ANO 3000
Paloma Ortega Dotto Escobar
Da autora de “A Cadeia de Ilhas de Króton Bleeds”
Título original Ano 3000 Texto: Paloma Ortega Dotto Escobar Arte de capa: ANTIFAN_REAL Classificação: Romance, drama, ficção científica. Tipografia: Agency FB Angsana New Anklepants Bem Krush Bookman Old Style Calibri Devil Inside Eagle Mania Goudy Old Style Times New Roman Zymbol Revisão: Marisa Garcia Ortega Cristina Garcia Ortega
© Todos os direitos reservados. Esta obra não pode ser divulgada, distribuída ou reproduzida sem a devida autorização.
Produzido em papel Vergê Diamante e sulfite 210 mm x 297 mm, 80g São Paulo, 2014
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Paloma Ortega
ANO 3000
1ª edição
São Paulo 2014
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Sumário PARTE 1: O COMPLEXO Capítulo 1............................................................................................................8 Capítulo 2..........................................................................................................17 Capítulo 3..........................................................................................................24 Capítulo 4..........................................................................................................32 Capítulo 5..........................................................................................................38 Capítulo 6..........................................................................................................47 Capítulo 7..........................................................................................................55 Capítulo 8.............................................................................................................. Capítulo 9.............................................................................................................. Capítulo 10............................................................................................................ PARTE 2: O EXÉRCITO VERMELHO Capítulo 1..............................................................................................................
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Capítulo 2.............................................................................................................. Capítulo 3.............................................................................................................. Capítulo 4.............................................................................................................. Capítulo 5.............................................................................................................. Capítulo 6.............................................................................................................. Capítulo 7.............................................................................................................. Capítulo 8.............................................................................................................. Capítulo 9.............................................................................................................. Capítulo 10............................................................................................................
PARTE 3: RESISTÊNCIA Capítulo 1.............................................................................................................. Capítulo 2..............................................................................................................
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Capítulo 3.............................................................................................................. Capítulo 4.............................................................................................................. Capítulo 5.............................................................................................................. Capítulo 6.............................................................................................................. Capítulo 7.............................................................................................................. Capítulo 8.............................................................................................................. Capítulo 9.............................................................................................................. Capítulo 10............................................................................................................
PARTE 4: PANDORUM Capítulo 1.............................................................................................................. Capítulo 2.............................................................................................................. Capítulo 3..............................................................................................................
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Capítulo 4.............................................................................................................. Capítulo 5.............................................................................................................. Capítulo 6.............................................................................................................. Capítulo 7.............................................................................................................. Capítulo 8.............................................................................................................. Capítulo 9.............................................................................................................. Capítulo 10...........................................................................................................
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Divisão Regional da Federação Independente do Brasil de 2134
Complexo Pandorum
Cattleburn
Resistência Distrito Domme 3º Quartel do E.V.
LEGENDA Área 59
Scoria
Ilha de Ilíada
Território Verde
Odyssea
Território Vermelho
Território Amarelo
Zona Árida (inabitável)
Território Central
Zona de Evacuação
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Parte 1:
O complexo “A distinção entre presente, passado e futuro é uma ilusão teimosamente persistente” – Albert Einstein.
