluno em qualquer lugar, e o foco deve ser garantir a aprendizagem e investir na vida após a saída. O colégio é avaliado como toda escola que oferece a EJA e, por causa disso, às vezes acaba sofrendo certa crise de identidade. Os dados oficiais revelam, por exemplo, taxa de 70,4% de abandono em 2012 do 1º ao 9º ano, mas não é bem assim. O vaivém de estudantes é intenso devido a transferências para outras unidades prisionais, solturas e algumas desistências. A falta de reconhecimento das especificidades

“Prestei concurso para lecionar em escolas de presídio e não me arrependo. Para lidar com as turmas flutuantes, desenvolvo, por exemplo, trabalhos com improvisação.” JorGe TAvAres, professor de Arte

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“No início, me matriculei para acelerar a remissão da pena. Agora, estou aqui porque entendi que preciso estudar. Não tive oportunidade quando criança e nossos professores ensinam como se estivéssemos lá fora, talvez até melhor. Eles não julgam ninguém renegado.” ZinALDo De LimA freire fiLHo, 38 anos, aluno do 3º ano

aparece em outras questões. por exemplo, em relação aos parâmetros Curriculares nacionais (pCn), que incentivam o trabalho com o entorno. nesse caso, o máximo possível a alcançar é o pátio externo. Ao mesmo tempo, ser considerada uma escola regular é algo bastante reconhecido e valorizado por todos, inclusive pelos alunos. Eles têm a chance de participar de eventos como a Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) – um estudante ficou em 3º lugar entre cerca de 700 mil participantes. Outro benefício é receber o histórico emitido com o nome de uma escola (e não do presídio) e poder seguir em frente sem ter de enfrentar (tantos) preconceitos.

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

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matéria completa

PRÊMIO

ECONOMIA

CAPA | bolsa

CRIME NA BOLSA

O USO DE INFORMAÇÕES PRIVILEGIADAS PARA NEGOCIAR AÇÕES É UMA PRAGA NO MERCADO FINANCEIRO BRASILEIRO. POR QUE NINGUÉM VAI PARA A CADEIA POR ISSO?

M THIAGO BRONZATTO

ILUSTRAÇÃO: DAVI AUGUSTO

arcos Torres, também conhecido por seus colegas da Bolsa de Valores de São Paulo como “Delegado”, tem uma missão tão nobre quanto enlouquecedora. Aos 50 anos, o economista paraense é um caçador de criminosos que operam na quinta maior bolsa de valores do mundo, a Bovespa. Um de seus principais objetivos é flagrar quem estiver comprando ou vendendo ações com base em informações que ainda não foram divulgadas ao mercado — prática mais conhecida pelo termo em inglês insider trading. É um crime que pode levar um investidor à cadeia, e coibir esse tipo de malandragem é fundamental para que um mercado financeiro funcione direito. Torres e sua equipe — e é aqui que o caráter enlouquecedor de sua missão aparece — analisaram quase meio bilhão de transações em 2013. Ele tem a seu lado 110 profissionais e um avançado sistema de rastreamento que detecta qualquer anomalia na negociação de ações brasileiras: gente comprando demais, ritmos de negócios pouco

38 | www.exame.com

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CAPA | bolsa

OS SUSPEITOS

BTG PACTUAL (banco)

GRUPO X

8 milhões de reais

(petróleo e indústria naval)

MUNDIAL

Um investiga se ele vendeu

197 milhões de reais em ações da petroleira OGX entre

(bens de consumo)

maio e junho de 2013, pouco antes de a empresa anunciar que alguns de seus campos eram improdutivos. Os advogados de Eike negam.

3 000% das ações da empresa em 2011, a CVM

34 milhões de reais

abriu um processo para investigar se Michael Ceitlin, presidente da empresa, e o investidor Rafael Ferri usaram informações privilegiadas para negociar os papéis — e se tentaram manipular o mercado para forçar uma valorização. Eles também são réus em um processo criminal, conduzido pelo Ministério Público Federal com a ajuda da Polícia Federal. Em sua defesa, Ceitlin e Ferri negam as acusações.

DIVULGAÇÃO

DIVULGAÇÃO

em papéis da companhia naval OSX, antes de uma mudança no plano de negócios, que diminuiu o tamanho da empresa. Em sua defesa, Eike alega que a operação foi feita para se adequar às regras de mercado.

BRASIL PHARMA (farmácia)

As ações da empresa

7%

42 | www.exame.com

(petróleo e gás)

1 milhão de reais em ações da HRT, que subiram 25% nos dias seguintes ao anúncio da contratação de sondas para perfuração de seus poços na costa da Namíbia, em maio de 2012. Os executivos negam as acusações.

(banco)

HYPERMARCAS

(varejista)

Em março de 2012, João Alves de Queiroz Filho, dono da Hypermarcas, comprou

41 milhões de reais em ações da empresa dois dias antes

da divulgação de um fato relevante que anunciava a criação da Bionovis, uma associação entre quatro farmacêuticas, de acordo com uma investigação da CVM. A autarquia apura se houve irregularidade na transação, intermediada pelo banco Credit Suisse, que também é réu no caso. Os acusados não comentaram.

PDG

(incorporadora)

Seis ex-executivos

são investigados por ter feito, entre fevereiro e março de 2012, operações no mercado futuro para proteger de uma eventual queda as ações da empresa, que recebiam como bônus. A CVM apura se eles fizeram essas transações antes do anúncio da revisão do orçamento das obras, que levou a empresa a fechar no prejuízo. Entre os acusados estão Zeca Grabowsky, ex-presidente, e Michel Wurman, exdiretor financeiro. Eles não comentaram.

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Crime na bolsa

Carolina Gehlen, Davi Augusto, Karina Gentile, Maria Benicchio, Marilia Reis, Renata Toscano, Roseli De Almeida e Thiago Bronzatto EXAME / setembro de 2014

20

HRT

Neste ano, foram abertos dois processos na CVM contra pessoas ligadas à empresa. Entre os acusados estão: Márcio Rocha Mello, fundador da HRT, Milton Romeu Franke, atual presidente da companhia, e dois ex-conselheiros. Segundo os processos, eles fizeram operações de compra e venda de papéis da petroleira em maio de 2012 e agosto de 2013, antes da divulgação de informações relevantes para o mercado. Numa dessas transações, Rocha Mello adquiriu

em 27 de março, um caíram dia antes de ela divulgar que havia tido um prejuízo de 40 milhões de reais no quarto trimestre de 2013 — e que sua geração de caixa havia caído

oscilações atípicas, e a CVM investiga se há evidências de uso de informação privilegiada. Procurada, a empresa não comentou.

com a venda de papéis da companhia em junho de 2013, antes da divulgação do cancelamento da oferta de fechamento do capital da empresa. O BTG assessorava Eike Batista na época. Em sua defesa, o banco diz que o gestor não sabia da operação e que teve prejuízo com a venda das ações.

Após a alta de quase

Outro processo apura por que ele vendeu

63% . A área de fiscalização da bolsa identificou indícios de

ANDRE PENNER/AGÊNCIA O DIA

Eike Batista, dono do grupo EBX, é alvo de dois processos sobre uso de informação privilegiada.

CREDIT SUISSE

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

GERMANO LÜDERS

O banco é alvo de um processo da CVM que apura suspeitas de uso de informação privilegiada com ações da mineradora CCX, do empresário Eike Batista. Nessa investigação, a CVM aponta que o fundo FIM CP LS Investimento no Exterior, administrado pelo BTG Pactual, evitou um prejuízo de

dato ruim ou péssimo aumentou de 27% para 33%. Procurado, o Ibope disse que “diversos fatos econômicos ocorreram para levar o Ibovespa a fechar em seu maior nível do ano até aquele momento e que não se pode atribuir o grande volume de negócios à divulgação de uma pesquisa eleitoral”. O diretor de pesquisas do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, afirmou que a alta no volume de negócios com ações do Ibovespa antes da divulgação das pesquisas é um movimento especulativo. “Eu já recebi ligações de pessoas pedindo um ‘cheirinho’ da pesquisa a ser publicada”, diz. O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, afirmou que “um dos principais facilitadores da especulação financeira é a lei eleitoral, que obriga os institutos a registrar as pesquisas cinco dias antes da divulgação”. A CVM diz que “supervisiona diretamente o assunto”, mas nenhum caso havia sido julgado até hoje. DIVIDENDOS MAIORES

BRUNO FERNANDES/FOLHAPRESS

Empresários, executivos de empresas, bancos e investidores que estão sendo investigados pela Comissão de Valores Mobiliários, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, suspeitos de usar informações privilegiadas para negociar ações

GERMANO LÜDERS

péis estão entre os mais negociados da Bovespa. As ações de 21 delas se comportaram de maneira estranha pelo menos uma vez. “As ações analisadas são muito negociadas. Para que um volume atípico apareça, é preciso que haja uma grande quantidade de ordens de compra ou venda fora do padrão. Por isso, considero esse dado preocupante”, diz Thiago Bonato, um dos autores da pesquisa, feita em conjunto com o professor William Eid. A FGV não divulga o nome das empresas nem os ganhos ou as perdas dos investidores com as operações, mas um exemplo ocorrido neste ano ajuda a ilustrar o estudo. Em março, as ações da rede de farmácias Brasil Pharma caíram 7% um dia antes de a empresa publicar seus resultados do quarto trimestre de 2013. Entre investidores e operadores de mercado, circulava a informação de que a companhia publicaria um número “bastante negativo” — o que, de fato, aconteceu. A companhia teve prejuízo de 40 milhões de reais e sua geração de caixa caiu 63%. Após a divulgação, as ações caíram mais 11%. Segundo EXAME apurou, o caso está sendo analisado pela CVM. A empresa não comentou. Se há tipos de insider tão antigos quanto a bolsa, nenhum está tão na moda no Brasil quanto descobrir, antes da divulgação, o conteúdo de uma pesquisa eleitoral. As ações brasileiras têm oscilado fortemente a cada pesquisa de intenção de voto — quando a chance de vitória da oposição aumenta, a bolsa, e especialmente os papéis de empresas estatais e de setores regulados, valoriza. Um levantamento feito por EXAME mostra que o volume de negócios realizados com ações que compõem o Ibovespa ficou acima da média dos últimos 12 meses um dia antes do anúncio de pelo menos oito pesquisas eleitorais, realizadas pelos institutos Datafolha, Ibope e Sensus neste ano. Entre 17 e 18 de junho, o volume de negócios com esses papéis aumentou 113%. No dia seguinte, o Ibope divulgou que o percentual da população que avalia a gestão de Dilma como ótima ou boa recuou de 36% para 31%, enquanto a fatia que considera seu man-

A impressão de que o mercado acionário é um bangue-bangue em que as leis valem pouco pode atrapalhar o desenvolvimento de um país. O investidor — não só o pequeno, mas sobretudo o estrangeiro — fica, naturalmente, com um pé atrás na hora de colocar seu dinheiro num ambiente desses. Uma pesquisa recente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais com investidores estrangeiros mostrou que, para 25% deles, o uso de informação privilegiada é o maior problema do mercado brasileiro. Estudos revelam que, para atrair investidores reticentes, as empresas de países como o Brasil são obrigadas a oferecer dividendos mais generosos, o que diminui sua capacidade de investimento. Ao adotar leis mais rigorosas contra os crimes na bolsa, nos anos 70, o Canadá conseguiu reverter essa situação, e os dividendos pagos pelas empresas abertas caíram. Se há tantas suspeitas de crime e se as consequências para o país são tão nefastas, por que não há mais condenados por comprar ou vender ações com informação privilegiada? O maior problema, pelo que EXAME apurou 44 | www.exame.com

COMO PEGAR UM INSIDER

Como a BM&F Bovespa e a Comissão de Valores

1 O CRIME

Mobiliários investigam suspeitos de negociar ações com informação privilegiada Em seguida, compra ou vende ações da companhia tentando antecipar o que vai acontecer quando a notícia for divulgada.

Um investidor recebe uma informação sigilosa sobre uma empresa — por exemplo, que ela vai comprar um concorrente.

2 A INVESTIGAÇÃO

A CVM e a BM&F Bovespa tentam descobrir se o investidor é ligado a profissionais que podem ter passado ilegalmente as informações sigilosas (por exemplo: se conhece funcionários da empresa que está prestes a comprar um concorrente).

Com provas de que houve irregularidade, a CVM abre um processo administrativo sancionador. Os acusados podem propor um acordo e pagar uma multa para encerrar o caso ou esperar o julgamento. A CVM pode acionar o MPF e a Polícia Federal — que, ao final de suas investigações, podem encaminhar uma denúncia à Justiça.

Se o investidor tiver um lucro acima da média, poderá entrar no radar da BM&F Bovespa. A bolsa tem uma área de fiscalização (a BSM), que analisa todas as negociações do mercado e detecta se alguém fez uma compra ou venda de ações atípica. Quando isso acontece, a BSM manda as informações para a Comissão de Valores Mobiliários, que decide se vale a pena investigar.

3 A PUNIÇÃO

Se for considerado culpado pela CVM, o investidor é condenado a pagar uma multa de três vezes o valor do lucro obtido com a operação irregular. Também pode ser banido do mercado financeiro. Foi o que aconteceu com Rafael Palladino, ex-presidente do banco Pan, condenado a desembolsar 877 200 reais.

Além disso, o juiz pode condenar os acusados à prisão de um a cinco anos e a pagar uma nova multa semelhante à cobrada pela CVM. Mas, até hoje, ninguém foi preso por uso de informação privilegiada no Brasil. Nos Estados Unidos, há diversos casos de prisão, como do investidor Raj Rajaratnam, que foi condenado a 11 anos de reclusão.

3 de setembro de 2014 | 45

Investigação de fôlego desvendou crimes no mercado financeiro brasileiro, envolvendo empresários, executivos, investidores e bancos acusados de usar informações privilegiadas para operar na bolsa.

ILUSTRAÇÃO: DAVI AUGUSTO

CAPA | bolsa


destaques Dupla de abertura Economia

AS AMEAÇAS AO REAL NO SEU 20º ANIVERSÁRIO

54 |

2 de julho, 2014 |

A derrota da hiperinflação reordenou a economia brasileira e foi o pontapé inicial de uma nova fase de prosperidade. duas décadas depois, no entanto, esse avanço corre riscos GIULIANO GUANDALINI

em 1994, a seleção brasileira entrou em campo, na Copa dos estados unidos, sob o estigma de nunca ter vencido um título mundial desde 1970. No dia 17 de julho, com a vitória suada sobre a Itália, nos pênaltis, o time provou que era possível conquistar a taça novamente, mesmo sem ter Pelé vestindo a camisa 10 — afinal, todas as outras conquistas haviam sido obtidas com a ajuda decisiva do melhor jogador de todos os tempos. Mas as atenções dos brasileiros não estavam, na época, concentradas apenas nos gols de Romário e Bebeto. No dia 1º de julho de 1994, entrou em circulação o real, a nova moeda brasileira. Para o futuro do país, havia então um estigma extremamente mais importante a ser superado. O desafio era derrotar, de uma vez por todas, a hiperinflação, o maior mal pelo qual passou a economia brasileira em sua história. os prognósticos de sucesso do Plano Real, que completa agora vinte anos, não eram dos melhores. Desde 1986, quando foi lançado o Cruzado, cinco planos para domar o dragão inflacionário foram testados, e todos fracassaram. Os brasileiros estavam cansados dos transtornos causados por medidas como congelamento de salários, tabelamento de preços, confisco de poupança. Por isso o time de políticos e economistas que concebeu e executou o Real precisou saber tirar lições decisivas dos erros cometidos nos planos anteriores. o Real vingou e prosperou. A geração de brasileiros que sai hoje das universidades não tem a menor ideia do que é viver em um país onde os preços nos supermercados eram remarcados duas ou três vezes no mesmo dia, e os salários perdiam metade de seu poder de compra em um único mês. O plano, porém, segue incompleto e, além disso, sofre ameaças decorrentes de equívocos cometidos, nos últimos anos, pela política econômica. essas ameaças podem ser resumidas em três pontos: inflação acima da meta, truques nas finanças públicas e baixa produtividade.

INFLAÇÃO 1 AFORA DA META

A inflação acumulada desde o primeiro dia de vida do real, em 1º de julho de 1994, até hoje foi de 360%. Na média, houve uma alta de 8% ao ano — sem dúvida, ainda acima dos padrões de países desenvolvidos. Porém, antes do real, a inflação superava facilmente 8% em poucos dias. O recorde foi registrado em março de 1990, com uma alta de 82,4% — em um único mês. Isso significa que o dinheiro suficiente para adquirir uma cesta básica, depois de trinta dias, comprava pouco mais da metade dos produtos dessa mesma cesta. Chegar a esse estágio de descalabro monetário foi possível depois de anos de desequilíbrio nas finanças públicas, pois uma inflação extrema e de tal magnitude só pode ser atingida quando o governo vive para além de seus meios e imprime cada vez mais dinheiro, sem nenhum controle, para poder gastar ainda mais. Num ambiente assim, de incerteza com relação ao valor real da própria moeda, os investimentos minguam, porque as empresas não conseguem calcular exatamente os custos e a rentabilidade de seus projetos. Para os assalariados, a inflação representa uma queda no poder de consumo, porque os rendimentos nunca serão corrigidos numa velocidade superior à dos preços. o único a ganhar é o governo. Para o país como um todo, a hiperinflação significou duas décadas perdidas, por causa da queda no ritmo de crescimento econômico e da maciça concentração de renda, porque apenas os mais ricos, graças à indexação, conseguiam se defender da corrosão no poder de compra. Por tudo isso, perseverar no combate à inflação é essencial. Entretanto, esse é um ponto em que o governo tem fraquejado. Desde 2010, a inflação permanece continuamente acima do centro da meta oficial, de 4,5%. Nos últimos meses, o índice gira acima de 6% e existe grande possibilidade de encerrar o ano além do teto aceito para a meta, de 6,5%. o índice apenas não está mais elevado porque o governo vem se valendo de estratagemas como o represamento no reajuste de tarifas e do preço dos combustíveis.

As ameaças ao Real no seu 20º aniversário

Adriano Padua, Ana Luiza Ferreira, Bianca Alvarenga, Cintia Pimenta, Douglas Bressar, Ewerton Gondari, Gian Kojikovski, Giuliano Bellini, Leonardo Motta, Marcelo Takeo, Maria Lucia Gaspar e Reinaldo Antunes VEJA / julho de 2014

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CA PA

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Os verdadeiros donos do mundo

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pessoas mais ricas do mundo têm

US$ 1,72 TRILHÃO. Tanto dinheiro quanto os...

3,5 BILHÕES MAIS POBRES. METADE DE TODA A HUMANIDADE.

Andreas Muller, Bruno Sayeg, Jorge Luis De Oliveira e Tomas Arthuzzi

SUPERINTERESSANTE / dezembro de 2014

A economia mundial vive a maior crise em 80 anos. Ela destruiu milhões de empregos e impede o crescimento da maioria dos países. Ao mesmo tempo, o número de bilionários dobrou, e as fortunas deles também. Entenda por que a desigualdade social explodiu – e os efeitos disso sobre a sua vida.

este ano, um grupo de 130 pessoas se reuniu em Copenhague, capital da Dinamarca. Discutiram assuntos como economia global, mudanças climáticas, guerras. Fizeram previsões, debateram, traçaram estratégias. Parecia uma assembleia da ONU. Mas era um encontro do Grupo de Bilderberg: organização criada em 1954 para reunir as pessoas mais poderosas do planeta. Seu encontro anual, que não é aberto a ninguém da imprensa, reúne multibilionários e chefes de Estado e de Exércitos (este ano, os destaques foram o líder supremo da OTAN, aliança militar presente em 28 países, e o diretor-geral da NSA, a superagência de espionagem americana). “Estamos falando de uma rede global, mais poderosa do que qualquer país, e determinada a controlar a humanidade”, diz o russo Daniel Estulin, autor de um livro sobre o grupo. Ele pode estar exagerando um pouco. Mas é fato que os ultrarricos nunca tiveram tanta força. A economia mundial patina e não consegue se

SUPER / DEZEMBRO 2014

*Com reportagem de Ricardo Lacerda e Robson Pandolfi

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CAPA | ilegalidade

UM PASSO NO RUMO DA LUZ

Um passo no rumo da luz

O Brasil reduziu o trabalho ilegal e a sonegação de impostos, mostra um estudo inédito sobre os últimos dez anos. Eis uma evolução vital para o país ser mais produtivo

N

Ana Luiza Herzog, Bruno Cesar Villas Boas, Carolina Gehlen, Helton Costa, Humberto Pellegrini e Maria Luiza Gressi

ANA LUIZA HERZOG E HUMBERTO MAIA JUNIOR

holofotes por uma razão indesejada. Naquele dia, tornou-se pública a informação de que fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego haviam flagrado, duas semanas antes, numa oficina de costura em São Paulo que atendia dois de seus fornecedores — as confecções Kabriolli e Betilha —, cerca de 30 bolivianos trabalhando em condições consideradas degradantes. Eles viviam em um alojamento precário fornecido pela oficina e cumpriam jornadas exaustivas de mais de 14 horas. A Renner, que repudiou o ocorrido por meio de um comunicado oficial, não foi a primeira varejista no país a ter a marca associada ao vergonhoso tema do trabalho desumano. Algumas de suas concorrentes — entre elas as brasileiras Pernambucanas e Marisa, e a espanhola Zara — também estiveram na berlinda pela mesma razão. Dificilmente, porém, a Renner será a última a ter a reputação arranhada. E isso se explica por duas razões. A primeira delas é que episódios como esse ainda acontecem porque o nível de ilegalidade no setor de vestuário, apesar de ter mostrado melhorias, ainda é elevado. Já o segundo motivo é positivo: situações inaceitáveis como a das confecções ilegais têm vindo à tona porque o governo intensificou a fiscalização contra a ilegalidade no trabalho

34 | www.exame.com

EXAME / outubro de 2014

FABIO MARTINS/FUTURA PRESS

O ÚLTIMO DIA 27, A LOJAS RENNER, MAIOR REDE DE VAREJO DE MODA DO PAÍS, COM RECEITA ANUAL DE 4 BILHÕES DE REAIS, esteve sob os

LADO A LADO: os negócios ilegais e pouco eficientes ainda ocupam espaço à frente das lojas nas grandes cidades brasileiras

10 de dezembro de 2014 | 35

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

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matéria completa

PRÊMIO

SAÚDE, FITNESS e ESPORTE

O derradeiro nocaute de Eder Jofre

Adriano Pidone, Fábio Altman, Lailson Santos, Natalia Cuminale e Reinaldo Antunes VEJA / junho de 2014

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

Trabalho de fôlego, com apuração minuciosa e narrativa intensa, a serviço de uma história reveladora. O resultado captura o interesse do leitor de uma maneira que apenas a grandes reportagens são capazes de fazer.


destaques Bike no trabalho

BIKE m o b i l i da d e

reportagem especial

André Lessa, Anna Carolina Rodrigues, Claudia Calenda, Elisa Tozzi e Marcelo Spatafora

no trabalho

VOCÊ S/A / dezembro de 2014

Ciclistas na avenida Faria Lima, em São Paulo: bicicleta é boa opção para fugir do trânsito

Tudo o que você precisa saber para adotar de vez a bicicleta no trajeto entre sua casa e seu escritório Por Anna Carolina Rodrigues

A

paisagem da avenida Paulista, uma das mais famosas e importantes vias de São Paulo, vai mudar em 2015: o canteiro central será dividido por uma ciclovia. Isso mostra como as bicicletas estão ganhando importância, pelo menos na maior cidade do país. O argumento da prefeitura pau-

listana é que, quanto mais bicicletas nas ruas, menor o trânsito na cidade e menor o tempo de deslocamento das pessoas. Hoje, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os profissionais que vivem em regiões metropolitanas gastam, em média, 41 minutos para ir de casa até o trabalho. Muito tempo no trânsito deixa os funcionários improdutivos e estressados. E as empresas

sabem. Por isso, iniciativas como o projeto Bike na Firma, que assessora companhias que querem incentivar o uso de bicicleta pelos funcionários, têm tido visibilidade. Adotar a bicicleta para trabalhar significa ter mais tempo, mais dinheiro, mais saúde e mais produtividade. Ou seja, ter mais qualidade de vida. Leia a seguir um guia que vai ajudá-lo definitivamente a perder o medo da bicicleta.

V o c ê S /A | d e z e m b r o d e 2 0 1 4 |

foto: André LESSA

reportagem especial

m o b i l i da d e

Raio X da bicicleta

3 eSPeLho imporTanTE por EviTar quE o ciclisTa TEnha dE sE virar o TEmpo Todo para vEr o quE EsTá aconTEcEndo. mas os quE cosTumam vir dE Fábrica são pEquEnos dEmais E diFiculTam a visibilidadE. procurE Em lojas EspEcializadas.

Entenda quais são os itens essenciais na hora de montar sua bike 1 Para-LamaS cruciais para quEm não quEr sE sujar, pois EviTam quE a água E a poEira aTinjam o rosTo, as cosTas E o bagagEiro. mEsmo sEm chuva, não é raro passar com a bikE por cima dE poças. vEriFiquE sE o modElo Escolhido comporTa para-lamas – nEm Todos vêm com Essa opção.

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ObrigatóriO pOr lei

2 SeLim FundamEnTal para o conForTo duranTE a pEdalada. os modElos são divErsos E, inFElizmEnTE, não ExisTE uma Fórmula para sabEr qual é o idEal. para uso na cidadE, quando as disTâncias não são longas, o mElhor é o largo — bom para ruas pavimEnTadas. os inicianTEs dEvEm procurar um sElim com amorTEcEdor.

3 6 4

7

Sob medida

4 Guidão um guidão mais alTo garanTE uma posTura ErETa, quE ajuda a EnxErgar mElhor o TrajETo E os obsTáculos. dEvE sEr Escolhido sEgundo a largura dos ombros: sE For EsTrEiTo, causa comprEssão do diaFragma E insuFiciência rEspiraTória.

bicicleta é como roupa, quanto mais adequada a seu tamanho, mais confortável. por isso, é importante provar antes de comprar. Nos modelos urbanos, os tamanhos do quadro variam de 15 a 21. Vá a uma loja para identificar o mais adequado ou use o aplicativo Size my bike (sizemybike.com), que ajuda a escolher uma bike nova ou adaptar uma antiga. basta inserir medidas como altura e distância dos ombros.

5 CâmBio biciclETas com marchas FaciliTam a vida do ciclisTa. para dEslocamEnTos urbanos, uma bikE com 21 marchas é suFiciEnTE. variar da marcha lEvE à pEsada para pEdalar Em rETas, dEscidas E subidas, Torna o TrajETo mais agradávEl. 6 Buzina sErvE para chamar a aTEnção dE pEdEsTrEs E dE ouTros ciclisTas. as mais audívEis Têm o som dE um sininho EsTridEnTE.

5 2

ObrigatóriO pOr lei

Acessórios de uso pessoal

7

cApAcete

1 8

2

9

Principal meio de transporte há dois anos, daniela gautio, de 42 anos, mudou-se para perto do trabalho. designer de interfaces, é fundadora da gautio, uma agência online, em pinheiros, na zona oeste de são paulo. antes, daniela e o marido moravam na vila mariana, na zona sul, e levavam 40 minutos para o deslocamento diário. a mudança foi impulsionada pelo nascimento do filho do casal, hoje com 2 anos. “não aguentava mais ficar presa no trânsito”, diz daniela. hoje, ela vendeu seu carro e usa a bike o tempo todo, até para levar o filho para a creche e visitar clientes. “parece que o dia tem mais horas”, afirma.

10 8 BaGaGeiro o bagagEiro E o alForjE Ficam Em cima da roda TrasEira. uma cEsTinha podE sEr Encaixada no guidão. Escolha modElos lEvEs E dE Fácil EngaTE. EssEs iTEns EviTam quE o ciclisTa prEcisE pEdalar carrEgando uma mochila, quE podE aumEnTar a Transpiração E causar dorEs nas cosTas.

7 iLuminação EssEncial para quEm pEdala à noiTE. quanTo mais luz, na TrasEira E na dianTEira, maior a chancE dE sEr visTo por ouTros moTorisTas E mEnor o risco dE sE acidEnTar. ObrigatóriO pOr lei

9 Protetor de Corrente EviTa quE a calça sE prEnda E sE sujE na corrEnTE. mas EssE problEma podE sEr rEsolvido com um jEiTinho: dobrar a calça ou amarrá-la com uma FiTa para quE FiquE jusTa na pErna.

10 PneuS para a cidadE, o idEal são os modElos mais Finos, dE 1 a 1,5 polEgada. prEFira os lisos — pnEus com cravos Foram criados para mounTain bikE E gEram muiTo aTriTo no asFalTo. o mElhor é uma biciclETa quE TEnha aro 27,5, aro 700 ou aro 29, rodas quE dão mais conForTo. valE pEnsar Em uma bikE com amorTEcEdor: a suspEnsão dianTEira ajuda a subir E dEscEr calçadas E diminui o impacTo causado no corpo por buracos E impErFEiçõEs do TErrEno.

aPPs de manutenção bike repAir bikErEpairapp.com

um guia dE bolso para rEsolvEr problEmas mEcânicos. FoTos dETalhadas Explicam como rEgular os FrEios, Trocar pnEus E subsTiTuir pEças. conTEúdo disponívEl apEnas Em inglês, por EnquanTo.

1

8 4 | dezembro

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ra

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zões pa

adotar a bike

1.

dinheiro no BoLSo

No brasil, os preços de bicicleta ainda são altos por causa dos impostos, mas é possível comprar um bom modelo por cerca de 1 000 reais. Ainda assim, o valor é muito inferior ao preço de um carro, que exige gastos com gasolina, seguro e ipVA — a bicicleta precisa de manutenção de rotina a cada três meses e troca eventual de peças. Só para comparar: um pneu de bike custa 90 reais, enquanto um de carro custa 120 reais, em média. e quem usar a bike para percorrer 10 quilômetros de casa até o trabalho cinco dias por semana economiza 1 560 reais por ano em combustível, de acordo com cálculo do site eu vou de bike (euvoudebike.com).

Enxergar o futuro

Filipe Vilicic, Jennifer Ann Thomas, Paulo Vitale, Raquel Ferreira Beer, Tadeu Nogueira e Wander Mendes

2.

temPo reCuPerado

pedalar por um trecho de 6 quilômetros ou menos em áreas urbanas leva, em geral, menos tempo do que dirigir pela mesma distância, segundo a associação transporte Ativo. para distâncias de 6 a 10 quilômetros, o tempo gasto pela bicicleta e pelo carro costuma ser o mesmo. A bike também evita perda de tempo em congestionamentos e na hora de estacionar. Além disso, o ciclista pode economizar minutos do dia ao substituir a ida à academia pela pedalada.

VEJA / setembro de 2014

8 6 | dezembro

LuVAS diminuem o atrito das mãos com o guidão. existem luvas de dedo inteiro, mais seguras; as de meio dedo, ideais para dias quentes; e com gel, que protegem da tendinite.

ÓcuLoS

bike doctor bikEdocTorapp.com

dá consElhos sobrE manuTEnção E dicas dE limpEza E consErvação. Traz um guia com os consErTos mais comuns, como a Troca dE uma roda E rEgulagEm dE FrEios, E ajuda a idEnTiFicar barulhos EsTranhos.

bloqueiam o sol e são importantes à noite por evitar que insetos ou sujeira entre nos olhos, o que pode fazer com que o ciclista perca o controle da bike acidentalmente.

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foto: 1 MArcELO SPAtAFOrA; 2 André LESSA

reportagem especial

ra

Não é obrigatório, mas o uso é recomendado para proteger de quedas e de trombadas com galhos. escolha um que cubra e tenha boa ventilação.

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3.

Saúde em dia

Andar de bicicleta é uma atividade com baixo risco de lesões, perfeita para sair do sedentarismo. por ser um exercício aeróbico, o ciclismo ajuda a controlar a pressão arterial, aumenta a capacidade pulmonar e cardíaca, protegendo o coração do infarto. de acordo com uma pesquisa do instituto do coração, de São paulo, ciclistas que pedalam três vezes por semana eliminam cinco vezes mais rápido o LdL (colesterol ruim, que em altos níveis contribui para o entupimento das artérias) do que os sedentários.

4.

maiS Bem-eStar

Ao fazer uma atividade física como pedalar, o corpo libera a endorfina, neurotransmissor responsável pela sensação de prazer. por isso, ir de bike até o trabalho pode ajudar os profissionais a chegar lá se sentindo mais leves. É o que aponta um estudo feito na Grã-bretanha e publicado no periódico preventive medicine. os cientistas acompanharam 18 000 britânicos com idades de 18 a 65 anos para saber como o meio de transporte usado para ir ao trabalho influenciava na percepção de bem-estar. resultado: quem vai de bicicleta ou transporte público se sente menos pressionado e tem mais facilidade de se concentrar do que os motorizados.

5.

Produtividade em aLta

um estudo da universidade de bellarmine, nos estados unidos, com 2 600 entrevistados, mostrou que pessoas que se exercitam 150 minutos por semana, como muitos ciclistas, têm uma melhora de 65% na qualidade do sono. A consequência? mais produtividade.

4.

5

“minha BiCiCLeta É veLha”

o importante não é a idade, mas, sim, que esteja em ordem. Leve a bike a um mecânico para fazer revisões periódicas. A manutenção é um dos principais cuidados com a segurança que se deve ter com uma bicicleta.

desCUlpas QUe VoCÊ nÃo pode mais dar

5.

“não tenho LuGar Para tomar Banho”

1.

“eStou Fora de Forma”

ir de bike para o trabalho não significa pedalar esportivamente, ou seja, não precisa ser uma atividade que faça suar — desde que se mantenha um ritmo calmo. Quem gosta de velocidade, mas não tem um vestiário ou chuveiro no escritório, pode tomar banho em clubes, academias ou em empresas que oferecem esse tipo de serviço para ciclistas, como faz a dress me up!, de São paulo.

por causar poucas lesões, o ciclismo é ótimo para iniciantes. Antes de adotar a bike no dia a dia, teste o trajeto que vai fazer em momentos de folga. comece com passeios de 20 minutos em intensidade leve. depois, use a bike para ir trabalhar a cada dois dias e aumente a frequência aos poucos. prefira um percurso plano, sem muitas paradas e saia mais cedo. Não se esqueça de se hidratar e se alongar.

2.

“É muito LonGe”

Chuveiro exclusivo

Se considera inviável pedalar para o trabalho por causa da distância, pense em ir até uma estação de metrô ou de ônibus, ou até a casa de um colega que lhe dê carona. A bicicleta é o veículo mais eficiente num raio de até 10 quilômetros, pela velocidade e agilidade para circular.

Paz e economia

3.

“não há LuGar Para eStaCionar a BiCiCLeta”

“é perigoso demais.” Essa era a desculpa que vitor aquafreda, de 35 anos, consultor da avaya brasil, empresa de telecomunicações de são paulo, repetia para não adotar a bike. isso mudou no início de 2013, quando, cansado de ficar no congestionamento, testou a bicicleta e percebeu que economizaria 10 minutos por dia. “saio de casa mais tarde e ainda esfrio a cabeça pedalando”, diz. as vantagens superaram o medo. além de chegar mais tranquilo no escritório, vitor economiza. antes, ele gastava cerca de um tanque de gasolina por semana. com a redução do uso do carro, um tanque dura até duas semanas, uma economia de 160 reais por mês.

Se sua empresa não possui bicicletário, junte-se a outros ciclistas e faça um pedido formal. Não funcionou? use bicicletários vizinhos ou pare na rua, mas deixe a bike em local visível e use duas trancas resistentes e diferentes para dificultar roubos.

d e 2 0 1 4 | V o c ê S /A

A dress me up!, fundada pelo economista rodrigo Gonçalves, de 28 anos, oferece chuveiros, toalhas, sabonete líquido e armários para ciclistas na avenida berrini. Quando era analista da Honda, em 2010, rodrigo ia trabalhar de bike. mas a empresa tinha apenas um local para banho: um banheiro escuro e sem box. “era constrangedor”, diz rodrigo. Foi aí que teve a ideia de criar sua empresa. por enquanto, a dress me up! só tem a unidade paulistana, mas rodrigo pensa em abrir lojas em brasília, rio de Janeiro, curitiba e Joinville.

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foto: André LESSA

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Coração amargo

Alexandre de Maio, Andre Carvalho e Breiller da Silva Pires PLACAR / maio de 2014 reportagem

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p l acar .com.br maio 2014

Breiller Pires

roteiro

Breiller Pires e André Carvalho

arte

Alexandre de Maio

placa r.com. br maio 2014

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placa r.com .br maio 2 0 1 4

placar.com.br maio 2014

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matéria completa

PRÊMIO

VIAGEM

O BRASIL DE

TREM

Conferimos seis dos 31 trechos ferroviários para passageiros espalhados pelo país. Foi uma viagem por cinco regiões, foi uma profusão de histórias, de rostos, de paisagens. Foi Brazilzão na veia O maior trem de longa distância do país, que percorre 892 quilômetros entre São Luís (MA) e Parauapebas (PA)

Por LAURA CAPANEMA Fotos FERNANDO MARTINHO Arte ANA CLAUDIA CRISPIM

NOS TRILHOS

NOS TRILHOS

SÃO JOÃO DEL REI 1 TIRADENTES (MG)

Trem de longa distância, trem diário, trem de fim de semana. MG

Trem que passa por estradas de ferro centenárias, serpenteia a Serra do Mar, corre por planícies pantaneiras, contorna pedaços

DE VOLTA AO PASSADO NA MARIA-FUMAÇA

raros de Mata Atlântica nativa. Tem trem pra todo mundo – e não estamos falando de Europa. Ainda que a malha ferroviária 1 Extensão: 12 km (40 min de viagem).

brasileira não seja lá para inglês ver, temos quase 30 000 quilômetros de trilhos e estações que servem de cenário para

1 Estações: duas (São João Del Rei e Tiradentes).

novelas de época. Pois a V T decidiu fazer um trem divertido:

1Partidas: de São João: 6ªs 10h, 13h e 15h30; sáb 10h, 12h, 14h e 16h; e dom 10h e 13h. De Tiradentes: 6ªs 11h, 14h e 17h; sáb 11h, 13h, 15h e 17h; e dom 11h e 14h.

percorrer este Brasilzão através de suas ferrovias. Escolhemos seis trechos e passamos por todas as cinco regiões do país. Foram 1 762 quilômetros dentro de marias-fumaças, litorinas e locomotivas diesel-elétricas. A epopeia, que começou em Minas

1 Tarifas: ida e volta R$ 56, só ida R$ 40.

Gerais, na estação imperial de São João Del Rei, só terminou

1 Onde comprar: nas bilheterias das estações ou nas agências de turismo.

12 dias depois. Fomos de São João a Tiradentes de locomotiva a vapor e de Belo Horizonte a Vitória em vagões novíssimos.

1 Fica a dica: pode lotar aos sábados, especialmente durante as férias escolares e em épocas de festivais em Tiradentes (como o de cinema, no fim de janeiro, ou o de gastronomia, em agosto).

No Espírito Santo, desfrutamos das Montanhas Capixabas. Encaramos também a lendária Estrada de Ferro Carajás, entre o Maranhão e o Pará, por 16 longas horas. E percorremos o Pantanal de trem, com violeiro a bordo, antes de fazer o famoso trecho de Curitiba a Morretes, no Paraná. Voltamos com histórias que mostram a exuberância natural e cultural deste país acachapante,

1 Melhor lado do vagão: esquerdo (sentido São João– Tiradentes). Dá visões mais amplas da imensidão e cai de frente para os paredões da Serra de São José nos instantes finais.

ainda mais delirante se visto sob outra perspectiva. A dos trilhos.

Estampas de onça fazem todo o sentido no Trem do Pantanal

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O Brasil de trem

Ana Claudia Crispim, Fernando Martinho e Laura Capanema VIAGEM E TURISMO / novembro de 2014

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

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ovens aguardam ansiosos o apito da partida, senhoras acenam com lenços para amores viajantes, moços veem das janelas suas saudades virarem pequenos pontos no horizonte. Minas Gerais, que carrega ouro, prata e minério de ferro nas veias, é a estrela das estações centenárias do país, que por anos revelaram cenas como essas. Por causa de uma bitola (a distância entre os trilhos) de apenas 76 centímetros, a lendária Estrada de Ferro Oeste de Minas leva o apelido de “Bitolinha”. No século 19, ela se estendia por 602 quilômetros até o litoral carioca. Hoje só vai de São João Del Rei a Tiradentes (meros 12 quilômetros), mas segue causando auê entre os moradores, que correm para ver a maria-fumaça passar. Das cidades históricas mineiras, São João foi a que mais se expandiu. Ela guarda um centro histórico conservado e igrejas esplendorosas (a de São Francisco de Assis ganha menção honrosa pela fachada com palmeiras-imperiais). Começar a viagem por São João (e não por Tiradentes) é a melhor maneira de embarcar no passado, já que sua estação tem o Museu Ferroviário, que volta às origens com litografias e objetos de antigamente. O maquinista Alexandre costuma lagartear por lá antes de botar o trem nos trilhos. “Sabe como funciona uma panela de pressão?”, é o jeito com que começa a explicar o mecanis-

mo da locomotiva a vapor. Já são dois séculos de invenção, mas ainda impressiona ver essa gigante funcionar assim: à base de água e óleo. Países com tradição ferroviária, como a Alemanha, já aposentaram suas marias-fumaças há anos. Ou seja, elas são um tesouro. Dada a largada, aparece a Edna, que vende memória afetiva em forma de doce – pirulito de mel, pé de moleque e cocada com limão. Ela é filha do Seu Zé do Ferro Velho, o doceiro mais antigo de São João. Lá fora, o verde da mata divide espaço com o amarelo-manga dos ipês (primavera!), e uma brisa boa entra pela janela de guilhotina. O auge é quando avistamos o Rio das Mortes, o córrego dos injuriados da Guerra dos Emboabas, que corre translúcido na frente dos blocos de pedra da Serra de São José. E quando a viagem começa a dar um caldo... Fóóón. Chegamos. A brincadeira acaba em 37 minutos. Antes de decidir se você quer chegar ao miolo de Tiradentes a pé (a 1,5 quilômetro) ou de charrete (R$ 25), assista aos funcionários puxarem, manualmente, a frente do trem para inverter a direção. Coincidências à parte, o episódio atraiu os celulares de uma turma da escola “Piuí Cha Chá”. E o desembarque na hora do almoço é providencial para conjugar o tour com qualquer coisa que venha de um fogão a lenha. Trem bom demais.

Delícia do restaurante Tragaluz

A centenária estação de Tiradentes Posso ver sua passagem, senhor?

Os doces afetivos da Edna Relíquia imperial

NOVEMBRO 2014 VIAGEM E TURISMO

A reportagem viajou em seis trens de passageiros em cinco regiões do Brasil, percorrendo 1 762 quilômetros de estradas de ferro. Mostrou um panorama completo do turismo sobre trilhos no país. As fotos da reportagem mostram cenas desse Brasil desconhecido da maioria dos viajantes.


destaques

ÍNDIA

Em um mês, reviramos a imensa Délhi, dormimos nos hotéis-palácios do Rajastão, percorremos os centros espirituais, conferimos os lindos cartões-postais. Acompanhe a nossa jornada por diferentes facetas de um dos países mais intensos e excitantes do mundo

FOTO: DINODIA/KEYSTONE

Os 330 milhões de deuses podem ser azuis, ter oito braços, andar sobre leões, meditar na posição de lótus...

FOTO: TAKA/KEYSTONE

FOTO: ©GODONG/KEYSTONE

Por LAURA CAPANEMA Ilustrações DANIEL ALMEIDA Arte ANA CLAUDIA CRISPIM e RICARDO MARQUES

Vida boa de gado: a vaca é sagradíssima, e ai de quem ousar mexer com ela

Barba espessa e turbante colorido: muito prazer, senhor sikh

Índia

Ana Claudia Crispim, Daniel Almeida, Laura Capanema e Ricardo Marques VIAGEM E TURISMO / julho de 2014

ALEMANHA Portão de Brandemburgo, ponto de partida de um novo país

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ALEMANHA sem barreiras

FOTO: SEAN GALLUP/GETTY IMAGES

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FOTOS: ©1 ANA CLAUDIA CRISPIM, ©2 K. THOMAS/KEYSTONE, ©3 DALBERA/FLICKR, ©4 THOMAS FREY/CORBIS/LATINSTOCK, ©5 GONZALO SILVA/CORBIS/LATINSTOCK, ©6 MOVEMENTWAY/IMAGEBROKER/KEYSTONE

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Texto e arte ANA CLAUDIA CRISPIM

Bora pedalar à beira do Rio Spree, em Berlim, olhando as luzes do Reichstag do outro lado?

Alemanha sem barreiras Ana Claudia Crispim

VIAGEM E TURISMO / dezembro de 2014

COMPORTAMENTO ONDE FICAR:

Miami, Orlando, NY, San Diego, São Francisco, LA.

ONDE FICAR:

Québec, Toronto, Montreal e Vancouver.

É UMA BOA:

o inglês americano é com o qual temos mais contato.

É FÁCIL DE...

Como pedir para os pais

3º INGLATERRA

1º LUGAR: EUA

2º: CANADÁ

ONDE FICAR:

É LEGAL: já pensou passear pela Times Square?

Londres, Oxford e Cambridge. BONS MOTIVOS:

$$$: um mês sai

é a terra do Big Ben, dos Beatles, da rainha, do Museu Madame Tussauds...

por R$ 5,5 mil; seis meses, R$ 27 mil; um ano todo, R$ 53 mil.

TRAVA-LÍNGUA:

o inglês brit pode ser difícil, mas o sotaque é lindo.

A gente dá uma forcinha para convencê-los

$$$: um mês, R$ 7 mil; seis meses, R$ 35 mil; um ano, R$ 70 mil.

conseguir o visto e entender o sotaque.

5º: IRLANDA

DIZEM QUE...

por lá, as pessoas são supergentis!

ONDE FICAR:

Dublin.

$$$: um mês sai por R$ 4,5 mil; seis meses, R$ 25 mil; um ano, R$ 51 mil.*

8º: ESPANHA

É LEGAL:

ONDE FICAR:

Madri e Barcelona.

ONDE FICAR:

VANTAGEM: em poucas horas você chega lá (e volta, se rolar problema, né?). É LEGAL: o país

tem tesouros da época colonial!

É LEGAL... seu

VANTAGEM:

os espanhóis são donos de pontos turísticos com arquitetura linda.

$$$: um mês, R$ 5 mil; seis meses, R$ 27 mil; um ano, R$ 53 mil.

COMILANÇA:

a culinária de lá é cheia de pratos (e doces!) incríveis.

$$$: um mês, R$ 6 mil; seis meses, R$ 28 mil; um ano, R$ 60 mil.

Na tela: a vlogueira Joyce Ellen, do Diário de Intercâmbio, ficou um mês em Winnipeg, também no Canadá, e dá uma dica boa: “Eu mostrava muitos vídeos de intercâmbio aos meus pais para entenderem como era positiva a experiência. Depois, eu fiz os meus.”

english? Oh, yeah!

Insta vai bombar de fotos da Torre Eiffel.

APROVEITE:

Santiago.

ali pertinho, tem Bélgica, Inglaterra e Escócia. Pelo preço dos EUA!

ONDE FICAR:

conhecer a Europa no finde!

10º: CHILE

Paris e Provence.

9º: FRANÇA

É LEGAL...

$$$: boa opção por menos grana. Um mês, R$ 3,5 mil; seis meses, R$ 20 mil; um ano, R$ 35 mil.

Motivos de sobra: Fale das vantagens. A Mariana Leite, 16 anos, vai este ano para o Canadá e fez uma lista para convencer os pais. “Sair da rotina, ganhar responsabilidade, conhecer outra cultura... Mostrei o que o intercâmbio traria pra mim.”

$$$: um mês, R$ 7 mil; seis meses, R$ 34 mil; um ano, R$ 70 mil. Mon Dieu!

Pesquise! Chegue com a solução, e não com o problema. Procure os melhores lugares, preços e moradias antes de sentar para conversar. Aliás, que tal mostrar esta matéria também?

4º: AUSTRÁLIA ONDE FICAR:

Sydney e Gold Coast.

7º: ÁFRICA DO SUL ONDE FICAR:

Cidade do Cabo. É LEGAL:

COMBO: o visto de estudo também permite trabalhar 20 horas semanais, desde que você tenha 18 anos, claro.

$$$: um mês, R$ 6,2 mil; seis meses, R$ 32 mil; um ano, R$ 65 mil.

Chegou a sua vez! Descobrimos os dez destinos mais procurados pelas garotas brasileiras e adiantamos um pouco como vai ser a sua vida lá fora (amigos, grana, escola, família...). Tá com medo? Vai com medo mesmo! Texto Samantha Melo Foto Thiago Justo Design e ilustração Débora Islas

$$$: um mês, R$ 4 mil; seis meses, R$ 20 mil; um ano, R$ 45 mil.

6º: NOVA ZELÂNDIA ONDE FICAR:

Auckland.

