Palco de Papel

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Editorial

(por Claudia Schulz)

As luzes se apagam, a cortina se abre lentamente, em cena: a movimentação teatral desencadeada pelo Palco Fora do Eixo. Entre diretores, atores e clowns uma mesma vontade: fazer teatro, fazer acontecer! Estimulados por essa efervescência surge o Palco de Papel com a missão de colocar em palavras e registrar o que acontece de relevante e inusitado na área das Artes Cênicas em âmbito nacional e municipal. Entrevistas com grupos em cartaz, personalidades,curiosidades, correspon-dentes, burocráticos e informativos compõem a cena dessa estréia. O Palco de Papel anuncia, como um arauto, o cortejo dos peregrinos teatrais, que não cansam nunca de girar a manivela do realejo.

Entre Gags e Qüiproquós (por Atílio Alencar) Divulgação “A Ida ao Teatro” Marcele do Nascimento e Cristiano Bittencourt

O Grupo Teatro Universitário Independente (TUI) inaugura a programação anual do Palco Fora do Eixo em Santa Maria com o espetáculo A Ida ao Teatro no dia 25 de março, às 19h na Praça Saldanha Marinhas. Aqui você confere uma conversa com dois integrantes do grupo (Marcele Nascimento e Cristiano Bittencourt) sobre teatro, política e cultura. Bom, pra começar, queria que vocês falassem brevemente do espetáculo que será apresentado na estréia do palco Fora do Eixo em Santa Maria.

A montagem intitulada A ida ao Teatro, do dramaturgo Karl Valentin, trata-se de uma livre adaptação para a rua. A cena retrata o universo conturbado de dois moradores de rua que procuram pela cidade um bom local para instalar suas quinquilharias. A trama é recheada quiproquós e gags típicas dos clowns, sugeridos por Valentin, que beiram em seu cotidiano o universo de um teatro anarquista característico do período entre as duas grandes guerras mundiais. Como foi o processo de criação do espetáculo, levando em conta que é um trabalho pensado enquanto arte de rua? A pesquisa de texto neste caso é mais específica, ou vocês acreditam que não há restrições estéticas para um espetáculo de rua?

O processo de criação contou com estudos teóricopráticos e utilizamos como base teórica o livro Circo Soviético, por apresentar uma possibilidade de clowns politizados beirando o panfletário, onde os fatos do cotidiano caminham para desvendar as inúmeras opressões sofridas pelos seres humanos.

Tecnicamente utilizamos o jogo das triangulações e das dilatações espaciais para tornar possível a encenação no espaço da rua, visto que o texto é escrito para o palco italiano. Acreditamos que a rua é um espaço de popularização e democratização da arte e também serve de espaço para a resistência, visto que os teatros continuam vazios. Esteticamente qualquer texto ou idéia pode ser representada na rua, o que precisa ser feito é uma adaptação e buscar um suporte teórico (técnicas) pertinentes para a rua. Vocês acreditam no Teatro de Rua como um meio de democratizar a arte, ou o ritmo de vida contemporâneo impede as pessoas de se aterem a estas manifestações? Afinal, qual o propósito de levar o teatro para rua? SE VOCÊ NÃO VAI AO TEATRO, O TEATRO VAI ATÉ VOCÊ. Parece panfletário e é, mas a idéia é tentar resistir e contribuir para instigar nos transeuntes a necessidade de consumir bens culturais. Por mais estranho que possa parecer, o teatro precisa voltar-se para a formação de novas platéias e neste aspecto as escolas e a rua oferecem um terreno fértil e inesgotável. Já há algum tempo o Grupo TUI vem apresentando uma série de comédias - variando de verves absurdas até as mais escrachadas, daria para dizer que o grupo tem uma linha de pesquisa específica, ou vocês seguem experimentando linguagens diversas? Sempre buscamos experimentar distintas linguagens, mas não podemos negar as influencias que nos constituem enquanto humanos. E, no nosso caso, as comédias, farsas, enfim, o teatro popular, são os grandes responsáveis por sermos da maneira que somos, temos nossas convicções claras... e jamais conseguiríamos nos afastar dessa origem que é o popular, o subversivo. Enfim, pra gente ser um pouco provocativo: vocês definiriam o TUI como um grupo político, preocupado em pensar também o teatro e a cultura na cidade? Se sim, como vocês vêem o panorama teatral hoje em Santa Maria? Político sim, afinal viver é um ato político e apesar de uma parcela do grupo não gostar deste termo Teatro Político ou panfletário, historicamente o grupo se constituiu assim. E, radicalizando um pouco no aspecto cultural, um grupo que tenta há 49 anos sobreviver da arte em uma sociedade neoliberal e globalizada e além desta difícil tarefa também se propõe administrar um espaço alternativo para a comunidade artística e local - mesmo sendo inviável economicamente - me parece ter um papel político inquestionável dentro da marginalizada e repudiada arte panfletária. Teatro político sim, partidário não. Sobre o panorama teatral em Santa Maria, não gostaríamos de comprar uma briga com a classe, mas poucos o fazem com o profissionalismo que este requer, salvo que profissionalismo neste caso em nada tem a ver com formação profissional. Gostaríamos de, finalizar com a frase de Federico Garcia Lorca que muito inspirou e continua inspirando o TUI: “Um povo que não ajuda ou não fomenta seu teatro, senão está morto, está moribundo.”


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