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Paloma Ortega
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PRÓLOGO O Dr. Hans Schoenberg achou que nunca vira a cidade tão magnífica quanto naquela manhã. Os vidros do laboratório haviam sido limpos e estavam incrivelmente transparentes, dando-lhe a impressão de que poderia atravessá-lo e despencar em meio aos altos prédios luxuosos do Território Central, pondo fim em seu interminável sofrimento. Seria fácil, ele pensou. Basta abrir a janela e... Diante da angústia daqueles últimos anos, sendo julgado cruelmente pelo Departamento de Inovações Científicas, aquela parecia uma solução razoável. Fracassara em seu maior projeto. As idealizações para sua máquina do tempo mantiveram-no ocupado por toda uma vida. Décadas se passaram desde que a última sonda fora enviada para a máquina. Como pesquisador histórico-científico, seu propósito consistia em recuperar fragmentos da história que pudessem complementar seus estudos sobre o século XXII. Todavia, o teletransportador se recusava a captar as ondas necessárias para conduzir as sondas ao passado. A maioria delas fora despachada para o futuro. As restantes foram expedidas para o presente, desaparecendo e aparecendo novamente no teletransportador. Schoenberg observava as luzes através da ampla janela, refletidas no vidro como se fossem parte de um holograma de cores. O homem, beirando seus oitenta anos, franzia o cenho com preocupação. Era a primeira vez que pensava em circunstâncias tão penosas. Ele se perguntava se haveriam luzes tão belas após sua morte, ou se encontraria apenas uma fria e solitária escuridão. Seus dedos pressionaram levemente o painel abaixo do vidro, executando a ação, deslizando-o para a direita. O vento tocou seu rosto
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pálido, castigado pela idade e pelo sofrimento, e ele permitiu-se desfrutar da sensação de liberdade, antes de atirar-se para a imensidão. As mãos trêmulas e enrugadas agarraram as laterais da janela, os pés ultrapassando a borda. Enquanto reunia coragem, um ruído preencheu seus ouvidos. Era o som que ele esperara ouvir por décadas. Alerta: Coleta de Informações bem-sucedida! Sonda AVA-0032.42-76 na base do teletransportador. Peso aproximado: 0 kg. Período datado: 3000 d.C. — O quê? Não posso acreditar... — ele murmurou, afastando-se da janela. — Uma sonda voltou! Finalmente! Schoenberg deu meia-volta e disparou na direção da máquina. Ela fumegava, como se os esforços da última transmissão tivessem-na esgotado. O homem abriu a tela de proteção e vasculhou a base, mas não encontrou nada, exceto um pequeno bilhete escrito à mão. — Quarenta anos! — ele gritou, socando a máquina com seus punhos fracos. — Quarenta anos e tudo o que eu ganho é um maldito bilhetinho queimado! O Dr. apanhou o papel, um tanto amassado e chamuscado nas pontas, desejando ter pulado do edifício antes mesmo que o alarme soasse. Ele bateu com mais força, danificando o metal na lateral do objeto. Alerta de sistema potencialmente prejudicado. Para a segurança de suas informações, a destruição absoluta do objeto será efetuada em 10, 9, 8... Schoenberg desembrulhou o papel, ignorando o aviso de autodestruição. O que ele leu fez seu corpo se arrepiar por inteiro, desencadeando uma sensação angustiante de solidão. “Catástrofes. O mundo em decadência. Apocalipse. Ajuda! — Eros” Ele guardou o papel no bolso de seu jaleco, refletindo sobre os perigos que o futuro reservava. Autodestruição em 3, 2, 1...
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A explosão preencheu seu campo de visão, cegando-o com sua intensa iluminação. A máquina estourou em milhões de peças de metal, ainda soando seus cliques de alerta. O cientista viu as luzes, uma tempestade de cores muito vivas. Em seguida, tudo escureceu.
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CAPÍTULO 1 Os portões do Complexo se abriram pontualmente ao amanhecer, como de costume. Antes mesmo que o alarme de retirada soasse, centenas de jovens já se encontravam no Pátio Central, trajando as roupas simples e desgastadas pelo tempo de uso. Carregavam suas maletas de metal, onde os equipamentos dos afazeres mais pesados se encontravam, aguardando mais um dia de trabalho. Gwendolyne, como de praxe, recostava-se a uma pilastra de concreto, carregando as ferramentas que seu pai lhe dera em seu décimo aniversário. As iniciais do senhor Isaac Fox, falecido há pouco mais de sete anos, haviam se apagado anos atrás, mas eram uma das poucas recordações remanescentes, as quais ela jamais abriria mão. Seu pai trabalhara durante anos como engenheiro eletromecatrônico, especializando-se na área de criação, construção e modernização de robôs. Gwen sempre admirara seu trabalho, independente do que os outros habitantes do Complexo pudessem dizer. Em uma quarta-feira do ano de 2993, Isaac provou seu valor, tornando-se membro de uma instituição de pesquisas científicas, conhecida popularmente como Resistência1. Lembrava-se perfeitamente de quando era apenas uma menina, entretida com os equipamentos peculiares da oficina de seu pai. E, mais do que isso, recordava-se de como fora difícil despedir-se dele. Era fim de tarde e as lágrimas escorriam por suas bochechas. Não possuía mais do que onze anos de idade quando Isaac desapareceu atrás dos portões do Complexo, para jamais retornar.
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Resistência: É um centro de experiências extremamente sigiloso localizado no Território Central. As atividades ocorridas na instituição são ainda desconhecidas.