É UMA BOA:

afinal, eles amam brasileiros e o clima é bem parecido com o nosso. Nada de saudade!

VANTAGEM:

boas escolas, reconhecidas mundialmente. $$$: um mês, R$ 5,5 mil; seis meses, R$ 28 mil; um ano, R$ 58 mil.

84 CAPRICHO

Falar inglês ou não, eis a questão! O intercâmbio que você escolhe depende muito do que você quer conseguir com ele. Descubra aquele que é a sua cara PRECISO FALAR A LÍNGUA? Não. Mas o quanto você fala determina que tipo de intercâmbio combina mais com você. Para escolher o programa certo, “o importante é entender a necessidade e o tempo que você tem para se dedicar a isso”, nos explicou a Suzana Martins, que é gerente de marketing da STB Intercâmbio. Vamos descobrir qual é o seu? TENHO QUE FAZER PROVA? Sim. Para os intercâmbios do tipo high school, em que você vai cursar um ano ou um semestre do ensino médio lá, a agência aplica prova escrita e oral aqui no Brasil ainda. É exigido um nível de fluência e entendimento intermediário para ser aceita nas escolas estrangeiras. Já para os intercâmbios mais curtos, em que você estuda apenas o idioma em uma escola para estrangeiros, não há esse tipo de exigência. Mas, ao chegar, vai rolar o teste de nivelamento. Tradução? Eles vão checar o quanto você sabe para saber em que turma você se encaixa. “Por isso, não há requisito de fluência mínima. As escolas são preparadas para receber alunos com todos os níveis de idioma. Cursos curtos funcionam mais para aperfeiçoamento do que aprendizado”, explica Fabiana Fernandes, gerente de produto da Central de Intercâmbio (CI).

$ ou £? A Beatriz Calsolari, 15 anos, abriu mão da festa de debutante para ir para Londres. “Comecei a juntar o dinheiro mais de um ano antes.” É, intercâmbio custa caro, e economizar para ajudar seus pais a pagar é uma forma de provar que você merece a chance!

É LEGAL...

para quem curte esportes radicais e aquáticos.

praias incríveis e muita natureza! TÁ FÁCIL: a língua oficial é o inglês, apesar dos dialetos e do holandês colonial.

Viajante sob medida

* Preços médios pesquisados em abril de 2014.

geografia), ciências e educação física”, explica a Alessandra Brandão, diretora da 2be Study Group. Ou seja, você só perde o ano aqui se tiver problemas de disciplina ou notas por lá. Mas o Fabio Kruschewsky, supervisor de cursos da Intercâmbio Global, faz um alerta: nem todas as escolas brasileiras reconhecem o programa, então é preciso conversar com a direção da sua e, se for o caso, mudar para uma que aceite o seu histórico escolar ou algum tipo de adaptação do currículo (cursando matérias à parte). Em países como Itália, Espanha ou Argentina, é mais fácil que isso aconteça.

Só perde o ano aqui quem tiver problemas de notas ou disciplina no exterior.” O CURRÍCULO É IGUAL? “De acordo com as normas do MEC, o estudante pode fazer o programa em instituições de ensino no exterior em quase todos os países, sem perder o ano aqui no Brasil, contanto que passe nas seguintes matérias: inglês, matemática, estudos sociais (história e

INTERCÂMBIO SEM ESCOLA Dá para experimentar a vida lá fora de outras formas, como o voluntariado. Nesse caso, entidades religiosas ou ONGs organizam suas atividades para beneficiar uma comunidade. Quem já tem 18 pode fazer au pair: ser babá em troca de moradia, refeição e contato com o idioma.

6 dicas para deixar só a saudade aqui Só o necessário! Não enfie seu armário todo na mala! Foque no que você não pode viver sem ou comprar por lá. Alguns itens são bem baratos fora do Brasil e você vai curtir trazer umas novidades, né? Sem sufoco. Leve uma bagagem que você não precise de ajuda para carregar. Desse jeito, fica mais fácil se movimentar de um lugar para o outro. Quase em casa: a psicóloga Betty Monteiro aconselha ter alguns objetos de lembrança para aguentar a saudade. Fotos de família, vídeos de amigos, um colar que ganhou de presente... Leve um pedacinho do Brasil junto com você. E a roupa? Leve ao menos um biquíni e um bom casaco, nunca se sabe quando o tempo vai mudar. Mesmo em cidades frias, vale ter peças de tecido leve, já que a maioria dos lugares tem aquecedor. Além disso, alivia o peso (muitas companhias aéreas só permitem duas malas de 32 kg sem taxas).

Já é de casa

Viver com uma família ou com a galera? Mais tranquila ou cheia de responsabilidades? Coloque tudo na balança antes de decidir Nos intercâmbios teens, costumam rolar duas opções para se hospedar: os alojamentos estudantis, localizados dentro da própria escola ou bem pertinho dela, e as casas de família. Hotéis e apês alugados não são opções tão seguras para quem é menor de idade em um país estranho, ok? NA CASA DOS OUTROS... Mesmo tendo um quarto só para você, ficar na casa de uma família estrangeira permite que você mergulhe na cultura do país onde está. “Nesse tipo de moradia, as alunas têm a oportunidade de vivenciar a rotina de uma família que possui diferentes hábitos e costumes, e são forçadas desde o primeiro bom-dia a falar o idioma”, aponta Fernanda Rodrigues, gerente de intercâmbio da Cultura Inglesa. Além de reparar nos detalhes, você também vai ter um grupo de pessoas com quem socializar logo de cara. E isso pode ser bem legal. Se você respeitar direitinho as regras da casa, pode ganhar uma família de verdade que ajude a lidar com a saudade do Brasil. Para evitar problemas, fique de olho nos horários e avise se for se ausentar no momento das refeições, por exemplo. É importante demonstrar consideração pela rotina deles. Não espere que sua roupa seja lavada ou que a louça suma da pia. Aqui, as mães são mais flexíveis em relação a isso, mas no exterior é comum que uma família divida as tarefas igualmente. Em relação ao transporte, no primeiro dia de aula eles mostrarão como pegar o ônibus ou metrô, e, a partir daí, é com você.

Você pode vivenciar a rotina da família e falar o idioma desde o bom-dia.” NO ALOJAMENTO DA ESCOLA A parte mais legal da residência estudantil, como você pode imaginar, é a localização. Dificilmente vai precisar de transporte público ou caronas, o que significa um gasto menor de transporte, e até dormir um pouquinho mais. Há escolas que oferecem café da manhã e jantar, mas, se você optar por fazer os próprios horários, pode escorregar e gastar mais do que o previsto nesse aspecto. Só se esqueça da vida confortável de uma casa: são centenas de estudantes dividindo uma lavanderia! #tenso Topou o alojamento? A Fernanda recomenda que você leve, em média, US$ 250 por semana para alimentação na rua, o que pode ser necessário tanto no dia a dia quanto em viagens no finde. O ideal é ter US$ 1 000 por mês, sem contar aquela grana extra para as comprinhas.

Faça uma lista. Se vai deixar para arrumar a mala quando estiver perto de viajar, anote o que gostaria de ter por lá e vá completando. Assim, é mais difícil esquecer algo.

Good girl: para mostrar que dá conta, que tal ser responsável e se oferecer para pegar um ônibus quando sua mãe tiver compromisso? Ah, não deixe de se esforçar no inglês e na escola! CAPRICHO 85

VOU PERDER AULA? Depende. Nos intercâmbios curtinhos, você pode viajar nas férias mesmo. Eles duram, em média, quatro semanas. Porém, há programas estendidos (para quem quer estudar mesmo a língua – e só ela) que duram seis meses ou até um ano. Nesse caso, é bem comum perder o ano, sim. Por isso, a maioria prefere ir após terminar o 3º ano. Assim, você amadurece a ideia do que quer estudar quando voltar e aprende outra língua. Outro jeito de fazer o intercâmbio mais longo e ainda estudar matemática e física é fazer high school, o preferido das garotas.

Hora de arrumar a mala

Leve com você... Uma mala de mão para os itens essenciais, caso sua bagagem se perca. Documentos, eletrônicos, óculos... 86 CAPRICHO

CAPRICHO 87

Guia de Intercâmbio

Debora Da Cruz, Mariana Alves, Samantha Melo e Thiago Justo CAPRICHO / maio de 2014

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

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matéria completa

PRÊMIO

POLÍTICA

CAPA | eleições

O

DILMA ROUSSEFF: a presidente tenta a reeleição, mas usa o slogan Mais Mudanças. A principal reforma que propõe é a política, com defesa do financiamento público de campanha

BRASIL QUE QUEREMOS

DANIEL BARROS E HUMBERTO MAIA JUNIOR

M UMA HIPÓTESE OTIMISTA, O BRASIL INICIARÁ O PRÓXIMO ANO EXPERIMENTANDO UMA AGITAÇÃO HÁ MUITO ESPERADA — a produzida pela entrada em cena de uma série de reformas estruturais. O desejo dos brasileiros por transformações está expresso nas pesquisas com tal força que os discursos dos três principais candidatos à Presidência o incorporam. No caso da pretendente à reeleição Dilma Rousseff, do PT, a palavra “mudança” compõe o lema da campanha — embora daí é que menos se esperem alterações. Seus principais desafiantes, Marina Silva, do PSB, e Aécio Neves, do PSDB, acenam com reformas de impacto, não explicitando totalmente o que seriam. O gênero, o número e o grau das medidas futuras vão depender de quem for vitorioso nas urnas e dos apoios que juntar. A disposição para negociar e, idealmente, construir uma espécie de acordo nacional em prol de reformas será decisiva — caso o futuro presidente de fato queira mudar algo.

32 | www.exame.com

O Brasil que queremos

Carolina Gehlen, Daniel Barros, Humberto Pellegrini, Maria do Carmo Benicchio e Martha Tadaieski EXAME / outubro de 2014

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40

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

WILTON JUNIOR/AE, GERMANO LÜDERS, MÁRCIA RIBEIRO/FOLHAPRESS

E

MARINA SILVA: a candidata do PSB herdou de Eduardo Campos o discurso em prol de uma reforma tributária que poderia ser enviada ao Congresso no início do mandato

EXAME OUVIU A NATA DO CAPITALISMO BRASILEIRO SOBRE AS REFORMAS MAIS URGENTES PARA QUE OS NEGÓCIOS PROSPEREM E O PAÍS CRESÇA. A BOA NOTÍCIA: DÁ PARA RETOMAR O DINAMISMO PERDIDO EM POUCO TEMPO. MAS QUEM VAI ENFRENTAR O DESAFIO?

AÉCIO NEVES: o candidato tucano acena com propostas de reforma política e simplificação do sistema tributário para a implantação logo no início do mandato

1º de outubro de 2014 | 33

Em momento pré-eleitoral a reportagem ouviu os mais importantes empresários brasileiros sobre as reformas urgentes para a prosperidade dos negócios e o crescimento do país, trazendo valiosos insights nas frentes da Educação, Gestão Pública, Infraestrutura e Tributação.


destaques O escândalo na Petrobras

OS DIÁLOGOS DA CORRUPÇÃO

Adriano Ceolin, Adriano Pidone, Andreia Marta Olim, Daniel Pereira, Douglas Bressar, Hugo Marques, Malu Gaspar, Policarpo Júnior, Reinaldo Antunes, Robson Bonin, Rodrigo Rangel, Tadeu Nogueira e Thiago do Prado

As conversas do deputado André Vargas e do doleiro Alberto Youssef fagradas pela Polícia Federal Alberto Youssef – “Acredite em mim. Você vai ver o quanto isso vai valer... Youssef

VEJA / março a dezembro de 2014

PROIBIDA

D E

Tua independência fnanceira e nossa também, é claro...”

VENDA

E X E M P L A R

ASSINANTE

André Vargas

R$ 10,90

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4/4/14 8:42 PM

Brasil

GOLPE MILIONÁRIO ƒ André Vargas: Estamos mais fortes agora. Vi documento com Pedro. Ele estava no voo de volta de Brasília. ƒ Alberto Youssef: Cara, estou trabalhando, fica tranquilo. ƒ Alberto Youssef:

Cecilia de Carvalho e Lauro Jardim VEJA / agosto de 2014

PODER E DINHEIRO

André Vargas negou ao Congresso que tivesse negócios com o doleiro. Mentiu. Mensagens trocadas entre os dois revelam que eles tinham inclusive o mesmo objetivo: ganhar muito dinheiro em negócios com o governo

Acredite em mim. Você vai ver o quanto isso vai valer... Tua independência financeira e nossa também, é claro...

O PLANO ERA ENRIQ UECER O vice-presidente da Câmara, o petista André Vargas, e o doleiro Alberto Youssef, operador da quadrilha que atuava na Petrobras, associaram-se para fraudar contratos no governo — e, juntos, ganhar uma fortuna

Brasil

voo para a morte

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9 DE ABRIL, 2014 |

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ROBSON BONIN

deputado federal André Vargas, do Paraná, é uma estrela petista em ascensão. Filho de um torneiro mecânico com uma dona de casa, filiou-se ao partido em 1990, elegeu-se vereador, deputado estadual e agora cumpre seu segundo mandato consecutivo na Câmara dos Deputados, onde exerce o poderoso cargo de vice-presidente da

Casa. Vargas é o típico casca-grossa, sempre pronto a servir aos líderes, aceitando toda sorte de trabalho sujo, desde que alinhado com o projeto de poder do PT. Como secretário nacional de Comunicação do partido, organizou a guerrilha petista na internet especializada em disseminar boatos falsos e difamar adversários. Esse grupo teve atuação destacada na eleição de Dilma Rousseff, em 2010. No Congresso, ele participou da ofensiva des-

tinada a usar a CPI do Cachoeira para fustigar o Ministério Público e criminalizar o trabalho de jornalistas. Vargas é entusiasta do “controle social da mídia”, um eufemismo para censura. Foi ele também o autor da molecagem de levantar o punho esquerdo em afronta ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, que visitava oficialmente o Congresso Nacional. Vargas disse que teve vontade de “dar uma cotovelada”

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SOCIEDADE OCULTA ƒ Alberto Youssef: Tô no limite. Preciso captar. ƒ André Vargas: Vou atuar. ƒ Alberto Youssef: Me ajude. Preciso. Hoje vou na indústria. Visita dos técnicos MS às 14h30. Te informo depois como foi. ƒ André Vargas: Legal. ƒ Alberto Youssef: Terminou a visita. Fomos bem. Temos que aguardar o relatório. ƒ André Vargas: Vamos cobrar. Preciso do retorno sobre a estruturação. ƒ Alberto Youssef: O.k. Sim, vamos.

do de Marina Silva, a vice improvável — como uma nova opção no cenário, a “terceira via”. E, naquele começo de manhã, ele achava que a chance estava ao alcance da mão. Às 9h17, cinto afivelado, ainda ligou para o coordenador de comunicação de sua campanha, Alon Feuerwerker, com quem conversou animadamente sobre a entrevista e o horário eleitoral, que começaria dali a oito dias. Às 9h21, desligou o celular e o Cessna decolou. Levava a bordo um homem satisfeito, bem-apessoado, bem casado, pai de cinco filhos, firmemente plantado onde sempre quis estar — no palco central da política brasileira — e destinado a fazer história. Às 10 da manhã chuvosa, um estrondo. O jatinho despencou sobre um quarteirão movimentado de Santos, no litoral paulista, matando todos os sete ocupantes. Era o fim do sonho para o pernambucano Eduardo Campos, 49 anos recém-completados, expoente de uma nova geração de políticos, que se foi em um dramático e chocante segundo, antes de poder mostrar a que veio.

MORDOMIA Depois da assinatura do contrato com o Ministério da Saúde, o deputado André Vargas ganhou do doleiro uma viagem de jatinho com a família. Valor do presente: 100 000 reais

sonho interrompido

Campos, o candidato da “terceira via”: ao longo da carreira, o esforço para se descolar do passado e pavimentar um caminho próprio

nheiro público. Vargas passava a Youssef informações de dentro do governo, ajudando o sócio a localizar projetos nos quais eles pudessem enfiar a mão nos cofres públicos. Vice-presidente da Câmara e “muito influente no partido”, como ele mesmo se definiu na semana passada, Vargas era o homem certo no lugar certo para o esquema de corrupção. Foi desse ponto de observação privilegiado na estrutura de poder do PT que Vargas detectou no Ministério da Saúde uma excelente oportunidade de ganho para ele e o seu sócio doleiro, que, entre uma remessa ilegal de dólares e outra, também era, quem suspeitaria dessa vocação, dono de um laboratório farmacêutico. A mente criminosa da dupla planejou a parceria milionária entre o la-

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à espera da arrancada

AgêNciA O gLObO

ALEXANDRE SEVERO

Campos em um dos últimos atos de  campanha, em 3 de agosto: certo de que a  candidatura decolaria, aguardava ansioso  o início da propaganda na TV

RODRigO LObO

uis o destino que Eduardo Henrique Accioly Campos fosse vítima de um acidente fatal — justo ele, que sempre se pautou pelo planejamento meticuloso de seus passos na vida e na política. Entrar nela não foi difícil: ele nasceu em berço esplêndido para a carreira, neto do poderoso e respeitado líder da esquerda Miguel Arraes. Junto do avô governador, deu os primeiros passos como chefe de gabinete (aos 22 anos, recém-formado em economia) e, depois, como secretário de Fazenda. Mas sua ambição era maior do que a de ser herdeiro natural de uma geração política notoriamente desgastada. Campos percebeu o apelo do candidato que se apresentasse como o novo, a aposta não contaminada por vícios antigos. Arregaçou as mangas e foi à luta: nos últimos doze anos, período em que exerceu o terceiro mandato de deputado federal e foi governador de Pernambuco por duas vezes, empenhou-se em agarrar a própria bandeira e trilhar um caminho autônomo. Em 2002, já deputado federal de olho na reeleição, Campos contrariou pela primeira vez o avô, que o queria candidato à Assembleia Legislativa e não ao Congresso, ao qual ele próprio aspirava. Arraes temia dividir votos com o neto, mas Campos fincou pé. No fim, foi sua vontade que prevaleceu, e elegeram-se os dois para a Câmara dos Deputados. Logo depois, aceitaria integrar o primeiro governo Lula, como ministro da Ciência e Tecnologia (“Foi meu presente de Natal”, derretia-se o presidente), e seria seu articulador no Congresso quando a fissura aberta pelo mensalão já causava estragos — um tempo em que exercitou a habilidade para costurar alianças e aparar rivalidades. Foram muito próximos ele e Lula, íntimos até, só que Campos queria mesmo era ter luz própria. Em 2006, decidiu disputar o governo de Pernambuco contra o candidato do PT. Largou com 4% e saiu ungido com mais de 60% dos votos. Fez um governo muito bem avaliado, reelegeu-se com 82% e, no ano passado, deu o passo decisivo para a independência política: em vez de apoiar a reeleição de Dilma Rousseff, resolveu lançar-se ele mesmo à Presidência.

sempre JUntos Com os fi lhos e a mulher, a grande conselheira, a quem chamava de  “dona” Renata: o registro de uma brecha em meio à corrida para a Presidência

política no dna   No Congresso, com Miguel Arraes, ambos deputados federais, em  2003: o legado do avô foi o ponto de partida para a carreira meticulosamente planejada

Campos não levava o sobrenome do avô materno por decisão do pai, o escritor Maximiano Campos. Ele queria evitar problemas para o filho nascido um ano depois do golpe militar que cassou e exilou o líder esquerdista. O menino Eduardo (o Dudu) só conheceu Miguel Arraes aos 10 anos, levado pela mãe, a

muito diferentes. Meu avô no sertão, no início do século XX, e eu na cidade, em 1965. Cada um ganhou as marcas do seu tempo”. Aproximaram-se quando Arraes regressou ao Brasil; Campos deu adeus a um mestrado nos Estados Unidos e se engajou na campanha do avô ao governo de Pernambuco. Já elei-

advogada Ana Arraes, a visitá-lo no exílio na Argélia. “Antes, trocávamos cartas. Todo ano chegavam duas ou três”, contou ele a VEJA, em uma entrevista no Recife três dias antes de morrer. Compartilhavam visões de mundo, mas com diferenças que Campos assim divisou: “Nascemos em tempos sociais

to, o velho Arraes se exasperava com a fila de políticos que o neto incluía na agenda diária do Palácio. “Não é possível o senhor, pela sua cabeça, meter esse povo todo aqui!”, reclamava. É preciso, dizia Campos; são aliados que garantem eleição. E Arraes cedia. Aprendeu ainda com o avô a nunca citar o

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nome de um desafeto ao responder a ataques. E uma lição inestimável: quando preciso, não hesitava em selar acordos com os adversários. Antes do anúncio da candidatura à Presidência, ainda ligado ao governo, Campos operou uma aliança emblemática com Jarbas Vasconcelos, o maior adversário histórico do clã Arraes. Concluíra que precisava agregar todas as forças políticas de Pernambuco se quisesse se tornar uma alternativa viável no plano nacional. Ao sentar-se diante do antigo inimigo, sentindo que havia um certo pudor na aproximação, jogou a isca. “Está difícil conviver com o PT”, disse. Jarbas se recorda: “Ali ele me desarmou, pois sabia que eu era totalmente contra as práticas do petismo”. Assim Campos foi consolidando sua estratégia de trazer frescor à embolorada política nacional. Tudo pensado, tudo planejado — até o imponderável se impor, na fatídica manhã de 13 de agosto, exatamente o dia da morte de Miguel Arraes, há nove anos. Centralizador e com pendor a se cercar de familiares no governo, Campos se deixava influenciar por poucos. Sua grande interlocutora era a mulher, “dona” Renata, como ele a chamava, que começou a namorar aos 15 anos e com quem teve cinco filhos. “Os que conhecem bem Eduardo sabem que nenhum assunto está completamente decidido até que ele ouça a opinião de Renata”, resumiu há poucas semanas o presidente do PSB pernambucano, Sileno Guedes. Na campanha, não se via um sem o outro; ela, sempre com Miguel, o caçula de 7 meses, no colo. No último dia 5, ele tratava de política segurando o filho com uma fralda no ombro. De presente de aniversário, que caiu no Dia dos Pais, ganhou da filharada um vídeo que exibia orgulhoso. “Homem, me acabei de chorar”, comentava. Na casa antes em festa e agora devastada pela tragédia, Renata desabafou: “Estou com essa sensação de que a morte bateu na porta errada”. ß

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jefferson coppola

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RODRIGO RANGEL

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a gênese do mensalão, o maior escândalo de corrupção já investigado e julgado da história política do país, funcionários públicos escolhidos a dedo por partidos políticos se posicionavam estrategicamente na máquina federal com uma meta definida: arrecadar recursos entre fornecedores que tinham contratos com o governo. Eram as chamadas “fábricas de dinheiro”, assim definidas por Roberto Jefferson, o delator do esquema. Foi um vídeo gravado no interior de uma filial dessa rede clandestina — no caso, uma diretoria dos Correios — que acendeu o pavio que detonou o escândalo. Na esteira das investigações, a Petrobras chegou a aparecer como um dos nichos de negócio da azeitada engrenagem que alimentava políticos corruptos. Era de esperar que, com a descoberta do mensalão, os saqueadores se sentissem intimidados. Mas não foi o que ocorreu. Com o passar do tempo, a Petrobras, com seus contratos bilionários, virou um alvo preferencial, como se verá a seguir. Para prestarem serviços ou venderem produtos à estatal, empresas precisavam se associar a um “clube”, pagar uma taxa que variava de 300 000 a 500 000 reais e se comprometer a repassar uma parte do valor dos contratos para um caixa que era dividido entre intermediários do negócio, diretores da estatal e políticos. Um pedaço importante desse verdadeiro mapa do tesouro está fartamente documentado nos autos da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, que há três semanas levou para a prisão o doleiro Alberto Youssef e o engenheiro Paulo Roberto

a sucessora resignado à ideia de tê-la como cabeça de chapa, mas esperavam de Marina algo que ela nunca demonstrou antes: flexibilidade para entender e apoiar as alianças fechadas pelo partido, com as quais nunca concordou. A resposta da senadora veio no seu melhor estilo melancólico-visionário-messiânico, perfeito para evasivas e para mantê-la sempre com a última palavra: “O momento exige recolhimento e serenidade para tomar a decisão que melhor preserve o legado de eduardo”. Marina acordou candidatíssima no dia seguinte. participou com interesse das discussões sobre o perfil ideal do novo vice da coligação. A preocupação inicial do PSB de que a vaga coubesse a um nordestino, como campos, passou a dividir espaço com a ideia de que a chapa deveria ser completada com um empresário — alguém que ajude a melhorar a imagem de Marina junto ao setor hoje amplamente dominado por Aécio Neves. “Parece que ela se deu conta de que perdeu 48 horas de campanha e agora vai entrar nela de cabeça”, descreveu um integrante da coligação. Na quinta de manhã, Marina conversou ao telefone com Renata, a viúva de eduardo campos. as duas se tornaram muito próximas durante a campanha. Marina sabia o nome e o apelido, preferido por ela, de cada um dos cinco filhos de Renata e Eduardo. O apoio de Renata foi fundamental para que Marina assumisse a candidatura. a nota divulgada no mesmo dia pelo irmão do ex-governador, o advogado Antônio Campos, também lhe caiu muito bem. Invocando sua condição de “neto mais velho vivo de Miguel Arraes” e “único irmão de Eduardo”, Antônio Campos

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Para fazerem negócios com a Petrobras, empresários precisavam pagar pedágio que variava de 300 000 a 500 000 reais

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a entrada de Marina silva no lugar de eduardo Campos é ruim para Dilma Rousseff, porque forçará o segundo turno, e também para aécio neves — porque agora nada garante que será ele a chegar lá udou tudo.” Era essa a frase que, desde a tarde de quarta-feira, repetiam políticos, analistas e estrategistas de campanha, resumindo o impacto do acidente que matou Eduardo campos. como candidato à presidência da república pelo psB, campos percorreu o país por dez meses com Marina Silva, a vice que marcava o triplo dele nas pesquisas, mas tinha sido obrigada a aceitar o papel secundário por não ter conseguido formar seu próprio partido. representante da rede Sustentabilidade, grupo político que fundou e que se associou ao PSB nestas eleições, Marina foi uma disciplinada, discreta e leal coadjuvante. agora, com a morte do parceiro de chapa, poucos têm dúvidas de que vá retomar o papel de protagonista. Da parte da própria, se havia alguma, ela começou a se dissipar na sexta-feira. Na noite de quinta — de calça, camiseta, xale azul-claro e olhos ainda inchados pelo choro —, a ex-senadora recebeu em seu apartamento em Moema, em são paulo, o deputado e vice-presidente do psB, Beto albuquerque. Marina sempre manteve com ele uma boa relação, ao contrário da que tem com o presidente em exercício da sigla, Roberto Amaral, a quem só se refere como “o doutor Roberto Amaral”, com calculado distanciamento. futuro nebuloso Depois de eles se abraçarem e choraMarina rem juntos, Albuquerque disse a MariSilva: na que ela precisava “compreender que o próximo não é uma candidata da Rede” e que fenômeno deveria “abraçar o PSB”. As alas do eleitoral? partido resistentes a ela já haviam se

UM TAL ANDRÉ VARGAS No relatório, a Polícia Federal diz que um “interlocutor não identificado” é ligado ao laboratório que fechou contrato com o Ministério da Saúde e também aparece fazendo tráfico de influência. O homem não identificado, sabe-se agora, é o deputado André Vargas

O CLUBE DOS CORRUPTOS

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kalleo coura, do Recife , e pieter zalis

gava a 30 000 reais por mês. Isso seria um impedimento definitivo para empreendedores menos engenhosos — mas não para a dupla petista e doleiro. A saída óbvia seria conseguir se associar a um laboratório de verdade e, assim, dar à fraude uma aparência de legalidade. Afinal, estavam em jogo contratos de fornecimento de remédios

para o Ministério da Saúde da ordem de 150 milhões de reais. Uma das mensagens interceptadas pela Polícia Federal flagrou um momento mágico para a dupla: surgira o sócio que daria ares de honestidade ao golpe. Em 19 de setembro de 2013, Vargas e Youssef conversavam sobre o contrato, ainda em estudo pelo Ministério da Saúde. O deputado relata a Youssef seu encontro com um dos integrantes do esquema, Pedro Argese, da Labogen: “Estamos mais fortes agora. Vi documento com Pedro. Ele estava no voo de volta de Brasília”. Argese informou que estava praticamente acertada a parceria com a EMS, gigante farmacêutico especializado em medicamentos genéricos. Vargas mal escondia a euforia: “Bati um longo papo com Pedro, e ele estava com documento de parceria com a EMS”. Youssef acrescenta: “Cara, estou trabalhando, fica tranquilo. Acredite em mim. Você vai ver quanto isso vai valer... Tua independência financeira e nossa também, é claro...” Impressionantes a abnegação e a dedicação ao trabalho da dupla, cujas

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boratório do doleiro, a Labogen Química Fina e Biotecnologia, e o Ministério da Saúde. Mas havia um problema, mesmo para um sócio “muito influente no partido”. Escondida sob o nome imponente, a Labogen não podia propriamente ser chamada de laboratório. Era um negócio de fachada, com uma folha de pagamentos que mal che-

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Continuação continuação brasil

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Costa, o homem que, de 2003 a 2012, comandou a poderosa diretoria de abastecimento da Petrobras apoiado por uma constelação de políticos de partidos da base governista, como PP, PT e PMDB. Há tempos, empresários com atuação no setor de óleo e gás reclamam, reservadamente, das barreiras a ser vencidas por quem tenta fazer negócios com a maior empresa brasileira. Os relatos sempre envolviam a intermediação de lobistas que, em troca de “comissões”, facilitavam o acesso ao cadastro de fornecedores da estatal. A polícia recolheu provas de que o “clube” não só existe mesmo como funciona nos moldes de uma empresa. O doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, dois personagens importantes dessa engrenagem, continuavam presos até a semana passada. Com eles, a polícia apreendeu documentos, planilhas e anotações que mostram como funcionava

YASUYOSHI CHIBA/AFP

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vam informações sobre programas do governo nos quais se abriam possibilidades de ganhar dinheiro sujo. Na terça-feira passada, o jornal Folha de S.Paulo mostrou que Vargas pediu ao doleiro um jatinho para viajar com a família de férias — no que foi prontamente atendido. Pego em flagrante, alegou que pagara parte dos custos da viagem, orçada em 100 000 reais. Não, não pagou. Na sua ética folgazã, ele foi apenas “imprudente” ao pedir um favor ao doleiro preso. Mensagens interceptadas pela Polícia Federal revelam que o deputado André Vargas e o megadoleiro Alberto Youssef eram sócios em diversas operações de roubo de di� | 9 DE ABRIL, 2014 | 55

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PROPINODUTO

DEZ VEZES  As obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco: consórcios contratados pela Petrobras para construir o complexo injetaram milhões de reais  nas contas administradas pelo doleiro Alberto Youssef. O custo da refinaria,  que deveria ser de 2 bilhões de dólares, já saltou para 20 bilhões. E as obras  ainda estão atrasadas. Abaixo, a planilha com os pagamentos ao doleiro

Paulo Roberto Costa, o ex-todo-poderoso diretor da Petrobras: ele era o canal entre o doleiro, os políticos e a estatal

MARCOS D'PAULA / ESTADÃO CONTEÚDO

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em Barbosa. O desrespeito às normas mais básicas de educação e ao decoro parlamentar visavam a protestar contra a prisão dos criminosos pegos no escândalo do mensalão. Vargas sonhava em ser presidente da Câmara no ano que vem. Mas a polícia tem planos diferentes para ele. Em sua edição passada, VEJA revelou que ele mantinha estreita relação com o doleiro Alberto Youssef, preso sob a acusação de comandar um esquema de lavagem de dinheiro pelo qual passaram cerca de 10 bilhões de reais, fortuna usada para azeitar as mais variadas modalidades de corrupção, inclusive propinas na Petrobras. Vargas chamava o doleiro de “irmão”. Troca-

Brasil

ALEXANDRE SEVERO

O

CECÍLIA RITTO, KALLEO COURA E PIETER ZALIS

O doleiro Alberto Youssef discutia estratégias com o deputado para viabilizar o negócio milionário no Ministério da Saúde, que garantiria a “independência financeira” de ambos

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Um trágico acidente de avião encerra precocemente a trajetória do pernambucano Eduardo campos, o candidato à Presidência da República que queria dar cara nova à cena política brasileira

jatinho estava na pista do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, pronto para decolar. Dentro, Eduardo Campos, candidato do PSB à Presidência, não desgrudava do telefone, borbulhando de empolgação. Sentia-se na porta do futuro, e o futuro era brilhante. Na noite anterior, em sua avaliação, vencera com garbo os quinze minutos de entrevista ao vivo no Jornal Nacional, o pontapé inicial da campanha televisiva; sob o impacto de perguntas duras e incisivas, começou tateante, mas encerrou com o vigor dos resolutos, olhando firme para a câmera e declarando: “Não vamos desistir do Brasil”. No fim da jornada, ao encontrar a mulher, Renata, no hotel em que se hospedavam em Copacabana, transbordava confiança: “Fui lá e fiz um gol”. Confiança era a marca de Campos desde que embarcara no projeto mais ousado de sua vida: desgarrar-se do aliado PT e apresentar-se nesta eleição — ao la-

DINHEIRO E PODER

FOTOS SERGIO LIMA/FOLHAPRESS

O ditador fala

o esquema de arrecadação e distribuição de propina. O cargo que Paulo Roberto ocupou dava a ele o poder de decidir quando, como e de quem comprar suprimentos, máquinas e serviços. O doleiro Youssef, por sua vez, decidia quem poderia vender. Para isso, as empresas candidatas precisavam pagar um pedágio. Entre os achados da polícia, há uma firma chamada MO Consultoria, que só existe no papel, tem entre seus clientes grandes companhias, faturou 90 milhões de reais nos últimos cinco anos e pertence ao doleiro. O que ela fazia? Os investigadores não têm nenhuma dúvida: servia de fachada para a colheita do pedágio e de uma parte dos lucros do “clube” — e, em outra ponta, repassava esse dinheiro aos seus “clientes” finais. Na lista dos “contribuintes”, por exemplo, aparecem dois consórcios que trabalham nas obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, um projeto da estatal que começou com custo estimado em 2 bilhões de dólares e já torrou dez vezes mais. Há gigantes do setor de construção civil, como as empreiteiras EIT e Engevix. A campeã de contribuições, porém, é a Sanko-Sider, uma fornecedora de tubos de aço para obras da Petrobras. Ela repassou à MO Consultoria 24 milhões de reais entre 2009 e 2013. A companhia confirma ter feito as transferências e não esconde o fim: pagamento das comissões que o doleiro Youssef cobrava para fechar os negócios. “Nunca foi algo explícito, não posso dizer que fomos achacados, mas era fortemente recomendado contratar essa empresa”, disse a VEJA Henrique Ferreira, um dos diretores da Sanko. “Se depois ele acendia charuto com nota de 100, já não era da nossa conta. A gente não faz ideia de para onde esse dinheiro ia”, afirma o diretor. Uma coisa é certa: após ser recolhido pelo doleiro, o dinheiro circulava — e não era para ser queimado em cinzeiros. As investigações da polícia apontam em várias direções, mas todas que apareceram até agora levam a um mesmo perfil de cliente: políticos e partidos. Nos documentos apreendidos com o doleiro, há pedidos de pagamento ao ex-deputado Pedro Corrêa, ex-líder do PP, um dos expoentes � | 9 DE ABRIL, 2014 | 61

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O voo para a morte

Alexandre Akermann, Carlo Cauti, Cecilia de Carvalho Ritto, Douglas Bressar, Ewerton Gondari, Gabriela Zini Megale,Jennifer Ann Thomas, Kalleo Fernandes Coura, Mariana Machado de Barros, Pieter Attema Zalis, Tadeu Nogueira e Wander Moreira Mendes VEJA / agosto a outubro de 2014

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matéria completa GASTRONOMIA

PRÊMIO

VOCÊ É O QUE VOCÊ COME

ELA EXISTE! A fórmula da Coca-Cola não tem muito segredo

Alimentos que não são bem o que parecem e podem estar na sua cozinha

A Coca-Cola nega que alguém tenha descoberto a fórmula. A receita estaria, inclusive, guardada em um cofre, que pode ser visitado no museu da empresa, em Atlanta, EUA

SUCO De FRUtA

Bárbara Ragov Helena Peixoto design Fabi Caruso edição Tiago Jokura TexTo foTo

O ideal, no Brasil, é consumir azeite extravirgem até 20 dias após abrir a garrafa

A indústria tem vários truques para baratear, conservar, maquiar e fazer render alimentos que consumimos todos os dias. Isso acontece porque há brechas na legislação. Alguns procedimentos são difíceis de engolir, mas outros estão na sua cara, codifcados no rótulo das embalagens. Atenção: informações indigestas a seguir...

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) analisou mais de 30 marcas e verifcou que pelo menos dez não tinham a quantidade de fruta exigida por lei. Há diferença entre suco e néctar: suco só pode conter fruta, água e a porcentagem de açúcar defnida para o tipo de fruta. Néctar pode receber corantes, mais água e mais açúcar

Em 1993, o jornalista Mark Pendergrast investigou arquivos da Coca-Cola e recebeu a cópia de um documento antigo contendo a fórmula original do farmacêutico John Pemberton: folhas de coca, nozes de cola, baunilha da América do Sul, favorizantes (uma mistura de óleos essenciais de laranja, noz-moscada, limão, canela, coentro, óleo de néroli ou bergamota), ácido cítrico, suco de lima e açúcar. Será que cola?

ÁGUA mINeRAl “Águas minerais são registradas e têm procedência. O consumidor tem de fcar de olho em minas de que nunca ouviu falar, marcas novas ou águas compradas fora do comércio regular. Tem muita gente de má-fé que enche garrafas e galões de uma água qualquer e envasa”, explica José Luiz Negrão Mucci, professor de saúde ambiental da USP

AzeIte O óleo de oliva degrada com o tempo. Mas a Instrução Normativa do Brasil, assim como a europeia, não obriga a informar a data de prensagem das azeitonas, e sim a do envasamento, com validade de 18 a 36 meses. A fraude mais comum é misturar azeite com outros óleos vegetais – incluindo azeites impróprios para consumo humano

PÃO INteGRAl Se na relação de ingredientes o primeiro item for “farinha de trigo” (“refnada” ou “enriquecida”), esse pão foi feito com mais farinha comum do que integral. Até hoje, o órgão responsável pela fscalização de alimentos no Brasil, a Anvisa, não determinou quanto de farinha integral é necessário para que o pão receba o título de integral

IOGURte Há confusão entre bebida láctea, iogurte e leite fermentado. Se levar muito açúcar, estabilizantes, corantes e outras substâncias lácteas, não é iogurte. Iogurte tem base láctea de no mínimo 70% e resulta de fermentação com tipos específcos de bactérias. “Quanto menos ingredientes extras houver, mais autêntico ele é”, explica a nutróloga Tamara Mazaracki

mel O produto é turbinado com açúcar, fragrâncias, glucose e a traiçoeira frutose de milho. “Essa substância, comum em mel adulterado, não é detectada nem em laboratório”, conta o biólogo Osmar Malaspina, da Unesp. “Só testes sofsticados de carbono identifcam a adulteração, e pouquíssimos institutos no Brasil fazem essa análise”, ressalta Osmar LeTTering Grande Circular TraTamenTo de imagens Cristina Negreiros produção Bruna Sanches, Fabi Caruso e Tiago Jokura

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6/11/14 3:18 PM Por causa de um abaixo-assinado feito por quase 350 mil pessoas, a Kraft Foods retirou corantes artifciais de alguns de seus produtos nos EUA em 2013

MULTIPLICAÇÃO DOS PEIXES Algumas espécies estão desaparecendo do mapa, mas continuam na mesa. Como esse “milagre” acontece?

QUERO SER SALMÃO

VENENO DOS MARES

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O segredo de quase todo alimento processado pela indústria é o açúcar de alto teor de frutose, ou glucose de milho. Ele é um tipo de açúcar muito mais doce e bem mais barato, porque é um subproduto do milho, plantado em grandes quantidades no mundo todo. É despejado em todo tipo de alimento, de barrinha de cereais a lasanha congelada

QUASE CHOCOLATE No Brasil, um alimento pode ser rotulado como chocolate tendo apenas 25% de cacau – e o teor exato nem precisa ser informado. Segundo o Idec, o ingrediente mais usado para fabricação de chocolate é açúcar, seguido pela gordura vegetal hidrogenada (mais barata que a manteiga de cacau)

Aquele laranja da carne do salmão de cativeiro é artifcial. Só é obtido porque eles comem astaxantina junto com a ração. Na natureza, a substância ocorre em algas da dieta do camarão, que, por sua vez, é consumido pelo salmão selvagem. No confnamento, a astaxantina vem de forma sintética. Estudos sugerem que ela faça mal à saúde por ser derivada do petróleo

Em excesso, a glucose de milho faz mal por elevar os níveis de glicose do organismo rapidamente

SHOW DO MILHÃO O milho é considerado, junto com a soja, uma supermatéria-prima. Hoje em dia, ele está presente em óleos (não só no óleo de milho mas em outros tipos também), cerveja, colas, fraldas, tinta, papel, lápis de cor, inseticidas, remédios, plásticos. E em geral a planta é transgênica – exceções feitas, por enquanto, ao milho em lata e ao de pipoca

LEITE EM PEDAÇOS REQUEIJÃO OU NÃO?

No Brasil é proibido vender leite cru, mas administrar hormônio de crescimento a vacas pode. Todo leite embalado, por segurança, já passou por um tratamento industrial – ao menos pasteurização, centrifugação (separação de gordura e soro) e homogeinização

O leite integral tem 4% de gordura e o desnatado tem 0,5%, no máximo. Mesmo sendo mais “gordo”, o primeiro leva a melhor. Pesquisas apontam que ele reduz gordura abdominal, e além disso, a maioria das vitaminas do leite são solúveis em gordura e não em água

EM LATA É MELHOR?

100% CATIVEIRO

Se você quiser comer salmão natural, vindo de rios e mares em vez do cativeiro, aposte no produto em lata. É que o salmão de criadouro não suporta o enlatamento e se deteriora rápido. Por isso, a versão enlatada, em geral, é selvagem, especialmente se vem do Alasca e da Europa

Todo salmão consumido no Brasil vem do Chile e poucos são fruto de pesca em alto-mar. Além de ser obrigado a comer uma ração industrial, bem proteica, o salmão fca confnado em grandes tanques e está sujeito a doenças que podem dizimar cardumes inteiros, como ocorreu entre 2008 e 2009. Para combater piolhos e outras pragas, os peixes recebem antibióticos e remédios

Às vezes, a especialidade láctea apresenta mais amido do que leite na composição

Requeijão é a massa coalhada de leite, a caminho de virar queijo, tratada com creme de leite, manteiga, água e sal. Só não o confunda com “especialidade láctea”. Vendida ao lado do requeijão no supermercado, com o mesmo tipo de embalagem, a especialidade recebe um monte de aditivos para conservar. É feita de soro de leite, gordura vegetal e amido para engrossar

Me engana que eu gosto

A soja sempre foi transformada antes do consumo. Do shoyu ao tofu, japoneses e chineses a cozinham, fermentam e temperam. Hoje ela é usada para fazer ração animal, óleo, lecitina, temperos, alimentos diet, margarina, gordura vegetal, cosméticos, plástico, remédios etc.

Ela foi desenvolvida em 1870 como um mix de gorduras vegetais que tentavam imitar a manteiga. Só fcou parecida, porém, quando recebeu uma injeção de hidrogênio, que a tornou sólida em temperatura ambiente. Essa é a tal gordura vegetal hidrogenada, um tipo de gordura trans usado na maioria dos alimentos industrializados

A ciência ainda não comprovou o benefício de ingerir bebidas de soja. A isofavona presente nela, por exemplo, pode se comportar como o hormônio feminino estrógeno. E nem todo shoyu é molho de soja: alguns são fabricados com milho, corante caramelo e glutamato monossódico 22

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APARECEU A MARGARINA

GRÃO MULTIúSO

SOJA BOA

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Bárbara Ragov, Bruna Sanches, Fabiana Caruso, Helena Peixoto e Tiago Reis Jokura MUNDO ESTRANHO / julho de 2014

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GLUCOSE DE MILHO

INTEGRAL X DESNATADO

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Alimentos polivalentes ou misturebas cheias de gordura e açúcar: cuidado com as invenções da indústria

A contaminação dos oceanos por detritos, combustível, lixo industrial e metais usados no garimpo tem elevado o nível de mercúrio nas águas. E isso é repassado para peixes e algas. Atum e salmão são predadores e, no topo da cadeia alimentar, acumulam mais mercúrio na carne. Peixes pequenos, com dieta mais restrita, armazenam menos e são melhores para o consumo humano

consultoria Osmar Malaspina, biólogo da Unesp - Rio Claro; Gisela de Aragão Umbuzeiro, professora de tecnologia da Unicamp; Bruna Quaglio, nutricionista; Neide Rigo, nutricionista e autora do blog Come-Se; Marcelo Scofano, chef e professor de gastronomia; José Luiz Negrão Mucci, sanitarista da Faculdade de Saúde Pública - USP; Tamara Mazaracki, médica nutróloga; Natalia Andrade Zancan, farmacêutica; Darlila Aparecida Gallina, pesquisadora da Tecnolat-Ital; Ana Paula Bortoletto, nutricionista e pesquisadora do Idec; Carlos Arfelli, pesquisador do Instituto de Pesca Centro APTA do Pescado Marinho de São Paulo; Paulo Sérgio Rosa, zootecnista da Embrapa Aves; Saulo da Luz e Silva, do Depto. de Zootecnia da USP - Pirassununga; Marco Antonio Trindade, do Depto. de Engenharia de Alimentos da USP - Pirassununga; Angélica Simone Cravo Pereira, professora de nutrição e produção animal da USP; Roselei Strassburger, nutricionista; e Liliane Oppermann, nutróloga FontEs Harvard School of Public Health, Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), Embrapa Milho e Sorgo, assessoria de imprensa da Anvisa; livros Cuisine & Culture, de Linda Civitello, Em Defesa da Comida, de Michael Pollan, e Prato Sujo, de Marcia Kedouk; e site da Aprosoja (Associação dos Produtores de Milho e Soja do Mato Grosso)

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PARECE, MAS NÃO É

PEIXE CORADO

A truta foi a alternativa da indústria de pesca do Chile para contornar a escassez de salmão selvagem. Ela também é da família dos salmonídeos. Há quem diga que as trutas salmonadas – tratadas como salmão, recebendo a mesma ração – são até mais saudáveis, por terem mais ômega 3, um ácido graxo essencial

ATUM BONITO? A família de atuns contempla espécies mais e menos nobres, entre eles o bonito (Katsuwonus pelamis), primo bem, bem distante do albacora-azul (Thunnus thynnus), raro e valioso. Quase nunca o atum verdadeiro é pescado no Brasil. Por isso, os órgãos públicos permitem que o enlatado seja rotulado como atum, embora seja bonito, abundante em nossa costa

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Para mostrar visualmente os diferentes truques utilizados pela indústria de alimentos, o ensaio fotográfico de 10 páginas “desmonta” uma das refeições favoritas do leitor de ME: o hambúrguer. A cada página dupla, novas camadas vão sendo expostas, revelando as alterações industriais realizadas nos ingredientes.


destaques Veja Comer & Beber

CONSUMO

De uns anos para cá, surgiu uma nova gastronomia brasileira, alçando chefs à condição de celebridades televisivas. Ao mesmo tempo, um fenômeno se alastrou dos restaurantes chiques para os balcões de bar: a gourmetização. Por que isso está acontecendo?

Arnaldo Lorencato, Daniela Giorno, Helena Bacchi, Marcelo Ventura, Mario Rodrigues Junior, Saulo Yassuda Fujii, Sophia Braun e Valdécio de Oliveira

Coxinha de camarão rosa: R$ 12. A unidade.

TUDO

GOURMET

R E P O R TA G E M Luiz Felipe Silva e Felipe van Deursen F O T O Daniel Ozana D E S I G N Paula Bustamante E D I Ç Ã O Felipe van Deursen

BOTECO GOURMET

BOM E BARATO Comer e beber bem, sem pagar muito por isso, tem se tornado cada vez mais difícil. Mas não impossível. A inédita seleção de cinquenta restaurantes, bares e endereços de comidinhas a seguir traz uma combinação rara: todas as casas têm muitas estrelas na avaliação e poucos cifrões na conta final. Opção econômica na hora do almoço, o menu executivo de até 50 reais premiado é o do italiano Attimo (lá, o jantar sai em torno de 150 reais por pessoa). Outras sugestões de preços camaradas são o bar de drinques Sala da Sogra, a hamburgueria Na Garagem e o francês On Va Manger, onde a refeição completa custa — pasme — 34,50 reais.

VEJA SÃO PAULO / outubro de 2014

CACHORRO-QUENTE Tem com salsicha Frankfurt, pão ciabatta, maionese de trufas, queijo gruyère etc.

