Artigo_Cosmo_Racismo: Sim, ainda existe no Brasil

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#PRECISAMOSFALAR

RACISMO: SIM, AINDA EXISTE NO BRASIL

a vida de quem descendia de pessoas escravizadas e, na maior parte dos casos, a opção foi perpetuar a pobreza nos empregos de baixa remuneração, nas periferias das grandes A PARTIR DESTA EDIÇÃO, TODO MÊS, cidades, com a A COSMO DARÁ VOZ PRA GENTE LEGAL baixa escolariFALAR DE ASSUNTOS IMPORTANTES dade e, infelizmente, na crimi— MAS QUE NEM SEMPRE GANHAM nalidade. Foi o ESPAÇO QUE MERECEM que sobrou. E raras vezes no passado pudemos usufruir de oportunidades. GraNo mês passado, Taís Araújo alterou ças à luta dos movimentos sociais e sua foto de perfil no Facebook por às políticas reparatórias, algumas de um dos cliques feitos para a capa da nós têm contrariado as estatísticas. COSMOPOLITAN de outubro. Além Se os dados parecem distantes, vados likes e elogios, foram postados le olhar para o lado. No início de muitos comentários racistas. Se, ao novembro, lancei o livro Quando ler esse tipo de coisa, bate uma inMe Descobri Negra, com relatos de dignação, tristeza e o desejo de nos racismo vivenciado por mim e por manifestar frente ao absurdo, tamoutras pessoas. Na ocasião, fizemos bém bate um leve bode da comoção um círculo de mulheres negras, com seletiva apenas quando se trata de depoimentos muito fortes. Em um globais. Enquanto isso, um silêncio dado momento, minha mãe disse que ecoa por mais de 127 anos sobre ser negra era o menor dos problemas o racismo estrutural. dela. Que nasceu pobre, o pai saiu de Racismo estrutural? Sim. Somos casa quando ela era bebê, foi educa50% da população e 20% do PIB. O da só pela mãe alcoólatra. Começou desemprego entre negras e negros a trabalhar aos 5 anos de idade como é 50% maior e a renda 50% menor. babá, depois, aos 14, foi empregada Dentre as pessoas assassinadas no doméstica. Na universidade, ouviu que Brasil, mais de 70% são negras. Até jamais alcançaria posições de chefia. a consulta de pré-natal das mulheres E, ao trabalhar em uma multinacional, negras é mais curta. Raramente esera orientada a “arrumar” o cabelo, tampamos as páginas de beleza com alisando o crespo considerado ruim. nosso cabelo natural. No cinema, Teve um casamento curto e cuidou na literatura e na publicidade, nos sozinha da única filha, da mãe e de colocam em posições subalternas. um irmão também alcoólatra, que Não é acaso. É racismo. morreu perto dos 50 anos de idade. Há raízes históricas para as maniQue até hoje, no portão de casa, perfestações de racismo nas estatístiguntam se a patroa está. Minha prócas e no nosso imaginário. Depois da pria mãe não percebe que essa cadeia abolição da escravidão, não existiram de tragédias é uma manifestação políticas de acesso a terra, emprego muito evidente do racismo. ou educação para a população negra. O racismo se escancara em piadas Por quase todo o século 20 não foinofensivas com o cabelo ou o cheiro ram criadas políticas para melhorar

FOTO DIVULGAÇÃO

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da amiga. No espanto quando uma pessoa negra dirige um carro de luxo. Na certeza de que homem preto de terno é segurança e de que mulher negra no parquinho é babá. Todos perpetuamos esse racismo e somos vítimas dele. Porque ninguém — com exceção de quem agride de forma consciente, evidente — quer ser racista. Só que muitas vezes esse comportamento é mais forte do que nosso desejo ou razão. E, por mais que o sofrimento de perpetuar o racismo não possa ser comparado com o de quem sofre o racismo, todos somos vítimas dessa sociedade desigual. Acabar com esse ciclo também é nossa responsabilidade. Como? Observando as nossas atitudes. Povoando o nosso repertório com personagens negras de relevância: Conceição Evaristo, Sueli Carneiro, Elisa Lucinda, Leci Brandão, Taís Araújo, Maju Coutinho, Mãe Beth de Oxum, Djamila Ribeiro, dentre inúmeras outras, sem falar nos homens. Treinando o nosso olhar para o fato de que negras e negros podem estar em posição de destaque e prestígio. Ouvindo, acolhendo e respeitando denúncias, não só as de famosas. Apoiando pessoas e projetos de combate ao racismo, e também ao machismo e à desigualdade social. Quem sabe então poderemos #SermosTodas. Sem exceção. ★

BIANCA SANTANA É ESCRITORA, PROFESSORA DA FACULDADE CÁSPER LIBERO, EM SÃO PAULO, E JORNALISTA. ACABA DE LANÇAR A COLETÂNEA QUANDO ME DESCOBRI NEGRA

COSMOPOLITANBRASIL.COM.BR | DEZEMBRO 2015

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