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Gwen afastou tais pensamentos quando caminhou entre os habitantes mais jovens, que pareciam abatidos e enfraquecidos pelo trabalho fadigoso, carregando sacos grandes para realizar a colheita. São apenas crianças, ela pensou. Deveriam estar correndo pelos corredores e causando um grande alvoroço no Mercado2. Deveriam estar se divertindo. Mas ela sabia que aquela não era a realidade em que se encontrava. Nunca seria. Mais à frente, um grupo de jovens com idades muito próximas à sua, entre dezoito e dezenove anos, sussurrava com preocupação. — Vocês ficaram sabendo? Ontem um garoto ficou para trás. A voz vinha de um jovem de cabelos claros presos em um rabode-cavalo malfeito. — Não pode ser! — disse a garota ao seu lado, parecendo apavorada. — Ninguém havia ficado para trás nos últimos três meses! — Você sabe quem foi? — perguntou outro garoto, de tez pálida e olhos muito escuros. — O nome dele era Suman, pelo que me disseram. E ele tinha catorze anos! — respondeu o primeiro. — O enterro será hoje, uma hora antes do Festival da Seara3. Um homem de cabelos negros cacheados e com uma barba longa e grosseira se aproximou do grupo, cruzando os braços em frente ao corpo em um gesto de autoridade. A única diferença entre ele e os outros habitantes era a insígnia que ele carregava no peito. — Estão todos cansados de saber que devem voltar para o Complexo ao entardecer. À noite, as portas se fecham, e quem fica para trás jamais retorna. A escuridão os devora e eles simplesmente 2
Mercado: refere-se ao 12º corredor da Zona 3 do Complexo, onde existe um comércio de roupas, joias, alimentos e outras mercadorias. 3 Festival da Seara: Cerimônia organizada pelo Comando para promover suas realizações e distribuir remédios e alimentos para os habitantes do Complexo.
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desaparecem, como se nunca tivessem existido. Estou cansado de repetir isso! — E nós estamos cansados de enterrar caixões vazios, inspetor — disse a menina, bruscamente. — Mas infelizmente essas tragédias continuam acontecendo... Gwen se afastou, incapaz de ouvir mais. Ela conhecia o garoto. Aquelas palavras a feriam profundamente, como se alguém estivesse tentando dilacerar seu coração com uma máquina de fatiar frios. Ela sabia que ninguém nunca retornara após as portas se fecharem. Isaac Fox e as outras dezenas de habitantes desaparecidos eram a prova disso. Ninguém jamais soubera a explicação para aquele mistério. A jovem se perguntava se ela era a única que almejava descobrir o que tudo aquilo significava. Antes que Gwen pudesse avançar para além dos portões, o alarme da detecção de metais soou. Mas aquilo não era nenhuma novidade. A máquina metálica instalada em uma das paredes de concreto se iluminou com luzes amarelas e vermelhas. — Gwendolyne Fox. Habitante do Complexo, residente no 32º andar, Zona 3, apartamento 3202 — a máquina declarou, em uma imitação rebuscada da voz feminina. — Detida por porte ilegal de material metálico não perecível em quantidade acima do limite. A jovem respirou fundo. E lá vamos nós de novo, ela pensou. — Prezada máquina robótica, quantas vezes vou ter de repetir que essa “quantidade acima do limite” é o Ashtar? Ele é meu robozinho de estimação e ele sempre vai trabalhar comigo. Esqueceu? Ashtar fora o primeiro protótipo que correspondera às placas de circuito desenvolvidas por seu pai, adotando uma inteligência artificial, capaz de compreender e responder aos comandos de vozes préprogramadas.