BOLOVO O ícone

da comida ogra existe em versões com massa de cogumelo e pesto de hortelã.

PASTEL Montado

na hora e frito em óleo canadense rico em ômega 3. De alho poró, brie ou funghi.

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S U P E R / N OV E M B R O 2 0 1 4

Arnaldo Lorençato, Helena Galante, Saulo Yassuda e Sophia Braun

Produção de moda Zedu Carvalho Modelo Isadora Juárez Maquiagem Mauro Marcos

FOTO: FERNANDA TRICOLI/AQUARELA: MEIRE DE OLIVEIRA/PRODUÇÃO GASTRONÔMICA: GILBERTO GERONIMO OLLER

Até o começo dA décAdA pAssAdA, quando se falava nos melhores restaurantes do Brasil, logo se pensava em alguma casa nos Jardins ou no Leblon que servisse o suprassumo da cozinha clássica francesa ou italiana. Hoje, o cenário é mais diversificado, por três motivos. Primeiro a estatística: nesse período, o País ficou mais rico e passou a comer mais fora de casa – um aumento de 12,5% só em 2012, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). Segundo, a mudança de comportamento. Na televisão, reality shows culinários fazem sucesso e já ganham versões brasileiras, como o Masterchef. Na internet, as redes sociais proliferaram o hábito de descobrir pratos, fotografar e compartilhar. Os praticantes são chamados de foodies, termo até então pouco conhecido. Por fim, a anedota: brasileiro adora uma premiação em que tenha uma ínfima chance de ganhar, seja Oscar, Mundial de Ginástica Artística ou ranking dos melhores restaurantes do mundo. Essa chama foi acesa em 2006, quando o chef Alex Atala e seu D.O.M. estrearam na lista da revista inglesa Restaurant dos 50 melhores restaurantes do planeta. O 50º lugar bastou para uma parcela cada vez maior da população começar a acompanhar esse mundo e a presenciar o que vem sendo chamado de nova gastronomia brasileira. Com o tempo, o D.O.M. subiu posições, chegou ao quarto lugar em 2012 e abriu espaço para uma nova cultura gastronômica nacional. Seus pratos são diferentes do que alguém comeria nas nossas melhores casas uma década antes, e a mais tradicional publicação brasileira do ramo deixa claro. Em 2003, o Guia Quatro Rodas deu três estrelas (a condecoração máxima) a quatro restaurantes italianos, dois franceses e um português. Em 2013, dos seis melhores do País, quatro aliam tradições e ingredientes brasileiros a técnicas da culinária contemporânea. Se os melhores estão fazendo de um jeito, o resto corre atrás. Pela primeira vez, nossos chefs não estavam apenas replicando receitas consagradas, mas criando uma identidade. Pratos como robalo no vapor com tucupi chamaram a atenção do mundo para a gastronomia brasileira. Mas isso não nasceu aqui. Veio de lá mesmo, da França.

PARA VER E PARA COMER

Na década de 1960, um grupo de chefs franceses, insatisfeitos com o exagero de técnicas requintadas e molhos pesados que dominavam os restaurantes mais chiques do mundo, deu uma guinada em direção a uma cozinha mais focada no sabor dos ingredientes. A ideia era manter a essência gastronômica francesa, mas de uma forma mais simples e acessível. O movimento, chamado nouvelle cuisine, era marcado pela troca de experiências. Leste Europeu,

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Brigadeiro artesanal de chocolate belga ou suíço e temperos indianos. R$ 13 cada.

O MELHOR BOM E BARATO RESTAURANTES

On Va Manger ✪✪✪✪✪

Coisa rara na cidade, este francês sem afetações não esfola o bolso

É DIA DE FEIRA

A revolução gastronômica de um país se baseia em três pilares, basicamente. É preciso ter uma cultura que valorize o ato de comer bem, uma estrutura logística e tecnológica que colabore com isso, da produção ao prato, e uma população com dinheiro suficiente para comer fora de vez em quando. No Brasil, como já vimos, o que houve foi um aumento significativo da renda e uma geração de chefs disposta a valorizar cores e sabores regionais. Ainda faltam cultura e investimento. Juntar a fome com a vontade de comer, mas deixar de lado o saber o que comer e o quanto gastar, é a receita para a gourmetização de tudo. Abrimos a porteira para o gourmet banal. Pegue uma coxinha, meta ossobuco e você terá um quitute não necessariamente melhor, mas

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certamente mais caro. Tudo turbinado pelo consumismo puro. “Há uma política agressiva de consumo, que traz o imaginário de glamour da gastronomia”, diz Máximo. “Até foto de comida do Instagram divulga isso.” Em vez de investir no desenvolvimento de uma cozinha diversificada e para todos os públicos, em criar pratos que conquistem o mundo, damos espaço para tentativas de reinvenção da roda. A coxinha gourmet ainda é só uma coxinha. Isso ocorre porque o Brasil não tem uma cultura gastronômica forte. Apesar da base alimentar rica, criada por todos os povos que aqui chegaram – dos índios, há 15 mil anos, aos japoneses, há 106 –, nós não damos muita atenção à comida. A primeira escola para formação de chefs do País, no Senac Águas de São Pedro, em São Paulo, surgiu em 1994, 99 anos depois da primeira do mundo, a Le Cordon Bleu, em Paris. A cultuada instituição francesa tem filiais em 13 países, em todos os continentes, mas só em 2011 surgiu o plano de vir para o Brasil. É uma realidade muito diferente da de outro país cuja gastronomia teve influência da nouvelle cuisine: o Peru, onde comida é orgulho nacional. Na capital, Lima, conversa-se sobre receitas na rua, taxistas apontam restaurantes como se fossem atração turística (o que de fato são) e há programas sociais que tiram crianças da rua para formar cozinheiros. A gastronomia é o futebol deles. Há um planejamento para isso. Há sete anos, Gastón Acurio, um dos grandes chefs do mundo e líder da cultura alimentar peruana, criou a Mistura, maior feira gastronômica fora da Europa. Ela reúne gente de todas as etapas da cadeia, da horta à mesa, incluindo o público. Isso criou uma relação mais coesa de chefs e produtores empenhados pelo mesmo fim: comida boa. No Brasil, sem incentivos governamentais e uma união maior da classe, é mais no cada um por si. A relação entre chefs e produtores não é facilitada. É o caso de Manoella Buffara, do Manu, de Curitiba, que viajou meses pelo Paraná em busca de fornecedores. Todos que encontrou produziam apenas para subsistência ou estavam comprometidos com grandes redes. Quando achou um disposto a negociar, ele não tinha geladeira e trabalhava na base do escambo. A história se repete Brasil afora. Com acesso difícil, falta de logística e de incentivo, conseguir produtos específicos fica caro, o que se reflete no preço final do prato. Do outro lado da cadeia, alguns produtores estão se mobilizando para chegar a seus clientes. Em Santa Catarina, 700 famílias produzem 95% das ostras nacionais. Como quase tudo é vendido a restaurantes finos, esses produtores se organizaram como uma cooperativa e buscaram apoio financeiro e técnico. De 2007 para cá, a produção mais que dobrou.

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Extremo Oriente e América do Sul entraram na rota desses chefs à procura de sabores. A onda chegou ao Brasil nos anos 80 com Laurent Suaudeau e Claude Troisgros. “Essa é a gênese do que viria pela frente na cozinha brasileira”, diz Rodolfo Krause, coordenador do curso de Gastronomia da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Santa Catarina. A dupla difundiu métodos e influenciou uma geração, especialmente na valorização de produtos nacionais. Gastronomia é uma pirâmide. Se temos uma vasta e sólida base, com feijoada, churrasco e dezenas de pratos e quitutes regionais, faltava um topo. Isso começou a criar forma nos anos seguintes. Em 1999, Alex Atala abriu o D.O.M. A maior influência do chef-celebridade é o catalão Ferran Adrià e seu El Bulli, eleito o melhor restaurante do planeta em cinco ocasiões. Adrià, grande incentivador de Atala a buscar novos sabores na Amazônia, disse que o Brasil era um dos países do futuro na alta gastronomia. Chegou lá? Ainda não, acredita a chef Roberta Sudbrack, do restaurante carioca homônimo, um dos melhores do País. “O mundo já reconhece o Brasil como uma cozinha moderna. Mas essa geração tem o desafio de ir além da moqueca.” Enquanto essa cena tomava forma nas grandes capitais, surgia um outro fenômeno, ancorado no mesmo contexto de povo mais rico e interessado por uma comida, digamos, diferenciada: a gourmetização. Das gôndolas de supermercado às mesas dos botequins, muita coisa ganhou versão gourmet. Em São Paulo, trailers de comida de rua receberam enfeites e agora são chamados de food trucks. “Na alta gastronomia ou no gourmet popular, são elementos simples que transformam a experiência”, diz João Máximo, professor de história da gastronomia do Senac. Esses detalhes dizem muito. A nova gastronomia brasileira e a gourmetização são duas faces da moeda que ajudam a explicar como se come no Brasil.

CAFETERIA GOURMET SORVETE Sabores

extravagantes, como cerveja com chocolate. Até sorvete quente já inventaram.

A batata da casa: frita e ao aroma de alecrim

CHURROS Capricha

nos ingredientes (doce de leite Havanna e chocolate belga Callebaut, por exemplo).

CAFÉ Feito com tipos finos, como Piatã e Jacu, cujos grãos são tirados das fezes do pássaro Jacu.

Modelo Indira Carvalho

Mas ainda são casos isolados. A relação chef-produtor é algo que se começou a trabalhar há pouco tempo no Brasil, e em movimentos esporádicos, sem uma força central como na Mistura. Por essas e outras, o Peru é uma potência emergente gastronômica mais relevante que o Brasil. Assim como outro país influenciado pela nouvelle cuisine, a Dinamarca, onde fica o Noma, tetracampeão da Restaurant. Lá, os chefs Claus Meyer e René Redzepi passaram a servir apenas alimentos frescos e produzidos na Escandinávia. Para revolucionar a cozinha local, precisaram repensar toda a cadeia de produção. Afinal, para se ter matéria-prima fresca, saudável e diversa, era preciso deixar isso rentável para os produtores.

Pipoca com caramelo, coco e noz pecan. R$ 30 a lata.

Comer bem sem gastar muito em São Paulo é missão quase impossível. Quando se fala em culinária francesa então, o susto na conta costuma ser certeiro. Deliciosa exceção à regra, o On Va Manger serve um menu completo de almoço por R$ 34,50. Aberto em maio, este bistrô simples e sem afetações pertence ao chef Jean-Christophe Burlaud, nascido em Toulouse, e à paulistana Fernanda de Carvalho, da confeitaria Maison de Marie, no Butantã. O cozinheiro deixa os clientes à vontade para criar as próprias combinações. Só as entradas mudam a cada semana, e pode-se topar com a salada de alho-poró com vinagrete e chips de presunto cru, por exemplo. Da lista de oito pratos principais, o galetinho assado ao molho de tomilho fará você esquecer todos os frangos sem gosto que existem por aí. Outra maravilha, a dobradinha permanece no fogo até ficar macia, como manda a receita original. Nenhum acompanhamento bate a batata da casa, cozida, esmurrada e frita ao alecrim. As sobremesas, preparadas pela confeiteira Jéssica Braga do Prado, são escolhidas na vitrine da entrada. Tente resistir à musse de chocolate ou ao mil-folhas montado na hora. É bem difícil. Ajudam a aliviar a conta a água filtrada e o couvert, ambos cortesia. Promete abrir em novembro também para o jantar. Rua São Miguel, 89, Bela Vista, ☎ 4561-1562 (60 lugares). 12h/16h (fecha qui.). Café, 10h/19h (fecha qui.). Cc: todos. Cd: todos. Couvert: grátis. ⑤ vejasaopaulo.com/bistroon-va-manger. Aberto em 2014. $

Salada de alho-poró: com chips de presunto

Galeto inteiro: ao molho de tomilho

Musse: feita com chocolate meio amargo

Burlaud: clássicos de bistrô em menu completo por R$ 34,50

TERRAÇO GOURMET

O Grupo Pão de Açúcar diz que sua linha de produtos finos deve crescer 20% entre 2012 e 2014. Em 2006, ela nem existia. Hoje são 220 itens. A empresária Adriana Lotaif criou a Pipó, pipoca fina que vendia 10 mil unidades em janeiro e deve chegar a 50 mil em dezembro. Gourmet virou cotidiano no jornal. O diário O Estado de S. Paulo levantou quantas vezes ela apareceu em suas páginas desde a primeira vez, em 1901 (a propósito, um banquete oferecido ao poeta Olavo Bilac). Até os anos 70, eram menos de dez recorrências por ano. Nas décadas seguintes, a taxa subiu para cerca de 80 ao ano. Na virada do século, disparou. Em 2005, 1.144 vezes. Em 2010, 5.077, uma média de 13,9 “gourmet” por dia. Em parte, por causa da explosão de produtos com qualidade teoricamente superior à versão tradicional. Mas o termo ficou tão banalizado que escorreu para fora do caderno de culinária. Hoje você pode tomar um sorvete gourmet enquanto espera na fila do supermercado para pagar a ração gourmet do seu pet, uma marmita gourmet para o trabalho e um saco de carvão gourmet, ideal para um churrasco na varanda gourmet. “Há uma necessidade natural de nos diferenciarmos dos outros. Esses produtos cumprem o papel”, diz Gabriela Otto, consultora de mercado de luxo. Na falta de uma cultura gastronômica sólida, o Brasil atira para todo lado e abre muito mais espaço para o gourmet banal do que Peru e Dinamarca, por exemplo. É um fenômeno parecido com a nossa receptividade a grandes redes de fast food, em contrapartida à resistência das superpotências do garfo. A Itália foi ter seu primeiro McDonald’s em 1986, sete anos depois do Brasil. Chefs e produtores engajados não vão conseguir, da noite para o dia, que a comida brasileira tenha um tratamento melhor. Mas é um começo. Enquanto isso, seguimos na torcida para ter o melhor restaurante do mundo. Com um balde de pipoca gourmet no colo.

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O MELHOR MENU EXECUTIVO DE ATÉ 50 REAIS

DESPENSA GOURMET CHOCOLATE Com

recheios de paçoca a caipirinha e processamento mais cuidadoso do cacau e do leite.

GELEIA Produção

artesanal e sabores exóticos. A marca mais conhecida é a Queensberry, que é brasileira.

FARINHA Grãos de trigo com seleção mais rigorosa e assados de forma a reduzir as cinzas na mistura.

Attimo

Tudo gourmet

Daniel Ozana, Felipe Van Deursen, Luiz Felipe da Silva e Paula Bustamante

Até no nome da sugestão o paulista Jefferson Rueda reforça seu lado caipira: “É menu zécutivo”, afirma, com sotaque carregado. Eleito chef do ano em 2013, o titular do Attimo oferece no almoço receitas mais simples que as de seu cardápio regular, mas com a mesma proposta. Ou seja, são opções clássicas italianas adaptadas por imigrantes que vieram morar no interior de São Paulo. De terça a sexta, há duas entradas, dois pratos e uma sobremesa ou uma fruta por R$ 49,00. Estão incluídos o couvert com focaccia e outros pães feitos na casa e a dupla manteiga de urucum e pasta de berinjela com grão-de-bico. O preço fica ainda mais atraente quando se compara ao gasto médio por refeição no restaurante (leia mais na pág. 278) — em torno de R$ 150,00. Pedida das terças, o corte do açougueiro, uma peça macia de miolo da paleta fatiada ao molho de mostarda em grãos, não pode ser mais inspirado. De companhia, recebe um afinado purê de batata. Nesse mesmo dia, a alternativa é um peixe com um delicioso molho de limão-siciliano e legumes tostados na brasa. Antes, as atenções se dividem entre a salada de alface-romana com maçã verde e nozes carameladas ao molho de queijo azul e o bacalhau desfiado no azeite coberto por um ovo de gema mole salpicado por farinha de mandioca e bacon. A sobremesa, feita com maestria pela confeiteira Saiko Izawa, limita-se a uma única escolha, como o arroz-doce regado a caramelo polvilhado de flor de sal. Rua Diogo Jácome, 341, Vila Nova Conceição, ☎ 5054-9999 (58 lugares). 12h/15h e 19h30/23h30 (sex. até 0h; sáb. almoço até 16h e jantar até 0h; dom. só almoço até 17h; fecha seg.). Cc: todos. Cd: todos. Couvert: grátis (almoço de ter. a sex.) e R$ 18,50 (demais horários). Estac. c/manobr. (R$ 17,00). ✼ ⑤ ⑥ (R$ 89,00) → vejasaopaulo.com/attimo. Aberto em 2012. $$$

SUPERINTERESSANTE / novembro de 2014

Modelo Mariangela Nethson

Quarta-feira: stinco de cordeiro assado com azeitona preta, cogumelo e polenta

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Autor de uma culinária originalíssima, Jefferson Rueda também acerta nos cardápios de almoço, a R$ 49,00

Terça-feira: corte do açougueiro ao molho de mostarda em grãos com purê de batata

Quinta-feira: costelinha de porco com batata-doce roxa e vagem crocante Sexta-feira: arroz carnaroli com lagostim, tomate e açafrãoda-terra

O MELHOR BOM E BARATO BARES

Blackberry lemonade: gim, geleia de amora, limão-siciliano e pera num copão com muito gelo

Sala da Sogra ✪✪✪✪✪

Longe do eixo da badalação, a casa oferece drinques equilibrados e criativos por até 20 reais Quase sempre, a troca do drinque pela cervejinha-de-todo-dia não é questão de gosto, mas de bolso mesmo. Uma nota de 100 costuma ser insuficiente para pagar a conta de três coquetéis em muito bar por aí — e, olha, sem incluir petiscos na soma. No Sala da Sogra, dá para pedir uma taça atrás da outra sem esvaziar a carteira. Criadas pelo sócio e barman Gilliard Carneiro, o Gil, as misturas prezam pelo equilíbrio, abusam das cores e raramente ultrapassam R$ 20,00. Uma das delícias responde por blackberry lemonade (nesse preço) e traz gim, geleia de amora, suco de pera e limão-siciliano num copão de gelo. Refresca e parece perigosamente fácil de beber. Pelo mesmo valor, o kiwi basil junta vodca, kiwi, licor de limão, manjericão e pimenta. Até o mais caro dos itens se mostra vantajoso: mata a sede de duas pessoas e ainda vem com um tira-gosto de brinde. Trata-se de um combo formado pelo clássico manhattan (uísque americano, vermute e angustura)

Ela já foi vista como a prima pobre na corte dos pescados. Mas sua riqueza nutricional depôs peixe grande feito atum e salmão para coroá-la como ícone de um cardápio saudável — tudo isso sem perder a popularidade

com cobertura de creme de cerveja Guinness, uma lata quase cheia da fermentada e mais um pote de pistache. Custa R$ 40,00. “Não pesamos a mão porque queremos que mais gente venha experimentar nossos drinques”, diz Gil, que, depois de anos trabalhando nos lados do Itaim, se uniu ao amigo e chef Marlon Sakamoto para montar o bar (eles também mantêm o Dona Preciosa, na região da Vila Mariana). Contribuem para a conta da clientela ficar magrinha o valor do aluguel do imóvel, menos pesado naquela área, e a simplicidade das instalações, sem a cara de hotel-butique de muito endereço do gênero. O freio no pileque, portanto, não para nos cifrões, mas no juízo do bom bebedor. Rua Luís Góis, 1150, Mirandópolis, ☎ 2389-5519/5520, ① Santa Cruz (40 lugares). 11h30/15h e 19h/23h (seg. só almoço; sáb. 12h/16h e 19h/23h30; fecha dom.). Cc: todos. Cd: todos. → vejasaopaulo.com/saladasogra. Aberto em 2010.

por diogo sponchiato e thaís manarini • design letícia raposo fotos alex silva • ilustrações daniel almeida

Purple lychee: gim, licor de lichia e a própria fruta, limão e geleia de amora

pesar de bom comedor de peixe, o brasileiro não elegeu, como o português (...), um tipo específico para consumo, tornando-o ‘nacional’...” A análise, um tanto atual, é do historiador e antropólogo Luís da Câmara Cascudo (18981986) no clássico História da Alimentação no Brasil, e a eleita dos lusitanos, você deve imaginar, foi a sardinha. O estudioso argumentou que a variedade de espécies de água doce e salgada por aqui e um certo desprestígio pelos pescados como fonte de sustança fizeram nosso povo se abster de uma escolha semelhante. Pois, se fôssemos convocados a participar de um pleito desses, a mesma sardinha despontaria como principal candidata. “Em termos econômicos, é o peixe mais importante do país”, afirma Paulo Ricardo Schwingel, professor de oceanografia da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Santa Catarina. A abundância nos mares e o preço mais em conta um dia lhe renderam a imagem de pescado pouco nobre. Vivemos, no entanto, o seu redescobrimento, impulsionado pela ciência da nutrição. Chegou a hora de esmiuçar esse alimento valioso à saúde que, sem abrir mão do seu apelo democrático, hoje frequenta da cesta básica às rodas da alta gastronomia.

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Grand manhattan: o combo traz ainda uma lata de cerveja Guinness e pistaches

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Kiwi basil: mix de vodca, kiwi, licor de limão, manjericão e pimenta

Veja Comer & Beber São Paulo 2014/2015

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O hambúrguer: temperado com sal e pimenta na hora

O MELHOR BOM E BARATO COMIDINHAS

Na Garagem

“Em 2004, entraram em vigor regras de proteção, como o regime de defesos, dois períodos no ano em que a pesca é proibida”, conta a bióloga Maria Cristina Cergole, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Segundo o professor Schwingel, ele se mostrou um modelo de sucesso. E olha que muita sardinha ainda é retirada do mar — estima-se que só a versão em lata gere um consumo na ordem de 100 mil toneladas anualmente. “Só que hoje não se fala em ameaça de extinção”, pontua Maria Cristina. A experiência dos pescadores diz que temporada de rede cheia vem seguida de safra mais escassa. “No entanto, vemos atualmente uma grande estabilidade na pescaria”, afirma Schwingel. Os pesquisadores acreditam, apesar de tudo, que o governo federal deveria participar mais das discussões e investir em estudos de biologia pesqueira — ironicamente, sua atuação começou a cair quando foi oficializado o Ministério da Pesca, em 2009.

fontes: marCos luiz Pessatti, professor de bioqUímiCa da Univali (sC); andréa esquivel, nUtriCionista espeCialista em gastronomia da ClíniCa Cedig (sp); PatríCia Costa ChiCrala, pesqUisadora da embrapa pesCa e aqUiCUltUra (to) / prodUção: andréa silva / prodUção CUlinária: silvia marqUes

das redes Para a Cozinha Bons personagens têm características marcantes. No caso da sardinha, o cheiro e o sabor. É um efeito colateral da sua fartura em gordura que faz algumas pessoas torcerem o nariz. Por causa disso, a própria indústria quer deixá-la mais agradável ao paladar. A tática, entre os enlatados, é apostar no pré-cozimento — uma passadinha no forno antes de ir para a lata e seguir viagem na linha de produção. “Isso reduz o teor gorduroso, mas os níveis continuam tão elevados que há ganho sensorial sem prejuízo nutritivo”, esclarece Pereira, que pretende estender o método, comum na Europa, a todo produto da sua marca até 2020. Hoje você encontra no mercado filés pré-cozidos, que, embora sejam ricos em ômega-3, carregam menos minerais. O peixe fresco também rende pratos fisgadores: basta conhecer alguns truques, demonstrados na mesa à sua direita. Em ano de eleição, comece pelo cardápio. Dê um voto à sardinha — a retribuição à saúde é de prestar reverência.

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Hora de aprender a deixar a sardinha mais gostosa e vantajosa à saúde. Ela pode virar salada, ir para o macarrão, rechear uma torta... até tu, Cabeça?! Ela é riquíssima em ômega-3. Então, trate de pedi-la ao peixeiro. Em casa, coloque-a na panela com água e leve ao fogo até o conteúdo gorduroso amolecer. Descarte a parte dura e use o caldo, que pode ser enriquecido com cebola, cenoura e alho-poró para fazer um pirão. na Peixaria, olho no olho Alguns experts sugerem priorizar o peixe já embalado e congelado para evitar riscos microbianos. Se preferir o fresco, atenção: os olhos devem estar brilhantes e ocupando toda a órbita ocular, as escamas não podem soltar-se, as guelras precisam exibir um vermelho vivo... Fuja se houver cheiro forte e o pescado não estiver sobre gelo. abrindo a lata A maioria delas vem preenchida de óleo de soja. A dica, se está contando as calorias, é jogar fora o líquido. Hoje já há versões banhadas em água e que, assim, são mais magrinhas. Se for preparar uma macarronada, existe o produto recoberto com molho de tomate.

o temPero que Casa O limão, embora seja popular no preparo de peixes, não deve ser usado à exaustão porque desidrata a proteína da sardinha. Recorra também a pitadas de tomilho, alecrim, salsinha, cebola e alho.

Pão marcado na grelha: fofo na medida

o Prato saudável Para começar, evite a fritura, que degrada parte das gorduras boas. Vá de assada ou, melhor ainda, prepare um escabeche levando o peixe fresco (com azeite, cebola, tomate e pimentão) para a panela de pressão por 40 minutos. Depois de pronta, dá até pra comer a espinha central, que estará molinha e cheia de minerais.

Fatias de bacon: elas entram no sanduíche por mais R$ 2,50

Sardinha, nobreza na mesa do povo

Alex Silva, Andréa Silva, Daniel Almeida, Diogo Massaine, Leticia de Melo, Silvia Marques e Thais Manarini

A minúscula hamburgueria conquistou os paulistanos, que disputam um lugar na calçada para provar seus dois únicos lanches do cardápio, oferecidos a um preço justo Numa rua de paralelepípedos enfeitada com fios de lâmpadas aparentes bem moderninhas, a fila para chegar ao caixa desta hamburgueria costuma ser grande. No lugar de reclamações sobre a espera, porém, os clientes são só elogios. “Aqui a comida é honesta!”, dizem. Ainda que controversa, a frase consegue expressar a gostosa (e rara) sensação de comer bem sem pagar uma fortuna por isso. Para dar conta do desafio de manter os preços baixos sem comprometer a qualidade dos ingredientes utilizados, o proprietário e chef Gilson de Almeida fez algumas adaptações no modelo de funcionamento. Primeiro, não há garçom. Como são apenas quinze lugares fixos no balcão, grande parte do público acaba ficando em banquinhos baixos espalhados por ambos os lados da via. Para simplificar o trabalho na chapa, existem apenas dois lanches do menu, escrito a giz no quadro-negro. Opção de maior saída, o cheese salada custa R$ 19,00. O hambúrguer de 130 gramas de carne fresca é temperado antes de ir para a grelha com sal e pimenta-do-reino moída na hora. Completam a pedida queijo prato, alface-americana, tomate, cebola-roxa e um ótimo molho feito de cenoura e mandioquinha, substituto da maionese. Desde o meio deste ano, por mais R$ 2,50, podem ser acrescentadas fatias crocantes de bacon. Quem optar por abrir mão da carne encontra a melhor versão de hambúrguer vegetariano disponível atualmente na cidade. O “bifão”, preparado na verdade com arroz integral, feijão-preto, quiabo, coentro e cebolinha, mais os mesmos acompanhamentos do cheese salada, sai por R$ 20,00. Bem defumado, esse sanduíche ganha um sabor marcante e delicioso. Para deixar a experiência perfeita, peça batatas fritas em gomos gordinhos. O preço? De cair para trás: R$ 7,00 a porção individual. Rua Benjamim Egas, 301, Pinheiros, ☎ 3097-9031 (15 lugares). 12h/15h e 18h30/22h (fecha dom.). Cd: todos. vejasaopaulo.com/nagaragem. Aberto em 2013.

Salada fresca: a cebola-roxa dá um toque ácido ao lanche

Batatas fritas gordinhas: R$ 7,00

SAÚDE! / maio de 2014

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

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PRÊMIO

ARTIGO

IDEIAS

A PRIMEIRA LINHA

Já entramos na vida por uma linha de montagem. O Brasil é um dos países que mais fazem partos por cesárea, o que permite um ritmo industrial: procedimentos rápidos e padronizados, com hora marcada, e mulheres anestesiadas, para não atrapalharem o processo.

APOSTO QUE VOCÊ TAMBÉM NOTOU: VIVER ESTÁ COMPLICADO. ÓDIO, MUITA OPÇÃO, MUITA NOVIDADE, MUITO PROBLEMA QUE Tenho quase certeza de que você

sabe do que eu estou falando. Uma certa angústia, uma sensação de que tudo está escorregando do controle. E também uma pitada de desânimo com a ordem geral do mundo, como se não adiantasse fazer nada, porque qualquer esforço vai se perder numa série de consequências

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inesperadas, e pode até acabar tendo efeito contrário ao pretendido. Caceta, de onde vem isso? A vida está complicada demais. É muita senha para decorar, muita lei para seguir, muita conta para pagar. É muito trânsito. Muito carro na rua, disputando espaço com caminhão de lixo, e é tam-

bém muito lixo na calçada à espera de alguém que o recolha. É muito risco, muito crime, muita insegurança. É muito partido político, e nenhum deles parece minimamente interessado nas coisas que são importantes para você. É muita opção de trabalho, mais do que em qualquer momento da história, e ao

É MUITA SENHA, MUITA INFORMAÇÃO, MUITO PARECE SER INSOLÚVEL. POR QUÊ? E TEM CURA? mesmo tempo é muito difícil encontrar um trabalho que faça sentido. É muita doença estranha de que eu nunca antes tinha ouvido falar, e muita gente morrendo disso. É muita indústria tradicional, de ares eternos, desmoronando de um segundo para o outro. É muita gente saindo da escola sem saber ler nem fazer

conta. É muito problema, e cada um parece impossível de resolver. Estou surtando? Só eu estou sentindo isso?

É COMPLEXO, MANO

Por outro lado, o mundo está cheio de possibilidades, inclusive a de acessar informação ao toque de um dedo. Dei um

Diante disso, já não funcionava mais o sistema simples de controle direto. Segundo Bar-Yam, existe uma lei universal e sagrada dos sistemas complexos: “a complexidade de um sistema realizando uma tarefa deve ser tão grande quanto a complexidade da tarefa”. Como um faraó é menos complexo do que a sociedade egípcia, não seria possível para o faraó regular e controlar todos os aspectos dessa sociedade. Por isso, foram surgindo hierarquias intermediárias: o mestre de obras para organizar a peãozada, o capitão de navio para mandar na marujada, a madame para cuidar das garotas. E a humanidade seguiu ficando cada vez mais complexa, mais intrincada, mais especializada. E, para dar conta disso, as hierarquias foram ganhando mais e mais

Denis R. Burgierman ILUSTRAÇÃO

Marcio Moreno DESIGN

Jorge Oliveira

google, encontrei um texto chamado Complexity Rising (“O aumento da complexidade”), do físico americano Yaneer Bar-Yam, fundador do Instituto de Sistemas Complexos da Nova Inglaterra. Arrá, está lá: o mundo está mesmo ficando mais complexo, não é paranoia minha. O texto explica o que é comple-

SUPER / FEVEREIRO 2014

SUPER / FEVEREIRO 2014

xidade: é o número de coisas conectadas umas às outras. Quanto mais partes um sistema tem, e quanto mais ligações existem entre essas partes, mais complexo ele é. Um exemplo de coisa complexa é o recheio do seu crânio: 86 bilhões de neurônios, cada um deles conectado a vários outros, um emaranhado quase infinito de possíveis caminhos a percorrer. Segundo Bar-Yam, a sociedade humana vem constantemente aumentando de complexidade há milênios. No início, quando vovô era caçador-coletor e dava rolezinho na savana africana, vivíamos em grupos de no máximo umas dezenas de pessoas, e cada grupo era basicamente isolado dos outros. A complexidade da sociedade era mínima. Diante disso, nossas estruturas de controle eram bem simples. No geral, um chefe mandando e todo o resto da turma obedecendo – um general e os soldados, um chefe e a ralé. Mas a moleza não durou. Primeiro surgiram impérios vastos (Egito, Mesopotâmia, China, Índia) com maior diversidade de necessidades e papéis sociais (escribas, escultores, cozinheiros, prostitutas). A complexidade foi aumentando.

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níveis – diretor, vice-diretor, gerente, subgerente, auxiliar, terceiro-auxiliar do subgerente do vice-diretor. Só assim para cada chefe lidar com a complexidade do que está abaixo dele. Até chegar a hoje, quando vivemos na sociedade mais complexa de todos os tempos. Só que aí as hierarquias pararam de funcionar – colapsaram. O mundo ficou tão complexo que ficou impossível para um chefe dominar a complexidade abaixo dele. Quando Bar-Yam tornou-se especialista em sistemas complexos, na década de 1980, esse não era um ramo glamou-

roso da ciência. Os físicos preferiam áreas ultraespecializadas e achavam o estudo de grandes sistemas uma coisa meio esotérica. Ele insistiu e sua dedicação valeu a pena. No mundo complexo de hoje, Bar-Yam e seu instituto estão atraindo um monte de clientes importantes. O exército americano procurou-o para entender como lutar contra inimigos ligados em rede, misturados à população civil em cidades labirínticas – situação bem mais complexa do que as guerras de antigamente. Bar-Yam também tem trabalhado como consultor na reforma dos

DOPING ESCOLAR Num modelo industrial

de educação, é desejável que os alunos sejam padronizados, assim como as peças numa linha de montagem. Talvez isso explique a “epidemia” de déficit de atenção nas crianças ocidentais. Remédios psiquiátricos então “padronizam” o temperamento.

sistemas de saúde e educação dos Estados Unidos, na estratégia do Banco Mundial para ajuda humanitária e na concepção de grandes projetos de engenharia. Não está faltando trabalho. Parecia o sujeito certo para resolver meu problema. Escrevi um e-mail para ele, perguntando se há “algumas regras simples que ensinem a lidar com complexidade?” (editores de revistas adoram fórmulas simples). Bar-Yam já chegou detonando: “não há regras simples para lidar com o que é complexo”. Mas, se eu quisesse aprender os princípios gerais da gestão da complexidade, eu poderia comprar o livro dele, Making Things Work (“Fazendo as coisas funcionarem”, sem versão em português). Comprei. O livro é ótimo. A tese central é que todo sistema complexo tem duas características: a escala e a complexidade. Para fazer um sistema complexo funcionar, é preciso ter uma estratégia para a escala e outra para a complexidade. Exemplo: o corpo humano tem dois sistemas de proteção, um para escala, outro para complexidade. O sistema neuromuscular (cérebro comandando nervos que acionam músculos que movem ossos) serve para escala, enquanto o sistema imunológico (glóbulos brancos independentes agindo cada um por conta própria) lida com complexidade. O neuromuscular nos defende de ameaças grandes – surras, atropelamentos, ladrões. O imunológico lida com inimigos minúsculos – bactérias, vírus, fungos. Por terem funções diferentes, os dois sistemas adotam estratégias diferentes. No neuromuscular, a lógica é hierárquica, centralizada e linear – o cérebro manda, nervos e músculos obedecem, todos juntos, orquestrados, somando

esforços numa mesma direção, para gerar uma ação em grande escala (um soco, por exemplo). Já no sistema imunológico, cada célula age com liberdade e se comunica com as outras, o que gera milhões de ações a cada segundo, uma diferente da outra, cada uma delas microscópica, em pequena escala – e o resultado final é uma imensa complexidade, com o corpo protegido de uma quantidade quase infinita de possíveis ameaças. Para viver saudável é preciso ter os dois sistemas: neuromuscular e imunológico. Um sem o outro não adianta. Não há nada que um bíceps forte possa fazer para matar uma bactéria, assim como glóbulos brancos sarados são inúteis numa briga. É assim com todo sistema complexo: precisamos de algo hierárquico para lidar com a escala das coisas, e de algo conectado em rede para a complexidade. O problema do mundo de hoje, e a razão para o desconforto descrito no começo deste texto, é que nossa sociedade está toda ajustada para lidar com escala, mas é absolutamente incompetente na gestão da complexidade. Estamos combatendo infecção a tapa. Tudo por causa de uma invenção que está completando 100 anos.

O SÉCULO DA ESCALA

Foi talvez a invenção mais transformadora da era contemporânea, mas ninguém registrou o nome do inventor, nem a data do “eureca”. Na verdade, ninguém nem mesmo deu um nome ao invento. Só cerca de um ano depois, uma revista técnica de engenharia fez o batismo: linha de montagem. Segundo as pesquisas do historiador

David Nye em seu livro America’s Assembly Line (“A linha de montagem da América”, sem versão em português), a invenção da linha de montagem ocorreu em algum momento de novembro de 1913. A dificuldade de estabelecer uma data precisa vem do fato de que a invenção foi gradual, coletiva e aconteceu quase espontaneamente. Ela não foi uma ideia espocando do nada na mente de algum cientista brilhante – foi uma resposta social a uma necessidade premente. A necessidade era aumentar a produção de carros. Em 1900, só 5 mil americanos tinham carro – apenas 13 anos depois, já eram mais de 1 milhão. Centenas de fábricas trabalhavam sem parar para atender a essa explosão da demanda, mas ainda assim as fábricas recebiam mais pedidos do que eram capazes de atender. Isso gerou uma corrida entre as fábricas por ganhos de produtividade. Quem ganhou essa corrida foi a empresa de um mecânico chamado Henry Ford. No esforço de poupar segundos e assim fazer mais carros por dia, os mecânicos e engenheiros da Ford foram aprimorando seu processo. Começaram a padronizar milimetricamente cada peça do carro, para acelerar os encaixes.

MUNDO HIERÁRQUICO A educação produz adultos

talhados para uma sociedade hierárquica – uns são formados para mandar, outros para obedecer, como exige a sociedade industrial. Quase ninguém aprende a trabalhar de forma colaborativa e a resolver problemas juntos, como exige o mundo complexo.

Cronometraram cada movimento dos mecânicos, para descobrir o melhor jeito de fazer cada tarefa. E, a cereja do bolo: inverteram a lógica da fábrica. Em vez de grupos de mecânicos andando de uma carcaça a outra para montar os carros, eram os carros que se moviam num trilho, puxados por cordas, no meio de um corredor de mecânicos. Cada mecânico realizava uma tarefa curta e repetitiva, de maneira que nenhum deles tinha mais o domínio do processo todo. Resultado: a

fábrica começou a despejar nas ruas um carro novo a cada minuto. Em 1910, a Ford tinha feito 19 mil carros. Em 1911, 34 mil. Em 1912, 76 mil. Em dezembro de 1913, a linha de montagem começou a operar. Em 1914, a empresa montou 264.972 carros – todos idênticos. Um aumento de produtividade descomunal, que possibilitou a Henry Ford dobrar o salário de seus operários e ao mesmo tempo baixar o preço dos carros, transformando operários em clientes. O sucesso foi tão grande que, nas décadas que se seguiram, a lógica da linha de montagem se espalhou por toda a indústria, em todo o mundo. Bicicletas, geladeiras, telefones, televisores passaram a ser montados em esteiras rolantes ou trilhos, com peças sempre iguais montadas por trabalhadores superespecializados. Até mesmo a comida se encaixou nesse esquema: nossos alimentos também passaram a ser padronizados e montados industrialmente com acréscimos químicos de nutrientes. Prédios passaram a ser produzidos com peças idênticas e tarefas cronometradas, o que inaugurou a era dos arranha-céus nos anos 30. Nossa vida está cheia de linhas de montagem – o carrinho do supermerca-

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do passando entre corredores de produtos, o automóvel trafegando em rodovias rodeadas de lojas, as filas de carros nos drive-thrus do mundo. Ao longo do último século, a lógica da linha de montagem chegou a todas as esferas da vida. A educação, por exemplo. “As escolas hoje são organizadas como fábricas”, disse o educador britânico Ken Robinson numa palestra no TED. “Educamos crianças em lotes”, disse, referindo-se ao hábito de separar os alunos em séries. Saúde, governo, cidades, cultura, ciência. Praticamente tudo nessa alvorada do século 21 parece seguir o mesmo esquema: divisão do trabalho numa sequência linear de tarefas especializadas, montagem gradual das peças, ganhos constantes de eficácia, produtos padronizados. “A linha de montagem passou a ser muito mais que um arranjo físico de máquinas”, disse Nye. “Ela é o centro de um sistema cultural que se estende até muito além dos portões das fábricas.” Esse sistema cultural aumentou de maneira explosiva a escala de tudo. E esse aumento de escala mudou o mundo de uma maneira espetacular. Quando os funcionários da Ford conceberam a linha de montagem, havia me-

ENGARRAFAMENTO SEM FIM

Num mundo hierárquico, as pessoas são obcecadas por sinais de diferenciação social – e o mais poderoso deles é o carro. Não é à toa que 10 mil novos carros chegam às ruas do Brasil por dia, e que como consequência a velocidade média de um carro seja equivalente à de uma galinha.

ALUNOS IDÊNTICOS A educação básica é

padronizadora, com alunos divididos em séries (lotes), e o mesmo conteúdo ensinado a todos. Alunos com talentos únicos são enquadrados, nivelando o sistema por baixo e reduzindo a diversidade da sociedade.

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O mundo está muito complexo Denis Russo

SUPERINTERESSANTE / fevereiro de 2014

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Texto leve, sem pretensão, se aprofunda em algumas das questões mais complexas da atualidade e mostra que todas as grandes crises sistêmicas – política, trânsito, água, extinções, cidades, economia, trabalho, educação, saúde e mídia – têm algo em comum: são sistemas complexos entrando em colapso.


destaques

essencial amostra de que o senso comum não entende o que realmente foi o Big Bang. Para começar, a explosão que deu origem ao Universo não foi uma explosão. Ela ainda é uma explosão. O Big Bang continua big-bangando, porque o cosmos continua expandindo. E cada vez mais rápido. Vivemos dentro de uma “explosão controlada”. Mais importante: o Big Bang não aconteceu em algum lugar distante nas profundezas do cosmos. Ele aconteceu exatamente aí, onde você está agora. Ele aconteceu em Guarulhos, em Júpiter e na sua testa. Ao mesmo tempo. É que, há 13,8 bilhões de anos, tudo o que existe hoje, aqui, no céu ou na sua cabeça, estava espremido no mesmo ponto. E do lado de fora desse ponto não existia um “lado de fora”. Não existia nada. Todo o espaço e tudo o que preenche o espaço estavam contidos lá. Tudo mesmo: da energia que forma os átomos dos seus cílios ao espaço físico que separa São Paulo do Rio – ou a Via Láctea da galáxia de Andrômeda. Tudo bem apertado, numa quantidade de espaço que caberia com folga na ponta de um alfinete. O Big Bang foi a expansão dessa quantidade de espaço. E ainda é, já que o espaço continua inflando, como uma bexiga descomunal. Essa expansão, por sinal, chegou a ter uma fase especialmente acelerada – um período de trilionésimos de segundo que os astrônomos chamam de “inflação cósmica”. Para localizar melhor: o Big Bang, estritamente falando, foi o momento em que o Universo saiu do nada para virar algo do tamanho de uma partícula subatômica. Depois desse pequeno passo, veio o grande salto: a inflação cósmica. Foi aí que o Universo deixou de ser uma partícula e virou algo parecido com isso que a gente vê à noite pela janela (ainda sem estrelas, ou átomos, ou luz, mas ainda assim algo grande). Essa puberdade cósmica passou rápido. Uma fração de trilionésimo de segundo e já era: o ritmo da expansão voltou ao normal. Mas a inflação deixou rastros, resquícios daquele tempo especial, em que o Universo era uma partícula subatômica. Foi um desses rastros que o time do astrônomo John M. Kovac, do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, encontrou no céu do Polo Sul, em março de 2014. Eles perceberam “rachaduras” nas paredes do Universo. Ondas, na verdade, permeando a radiação cósmica de fundo. E aí que está a beleza da coisa. Por causa do seguinte: a ciência sabe que as forças da natureza se manifestam em forma de ondas. O eletromagnetis-

Ops.

RachaduRas nas paRedes do univeRso

Depois Do céu, tem outro céu. Sem estrelas. Se você voar alto o bastante, uma hora sai da Via Láctea. As estrelas vão ficar lá embaixo, confinadas em braços espirais. Mas ainda vai existir um céu, e ele será pontilhado de galáxias. E depois desse céu, tem outro céu. Sem galáxias. É o que os telescópios mostram. Para além das galáxias, o que existe é uma sopa de radiação. Um caldo onipresente – que os astrônomos chamam de “radiação cósmica de fundo”. “De fundo” porque permeia tudo o que dá para ver além do domínio das galáxias. Para qualquer canto que você apontar um telescópio, essa radiação vai estar lá. Na prática, ela forma as paredes do Universo. E foi nessas paredes que podem ter feito, em março deste ano, uma das descobertas mais bonitas da história. Essas paredes já eram bem conhecidas. Elas são a maior evidência do Big Bang, e, de quebra, a maior

A maior descoberta de 2014 pode ter sido uma ilusão. Mesmo assim, ela serve para lembrar algo especial: que somos mais do que meros observadores do cosmos. Entenda. t e x t o Alexandre Versignassi

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As cicAtrizes nA rAdiAção de fundo podem ser fósseis dA AdolescênciA tumultuAdA do cosmos, mArcAs do tempo em que o universo inteiro erA só umA pArtículA. mo, a que mantém os ímãs presos na geladeira e que faz sua mão doer se você dá um soco na mesa (graças à repulsão eletromagnética entre os átomos da sua mão e os da mesa), é feito de ondas. Ondas eletromagnéticas. Outras duas forças também vêm em ondas, como o mar: a nuclear forte, que mantém os quarks unidos na forma de prótons, e a nuclear fraca, a mais figurante de todas, que age na periferia dos átomos. É o que a física quântica provou ao longo do século 20. Só que ficou um buraco nessa história. Ninguém nunca detectou as ondas que deveriam formar a força mais popular das quatro que existem: a gravidade. Mas podem ter acabado de encontrar. É que, se existem ondas visíveis nas paredes do Universo, como os pesquisadores do Polo Sul viram, elas podem, sim, ser ondas gravitacionais. E provavelmente geradas pela violência da inflação cósmica – dá para imaginá-las como cicatrizes daquele crescimento fulminante. Para todos os efeitos, seriam fósseis da adolescência tumultuada do cosmos, marcas do tempo em que o Universo era só uma partícula. Tudo isso ainda é hipótese pura – e imagens mais recentes das cicatrizes, feitas em setembro pelo telescópio espacial Planck, sugerem que elas podem ser só poeira estelar. Que a descoberta das ondas gravitacionais pode ter sido só uma ilusão. Mesmo assim, só a possibilidade de que não, não seja uma ilusão, já serve para lembrar a gente de algo mais profundo: de que somos tão parte do cosmos hoje quanto na época em que estávamos todos juntos, ali, naquela ponta de alfinete. Serve para lembrar que não somos meros observadores do Universo. Somos o próprio Universo, tomando consciência de si mesmo.

