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Bruno com o uniforme de presidiário, aos 29 anos: “Dei uma envelhecida, né?”

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Bruno com o uniforme de presidiário, aos 29 anos: “Dei uma envelhecida, né?”

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Goleiro, preso pelo assassinato de Eliza Samudio, assina contrato com o Montes Claros, de Minas Gerais, e mantém o sonho de voltar a jogar baseado em uma difícil estratégia de seus advogados

bruno O PEDE PARA SAIR grunhido dos urubus que pousam sobre um dos pavilhões é a trilha sonora em uma das áreas mais pobres de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte. Até que, de dentro da penitenciária de segurança máxima Nelson Hungria, ecoam palmas e cânticos entusiasmados. Um dos pregadores do culto evangélico, realizado todos os dias durante o banho de sol dos detentos, é Bruno Fernandes das Dores de Souza, condenado a 22 anos e três meses pelo assassinato da ex-amante Eliza Samudio. Ao entrar em uma sala reservada para a entrevista à PLACAR, o goleiro sacode a poeira do uniforme vermelho. Depois de ter rezado o culto, enxada em punho, foi capinar o terreiro de uma das alas da penitenciária. A camisa desbotada, a calça suja e as botinas surradas mostram que a vida atrás das grades tem sido dura para o ex-goleiro, que exibe uma cicatriz de arranhão no pulso esquerdo. “Acidente de trabalho”, diz, debruçando sobre a mesa, com a expressão tensa e gangorreando na cadeira. Ao falar de futebol, entretanto, Bruno não contém o sorriso. No fim de fevereiro, ele assinou contrato de cinco anos com o Montes Claros, time da

Breiller Pires foto Alexandre Battibugli por

segunda divisão de Minas Gerais, na tentativa de retomar a carreira interrompida em 2010. “Eu vou voltar a jogar”, diz. “Quero muito poder jogar bola novamente, sair deste lugar... Infelizmente, querer não é poder. Mas acredito no milagre de Deus.” Evangélico, Bruno diz ter reencontrado a fé durante o período no cárcere. “Eu tenho um tio que é pastor. Com o sucesso, eu me afastei de Deus. Mas aqui dentro eu me reconciliei com Deus, vou me batizar este ano. Frequento a igreja e dou a palavra todos os dias”, afirma. A tentativa de suicídio, no longo período que passou isolado em uma solitária, fez aflorar sua veia religiosa. “Foi Deus que não permitiu que eu me matasse.” Da lembrança de jogador, uma imagem não lhe sai da cabeça. “Por tudo que fiz pelo Flamengo, e por tudo que o Flamengo fez por mim, eu me sinto um ídolo do clube. Eu era o primeiro jogador que as crianças vinham abraçar.” Além de voltar a ter o abraço das duas filhas, Bruna Vitória e Maria Eduarda, que ele não vê há mais de dois anos, do casamento com Dayanne Rodrigues – absolvida das acusações de sequestro e cárcere privado do filho de Eliza com Bruno –, o ex-goleiro quer ser um ídolo para Bruninho. “Vou conquistar o amor dele.” Para pagar a pensão do filho, Bruno vendeu o sítio que teria sido o cenário de horror do assassinato de Eliza Samudio, que rendeu cadeia a outros dois nomes centrais da trama: Marcos Aparecido dos

p l acar.co m. b r abril 2014

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