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Seu corpo era metálico e assemelhava-se a um lagarto robótico, com uma cauda longa e uma cabeça oval. Ele era capaz de voar, mas somente por altitudes inferiores a três metros de altura, sob uma velocidade aproximada de 140 km/h e durante um tempo limitado. Como qualquer outra inovação tecnológica, Ashtar necessitava ser carregado com frequência e seus fios de cobre precisavam ser trocados semestralmente. Antes de partir, abandonando seu lar para ingressar na Resistência, Isaac Fox presenteou a filha com seu protótipo bemsucedido, tornando-se o companheiro inseparável de Gwen desde então. — Infração nº 9742.75022-8 — a máquina insistiu. — Mensagem de voz não decodificada. Favor permanecer no local para aguardar as autoridades. Pena: 24 a 48 horas de reclusão no Exílio. O Exílio era um cômodo precário, sem iluminação ou comida, onde os habitantes do Complexo que desrespeitassem as ordens ou difamassem o Comando4 ficavam confinados como penitência, sem direito a visitações de quaisquer parentes ou amigos. O castigo poderia ter a duração de 24 horas ou mais. Gwen ainda se recordava das horas tormentosas que passara na primeira e última vez que estivera lá. A fome, o frio e a solidão não eram capazes de definir o desespero que era permanecer no Exílio. Ouviam-se lendas de prisioneiros que enlouqueceram no cômodo escuro. Dizia-se que a maioria deles, após passar incontáveis anos em punição, se suicidara com as próprias unhas ou simplesmente deixaram-se envenenar pela insanidade. — Talvez, se a Miss Encrenca aí não fosse tão teimosa a ponto de discutir com uma máquina e levar a invenção do pai maluco dela para a lavoura, eu já tivesse atravessado os portões! — uma voz masculina, repleta de rispidez e sarcasmo, interrompeu seus pensamentos. 4
Comando: Nome adotado para referir-se ao Estado.
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Ela se virou para ver seu pior pesadelo, Khorak. Um jovem de pele parda e cabelos longos escuros, sempre presos em uma trança que lhe caía pelas costas. Seu nariz era arrebitado e os olhos eram ferozes, dando-lhe a expressão rude que lhe assombrara a infância, quando Khorak era apenas um menino maldoso que se divertia afundando a cabeça de outras crianças na fonte do pátio, em troca de algumas dezenas de créditos. — O que foi, Khorak? — Gwen o enfrentou, olhando fixamente em seus olhos sombrios. — Está ansioso para trabalhar como um condenado? Pois vá em frente, e suma com essa sua cara feia daqui. O jovem cerrou a mão em punho, mas a relaxou logo em seguida. Se ele a agredisse dentro do Complexo seria banido, não para o Exílio, mas para Cattleburn5, onde poderia ser condenado à morte. — Você vai se arrepender por isso, fedelha — ele disse. — Você e seu pai sempre serão iguais. Apenas um monte de lixo inútil... Eu espero que você em breve se junte a ele. E, antes que não pudesse controlar sua raiva, Khorak deu as costas à Gwen e atravessou os portões.
A O sol da manhã tocou o rosto de Gwen meia hora depois, após ser autorizada a sair pelos portões. A sensação térmica de quarenta e cinco graus não a incomodava. Após centenas de anos destinados a um calor intolerável que já matara milhares de pessoas, os seres mais recentes da humanidade já nasciam adaptados a suportar temperaturas mais elevadas. 5
Cattleburn: Prisão especializada de segurança máxima responsável por prisioneiros de médio nível criminal. Localiza-se na estrada Oeste do Território Verde.
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As colinas, repletas de árvores no dia anterior, já se encontravam desnudas. Apenas a base dos troncos permanecia no topo, como um adorno triste e inacabado. O sol alaranjado costumava nascer entre as copas, projetando dezenas de raios luminosos nas plantações de legumes e verduras. Mas Gwen sabia que toda semana as árvores eram derrubadas, a fim de atender à demanda de matéria-prima. Com o esgotamento do meio ambiente, a madeira tornou-se o material mais caro e, consequentemente, o mais cobiçado pela sociedade mais afortunada. A exploração, mesmo após centenas de anos, continuava inaceitável. Os recursos naturais apenas persistiram graças ao racionamento de água, ao reaproveitamento obrigatório e às dezenas de campanhas feitas para defender a saúde do planeta. A 56ª Revolução Verde teve início em 2844 após manifestações em todo o país, exigindo que o Comando implantasse mudanças na constituição, visando ao bem-estar do meio ambiente. A partir disso, diversas atitudes do homem, como jogar lixo nas ruas, foram consideradas crime, podendo acarretar multas no valor de dois mil créditos e pena de 2 a 4 anos de prisão. Os recursos naturais foram preservados para garantir a longevidade do país e da humanidade. Desde então, preservar o ambiente tornou-se não somente um dever, mas uma obrigação. Os habitantes do Complexo, atualmente, são os responsáveis pelo plantio e colheita, tanto de plantas e árvores, como também de frutas, legumes, verduras e sementes. Gwen iniciou seu trabalho na secção de colheita de sementes, onde atualmente sua mãe, Arine Fox, atua, devido à sua idade avançada. Aos treze anos de idade ingressou no grupo responsável por plantar verduras. Em seguida, fora escalada para o trabalho mais árduo, responsável pela derrubada, corte e carregamento de árvores.