Rachaduras nas paredes do universo Alexandre Versignassi

SUPERINTERESSANTE / março de 2014

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Ilustração Rafael Quick

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Memória

O ESCRITOR EM SEU LABIRINTO Criador do “realismo mágico” e um dos autores mais populares da América Latina, o colombiano Gabriel García Márquez morre no México, aos 87 anos

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O escritor em seu labirinto

Jerônimo Teixeira e Rinaldo Gama

VEJA / abril de 2014

...achou ridículo o formalismo da morte. Realmente não se importava com a morte, e sim com a vida, por isso a sensação que experimentou quando pronunciaram a sentença não foi uma sensação de medo, mas de nostalgia. RICHARD AVEDON

GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ, em Cem Anos de Solidão 72 |

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ria latino-americana. A rigor, Gabriel García Márquez é, sozinho, o realismo mágico. É com Cem Anos de Solidão — um best-seller mundial, com mais de 40 milhões de exemplares vendidos — que o estilo se cristaliza, em todos os seus elementos: a cidadezinha atrasada, dominada por clãs oligárquicos, em cujo cotidiano o maravilhoso parece nascer das pedras. Calcada em Aracataca, cidade colombiana onde García Márquez nasceu, em 1927, Macondo é uma espécie de representação literária do atraso latino-americano; no entanto, o autor sempre teve a destreza de não deixar sua criação se esvaziar em uma

FANTASIA Gabo, com 1 ano: mitologia exuberante, na qual está espelhada a história do continente

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Especial

assados muitos anos, diante da notícia da morte do escritor, seus leitores haveriam de recordar o dia em que Gabriel García Márquez os levou a Macondo e os apresentou aos Buendía, uma estirpe trágica condenada a 100 anos de solidão, e cujos membros eram propensos aos mais estranhos fins — um ancião da família fundiu-se à vegetação do quintal, uma moça reclusa em um convento fugiu voando, alçada por borboletas, um bebê com rabinho de porco foi carregado por formigas. O mundo já era velho e conturbado no ano de 1967, quando García Márquez — familiarmente chamado de Gabo — publicou Cem Anos de Solidão (cujo memorável primeiro parágrafo é glosado aqui), livro fundador de um estilo que ficou conhecido como “realismo mágico” e grande propulsor do chamado boom literário latino-americano, que revelou, entre outros, o peruano Mario Vargas Llosa, o argentino Julio Cortázar e o mexicano Carlos Fuentes — além, é claro, do próprio García Márquez. O fundador de Macondo morreu na quinta-feira, dia 17, em sua casa na Cidade do México, de complicações decorrentes de um câncer. Nos últimos anos, foi assolado também pelo Alzheimer. A expressão “realismo mágico” é um tanto equívoca. A simples irrupção de elementos fantásticos no cotidiano, afinal, aparece em vários autores europeus do século XIX (O Nariz, do russo Nikolai Gogol, por acaso seria realismo fantástico?). O termo quase nunca é aplicado para definir obras escritas acima da linha do Equador: é uma catego-

EFE

JERÔNIMO TEIXEIRA E RINALDO GAMA

mera alegoria política: o leitor é envolvido pela ilusão de uma cidade real, palpável até na sua umidade. A lista de escritores de quem García Márquez é devedor é longa e heterogênea. Do americano William Faulkner, criador do condado fictício de Yoknapatawpha, no sul dos Estados Unidos, Gabo terá herdado a capacidade de conjurar um território interiorano que parece autossuficiente, como um universo regido por regras muito próprias. De Jorge Luis Borges, o pendor para um certo absurdo metafísico. O checo Franz Kafka terá contribuído com a ousadia de levar o fantástico ao extremo: em uma entrevista de 1981 à Paris Review, Gabo recorda a experiência de ler A Metamorfose pela primeira vez, em meados da década de 40, em uma pensão de Bogotá, nos dias em que cursava a faculdade de direito (nunca chegou a exercer a advocacia: antes de se tornar escritor, foi, sobretudo, jornalista): “A primeira frase — que conta como Gregor Samsa acorda e se vê transformado em um imenso inseto — quase me derrubou da cama. Eu não sabia que se podia escrever daquela forma. Se soubesse, teria começado a escrever mais cedo”. O modo como García Márquez conjuga e mistura essas influências merece esse adjetivo tão desgastado em resenhas literárias: original. Da forma como praticado por ele, o tal “realismo mágico” é uma espécie de lente deformadora aplicada sobre a dura realidade — pobreza, atraso, violência — tantas vezes descrita pelo velho realismo social. Tome-se o exemplo de A Incrível e Triste História de Cândida Erêndira e Sua Avó Desalmada, conto que dá título a uma coletânea publicada em 1972. O enredo de exploração sexual é perfeita e tristemente plausível em rincões atrasados da América do Sul: uma avó prostitui a neta adolescente. Mas então entra o olhar pitoresco e exagerado de Gabo, e a jovem prostituta recebe

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NATAL

O BEM MAIS HUMANO Para além de sua dimensão religiosa, o espírito solidário, representado pela dedicação desinteressada ao próximo, carrega consigo a própria defnição do que é humanidade

mo se vê, ser solidário, praticar o bem, não é uma questão tão somente religiosa: é humana. Assim, não causa estranhamento que o tema já se insinuasse nos primórdios da flosofa. “É preciso ou ser bom ou imitar quem o é”, ensinava Demócrito de Abdera (c. 460-370 a.C.), organizador da doutrina atomista. O ateniense Platão (c. 428-347 a.C.) também se debruçou sobre o assunto, em A República (380 a.C.): “A ideia do bem é a mais elevada das ciências e é para ela que a justiça e as outras virtudes se tornam úteis e valiosas”, escreveu ele. É de prestar atenção: de acordo com o platonismo, o bem estaria acima, ou melhor, “além do ser”, como bem absoluto, do qual todas as coisas boas tomariam parte. Aristóteles de Estagira (384-322 a.C.), outro monumento do pensamento grego, discordava dessa visão, convencido de que existiria o bem de cada coisa. Numa confluência entre filosofia e teologia, Santo Agostinho (354-430), pensador de Tagaste, na atual Argélia, abordaria o problema ao se aprofundar na discussão sobre o mal. Agostinho, vale lembrar, formado no cristianismo por infuência de sua mãe ó o pai era pagão ó, permaneceu longo período afastado da religião. Convertido em 386, deu início, dois anos depois, à redação de O LivreArbítrio, no qual se dedica ao tema, preocupado em combater o maniqueísmo, que se infltrava em diversos escalões da Igreja. Segundo essa corrente, o universo seria presidido pelos princípios do bem e do mal, tendo o homem ambas as naturezas, o que o faria agir em uma e outra direção. Ao tomar isso como verdadeiro, seria preciso se confrontar com o seguinte dilema: como o homem, criado por Deus, poderia ser naturalmente mau? O mal, responde Agostinho, seria apenas uma defciência, uma privação do ser, decorrente do uso equivocado de um bem, o livre-arbítrio. “Deus não é o autor do mal, porque é o autor de todo bem”, anota o pensador. No célebre Confssões (398), ainda observaria: “Vi, pois, e pareceu-me evidente, que criastes boas todas as coisas. (...) Em absoluto, o mal não existe nem para Vós nem para as vossas criaturas”. Tal compreensão do que é o mal alarga a dimensão do bem. Por isso talvez Agostinho se incomo-

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FOTOS: ALAMY/LATINSTOCK

RINALDO GAMA

m uma crônica publicada no livro Cadeira de Balanço (1966), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) imagina um mundo no qual o Natal se prolongasse pelos 365 dias do ano. Nesse contexto, os habitantes se desejariam felicidades “ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente” e todos os bens “seriam repartidos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma”. (O fogo — mais guerra do que luz — não terá sido excluído por acaso dessa utopia poética.) A noção de que uma era norteada pela solidariedade seria sinônimo do 25 de Dezembro diz muito sobre o extraordinário alcance do cristianismo e sua doutrina de amor ao próximo. “No ser humano, a solidariedade se manifesta logo no nascimento, quando a mãe cuida do seu flho. Reconhecemos os mais fracos como parte do grupo e, por isso, cuidamos deles. Entendemos essa solidariedade como um dever moral”, explica o padre Erico Hammes, doutor em teologia e professor da PUC-RS. “É um sentimento natural, reforçado pela religião. A sociedade também estimula essa inclinação por meio de diversas ações que visam a dar algum tipo de assistência às pessoas mais frágeis”, constata Hammes. “A solidariedade — que para o judaísmo se estabelece junto com a criação do mundo — nasce da fragilidade do ser humano, da carência inerente à condição humana”, argumenta o rabino Michel Schlesinger, da Congregação Israelita Paulista. “É ela que nos conecta como humanidade. Somos absolutamente iguais na fragilidade, independentemente do sexo, da etnia — e da religião”, acredita ele. Co-

O bem mais humano Rinaldo Gama

VEJA / dezembro de 2014

NOVO TESTAMENTO O nascimento de Jesus, na arte do italiano Giotto (1267-1337): ênfase na mensagem de fraternidade universal

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texto

PRÊMIO

ENTREVISTA Uma doença a ser extirpada Alexandre Salvador

VEJA / dezembro de 2014

A entrevista com o técnico da seleção masculina de vôlei Bernardinho foi compartilhada, na íntegra, no site de VEJA e atingiu mais 17 mil compartilhamentos no Facebook. Traz informações exclusivas sobre corrupção na Confederação Brasileira de Vôlei e questões delicadas da vida pessoal do entrevistado.

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destaques

Ela não tem medo de Putin

Nathalia Watkins Freire

VEJA / setembro de 2014

entrevista

MarcoFeliciano

uma conversa franca com o pastor evangélico e deputado federal sobre direitos humanos, homossexualidade, dilma rousseff, marina silva, cocaína, aborto, pedofilia e o segundo lugar em um concurso de imitadores de michael jackson

Marco Feliciano

Jardel Sebba Filho e Sergio Xavier

Em uma madrugada do ano passado, o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) havia acabado de comer no restaurante paulistano Sujinho, na região da Consolação, quando viu uma mesa com um grupo de homens perto da saída o encarando. Já se preparava para ser xingado quando vieram as palmas: “Valeu, pastor, estamos com o senhor!” Eram corintianos agradecidos pelo projeto em defesa dos torcedores do time presos em Oruro,

na Bolívia. Na hora, ele pensou: “Finalmente, alguém falando bem de mim...” Natural de Orlândia (SP), sem conhecer bem a capital, o deputado foi parar no Sujinho por sugestão de Talma Bauer, seu chefe de gabinete, um policial civil de 60 anos que também faz as vezes de roommate e cozinheiro em Brasília. E aquela foi só mais uma madrugada agitada na vida do deputado entre março e dezembro de 2013,

período em que esteve sob todos os holofotes enquanto presidiu a Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara dos Deputados. Pastor evangélico em seu primeiro mandato, eleito com quase 212 mil votos, Feliciano virou uma estrela da casa. Enquanto ativistas de direitos humanos se revoltaram por ter alguém com o seu perfil na presidência da Comissão, sua base de eleitores conservadores cresceu. Desde

“Fui criado só pela minha mãe, não tive pai. Ela era a outra. Quando minha mãe nasceu, meu pai já era casado e tinha filhos” PLAYBOY

“O Planalto fez uma pesquisa e apareço em quarto lugar. Hoje já começo a sonhar com a Presidência da República”

“Tem homens que têm tara por ânus, sim. Não entendo muito porque nunca fiz, graças a Deus. Deve ser tão estranho...”

fotos: Joédson Alves

PLAYBOY / abril de 2014

então, acostumou-se a receber de tudo: provocações em avião, latinhas de cerveja na cara e até produtos de uma sex shop em seu gabinete. “Alguns eram óbvios, mas outros eu nem sabia para que serviam”, conta rindo. Nascido há 41 anos no interior de São Paulo em uma família pobre, único fruto de uma relação adúltera, Marco Antonio Feliciano passou fome, trabalhou na roça, foi engraxate e vendeu picolés e sapatos na infância. Entre bailes, grupos de break, imitações de Michael Jackson e uma paixão pela cantora Simony, do grupo Balão Mágico, passou a adolescência equilibrando a fé às tentações mundanas. Estabeleceu relações com a Igreja Católica e com a cocaína, nessa ordem, até, aos 16 anos, entrar na Assembleia de Deus para nunca mais sair. Com formação técnica em contabilidade, é graduado e pós-graduado em teologia no Brasil e nos Estados Unidos. Hoje tem a própria igreja, a Catedral do Avivamento, e é autor de dezenas de livros e DVDs com pregações. Casado há 22 anos com Edileusa, que conheceu na igreja, é pai de Kamilly, de 11 anos, Ketlin, de 12, e Karen, de 18. Animado com a exposição que teve em 2013, fala em ampliar sua base de eleitores, concorrer ao Senado e, em breve, à Presidência. Marco Feliciano conversou com o editor Jardel Sebba e com o diretor de redação Sérgio Xavier Filho em seu gabinete na Câmara por dois dias seguidos em março. Na primeira sessão, marcou às 14 horas e apareceu às 21h30: havia sido convocado para uma conversa com o governador Geraldo Alckmin, que pediu seu apoio nas eleições deste ano e o chamou de “deputado de sete dígitos” (com potencial para atingir mais de 1 milhão de votos). Quando a conversa terminou, duas horas e meia depois, ficou sem jantar, uma vez que Talma Bauer, cuja especialidade é o frango frito, havia ficado em São Paulo. No dia seguinte, nos atendeu na hora do almoço para mais duas horas de entrevista. Simpático, o deputado se irritou em poucos momentos da conversa, especialmente quando falamos sobre os

gastos de seu gabinete e aborto. Questionado sobre por que aceitou dar esta Entrevista, respondeu: “A chance de dizer às pessoas que acredito em Cristo na revista PLAYBOY, para mim, é uma coroa”. Qual é o problema com a união estável entre homossexuais? Nenhum, nunca tive problema com a união estável. O meu grande problema com tudo isso aí é que eu estudo. Se a pessoa estudar, ela chega a denominadores comuns. O controle de natalidade, esse é um pensamento que vem da ONU para cá. Para segurar a população, só existem duas formas: aprovar o aborto, matar a semente, não ter o ônus de nascer mais um ser humano que vai se digladiar por um prato de co-

“Cerca de 80% dos casos de homossexualidade são decorrentes de abuso sexual na infância. Não sou eu quem está dizendo, é a psicologia” mida ou um copo de água; ou incentivar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, que elas vão ter o bônus do casamento, que é o prazer, e não vão ter filhos. Então, se não nascem filhos e se abortam crianças, o mundo se mantém equilibrado. É tudo um grande plano para conter a natalidade? Em outubro passado veio notificação da ONU: se o Brasil não votasse a lei que criminaliza a homofobia, perderíamos a nossa cadeira na Comissão de Direitos Humanos da ONU. Para que isso? União estável é um pedaço de papel, o problema não é esse, mas o que esse papel vai dar de direito a essas pessoas. Como o direito à adoção de crianças, que sou redondamente contra.

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Esse casal não pode ter carinho e compreensão para criar uma criança, mais até que um casal heterossexual? Esse aí é o discurso mais lindo dos socialistas. O problema é que quem estuda psicologia vai lembrar que Freud disse: tudo o que uma criança vê, ouve e sente, de zero a 7 anos, na primeira fase, e de 7 a 12 anos, será a base da sua estrutura para sempre. Já li 80 livros sobre a homossexualidade, até para poder ir aos debates. Noventa por cento dos psicólogos afirmam: 80, 85% dos casos de homossexualidade são decorrentes de abuso sexual na infância. Dez por cento, de problemas de relacionamento. Não sou eu quem está dizendo, é a psicologia. Quando você conversa com eles, e eles têm coragem, vão dizer: eu fui abusado sexualmente. O senhor cogita a hipótese de que um homem pode ter prazer pelo ânus? Com certeza, tem homens que têm tara por ânus, sim. Eu não entendo muito dessa área porque nunca fiz, graças a Deus, e espero nunca fazer, porque parece que quem faz não volta mais. [Risos.] Deve ser uma coisa tão estranha... Eventualmente tem gente que pode ter tara na própria mulher enfiar o dedo no ânus... Tem gente que tem tara por cachorro. É tara. Quando você protege um homem que gosta de sexo com homem, dizendo “tudo bem, você pode desejar isso”, o pedófilo também diz: “Mas se ele só sente desejo de sexo com homem, eu só sinto por criança”. “Eu sinto prazer com uma vaca!” São tendências. Uma vez que você abre uma oportunidade para cá, abre um leque para todas as outras. Uma coisa é uma relação consensual entre dois adultos, outra bem diferente é uma relação com uma vaca ou uma criança... O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), diante do MEC e de um monte de gente, falou sobre a diversidade sexual na primeira infância, de zero a 7 anos. Vi professores e doutores lá falando assim: “Se o menininho na creche quiser tocar o

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PLAYBOY

CLAUDIA entrevista

N

o palco, não tem para ninguém. Luiza Helena Trajano, 62 anos, é mais que a presidenta do Magazine Luiza, empresa com 744 lojas de eletrodomésticos, que faturou 10 bilhões de reais em 2013 e emprega 24 mil brasileiros. Em debates e palestras, ela entretém a plateia como pop star – na verdade, como uma mulher autêntica, que roda a baiana na feira ou em reuniões com a nata do empresariado nacional. Rapidamente, seu sotaque de Franca (SP) cria identidade com quem nasceu no interior ou em qualquer rincão distante. O público se diverte com as ironias e metáforas engraçadas que ela usa para explicar a economia e as coisas simples da existência e vem abaixo quando a ouve dizer: “Vou contar uma fofoca”. Ela faz a introdução para comentar algo sobre o mundo dos negócios, da política ou da vida privada. Em geral, não revela nenhuma negociação de bastidor, nenhum grande segredo. Mas aí o clima de cumplicidade está garantido, Luiza pode falar o que quiser. Foi com esse espírito – porém com o sangue bem mais quente – que reverteu a provocação do jornalista Diogo Mainardi, que tentou derrubar uma tese dela sobre a queda na inadimplência dos consumidores de baixa renda. Nessa discussão, travada no programa Manhattan Connection, da GloboNews, em janeiro, ela devolveu com números, argumentos e ginga. O vídeo se espalhou pela internet e até quem não a conhecia virou fã. Quem vai ouvi-la em palestras? De metalúrgicas da Grande São Paulo, como num evento que reuniu 400 delas em maio, a executivos, advogados, empreendedores e curiosos. Do palco até o carro, Luiza demora de 30 a 40 minutos. Baixinha, 14 quilos mais magra (graças à reeducação alimentar iniciada há três meses, que vinha adiando desde a cirurgia bariátrica, feita em 2011), a empresária posa para fotos, autografa e recebe presentes. Os mimos seguem para a sede do Magazine, na zona norte da capital paulista, prédio com paredes de vidro onde os funcionários veem uns aos outros trabalhando. Incluindo Luiza. Na sala dela, uma manada de elefantes de bumbum para a porta, para garantir prosperidade, divide espaço com imagens católicas, amuletos, retratos de Jesus e impressos de Santo Expedito. Sincretismo total. Perto das fotos dos três filhos e quatro netos, uma camiseta assinada por Pelé e a flâmula verde-amarela completam a brasilidade – reforçada por outra bandeira, na garganti-

lha, da qual não se separa. Nesta entrevista, entendemos como esta mulher, que entrou no negócio da família aos 12 anos e cultua sempre a alegria de viver, chegou ao topo da carreira e se tornou uma líder no país. Quando saiu de Franca para São Paulo, foi facilmente aceita pelos empresários?

Eu não falo inglês, fiz direito na minha cidade, não estudei no exterior, como muitos deles. Achavam cafona tudo que eu realizava. Reunia – e ainda reúno – os funcionários às segundas-feiras para uma conversa e para cantar o Hino Nacional. Era brega. Mas não me senti vítima de preconceito nem inferior aos outros empresários. Também não mudei meu jeito. Hoje recebo visitas de executivos que querem ver como é o rito da segunda-feira. O aprendizado veio de onde?

Minha tia Luiza fundou a empresa no interior em 1957. Ela é uma mulher de 87 anos que só tem o curso primário e, desde o começo, praticou a inclusão e o respeito pela diversidade sem usar essas palavras. Ela perguntava ao setor de recursos humanos: “Por que vocês só contratam a moçada? Cadê as mulheres mais velhas, os negros?” Entendi que varejo é povo, simplicidade, precisa de todo mundo junto. Nunca me baseei só na teoria. Frequento as favelas de Paraisópolis e Heliópolis, as duas maiores de São Paulo, e vejo como a vida funciona. Paraisópolis tem mais de 8 mil empreendedores, projetos culturais, artistas plásticos maravilhosos, e o dinheiro está circulando. Mas, em geral, o que falam das favelas é que elas estão entre tiroteios e mortes. Eu conto essas histórias para os empresários. Muitos viraram meus amigos, entenderam a minha essência.

NÃO FALO INGLÊS, NÃO ESTUDEI NO EXTERIOR E TUDO QUE EU FAZIA ACHAVAM CAFONA. MAS NÃO ME SENTI INFERIOR AOS EMPRESÁRIOS

A LÍNGUA AFIADA DA RAINHA DO VAREJO

Luiza Trajano, dona do Magazine Luiza, fala o que pensa, eleva o tom quando quer fazer valer sua opinião e sabe usar o carisma e o charme interiorano para convencer clientes, empresários e autoridades. Mas é criticada por muitos por ser uma otimista de carteirinha PATRÍCIA ZAIDAN / FOTOS LUIZ MAXIMIANO 1 52

CLAUDIA

JUNHO 2014

A língua afiada da rainha do varejo Patricia Zaidan

CLAUDIA / junho de 2014

O que fez para não perder a sua essência?

Ela é como um elástico interno. Para ser aceita, ganhar cargo, poder, status e não continuar caipira, você vai esticando, esticando e saindo de si. Quando vê, está distante de quem foi. Muita gente fez isso e hoje não é mais nada nos negócios, na vida pessoal, se perdeu. Eu falo “porrrrta” com sotaque forte até hoje. É verdadeiro. A que atribui a sua popularidade e liderança?

Nunca vejo o lado vazio do copo, mas o lado cheio. As pessoas estão cansadas de quem só enxerga as coisas com negatividade. Torcer pelo fracasso do país não dá mais ibope. Quando ouço: “O Brasil está ruim, o governo JUNHO 2014

CLAUDIA

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texto

PRÊMIO

REPORTAGEM

Drogas

FOTOS MARIO RODRIGUES

A ex-manequim, na Cracolândia: “Não olho no espelho, senão choro”

CINDERELA

às avessas Do interior de Mato Grosso para as ruas do centro, a ex-modelo Loemy, de 24 anos, luta contra si própria para vencer a dependência química e retomar a vida perdida em meio a cachimbos de crack e prostituição Adriana Farias

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Veja São Paulo 26 de novembro, 2014

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fiada, sempre rejeitou o contato de pessoas que não fossem os próprios viciados. Só mais recentemente deixou que assistentes sociais e voluntários de ONGs que atuam no local se aproximassem para lhe oferecer banho e comida. Ela se chama Loemy, tem 24 anos (vai completar 25 nesta quinta, 27) e veio do interior de Mato Grosso para cá atrás do desejo de seguir carreira de modelo. Na semana passada, aceitou se encontrar com a reportagem de VEJA SÃO PAULO para contar sua história de Cinderela às avessas. Foram três sessões de conversas, nas quais se emocionou várias vezes lembrando detalhes de como o sonho de brilhar nas passarelas acabou na Cracolândia. Houve momentos também em que sorriu ao falar de algumas boas recordações. Em um deles, uma usuária se incomodou com a risada e avançou com um pedaço de pau, acertando-a na barriga. A agressora parou após os berros de outros viciados, que a mandaram sair dali e “procurar o seu rumo”. Lúcida e articulada quando não está sob o efeito das drogas, Loemy demonstra ter consciência do seu estágio atual de degradação física e moral provocado pelo vício. Perambula no centro desde setembro de 2012. “Quando me mudei para São Paulo e descobri que existia um lugar como a Cracolândia, fiquei horro-

REPRODUÇÃO

F

luxo é o nome que se dá à aglomeração de viciados na região da Cracolândia, no centro. Nos dias de maior movimento, centenas circulam em meio à sujeira, mendigando ou roubando para comprar e usar drogas. Nas vielas estreitas do pedaço ou dentro de barracas de lona, traficantes observam tudo, sentados diante de tabuleiros improvisados. Em cima, deixam expostos maços de cédulas e pedras de pasta de cocaína de vários tamanhos, mesmo com uma base instalada da Guarda Civil Metropolitana e com carros da Polícia Militar passando pela área. É difícil distinguir alguém no bloco de maltrapilhos que andam a esmo na região, feito zumbis, em um retrato triste e trágico do fracasso das políticas públicas na cidade. Uma loira magra, de 1,79 metro de altura e olhos verdes, no entanto, não consegue passar despercebida. Alguns de seus traços de beleza ainda resistem, apesar das cicatrizes no corpo. Tem os joelhos feridos e os pés rachados pelo tempo dormido na rua. Os dedos estão queimados, de tanto acender os cachimbos de crack. A jovem vive no lugar há mais de dois anos, mas poucos sabem quem é. Arredia e descon-

Veja São Paulo 26 de novembro, 2014

Cinderela às avessas Adriana de Farias

VEJA SÃO PAULO / novembro de 2014

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Elizabeth: orações para que a filha largue as drogas

FOTOS SKIN MODEL

FOTOS FERNANDO MACHADO

ORLANDO ALBUQUERQUE/CENARIOMT

Fotos do ensaio do primeiro book: em poucos meses, o sonho virou pesadelo

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rizada com aquelas pessoas na rua”, lembra. “Hoje, eu é que estou nessa situação.” Consome atualmente cinco pedras de crack por dia, em média. Cada uma custa 10 reais. Muitas vezes, ela se prostitui para conseguir o dinheiro. “Mas não faço nada sem preservativo, vim parar aqui com a consciência formada, pelo menos”, afirma. “Vejo muita menininha doente ou com filho.” Uma época, recebia a droga de graça dos traficantes. Além da beleza, o jeito educado e cativante ajudava. Antes de começar a fazer programas, tentou outros meios para sustentar o vício. Como se sente humilhada pedindo esmola, certa vez empurrou uma senhora para lhe roubar a bolsa. Mas entrou em prantos ao vê-la cair no chão e jurou nunca mais fazer isso. Nascida em um município com pouco mais de 50 000 habitantes, é a filha mais nova de uma empregada doméstica e de um garimpeiro. A mãe, Elizabeth, e a irmã, que tem dois anos mais que a caçula, continuam morando por lá. O pai sumiu de casa quando Loemy era um bebê de 6 meses. Na adolescência, já chamava atenção pela beleza. Fez pequenos trabalhos em Mato Grosso, como desfiles e divulgação de novas coleções de lojas locais. Até que um olheiro e produtor de moda, de passagem pela cidade, descobriu a moça e a incentivou a tentar a vida em São Paulo.

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“Ela tinha um rosto bonito, marcado e delineado, estilo anos 80”, recorda-se o profissional em questão, Célio Pereira. “Era uma diva, linda, um escândalo. Tinha tudo para dar certo.” Entusiasmada, a garota fez as malas. Desembarcou em janeiro de 2012 com 3 000 reais dados pela mãe e foi dividir um apartamento no Itaim com outras modelos. Nessa época, fez o primeiro book profissional (algumas dessas fotos foram usadas para ilustrar esta reportagem). Encaminhada às principais agências de manequins da capital, não vingou em nenhuma. “Ela era chamada, começava o trabalho e, no outro dia, estava demitida”, afirma Pereira. “Faltavam foco e disciplina.” A preparadora de modelos Débora Souza, da Skin Model, teve contato com a garota de Mato Grosso nessa época. Segundo ela, em poucos meses em São Paulo, a jovem começou a beber e fumar com frequência e perdia os compromissos. “No dia do casting para trabalhar como recepcionista no Salão do Automóvel, por exemplo, ela chegou atrasada e não participou. Saiu revoltada”, conta Débora. Loemy atribui parte desses problemas à frustração de não ver as coisas andando no ritmo com que sonhava. “Desafogava frequentando muitas festas” diz. Em sua cidade, ela já havia experimentado maconha. Na capital, foi apresentada à cocaína pelos promoters das baladas. Mesmo dividindo o aluguel no Itaim com outras meninas, o custo de 500 reais por mês ficou pesado para ela. Em agosto de 2012, começou a morar de favor no Bom Retiro, em um apartamento de um amigo. Tem na memória o dia e o horário exatos em que fumou a primeira pedra de crack: 15 de setembro, às 4

Veja São Paulo 26 de novembro, 2014

da manhã. “Estava em um táxi e, em vez de ir direto para casa, desviei o caminho e desci perto da Praça Júlio Prestes para tentar comprar maconha”, lembra. Na bolsa, carregava 800 reais e dois celulares. Acabou sendo assaltada por dois bandidos. Ficou sem os pertences e caiu chorando no chão. “Até que colocaram um cachimbo na minha boca. Foi como uma tomada para carregar”, conta. A partir desse momento, a substância se tornou parte de sua vida. “Eu a uso com a filosofia de ficar tranquila, de ver a vida passar sem me incomodar com a realidade”, justifica. Quando ela começa a sofrer as crises de abstinência, seu humor muda e acusa os efeitos físicos da falta da pedra de cocaína. Ela passa a se contorcer e esfrega as mãos contra o corpo repetidamente. Isso só termina quando fuma outra vez e sente o barato do “tuim” (em poucos segundos depois de inalada, a droga libera no cérebro descargas de dopamina, neurotransmissor relacionado à sensação de prazer). O vazio de não deslanchar a carreira em São Paulo e a dificuldade de adaptação à cidade grande não foram seus únicos problemas. Loemy carrega um trauma de infância: dos 4 aos 10 anos foi abusada sexualmente pelo padrasto. Dormia no mesmo quarto da irmã, que também era atacada pelo homem. Certo dia, não aguentando mais a situação, a irmã contou tudo à mãe. Na época, Elizabeth, hoje com 48 anos, ficava a maior parte do tempo fora, cuidando de duas casas para sustentar a família. “Eu não quis acreditar na história das meninas no começo, mas resolvi fazer um teste”, lembra. “Deixei um dia a Loemy sozinha com ele e, espiando pela janela, flagrei tudo. Na hora, perdi a cabeça e pensei até em

O fluxo: as barracas de lona voltaram em setembro

MARIO RODRIGUES

matá-lo.” Depois do episódio, Elizabeth expulsou dali o companheiro, mas não procurou as autoridades para denunciá-lo. “Até hoje, tenho muita mágoa”, afirma Loemy. “Eu era uma criança, e não se fez justiça.” Às vezes, ela desaparece da Cracolândia por uns tempos. “Tenho medo e fico fugindo de um lado para outro. Já tentaram me furar com faca, mas tenho fé em que Deus não vai permitir nada de grave na minha vida.” Escolher um canto para passar a noite é sempre um momento tenso. “Uma vez me estupraram dormindo. Tentar se esconder é pior, você vira um banquete para eles. É melhor estar no aberto, na visão de quem pode te proteger.” Acostumada a andar sempre maquiada e arrumada, ela deixou a vaidade de lado. “Não me olho no espelho, senão eu choro, me deprimo mais.” Várias pessoas tentaram tirá-la de lá. Um conhecido dos tempos das agências a visita quinzenalmente, oferecendo comida e banho. Certa vez, ele alugou um quarto em um hotel para que Loemy ficasse no lugar para se recuperar, mas a jovem voltou a dormir na rua. Em outra ocasião, o mesmo amigo pagou uma passagem para que a ex-modelo voltasse a Mato Grosso. A garota ficou lá poucos meses. Envolveu-se com traficantes do local, que a juraram de morte, pegou uma carona escondido da mãe e voltou às ruas de São Paulo. Em junho do ano passado, Elizabeth esteve na metrópole tentando resgatar a filha. “Loemy queria que eu ficasse, mas não tenho condições financeiras. Toda a minha vida, o meu sustento, está em Mato Grosso”, diz. “Já tentei interná-la, mas não deu certo. Toda noite fico de joelhos e oro por duas horas, pensando quantas noites ela não dorme com fo-

O tamanho do problema Os principais dados relativos ao consumo da substância na cidade › Cerca de 150 000 paulistanos, ou 1,4% da população, já experimentaram a droga › A maior parte dos usuários é do sexo masculino (78,7%) › Quase 18 000 atendimentos foram realizados no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod) desde a criação do programa Recomeço, do governo estadual, em janeiro de 2013 › O programa municipal De Braços Abertos gasta 815 000 reais por mês com o aluguel de hospedagens no centro e as diárias de 15 reais para os viciados que trabalham em funções como a varrição de ruas e praças › 1 535 prisões foram efetuadas na Operação Centro Legal desde janeiro de 2012 › Desde 2012, a polícia apreendeu 280 quilos de drogas apenas na região da Cracolândia Fontes: Fiocruz, Unifesp e Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo

Veja São Paulo 26 de novembro, 2014

Viralizou nas redes sociais e teve grande repercussão a história de Loemy, uma garota de 24 anos que veio do interior do Mato Grosso para tentar a carreira de modelo em São Paulo e hoje luta contra o vício do crack.

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destaques Retratos da mulher brasileira Patricia Zaidan

CLAUDIA / maio de 2014

Retratos da mulher brasileira

3 com 000

km

Vivi

O que querem as brasileiras? CLAUDIA começa uma imersão no país de carona no caminhão da goiana Viviane Soares, uma mulher determinada como muitas da região Centro-Oeste PATRÍCIA ZAIDAN / FOTOS MARCIO SCAVONE

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m bitrem desce com voracidade pela BR-153. Parece um ente indomável comendo o asfalto gasto antes da divisa de Minas com Goiás. Com dois semirreboques que levam até 57 toneladas, está no encalço do Scania branco e amarelo, carregado com 11 toneladas de fogões e dirigido pela goiana Viviane de Sá Soares, 26 anos, a Vivi. Ela acelera e se sente só um pouco mais potente: “Estou vigiando esse bitrem. Pode ser que eu tenha que sair da frente”, diz. “Ninguém segura um monstro desses quando toma embalo para aguentar a subida aí na frente.” Vivi tem um olho nele e o outro no tráfego intenso no contrafluxo da pista simples. Não dá para apelar para a faixa da esquerda nem existe escape à direita nessa tripa de asfalto que liga o Norte ao Sul. Nascida no governo Kubitschek, famosa por acidentes, roubos de carga e pelos desafios no trecho Belém-Brasí-

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CLAUDIA

lia, a 153 é uma das quatro rodovias mais importantes do país, indispensável para escoar a produção de grãos, eletrônicos, carnes, combustíveis, defensivos agrícolas. “Segura. Segura firme!”, avisa a mulher, decidida a entrar com tudo em um buraco da pista. Em velocidade ascendente, ela deixa, finalmente, o adversário comendo poeira. Tem uma impressionante destreza ao volante. Perto dos 17 anos, pegou a chave do caminhão com que trabalhava o pai, Miguel, e saiu pelo Setor Rio Branco, em Goiânia, onde vive com a família. “Ninguém me ensinou a dirigir. Nasci num caminhão. Só desci aos 7 anos para ir à escola, mas, de saudade dele, tinha febre todo dia.” A aventura está na alma dessa motorista de mãos miúdas, porte esguio, aparelho nos dentes, riso franco – que ela abre para poucos –, sempre de camisetas leves e shorts, que revelam as coxas claras. “Faz calor, a cabine não tem ar-condicionado”, justifica. Seus pés, descalços, acionam os pedais, e as sandálias Havaianas servem apenas para

A goiana, que adora desafios, no caminhão equipado com TV, minifogão, computador, DVD e uma cama para duas pessoas

MAIO 2014

Retratos da mulher brasileira

Rose, no barco que mandou construir para transportar passageiros. “Adoro ganhar a vida no meio dos rios”

Com Rose,

nas águas

doNorte CLAUDIA viaja no barco da paraense Rosecleia de Lima, que rompeu com a pobreza e ajuda a construir uma nova economia na sua região PATRÍCIA Z AIDAN / FOTOS MARCIO SCAVONE

O

cheirinho de café invade a casa às 5h30. Rosecleia Corrêa de Lima, 43 anos, toma o primeiro gole. Logo vai preparar o seu Gideão. O barco ganhou o nome do herói bíblico por sua bravura nas águas do Rio Guamá, que Rose percorre todos os dias. Ela verifica o óleo, tira o ar da bomba e espera os passageiros que sairão apressados de Boa Vista, povoado do município de Acará, para começar o dia em Belém. São 6h20, a paraense dá a mão, ajuda cada um a saltar do ancoradouro de madeira para a embarcação, que balança um pouco. Nessa manhã, há 44 pagantes sentados nos bancos, que acomodam 60; a corrida custa 3 reais. Não há ondas fortes; em 45 minutos será possível atracar no Porto da Palha, no bairro de Cremação. Acompanhar a rotina dessa morena bonita, de cabelos longos e fisionomia assemelhada à dos índios, é a melhor forma de conhecer as mulheres que fazem a vida econômica fluir no Norte. Seguir seu vai e vem levando gente para o trabalho, crianças para a escola, velhos a passeio e, à noite, carga, é mais um capítulo da incursão de CLAUDIA pelo país. Mas é preciso fôlego. A jornada da capitã só termina na madrugada. 172

CLAUDIA

O CENÁRIO COMEÇA A MUDAR Como é que uma menina, tendo passado fome no almoço e no jantar, chega ao transporte coletivo e se torna responsável pela segurança das 4 mil pessoas que utilizam o serviço dela todo mês? “É o querer”, diz a ribeirinha. Sua infância foi em Boa Vista mesmo. Ela subia ao topo do açaizeiro com os pés atados pela peconha, cinto de fibras que a mãe fazia para Rose manter-se firme na árvore. Colhia os cachos enormes e escorregava pelos 20 metros, da palmeira até o chão, mais rápido que um macaquinho. Sua família vivia disso. Ainda hoje, o açaí, que nasce em igapós do estuário amazônico e é comum também no Amapá, nas Guianas, na Venezuela e Colômbia, é fonte de renda de milhares de nortistas. O fruto que dá no Pará responde por 90% da produção nacional. A passageira Cleide Vilhena tem sua vida ligada ao açaí, que os paraenses comem com peixe e farinha e acham uma heresia servir em versões doces, como no restante do país. Cleide descerá do barco, deixará na escola o filho Markley, 7 anos, e irá para o bar, no bairro Jurunas, onde tritura os bagos o dia inteiro. Rose deixou a colheita, virou doméstica e, mais tarde, capitã, com habilitação expedida pela Marinha. Tem oito anos de bordo. Há poucas mulheres nesse ofício. A maior SETEMBRO 2014

SETEMBRO 2014

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Retratos da mulher brasileira

NO CÉU COM A COMANDANTE

Aline

CLAUDIA continua sua imersão no país, desta vez de carona no táxi aéreo de Aline Maia, paulista descolada e aguerrida que poderia ser símbolo das mulheres do Sudeste PATRÍCIA Z AIDAN / FOTOS FILIPE REDONDO

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lha a lua, você nunca viu uma igual!” Eram 20h32 da sexta-feira 10 de outubro, e não se tratava da lua de sangue visualizada dois dias antes, no instante eclíptico em que a Terra passava entre esse satélite e o Sol. Mas devia ser sua irmã. Espetacular, se impunha como uma esfera rubro-quente no céu paulistano e parecia estar só um pouquinho acima da aeronave da comandante Aline Ricci Maia, 27 anos, dona da exclamação que abre mais uma etapa da série que retrata as brasileiras nas cinco regiões do país. A bordo, uma tentação: erguer o braço, para além da bolha acrílica (o para-brisa) do helicóptero Robinson 44, e tocar a enorme bola no firmamento. Voar suscita muitas ilusões. Mais ainda na máquina californiana de 650 mil dólares, para três passageiros, com jeito de ovo e de brinquedo de parque americano, altura interna de 90 centímetros, largura de 1,30 metro e potência para se elevar a 4,2 mil metros do chão. A rotina de Aline no táxi aéreo que pilota é cheia de glamour. E de percalços também. Aeronaves da aviação comercial, levando cerca de 200 passageiros, não enxergam helicópteros. Para não colidir, são eles que precisam desviar – como 180

CLAUDIA

acontece agora, no trecho próximo ao Aeroporto de Congonhas, onde os aviões voam mais baixo. No nervoso tráfego aéreo de São Paulo, a capital com a maior frota de helicópteros do mundo (411, segundo a Agência Nacional de Aviação Comercial), eles realizam 2,2 mil pousos e decolagens por dia. No alto, porém, o maior inimigo desta mulher não tem nada de tecnológico: “É o urubu”, conta. “Se não me esquivo e a ave bate no rotor principal, onde giram as duas pás, isso pode me derrubar.” O número de acidentes, porém, tem caído; no Brasil foram 24 em 2013. Mas a aviação não permite erros. Aline guarda sempre um plano B para enfrentar panes elétricas ou de motor, conhece os 221 helipontos da Grande São Paulo e, se precisar, usa a esperteza para identificar um campo de futebol, nesgas de grama ou clareiras na selva de prédios, onde possa fazer uma parada de emergência. Criada no bairro paulistano de Casa Verde, Aline retorna à base e espera a sexta viagem, um Night Air, serviço para casal que, depois de espumante, velas e flores na chegada ao hangar, culmina em um voo panorâmico rumo a um hotel de luxo. No Campo de Marte, onde fica o hangar da Helimarte, empresa para a qual trabalha, a comandante lembra de um passageiro da véspera, que não escondeu o espanto. Teria imaginado que ela fosse

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3

1 Aline aciona, com a mão esquerda, o coletivo e, com a direita, opera o cíclico: ferramentas de comando que lhe permitem alçar voo. 2 Com a vareta, checa o nível do óleo, o que repete a cada cinco horas. 3 E verifica o rotor de cauda NOVEMBRO 2014

NOVEMBRO 2014

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Retratos da mulher brasileira

Raquel NO TREM QUE

A gaúcha Raquel Barbosa enfrentou, aos 16 anos, uma gravidez de gêmeos. Passou em um concurso estudando sozinha. Tornou-se o carro-chefe no sustento da casa. Leva todos os dias 5 mil pessoas no transporte coletivo. É dona de uma história sobre a audácia das mulheres do Sul

Ela teve medo de se arriscar e não conseguir segurar o trem, que atinge até 90 quilômetros por hora. Quando viu o salário, decidiu: “Não só vou prestar o concurso, como uma vaga já é minha”

CONDUZ

PATRÍCIA Z AIDAN / FOTOS FILIPE REDONDO

A 5 quilômetros do terror Eduardo Teixeira

VEJA / agosto de 2014

E

ra horário de pico, 17h05, e a Estação Anchieta estava apinhada de gente com pressa. Raquel Krumberg Barbosa, 36 anos, enfrentaria naquela tarde de 2013 o episódio mais tenso de sua carreira. Ela abriu as portas do trem que deixaria Porto Alegre e passaria, na região metropolitana, por Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul e São Leopoldo até terminar a viagem em Novo Hamburgo. Em uma rotina normal, gastaria 55 minutos até o final da linha. Mas um homem transtornado, com uma faca na mão, passou a ameaçar as pessoas a bordo. Parecia decidido a furar alguém. “Foi um pânico geral, travou a via, um carrossel se formou”, lembra Raquel. O brinquedo de feira em que os cavalinhos ficam amarrados à viga é a imagem que os pilotos gaúchos, como ela, usam para descrever a sequência de composições que vão parando e impedem que o sistema flua. Sobre os trilhos havia 23 trens e, neles, quase 25 mil pessoas. “Meus passageiros vinham aflitos à cabine, pediam que eu fosse conter o homem”, conta. “Eu não podia abandonar o comando da máquina, muito menos segurar um louco”, explica. Então, acionou o Centro de Controle Operacional (CCO) e, ao microfone, tentou acalmar os usuários. A confusão só acabou com a entrada em cena de um policial da Brigada Militar. Ouviu-se um disparo de pistola, a bala atraves182

Conexão Haiti

Depois de uma viagem que durou semanas desde seu país, haitianos chegam ao Centro de São Paulo. É hora de começar a construir uma nova vida.

CLAUDIA

sou o abdome do homem, que caiu na plataforma, e atingiu a perna de um passageiro. Sirenes, resgate e mais tumulto. Os dois feridos foram levados com vida para o hospital. O nó na via se desfez meia hora depois e o trem de Raquel virou notícia das TVs em edição nacional. É preciso equilíbrio e sangue-frio no transporte coletivo, um dos ambientes estressantes da vida urbana, palco também de manifestos. No domingo, 9 de novembro, véspera do nosso encontro com Raquel para mais esta etapa da série de retratos da brasileira, que leva CLAUDIA às cinco regiões do país, a paixão pelo futebol foi o estopim da encrenca. No clássico em que o Grêmio bateu o Internacional por 4 x 1, o pau quebrou na estação Esteio. Uma torcedora gremista, proibida de entrar no estádio, liderou o levante à base de bombas e rojões. “As torcidas vão separadas”, conta Raquel. “Cobrimos as janelas dos vagões para que não se vejam nem se provoquem, mas acontece até guerra de extintor de incêndio.” Ela é do time que perdeu. Porém, em situações como essa – e vestida com o uniforme da Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb) – é a autoridade no comando da viagem de 1,2 mil usuários. Com esse poder, não pode revelar o coração colorado. Quem diria... Seis anos atrás, Raquel não ocupava o espaço público nem estava profissionalizada. Cuidava do lar. Só em 2008 conquistou papel ativo na economia, ao passar no concurso – estudando sozinha – para bilheteira DEZEMBRO 2014

DEZEMBRO 2014

CLAUDIA

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Por Kevin Damasio Fotos de Giulio Paletta

Castin Serge está sentado em um corredor na Chácara Aliança, abrigo de imigrantes em Rio Branco, capital do Acre.

A jornada de sonhos e dramas do mais novo e crescente grupo de imigrantes do Brasil.

Ele olha fixamente para a frente e para baixo. Parece cansado. Com mãos inquietas e longas pausas, busca palavras para tentar dimensionar, em seu inglês limitado, a turbulenta travessia que venceu para chegar ao Brasil. São os primeiros dias de uma nova vida para ele. Uma vida ainda incerta. Tudo começou no início deste ano, quando seu pai lhe perguntou se conseguiria em cinco anos construir uma vida decente no país caribenho. O jovem cursava ciência da computação, em uma condição de ensino superior à da maioria de seus conterrâneos. Por outro lado, ponderou já estar com 25 anos e desejar constituir uma família. A resposta foi seca: “Não, pai. Depois da universidade não sei se encontrarei emprego. Para ajudá-lo, preciso deixar o Haiti”. As contas foram feitas. Debilitado por um recente derrame, o pai vendeu sua caminhonete e uma pequena propriedade. Comprou uma passagem de avião para o Equador e fez um empréstimo de 500 dólares. Assim, Castin, o mais velho dos seis irmãos, duas semanas depois de deixar a cidade de Gonaïves, está ali, no meio da Amazônia, à espera de um golpe de sorte do destino – a chance de regularizar sua situação e procurar um emprego em cidades mais ricas do Sul e do Sudeste do país. Em dezembro de 2010, o Brasil abriu as portas para os cidadãos do Haiti, vitimados pela pobreza que se agravou depois do maior terremoto da história do país, em 12 de janeiro daquele ano. A tragédia afetou um terço da população; story name here

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nationa l geo gra phic • dez em b ro 2014

Conexão Haiti

Haitianos aguardam no abrigo do governo do Acre, em Rio Branco, até que tenham em mãos os documentos de que precisam para viajar para São Paulo ou outras cidades do Sudeste e Sul do Brasil. A maioria dos imigrantes fica no lugar por no máximo 15 dias. ha itia n os

Kevin Damasio e Ronaldo Andrade NATIONAL GEOGRAPHIC / novembro de 2013

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visual


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PRÊMIO

CAPA

Escolha da Audiência

PARTE INTEGRANTE DE VEJA ANO 47 - NO 39 NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE TIRAGEM DESTA EDIÇÃO 321 250 EXEMPLARES

vejasaopaulo.com

Erick Jacquin

Daniela Giorno, Mario Rodrigues Junior e Taina Tamashiro

VEJA SÃO PAULO / setembro de 2014

38

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

24 de setembro de 2014


destaques

jeans

pAIxÃO NAcIONAl

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s.O.s. pé na jaca o power soro que elimina a ressaca especial jeans

sabrina sato, kim kardashian, valesca popozuda... pOr que a turma fashiOn se apaixOnOu pOr elas? o humor inteligente ´ de gregorio duvivier

natural chic A mODA AgOrA é sEr (Ou pArEcEr) NOrmAl

julho 2014

Jessika Alves

R$ 15,00 EDIçÃO 314 ANO 27 julho 2014

Gisele Bündchen

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Beatriz Liranço, Carolina Benemann, Fabiana Moritz, Fernanda Ary, Fernando Ramos, Giuliana Corsi Kolling, Josué Freitas e Paulo Renso

6/19/14 3:37 PM

Ines Nespoli, Marcell Pecanha, Matt Jones e Thiago Auge ELLE / julho de 2014

PLAYBOY / agosto de 2014

cosmo: a revista feminina mais vendida no mundo ano 42 nº 11 novembro 2014

fim de ano incrível

#projetoverão 12 passos para ter um cabelo de musa da temporada

d e z e m b r o 2014

quebre as regras o que era casual agora vai para a festa guia de presentes do mimo ultrafofo à sandália supersexy

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EDIÇÃO 147 – ANO 12 – DEzEmbrO 2014

www.revistaestilo.com.br

Andréia Horta Por que ela é a nova

queridinha da TV

“amadureci. agora quero viver tudo com mais consciência”

o segredo da paixão

Casais felizes Contam Como reCuperar a magia de lááá do

vai dar

praia

início de namoro nova / cosmo a revista feminina mais vendida no mundo

a n d r é i a h o r ta

especial

Valverde

prazer

(nem você vai resistir!)

brilhe muito! o novo make metalizado é matador

Isis

Menos “ai, que dor de cabeça!”, Mais

Hora da

virada!

Polêmica: aborto

➼ Atitudes para turbinar sua confiança

Leitoras revelam por que escolheram interromper a gravidez mesmo correndo risco de vida

➼ Como descobrir seu verdadeiro talento ➼ Dicas de autocontrole para comprar sem entrar no vermelho nova.com.br

chega de roubada

ediÇÃo 494 ano 42 n 11 novembro 2014

só aparece homem errado? descubra o que fazer para mudar esse jogo

r$ 11,00

º

Andréa Horta

Isis Valverde

ESTILO / dezembro de 2014

NOVA / novembro de 2014

Ana Cristina Goncalves, Debora Sene, Isabel Garcia, Luiz Carlos Manoel, Marcela Navarro e Paloma Leoratti

make, cabelo a e biquínis par ficar gata ão ver no

Aldo Teixeira, Cristina Naumovs, Gerard Giaume e Juliana de Mari

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visual

PRÊMIO

CAPA

Escolha do Júri

cosmo: a revista feminina mais vendida no mundo ano 42 nº 11 novembro 2014

Menos “ai, que dor de cabeça!”, Mais

prazer o segredo da paixão

Casais felizes Contam Como reCuperar a magia de lááá do

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praia make, cabelo e biquínis para ficar gata no verão

Polêmica: aborto

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só aparece homem errado? descubra o que fazer para mudar esse jogo

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Aldo Teixeira, Cristina Naumovs, Gerard Giaume e Juliana de Mari NOVA / novembro de 2014

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“amadureci. agora quero viver tudo com mais consciência”

nova.com.br

Isis Valverde

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Isis Valverde

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

A capa da edição de novembro de 2014 marca o início da mudança do projeto gráfico da revista e chama atenção pela mudança de atitude e do tratamento fotográfico.


visual

DESIGN de MATÉRIA

PRÊMIO

Das primeiras inscrições, descobertas em uma múmia de 5.300 anos, às tatuagens publicitárias, conheça a trajetória dessa arte que já foi banida da sociedade, mas que hoje faz sucesso no mundo todo

3300 A.C.

2000 A.C.

1800 A.C.

O mais antigo registro de tatuagem está impresso no corpo do Ötzi, ou Homem do Gelo, uma múmia com 5.300 anos encontrada nos Alpes italianos em 1991. Mais de 50 desenhos se espalham por seu corpo. Os cientistas acreditam que as tattoos, localizadas junto a pontos de acupuntura, podiam ter efeito terapêutico

Acredita-se que por essa época a arte da tatuagem foi levada do Egito para povos do Oriente Médio e da Ásia

Nós e espirais simples, duplas ou triplas eram comuns entre os celtas, povo que viveu na Europa Ocidental e deixou fortes traços culturais entre irlandeses e escoceses. As pinturas azuladas tinham significado místico e simbolizavam a caminhada pela vida. Guerreiros também se tatuavam quando iam lutar para intimidar os inimigos

2160 A.C.

• tÉCniCa As pinturas eram feitas com uma planta, o pastel (Isatis tinctoria), que tinha um pigmento azul. Suas folhas eram esmagadas para formar uma pasta e aplicadas com objetos pontiagudos

O ator Brad Pitt tem no corpo réplicas de desenhos tatuados em Ötzi

No Egito antigo, a sacerdotisa Amumet, dedicada à deusa Hathor, tinha linhas, pontos, círculos e desenhos geométricos nas pernas, nos braços e no abdômen. Sua múmia foi encontrada em 1891 por arqueólogos britânicos. Supõe-se que as inscrições estavam associadas a rituais de regeneração e fertilidade • tÉCniCa Os tatuadores usavam agulhas de madeira ou hastes de osso afiadas para inserir tintas à base de vegetais abaixo da derme (camada intermediária da pele)

Yuri Vasconcelos Sattu Arthuzzi deSign Thales Molina edição Tiago Jokura texto

iluStra Foto

1500 A.C.

150

A tatuagem de hena é uma prática milenar na Índia, citada nos Vedas (textos sagrados do hinduísmo) há 3.500 anos. Os hinduístas acreditam que pinturas no corpo aumentam o bem-estar espiritual. Noivas sempre usam em casamentos

O primeiro registro de tatuagem no globo ocular é feito pelo médico e filósofo romano Cláudio Galeno, da cidade de Pérgamo. A técnica era usada para tratar doenças da visão

“Não façais incisões no corpo por causa de um defunto, nem façais tatuagem”, Levítico, terceiro livro do Antigo Testamento

787

200 A.C.

A tatuagem foi banida entre os cristãos pelo papa Adriano 1º. Justificativa: as pinturas no corpo estariam associadas a práticas demoníacas e pagãs. A proibição levou a um declínio da tatuagem no mundo ocidental

O povo yue, que vivia na China, decorava o corpo com figuras mitológicas para proteger-se de dragões e monstros marinhos quando saíam para pescar

512 A.C.

500 A.C.

27 A.C.-476 D.C.

Prisioneiros e escravos persas tinham letras tatuadas na testa – uma forma de serem facilmente identificados se tentassem fugir. As inscrições foram registradas pelo historiador Heródoto quando o imperador Dario 1º, da Pérsia, conquistou a Trácia, próxima à Grécia. A prática foi copiada pelos gregos, que imprimiam nos escravos o nome do dono

Os pazyryk, povo nômade que habitou a região da Sibéria, também se tatuavam. A múmia de uma princesa encontrada nos anos 90 trazia no ombro direito pinturas de um animal mitológico: um cervo com bico de grifo e chifres de capricórnio

No Império Romano, a tattoo também marcava escravos – os que eram vendidos para a Ásia levavam a inscrição tax paid (imposto pago, em tradução livre). No século 4, o imperador Constantino, primeiro a se converter ao cristianismo, proibiu as tatuagens na face, alegando que o rosto era a representação da imagem de Cristo e não podia ser maculado

tratamento de imagem Ruy Reis FonteS Livros Teorias da Tatuagem e As Nazi-tatuagens: Inscrições ou Injúrias, ambos de Célia Maria Antonacci Ramos e sites Cultura Pop na Web, Tattoo Temple, Tattoo Symbol, Tattoo Archive, Tattoo Tatuagem e Whats Your Sign

SÉCULO 11 Várias múmias incas tinham inscrições no corpo. Quando os exploradores espanhóis chegaram ao Peru no século 16, ficaram espantados com as tatuagens e as identificaram como coisa do demo

Por causa da pele escura, alguns países africanos não são grandes adeptos das tattoos. Nesses casos, uma prática comum é a escarificação – produção de cicatrizes a partir de incisões na pele

abril 2014

31

1793

1862

1914-1918

1920

1959

2003

A tatuagem também conquistou líderes da Revolução Francesa, como Jean-Paul Marat e Luís Filipe 2º, o duque de Chartres

O príncipe de Gales e futuro rei da Inglaterra Eduardo 7º tatuou uma cruz de Jerusalém no braço. Pinturas no corpo ganharam status entre os nobres ingleses. Vinte anos depois, seus dois filhos foram tatuados pelo mestre japonês Hori Chiyo

Desertores ingleses eram marcados na 1ª Guerra Mundial com a letra D

Na Rússia comunista, pós-revolução de 1917, dissidentes e prisioneiros enviados a campos de trabalho forçado eram marcados com a abreviação KAT, de katorznik – condenado, em russo

Desembarcou em Santos (SP) o dinamarquês Knud Harld Likke Gregersen, o “Tattoo Lucky”, pioneiro da tatuagem no Brasil. Filho de um famoso tatuador, ele montou um estúdio na zona portuária da cidade, por onde circulavam imigrantes, boêmios e prostitutas. A clientela malfalada estigmatizou a prática no país

A pele começou a ser usada como espaço publicitário. O primeiro garoto-propaganda dessa nova forma de anunciar foi o norte-americano Jim Nelson. Por US$ 7 mil, ele inscreveu na parte de trás da cabeça um anúncio da empresa de hospedagem de sites na internet CI Host

2013 O deputado Rogério Mendonça (PMDB-SC) apresentou projeto de lei proibindo as tatuagens no olho. Para a Sociedade Brasileira de Oftalmologia, a técnica pode levar à cegueira

2014 O tatuador Bobby Doran, do Texas, quebrou o recorde de mais longa sessão de tatuagem em várias pessoas (26, ao todo). Ele passou 53 horas em atividade, superando a marca anterior, que era de 48 horas e 2 minutos

“Tatuagem” vem do termo polinésio “tatau” (marcar), usado pelos nativos para designar pinturas no corpo. Tratase de uma onomatopeia inspirada no som feito pelas picadas de tinta

1100 É provável que os vikings curtissem tattoos. Depois do encontro com os navegantes nórdicos, o viajante árabe Ahmad Ibn Fadian os descreveu como um povo rude, sujo e coberto de pinturas

SÉCULO 13

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1512

SÉCULO 17

1769

1831-1835

Ao aportar no Brasil, o explorador francês Henri Estienne viu índios com tatuagens azuis no rosto. Ele levou alguns nativos para a Europa para exibir à corte francesa

Integrantes da máfia japonesa yakuza usavam a tatuagem como símbolo de lealdade e sacrifício à organização

Ao chegar à Polinésia Francesa, o explorador britânico James Cook ficou impressionado com as pinturas corporais dos nativos. Segundo a mitologia local, os deuses ensinaram a tatuagem aos homens. O costume se espalhou pelo planeta levado pelos navegadores ingleses e virou moda entre marinheiros, operários e prostitutas do mundo todo

Em sua histórica viagem ao redor do mundo no HSM Beagle, o naturalista britânico Charles Darwin constatou que vários povos do mundo tatuavam o corpo

• tÉCniCa Com ajuda de espinhas de peixe ou ossos de ave, os polinésios injetavam na pele um pigmento à base de carvão e ferrugem

O interesse dos europeus fez florescer o comércio de cabeças tatuadas. Por isso, chefes maoris tatuavam seus escravos e depois os decapitavam para vender as peças

• tÉCniCa Os indígenas brasileiros, como os mundurucus e os tabajaras, empregavam espinhos e outros instrumentos de corte, como dentes de animais, para se pintar. Como tinta, usavam principalmente um pigmento extraído do jenipapo

Ossos de pássaros usados como agulhas, encontrados na ilha de Oahu, revelam que os havaianos também marcavam o corpo. Até a língua era tatuada – no caso, quando perdiam um ente querido. Dessa forma, impunham um silêncio temporário em homenagem aos enlutados

SÉCULO 16

• tÉCniCa Além de ossos, garras e bicos de pássaro, os havaianos usavam finas barbatanas de peixe para tatuar, dividindo a ponta para formar agulhas duplas. A tinta era feita da seiva de plantas ou da fuligem preta de noz queimada de kukui (uma árvore local)

• tÉCniCa Algumas tribos, imprimiam no corpo dos como cherokees, seminoles recém-nascidos as insígnias e creeks, cortavam a pele do de seu clã, que podiam ser flores, estrelas, bebê e inseriam nela uma animais ou traços mistura de cinzas e manteiga; geométricos havia também os que marcavam o recém-nascido com ferro, contendo desenhos, aquecido na brasa

Quando os colonizadores europeus desembarcaram nos EUA, viram as tatuagens da tribo sioux. As pinturas tinham significado religioso e mágico. Os índios marcavam o corpo para serem aceitos pelos deuses após a morte

O’Reilly adicionou ao invento de Edison agulhas múltiplas (de 1 a 5) e um reservatório de tinta, e alterou o sistema de tubos, permitindo a oscilação das agulhas

1891

1846

A máquina elétrica de tatuar foi inventada neste ano pelo norteamericano Samuel O’Reilly, inspirado numa invenção de Thomas Edison: uma caneta elétrica que copiava documentos perfurando papel

Nesse ano, o alemão Martin Hildebrandt desembarcou nos EUA e instalou a primeira loja de tatuagens em Nova York. Entre 1861 e 1865, ele pintou soldados que lutaram nos dois lados da Guerra Civil. A foto de sua filha Nora, tatuada, é uma das mais antigas feitas no país

compartimento para agulhas

tÉCniCa maori

A Torá, livro sagrado dos judeus, condena modificações no corpo. As tatuagens feitas no Holocausto reforçaram a repulsa da prática pela religião

qual É a Sua?

No diversificado mundo das tattoos, existem estilos para todo gosto

1940-1945

1961

Na 2ª Guerra Mundial, judeus enviados aos campos de concentração nazistas eram tatuados com um número de identificação. No mesmo período, soldados e marinheiros inscreviam no corpo o nome da pessoa amada

Um surto de hepatite B nos EUA fez com que a tatuagem fosse proibida em várias cidades, entre elas Nova York

• TRADICIONAL

• NEW SCHOOL

• TRIBAL

• BOLD LINE

Também chamado de old school, com desenhos de marinheiros, como âncoras, sereias, estrelas náuticas, rosas etc. Costuma ser bidimensional e feito com cores primárias

Mais elaborado do que o tradicional, abusa das cores, têm linhas mais finas e sombras. Muitas vezes remete à arte do grafite

Tem como fonte de inspiração símbolos de povos dos mais diversos: índios norte-americanos, incas, astecas etc. Predominam desenhos abstratos e pretos

Com traços largos e cores vivas, o desenho é influenciado pelo universo das HQs. Lembra o estilo tradicional pelos traços e forma de colorir

• PSICODÉLICA

• CELTA

• ORIENTAL

• REALISTA

Grafismos e desenhos abstratos, ambos sem significado claro, são os motivos desse tipo de tatuagem, que recorre a efeitos visuais e estimula a imaginação

Animais, cruzes e símbolos celtas (povo primitivo da Europa Ocidental) formam figuras entrelaçadas que remetem a significados misteriosos. Pode ser pintado só com preto

Dragões, carpas, gueixas, flores e fênix são os desenhos mais comuns dessa escola, que usa muitas cores e símbolos da cultura oriental

Com traços complexos, abusa dos sombreados e da tridimensionalidade. Muito usado para retratar alguém que se queira homenagear

pelo epiderme

talhadeira

Os índios norte-americanos

SÉCULO 19 Os europeus disputavam a tapa as cabeças tatuadas dos maoris, povo da Nova Zelândia. Eles faziam pinturas no rosto, chamadas de moko. Quando alguém morria, os familiares conservavam a cabeça tatuada na sala. Para os maoris, a tatuagem era um símbolo sagrado, permitido somente aos homens livres

abril 2014

A história da tatuagem

Sattu, Thales Molina, Tiago Jokura e Tomas Arthuzzi MUNDO ESTRANHO / abril de 2014

Se a pele derme Sempre Se renova, por que a tatuagem não apaga?

bastão

Porque a tinta é inserida numa camada mais profunda da pele, a derme, que não sofre renovação. Os tatuadores usam finas agulhas que penetram cerca de 2 mm e depositam a tinta lá dentro

osso de albatroz

abril 2014

33

34

AnOS 70 agulha tinta

A tatuagem entrou na moda entre artistas, jovens contestadores e ícones da contracultura de São Francisco (EUA), entre eles Janis Joplin, Peter Fonda e Joan Baez. Com isso, ganhou novo status social e, pouco a pouco, deixou de ser relacionada a classes marginalizadas

abril 2014

abril 2014

35

Para recontar a trajetória dessa forma de arte, a revista optou por, literalmente, “tatuá-la” digitalmente nas costas e braços do modelo. As três páginas duplas compõem uma única imagem, com uma linha do tempo infografada que nasce na mão esquerda, com os primeiros registros de tattoos em 3.300 a.C., até a mão direita, com o atual uso desses desenhos como publicidade.

40

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

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destaques

visual

DESIGN de MATÉRIA

beleza

bagunçado chic com dry xampu A função original do xampu a seco, todo mundo conhece: tirar a oleosidade da raiz, espaçando as lavagens. Mas o produto ganhou status de finalizador e os cabeleireiros descolados estão recorrendo a ele para dar volume e textura aos fios. “O dry xampu é perfeito para conquistar o efeito messy, aquele visual bagunçado, que eu tanto amo”, conta Marco Antonio de Biaggi, cabeleireiro do MG Hair, em São Paulo. O beauty artist Paulo Filatier, de São Paulo, ensina o passo a passo para criar o look.

CABELO DA ONDA

1. Com as mãos, vá separando o cabelo em mechas e borrife com o spray a raiz dos fios. Faça isso em todo o topo e nas laterais da cabeça. Depois, esfregue os dedos no couro cabeludo para remover o excesso (as fórmulas modernas não deixam nenhum traço esbranquiçado). 2. Para garantir ainda mais volume, desfie as mechas do topo da cabeça. Segure os fios para cima e posicione o pente fino perto da raiz, escovando-os no sentido inverso. 3. Use o secador direcionando o vento de baixo para cima e, com os dedos, vá levantando ainda mais a raiz.

Graças à tecnologia dos novos produtos finalizadores, está fácil reproduzir três penteados do red carpet: o bagunçado chic, o efeito molhado e o surf hair. Para fazer em casa – com mais ou menos ousadia!

4. Com uma escova do tipo raquete, penteie os fios com delicadeza para não perder o volume.

Colete John John, colar Lool e óculos Marc Jacobs para Safilo.

POR DÉBORA LUBLINSKI FOTOS MARI QUEIROZ (AMUSE-MENT) BELEZA PAULO FILATIER (ABÁ MGT)

Shampoo Seco Blush, Batiste, 23 reais (50 ml). Tira a oleosidade da raiz e prolonga a escova. Tem fragrância floral, que ajuda a disfarçar o cheiro de cigarro, por exemplo. Blend Volume Instant Refreshing, Keune, 134 reais (150 ml). O ativo Boswellia serrata, extrato de uma árvore, tem propriedades calmantes para tratar irritações no couro cabeludo. Original Dry Shampoo, Lee Stafford, 43 reais (150ml). Da marca do cabeleireiro inglês amada pelas famosas, a fórmula em pó é leve e não pesa nos fios.

beleza

Invisible Dry Spray, Oscar Blandi para Sephora, 115 reais (142 g). É o amido da fórmula que absorve o excesso de oleosidade e de resíduos de finalizadores. A proteína de soja fortalece os fios.

temporada cinza

“Se há algum tempo era improvável usar esmalte cinza, hoje a cor está nas mãos de todas as mulheres – das artistas às executivas”, conta Carmen Luiz, manicure do salão MG Hair, em São Paulo. E a gama é variada, nada monótona: existem os tons que puxam para o verde, para o azul e para o marrom, todos superchiques.

Pillow Proof Two Day Extender, Redken, 105 reais (153 ml). Além de estender o efeito da escova em até dois dias, dá textura e volume ao cabelo. Não acumula nos fios.

Na paralela aos esmaltes vibrantes, corre uma proposta mais natural, que segue a tendência do make nada – ou seja, a ideia é parecer que você não teve muito esforço para ficar linda. Daí, entram em cena cores mais neutras (e sofisticadas) nas unhas. Vem ver quais são

agosto 2014 | BOA FORMA | 55

beleza

efeito molhado com gel

O visual já era figurinha carimbada nas passarelas, mas ficava restrito ao mundo fashion. Foram celebridades como Penélope Cruz, Cleo Pires e Deborah Secco que popularizaram o look. Hoje é um penteado prático e diferente para você desfilar numa festa. “Sem falar que é uma opção descolada para deixar o rosto em evidência”, diz Wanderley Nunes, cabeleireiro do Studio W, em São Paulo. “A graça está no contraste de texturas e de acabamentos: liso e molhado no topo da cabeça, e levemente ondulado e seco no comprimento”, fala Paulo Filatier.

1. Com uma escova redonda, seque o cabelo para trás, já alisando os fios próximos da testa. Isso vai deixar o cabelo na forma certa para a aplicação do gel e tirar o frizz próximo da testa. 2. Você vai precisar aplicar o gel em camadas (e não somente por cima dos fios) para que haja uma boa fixação. Separe a parte do cabelo que vai de uma orelha à outra e passe o gel nos fios restantes até chegar à nuca. 3. Continue separando mechas da parte da frente e vá colando-as com o gel até finalizar. Lembre-se de aplicar o gel até a linha do início da nuca. 4. Use um pente fino para corrigir eventuais falhas e espalhar melhor o produto. Se achar necessário, borrife com um spray de fixação.

Blusa Espaço Fashion, colar Lool e óculos Ventura.

Acqua Gel, Truss, 41 reais (180 g). Livre de álcool e desenvolvido especialmente para criar o efeito molhado nos fios. Com aminoácidos, que proporcionam brilho e fixação flexível. Healing Style Spray Gel, L’Anza, 72 reais (250 ml). Em spray, o jato, leve e ultrafino, não deixa o cabelo com o aspecto pesado. Gel Modelador, Moroccanoil, 70 reais (180 ml). A fórmula nutritiva com óleo de argan deixa uma aparência natural, mas brilhante. Gel Crème Your Highness Thickening, Tigi, 109 reais (215 ml). Além da função de gel, que fixa o penteado, ajuda a desembaraçar e dá corpo aos fios. Gel Fixação Extra Firme Nível 4, Tresemmé, 13 reais (250 ml). Com pantenol, biotina e vitaminas do complexo B, para hidratar o cabelo enquanto mantém cada fio no lugar.

agosto 2014 | BOA FORMA | 57

beleza

Realização: Valéria Massi. Styling: Mônica Tagliapietra e Andreia Matos. Assistente de produção: Aline Padilha. Modelo: Alessandra Jasper (Keemod). Manicure: Jo Silva. Colaborou: Larissa Serpa (texto). Secador Arno e escova Pro Hit.

Blusa Líquido, colares Paula Marques e Opto, óculos Gucci para Safilo e aplique de cabelo Nilta Perucas.

Gisele Bündchen é um ícone absoluto do cabelo de praia: ondas displicentes e uma textura mais seca, como se você tivesse acabado de sair do mar. Blake Lively, Jennifer Aniston e, por aqui, Carolina Dieckmann e Fernanda Lima também são adeptas do penteado. “É um visual fresco, jovem e natural e que não fica restrito ao ambiente praiano”, diz Vito Mariella, cabeleireiro do Liceu de Maquiagem, em São Paulo. “Para ficar sofisticado, gosto de deixar a risca no meio e de manter as mechas da frente um pouco menos bagunçadas”, sugere Paulo Filatier.

Mais no site! As tinturas da temporada. Veja como acessar na pág. 8. Seu celular não é compatível? Acesse abr.ai/1pMcbjG

1. Com os fios úmidos ou secos, borrife com o spray as pontas, o comprimento e a raiz. Preste atenção para não sobrecarregar determinados pontos e economizar o produto em outros. 2. Amasse os fios com as mãos, levando as pontas em direção à raiz. O poder de fixação do produto será capaz de manter o amassado, formando as ondas. 3. Faça dois coques, um de cada lado da cabeça. E termine de secar os fios com o secador. Se não quiser usar o aparelho, aproveite esse tempo para fazer a maquiagem. 4. Solte os coques e lance mão do difusor – o acessório do secador vai garantir ainda mais fixação ao ondulado.

Surf Spray, Acquaflora, 20,90 reais (120 ml). Com textura bem fluida, dá o aspecto ondulado de praia, com volume e controle do frizz. Sea Salt Primer, Davines, 88,40 reais (250 ml). Com ingredientes naturais, que proporcionam os efeitos mineralizantes da água do mar sem ressecar os fios. Osis+Session Label Spray Texturizante, Schwarzkopf, 136 reais (200 ml). Forma ondas com a textura típica de cabelo de praia sem deixar um toque áspero demais. Spray à Porter, Kérastase, 145 reais (150 ml). Contém polímeros micronizados, que, apesar da textura seca, deixam o cabelo com movimento. Surf Breeze, The Beauty Box, 39,90 reais (200 ml). A textura do produto é bem leve e não pesa nos fios. Tem fixação extra para manter os cachos o dia todo.

Nail Polish Galathee, Nars, 74 reais

Mind Your Mittens, Essie, 33 reais

Berlin Underground, Sephora Collection, 29 reais (nas unhas)

POR DÉBORA LUBLINSKI E LARISSA SERPA FOTOS THIAGO JUSTO

os novos básicos

Anéis Patricia Centurion e Antonio Bernardo, pulseira Rosa Leal, bracelete Antonio Bernardo

62 | BOA FORMA | julho 2014

Cinza Chic, BeautyLab, 10,90 reais

Moss, Color Show, Maybelline, 8,99 reais

julho 2014 | BOA FORMA | 63

beleza

segunda pele

Vernis Haute Couleur Grege, Dior, 76 reais

Nail Lacquer Skin, M.A.C, 59 reais

metais puros

Os nudes vieram para ficar. E foram unânimes nos desfiles nacionais e internacionais, que deixaram, na última temporada, as cores fortes e a nail art de lado. “Além de ser versátil, o esmalte no tom de pele alonga os dedos, dando a impressão de mãos mais magras e delicadas”, diz a manicure Aline Souza Lima, do Terrasse Beauty Bar, em São Paulo.

Neutro não é sinônimo de falta de ousadia. O ouro, o prata, o cobre e suas variações fazem contraposição ao verde-esmeralda e ao azul-metálico da moda e são opções mais primárias (e sofisticadas) para quem gosta de esmaltes metalizados.

Les Vernis Grafite, Chanel, 95 reais

Penny Talk, Essie, 33 reais

Do Not Disturb, Clinique, 57 reais

On the Rocks, Color Club, 18 reais

Ivory Beige, Mavala, 27 reais

surf hair com beach spray

La Laque Couture Beige Gallery, Yves Saint Laurent Beauté, 99 reais

Queen, YNC, 16 reais (nas unhas)

Gio Antonelli Coisa Boa Perolado, Hits Speciallità, 3,75 reais

Pintou o Campeão, Risqué, 3,60 reais

Color Trend #nudechique, Avon, 3,49 reais

Realeza, Beauty Color, 3,35 reais Bracelete Carol Kauffman, anéis Francine Adida e Noor

64 | BOA FORMA | julho 2014

julho 2014 | BOA FORMA | 65

beleza

quase nua

Le Vernis Rose Couture, Givenchy, 74 reais

A transparência nas unhas está de volta. Do branco-misturinha ao rosa-clarinho, a proposta é garantir um efeito natural sem deixar de exibir mãos bem tratadas. “Passe duas camadas finas para nivelar a superfície da unha e camuflar eventuais manchas”, sugere Carmen.

a força da terra Café, tijolo, camurça e caramelo são alguns dos tons terrosos que estão em alta. “A cartela dos marrons substitui bem o vermelho e o preto, pois é clássica, chique e combina com tudo”, diz Aline.

Anéis H. Stern e Patricia Centurion. Pulseira Central de Design.

Sweet Talker, Sally Hansen, 25,90 reais

Make B. Cacau, O Boticário, 12,99 reais

Marronluz, Quem Disse, Berenice?, 11,90 reais

agosto 2014 | BOA FORMA | 59

Ginseng Blossom, Mary Kay, 22 reais

Ana Claudia Roma, Debora Lublinski, Mari Queiroz, Mônica Tagliapietra e Valeria Massi Campanholo

Hot Vanila, Alfaparf Alta Moda É, 7 reais Pale Cashmere, Revlon, 18 reais

Verena, Granado, 17 reais

BOA FORMA / agosto de 2014

Segredinho, Colorama, 2,99 reais (nas unhas)

Dicas de beleza no seu celular. Envie mensagem de texto BOA FORMA para o número 80530 Assinatura SMS p/ Claro, TIM e Nextel (R$ 0,31 + tributos por SMS), Oi (R$ 0,43 + tributos por SMS) e Vivo (R$ 0,39 + tributos por SMS). Para cancelar envie SAIR para 80530.

Realização: Valéria Massi. Produção: Monica Tagliapietra. Assistente de produção: Aline Padilha. Modelo: Raquel Zorzella. Manicure: Jo Silva.

Cabelo da onda

66 | BOA FORMA | julho 2014

Os novos básicos

Ana Claudia Roma, Debora Lublinski, Mônica Tagliapietra, Thais Magnino, Thiago Justo e Valeria Campanholo BOA FORMA / julho de 2014

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

Me Beija, Impala, 3,40 reais

Omicron, Sadok, 5,50 reais

Cinto, Colorama, 2,99 reais

julho 2014 | BOA FORMA | 67


No comando do jogo

EspEcial Games

NA WEB

CHRISTIAN MIGUEL e VITOR LEITE ILUSTRAçõES GIULIANO MUCCIOLI

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A HASHTAG #FITNESS TORNOU-SE MAIS POPULAR NO INSTAGRAM DO QUE MARCAÇÕES DE CACHORROS E NAMORADOS. É CADA VEZ MAIOR A CHANCE DE VOCÊ DEPARAR COM A FOTO DE UMA BARRIGA CHAPADA NA REDE SOCIAL, NUMA ONDA QUE CHEGOU TAMBÉM AO YOUTUBE, COM OS CANAIS DE BODYBUILDING. MAS OS SARADOS VÃO MUITO ALÉM DO CULTO AO CORPO E DA SELFIE. NESTE ENSAIO VOCÊ VAI CONHECER AS PERSONALIDADES BRASILEIRAS QUE USAM AS REDES PARA ENSINAR TRUQUES DE ACADEMIA, MOTIVAR SEUS SEGUIDORES E GANHAR DINHEIRO COM LIVROS, ROUPAS E SUPLEMENTOS

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≥ POR

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RAFAEL KATO

≥ FOTOS

O mercado brasileiro de jogos eletrônicos movimentou 1,2 bilhão de dólares no ano passado — 20% mais do que em 2012. Conheça quatro empreendedores que estão aproveitando o momento para expandir suas empresas

LUIZ MAXIMIANO

FACEBOOK.COM/REVISTAINFO

ANDREAS DIEGUES

fase atual do mercado brasileiro de jogos eletrônicos é das mais animadoras. No ano passado, os gastos dos brasileiros com games em todas as plataformas alcançaram 1,2 bilhão de dólares, um quinto mais do que em 2012. “Até 2016, os gastos deverão crescer em média 15% ao ano no Brasil”, diz Peter Warman, presidente da consultoria holandesa Newzoo, que faz pesquisas mundiais sobre o setor. “É mais do que o dobro do que estimamos para o mercado global.” Em 2013, os brasileiros também compraram mais consoles. O faturamento com a venda de aparelhos cresceu 12,3%, de acordo com a consultoria GfK. A seguir, conheça as histórias de quatro pequenas e médias empresas que estão crescendo ao aproveitar as oportunidades do mercado brasileiro de games. Para seus empreendedores, o jogo está só começando.

LÉO STRONDA_O músico Leonardo Schulz, 22 anos, é mais conhecido como Léo Stronda, nome da dupla de hip-hop da qual faz parte, o Bonde da Stronda. Além da música, ele aposta na vida de youtuber e criou o canal Fábrica de Monstros, no qual responde com bom humor a dúvidas de academia, mostra treinos e dá receitas para trincar os músculos, como mingau de whey e batatadoce, frango e panqueca. “O canal surgiu depois que vi muita gente dando dicas erradas. Mas é para quem já é do bodybuilding”, diz. O sucesso alavanca outro negócio: a XXT Corporation, marca de roupas que já fatura 255 000 reais por mês. Agora Schulz quer criar um reality show no YouTube. “Vai ser sobre minha vida. Mas com metas, como aumentar a massa ou perder peso”, afirma.

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Bombados na web

Luiz Maximiano, Rafael Costa, Rafael Kato e Wagner Rodrigues INFO / agosto de 2014 ALICE MATOS_Calças leggings coloridas, com estampa militar, de zebra ou que simulam músculos. Esses são looks que podem ser vistos nas mais de 1 200 fotos que a empresária Alice Matos, 29 anos, posta no Instagram. Ela é dona da grife La Bella Mafia, que revolucionou o guarda-roupa fitness e hoje emprega mais de 500 pessoas. É também a garotapropaganda da marca e exibe seu corpo sarado para mais de 350 000 seguidores. “Nossa equipe de marketing se preocupa em humanizar o perfil mostrando a vida real na academia”, diz Alice, que está no Kik, Snapchat, YouTube e WhatsApp. Ela usa ainda a hashtag #hardcoreladies, que já tem quase 240 000 fotos e até postagens em inglês, já que as calças são exportadas para Estados Unidos, Austrália e Europa.

(em milhões de reais)

10

2012

3,6

21

2011

2013

Fonte Empresa

Daniela Toviansky

uanto você acha que gasta-

ria para decorar seu quarto com um piano cor-de-rosa, uma cadeira gótica e um vaso com plantas tropicais? Não faz a mínima ideia? Nós também não — mas os empreendedores Fabio Nascimento, de 36 anos, e Glaucia Gregio, de 40, podem ajudar. “Dá mais ou menos 22 habbo moedas”, diz Glaucia. Habbo moeda é a moeda usada no mundo virtual do Habbo Hotel, um jogo em que bonequinhos de pixels podem montar quartos de pixels com objetos — adivinha do quê? — como os descritos acima. Toda essa conversa seria muito maluca, a não ser por um detalhe importante. Para comprar habbo moedas é preciso desembolsar dinheiro de verdade. A cotação é

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EspEcial Games

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Q

a seguinte: 1 real vale 3 habbo moedas. É aí que a coisa começa a fazer sentido para Glaucia e Nascimento. Eles são donos da E-Prepag, empresa paulistana que mantém um sistema de pagamentos para jogos virtuais. Noutras palavras, a E-Prepag é uma espécie de operadora de câmbio em que é possível trocar reais por moedinhas do mundo dos games. Deu para entender? Ufa. Em 2013, a E-Prepag movimentou estimados 32 milhões de reais — 75% mais do que no ano anterior — em transações financeiras de jogadores que compram alguma coisa dentro de seus games favoritos. Por meio da E-Prepag, é possível comprar créditos para gastar em mais de 1 000 jogos para computador. Entre os mais conhecidos estão o Fifa, que simula partidas de futebol, e o Need for Speed, jogo de corrida de rua. Há quatro maneiras de ter acesso aos créditos. A mais simples é comprando pelo site da

Portal de jogos gratuitos São Paulo, SP

O TAMANHO DO MERCADO

E-Prepag. Ao final da compra, o jogador recebe um código, que deverá ser digitado no site do jogo — e que dará acesso às moedas de outros mundos. Quem não costuma comprar pela internet pode adquirir cartões pré-pagos de 20 reais em supermercados e livrarias. Ainda é possível fazer a compra em pequenos estabelecimentos comerciais, como bancas e papelarias, por meio de uma maquininha como a de recarga de celular. Há também uma rede de lan houses credenciada para utilizar um sistema próprio da E-Prepag, que funciona via internet. “Temos mais de 50 000 pontos de venda espalhados pelo país”, diz Nascimento. Um desses lugares é a Wnet Lan House, que fica no bairro Igarapé, em Porto Velho, capital de Rondônia. Desde outubro de 2012, o empreendedor Eduardo Silva, de 29 anos, é um parceiro da E-Prepag. Os clientes são adolescentes que, todas as tardes, lotam os 12 computadores reservados para jogos. Os créditos são usados em games como Point Blank, em que agentes de um governo fictício combatem revolucionários rebeldes, e GunBound, cujo objetivo é bem mais nobre — proteger a princesa Rena do avanço das forças do mal que ameaçam o longínquo Planeta de Lond. “Perto de 15% do meu faturamento vem da venda de créditos para jogos”, diz Silva. Sempre que alguém compra créditos da E-Prepag a empresa fica com uma comissão que varia de 10% a 20% do valor total. A comissão dos lojistas é negociada de acordo com o volume de vendas. Todos os anos, Glaucia e Nascimento participam de feiras internacionais nas quais procuram os representantes das publicadoras internacionais dos jogos do momento para tentar estabelecer novas parcerias. Os dois se conheceram em 2003, quando seus pais se tornaram sócios de uma empresa que vendia sistemas de recarga para celulares, a Rede Prepag, que chegou a ter mais de 100 000 pontos de venda em todo o Brasil e foi vendida em 2006. “Nossos pais sempre eram procurados por empresas de games que queriam oferecer créditos para os jogos por meio do sistema montado para recarga de celulares”, diz Nascimento. “Depois que eles se desfizeram do negócio, decidimos criar a E-Prepag para atender a essa demanda.” Para os próximos anos, Glaucia e Nascimento pretendem operar em outros países da América Latina — região onde o mercado de games movimentou 3 bilhões de dólares no ano passado, 11% mais do que em

Evolução do faturamento de jogos eletrônicos e venda de consoles no Brasil

1,6

Faturamento de jogos eletrônicos(1)

0,9

1

1,2

Venda de consoles

(2)

(em bilhões de dólares)

(em milhões de reais)

521

1,4

(2)

2011

800 2012

898 2013

2011

2012

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2014

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15%

é o crescimento médio anual estimado para o mercado brasileiro de jogos eletrônicos até 2016 — mais do que o dobro do índice previsto para o mercado mundial de games

1. Considera os gastos dos jogadores brasileiros com jogos físicos, digitais e com transações em jogos online. Os valores não incluem impostos 2. Previsão Fontes GfK e Newzoo

2012. A expansão deverá começar por países como Peru e Chile. “Nossa rede já está consolidada no Brasil. Agora pretendemos conquistar novos mercados”, afirma Glaucia. “A E-Prepag está pronta para passar de fase.”

FÁBRICA DE JOGUINHOS

N

MITIkAzU LISBOA HiVe Digital Desenvolvedora de jogos São Paulo, SP Faturamento

(em milhões de reais)

4,2 2011

7

2012

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2013

Fonte Empresa

ão se deixe enganar pela

cara de malvado que o publicitário Mitikazu Lisboa, de 36 anos, faz na foto aí à esquerda. Quer saber a verdade? Lisboa vive com a cabeça num mundo encantado, onde ursinhos coloridos precisam acumular um montão de guloseimas para ficar mais resistentes e poderosos. Esse é o cenário de Candypot, um dos jogos de maior audiência da desenvolvedora paulistana Hive Digital, da qual Lisboa é dono. Criado há quase dois anos, o Candypot pode ser acessado de redes sociais como Facebook e Orkut e em smartphones e tablets. Nas lojas de aplicativos Apple Store e Google Play, onde está disponível desde março de 2013, o joguinho já foi baixado por 300 000 pessoas. “No ano passado, mantivemos uma média de 60 000 acessos diários em 17 países”, afirma Lisboa. “É um crescimento de 70% em relação à média de acessos do ano anterior.”

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Fevereiro 2014 | Exame pmE | 57

EspEcial Games

MARCOS kHALIL Uz games Rede de lojas de jogos, aparelhos de videogame e acessórios São Paulo, SP Faturamento

(em milhões de reais)

60

2012

71

2013

90(1) 2014

1. Previsão Fonte Empresa

FACEBOOK.COM/REVISTAINFO

Daniela Toviansky

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MOEDAS DE MENTIRINHA

CAROL BUFFARA_Ficar bem em um diminuto biquíni não é fácil. Por isso, Carol Buffara, 28 anos, decidiu incentivar mulheres a levar uma vida saudável por meio de seu perfil no Instagram, com mais de 300 000 seguidores. A carioca é sócia da loja Nag Nag Store, que, além de moda praia, vestidos e acessórios, vende uma linha própria de artigos esportivos femininos. Seus posts têm sempre a hashtag #projetocarolbuffara. “Acho que o sucesso no Instagram vem do fato de os seguidores enxergarem sinceridade nos posts. Sou aquilo ali. Erro, acerto e faço questão de dizer isso a todos.” Sua forte presença digital faz com que seja requisitada para campanhas online de empresas de beleza. No último mês, estava em vídeos de um clareador de axilas no YouTube.

CliCk Jogos

Faturamento

Daniela Toviansky

BOM BA DOS

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S

MARCOS MION_Desde 2009, o apresentador da TV Record é figura forte no Twitter, com 8 milhões de seguidores. Mas seu foco atual é o Instagram. Além do perfil pessoal na rede de fotos, Mion, 35 anos, criou o @TeamTreta, onde reúne imagens de treinos, da dieta e do cotidiano na academia, com profissionais que o acompanham. “Com essa conta, eu me assumi. Foi minha saída do armário fitness”, diz Mion. Sua preocupação é apresentar com seriedade a vida de um bodybuilder. “Não treino para mostrar o corpo. Fazer academia me faz bem.” O Team Treta tem 115 000 seguidores e aparece como hashtag em 218 000 fotos de usuários. O próximo passo é lançar uma linha de roupas e outra de comida congelada e balanceada. “A parte mais difícil da vida do bodybuilder é a alimentação”, diz Mion.

EXAME PME / fevereiro de 2014

RA

INOVAÇÃO

Giuliano Muccioli

A Hive Digital faturou 9 milhões de reais em 2013, quase um terço mais do que em 2012. Joguinhos como o Candypot e o Poker Hall — em que é possível disputar partidas de pôquer com várias pessoas ao mesmo tempo pelo Facebook — foram responsáveis por 35% do faturamento em 2013. O restante veio da produção de jogos para campanhas publicitárias de empresas, como Intel, P&G e Ambev. “Mantemos uma agência de marketing digital própria para administrar as campanhas dos clientes que utilizam os nossos jogos”, afirma Lisboa. Qualquer pessoa pode ter acesso gratuito aos jogos da Hive no Facebook ou nas lojas de aplicativos Apple Store e Google Play. De onde vêm as receitas, se não é preciso pagar para jogar? “Ganhamos dinheiro sempre que alguém compra um item dentro do jogo para melhorar seu desempenho”, diz Lisboa. Por preços que variam de 0,99 a 50 dólares, é possível adquirir doces mágicos que dão mais tempo de vida aos ursinhos do Candypot e ter acesso a fichas extras para apostar nas partidas do Poker Hall. Os jogos da Hive Digital seguem um modelo de remuneração conhecido como freemium, uma mistura de free (gratuito) e premium. “O jogo é dado de graça, mas quem quiser avançar de fase mais rapidamente precisa pagar com o cartão de crédito ou convidar mais amigos para jogar”, afirma Lisboa. Entre os títulos famosos que geram receitas pelo modelo freemium estão o Farmville, produzido pela desenvolvedora americana Zynga, em que é possível criar a própria fazendinha, e o Clash of Clans, da finlandesa Supercell, que simula estratégias de guerra entre vilarejos fictícios. Os jogos para redes sociais e para celulares e tablets têm provocado verdadeira revolução no mercado mundial de games. Até 2008, quando as lojas de aplicativos da Apple e do Google ainda não existiam, os jogos para smartphone tinham relevância praticamente nula — e os games em redes sociais, como Facebook e Orkut, ainda engatinhavam. Estima-se que, em 2012, o faturamento global desses tipos de game tenha ultrapassado o de jogos de console. Uma pesquisa feita pela consultoria Canalys apontou que das 25 empresas que mais faturam com aplicativos em todo o mundo, apenas uma não é de games. No Brasil, os jogos para redes sociais e para dispositivos móveis representaram um quarto do total de gastos dos jogadores em 2013, de acordo com a Newzoo, consultoria holandesa espe-

cializada no mercado de games. “A tendência é que esses jogos ganhem mais importância à medida que crescem as vendas de smartphones e o acesso à internet se torna mais democrático no Brasil”, diz Lisboa.

DISNEYLÂNDIA VIRTUAL

A

s tardes do paulistano Leo-

nardo Pereira, de 9 anos, costumam ser bem atarefadas. Leonardo estuda o 5o ano do ensino fundamental e, quando não está fazendo o dever de casa ou jogando bola com os amigos da vizinhança, ele gosta de pilotar um carro de Stock Car e de sair para dar umas voltas com sua Ferrari. Calma — Leonardo não é nenhum motorista prodígio, muito menos aprendiz de Riquinho Rico. Esses são os carros que ele usa em seus jogos favoritos de computador. “Jogo pelo menos 1 hora por dia”, diz. “O mais da hora é a sensação de deixar todo mundo comendo poeira.” Além de passear e de apostar corridas, Leonardo gosta de brincar de estacionar o maior número de carros no menor tempo possível — alguém ainda duvida que ele vai se tornar um bom motorista? — e de jogar sinuca pelo computador. O lugar onde ele encontra tudo isso é o site Click Jogos, criado pelo empreendedor paulista Andreas Diegues, de 24 anos. Assim como Leonardo, 15 milhões de crianças e adolescentes de 8 a 14 anos acessam o Click Jogos todos os meses. Eles têm à disposição cerca de 17 000 jogos, separados por grandes categorias: ação e aventura, futebol e carros. “Costumo dizer que somos um parque de diversões virtual”, afirma Diegues. Em 2013, o Click Jogos alcançou um faturamento de 21 milhões de reais, mais do que o dobro do ano anterior. Algo em torno de 90% das receitas vêm da publicidade veiculada no site. Além dos tradicionais banners e vinhetas, alguns anunciantes também patrocinam páginas com jogos exclusivos. É o caso da Unilever, que mantém uma seção com jogos do personagem Max — um leão criado para divulgar a marca de sucos Ades — e da fabricante de brinquedos Mattel, que patrocina as páginas de jogos da boneca Barbie e dos carrinhos Hot Wheels. Os outros 10% do faturamento vem da cobrança de pequenas transações feitas em jogos que

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

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Para mostrar as diferentes camadas da internet e as profundidades obscuras da chamada Deep Web, a matéria principal da edição de dezembro está na vertical, com uma ilustração única e contínua dividida em cinco páginas duplas. Assim, a cada dupla, o leitor tem a sensação de mergulhar mais fundo, como sugere o título – da legalidade na internet de superfície aos perigos e lendas urbanas da Deep Web.

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

Jean Magalhães e Thales Molina

Mergulho nas profundezas

MUNDO ESTRANHO / dezembro de 2014 DEZEMBRO 2014

UFC É FICHINHA

Esse rumor é uma variante dos “snuff movies”: em vez de vídeos com morte de atores, a área obscura da rede mundial de computadores teria lutas reais até a morte, transmitidas ao vivo via streaming para fãs e apostadores. Os “gladiadores” lutariam entre si e até com animais selvagens. Mas, mais uma vez, não há provas concretas da existência desses eventos

CONVOCANDO SATANÁS

A qualidade técnica e artística desta imagem já devia deixar claro: é uma obra profissional, não um flagra amador de algum ritual demoníaco! A autora é a fotógrafa ucraniana Olia Pishchanska, que usa cenários de sua terra natal em ensaios com um tom sinistro, cheios de climão. Confira um vídeo com as melhores imagens em bit.ly/oliafoto

O ET QUE ERA ROBÔ

A “garota-demônio”, também popular entre blogueiros que acreditam em qualquer conteúdo “vindo da Deep Web”, na verdade é uma obra de 1999 do chinês Zhu Ming. Considerado um dos grandes expoentes da vanguarda asiática, ganhou fama com performances com enormes bolhas de plástico ao redor do mundo. Veja em bit.ly/deepwebzhu

Outra foto “extraída” das profundezas escuras supostamente prova a existência de extraterrestres. Os norte-americanos teriam até conduzido uma autópsia em um deles, nos laboratórios secretos da Área 51. Nada a ver: a imagem é de um animatronic (robô que simula movimentos) feito pelos estúdios Disney para um pavilhão da Feira Mundial de Nova York de 1964

SUBINDO PELAS PAREDES Garotas com dons telecinéticos? Possuídas pelo demônio? Envolvidas com bruxaria? Tente algo mais inocente: bailarinas. A foto é de uma performance organizada por Pina Bausch (1940-2009), considerada uma das mais influentes artistas da dança moderna. O espetáculo se chama Barbe Bleue, é de 1977 e está no YouTube: bit.ly/deepwebpina

PERFORMANCE FREAK

O CANIBAL ALEMÃO

Outro engraçadinho tentou justificar a existência de crianças assassinas na Darknet com uma foto do suspense Os Filhos do Medo (1979). O filme é dirigido por David Cronenberg, expert em bizarrices cinematográficas, como A Mosca (1986) e eXiztenZ (1999). Na trama, crianças deformadas cometem crimes perturbadores

Circula a informação de que foi pela Deep Web que, em 2001, o engenheiro de software alemão Bernd Jürgen Brandes se dispôs voluntariamente a ser comido pelo canibal Armin Meiwes, num crime que chocou a opinião pública na época. Meiwes amputou o pênis da vítima, ambos comeram a “iguaria”, e Brandes morreu pouco depois. Mas o contato entre eles rolou na rede comum

COISA DE HOLLYWOOD

Esta e outras fotos do Museu Imperial da Guerra, de Londres, mostram adultos e crianças usando máscaras de gás no início da 2ª Guerra Mundial – medida preventiva diante de um possível ataque alemão com gases tóxicos, como rolou na 1ª Guerra Mundial. Não tem nenhuma relação com “operações macabras secretas”, como alegam na Deep Web

ENFERMEIRAS DO MAL

“GÊNIOS” DO CRIME

IMAGENS Divulgação/reprodução

NOTA ZERO EM CIÊNCIA

Outra “apropriação indébita” da sétima arte: imagens “vazadas” junto a uma longa descrição sobre horríveis experimentos científicos realizados em cobaias humanas são cenas de A Centopeia Humana 2 (2011). Só de ler o texto já dá pra desconfiar: está cheio de erros de grafia e o autor tem péssimo conhecimento de ciência ou medicina

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PREDADORES E PRESAS

Nesse setor da internet, seria finalmente possível encontrar snuff movies, filmes em que o ator é morto de verdade diante das câmeras. Mas os vídeos associados são apenas tosqueiras com bons truques de cena. Ainda não há comprovação da existência de snuff movies, mesmo fora da web. A lenda urbana em torno deles surgiu nos anos 70, quando o distribuidor Allan Schakleton criou um novo desfecho para Massacre, fracasso de bilheteria lançado em 1972. Ele rebatizou o filme como Snuff, espalhou o boato de que a atriz realmente morria na cena final, e pronto: uma galera acreditou e fez filas pra ver a trasheira

LUZ, CÂMERA, EXECUÇÃO

Como tudo que é secreto, a Deep Web aguçou a imaginação dos conspiradores e virou um celeiro de lendas

IMAGENS Divulgação/reprodução

Supostamente, o governo dos EUA detém evidências fotográficas de eventos sobrenaturais, guardadas a sete chaves para não causar pânico no público. Mas alguém teria vazado algumas delas, que mostram pessoas sem rosto em meio a multidões. Nada a ver: são montagens inspiradas em uma ação publicitária da Lotus, de 2008

SEM-CARA OU CARA DE PAU?