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Enquanto avançava pela lavoura, segurando com dificuldade a extremidade de uma árvore de três metros de tronco, Gwen avistou uma silhueta conhecida aproximando-se, mancando. Assim que ajudou seus colegas de trabalho a depositar a madeira dentro do caminhão de transporte, ela acenou para a garota, chamando seu nome. — Kiara? O que você faz aqui? Kiara era a melhor amiga de Gwen desde que ela se lembrava. Sua pele era escura e os cabelos ressecados e enrolados quase sempre estavam presos em um nó no alto de sua cabeça. Ela estava vestida igualmente a todos os habitantes do Complexo, com uma camiseta que costumava ser branca, mas que agora estava suja e pálida, e shorts esfarrapados. Apesar de suas vestimentas desajeitadas e a fisionomia cansada, ela não parecia triste ou preocupada. Será que não soubera que um garoto havia ficado para trás no dia anterior? Ela acercou-se da amiga, estendendo os braços para abraçá-la. — Por favor, não precisa — disse Gwen, recuando. — Estou completamente molhada. A hora do almoço ainda nem chegou e eu já estou suada. Eu sei, é uma vergonha... Kiara sorriu e a abraçou mesmo assim, sem se importar de sujar sua camiseta recém-lavada. — Gwendolyne Fox, você é a pessoa mais idiota que eu conheço! Você acha mesmo que eu me importo se você está suando como um porco imundo? — Uau — murmurou Gwen. — Agora eu estou me sentindo muito melhor. Obrigada. Mas o que você faz aqui, afinal? Você deveria estar na cozinha. Não estou encrencada, estou? Ela olhou para baixo, observando a perna direita de Kiara. As duas costumavam trabalhar juntas no pomar, porém, um ano atrás, um tronco de centenas de quilos caiu sobre seu fêmur. O acidente acabou
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por inutilizar sua perna direita, obrigando-a a trabalhar na cozinha do Complexo, preparando os alimentos para o almoço e jantar. — Estou de licença — Kiara respondeu. — A inspetora da cozinha permitiu que eu me ausentasse por duas horas do trabalho. Fui à Zona 1 para uma consulta no hospital. Gwen olhou rapidamente para a perna inchada. Ela sabia que a amiga não gostava que os outros observassem sua ruína. — Alguma novidade? — Ainda nada — Kiara suspirou, apoiando-se em seu cajado de metal. — O Dr. Thelonius disse que talvez eu nunca volte a caminhar normalmente. Isso significa que precisarei andar por aí me apoiando neste bastão horrível de metal pelo resto da vida. Mas talvez eu me acostume com ele. Quem sabe dou-lhe até mesmo um nome. As duas gargalharam e Kiara abraçou a amiga novamente. — Sabe, Gwen, eu sinto falta de trabalhar com você. Mas, afinal de contas, meu trabalho na cozinha não é muito diferente do seu. — Não é? — perguntou Gwen, erguendo as sobrancelhas. — Eu trabalho o dia todo cerrando troncos que podem pesar toneladas enquanto você está na cozinha, cortando legumes. Você deveria rever seu conceito de “diferente”. Ashtar abandonou o bolso do cinto de ferramentas de Gwen e subiu em seu ombro, seu lugar preferido. Ele apitou algumas vezes e soou seus cliques. Estava um pouco enferrujado e os fios de cobre precisariam ser trocados muito em breve. Ashtar ergueu a cabeça na direção de Kiara, atento à conversa. — Eu passei muito tempo odiando a minha falta de sorte — ela confessou —, mas agora vejo que ir trabalhar na cozinha foi a melhor coisa que me aconteceu. Seu trabalho é difícil, mas talvez um dia ele lhe seja útil. Gwen olhou para o réptil robótico em seu ombro.
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— O que você acha, Ashtar? A senhorita Kiara Blackthorne pronunciou a última frase com o único intuito de fazer você se sentir melhor, disse Ashtar. Ela acha que trabalhar na cozinha não é tão ruim, simplesmente porque não requer muito esforço. Isso porque ela sabe que, não importa em que cargo você esteja, os créditos que os habitantes do Complexo recebem são sempre a mesma desgraça. Kiara o fuzilou com os olhos. — Ashtar, se você não quebrasse tão fácil, eu juro que daria um soco nessa sua cabecinha de metal! — Ela endireitou-se, ainda apoiada no cajado, e suspirou. — Eu preciso ir. Vejo vocês no Festival da Seara. Isso fez com que o corpo de Gwen se arrepiasse. Ela sabia que outro enterro seria realizado no dia seguinte, mas Kiara parecia desconhecer esse fato. Ao que tudo indicava, ninguém fora capaz de contar-lhe o ocorrido. Gwen fora incapaz de dizer-lhe as más notícias, assim como todos os outros. Ela voltou ao trabalho, tentando esquecer que no dia seguinte, todos estariam reunidos na base das colinas, dando adeus à Suman, o irmão mais novo de sua melhor amiga.