Quem imaginou que uma imagem de manequins do famoso Museu de Cera de Madame Tussaud seria usada para afirmar que humanos estavam sendo decapitados na Deep Web? A foto foi clicada após um incêndio que ocorreu em 19 de março de 1925 e danificou braços, cabeças e outros detalhes dos bonecos. Bastou uma legenda esperta para a galera se borrar

SEM PÉ NEM CABEÇA?

O jovem russo Aleksandr Andreevich Panin, de 20 anos, foi preso em março por desenvolver o SpyEye, um dos vírus de computador mais destrutivos já lançados, e comercializar versões “customizadas” a criminosos virtuais. O software infectou mais de 1,4 milhão de computadores, recolhendo credenciais de contas bancárias, números de cartões e senhas

Agentes da polícia holandesa se passaram por usuários querendo encomendar um assassinato – e assim conseguiram evidências para fechar o Utopia, site que vendia armas, drogas e serviços ilícitos, poucos dias após seu lançamento, em fevereiro deste ano. Cinco homens foram presos: um deles na Alemanha, onde era baseado o site, e o restante na Holanda

NEM TUDO É VERDADE

UMA VERDADEIRA EPIDEMIA

PAISANA VIRTUAL

Mais de 660 suspeitos de pornografia infantil foram presos após uma investigação de seis meses liderada pela Agência Nacional de Crimes da Grã-Bretanha, em agosto. Apenas 39 já tinham antecedentes criminais relacionados a sexo – ou seja, 94% dos suspeitos estavam fora do radar da polícia. Mais de 400 crianças foram resgatadas e receberam proteção policial

Em outubro, após uma operação coordenada em 17 estados brasileiros e no Distrito Federal, a polícia prendeu 51 pessoas suspeitas de crimes de pedofilia na Deep Web. A iniciativa envolveu cerca de 500 agentes e, entre os investigados, havia empresários, padres e até outros policiais. Ao menos seis crianças foram resgatadas de abuso ou estupro iminente

ACREDITE SE QUISER

- “Sempre faço meu melhor para que a morte pareça um acidente ou suicídio” - “Não tenho mais empatia por seres humanos” - “O melhor lugar para colocar seus problemas é num túmulo” - “Matar é errado. Mas, como essa é uma direção inevitável da evolução tecnológica, prefiro que eu mesmo faça, não outra pessoa”

Algumas das supostas confissões reunidas pelo Daily Mail em sites da Darknet:

O jornal britânico Daily Mail publicou uma vasta matéria sobre assassinos de aluguel na Deep Web, inclusive com declarações chocantes coletadas em sites que os agenciavam (vide abaixo). Mas especialistas acreditam que as páginas podem ser falsas. Os preços, por exemplo, seriam impraticáveis em bitcoin (10 mil libras por uma morte nos EUA, 12 mil por uma na Europa). Além disso, esse tipo de profissional utilizaria preferencialmente sites temporários, correndo menos risco de ser pego pela lei.

Jornal diz que eles também estão lá, mas especialistas acham que o periódico foi enganado

E MATADORES DE ALUGUEL?

INFÂNCIA DESTRUÍDA Provavelmente, o conteúdo mais chocante da Darknet são os filmes e fotos de pornografia infantil. Segundo a ECPAT, uma coalizão internacional de organizações da sociedade civil que luta contra a exploração sexual de crianças e adolescentes, há até mesmo streaming de vídeos ao vivo em que crianças são coagidas a realizar atos sexuais

O jornal australiano The Newcastle Herald relatou o caso de um adolescente de 16 anos que encomendou uma carta de motorista falsificada por US$ 140. Ele recebeu a encomenda três dias depois. Uma identidade norte-americana sai por volta de US$ 1.000 e a britânica, por cerca de 2,6 mil libras. Também são vendidos passaportes falsos de várias nacionalidades

Em fóruns da internet profunda, é fácil encontrar referências a um tal Mr. Mouse (“Senhor Rato”) e seus “Disney Dollars”. Não é dinheirinho fofo para usar no Magic Kingdom, não: são notas falsificadas de US$ 20, 50 e 100. Ele garante que o dinheiro consegue até mesmo passar no teste que comerciantes realizam para diferenciar uma cédula falsa de uma verdadeira

DEZEMBRO 2014

O bitcoin é uma moeda digital criada em 2009 por um programador com o pseudônimo Satoshi Nakamoto. Ela só existe online e as transações são criptografadas, de modo que os usuários podem ser anônimos. Foi isso que impulsionou seu uso no mercado negro virtual. Em vez de usar contas bancárias de uma instituição financeira como intermediária, os valores gastos com o bitcoin são transferidos entre endereços da web, chamados “carteiras”, por um computador ou smartphone. O sistema utiliza um banco de dados espalhado pela internet para registrar as transações e usa criptografia para garantir segurança e certificação.

Entenda por que o bitcoin é a grana favorita na Deep Web

MOEDA DE TROCA

Em dezembro de 2013, dados referentes a 40 milhões de cartões de crédito foram roubados por uma falha de segurança durante a “black friday”, tradicional data de ofertas nos EUA, após o feriado de Ação de Graças. Adivinhe onde essas informações foram vendidas? Sim, em lotes na Deep Web, facilitando a vida de fraudadores no mundo todo

CARTÕES DE CRÉDITO À VENDA

DUPLA IDENTIDADE

O HOMEM QUE COPIAVA

A facilidade gerou até outros “serviços”: o usuário Doctor X alerta internautas sobre os efeitos e riscos da combinação de substâncias

Uma jornalista do The Guardian usou nome falso para comprar 1 g de maconha, por 1,16 bitcoin. Em dois dias, a erva chegou à sua casa, em Londres, em um envelope. Segundo ela, os sites de drogas na Darknet são tão organizados quanto o eBay ou o Airbnb na net comum. Os tóxicos são até separados por preço, qualidade, origem e efeitos

NO BRASIL TAMBÉM

DELIVERY DE DROGA

Em um documentário da Vice, um traficante alemão classificou a Darknet como um sistema prático e confiável para vender armamentos. Lá, dá para encontrar desde facas e revólveres até explosivos e rifles, como o Bushmaster M4, das forças armadas afegãs. Um fuzil AK 47 sai por US$ 2,8 mil. O maior site desse tipo tem cerca de 400 itens à venda

MERCADO NEGRO

MANDANDO BALA

Em 2013, o FBI prendeu Eric Eoin Marques, de 28 anos, considerado o maior facilitador de pornografia infantil da Deep Web

O anonimato atrai todo tipo de crime. Bem-vindo ao beco sujo da Deep Web: a Darknet

DÁ CADEIA, SIM!

ROTA INTERROMPIDA O maior site de drogas da Deep Web, o Silk Road (“Rota da Seda”) foi fechado em outubro de 2013 pela polícia federal dos EUA. O portal era como um eBay de atividades ilícitas. Seu comandante, o norte-americano Ross W. Ulbricht, de 30 anos, foi preso. Outros oito envolvidos também foram detidos e 29,6 mil bitcoins foram apreendidos

Não é porque ela é “secreta” que todos escapam da lei. Já tem gente se dando mal

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2. O navegador que libera a conexão à rede Tor tem várias funções de segurança – como ocultamento de IP (número que identifica seu computador) e bloqueio de conteúdos com Flash e JavaScript. Antes de enviar a mensagem do usuário, o Tor primeiro a torna criptografada, ou seja, a converte num código. Então, repassa-a para a rede Tor

1. Tor, na verdade, é uma sigla para “The Onion Router” (“O Roteador Cebola”). Assim como esse vegetal, a navegação do usuário é dividida em várias “camadas”, em vez de traçar uma rota direta entre computador e servidor final. É como se você fizesse um caminho mais longo e maluco da escola até sua casa para evitar que alguém o seguisse

ESCONDIDO É MAIS GOSTOSO

O FBI estima que a espionagem industrial custa, ao ano, US$ 13 bilhões aos EUA. Nesse cenário, não dá para empresas usarem a net comum para enviar dados. “É o caso das montadoras de carros,. cujos produtos podem passar anos em fase de planejamento e suas peças podem ser produzidas em vários países”, diz Ilya Lopes, especialista de Awareness & Research da Eset Brasil

Entenda como o navegador Tor redistribui dados para dificultar a identificação

VAI E VEM Muitas universidades do mundo todo mantêm seus bancos de dados nas profundezas secretas da web. Nela, é possível encontrar mecanismos específicos de busca para conteúdo das bibliotecas de várias instituições, como a Universidade da Califórnia e Oxford. Há sistemas de pesquisas específicos por temas, como medicina, ciências e negócios

conteúdo criptografado (Tor)

A Anistia Internacional e o grupo Jornalistas sem Fronteiras aconselham que profissionais em zona de conflito se comuniquem pela Deep Web

LIBERDADE DE EXPRESSÃO O sigilo é essencial para driblar a censura em países onde a internet é controlada, como o Irã e a China. Nesta última, por exemplo, 80% das newsletters da Human Rights Watch (ONG que fiscaliza direitos humanos) são enviadas assim, para proteger os destinatários. Durante as revoltas iranianas em 2009, o total de usuários locais na Deep Web triplicou

PARA SABER MAIS

Sim, existe gente “de bem” na Deep Web: empresas, governos, ativistas políticos...

TERRA DE ALGUÉM

conteúdo nãocriptografado (demais navegadores)

Cuidado: a navegação via Tor fica vulnerável quando você acessa sites sem HTTPS, baixa documentos ou instala plug-in inseguro

DEZEMBRO 2014

4. Todo esse jogo de passa e repassa acaba tornando o uso do Tor mais lento que o de um navegador comum. E a rota completa muda a cada dez minutos. Só o último participante, o da porta de saída, é quem envia a informação de volta à internet de superfície, rumo ao servidor final. Nesse ponto, portanto, ela se torna novamente vulnerável à interceptação

3. A rede Tor é formada por uma cadeia de quatro pontos: você, uma porta de entrada (que varia sempre), vários distribuidores (os “relay nodes”) e a porta de saída. A cada distribuidor que a informação é repassada, ela é recriptografada. E cada relay node só conhece um “trecho” do caminho: quem enviou o dado para ele e para quem ele o enviará

As revoltas brasileiras de junho de 2013 também tiveram um pezinho na Deep Web. É por ela que se comunicam os ativistas do Anonymous, que mobilizaram muitas manifestações. Esse grupo, que atua internacionalmente desde 2003, exige anonimato (daí seu nome e o uso da máscara de Guy Fawkes) e alega combater instituições que controlam a liberdade

NÃO FORAM SÓ R$ 0,20

“Não dá para subestimar a importância do navegador Tor para o Wikileaks”, declarou o fundador do site, Julian Assange, à revista Rolling Stone. O site, usado para vazar denúncias e informações sobre governos, surgiu na Deep Web e pretendia ficar por lá. Mas a confirmação de vários dados divulgados e o aumento dos page views forçaram sua indexação nos buscadores

PODRES REVELADOS

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NAVEGAR... OU AFUNDAR?

UMA VASTIDÃO OCULTA O termo Deep Web foi usado pela primeira vez pelo especialista Michael Bergman em 2000, quando ele apontou a incapacidade dos motores de busca de indexar essas páginas. Em geral, esses sites são gerados dinamicamente e criptografados (ou seja, codificados para gerar maior segurança). Estima-se que a Deep Web seja 500 vezes maior que a internet catalogada

FONTES Sites Bright Planet, World Wide Web Size e Anonymous, livros The Deep Web: Surfacing Hidden Value, de Michael K. Bergman, e Sampling the National Deep, de Denis Shestakov CONSULTORIA Ilya Lopes, especialista de Awareness & Research da Eset Brasil, Thomas Soares, engenheiro e coordenador-adjunto da Associação Software Livre, Denis Shestakov, pesquisador de pós-doutorado no Departamento de Tecnologia de Mídia da Universidade Aalto, na Finlândia, e Centro de Mídia Independente do Rio de Janeiro

Existem páginas “fechadas” que um mecanismo de busca tradicional não consegue achar. Elas podem ser, por exemplo, uma área de um site comum restrita com login e senha. Ou pertencer à rede interna de uma empresa. Ou são endereços escondidos propositadamente dos buscadores, com endereços bizarros. Todo esse conteúdo inacessível é a Deep Web (“internet profunda”)

FORA DO RADAR

Expressões como “Deep Web” ou “surfar/ navegar na web” vêm da percepção da internet como um oceano. Os sites que você acessa normalmente seriam como a superfície desse mar. Esses endereços contêm dados reconhecidos (e catalogados) pelos buscadores, facilitando o acesso de qualquer usuário. Mas nem o “todo-poderoso” Google encontra 100% do conteúdo da internet...

BEM POR CIMA

Entenda as diferenças entre as camadas da rede mundial de computadores

Vista seu escafandro, ative seu antivírus e venha se aventurar nos domínios abissais da Deep Web. O anonimato tornou essa “área secreta” da internet um grande mercado negro para todo tipo de crime e barbárie – mas muitas das bizarrices que supostamente estão lá não passam de lenda urbana virtual

TEXTO

Kleyson Barbosa Jean Magalhães Thales Molina Marcel Nadale ILUSTRA

DEZEMBRO 2014

A intenção de esconder conteúdos era até positiva: proteger informações confidenciais, como as de um governo ou de uma empresa. O problema é que esse anonimato atraiu praticantes de atividades ilegais, como tráfico de drogas e armas, fraudes e pedofilia. Tudo isso constitui um setor específico e assustador da Deep Web: a Darknet (“rede sombria”)

AINDA MAIS ESCURA

Como boa parte do conteúdo nessas “profundezas” está encriptado, é preciso ferramentas diferentes para acessá-lo. Um navegador bastante usado para acessar na Deep Web é o Tor. Sua origem não tem nada de “maligna”: ele foi desenvolvido nos anos 90 por matemáticos da Marinha norte-americana para proteger as comunicações de inteligência do país

MERGULHANDO COM SEGURANÇA

EDIÇÃO

DESIGN

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PRÊMIO

A existência ou não de assassinos de aluguel na web secreta é controversa (veja na página 19). Alguns boatos são risíveis, exagerando na descrição da morte e no preço do serviço. Um alega que metade do pagamento é antecipado, e a outra metade, feita no local do crime – o que não faz sentido, porque o contratante corre o risco de se incriminar

O enredo é digno de filme de terror: cirurgiões estariam adquirindo crianças de 8 a 10 anos em orfanatos ou famílias miseráveis para transformá-las em bonecas sexuais vivas. Braços e pernas seriam trocados por membros de silicone e cordas vocais por borracha. A aberração seria vendida na Darknet, mas a balela tem várias incongruências. O gasto com tais cirurgias (incluindo os casos que não dariam certo) seria superior ao preço de venda das bonecas (supostamente, US$ 40 mil). Além disso, alega-se que as cobaias vêm do Leste Europeu, mas lá há uma burocracia pesada para se retirar uma criança

UMA BARBIE PARA TARADOS

visual ILUSTRAÇÃO


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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

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destaques

visual

ILUSTRAÇÃO

Guerra dos clãs Lézio Júnior

VEJA RIO / setembro de 2014 vejario.com.br

parte integrante de veja ano 47 - no 37 não pode ser vendida separadamente

10 de setembro de 2014

guerra dos clãs Os herdeiros dos caciques Sérgio Cabral e Anthony Garotinho se enfrentam nas urnas com o desafio de consolidar uma nova geração das duas dinastias políticas do estado

O mundo está muito complexo Denis Russo, Jorge Luis de Oliveira e Marcio Moreno SUPERINTERESSANTE / fevereiro de 2014 IDEIAS

A PRIMEIRA LINHA

xidade: é o número de coisas conectadas umas às outras. Quanto mais partes um sistema tem, e quanto mais ligações existem entre essas partes, mais complexo ele é. Um exemplo de coisa complexa é o recheio do seu crânio: 86 bilhões de neurônios, cada um deles conectado a vários outros, um emaranhado quase infinito de possíveis caminhos a percorrer. Segundo Bar-Yam, a sociedade humana vem constantemente aumentando de complexidade há milênios. No início, quando vovô era caçador-coletor e dava rolezinho na savana africana, vivíamos em grupos de no máximo umas dezenas de pessoas, e cada grupo era basicamente isolado dos outros. A complexidade da sociedade era mínima. Diante disso, nossas estruturas de controle eram bem simples. No geral, um chefe mandando e todo o resto da turma obedecendo – um general e os soldados, um chefe e a ralé. Mas a moleza não durou. Primeiro surgiram impérios vastos (Egito, Mesopotâmia, China, Índia) com maior diversidade de necessidades e papéis sociais (escribas, escultores, cozinheiros, prostitutas). A complexidade foi aumentando.

Já entramos na vida por uma linha de montagem. O Brasil é um dos países que mais fazem partos por cesárea, o que permite um ritmo industrial: procedimentos rápidos e padronizados, com hora marcada, e mulheres anestesiadas, para não atrapalharem o processo.

APOSTO QUE VOCÊ TAMBÉM NOTOU: VIVER ESTÁ COMPLICADO. ÓDIO, MUITA OPÇÃO, MUITA NOVIDADE, MUITO PROBLEMA QUE Tenho quase certeza de que você

sabe do que eu estou falando. Uma certa angústia, uma sensação de que tudo está escorregando do controle. E também uma pitada de desânimo com a ordem geral do mundo, como se não adiantasse fazer nada, porque qualquer esforço vai se perder numa série de consequências

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inesperadas, e pode até acabar tendo efeito contrário ao pretendido. Caceta, de onde vem isso? A vida está complicada demais. É muita senha para decorar, muita lei para seguir, muita conta para pagar. É muito trânsito. Muito carro na rua, disputando espaço com caminhão de lixo, e é tam-

bém muito lixo na calçada à espera de alguém que o recolha. É muito risco, muito crime, muita insegurança. É muito partido político, e nenhum deles parece minimamente interessado nas coisas que são importantes para você. É muita opção de trabalho, mais do que em qualquer momento da história, e ao

É MUITA SENHA, MUITA INFORMAÇÃO, MUITO PARECE SER INSOLÚVEL. POR QUÊ? E TEM CURA? mesmo tempo é muito difícil encontrar um trabalho que faça sentido. É muita doença estranha de que eu nunca antes tinha ouvido falar, e muita gente morrendo disso. É muita indústria tradicional, de ares eternos, desmoronando de um segundo para o outro. É muita gente saindo da escola sem saber ler nem fazer

conta. É muito problema, e cada um parece impossível de resolver. Estou surtando? Só eu estou sentindo isso?

É COMPLEXO, MANO

Por outro lado, o mundo está cheio de possibilidades, inclusive a de acessar informação ao toque de um dedo. Dei um

TEXTO

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

níveis – diretor, vice-diretor, gerente, subgerente, auxiliar, terceiro-auxiliar do subgerente do vice-diretor. Só assim para cada chefe lidar com a complexidade do que está abaixo dele. Até chegar a hoje, quando vivemos na sociedade mais complexa de todos os tempos. Só que aí as hierarquias pararam de funcionar – colapsaram. O mundo ficou tão complexo que ficou impossível para um chefe dominar a complexidade abaixo dele. Quando Bar-Yam tornou-se especialista em sistemas complexos, na década de 1980, esse não era um ramo glamou-

roso da ciência. Os físicos preferiam áreas ultraespecializadas e achavam o estudo de grandes sistemas uma coisa meio esotérica. Ele insistiu e sua dedicação valeu a pena. No mundo complexo de hoje, Bar-Yam e seu instituto estão atraindo um monte de clientes importantes. O exército americano procurou-o para entender como lutar contra inimigos ligados em rede, misturados à população civil em cidades labirínticas – situação bem mais complexa do que as guerras de antigamente. Bar-Yam também tem trabalhado como consultor na reforma dos

DOPING ESCOLAR

Num modelo industrial de educação, é desejável que os alunos sejam padronizados, assim como as peças numa linha de montagem. Talvez isso explique a “epidemia” de déficit de atenção nas crianças ocidentais. Remédios psiquiátricos então “padronizam” o temperamento.

sistemas de saúde e educação dos Estados Unidos, na estratégia do Banco Mundial para ajuda humanitária e na concepção de grandes projetos de engenharia. Não está faltando trabalho. Parecia o sujeito certo para resolver meu problema. Escrevi um e-mail para ele, perguntando se há “algumas regras simples que ensinem a lidar com complexidade?” (editores de revistas adoram fórmulas simples). Bar-Yam já chegou detonando: “não há regras simples para lidar com o que é complexo”. Mas, se eu quisesse aprender os princípios gerais da gestão da complexidade, eu poderia comprar o livro dele, Making Things Work (“Fazendo as coisas funcionarem”, sem versão em português). Comprei. O livro é ótimo. A tese central é que todo sistema complexo tem duas características: a escala e a complexidade. Para fazer um sistema complexo funcionar, é preciso ter uma estratégia para a escala e outra para a complexidade. Exemplo: o corpo humano tem dois sistemas de proteção, um para escala, outro para complexidade. O sistema neuromuscular (cérebro comandando nervos que acionam músculos que movem ossos) serve para escala, enquanto o sistema imunológico (glóbulos brancos independentes agindo cada um por conta própria) lida com complexidade. O neuromuscular nos defende de ameaças grandes – surras, atropelamentos, ladrões. O imunológico lida com inimigos minúsculos – bactérias, vírus, fungos. Por terem funções diferentes, os dois sistemas adotam estratégias diferentes. No neuromuscular, a lógica é hierárquica, centralizada e linear – o cérebro manda, nervos e músculos obedecem, todos juntos, orquestrados, somando

esforços numa mesma direção, para gerar uma ação em grande escala (um soco, por exemplo). Já no sistema imunológico, cada célula age com liberdade e se comunica com as outras, o que gera milhões de ações a cada segundo, uma diferente da outra, cada uma delas microscópica, em pequena escala – e o resultado final é uma imensa complexidade, com o corpo protegido de uma quantidade quase infinita de possíveis ameaças. Para viver saudável é preciso ter os dois sistemas: neuromuscular e imunológico. Um sem o outro não adianta. Não há nada que um bíceps forte possa fazer para matar uma bactéria, assim como glóbulos brancos sarados são inúteis numa briga. É assim com todo sistema complexo: precisamos de algo hierárquico para lidar com a escala das coisas, e de algo conectado em rede para a complexidade. O problema do mundo de hoje, e a razão para o desconforto descrito no começo deste texto, é que nossa sociedade está toda ajustada para lidar com escala, mas é absolutamente incompetente na gestão da complexidade. Estamos combatendo infecção a tapa. Tudo por causa de uma invenção que está completando 100 anos.

O SÉCULO DA ESCALA

Foi talvez a invenção mais transformadora da era contemporânea, mas ninguém registrou o nome do inventor, nem a data do “eureca”. Na verdade, ninguém nem mesmo deu um nome ao invento. Só cerca de um ano depois, uma revista técnica de engenharia fez o batismo: linha de montagem. Segundo as pesquisas do historiador

Denis R. Burgierman ILUSTRAÇÃO

Marcio Moreno DESIGN

Jorge Oliveira

google, encontrei um texto chamado Complexity Rising (“O aumento da complexidade”), do físico americano Yaneer Bar-Yam, fundador do Instituto de Sistemas Complexos da Nova Inglaterra. Arrá, está lá: o mundo está mesmo ficando mais complexo, não é paranoia minha. O texto explica o que é comple-

SUPER / FEVEREIRO 2014

Diante disso, já não funcionava mais o sistema simples de controle direto. Segundo Bar-Yam, existe uma lei universal e sagrada dos sistemas complexos: “a complexidade de um sistema realizando uma tarefa deve ser tão grande quanto a complexidade da tarefa”. Como um faraó é menos complexo do que a sociedade egípcia, não seria possível para o faraó regular e controlar todos os aspectos dessa sociedade. Por isso, foram surgindo hierarquias intermediárias: o mestre de obras para organizar a peãozada, o capitão de navio para mandar na marujada, a madame para cuidar das garotas. E a humanidade seguiu ficando cada vez mais complexa, mais intrincada, mais especializada. E, para dar conta disso, as hierarquias foram ganhando mais e mais

SUPER / FEVEREIRO 2014

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ALUNOS IDÊNTICOS

A educação básica é padronizadora, com alunos divididos em séries (lotes), e o mesmo conteúdo ensinado a todos. Alunos com talentos únicos são enquadrados, nivelando o sistema por baixo e reduzindo a diversidade da sociedade.

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SUPER / FEVEREIRO 2014

David Nye em seu livro America’s Assembly Line (“A linha de montagem da América”, sem versão em português), a invenção da linha de montagem ocorreu em algum momento de novembro de 1913. A dificuldade de estabelecer uma data precisa vem do fato de que a invenção foi gradual, coletiva e aconteceu quase espontaneamente. Ela não foi uma ideia espocando do nada na mente de algum cientista brilhante – foi uma resposta social a uma necessidade premente. A necessidade era aumentar a produção de carros. Em 1900, só 5 mil americanos tinham carro – apenas 13 anos depois, já eram mais de 1 milhão. Centenas de fábricas trabalhavam sem parar para atender a essa explosão da demanda, mas ainda assim as fábricas recebiam mais pedidos do que eram capazes de atender. Isso gerou uma corrida entre as fábricas por ganhos de produtividade. Quem ganhou essa corrida foi a empresa de um mecânico chamado Henry Ford. No esforço de poupar segundos e assim fazer mais carros por dia, os mecânicos e engenheiros da Ford foram aprimorando seu processo. Começaram a padronizar milimetricamente cada peça do carro, para acelerar os encaixes.

MUNDO HIERÁRQUICO A educação produz adultos

talhados para uma sociedade hierárquica – uns são formados para mandar, outros para obedecer, como exige a sociedade industrial. Quase ninguém aprende a trabalhar de forma colaborativa e a resolver problemas juntos, como exige o mundo complexo.

Cronometraram cada movimento dos mecânicos, para descobrir o melhor jeito de fazer cada tarefa. E, a cereja do bolo: inverteram a lógica da fábrica. Em vez de grupos de mecânicos andando de uma carcaça a outra para montar os carros, eram os carros que se moviam num trilho, puxados por cordas, no meio de um corredor de mecânicos. Cada mecânico realizava uma tarefa curta e repetitiva, de maneira que nenhum deles tinha mais o domínio do processo todo. Resultado: a

fábrica começou a despejar nas ruas um carro novo a cada minuto. Em 1910, a Ford tinha feito 19 mil carros. Em 1911, 34 mil. Em 1912, 76 mil. Em dezembro de 1913, a linha de montagem começou a operar. Em 1914, a empresa montou 264.972 carros – todos idênticos. Um aumento de produtividade descomunal, que possibilitou a Henry Ford dobrar o salário de seus operários e ao mesmo tempo baixar o preço dos carros, transformando operários em clientes. O sucesso foi tão grande que, nas décadas que se seguiram, a lógica da linha de montagem se espalhou por toda a indústria, em todo o mundo. Bicicletas, geladeiras, telefones, televisores passaram a ser montados em esteiras rolantes ou trilhos, com peças sempre iguais montadas por trabalhadores superespecializados. Até mesmo a comida se encaixou nesse esquema: nossos alimentos também passaram a ser padronizados e montados industrialmente com acréscimos químicos de nutrientes. Prédios passaram a ser produzidos com peças idênticas e tarefas cronometradas, o que inaugurou a era dos arranha-céus nos anos 30. Nossa vida está cheia de linhas de montagem – o carrinho do supermerca-

do passando entre corredores de produtos, o automóvel trafegando em rodovias rodeadas de lojas, as filas de carros nos drive-thrus do mundo. Ao longo do último século, a lógica da linha de montagem chegou a todas as esferas da vida. A educação, por exemplo. “As escolas hoje são organizadas como fábricas”, disse o educador britânico Ken Robinson numa palestra no TED. “Educamos crianças em lotes”, disse, referindo-se ao hábito de separar os alunos em séries. Saúde, governo, cidades, cultura, ciência. Praticamente tudo nessa alvorada do século 21 parece seguir o mesmo esquema: divisão do trabalho numa sequência linear de tarefas especializadas, montagem gradual das peças, ganhos constantes de eficácia, produtos padronizados. “A linha de montagem passou a ser muito mais que um arranjo físico de máquinas”, disse Nye. “Ela é o centro de um sistema cultural que se estende até muito além dos portões das fábricas.” Esse sistema cultural aumentou de maneira explosiva a escala de tudo. E esse aumento de escala mudou o mundo de uma maneira espetacular. Quando os funcionários da Ford conceberam a linha de montagem, havia me-

ENGARRAFAMENTO SEM FIM Num mundo hierárquico, as pessoas são obcecadas por sinais de diferenciação

social – e o mais poderoso deles é o carro. Não é à toa que 10 mil novos carros chegam às ruas do Brasil por dia, e que como consequência a velocidade média de um carro seja equivalente à de uma galinha.

CONSUMO EM MASSA

nos de 2 bilhões de pessoas no mundo inteiro. Hoje, apenas um século depois, já passamos dos 7 bilhões – um aumento populacional quase inacreditável que só foi possível graças a um espetacular ganho global de produtividade. A produção de comida, de casas e de bens de consumo aumentou astronomicamente para atender tanta gente. E, mesmo com a explosão populacional, hoje a proporção de pessoas no mundo com acesso a saúde e educação é maior que nunca, graças ao ganho de escala alcançado pelos serviços públicos. A população global produz mais, consome mais, vive mais, sabe mais do que em qualquer outro período da história humana. Esse é o resultado de 100 anos da era da escala. Sob muitos aspectos, foi o maior salto de progresso da história da humanidade. Por que então o mal-estar?

O SÉCULO DA COMPLEXIDADE

Lembre-se do que Bar-Yam escreveu:

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A ÚLTIMA LINHA

Numa sociedade industrial de escala, não basta haver produção em massa – o consumo precisa ser em massa também. Por isso, os maiores prédios dos nossos tempos, equivalentes às catedrais na Idade Média, são os shopping centers, que se transformaram nas áreas preferidas para o lazer. E haja rolezinho.

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todo sistema complexo precisa ter uma estratégia para lidar com escala e outra para a complexidade. A linha de montagem é como o sistema neuromuscular – ótima para escala. Ela é linear e hierárquica – são os executivos que mandam nos engenheiros, que por sua vez controlam os mecânicos, assim como o cérebro comanda nervos que acionam músculos. Por isso, ela só consegue dar uma resposta de cada vez: um soco no caso do sistema neuromuscular, um carro sempre idêntico no caso da linha de montagem. Nossa sociedade moldada ao longo dos últimos 100 anos à imagem da linha de montagem é ótima para ações de escala, mas não tem flexibilidade alguma para lidar com complexidade. Estamos sem sistema imunológico. “É fácil ficar pessimista com o mundo de hoje”, diz Bar-Yam. Em meio às inúmeras linhas de montagem que dominam a humanidade, parece que toda a complexidade do mundo está fugindo do nosso controle, enquanto nos sentimos impotentes para resolver problemas à nossa volta. É essa a história que o ilustrador Marcio Moreno procurou contar no desenho surreal que percorre estas páginas. Por todo lado, há exemplos de ações de escala que acabam esmagando a complexidade. Por exemplo: nosso modelo de

produção industrial, que aumentou prodigiosamente nossa capacidade de fazer coisas, mas está causando um acúmulo global de lixo e gases de efeito estufa e levando milhares de espécies à extinção e quase todos os ecossistemas ao colapso. Ou nossas tentativas industriais de aumentar a segurança, o que hiperlotou o mundo de regras impossíveis de cumprir e de senhas impossíveis de lembrar. Ou nossos sistemas de alimentação e saúde, que focaram tanto na escala da produção de alimentos, de maneira a baratear a comida, que a complexidade dos micronutrientes se perdeu. E hoje, pelo visto, estamos pagando o preço, com a explosão das “doenças complexas”: males difusos, de causas múltiplas, como câncer, doenças autoimunes, degenerativas e psiquiátricas. Ou ainda nosso sistema de educação, concebido com uma lógica linear e padronizadora, para formar alunos idênticos, todos com os mesmos conhecimentos. Além de nivelar por baixo, detonando a qualidade da educação, esse modelo padronizador é justamente o contrário do que nosso mundo complexo precisa hoje – gente diversa, capaz de resolver problemas diversos. Segundo Bar-Yam, desde o tempo das cavernas, sempre que algo começa a pi-

A vida segue com sua lógica industrial até o final. A maioria das pessoas morre em UTIs de hospitais, depois de uma longa e cara agonia que quase sempre consome mais recursos do que todos os gastos médicos de uma vida inteira. UTIs são lugares impessoais, que mantêm os pacientes longe das pessoas que importam para eles.

far porque a complexidade fica grande demais, “temos uma forte tendência de tentar descobrir quem é o responsável. Alguém tem que ser demitido, alguém tem que pagar, alguém tem que ser punido”, diz. E aí escolhemos um novo chefe ou criamos uma nova hierarquia para lidar com o problema. Só que hierarquias são péssimas para gerir complexidade. O único jeito de lidar com sistemas complexos é criando estruturas de controle complexas: redes de gente com autonomia de identificar e resolver problemas. Perguntei a Bar-Yam como o Brasil deveria lidar com nossos frustrantes políticos. Ele respondeu que o problema não é só do Brasil. “Precisamos de um novo tipo de democracia”, disse. “Nossa democracia usa o voto para agregar a capacidade de decisão da população. Isso não é eficiente, porque reduz uma grande quantidade de informação (o conhecimento de todos os cidadãos) a um pequeno número de respostas (os seus representantes)”. Faria mais sentido imaginar um sistema político mais imunológico, no qual cada cidadão reage com autonomia às ameaças que enxerga, como um glóbulo branco. Política, economia, saúde, educação, sustentabilidade, clima, cidade. Em todo lugar onde há complexidade, parece estar ocorren-

do uma espécie de colapso. Mas, assim como aconteceu 100 anos atrás com a linha de montagem respondendo à nossa necessidade de escala, desde a década de 1990, uma série de inovações parece estar surgindo espontaneamente em resposta à nossa necessidade de complexidade. Primeiro veio a internet, que nos conectou em rede, criando uma alternativa para as estruturas hierárquicas. E agora as inovações estão pipocando. Tem todos os esquemas de compartilhamento de recursos – quartos, casas, carros, bicicletas, ferramentas, espaço para trabalhar – nos ajudando a otimizar o uso de recursos. Tem os moradores que assumem a responsabilidade por cuidar dos espaços públicos e criam praças melhores do que qualquer prefeito seria capaz. Tem os sites de crowdfunding, crowdsourcing e as outras formas de colaboração criativa, que geram um novo modelo de indústria. Tem os aplicativos de trânsito, como o Waze, que dão a cada motorista o poder de encontrar um caminho que flui, o que acaba melhorando o trânsito como um todo. Tem as redes de pacientes de doenças raras, trocando informações pela internet e muitas vezes ajudando uns aos outros mais do que nosso sistema superespecializado de medicina. Tem as manifestações parando as

ruas do mundo e forçando os dirigentes políticos a repensarem sua relação com os cidadãos. Tem as grandes empresas, trocando o comando vertical por estruturas de controle mais distribuído. E, em 2014, o mundo parece estar preparado para uma transformação profunda – possivelmente tão profunda quanto aquela de 1914. Talvez aí essa angústia com a complicação da vida passe. “Quando somos parte de um time complexo, o mundo se torna um lugar notavelmente confortável, porque conseguimos agir de maneira eficaz, ao mesmo tempo em que estamos protegidos da complexidade do mundo”, diz Bar-Yam. Enquanto isso não acontece, talvez ajude saber que a origem do problema não está em nós. É o mundo que está organizado errado. PA R A S A B E R M A I S

Making Things Work Yaneer Bar-Yam, Nesci Knowledge Press, 2004 America’s Assembly Line David E. Nye, MIT Press, 2013

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reportagem

Breiller Pires

roteiro

Breiller Pires e André Carvalho

arte

Alexandre de Maio

Coração amargo Alexandre De Maio p l aca r .com . br maio 2014

p l acar .co m.b r maio 2014

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p l aca r .co m. b r maio 2014

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p l aca r .com .b r maio 2014

p l aca r .com .b r maio 2014

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PLACAR / maio de 2014

Uma selfie de 2014 Sattu

VEJA SÃO PAULO / dezembro de 2014 vejasaopaulo.com

PARTE INTEGRANTE DE VEJA ANO 47 - NO 53 NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE TIRAGEM DESTA EDIÇÃO 320 919 EXEMPLARES

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visual

INFOGRAFIA e GRÁFICOS

PRÊMIO

Máscaras e tendas

70%

Cada hijab, nome genérico do véu, representa culturas diferentes.

BURCA

SÉC. 18-19

DAS AFEGÃS

ainda vestem burca – seja por tradição ou medo.

O véu no rosto pode vir costurado na peça ou preso por um alfinete.

NIQAB

ANTIGUIDADE PENÍNSULA ARÁBICA

“Máscara”, em árabe. Peça comum em regiões conservadoras, que consideram o rosto da mulher uma parte íntima. ARÁBIA SAUDITA

PENÍNSULA ARÁBICA

É o país do niqab. Seu uso é visto como o mais adequado para:

Criada para ocultar o corpo, no princípio não tinha relação com o Islã e era usada como sinal de status. Seu uso foi obrigatório no Afeganistão durante o governo do Talibã (1995-2001).

HOMENS

Outras cores são toleradas em lugares menos conservadores.

CHADOR SÉCULO 18 IRÃ

Significa “tenda” em persa. É uma veste historicamente ligada aos xiitas e à Pérsia, o antigo Irã. Em 1936, no processo de ocidentalização forçada no país, o uso foi proibido. Com a Revolução Islâmica de 1979, ela virou obrigatória.

64% MULHERES 63%

60%

S E M D I P L O M A U N I V E R S I TÁ R I O 67%

USO MAIS COMUM Tecido

C O M D I P L O M A U N I V E R S I TÁ R I O 47%

retangular preto ou azul. Por baixo, calça e batas largas. É comum se maquiar.

DAS IRANIANAS

têm diploma universitário.

MULHERES AFEGÃS ANTES DO TALIBÃ, ELAS ERAM...

USO MAIS COMUM Preto por tradição. Mas o que conta é ser escuro e discreto. Por baixo, túnica ou calça e blusa.

60%

40%

dos médicos

USO MAIS COMUM

dos professores universitários*

Preto, vai até a cintura.

*Universidade de Cabul

DEPOIS DO TALIBÃ...

32%

20%

12 ANOS

Idade com que normalmente meninas passam a usar chador.

Mulheres que vestem niqab costumam cobrir as mãos com luvas.

delas das jovens* trabalham são alfabetizadas *(15-24 anos)

QUAL A VESTE MAIS ADEQUADA? A opinião da população de sete países. (em %) A R Á B I A S A U D I TA

11

BURCA

1

EGITO

2

1

2

TURQUIA

1

TUNÍSIA

32

3

32

3

P A Q U I S TÃ O

32 2

2

MULHERES PODEM DECIDIR SE USAM OU NÃO O VÉU? Entre poder de escolha, obrigação e proibição, veja a opinião em cada país. SIM

20 8

4

IRAQUE LÍBANO

NIQAB

9

4 3

A F E G A N I S TÃ O

NÃO

23%

40%

(HOMEM)

(MULHER)

CONTEXTO A burca já era um traje tradicional de algumas tribos, mas só se disseminou com a imposição do Talibã.

EGITO

39%

54%

(HOMEM)

(MULHER)

CONTEXTO O véu era restrito até a Primavera Árabe, que derrubou a ditadura militar do país. Hoje, 90% usam véu por algum motivo.

CONTEXTO IRAQUE

38%

52%

(HOMEM)

(MULHER)

Povos diferentes habitam o país, cada um com opiniões próprias sobre os véus.

MARROCOS

Tratamento de imagem Andre Luiz

C U LT U R A

POR TRÁS DO VÉU Debaixo dos tecidos há um mundo de informação.

E D I Ç Ã O Felipe van Deursen D E S I G N Inara Negrão R E P O R TA G E M Giselle Hirata F O T O Dulla P R O D U Ç Ã O Carol Cubarenco

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SUPER / JUNHO 2012

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Por trás do véu

Carolina Cubarenco, Dulla, Felipe Van Deursen, Giselle Hirata e Inara Pacheco

MUÇULMANAS USAM VÁRIOS TIPOS DE VÉU – OU NENHUM. Cada uma dessas vestes tem origens e significados diferentes, carregados de tradição. Se hoje a burca é associada a regimes opressores, no passado ela era um símbolo de status. Já na Turquia, em 2013, funcionárias públicas conquistaram o direito de usar véu no trabalho, algo proibido desde 1925. As vestes também são orgulho e moda. Cada mulher gasta US$ 120 por ano nelas, num mercado de US$ 100 milhões que se espalha de grandes lojas a blogs especializados. Entender os véus revela muito sobre as mulheres que eles cobrem.

SUPER / JUNHO 2012

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

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SUPERINTERESSANTE / julho de 2014


Touca prende o cabelo e dá sustento ao véu.

AL-AMIRA

DÉCADA DE 1970 EMIRADOS ÁRABES

DÉCADA DE 1970 EMIRADOS ÁRABES

Após protestos feministas nos países árabes, algumas mulheres abandonaram o niqab, enquanto outras adotaram esse novo modelo. É o mais usado por muçulmanas no mundo inteiro e o mais aceito na maioria dos países de população islâmica.

Surgiu no mesmo contexto que a al-amira, para quem não se sentia à vontade com o cabelo todo descoberto. Mesmo quem não usa véu regularmente veste a shayla para entrar em mesquitas, onde mulheres precisam cobrir o cabelo.

Comprimento varia de região para região. Pode cobrir os ombros ou ficar em torno do pescoço.

Colares, pulseiras e outros acessórios são bem comuns.

CABELO À MOSTRA No Líbano, habitado por muçulmanos sunitas e xiitas e cristãos católicos e ortodoxos, a cabeça descoberta é tida como mais adequada do que qualquer véu. Mas, mesmo em países menos conservadores, é difícil ver mulheres de decotes ou saias.

USO MAIS COMUM

Camisas de manga longa, jeans, coletes e lenços coloridos no pescoço.

USO MAIS COMUM

Longa e retangular, é envolta ao redor da cabeça e presa na região dos ombros. Pode deixar pescoço e parte do cabelo à mostra.

A MAIS PEDIDA Entre os cinco véus, a al-amira é considerada a mais adequada para: HOMENS

É recorrente investir em maquiagens bem marcadas e, às vezes, coloridas.

SHAYLA

35,2%

MULHERES 40,2%

AO VENTO Mulheres não devem usar véu na opinião de libaneses: HOMENS 52% MULHERES 45%

C R I S TÃ O S ( 3 9 % D A P O P U L A Ç Ã O ) 98%

USO MAIS COMUM Duas

S U N I TA S ( 2 7 % D A P O P U L A Ç Ã O ) 26%

peças (touca e lenço). No Ocidente, é usado também com roupas coloridas.

X I I TA S ( 2 7 % D A P O P U L A Ç Ã O ) 20%

Muçulmanas mais liberais combinam a shayla com peças diferentes.

63

8

CHADOR

10

A L-A M I R A

5

S H AY L A

SEM VÉU

13

52 44

10

12 31

46

24

8

83%

87%

(HOMEM)

(MULHER)

CONTEXTO O uso do véu é limitado. Mulheres que trabalham em instituições do governo são proibidas de usá-lo.

PA Q U I S TÃ O

23

60%

81%

(HOMEM)

(MULHER)

CONTEXTO A maioria das pessoas é a favor do poder de escolha. Mas, por ser um país bastante conservador, a escolha é quase sempre pelo uso do véu.

TUNÍSIA

87%

91%

(HOMEM)

(MULHER)

CONTEXTO A polícia revista mulheres de niqab a fim de evitar ataques terroristas. Liberal, o país não proíbe nenhuma veste.

89%

92%

(HOMEM)

(MULHER)

TURQUIA

A R Á B I A S A U D I TA EGITO

3

IRAQUE

49

LÍBANO

2

17 57

3 4

P A Q U I S TÃ O

32

TURQUIA

15

TUNÍSIA

CONTEXTO Há um conservadorismo crescente. Mas o poder de escolha ganha.

FONTES Arlene Clemesha, professora de História Árabe da USP; CIA World Factbook; hananmustafa.com (blog de moda islâmica); Fernanda Kholoud, artesã da Kholoud Hijabs; The Investigative Project on Terrorism (EUA); Nasser Khazraji, representante do Centro Islâmico do Brasil; National Organization for Women Foundation (EUA); Pew Research Center (EUA); Soraya Misleh, diretora do Instituto da Cultura Árabe (ICArabe); O Significado do Véu , de Chahdortt Djavann.

Neste infográfico em formato gate folder estão os principais tipos de véus islâmicos, dando atenção a acessórios, maquiagem e outras peças de roupa. Da burca aos cabelos à mostra, a óbvia diferença visual fica ainda mais gritante quando nos damos conta de que a mesma modelo vestiu todos os véus. Não, não são mulheres diferentes. Os gráficos relatam pesquisas recentes de opinião nos principais países de maioria muçulmana sobre cada tipo de vestimenta. Os resultados mostram que, entre a proibição e a obrigação do uso, há muito o que se aprender sobre cada um desses países e, especialmente, essas mulheres. Com mais informação, há menos preconceito.

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destaques

visual

INFOGRAFIA e GRÁFICOS

ETAPAS DA PERDA

PRECISA-SE DE GUARDA-COSTAS

Por que uma lesão na coluna deixa alguém paraplégico? Porque ela pode cortar, comprimir ou danificar a medula espinhal, uma massa de tecido nervoso que conecta o cérebro ao corpo e vai da base do crânio até a segunda vértebra lombar. Todos os nossos

movimentos e sensações se originam de impulsos nervosos que partem do cérebro, são conduzidos pela medula e estimulam os músculos, conectados aos ossos e outros órgãos. No caso de uma lesão, uma ou muitas dessas funções podem ficar comprometidas. Mas é preciso um trauma de alta energia para que toda a proteção de musculatura, ligamentos e ossos seja rompida. Isso acontece com mais frequência em casos de acidentes de carro, ferimentos com armas de fogo, quedas de grandes alturas ou mergulhos em água rasa. Depois que a medula é afetada, pode levar vários meses para que se possa dizer se a lesão foi completa (com perda de movimentos e sensações abaixo do nível do trauma) ou incompleta (com preservação de certas funções motoras e sensações).

Por que uma lesão na coluna deixa alguém paraplégico?