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CAPÍTULO 2 27 DE MAIO DE 2998 d.C 3º QUARTEL DO EXÉRCITO VERMELHO O sargento Archibald definitivamente não estava tendo um bom dia. Recebera a notícia de que sua noiva estava no hospital e, devido ao seu cargo no Exército Vermelho6, não poderia ausentar-se para visitá-la. Solicitara sua saída antes do expediente, mas o pedido fora negado pelo Capitão Redmond, que alegava não haver urgência na indisposição de sua futura mulher. Arch sabia que ele não estava errado. Já não era a primeira vez que Koss era conduzida ao pronto-socorro. Isso ocorria com frequência. Era uma quarta-feira chuvosa e agitada demais para seu gosto. Estava na sala de reuniões do Quartel, embora ela lhe parecesse um cômodo de recreação infantil. Todos se mantinham ocupados. Uns organizando papéis, atentos ao trabalho; outros se distraindo em disputas para medir forças ou entretendo-se com um jogo qualquer. À uma mesa metálica próxima, quatro rapazes, incluindo seu braço-direito Edgrim Holloway, divertiam-se em uma partida de xadrez. Um cubo branco e simples projetava um retângulo holográfico diante deles, representando o tabuleiro e suas peças. De quando em vez, a imagem tremulava, devido à forte chuva que interferia nos circuitos. — Desgraçado! — praguejou um dos soldados, de tez clara e cabeça totalmente calva. — Edgrim, você é um monstro! Onde aprendeu a jogar assim? 6
Exército Vermelho: A partir de 2694 foi considerado o cargo de maior prestígio pelo IEB (Instituto de Estatísticas Brasileiras). Seu quartel localiza-se no Território Vermelho, antigamente conhecido como o estado do Rio Grande do Sul. Os soldados do E.V. são responsáveis por tratar de assuntos de interesse do Comando.
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Edgrim era um homem alto e negro, beirando seus vinte anos de idade. Seus cabelos eram cortados muito curtos, dando ao seu rosto uma aparência perfeitamente oval. O soldado deu de ombros. — Ora, meu amigo, eu fiquei um ano afastado do exército. Eu precisava aprender a fazer alguma coisa além de ser um excelente boêmio, como sem dúvida você deve ser, suponho. — Ele apoiava a cabeça com uma das mãos, pensando em sua próxima jogada. — Cavalo para casa F-6 — ele ordenou, e a peça se moveu, ameaçando o rei do adversário. — Bem, se eu fosse você, companheiro, já reservaria os trezentos créditos que você apostou comigo. Xeque-mate! — Desgraçado! — o homem repetiu, retirando um chip do bolso do uniforme. Ele ofereceu o pequeno objeto à Edgrim, que o inseriu em uma capsula metálica que carregava com ele. Aquele era o modo mais simples de executar uma transferência de valores. — Você é mesmo um desgraçado, rapaz. Eu jamais voltarei a jogar com você, a não ser que você queira me ensinar alguns truques da próxima vez. Arch observava à conversa sem muito entusiasmo. Tudo que queria era manter-se ocupado com alguma coisa, de modo que pudesse esquecer que sua noiva tivera uma recaída. — Vocês soube, capitão? — disse um soldado recém-chegado, conversando com Redmond. — Aquela estação de vida artificial finalmente está pronta. Deram-lhe o nome de Pandorum7. O capitão olhou-o com uma carranca. — Pare de falar besteiras, soldado Nichris. Todos sabem que essa construção toda é uma perda de tempo. A sociedade humana já 7
Pandorum: Estrutura no formato de um dodecaedro regular localizada em um terreno de 90 hectares no Território Central, construída com o intuito de abrigar os sobreviventes do apocalipse do ano 3000. Sua idealização e sua edificação foram realizadas em sessenta e quatro anos após a descoberta feita pelo cientista alemão Dr. Hans Schoenberg, recriando uma atmosfera artificial.
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enfrentou dezenas de falsos apocalipses que jamais aconteceram. Esse não será diferente. O sargento Archibald aproximou-se do capitão, caminhando tranquilamente pela sala de reuniões. Seu andar era imponente, como se ele estivesse atravessando uma passarela movimentada, chamando a atenção de todas as mulheres ao redor. Seus cabelos eram castanho-claros e curtos. Os olhos azuis esverdeados cintilavam como duas pedras preciosas recém-polidas. Nessa época, possuía vinte anos. A barba cerrada começava a cobrir a pele macia de seu maxilar. — Se me permite, capitão — ele falou, com seu famoso jeito educado e ao mesmo tempo sarcástico de tratar as autoridades. — Creio que o senhor está se esquecendo que esse caso apresenta provas consideráveis. O papel... — SARGENTO ARCHIBALD! — Redmond bradou, respingando saliva no rosto do rapaz. — Não quero ouvi-lo dizer que um maldito papelzinho é um bom argumento para se construir uma estrutura enorme daquelas! Isso tudo é um absurdo! Tudo culpa de um cientista russo infeliz que forjou a própria morte. Arch não se importava com os gritos do capitão, que provavelmente chamaram a atenção de todos os soldados presentes na sala. — Na verdade, o cara era alemão — o rapaz voltou a dizer, inclinando a cabeça. — Capitão Redmond, com todo o respeito, eu tenho certeza de que esse apocalipse vai acontecer. Não me pergunte como sei, apenas sinto. Você deve ter acompanhado pelos noticiários da HTV8 que a autodestruição da máquina do tempo foi investigada por anos. Os peritos atestaram que tudo não passou de um acidente.
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HTV: Sigla usada para referir-se à Televisão Holográfica.
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O Capitão franziu a testa e bufou, deixando evidente a sua impaciência. Ele se aproximou de Arch, pairando com autoridade sobre o rapaz. Sua expressão demonstrava irritação. — QUEM É VOCÊ?! — ele gritou, respirando pesadamente sobre ele. — Sargento Archibald, senhor. Tenho vinte anos e ingressei no Exército Vermelho há dois anos, senhor. — E O QUE VOCÊ FAZ AQUI, SARGENTO? — Eu sirvo meu país, senhor capitão. — SOU SEU SUPERIOR! ENTÃO NÃO VENHA ME DIZER COMO DEVO PENSAR! — Redmond bradou, encarando a expressão divertida do jovem. — Está me entendendo? Mais uma afronta e você pagará vinte débitos! Arch cruzou os braços em frente ao peito e mudou o peso de um pé para o outro, sentindo um sorriso surgir no canto de seus lábios. Seus olhos brilhavam de ansiedade. Ele não possuía a competência de seu pai, Jareh Archibald, a quem devia seu posto de sargento, mas tinha o dom de convencer as pessoas, pois aprendera a lê-las muito bem. — Senhor capitão, não digo isso para ser arrogante nem para intimidá-lo, mas eu sou o 1º sargento, caso não se recorde. Não pode simplesmente aplicar-me uma penitência como se eu fosse um soldado qualquer. — Ele se aproximou de Redmond até ambos estarem se encarando de perto. — Aquele papel descoberto por Hans Schoenberg foi investigado. A carta encontrada só poderia vir do futuro, já que aquele material não inflamável sequer tinha sido inventado na época. Os cientistas da atualidade parecem bastante seguros de que o fim do mundo será daqui a dois anos, no ano 3000. Bem, minha opinião é que o Comando não teria investido bilhões de créditos em Pandorum se não tivessem certeza absoluta de que o fim está próximo.