Julia Moióli ILUSTRA Otávio Silveira DESIGN Mayra Fernandes EDIÇÃO Victor Bianchin TEXTO

Conheça as vértebras que compõem a coluna e o que fica comprometido quando elas são lesionadas

C2 Movimento de respiração (a pessoa passa a precisar de aparelhos para respirar) e todos os movimentos e funções abaixo dessa vértebra

C1 C2 C3 COLUNA CERVICAL

C6 C7

C5 Movimentos e funções abaixo da altura da escápula e dos braços

C7 Movimentos abaixo da mão e do polegar

C6 Certos movimentos nas mãos e movimentos e funções abaixo dos braços na altura do tríceps

ABAIXO DA C7 E NA T1 Movimentos de músculos torácicos e abaixo deles

T4 ENTRE T1 E T9

T5 COLUNA TORÁCICA

Movimentos de tronco, abdômen e membros inferiores (algumas pessoas conseguem realizar certos movimentos de tronco)

T6 T7

T8 T9

A coluna é formada por 33 vértebras e dividida em cinco partes: coluna cervical (sete vértebras), coluna torácica (12 vértebras), coluna lombar (cinco vértebras), coluna sacral (cinco vértebras) e coluna coccígea (quatro ou cinco vértebras)

T10

QUESTÃO DE ALTURA

T12

T11

Quanto mais alta a lesão, maior a gravidade, porque o sinal do cérebro deixa de ser enviado para os nervos das vértebras abaixo da que foi lesionada. “A medula é como um cabo de eletricidade que está levando luz para várias casas em uma rua”, afirma Luciano Miller Reis Rodrigues, ortopedista e chefe do grupo de coluna da Faculdade de Medicina do ABC. “Se romper o cabo na primeira casa, todas serão desligadas, mas se romper no meio da rua somente as do meio para o final ficarão apagadas”

L1

ENTRE T8 E T12 Em homens, ereção psicogênica (ou seja, por transmissão do pensamento erótico)

ENTRE T10 E T11

Mesmo com essa lesão, ainda pode ocorrer a ereção reflexogênica, que acontece por causa de estímulos em áreas onde há sensibilidade

Caminhar sem órteses (apoio ortopédico) na coxa

ENTRE L1 E L2 Flexão do quadril e movimentos de membros inferiores

L2 COLUNA LOMBAR

CORPO FECHADO Os tipos de paralisia causados por lesões sérias na coluna

CONSULTORIA Luciano Miller Reis Rodrigues, chefe do grupo de coluna da Faculdade de Medicina do ABC, e Rodrigo Faleiro, coordenador do Departamento de Trauma da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e do Hospital João XXIII, de Belo Horizonte FONTES apresentação Trauma Raquimedular, do dr. Antonio Eulalio, e cartilha Diretrizes de Atenção à Pessoa com Lesão Medular, do Ministério da Saúde

Movimentos e funções abaixo da altura dos braços, inclusive elevação de braço, flexão de cotovelo e rotação da escápula

T3

DE COSTA A COSTA

PARAPLEGIA Exige uma lesão completa a partir da sétima vértebra cervical. O paciente perde os movimentos e a sensibilidade nos membros inferiores TETRAPLEGIA Acontece no caso de lesão completa até a C6. O paciente tem os quatro membros paralisados. Vale dizer que danos à C5 ou C6 (lesão incompleta) podem permitir certos movimentos dos braços

C4

Movimentos e funções abaixo do ombro

T1 T2

Julia Moióli, Mayra Fernandes, Otávio Silveira e Victor Bianchin

MUNDO ESTRANHO / junho de 2014

C4 C5

C3

Movimento abaixo (e inclusive) do joelho

L4 L5 COLUNA SACRAL COLUNA COCCÍGEA

ENTRE L2 E L3

L3

S1 S2 S3 S4

L4 Flexão dorsal do tornozelo e movimentos dos pés

L5 Movimentos extensores do hálux, músculo da perna relacionado à movimentação dos dedos dos pés

S1 ENTRE S2 E S4 Ereções reflexogênicas nos homens. As psicogênicas acontecem normalmente

Funções de intestino e bexiga (varia conforme a pessoa)

Quantos ossos compõem o crânio? Marcel Nadale, Marcus Penna, Natalia Range e Thales Molina

MUNDO ESTRANHO / janeiro de 2014

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015


Mistérios milenares

MISTÉRIOS MILENARES

PIRÂMIDE DE QUÉFREN Construída por outro filho de Quéops, foi terminada em 2530 a.C. É a segunda maior de Gizé, com 143,5 m de altura, mas parece ser a mais alta porque foi construída numa área elevada. Quéfren foi o quarto faraó da quarta dinastia e dizem que a esfinge tem suas feições

Nenhuma civilização ainda causa tanto fascínio quanto a egípcia. Como um povo tão antigo conseguiu erguer pirâmides gigantescas e perfeitas? Qual era a função delas? Que segredos guarda a linguagem dos hieroglifos? A ME leva você de volta à época dos faraós para encontrar essas respostas – e outros enigmas que a ciência não solucionou TEXTO

Mar Mediterrâneo

MUNDO ESTRANHO / julho de 2014

Delta do Nilo

Gizé

Cairo

Baixo Egito

PIRÂMIDES DAS RAINHAS (CONJUNTO 2) Não se sabe ao certo quais rainhas estavam aqui. Talvez a mãe de Quéops, já que alguns de seus pertences foram achados perto da construção mais ao norte

Diogo Antonio Rodriguez Alexandre Jubran Ale Kalko Marcel Nadale

ILUSTRA DESIGN

Ale Kalko, Alexandre Jubran, Diogo Antonio Rodriguez e Marcel Nadale

GRANDE PIRÂMIDE É a principal construção de Gizé e túmulo de Quéops, segundo faraó da quarta dinastia, que reinou de 2551 a 2528 a.C. Tem 147 m de altura e foi a única das sete maravilhas da Antiguidade a sobreviver até os dias de hoje. Levou 20 anos para ficar pronta

EDIÇÃO

PIRÂMIDE-SATÉLITE Localizada ao sul da pirâmide de Quéfren, foi feita para armazenar objetos de adoração. Não sobreviveu ao tempo e hoje só sobraram suas fundações

PARAÍSO ARQUEOLÓGICO Construído 3 mil anos antes de Cristo, na margem oeste do rio Nilo, o complexo de Gizé homenageia os antepassados da nobreza. Veja como ele era no seu auge

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PIRÂMIDE DE MIQUERINOS

ESFINGE

É a menor das três pirâmides do complexo, com apenas 65 m de altura. Ali está enterrado o faraó Miquerinos, filho de Quéops, que reinou entre 18 e 28 anos. Ficou pronta em 2490 a.C.

Saiba mais sobre essa figura na página 22. Além dela, há também um templo logo ao lado, construído da mesma maneira: esculpido em rochas de calcário

PIRÂMIDES DAS RAINHAS (CONJUNTO 1)

TEMPLO DO VALE DE QUÉFREN

Estão ao sul da pirâmide de Miquerinos. Especula-se que foram feitas para abrigar as esposas dos faraós. Apesar do nome, apenas a que está no lado leste é uma pirâmide legítima, com as faces lisas. As outras são feitas de degraus

Ligado à pirâmide por uma plataforma, recebeu o corpo desse faraó antes de ele ser enviado ao seu destino final. Tinha a forma de um pátio cercado por 24 pilares organizados no eixo oeste-leste – segundo alguns historiadores, eles representavam as horas do dia

JULHO 2014

JULHO 2014

As quatro faces estão perfeitamente alinhadas com os pontos cardeais: norte, sul, leste, oeste

1. Para aplainar o terreno, os egípcios usaram um truque bem inteligente. Eles alagaram tudo e cavaram valas com a mesma profundidade no solo de calcário. Depois, drenaram a área, de modo que a água permanecesse só nos canais que haviam feito. Aí, era só guiar-se pelo nível de água na hora de cortar o “excesso” de solo

MARAVILHA DA ENGENHARIA Para erguerem seu maior símbolo há quase 5 mil anos, egípcios utilizaram milhares de pessoas – e técnicas até hoje pouco claras para a ciência

OBRA FARAÔNICA 2 MILHÕES DE BLOCOS com 2,5 TONELADAS CADA UM 20 ANOS DE CONTRUÇÃO

Entre 20 E 25 MIL

17

5b. Outra opção: a rampa realizava um zigue-zague em uma das faces. Uma vantagem era que a plataforma poderia ter a mesma inclinação, facilitando o transporte dos blocos. Além disso, ela não precisava ser refeita a toda hora e duraria até o fim da trabalheira

JUSTIÇA TRIPLA

por DENTRO dos

envolvidos

2. A maioria dos blocos foram extraídos de uma pedreira a 300 m de distância. Historiadores especulam que os operários usavam instrumentos de cobre para fazer cortes nas partes mais superficiais da rocha de calcário. Em seguida, enfiavam cunhas de madeira e as molhavam. Ela se expandia e separava um bloco do resto da pedra

5c.

Uma variante propõe uma gigantesca rampa perpendicular a uma das faces, feita de cascalho e pedra. Mas ela teria que ser encompridada (ou, em alguns casos, até reconstruída) conforme o pico fosse ganhando altura

Alças de couro

Pinos de aço inoxidável

Um bom protagonista de HQ não luta só com os punhos – ele precisa de estratégia, aliados e, claro, muita tecnologia (superpoderes também ajudam). Colocamos as garras de fora e mostramos como funcionam os maiores heróis do mundo TEXTO

Victor Bianchin

ILUSTRA

Rafael Sarmento

DESIGN

RESISTÊNCIA

Originalmente, o escudo era triangular. O formato só mudou porque uma editora rival considerou plágio de um de seus personagens e ameaçou processar a Timely (antigo nome da Marvel). Na continuidade, a explicação oficial é que o escudo foi dado de presente ao rei T’Chaka de Wakanda (pai de T’Challa, o Pantera Negra)

TRABALHADORES

Garras do Wolverine

Materiais perfurantes

Temperaturas extremas

Eletricidade

Radiação

Ácidos

Essa história foi alterada em uma minissérie de 2010, na qual o Capitão ganha um escudo circular de Azzari (avô de T’Challa)

Thales Molina

CAPITÃO AMÉRICA

18

5a. Estudiosos divergem sobre como os blocos foram levados a cada camada do prédio. É possível que houvesse uma rampa em espiral, ao longo do perímetro. Para o arquiteto francês Jean Pierre Houdin, ela era interna: imagens de microgravimetria revelaram uma espiral de maior densidade nas paredes maciças da pirâmide

4. E como os gigantescos paralelepípedos eram levados até o canteiro de obras? Uma teoria da Universidade de Amsterdã sugere que eles eram colocados individualmente sobre um trenó de madeira puxado por cordas. Para facilitar o deslizamento, a areia do trajeto era molhada, tornando a superfície mais firme

5d. E se os egípcios já tivessem elaborado uma versão rudimentar do guindaste? Certamente evitaria passar 20 anos arrastando pedras! Ele seria parecido com um sistema de gangorras e alavancas. O contrapeso poderia ser feito com sacos de areia ou até com trabalhadores pendurados

O escudo de Steve Rogers é feito de uma liga de vibranium e adamantium criada acidentalmente pelo metalúrgico Dr. Myron MacLain. Ele havia sido contratado pelo governo dos EUA para criar um material impenetrável que seria usado como revestimento de tanques de guerra. A liga metálica indestrutível nunca conseguiu ser produzida novamente

A teoria mais estranha é a do engenheiro inglês Chris Massey. Os egípcios teriam construído dutos desde o rio Nilo até cada nível da obra. Aí, amarraram os blocos a bexigas de animais cheias de ar e os flutuaram por esses canais. Isso facilitaria até o encaixe de cada peça no devido lugar JULHO 2014

PERDEU O CHAPÉU

ESCRITO NAS ESTRELAS A altura atual é 138,8 m

Em duas faces opostas (sul e norte) da pirâmide estão dois canais de ventilação. Mas múmias não precisam respirar, certo? Bom, a alma delas precisa. Esses dois túneis serviam para orientar o espírito de Quéops quando chegasse a hora de ascender às estrelas. Um estava alinhado com as estrelas polares e o outro com a constelação de Órion

A Grande Pirâmide contém mais corredores e poços que as outras. Alguns são tão estreitos que foram estudados só com câmeras robóticas

Câmara da Rainha

poço câmara subterrânea

JULHO 2014

O amigão da vizinhança criou um dos aparelhos mais revolucionários da história só com uma oficina no quarto

Botões de controle

Antes da Câmara Real existe outro “quarto”. No início das explorações arqueológicas, supôs-se que ele era reservado à esposa do faraó. Por isso, foi batizado de Câmara da Rainha. Mas não há indícios de que alguma soberana tenha sido sepultada ali. O mais provável é que abrigasse uma estátua de Quéops

A aljava dos quadrinhos varia de tamanho de acordo com o ilustrador. O padrão é que tenha 36 flechas, das quais 12 são normais e as outras customizadas para situações específicas

Bocal de Turbina giratória disparo para misturar o fluido Fiandeira (emaranha o fluido no formato de teia)

1 mm2 de teia consegue aguentar até 45 kg de massa Compartimento da bateria

Capacidade para 10 cartuchos

PRONTO PARA OUTRA

Flechas de alumínio com 3 penas

O principal corredor interno, com 46,7 m de comprimento, é chamado de Grande Galeria. Ela é até espaçosa: tem 2,1 m de largura. Aqui, foram encontradas três lajes de granito que impediam o avanço de invasores ou ladrões

templo mortuário

Formas complexas de teia, como redes, podem ter até 6 m de diâmetro

CARGA PESADA

CAMINHO BLOQUEADO

CADÊ A PATROA? canal de ventilação

Grande Galeria

Rebate com mínima perda de momento (ou seja, quase sem perder velocidade)

HOMEM-ARANHA

Nas mãos do atirador mais perigoso da Marvel, o arco e as flechas são tão destrutivos quanto qualquer superpoder

Separadores de haste

O arco do filme é retrátil. Ele se põe no formato certo com o apertar de um botão

O cinto é, basicamente, um porta-cartuchos de teia. Ele comporta até 30 unidades, que precisam ser inseridas manualmente no disparador. Na parte que seria a “fivela”, o herói costuma guardar os rastreadores em formato de aranha que joga nos inimigos

Cargas extras escondidas nas correias do uniforme

Cada cartucho contém o equivalente a cerca de 900 m de teia

MECANISMO DA FIANDEIRA

Mola de aço

DISPARADOR

Padrão de encaixe

LER PRA CRER

canal de ventilação

Mantém uma trajetória perfeita

MAIO 2014

GAVIÃO ARQUEIRO

Os barcos foram guardados porque os faraós eram enterrados com seus bens para usá-los no pós-vida

Câmara Real

20

Desliza com mínima resistência do ar

Pintura feita de esmalte especial combinado com nitreto de titânio (diminui o atrito e aumenta a dureza)

19

O teto da Câmara Real é uma grande sacada da engenharia. Blocos de granito de quase 40 toneladas compõem cinco “câmaras de alívio”. Elas dispersam o peso colossal acima delas, evitando o desabamento da estrutura. Nesses blocos foram encontradas inscrições com nomes do faraó e dos trabalhadores que ajudaram a erguer a obra

Localizada quase no centro da edificação, a Câmara Real continha a múmia e os tesouros de Quéops – todos roubados ao longo do século 20. Só o sarcófago permaneceu, porque é maior do que a entrada da câmara (veja-a ampliada à direita, no alto)

Há cinco fossos para barcos. Isso mesmo: barcos! Um deles estava quase totalmente conservado quando foi encontrado em 1954 pelo arqueólogo egípcio Kamal el Mallakh. Ele tinha 43,3 m de comprimento e serviu para trazer o corpo de Quéops até ali. Foi desmontado cuidadosamente e remontado no museu que fica ao pé da Grande Pirâmide

O QUE ELE FAZ?

Liga de vibranium e adamantium

PICHAÇÃO DAS ANTIGAS

Especula-se que, no topo, havia uma “minipirâmide”, provavelmente de ouro ou algum outro material nobre. Chamada “pyramidion”, ela era decorada com desenhos religiosos, como forma de adoração aos deuses que cuidavam da vida e da morte

QUARTO DO LÍDER GARAGEM DE NAVIOS

76,2 cm

Formato côncavo perfeitamente uniforme

18

O CAFOFO FINAL DO FARAÓ

Diâmetro de

5e.

JULHO 2014

A Grande Pirâmide foi o túmulo final de Quéops. Mas você não precisa morrer para conhecê-la por dentro

5,4 kg

de massa

MURALHA DE METAL

Além de serem arranjadas num padrão predeterminado (memorizado pelo herói), as flechas também possuem entalhes para que o herói possa reconhecer qual é qual pelo toque

corredor da procissão real do enterro

ANTESSALA DA MORTE

ELEVADOR DE SERVIÇO

Até “porão” a pirâmide tem. A câmara subterrânea estava ligada por um poço à Grande Galeria, mas nunca foi usada ou sequer terminada. Por isso, os arqueólogos não têm certeza sobre seu propósito. A melhor especulação é que seria o ambiente para o enterro do faraó

Esse poço era uma rota alternativa para os trabalhadores e sacerdotes escaparem da tumba. Eles seguiam até a câmara subterrânea e depois subiam à superfície por outra saída. Após os trabalhos, essa saída foi selada com lajes de granito

Gatilho (eletrodo ativado com toque)

O herói às vezes usa um coldre para carregar mais flechas

Antigamente, o herói usava uma roda de seleção no disparador para escolher o tipo de teia

TIPOS DE FLECHAS

O disparador consegue jogar teia a até 45 m de distância

MODOS DE DISPARO Sonora

Ponta explosiva

Bomba de fumaça

Sinalizadora

Gás lacrimogênio

Ácida

Com ventosa

Com cabo

Com massa grudenta

Bola

Elétrica

Com rede

Foguete

Bumerangue

2 TOQUES JULHO 2014

21

22

Teia longa para se balançar

1 TOQUE + 1 TOQUE LONGO Teia fluida para grudar inimigos em paredes

1 TOQUE + 1 TOQUE CONTÍNUO

Carga giratória

Algumas versões do traje possuem 30 minimísseis em cada ombro

Receptor de áudio

Antena cibernética

Hermeticamente selado, o capacete não pode ser contaminado por fumaça ou venenos. A viseira é retrátil e um processador ligado à cabeça capta os sinais do cérebro, interpreta as ordens e as repassa para o traje

TRAJE DE GALA Originalmente, a armadura era formada por uma liga de ferro e aço, com pequenas partes em tecnécio e nióbio e o revestimento em sílica fundida. Naquela época, a armadura tinha 11 camadas. Atualmente, o traje é mais simples, feito de titânio reforçado com fibra de carbono e revestimento cerâmico (usado em coletes à prova de balas e blindagem de carros)

Lente eletrostática (foca a energia do disparo)

FOGO NAS VENTAS Os repulsores ajudam na propulsão e também a manobrar durante o voo. Seu material ativo varia conforme o traje – alguns dos utilizados foram plasma, nêutrons carregados e, recentemente, múons (um tipo de subpartícula atômica)

Os pulsos da armadura são equipados com lasers de curta duração capazes de perfurar blindagens e outros tipos de proteção pesada Transdutor (transforma dados em sons)

Anel magnético (direciona o disparo)

Processador de rede neural e armazenador de dados

Microfone e modificador de voz Proteção frontal

O que o Homem de Ferro vê com sua realidade aumentada

Processador de áudio

Anel de dissipação

Base

MUNDO ESTRANHO / maio de 2014

MAIO 2014

1 4

Base de paládio em formato de donut com vácuo por dentro

3

5

2

6

Bobina eletromagnética

ASAS NOS PÉS

28

Viseira

Visor e projetor de realidade aumentada

VISÃO ALÉM DO ALCANCE

Freios

As botas são o método primário de propulsão, embora alguns modelos possuam propulsores extras nas costas. Além do modo padrão de voo, também há um modo supersônico e outro de pairar, mais econômico

23

CABEÇA DURA

O genial Tony Stark criou um traje capaz de torná-lo muito mais do que humano

Por dentro dos super-heróis

Projéteis de teia para atacar inimigos

MAIO 2014

HOMEM DE FERRO

Rafael Sarmento, Thales Molina e Victor Bianchin

SÉRIE DE TOQUES BREVES

Teia mais grossa para formar redes e carregar peso

MAIO 2014

1 As primeiras versões do traje tinham patins embutidos nas botas e um dispensador de comida no capacete

315 kg é o peso do traje

EU, ROBÔ

EXPLODE CORAÇÃO

Além de proteger o Reator Arc, o peito possui circuitos e canais que o conectam a outros pontos do traje

Instalado no peito do herói, o Reator Arc realiza a fusão fria do elemento paládio para gerar a energia que alimenta as partes-chaves do traje. Além disso, também é capaz de disparar um raio de energia (o Unibeam)

FONTES Livros Batman: The World of the Dark Knight, de Daniel Wallace, The Batman Handbook: The Ultimate Training Manual, de Scott Beatt, Iron Man Manual, de Daniel Wallace, Iron Man: The Ultimate Guide to the Armored Super Hero, de Matthew K. Manning, The Official Handbook of the Marvel Universe: Book

Lente colimadora (direciona os raios de energia para formar o Unibeam)

Velocidade

2 Leituras de

condições cardíaca e cerebral

3 Modo: voo, mira ou radar

4 Diagnóstico do

traje (destaca partes em uso ou comprometidas)

5 Status das

partes do traje

6 Status das armas

of Weapons, Hardware, and Paraphernalia, de Mark Gruenwald, e O Cavaleiro das Trevas: Apetrechos, Armas, Veículos e Documentos da Batcaverna, de Brandon T. Snider; sites CBG Xtra, Comics Alliance, Comic Book Resources, Comic Vine, Fabian Lacey, Grizzly Bomb, Marvel Wikia, Spider Fan e The Mary Sue

40

IMAGEM Reprodução/Fabian Lacey

3. Mistério: as ferramentas de cobre não conseguiriam cindir o granito, um tipo de pedra também presente em vários lugares da pirâmide. Nesse caso, seria necessário que os egípcios tivessem desenvolvido instrumentos mais resistentes. Mas eles não foram encontrados nas escavações nem são mencionados em textos antigos...

O sentinela da liberdade só precisa de um item para aterrorizar os vilões

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

MAIO 2014

29

51


visual

PRÊMIO

FOTO PRODUZIDA

Vida no campo

Debora Sene, Fabio Ishimoto, Isabel Garcia e Luiza Paschoalick ESTILO / abril de 2014

Vi da no ca mpo

Texturas românticas, comprimentos comportados, tonalidades clássicas e silhuetas com perfume vitoriano pontuam uma tendência conservadora e superfeminina. A modelo CinTiA DiCker – que neste mês faz sua estreia na novela Meu Pedacinho de Chão – entra no clima e prova como a moda pode ser pura sem ser careta.

Vestido de algodão com renda, Bottega Veneta, R$ 15 610, tel. (11) 3047 5757. Avental de algodão, AB Uniformes, R$ 36, tel. (11) 3812 0988. Chapéu de palha, Eduardo Laurino, R$ 790, tel. (11) 3083 0756. Luvas de tricô, Fit, R$ 140, tel. (11) 3088 6548. Tamancos de madeira e couro, Louis Vuitton, R$ 3 500, tel. (11) 3060 5099.

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Lenço de algodão, Rapsodia, R$ 119, tel. (11) 3152 6238. Top de seda com renda, Corporeum, R$ 480, tel. (21) 2332 2124. Estola de pelo, Mixed, R$ 1 370, tel. (21) 2422 0848. Avental de algodão, AB Uniformes, R$ 42, tel. (11) 3812 0988. Saia de algodão, Oh, Boy!, R$ 1 858, tel. (21) 2259 3628. Anel de metal com cristais, Hector Albertazzi, R$ 357, tel. (11) 2292 9178.

Top de algodão, Red Valentino, R$ 1 920, tel. (11) 3274 7890. Saia de algodão, Herchcovitch; Alexandre, R$ 2 449, tel. (11) 3063 2888. Lenço de lã, Salvatore Ferragamo, R$ 890, tel. (11) 3815 5057. Bolsa de metal e couro, Ronaldo Fraga, R$ 290, tel. (31) 3282 5379. Anel de metal com cristais, Hector Albertazzi, R$ 357, tel. (11) 2292 9178. Tamancos de madeira e couro, Louis Vuitton, R$ 3 500, tel. (11) 3060 5099.

Lenço de lã, Salvatore Ferragamo, R$ 890, tel. (11) 3815 5057. Top de seda, Gucci, R$ 1 450, tel. (11) 3097 8655. Saia de seda, Vitorino Campos, R$ 1 997, tel. (71) 3234 4196.

Vestido de tricô, Ghetz, R$ 2 970, Maria Eugênia Showroom, tel. (11) 3845 7191. Chapéu de palha, Eduardo Laurino, R$ 390, tel. (11) 3083 0756. Botas de couro, Paula Ferber, R$ 768, tel. (11) 3811 9810. Meias, Topshop, R$ 40, tel. (11) 3152 6002.

Lenço de seda, Emilio Pucci, R$ 1 220, tel. (11) 3552 2050. Top de renda, Martha Medeiros, R$ 2 980, tel. (11) 3062 7907. Saia de cetim, Dieferson Gomes, R$ 450, tel. (11) 3061 0261. Saia de jacquard usada como avental, Second Floor, R$ 690, tel. (11) 3061 2900.

Lenço de seda, B. Luxo, R$ 60, tel. (11) 3062 6479. Top de cashmere, Tory Burch, R$ 800, tel. (11) 3031 0363. Saia de tule, Emanuele Junqueira, R$ 5 600, tel. (11) 3062 4112. Estola de linho usada como avental, Zucchi, R$ 1 290, tel. (11) 3064 1033. CABELO E MAqUiAGEM: ADAL ALVES. PRODUçãO ExECUTiVA: VAnDECA ZiMMERMAnn. ASSiSTEnTES DE FOTOGRAFiA: GABRiEL BERTOnCEL E RAFAEL MUnER. TRATAMEnTO DE iMAGEnS: PATRíCiA nORT. FOTOS REALiZADAS nA FAZEnDA CAnA VERDE (FAZEnDACAnAVERDE. COM.BR).

Lenço de seda, Carolina Herrera, R$ 910, tel. (11) 3552 7777. Top de crepe, Costume, R$ 259, tel. (11) 3032 2197. Saia de lã, Tufi Duek, R$ 5 450, tel. (11) 3062 8007.

Chemise de seda, Diane von Furstenberg, R$ 1 980, tel. (11) 3034 4720. Colar de metal, Helena Bordon para Lool, R$ 398, tel. (11) 3078 8122.

Produção sofisticada que consegue transportar o leitor a uma atmosfera vitoriana lindamente fotografada.

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destaques

visual

FOTO PRODUZIDA

Musa sem limites

Bob Wolfenson, Debora Sene, Fabio Ishimoto e Paloma Vergeiro ESTILO / outubro de 2014

musa

SEM LIMITES Desejada pelos homens, querida entre as mulheres. Garota-propaganda popular, adorada por estilistas de luxo. Sexy e engraçada, inteligente e distraída, sarada e fashionista. Só mesmo Sabrina Sato é capaz de tanto. Na trilha das maiores divas pop internacionais, ela chega aos 33 anos no auge: linda, apaixonada, dona de um programa de TV e, finalmente, no controle da própria vida. POR

Calcinha e sutiã de renda, R$ 129, e camisola de cetim, R$ 159, Intimissimi, tel. (11) 3812 6290.

GIOVA NA ROM A N I FOTOS BOB WOLFENSON EDIÇÃO DE MODA FA BIO ISHIMOTO STYLING PA LOM A V ERGEIRO

Vestido de renda, organza e cristais, R.Rosner, R$ 12 000, tel. (11) 3129 5685. Brincos de ouro e diamantes, Talento, R$ 67 442, tel. (11) 3081 9000. Sandálias de couro, Christian Louboutin, R$ 4 200, tel. (11) 3032 0233.

Vestido de georgete, Carina Duek, R$ 4 450, tel. (11) 3086 1292. Casaqueto de tule e plumas, R.Rosner, R$ 4 300, tel. (11) 3129 5685. Óculos de acetato, Dior, R$ 1 710, tel. (11) 3750 4400. Brincos de ouro, diamantes, e safira, Talento, R$ 73 338, tel. (11) 3081 9000.

Vestido de tule bordado, Trinitá, R$ 7 800, tel. (11) 3063 1032. Brincos de ouro e diamantes, Talento, R$ 67 442, tel. (11) 3081 9000.

Vestido de gazar, organza e plumas, R.Rosner, R$ 9 700, tel. (11) 3129 5685. Brincos de ouro e diamantes, Talento, R$ 67 442, tel. (11) 3081 9000. Clutch de cristais, Isla, R$ 1 269, tel. (31) 2511 9881.

O

calor não quer saber de dar trégua neste fim de tarde paulistano. Sabrina Sato está de roupão branco na sala de jantar do dúplex em que mora, no bairro de Perdizes. Sobre a mesa, dezenas de pincéis, sombras e batons ajudam o maquiador Markito Costa a deixar a musa de olhos puxados ainda mais bonita. “Sou igual travesti: quanto mais make, melhor”, diz ela, antes de soltar uma gargalhada (a primeira de muitas). Na casa dos 30 oC, a temperatura começa a diminuir lentamente ao escurecer. Está aí o cenário perfeito para a chegada de um intruso. Um não, vários. “Gente, olha quanto bichinho no lustre! Vocês não têm noção do que vai virar isso aqui. Já gravei até um vídeo do ataque de mosquitos”, conta. Apagadas as luzes e contornada a situação, Sabrina discorre sem cerimônias sobre a cirurgia a que se submetera uma semana antes para trocar as próteses de silicone dos seios. “Fiquei inchada, mas não doeu nada. Três dias depois, já estava na Beauty Fair, no meio da multidão. Olha aqui a foto, que engraçada!” A imagem do iPhone mostra Sabrina, de jeans de cintura alta e top estampado, nos corredores da maior feira de beleza do país, cercada por 15 seguranças e centenas de fãs. Muito apegada ao celular, ela vive enviando fotos e vídeos para os amigos pelo WhatsApp. “Você já viu eu criança? Olha só.” E lá vai ela apertar o play para rir sem parar ao assistir à cantoria de uma menininha oriental em um programa da TV japonesa. Espontânea, engraçada, do bem. Todo mundo adoraria ter Sabrina como amiga. Porque ela é assim, gente como a gente. É? Bem, nem tanto. Após assinar um contrato milionário com a Rede Record, ela comanda há cinco meses sua própria atração na emissora, o Programa da Sabrina, que vai ao ar nas noites de sábado e mantém a vice-liderança da audiência no horário (no mês de agosto, alcançou a média de 7 pontos no Ibope). Seus rendimentos também não são iguais ao da maioria de nós. Estima-se que a estrela receba cerca de 1 milhão de reais por campanha publicitária (atualmente ela empresta sua imagem para 13 marcas e ainda possui sete produtos licenciados). Sabrina tem acesso às

grifes mais desejadas do planeta (Givenchy, Louis Vuitton e Azzedine Alaïa, só para citar algumas) e, na maior parte do tempo, só sai de casa acompanhada por um pequeno entourage, composto de assessor, personal stylist, maquiador e empresária, sem contar os assistentes deles. Apesar do carisma e da naturalidade, Sabrina está mais para diva tipo Beyoncé, Rihanna e J. Lo do que para mulher real. Para se ter uma ideia, no primeiro semestre deste ano, ela foi a segunda celebridade com maior exposição na mídia brasileira (perdeu apenas para Bruna Marquezine). Segundo pesquisa da consultoria Orbiit, especializada na análise de imagem das celebridades, a estrela da Record obteve 157,9 milhões de pageviews e apareceu em 2 595 reportagens. “Ela conversa com todos os públicos e passa muita verdade”, afirma a empresária Cristiana Arcangeli, que apostou em Sabrina para estrelar o primeiro comercial de sua marca de alimentos funcionais, a Beauty’In. A musa oriental estrela propagandas de gigantes como C&A, Procter & Gamble, Ambev e Sawary Jeans e cede seu nome para esmaltes da Beauty Color, maquiagem da Yes Cosmetics e calçados da Lilly’s Closet, entre outros. “Eu participo bastante da criação”, diz Sabrina. “Salvo várias referências para dar ideias de sapatos, só que da última vez precisei diminuir os saltos porque o pessoal do comercial achou meio exagerados.” Nem precisa dizer que Sabrina Sato e exuberância são expressões complementares. A bela de corpo sarado não tem medo de ousar, aparecer e se divertir com a moda. Por esse motivo transita com tamanha desenvoltura entre o popular e o luxo, o fast fashion e a alta-costura. “Adoro o jeito fantasiado com que a Anna dello Russo se veste. Acho que a roupa traz vida para a vida, entendeu?” Riccardo Tisci, o todo-poderoso da Givenchy, entendeu direitinho. Tanto que, no início do ano, procurou Sabrina se oferecendo para vesti-la para a edição paulistana do baile da amfAR. Ela, claro, aceitou. Por sugestão do estilista, tingiu o cabelo de castanho, vestiu um longo preto de mangas longas sem decote e acabou virando o comentário da noite, que contava com estrelas do porte de Kate Moss, Naomi Campbell e Sharon Stone. Eis a prova definitiva de que a ex-BBB virou um ícone fashion e superou há tempos o combo saia jeans + plataforma com que despontou para a fama 11 anos atrás. A paixão por moda vem da infância – a mãe, Kika, é dona de uma multimarcas em Penápolis, cidade natal da família no interior de São Paulo. Mas a imagem sexy e sofisticada

“Eu me divirto com a moda. Adoro quem se veste de um jeito meio fantasiado. A roupa traz cor, alegria. Traz vida para a vida, entendeu?”

Vestido de paetês, Bo.Bô, R$ 5 398, tel. (11) 3062 8145. Anel de prata, Kalu Joias, R$ 389, tel. (11) 5181 2938. Sandálias de couro, Christian Louboutin, R$ 4 200, tel. (11) 3032 0233. Sandálias de verniz, Gucci, R$ 3 700, tel. (11) 3552 6260.

Estilo de Vida / InSt yle OUTU BRO 2014

atual foi montada ao longo da última década com a ajuda do stylist Yan Acioli, cuja primeira cliente foi Sabrina e hoje trabalha também com Carolina Dieckmann e Carolina Ferraz, além de outras globais poderosas. Sabrina decidiu investir no visual assim que estreou no programa Pânico na TV, em 2003. Nem de longe vivia a bonança financeira de hoje, mas gastou o que tinha e o que não tinha para contratar um personal stylist. Vindo de Brasília, Yan também estava começando e descobriu junto com sua musa e amiga como criar uma identidade de moda forte. “Sempre quis colocar a personalidade da Sabrina nos looks”, diz ele. “Nossa fórmula é unir o que gostamos com o que é moda.” E há uma década vem sendo assim: Yan a veste para shows, eventos, reportagens externas e palco. Para as primeiras exibições do Programa da Sabrina, conseguiu que dez estilistas brasileiros criassem modelos exclusivos para a apresentadora. Teve vestido bordado Patrícia Bonaldi, túnica transparente Martha Medeiros, saia mídi e top cropped Alexandre Herchcovitch, macacão Dudu Bertholini... “Sabrina é exigente e quer sempre se superar”, afirma Yan. (É verdade: no dia da entrevista, enquanto estava sendo maquiada para ir ao show do cantor Leonardo, quis trocar de cílios postiços porque acha feio quando a cola fica um pouquinho aparente e preferiu ela mesma arrumar as sobrancelhas). As produções fashionistas acabam sendo aliadas no palco e deixam Sabrina mais segura para encarar a responsabilidade de dar certo sozinha. Antes da estreia na Record, a apresentadora dedicou-se com afinco à missão de evoluir profissionalmente. Passou a se consultar com uma fonoaudióloga para falar devagar e perder o tom infantil da voz. E resolveu encarar o curso da preparadora

de elenco Fátima Toledo, famosa por seu estilo linha-dura e por trabalhar com emoções profundas. “Acho importante não ter medo de tirar as máscaras que criamos para nós. Como apresentadora, preciso buscar dentro de mim um lado diferente”, acredita Sabrina. “Nem sempre vou poder ser engraçada e brincalhona. Tenho que aprender a falar sério e, por vergonha, acabo escondendo isso. Agora consigo me abrir e me aceitar melhor.” A terapia, que ela faz há anos com alguns períodos de “férias”, também a ajudou a ter uma postura mais adulta em relação à vida. “Com a análise, vi que aos 30 e poucos anos ainda era muito dependente de todo mundo. Hoje faço minhas escolhas, controlo meu tempo e sou dona da minha vida.” Para viver leve e feliz, ela conta com a companhia constante do namorado, o publicitário João Vicente de Castro, um dos criadores do canal de humor Porta dos Fundos, e com a mãozinha dos irmãos Karina e Karin, que cuidam dos contratos, dos negócios e do dinheiro. O que tratamento de choque nenhum mudou foram a hiperatividade e a capacidade de Sabrina de fazer um milhão de coisas ao mesmo tempo. Por exemplo, para manter o corpão sarado, ela vai à academia duas vezes por semana, durante uma hora, e nesse período consegue se revezar entre seus dois personal trainers – Rodrigo Ruiz, especialista em muay thai e jiu-jítsu, e Marcio Lui, responsável pela parte de funcional e musculação. “Faço tipo uma gincana”, conta. A essa altura, a musa já está maquiada, penteada e pronta para brilhar. Ela se despede, não sem antes mostrar mais um videozinho no Youtube. Na tela, uma senhora distinta ensina peripécias sexuais a uma plateia feminina usando termos de fazer corar até Sabrina Sato. A musa rola de rir e quase convence que é gente como a gente. Quase. n

a TURMA DE SABRINA

Diva que se preza vive cercada de pessoas animadas e ponta firme. É o caso da apresentadora da Record, que une trabalho, amizade e diversão em tudo o que faz.

O NAMORADO Juntos há um ano e meio, Sabrina e João Vicente namoram entre Rio (cidade dele) e São Paulo (onde ela vive).

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A IRMÃ EMPRESÁRIA Karina Sato cuida dos contratos e dos rumos da carreira da caçula. “Eu não seria nada nesta vida sem ela”, diz Sabrina.

O PERSONAL STYLIST “A única forma de não gostar da Sabrina é não a conhecendo”, afirma Yan Acioli, stylist e melhor amigo há dez anos.

Es tilo de Vida / InSt yle OUTU B RO 2014

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O ASSISTENTE PESSOAL Ronny Macedo acompanha a estrela 24 horas. Ela ainda conta com três maquiadores, que se revezam para atendê-la.

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Vestido de renda, organza e cristais, R.Rosner, R$ 8 300, tel. (11) 3129 5685. Brincos de ouro, diamantes e turmalina Paraíba, Talento, R$ 136 446, tel. (11) 3081 9000. CABELO E MAQUIAGEM: HENRIQUE MARTINS (CAPA MGT). PRODUÇÃO EXECUTIVA: VANDECA ZIMMERMANN. ASSISTENTE DE CABELO E MAQUIAGEM: RICARDO VIEIRA. ASSISTENTES DE FOTOGRAFIA: PEDRO BONACINA, RENATA TEREPINS, ADRIANO GONFIANTINI, GABRIEL CICCONI E AÉCIO AMARAL. MANICURE: AMARA CONCEIÇÃO. PRODUÇÃO DE MODA MASCULINA: CUCA ELLIAS. MODELOS: ALVARO CASAVECHIA (ELO MANAGEMENT), LUAN BUETTGEN (MEGA MODELS), ADRIANO RUCHINSKI (ROCK MGT). BOLO: ISABELLA SUPLICY. CARROS: JAGUAR LAND ROVER. FOTOS REALIZADAS NO HOTEL MAKSOUD PLAZA, TEL. (11) 3145 8000, MAKSOUD.COM.BR.

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015


Perfume de verão

Bruna Santos Bittencourt Silva, Carlos Bessa, Mônica Tagliapietra e Priscila Seirio Helfer

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PERFUME DE VERÃO NOSSA SELEÇÃO DE FRAGRÂNCIAS PARA A NOVA TEMPORADA INCLUI DAS MAIS ENCORPADAS – MAS, AINDA ASSIM, ADEQUADAS AO CALOR – ÀS FLORAIS E ÀS FRESCAS. UMA É A SUA CARA

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CLAUDIA / novembro de 2014

B RU N A B I T T E N C O U RT

fotos CA R LOS

B E SSA

florais que encantam 1 ENDLESS EUPHORIA, CALVIN KLEIN, R$ 366 (75 ml). A nova versão desse floral frutado é mais alegre e vibrante graças às notas de mandarina, violeta, flor de cerejeira e bambu.

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2 MYNY, DKNY, R$ 249 (50 ml). O frasco em forma de coração com tampa que alude a arranha-céus já dá a dica: o perfume de pegada urbana, que combina framboesa, lírio e gálbano, é uma homenagem a Nova York. 3 NARCISO RODRIGUEZ FOR HER, R$ 479 (75 ml). A edição de Natal traz borrifador e composição mais suave, agora com notas de rosa e polpa de pêssego. 4 LUMIÈRE ROSE, PARFUM GRÈS, R$ 279,90 (100 ml). Um buquê de violeta, rosa e flor de laranjeira compõe esse perfume chique e elegante. 5 LA VIE EST BELLE L’EAU DE TOILETTE, LANCÔME, R$ 309 (50 ml). O aroma adocicado, com notas de algodão-doce, pralinê e baunilha, ganha o reforço da magnólia e da íris branca – e é ideal para quem gosta de fragrâncias marcantes.

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CLAUDIA

OUTUBRO 2014

NOVEMBRO 2014

CLAUDIA

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clássicos marcantes

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1 TERRACOTTA LE PARFUM, GUERLAIN, R$ 200 (75 ml). Sofisticada, a fragrância celebra os 30 anos do famoso pó bronzant da marca. Leva bergamota, coco, jasmim e flor de tiaré (espécie de gardênia).

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2 LADY MILLION EAU MY GOLD!, PACO RABANNE, R$ 269 (50 ml). Sensual, essa reinterpretação do perfume original ganhou notas de manga e pomelo. 3 MANISFESTO L’ECLAT, YVES SAINT LAURENT, R$ 349 (50 ml). Jasmim, frésia, broto de groselha e flor de néroli compõem o perfume de aroma suntuoso.

frescos para o dia

4 FAN DI FENDI LEATHER ESSENCE, FENDI R$ 182 (75 ml). É um tributo à principal matériaprima da marca: o couro, que aparece aqui com incenso, rosa-damascena e tangerina da Sicília.

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1 BORN IN PARADISE, ESCADA, R$ 199 (100 ml). Inspirado no famoso drinque piña colada, traz notas de frutas tropicais, como abacaxi, goiaba e melancia. Para quem gosta de aromas mais exóticos.

5 J’ADORE L’OR, DIOR, R$ 459 (40 ml). Desta vez, o perfume ganha toque oriental. Rosa-de-maio, jasmim de grasse e fava tonka, em altas concentrações, garantem aroma encorpado.

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2 CARVEN L’EAU DE TOILETTE, CARVEN, R$ 244 (50 ml). O perfume floral chega mais suave ainda, já que o jasmim e o ilangue-ilangue dão lugar ao jacinto branco, ao limão-italiano e ao pêssego.

3 ESCAPE TO PANAREA LIGHT BLUE, DOLCE&GABANNA, R$ 280 (50 ml). A nova versão mistura as notas frutadas de bergamota da Calábria e de pera com a exuberância do jasmim noturno e a sobriedade do feijão tonka. É uma fragrância para não passar despercebida.

PRODUÇÃO Mônica Tagliapietra/ PREÇOS PESQUISADOS EM OUTUBRO, SUJEITOS A ALTERAÇÃO. CONFIRME NA LOJA ANTES DE COMPRAR

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4 CATCH ME L’EAU, CACHAREL, R$ 219 (50 ml). Levinho e jovem, combina notas de mandarina, flor de laranjeira e anis-estrelado. 5 L’EAU D’ISSEY LOTUS, ISSEY MYIAKE, R$ 219 (50 ml). Refinado, tem a flor de lótus como ingredientechave, aliada ao jasmim árabe e ao jacinto. 106

Cascas grossas Gabriel Uchida

CLAUDIA

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OUTUBRO 2014

NOVEMBRO 2014

Gabriel Uchida fotografou as expressões na pele dos mais temidos líderes das torcidas organizadas paulistas. O rosto? Eles não querem mostrar placar .com . br janeiro 2014

Viajou o mundo pela torcida, mas corre da imprensa. Esteve no Japão em 2005 e viu o São paulo campeão mundial. Tem um desafio: fechar o corpo — mas só de tatuagens.

placar .com . br janeiro 2014

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CLAUDIA

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a paixão pelo palmeiras quase valeu a vida de a.a.G. Foi em um jogo contra o botafogo, em ribeirão preto. “Tomei uma paulada na cabeça que quase me matou.”

pl aca r.com.br janeiro 2014

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“Um dos pontos da negociação foi que seriam apenas fotos, sem entrevista, nome nem nada”, diz Uchida. Daí m.b., da camisa 12, também não querer papo com a placar. .

T.o.S. Independente

OUTUBRO 2014

NOVEMBRO 2014

a.a.G. TUP

m.b. Camisa 12

F.c. Torcida Jovem

CLAUDIA

“No encontro com eles, conversamos coisas do dia a dia — tatuagens e futebol. aquelas coisas de ‘como vai seu corinthians’”, diz Uchida. D.b. não quis papo com a placar.

Cascas grossas

Fez a primeira tatuagem do peixe com 15 anos. após a conquista da libertadores de 2011, na qual esteve presente nos 14 jogos, tatuou todos os troféus dos títulos santistas no peito.

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D.b. Gaviões

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p l acar .co m . br janeiro 2014

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imagens da placar

PLACAR / janeiro de 2014

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CLAUDIA

De calcanhar, de ombro, de peito.

J.c.S. Mancha

“Não falo com a imprensa”, disse. o pedido de prisão temporária, pela Delegacia de crimes raciais e Delitos de Intolerância, deixou o torcedor cabreiro.

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placar .com . br janeiro 2014

pl aca r.com.br janeiro 2014

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PRÊMIO

ENSAIO FOTOGRÁFICO

vejario.com.br

o

parte integrante de veja ano 47 - n 50 não pode ser vendida separadamente

10 de dezembro de 2014

FÁTIMA BERNARDES

RENATO ARAGÃO

CarioCas do ano As personalidades que brilharam em 2014

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CAROL SAMPAIO

MARCO NANINI

MATHEUS SANTANA

ALICE CAYMMI

ELES BRILHARAM EM 2014

PAULO NIEMEYER FILHO

VEJA RIO selecionou doze personalidades que se destacaram neste ano, gente que enche de orgulho os cariocas e a cidade Bruna Marquezine, Marco Nanini, Renato Aragão, Fátima Bernardes e Patrícia Pillar

A partir da esquerda, Renata Cordeiro Guerra, Emilio Kalil, Paulo Niemeyer Filho (sentado), Alice Caymmi, Flávio Augusto da Silva, Carol Sampaio (sentada) e Matheus Santana

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

Cariocas do ano

Daniela Arend e Leo Aversa

Leo AversA (assistente Lucca Miranda) FOTOS

PRODUÇÃO DAnieLA ArenD (assistentes Isabela Sodré e Isadora Guimarães)

EMILIO KALIL

BRUNA MARQUEZINE

PATRICIA PILLAR

BELEZA

Brenno MeLo

RENATA CORDEIRO GUERRA

FLÁVIO AUGUSTO DA SILVA

VEJA RIO / dezembro de 2014


Ensaio com doze personagens relevantes para a cidade do Rio de Janeiro. A combinação da produção exímia de figurino de Daniela Arend e da sensibilidade do olhar do fotógrafo Leo Aversa trouxe um resultado sem igual para a edição especial.

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destaques

ENSAIO FOTOGRÁFICO

Cascas grossas Gabriel Uchida

PLACAR / janeiro de 2014 imagens da placar D.b. Gaviões

“No encontro com eles, conversamos coisas do dia a dia — tatuagens e futebol. aquelas coisas de ‘como vai seu corinthians’”, diz Uchida. D.b. não quis papo com a placar.

Cascas grossas Gabriel Uchida fotografou as expressões na pele dos mais temidos líderes das torcidas organizadas paulistas. O rosto? Eles não querem mostrar

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a.a.G. TUP

a paixão pelo palmeiras quase valeu a vida de a.a.G. Foi em um jogo contra o botafogo, em ribeirão preto. “Tomei uma paulada na cabeça que quase me matou.”

placar .com . br janeiro 2014

F.c. Torcida Jovem

Fez a primeira tatuagem do peixe com 15 anos. após a conquista da libertadores de 2011, na qual esteve presente nos 14 jogos, tatuou todos os troféus dos títulos santistas no peito.

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T.o.S. Independente

Viajou o mundo pela torcida, mas corre da imprensa. Esteve no Japão em 2005 e viu o São paulo campeão mundial. Tem um desafio: fechar o corpo — mas só de tatuagens.

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m.b. Camisa 12

“Um dos pontos da negociação foi que seriam apenas fotos, sem entrevista, nome nem nada”, diz Uchida. Daí m.b., da camisa 12, também não querer papo com a placar. .

J.c.S. Mancha

“Não falo com a imprensa”, disse. o pedido de prisão temporária, pela Delegacia de crimes raciais e Delitos de Intolerância, deixou o torcedor cabreiro.

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p l acar .co m . br janeiro 2014

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De calcanhar, de ombro, de peito.


O cobre e a madeira

Deborah Apsan e Victor Affaro

ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO / novembro de 2014 O cObre e a madeira

A potência deste projeto no interior de São Paulo, vencedor da categoria Casa de Campo do sétimo prêmio O Melhor da Arquitetura, vem da interação entre esses dois elementos naturais

Por Deborah apsan (visual) e Marianne Wenzel (texto) Projeto de ArquiteturA bernarDes arquitetura Projeto de interiores CsDa Fotos viCtor affaro

A disposição perpendicular dos pavilhões consegue a melhor insolação para a ala dos quartos, voltados para o norte (na foto, as venezianas de madeira deles estão completamente fechadas), e a vista mais bonita para a área social. 66 ArquiteturA & Construção novembro 2014

novembro 2014 ArquiteturA & Construção

de 1,48 x 4,10 m, os brises pivotantes de cobre oxidado (n. didini) são tão gigantes como delgados e leves: têm apenas 1,5 cm de espessura e pesam 90 kg cada um. se o sol da tarde incomodar quem estiver na varanda, basta girá-los.

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os painéis possuem estrutura de alumínio e recheio de osB (LP Brasil). Lambris de cobre, em chapas de 4 mm, dão acabamento às duas faces. “usamos a versão sólida, e não a laminada, para evitar que a superfície ondulasse devido às grandes dimensões da peça”, diz rafael Coelho, diretor comercial da n. didini.

novembro 2014 ArquiteturA & Construção

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no bloco social, a estrutura (ita Construtora) emprega madeira laminada colada (MLC), e o piso, granito serrado (di Mármore). “esta é uma pedra comum, mas prefiro usar seu verso em vez da superfície polida. ela reveste até a piscina”, diz o arquiteto.

N

te do concreto que desenha o bloco dos quartos”, explica Thiago. “Acabou virando um elemento marcante da casa. Não é só estética, porém. O cobre cumpre uma função muito séria”, afirma. Sim, o metal viabilizou a solução para a fachada que integra a residência ao jardim, à paisagem. O diálogo entre duas estruturas – a de concreto, na área íntima, e a de madeira, na social – surge como outro importante personagem desta história. A segunda, trabalho do engenheiro Hélio Olga, apoia-se na primeira por meio de apenas uma viga. Aberta e vazada, ela origina uma grande varanda. Já a outra se mostra mais fechada, contida. “Isso marca a distinção de usos, e você sente isso, percebe as temperaturas, a diferença de pé-direito. Você vive”, fala Thiago. Ele conta ter aprendido com Hélio, parceiro em muitos trabalhos, que a substituição de um ou outro elemento estrutural é esperada: “Sempre haverá uma peça mais exposta para proteger as demais. Os pescadores sabem disso. Eles constroem com pau do mato sabendo que a madeira envelhecerá e trocam conforme a necessidade. É algo vivo”. Vida, longevidade, beleza. Temas tão humanos e presentes neste projeto. Ainda bem.

a literatura, o cobre azinhavrado costuma aparecer em contextos que sugerem modéstia. O castiçal torto de cobre azinhavrado de Cora Coralina, o vintém azinhavrado de Álvares de Azevedo, a pérola engastada em cobre azinhavrado e vulgar de Machado de Assis. Objetos tão gastos que seu tom avermelhado original foi tomado pelo verde, sinal inequívoco da idade e do uso. Presente em const r uçõ es desde a Id a de Média, esse metal muda mesmo de tonalidade com o tempo. O marrom dá lugar ao preto, e a cor entre o esmeralda e o turquesa demora, pelo menos, 25 anos para aparecer. É a oxidação natural, que em nada prejudica a durabilidade e a resistência do material. Num condomínio no interior de São Paulo, o projeto assinado pelo arquiteto carioca Thiago Bernardes faz uma leitura mais nobre do cobre envelhecido. Aqui, essa aparência foi desejada, intencional, pelo contraste que ofereceria em relação à madeira e por se adequar aos enormes quebra-sóis da sala-varanda – local abençoado pela melhor vista do terreno, mas castigado pela pior insolação. Leves, fortes e bonitas, as chapas se provaram a alternativa perfeita para compor os brises. “Elas também revestem par-

“Gosto muito do conceito da estrutura de madeira vazada, aberta, formando uma Grande varanda”

Feito pelo arquiteto durante a entrevista, o croqui mostra a posição da casa no terreno.

thiago bernarDes, arquiteto

70 ArquiteturA & Construção novembro 2014

na fronteira com a varanda e atrás dos brises, portas corrediças envidraçadas (com esquadrias de freijó da oficina de Marcenaria) podem isolar o estar nos dias de frio ou muito vento. À esq., na foto, vê-se a grande caixa que concentra a churrasqueira e os equipamentos da cozinha gourmet – solução que integra o projeto de interiores de denise Abdalla e Christiane sacco, do escritório CsdA. 72 ArquiteturA & Construção novembro 2014

novembro 2014 ArquiteturA & Construção

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“eu nunca tinha usado o cobre desta forma. acabou sendo uma solução surpreendente. o tom dele deu muito certo com a madeira” thiago bernarDes, arquiteto

envelheCiMento preCoCe os lambris de cobre oxidado foram fornecidos pela n. didini, empresa que adquiriu no Chile a fórmula dos produtos químicos necessários para acelerar a transformação do metal por meio de um complexo processo realizado em estufa. Com isso, o prazo do envelhecimento natural de 25 anos se reduz a 15 dias.

Atrás da pérgula junto à piscina fica o acesso ao subsolo, que oferece área de apoio aos banhistas e abriga toda a parte de serviço. não se trata de um pavimento enterrado: ele acompanha o declive do terreno. novembro 2014 ArquiteturA & Construção

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acima: voltada para o acesso dos carros, a fachada do pavilhão íntimo é cega. abaixo: embora estejam próximos da área social, os quartos mantêm sua privacidade graças à ligeira elevação (40 cm) quanto ao jardim. “isso desestimula a circulação por ali”, explica o arquiteto.

Ao lado da rua, esta parte da residência não tem janelas – apenas o rasgo de quase 20 m que percorre estar, sala de jantar e cozinha. Aqui, o paisagismo ajuda a resguardar os ambientes. 76 ArquiteturA & Construção novembro 2014

novembro 2014 ArquiteturA & Construção

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o Desafio Da Curva o formato do terreno, perto de uma espécie de rotatória, e a insolação exigiram uma implantação engenhosa para aproveitar bem a área, resguardar a casa da rua e obter a luz certa para os quartos

3

sala íntiMa 4 x 4,80 m

Cozinha

5,60 x 4,80 m

2 suíte

1

8x4m

salas De estar e De jantar

pisCina

14 x 8 m

suíte

8x4m

1

suíte

8x4m

aDiante, só o jarDiM embora o proprietário tenha comprado dois lotes, a morada se concentra em apenas um deles. o outro, à frente da piscina, foi dedicado ao paisagismo.

suíte

ban.

8x4m

varanDa 8x8m

3,60 x 2m

quarto 6x4m

quarto lavan.

6 x 3,20 m

térreo: 460 m2

sala quarto quarto sala De jogos 10 x 8 m

spa sala De estar vestiÁrio

3

laDo seM janelas esta é a fachada que se volta para a rua. também revestida de cobre, exibe apenas o longo rasgo horizontal.

2

Área téCniCa

N Área: 910 M²; Construção: ALL’e engenhAriA; luMinotéCniCa: Light works; paisagisMo: M A ri A joão d’ore y

78 ArquiteturA & Construção novembro 2014

ilustrações: campoy estúdio

8x8m

paviMento inferior: 312 m2

ChegaDa DisCreta Parte da estrutura de madeira, esta pérgula perfaz o abrigo para os carros.

“a vista boa é para o lado do quente sol da tarde. esse tipo de problema costuma Gerar uma arquitetura interessante” thiago bernarDes arquiteto novembro 2014 ArquiteturA & Construção

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destaques

visual

ENSAIO FOTOGRÁFICO

Japa girl

Beatriz Souza Liranço, Cecília Macedo, Fabiana Moritz, Fernando Ramos, Fred Othero, Maira Miranda Filogonio, Marisa Tomas, Nelson Eufrácio e Paula Carvalho PLAYBOY / setembro de 2014

E

e curvas bem dona de traços nipônicos inoue é uma estrela natalia ocidente brasileiras, nossa eo entre o oriente mistura perfeita

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m 1945, os avós de Natalia Inoue saíram da pequena Saga, no sul do Japão, a caminho do Brasil. Aqui fizeram um lar no bairro paulistano da Liberdade, tradicional reduto da comunidade nipônica no país. Quase sete décadas depois, ela volta ao lugar que acolheu seus avós para mostrar toda a sua beleza oriental. Natalia nasceu no Rio de Janeiro e ainda bem pequena foi para Los Angeles. Aos 13 anos, para nossa felicidade, ela voltou. Formada em balé clássico pela Royal Academy of Dance de Londres, ganhou admiradores enquanto dançava no palco do programa Superpop, da RedeTV!. Não à toa, entrou no reality show A Fazenda, o que fez com que o país todo conhecesse suas belas curvas e seus olhos puxados. Aos 27 anos e dona de um corpo escultural, Natalia foi musa da Portela no Carnaval passado. Parece difícil de acreditar, mas ela diz que ainda mudaria algumas coisas em seu corpo. Sobre suas qualidades, não deixa de dizer entre risadas: “Adoro minhas pernas e meu bumbum. Ser uma japonesa popozuda é um privilégio!” Sobre o futuro, ela faz segredo, mas garante que está envolvida em um projeto surpresa. Estamos ansiosos. nathalia giordano


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PRÊMIO

FOTOJORNALISMO

A sucessora

Jefferson Coppola

VEJA / agosto de 2014

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Marina Silva clicada por Jefferson Coppola horas após o acidente aéreo que matou Eduardo Campos: nascia uma candidata cujas ideias eram pouco conhecidas pela maioria dos eleitores, embora já tivesse disputado uma eleição presidencial. Ao longo da campanha, Marina, de turva, foi sendo paulatinamente desconstruída – e derreteu.


destaques

Praia do medo Daniel Botelho

NATIONAL GEOGRAPHIC / abril de 2014

Praia do MEDO O surto de ataques de tubarão no Recife é histórico. Cientistas descobriram as causas. Então por que pessoas continuam a morrer?

Um tubarão-galha-preta nada ao largo da orla urbana perto da capital de Pernambuco. A espécie é uma das suspeitas de atacar seres humanos na área. DANIEL BOTELHO

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POR THIAGO MEDAGLIA FOTOS DE DANIEL BOTELHO E FÁBIO NASCIMENTO

P

és descalços na areia, um casal caminha de mãos dadas à beira-mar. Uma família aproveita o banho nas piscinas naturais. Garotos jogam bola despreocupados. Eis um dia típico na praia de Boa Viagem, cartão-postal do Recife. Essas pessoas nem desconfiam, mas olhos atentos acompanham seus passos. E o perigo espreita mar adentro. Do interior de um posto salva-vidas, um bombeiro opera o sistema de videomonitoramento. Duas telas de computador exibem a movimentação na praia. Juntas, as câmeras dos 11 postos cobrem todo o perímetro da orla urbana. São 9,5 quilômetros de praia monitorados pelos olhos eletrônicos do Grupamento de Bombeiros Marítimo (Gbmar), parte de um novo, caro e moderno aparato de segurança implantado pelo governo de Pernambuco. Com o uso da tecnologia, as autoridades pretendem minimizar a ocorrência de furtos, casos de crianças perdidas, afogamentos e os eventuais encontros com tubarões. Contudo, no dia 22 de julho de 2013, o sistema de monitoramento, em vez de disseminar a calmaria, materializa o pavor. Um ataque de tubarão a um ser humano é filmado. O zoom da câmera vai longe o suficiente para gravar os momentos de pânico vivenciados por Bruna Gobbi, turista paulista de 18 anos de idade. Levada pelo mar, Bruna ergue os braços em um pedido de socorro. Os bombeiros, que mais cedo haviam alertado a garota sobre a correnteza, nadam em sua direção, mas, antes de chegarem, uma enorme bolha de sangue surge na superfície da água. Os salva-vidas a alcançam de jet-ski. Na areia, a filmagem é feita pelas câmeras dos telefones celulares dos veranistas. Em questão de horas, a cena da perna esquerda de Bruna, dilacerada e com o osso da tíbia exposto, roda o mundo via internet.

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Os salva-vidas do Recife (à direita, embaixo) treinam apenas em piscinas. Em 2004, Thiago Augusto (à direita) perdeu a perna em um ataque em uma praia não monitorada pelo Corpo de Bombeiros. Com uma prótese, ele voltou a surfar.

Para piorar, apesar do ato heroico, o atendimento dos bombeiros recebeu críticas de especialistas. Um torniquete deveria ter sido feito na perna de Bruna e seus membros colocados para cima, de forma que o sangue restante fosse para a cabeça e o coração. A jovem morre no hospital. s tubarões sempre povoaram o imaginário do ser humano. Grandes espécies, como o branco e o tigre, são capazes de matar uma pessoa com apenas uma mordida. A verdade é que, ao sermos surpreendidos por ferozes predadores, nosso cérebro desenvolvido pouco pode fazer pela preservação de nosso físico frágil, sejam eles tubarões ou onças-pintadas. Peles espessas, força bruta e dentes afiados tornam o embate desigual. No mar, há ainda outro agravante. “Temos a tendência de encarar a praia como uma extensão da

O

nat i ona l g e o g r a ph i c • a b ri l 2 0 1 4

t u ba rõe s

FOTOS DE FÁBIO NASCIMENTO

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Onças d’água

Luciano Candisani

NATIONAL GEOGRAPHIC / novembro de 2014

Onças d’água Na Amazônia, quando o rio inunda a várzea, os maiores felinos das Américas deixam de ser animais terrestres.

No alto das árvores, as onças-pintadas caçam, alimentam seus filhotes, dormem – e de lá saem nadando quando precisam explorar outras partes de seu território na Reserva Mamirauá. 83

os pesquisadores descobriram seu alimento predileto: o bicho-preguiça. Ele se move lentamente nos mesmos topos de árvores e divide a preferência no cardápio com outra iguaria, o jacaretinga. Durante a cheia, quando os jacarés estão mais espalhados e escondidos na água, as onças complementam sua dieta com o macaco guariba. Nessa época, o primata mora ao lado do inimigo felino que está no topo da cadeia alimentar. O tamanho da presa ajuda a explicar por que as onças do Pantanal pesam o dobro das parentes amazônicas, que são menores e não costumam ter mais que 60 quilos. Na planície pantaneira, o menu mais farto inclui capivaras, queixadas e porcos monteiros – bichos terrestres que nem sequer existem em Mamirauá justamente porque não têm para onde correr (ou onde se pendurar) quando as águas encharcam tudo. Além da descoberta científica inédita, o comportamento inusitado das onças de Mamirauá acabou abrindo, em 2014, as portas da reserva ao turismo de observação dos animais. Experiências semelhantes há anos atraem jipes e voadeiras repletos de turistas ao Pantanal e a parques da África e da Ásia. Na reserva amazônica, porém, a iniciativa é diferenciada. Batizadas como Jaguar Expeditions, as exclusivas – e caras – expedições acontecem apenas nos meses de cheia e são restritas a grupos de quatro visitantes que remam em canoas silenciosas sob as copas das árvores. “Não se trata de um safári convencional, mas de turismo científico”, explica Gustavo Pereira, coordenador da Pousada Flutuante Uacari. “Além da observação, o turista trabalha com o time de pesquisadores fazendo o rastreamento das onças e instalando câmeras fotográficas na mata.” Os dois grupos que saíram a campo em maio e junho deste ano obtiveram 100% de sucesso no avistamento dos grandes felinos, e o valor que investiram teve três fins: gerar benefícios econômicos para as comunidades locais, permitir a continuidade da pesquisa científica e pagar a equipe de nativos com diárias dobradas – para que os ribeirinhos entendam que manter viva essa espécie ameaçada de extinção é mais valioso do que caçá-la, por exemplo, para vender sua pele. Toda noite, depois da perseguição às 90

nati onal geo gr aphi c • NOV EMBRO 2 0 1 4

onças do alto das árvores, os turistas se reúnem com Emiliano para avaliar o trabalho do dia. Nas curiosas imagens registradas, já foram vistas onças mexendo ou fazendo xixi na câmera e até com um jacaré na boca. Os animais são reconhecidos com base nos desenhos de suas pintas, que funcionam como impressões digitais – e seus nomes são quase sempre divertidos, como Mudinha, Caolha, Confuso e Zangado. Depois do susto vivido no dia de minha visita, quando Emiliano interrompeu a palestra para resgatar – só às 14 horas do dia seguinte – o bolsista e o guia perdidos na mata (que estavam sãos e salvos), o pesquisador não viveu dias tão tensos. Continua, é claro, militando pela

preservação das florestas de várzea para que a onça-pintada siga reinando. O trabalho de campo na selva, enquanto isso, não para. Entre as constatações que o acompanhamento dos felinos de Mamirauá apontou recentemente, duas surpresas. A primeira é triste: Cotó, a mãe que forneceu a primeira prova do comportamento arborícola das onças de Mamirauá, foi morta por um morador da reserva quatro meses depois de ser observada com seu filhote pelos cientistas, em 2013. “Recebemos a localização dela por GPS e chegamos a uma comunidade onde o morador a tinha abatido para evitar que seu gado fosse atacado”, conta Ramalho. Outra conclusão é mais curiosa: diferentemente do que se ima-

Este filhote de onça foi capturado e teve alguns dentes serrados. Caçadores ainda são visto em reservas próximas, como a de Purus e a de Amanã – nesta última, até pouco tempo atrás, um morador exibia seis cabeças do bicho na sala de casa.

ginava, Cotó não era o único felino sem rabo na reserva; isso acontece com cerca de 10% dos animais monitorados. “Os registros fotográficos que temos indicam que os jacarés-açu podem ser responsáveis pela predação de onças durante as inundações, arrancando ocasionalmente seu rabo”, diz. Deduz-se que isso aconteça quando as onças d’água estão nadando para se locomover no habitat aquático – e único – de Mamirauá. j onça-pinta da

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Jogo dos elementos Maurício De Paiva

NATIONAL GEOGRAPHIC / junho de 2014

Jogo dos elementos

A bola de seringa, a praia de lama, a trave de pau, a água dos rios e das marés. É a natureza que decide quando e como a bola irá rolar no peculiar futebol praticado na Amazônia. Homens e mulheres jogam juntos em um campo de barro na vila do Sucuriju, Amapá.

O rio e a velha bola de borracha são suficientes para a diversão diária dos garotos da vila Progresso, no arquipélago do Bailique, costa do Amapá. As águas de cor ocre são influenciadas pela vazão do rio Amazonas.

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national geo graphic • JUNHO 2014

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PRÊMIO

RETRATO

Elas por elas

Não vou para o asilo de jeito nenhum

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Filipe Redondo

CLAUDIA / dezembro de 2014

CAPÍTULO

“Não vou para o asilo de jeito nenhum”

A octogenária Ema Farro, como muitos idosos, oscila entre dois mundos: o da plena lucidez e outro

mais sombrio, povoado por fantasias persecutórias, pequenas obsessões e comentários indiscretos. Embora amargue diversas limitações físicas, a ex-empregada doméstica teima em morar sozinha na periferia de São Paulo. Viúva, não aceita se mudar para uma casa de repouso, situação que angustia seus familiares. Ela é mãe do hippie João Sapienza Neto, sogra da psiquiatra Tânia Bitancourt e avó de Marina, Flora e Carol, personagens da série de cinco reportagens sobre as fases da vida feminina que CLAUDIA publica desde agosto e se encerra nesta edição. ARMANDO ANTENORE

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foto F I L I P E

REDONDO

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A ex-empregada doméstica Ema Farro gosta de passar o tempo lendo romances, como Madame Bovary, o clássico de Gustave Flaubert

Foto de Filipe Redondo retrata a octogenária Ema Farro, uma personagem complexa que oscila entre dois mundos: o da plena lucidez e outro mais sombrio, povoado por fantasias persecutórias e pequenas obsessões.


destaques ELLE HOMEM

DEPOIS DE PAÍS DO FUTEBOL EMPLACAR COMO “A” MÚSICA DA COPA, MC GUIMÊ SE PREPARA PARA O LANÇAMENTO DE SEU DISCO E PARA O NOVO SONHO: FICAR FAMOSO NO MUNDO TODO. MARIANA MARÇAL FOTOS BOB WOLFENSON

Por onde ele passa é show Bob Wolfenson

ELLE / setembro de 2014

Goleiro, preso pelo assassinato de Eliza Samudio, assina contrato com o Montes Claros, de Minas Gerais, e mantém o sonho de voltar a jogar baseado em uma difícil estratégia de seus advogados

bruno O PEDE PArA SAIr grunhido dos urubus que pousam sobre um dos pavilhões é a trilha sonora em uma das áreas mais pobres de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte. Até que, de dentro da penitenciária de segurança máxima Nelson Hungria, ecoam palmas e cânticos entusiasmados. Um dos pregadores do culto evangélico, realizado todos os dias durante o banho de sol dos detentos, é Bruno Fernandes das Dores de Souza, condenado a 22 anos e três meses pelo assassinato da ex-amante Eliza Samudio. Ao entrar em uma sala reservada para a entrevista à PLACAR, o goleiro sacode a poeira do uniforme vermelho. Depois de ter rezado o culto, enxada em punho, foi capinar o terreiro de uma das alas da penitenciária. A camisa desbotada, a calça suja e as botinas surradas mostram que a vida atrás das grades tem sido dura para o ex-goleiro, que exibe uma cicatriz de arranhão no pulso esquerdo. “Acidente de trabalho”, diz, debruçando sobre a mesa, com a expressão tensa e gangorreando na cadeira. Ao falar de futebol, entretanto, Bruno não contém o sorriso. No fim de fevereiro, ele assinou contrato de cinco anos com o Montes Claros, time da

Bruno com o uniforme de presidiário, aos 29 anos: “Dei uma envelhecida, né?”

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p lacar.com . b r março 2013

por

foto

Breiller Pires Alexandre Battibugli

segunda divisão de Minas Gerais, na tentativa de retomar a carreira interrompida em 2010. “Eu vou voltar a jogar”, diz. “Quero muito poder jogar bola novamente, sair deste lugar... Infelizmente, querer não é poder. Mas acredito no milagre de Deus.” Evangélico, Bruno diz ter reencontrado a fé durante o período no cárcere. “Eu tenho um tio que é pastor. Com o sucesso, eu me afastei de Deus. Mas aqui dentro eu me reconciliei com Deus, vou me batizar este ano. Frequento a igreja e dou a palavra todos os dias”, afirma. A tentativa de suicídio, no longo período que passou isolado em uma solitária, fez aflorar sua veia religiosa. “Foi Deus que não permitiu que eu me matasse.” Da lembrança de jogador, uma imagem não lhe sai da cabeça. “Por tudo que fiz pelo Flamengo, e por tudo que o Flamengo fez por mim, eu me sinto um ídolo do clube. Eu era o primeiro jogador que as crianças vinham abraçar.” Além de voltar a ter o abraço das duas filhas, Bruna Vitória e Maria Eduarda, que ele não vê há mais de dois anos, do casamento com Dayanne Rodrigues – absolvida das acusações de sequestro e cárcere privado do filho de Eliza com Bruno –, o ex-goleiro quer ser um ídolo para Bruninho. “Vou conquistar o amor dele.” Para pagar a pensão do filho, Bruno vendeu o sítio que teria sido o cenário de horror do assassinato de Eliza Samudio, que rendeu cadeia a outros dois nomes centrais da trama: Marcos Aparecido dos

p laca r.com. br abril 2014

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Bruno pede para sair Alexandre Battibugli

PLACAR / abril de 2014

A arte do movimento

A arte em movimento

MARCO PINTO

GENTE

& HISTÓRIAS

Marco Pinto

O coreógrafo Ivaldo Bertazzo sempre foi um visionário em relação ao corpo, o que culminou no Método Bertazzo, que explora a consciência, a autonomia e a estrutura do movimento

CONTIGO! / janeiro de 2014

Por REGINA ECHEVERRIA

O

s cineastas Helena Solberg e David Meyer começaram a gravar o documentário A Alma da Gente em 2002, quando o bailarino e coreógrafo Ivaldo Bertazzo iniciou seu trabalho com jovens do Complexo da Maré, favela da zona norte do Rio de Janeiro. Porém, somente dez anos depois, em 2012, eles concluíram o filme, ao voltar à Maré e descobrir o destino de alguns integrantes do projeto, hoje já adultos. Bertazzo passou três anos na Maré e produziu três espetáculos – Mãe Gentil, Folias Guanabaras e Dança das Marés. No registro dos cineastas, é possível conhecer um pouco não só do método de trabalho do coreógrafo, como também da personalidade desse paulistano nascido no bairro da Mooca que popularizou a dança no país partindo do princípio de que não é preciso ser bailarino para poder dançar. O Brasil tomou conhecimento das avançadas ideias de Ivaldo Bertazzo quando, na década de 1970, ele criou o projeto Cidadão Dançante, pelo qual muitos brasileiros não profissionais subiram ao palco em 28 espetáculos para dançar sob o comando seu comando.

A Arte de ensinAr Hoje, aos 64 anos, ele se dedica basicamente a ensinar na sede própria – Escola do Movimento –, em que desenvolve corpos e mentes, no bairro das Perdizes, em São Paulo. Filho da mistura entre libaneses e italianos, Bertazzo gosta de contar que seu avô libanês chegou ao Brasil com oito filhos, e sua mãe, única nascida no Brasil, recebeu o nome de Iracema, para não enfrentar a dificuldade de seus irmãos,todos donos de nomes bem esquisitos, como a tia Ashma, e não suportar as gozações dos colegas de escola. O pai, Angelo Bertazzo, filho de italianos, era engenheiro eletricista e trabalhou na hidrelétrica de Volta Redonda. Pai e mãe, viciados em música clássica, praticamente obrigavam os filhos a compartilhar essa paixão, muito a contra-

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gosto de todos, por sinal. Foi nos anos 1960 que Bertazzo percebeu que a dança seria seu futuro,ao assistir pela TV aos rodopios modernos do bailarino americano Lennie Dale (1934-1994),que passou a viver no Brasil depois de se apaixonar pelo país e pela bossa-nova. Os movimentos de Lennie Dale, de fato, tinham o dom de provocar reviravoltas em quem o via dançar.“Eu achava aquilo uma coisa de doido”, conta o coreógrafo, que, escondido da família, para contestar foi atrás da bailarina e professora francesa Renée Gumiel (1913-2006), radicada no Brasil desde 1957 e considerada precursora da dança moderna entre nós. Com Renée, ele iniciou-se na dança contemporânea. Mas sabia que, se quisesse mesmo aprender, deveria estudar balé clássico.“Foi em 1964, na ditadura, que conheci Márika Gidali. Eu tinha uns 18, 19 anos e fiz parte daquela geração da dança que se juntou aos artistas plásticos que estavam em movimento, como o Wesley Duke Lee e o Zé Roberto Aguilar.” Para sobreviver, começou a ensinar muito cedo e ali se encontrou.“Eu comecei a dar aulas e desconfiei que não gostava de dançar. Na verdade, nunca tive o encantamento no palco como artista, até fiz alguma coisa como performer, mas o que sempre gostei mesmo foi de ensinar.” Durante o período da ditadura, as escolas de dança ainda representavam uma forma de expressão do corpo, antes de surgirem as academias e a valorização dos músculos. Como que prevendo o futuro das concepções corporais, Bertazzo foi buscar conhecimento com algumas senhoras alemãs e judias que imigraram para o Brasil durante e depois da Segunda Guerra Mundial.Todas traziam uma grande bagagem em respiração, fisiologia, fisioterapia. “Essas escolas de respiração e fisioterapia que marcaram minha formação começaram ali – Dorotéia Hansen, Elza Braun... Fui atrás delas todas. Elas marcam meu trabalho até hoje. Havia em nós uma couraça muscular, estávamos reprimidos pela ditadura em contraste com o frescor da idade.”

Bertazzo na Escola do Movimento, no bairro das Perdizes, em São Paulo

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PRÊMIO

APLICATIVO

VEJA SP

Alessandro Neri, Elaine Ferreira, Marianne Mie Nishihata, Michelli Sassaki, Renata Gomes de Aguiar e Simone Yamamoto VEJA SÃO PAULO / 2014

Primeiro aplicativo feito 100% na Abril, o VEJA SP proporciona uma experiência agradável, com serviço geolocalizado relevante e espaço para reviews dos usuários. Registrou aumento de 29% em downloads no iOS e incluiu parcerias com os estabelecimento para reservas de mesa e estacionamento.

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destaques

EXAME.com

Marcus Vinicius Cruz, Mauricio Pilão e Sandra Carvalho

EXAME / 2014

VEJA.com Notícias

Alexandre Hoshino, Andre Senaubar Alves, Arnaldo Cemianko Junior, Bruno Vicenzo do Nascimento, Bruno Xavier, Caio Ronaldo Dias, Carlos Alberto Dias da Silva, Carlos Graieb, Eduardo Palomares, Gustavo Cardoso, Lucianna Thomaz Almeida, Mariana Colletes, Murilo Rapchan, Nadilson Oliveira, Renato Barlati, Romeu Capparelli e Wagner de Jesus Ruiz VEJA / 2014

INFO Notícias

Alexander Ivonika Flues, Everaldo Coelho, Katia Paes Militello, Marcel Müller, Rafael Costa, Rafael Kato, Rodrigo Morbey e Silvio Antonio Donega INFO / 2014

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PRÊMIO

EDIÇÃO DIGITAL de REVISTA

Conjunto da obra Equipe Veja

VEJA / 2014

VEJA tem feito consistentemente uma edição semanal bem diagramada, com boa orientação de leitura, sem pirotecnias, trazendo conteúdos multimídia complementares. A circulação da edição digital está na casa dos 200 mil exemplares.

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destaques

Conjunto da obra Equipe CLAUDIA CLAUDIA / 2014

Conjunto da obra

Equipe MUNDO ESTRANHO MUNDO ESTRANHO / 2014

Conjunto da obra Equipe EXAME EXAME / 2014

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PRÊMIO

MULTIMÍDIA

A crise da água

Abraao Corazza, Alberto Cordeiro, Allyson Kazuo Kitamura, Camila Felix, Carolina Vilaverde, Jessica Soares, Laura Rittmeister, Leonam Pereira, Lucas Muniz, Mariana Nadai, Otavio Augusto de Oliveira, Rafael Kenski, Raquel Sodré e Wendel Rodrigues SUPERINTERESSANTE / 2014

Em meio à maior crise de abastecimento hídrico da história de São Paulo, o especial que reúne reportagens e infográficos fala sobre o problema no âmbito nacional e mundial. Ao final, é possível calcular quanta água você gastou nas últimas 24 horas.

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destaques

Cobertura da Copa do Mundo

Alecsandra Zapparoli, Alexandre Nobeschi, Daniel Palmieri, Marcus Vinicius de Oliveira, Marianne Mie Nishihata, Sergio Ruiz Luz e Tiago Bruno de Faria VEJA SÃO PAULO / 2014

Consciência negra

Os estados brasileiros

NOVA ESCOLA / 2014

EXAME / 2014

Edson Ikê, Felipe Costa Dos Santos, Iana Chan, Margit Krause, Vilmar Oliveira e Wellington Soares

Felipe Tiago Giglio, Luiz Henrique Cruz, Marcus Vinicius Cruz, Mauricio Pilao e Talita Abrantes

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PRÊMIO

USO de REDES SOCIAIS

Brasil Post Hoje

Andre Murched, Andrea Martinelli, Cleber Facchi, Diego Iraheta, Gabriela Bazzo, Ione Maria Dias de Aguiar, Ricardo Anderaos, Rodolfo Viana, Thiago de Araujo e Thiago Oliveira de Araujo BRASIL POST / 2014

74

40

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

Brasil Post faz trabalho sofisticado das redes com bom entendimento dos algoritmos, alcançando altos níveis de engajamento. Em 2014 lançou com grande sucesso um resumo diário dos principais acontecimentos em vídeo pensado especificamente para as redes sociais.


destaques

Cards NOVA/Cosmopolitan

Andrezza Duarte, Barbara dos Anjos, Cristina Naumovs, Isabel Moherdaui, Lisa Ho, Lorena Morais, Lygia Lyra Santos e Rafaela de Brito NOVA / 2014

Academia GE

Ana Carolina Prado, Lorena Goncalves e Mariana Nadai Borges GUIA DO ESTUDANTE / 2014

Corneteiro digital na Copa do Mundo

Jadyr Pavão, Nicolly Vimercate e Rafael Sbarai VEJA / 2014

Ferramenta São Paulo 460 anos

JAnderson Poli, Daniel Palmieri, Renata Gomes de Aguiar e Simone Yamamoto VEJA SÃO PAULO / 2014

40

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

75


digitais

PRÊMIO

VÍDEO

TVEJA

Alexandre Lopes, Augusto Nunes, Beatriz França, Bruna Fasano, Fernanda Monte Claro, Gabriel Collet, Isabella Infantine, Joice Hasselmann, Mariana Dias e Milena Buarque VEJA / 2014

76

40

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

A criação de TVEJA inaugurou um novo formato de vídeo em VEJA.com. Aumentou em dez vezes a audiência do canal de vídeos (pico em outubro, com mais de 6 milhões de PVs), com entrevistas e debates sempre associados ao noticiário.


destaques

TV CAPRICHO

Aline Fava, Bruno Dias Pereira, Camila de Melo, Cibele De Santana, Cleber Maciel, Danilo Setra, Debora da Cruz, Fabiana Leite, Fabiana Yoshikawa, Fernanda Rocha, Gabriel Justo, Gabriela Zocchi, Isabella Avila, Juliana Silva Costa, Karolina Costa, Marcelo Perdido, Mariana Alves, Mariana Luisa Pinheiro, Mariana Nobrega, Mariana Nogueira, Mariana Vichi Aqqad, Marina Loiola Bessa, Marina Pedroso, Miro Branco, Plinio Suniga, Tatiana Schibuola, Thiago Theodoro e Vera Lucia Aparecida CAPRICHO / 2014

Canal de vídeos

Alex Sandro Alcantara, Carol Argamin Gôuvea, Christiano Moraes, Clara Vanali, Cristiane Komesu, Luciano Negreiros, Marcel Verrumo, Marcia Carini, Mariana Peixoto de Moura, Nadia Sayuri Kaku, Rogério Assis e Vanessa Damaro

CASA.COM.BR / 2014

Canal de vídeos

Fabio Luis Teixeira Pinto, Gustavo Marcozzi, Katia Militello e Mauricio Pilao EXAME / 2014

40

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

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especiais


especiais

PRÊMIO

SITE do ANO

MdeMULHER

Equipe MdeMULHER MDEMULHER / 2014

80

40

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

Escolha da Audiêcia


destaques

CAPRICHO

Equipe CAPRICHO CAPRICHO / 2014

EXAME

Equipe EXAME

EXAME.COM / 2014

VEJA

Equipe VEJA

VEJA.COM / 2014

40

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

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especiais

PRÊMIO

SITE do ANO

VEJA

Equipe VEJA

VEJA.COM / 2014

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40

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

Escolha do Júri

Em 2014 o site de VEJA registrou um crescimento de mais de 100% e no último trimestre se tornou o maior site da Abril.


especiais

PRÊMIO

REVISTA do ANO

Escolha da Audiência

MUNDO ESTRANHO

Equipe MUNDO ESTRANHO MUNDO ESTRANHO / 2014

40

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

83


destaques

especiais

REVISTA do ANO Escolha da Audiência

EXAME

SAÚDE

EXAME / 2014

SAÚDE / 2014

Equipe EXAME

VEJA SÃO PAULO

VEJA

VEJA SÃO PAULO / 2014

VEJA / 2014

Equipe VEJA SÃO PAULO

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Equipe SAÚDE

40

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

Equipe VEJA


especiais

PRÊMIO

VEJA

Equipe VEJA VEJA / 2014

REVISTA do ANO

Escolha do Júri

VEJA é a segunda maior revista semanal informativa do mundo e bateu recordes de venda em banca em 2014, destacando-se na cobertura das eleições mais acirradas desde a redemocratização.

40

0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

85



D

e 2000 a 2012, Roberto Civita entregou a 44 jornalistas

e designers a réplica de um passaporte que simbolizava o Prêmio Viagem, uma passagem aérea internacional e mil dólares, com a recomendação de que o ganhador aproveitasse para seu desenvolvimento profissional. Roberto sempre investiu no treinamento e desenvolvimento de

LAUREADA

seus jornalistas, em todos os níveis da carreira, desde os que ingressam na empresa pelo Curso Abril de Jornalismo até os que têm o talento destacado e reconhecido por este Prêmio Abril de Jornalismo que ele criou com Thomaz Souto Corrêa, em 1977. Desde 2014, para dar continuidade ao projeto de RC, instituímos o prêmio especial Roberto Civita, que este ano concederá uma bolsa para participação no festival South by Southwest (SXSW), nos Estados Unidos, mais passagem área, hospedagem e mil dólares a um profissional que se destacou no ano imediatamente anterior. Os critérios da premiação levam em conta o número de indicações do candidato no Prêmio Abril e também seu desempenho aferido pelas nossas ferramentas de Recursos Humanos na gestão e avaliação de talentos. À vencedora, meus votos de que continue brilhando, sempre.

Victor Civita Neto

Presidente do Conselho Editorial da Editora Abril

Cristina Naumovs Designer de NOVA

A designer Cristina Naumovs, de 38 anos, estudou história em Ouro Preto, mas se encontrou mesmo no design de revistas. Chegou à Editora Abril em 2012 para trabalhar como diretora de arte da revista VIP e em 2014 transferiu-se para a NOVA. Neste Prêmio Abril de Jornalismo 2015, foi finalista pelos trabalhos Isis Valverde (Capa), Justo agora? (Comportamento e Consumo) e Cards NOVA/Cosmopolitan (Uso de Redes Sociais).



jurados


jurados Thomaz Souto Corrêa

Jornalista, trabalha há mais de 40 anos no Grupo Abril, do qual, desde 2003, é vice-presidente do Conselho Editorial e consultor em questões editoriais. Participou do desenvolvimento, do lançamento e da reformulação de inúmeras revistas da Editora Abril. Serviu dois mandatos como presidente da ANER — Associação Nacional de Editores de Revistas. Foi o primeiro presidente latino-americano do Conselho Diretor da Fédération Internationale de la Presse Périodique (FIPP), que reúne editores de revistas de todo o mundo. É também diretor do Innovation — International Media Consulting Group.

Caco de Paula

Tem 35 anos de profissão e 27 de Abril. Gosta de contar que foi dentro de uma banca de revistas e jornais que descobriu, ainda na infância, que queria ser jornalista. Trabalhou em O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, VEJA e VEJA SÃO PAULO. Dirigiu o Núcleo de Turismo da Abril (VIAGEM E TURISMO, GUIA QUATRO RODAS, VIAJEAQUI E NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL) e faz parte do grupo que criou o Planeta Sustentável, há cinco anos. Hoje dirige o Núcleo de Sustentabilidade e é o gestor do projeto EDUCAR PARA CRESCER.

Carlos Grassetti

Paulistano, ilustrador e designer de revistas, livros, relatórios anuais, trabalhou na Editora Abril por 50 anos e hoje é consultor. Trabalhou para vários títulos, como MANEQUIM, CLAUDIA, CASA CLAUDIA, QUATRO RODAS, LAR, POP, ELLE e PLAYBOY. Foi diretor de arte do Centro de Criação e do Grupo Masculinas. É um dos autores dos livros A Revista no Brasil (2000) e A Fotografia em Revista (2010). Foi diretor de arte corporativo da Editora Abril de 2000 a 2013. Ganhou nove vezes o Prêmio Abril de Jornalismo e um hors-concours, e é jurado desde 2000. Foi várias vezes premiado pelo Clube de Criação de São Paulo.

Carlos Maranhão

Jornalista e escritor, ingressou na Abril na década de 70. Depois de trabalhar em PLACAR, PLAYBOY e VEJA, ficou 17 anos à frente de VEJA SÃO PAULO. Até 2013 foi o diretor editorial de VEJA CIDADES, núcleo de publicações que engloba VEJA SÃO PAULO, VEJA RIO, VEJA BH, VEJA Brasília e 18 especiais COMER & BEBER. Atualmente tem se dedicado a projetos literários.

Dulce Pickersgill

JÉ formada em história pela PUC-SP. Iniciou a sua carreira na Editora Abril em 1980, como repórter visual da revista NOVA. Em 1982 foi para Playboy, onde atuou como editora de fotografia, editora sênior e como diretora de redação, cargo que ocupou de 1990 a 1992, quando deixou a empresa. Em sua segunda passagem pela Abril, entre 1997 e 1999, foi redatora-chefe da revista ELLE. Em 2000, voltou ao grupo para desenvolver e dirigir o projeto da revista ESTILO DE VIDA. Em 2005, ainda como diretora de redação de ESTILO, idealizou o projeto editorial e gráfico, lançou e dirigiu a REVISTA A. Em 2008, assumiu a direção do Núcleo de Moda (ELLE, ESTILO, MANEQUIM e portal MODASPOT). Atualmento dirige o Núcleo Homem & Lifstyle que engloba revistas como SUPERINTERESSANTE, QUATRO RODAS , PLAYBOY e VIAGEM E TURISMO.

Edward Pimenta

Jornalista e escritor, trabalha na Abril há dez anos, atualmente como Diretor de Apoio Editorial. Desde 2008 coordena o Curso Abril de Jornalismo e o Prêmio Abril de Jornalismo. Egresso do Curso Abril de Jornalismo (2001), colaborou com diversos veículos, entre eles VEJA, Estadão, SUPERINTERESSANTE, VIP, PLAYBOY, BRASILEIROS e BRAVO!. Atuou na mídia regional como repórter e editor de sites e jornais diários e foi professor de jornalismo. Publicou as ficções Duas Histórias (Scortecci) e O Homem Que Não Gostava de Beijos (Record).

Elda Müller

Formada e pós-graduada em Jornalismo e Editoração pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, trabalhou por 35 anos na Abril. Passou por várias publicações ligadas ao universo feminino, começando como repórter até chegar a diretora editorial e, mais tarde, superintendente. Hoje é consultora da Abril.

Eurípedes Alcântara Danilo Santos de Miranda

Formado em Filosofia e Ciências Sociais, realizou estudos complementares de especialização na PUC-SP, na FGV-SP e no IMEDE - Management Development Institute, Suíça. Foi Presidente do Comitê Diretor do Fórum Cultural Mundial em 2004 e presidente do comissariado brasileiro do Ano da França no Brasil em 2009. Atua como conselheiro em diversas entidades dentre as quais Fundação Itaú Cultural, Fundação Padre Anchieta, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Movimento Nossa São Paulo e como membro da Art for the World. Atualmente responde pela direção do SESC – Serviço Social do Comércio no Estado de São Paulo.

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0 PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015

É diretor de redação de VEJA, onde trabalha há 33 anos. Começou como chefe da sucursal de Belo Horizonte, foi correspondente em Nova York e fez carreira como editor assistente, editor, editor executivo, redator-chefe e diretor adjunto. É casado e pai de duas filhas.

Hamilton dos Santos

Jornalista e mestre em Filosofia pela USP, iniciou sua carreira na Abril em 1996. Na empresa, atuou nas áreas de comunicação interna e projetos especiais, dentre os quais a concepção e implantação da Praça Victor Civita. Foi repórter da Folha de S.Paulo, subeditor do Caderno 2 e editor do Suplemento Cultura de O Estado de S. Paulo. Já colaborou com diversos veículos, entre os quais VEJA, PLAYBOY, VIP, SUPERINTERESSANTE, Gazeta Mercantil, Marie Claire, TV Cultura e Revista do Submarino. Fez inúmeras traduções e é autor dos livros Lúcio Cardoso, O Perigo da Hora e Enfim, Grávidos. Hoje se dedica a consultoria editorial e ao projeto Tem Mais Gente Lendo.


João Braga

Manoel Lemos

Kiko Farkas

Paula Mageste

Leonel Kaz

Ronaldo Lemos

Lívia Pedreira

Rubens Fernandes

Graduado em Artes Plásticas e Educação Artística, pós-graduado em História de Indumentária pelo Instituto Paulista de Museologia, mestre em História da Ciência pela PUC e especialista em História da Moda pela ESMOD de Paris. Desde 1990, o paraibano João Braga leciona na Faap, Santa Marcelina e Casa do Saber. Além de palestrar em diversas outras escolas e empresas brasileiras, ele coordena a pós-graduação de História da Moda no Senac e viaja duas vezes por ano a Paris para ministrar cursos para pequenos grupos. É autor dos livros História da moda e Reflexões sobre Moda e colabora com artigos em revistas, jornais e sites.

Kiko Farkas, São Paulo, 1957, é arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e membro da Alliance Graphique Internationale (AGI). É fundador do internacionalmente reconhecido Máquina Estúdio, onde faz trabalhos voltados para área cultural, institucional e editorial tendo em seu portfólio três Prêmios Jabutis da Câmara Brasileira do Livro (1995, 1997 e 2007) e o Prêmio Aloísio Magalhães da Biblioteca Nacional (2008).

Jornalista, foi diretor editorial adjunto da Abril e secretário de Cultura e Esportes do Estado do Rio de Janeiro. É professor de Cultura Brasileira na PUC-Rio, curador do projeto Museu do Futebol, em São Paulo, e editor e coautor dos livros da Aprazível Edições. Foi curador das exposições Arte e Ousadia: o Brasil na Coleção Sattamini, no Masp (2008), e Vik Muniz, no MAM e Masp (2009).

Formada em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, colaborou em diversas publicações, entre as quais os jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo e a revista Casa Vogue. Está na Abril desde 1991 quando assumiu a função de editora da revista CASA CLAUDIA. Em 2000 assumiu como diretora de redação da revista ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO. Hoje dirige o núcleo Arquitetura e Design da Editora Abril (ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO, CASA CLAUDIA, CASA CLAUDIA LUXO, CASA.com.br e CasaCor)

Luiz Carlos de Queirós Cabrera

Engenheiro Metalurgista com pós-graduação em Administração pela FGV e extensão em BA na University of Southern California. Fundou a Amrop Panelli Motta Cabrera, empresa pioneira na introdução do conceito de executive search no mercado brasileiro. Professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getúlio Vargas, há mais de trinta anos. Professor do IBGC –Instituto Brasileiro de Governança Corporativa e Professor da EMI – Escola de Marketing Industrial. É co-autor de Transição 2000, livro da McGrawHill, co-autor de Se Eu Fosse Você, O Que Eu Faria Como Gestor de Pessoas e articulista da revista VOCÊ S/A.

Engenheiro da computação com especialização em computação de alto desempenho e sistema distríbuidos pela Unicamp e sistemas distribuídos e em estratégias para empresas de mídia pela Harvard Business School. Atualmente participa do programa de certificação em estratégia e inovação do MIT (Sloan School of Management). Trabalhou como executivo de multinacional por oito anos, coordenou, apresentou e colaborou com projetos em países como Estados Unidos, Índia, Letônia, Reino Unido, França, Alemanha, México e Argentina. Sua experiência com o Grupo Abril começou em 2008 com a criação da WebCo Internet e depois se tornou CTO da Abril Digital. Atualmente é Consultor de Negócios Digitais da Abril.

Jornalista, começou sua carreira no Estado de S. Paulo em 1990, onde atuou na versão impressa e na digital. Foi editora da revista Época e dirigiu os títulos Criativa e Quem! na Editora Globo, onde também respondia pela Diretoria Editorial do Grupo Femininas até 2011, quando foi convidada pela Editora Abril como Diretora de Redação da revista CLAUDIA. Dirige, desde agosto de 2014, o núcleo Mulher e Celebridades (ANAMARIA, BOA FORMA, CAPRICHO, CONTIGO!, CLAUDIA, ELLE, ESTILO, M DE MULHER, NOVA E SAÚDE).

Ronaldo Lemos é o fundador do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV e diretor do Creative Commons no Brasil. Professor visitante da Universidade de Princeton e professor titular de Propriedade Intelectual da Escola de Direito da FGV-RJ. Mestre em direito por Harvard e doutor em direito pela USP, lançou livros como Futuros Possíveis e Tecnobrega: O Pará Reiventando o Negócio da Música, dentre outros.

Jornalista, crítico e curador, doutor em comunicação e semiótica péla PUC-SP, professor e diretor da Faculdade de Comunicação da FAAP. Pesquisador e crítico de fotografia, é membro do conselho curador da Coleção Pirelli-Masp de Fotografia (Musei de Arte de São Paulo) e da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).

Sandra Carvalho

Jornalista formada pela Escola de Comunicação e Artes da USP, ingressou na Abril em 1987. Foi editora-chefe de EXAME, diretora de redação de INFO e assumiu, em 2009, a direção de EXAME.com, sendo responsável pela consolidação do portal como o maior portal de economia do Brasil. Hoje responde pela Diretoria de Estratégia Digital e Mobile da Editora Abril.

Victor Civita Neto

Victor Civita Neto (Titti) começou no Grupo Abril em 1990. Foi responsável pela implantação da MTV Brasil e por executar os primeiros especiais da emissora e os primeiros Acústicos MTV. Em 1995, assumiu a Diretoria de Programação e Produção da TVA, viabilizando a exibição dos canais de TV por assinatura Bravo Brasil, CMT Brasil e Euro-Channel. Desde então, esteve envolvido na criação de sites, vídeos e produções de audiovisual para o Grupo Abril. Entre os projetos realizados destacam-se o Música do Brasil, a Usina do Som — o primeiro site de música digital na internet da América Latina — e a reformulação do site Abril.com. Atuou na área de Entretenimento e na Abril Jovem. É formado em ciências políticas pela Columbia University.

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40º PRÊMIO ABRIL DE JORNALISMO 2015 Diretoria de Apoio Editorial Edward Pimenta

EQUIPE PRÊMIO ABRIL COORDENAÇÃO Edward Pimenta PRODUÇÃO Beatriz Guimarães, Pedro Fortino, Vitor Thomaz COLABORADORES Arthur Fontana (site), Carolina Pastorello, Mariana Freire (suprimentos), Agência Kanoa (produção do evento), Franz Keppler (roteiro), Marcos Lôndero, Nayara Santos (vídeo), Marcelo Tas (mestre de cerimonia)

CATÁLOGO DIRETOR de CRIAÇÃO Carlos Grassetti EDIÇÃO de ARTE e DESIGN Ricardo Garcia Dias FOTOS dos JURADOS Alexandre Schneider, Alvaro Motta, Antonio Milena, Daniel Aratangy, Daniela Lamare, Flavio A. Santana, Herbert Coelho, Kelly Fuzaro, Lucian De Francesco, Lia Lubambo, Marco de Bari, Mari Queiroz, Mario Rodrigues, Nana Moraes, Olibio Santana, Pedro Rubens, Rafael Cusato, Raul Júnior, Regis Filho, Ricardo Benichio, Rodrigo Erib, Rogério Pallatta, Rubens Okamoto, Sergio Vendramini, Silvia Santana



40ยบ PRร MIO ABRIL

DE JORNALISMO 2015


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