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Nichris, que estava encolhido a um canto, atento à discussão, aventurou-se a dar um passo à frente. — Eu... concordo com o sargento Archibald, senhor capitão — ele disse, cautelosamente. — Investimentos que requerem tanto capital e longos anos de duração só podem ser verídicos. Nunca antes se preocuparam tanto com o fim do mundo. Mas essa estrutura... Pandorum... você sabe quantas pessoas ela pode abrigar? — Meio milhão de pessoas, ouvi dizer — disse o capitão. — Isso é pouquíssimo! — exclamou Nichris. — O que vai acontecer ao restante da população? Arch passou a mão na nuca em um gesto de preocupação. Esse detalhe jamais passara por sua cabeça. — É provável que somente os mais ricos possam comprar o direito de se abrigarem em Pandorum — ele falou, imaginando se ele seria um dos quinhentos mil sobreviventes. — Aquelas pessoas do Território Verde9... provavelmente nenhuma delas vai sobreviver. Era com pesar que pensava nos moradores do Complexo, que viviam suas vidas em um estado de alienação, desconhecendo o fato de serem conhecidos em todo o país como “escravos inconscientes”, ou seja, pessoas que não têm consciência de que estão sendo manipuladas e exploradas pelo Comando. Diversas organizações arriscavam-se em impedir que aquele abuso continuasse, mesmo que aqueles habitantes pobres fossem os responsáveis pela plantação de árvores e subsistência natural de todos os territórios. Porém, na maioria dos casos, o líder das organizações desaparecia ou falecia de causas desconhecidas. Graças a isso, o sistema
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Território Verde: Localiza-se na região norte do país, antigamente conhecido como estado da Amazônia. É o território mais pobre e de economia mais desequilibrada, tendo suas referências mais famosas o espaço de habitação denominado Complexo e a prisão Cattleburn.
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de trabalho no Complexo perdurou, e cada vez menos associações lutavam pela causa. — Você está falando dos escravos inconscientes que plantam árvores? — Nichris perguntou. — O lugar chama-se Complexo, certo? O Complexo era um espaço de habitação construído pelo Comando para abrigar famílias desabrigadas (conhecidas popularmente como Sem-teto) em troca de trabalhos nas lavouras ou nos campos de plantio de árvores. Os jovens eram responsáveis pelos trabalhos mais árduos, como carregamento de árvores, construção de estruturas de madeira e transporte de resíduos de grande porte. Os adultos eram responsáveis por serviços de baixo esforço, como colheita, plantação, culinária e confecção de uniformes e outros tipos de vestuário. Os idosos não eram obrigados a trabalhar, mas eram poucos os que conseguiam sobreviver apenas com o valor de sua aposentadoria, levando-os a trabalhar no comércio. — Sim — Arch sussurrou. — Eu não consigo aceitar essas imposições feitas pelo Comando. Somos todos escravos aos olhos deles. — Não diga isso! — exclamou Nichris, alarmado. — Sargento Archibald — o capitão Redmond falou, impondo sua autoridade. — Pare de falar asneiras. Você deve saber muito bem o que acontece com aqueles que difamam o Comando. É melhor você ficar quieto e aceitar. Você é um homem livre, afinal de contas, e deve agradecer por isso. Arch riu debochadamente. — Há câmeras em todos os lugares, capitão, monitorando cada movimento e cada palavra que sai de nossas bocas. Ter de conviver nessa realidade, censurando cada pensamento que não pode ser dito em voz alta, isso para mim não é liberdade! — Ele aproximou-se de uma das paredes, onde um pequeno furo escondia uma das câmeras da sala de
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reuniões. — Está ouvindo isso, Klaus Polovitch10? Eu não aceito seu método de governar! Isso tudo é uma palhaçada de uma ditadura disfarçada de democracia! Eu me descontrolei novamente, ele pensou, tarde demais. Preciso pensar em algo com urgência. Ninguém pode saber o meu segredo. Um silêncio assombroso se instalou na sala. Todas as cabeças estavam viradas em sua direção, atentas aos seus movimentos. Nichris, o novato, encarava-o com terror absoluto. Os oficiais do Comando não tardaram a invadir a sala, acercando-se de Arch e paralisando seu corpo com uma arma de choque de alta frequência. O rapaz gritou e caiu de joelhos, sentindo todos os músculos de seu corpo estremecerem. Braceletes automáticos foram colocados em seus pulsos sem que ele percebesse. Dois androides arrastaram-no para o corredor. Eram incrivelmente parecidos com humanos normais, não fosse a pele semitransparente das bochechas, por onde era possível visualizar as engrenagens de metal. Arch sentia muita tontura e seus olhos fechavam-se contra sua vontade. Quando fora escoltado pelos robôs, ele achou que fosse morrer. Assim que ele atingiu o corredor e reconheceu o homem diante de si, ele teve certeza.
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Klaus Polovitch: político de origem russa, atual governante do Brasil. Dirige o país desde 2989.
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Durante o ano de 2936 d.C., o pesquisador científico alemão, Dr. Hans Schoenberg, após a descoberta feita por sua sonda AVA0032.42-76, deu início a um movimento préapocalíptico que mudaria o rumo de toda uma nação. Gwen, uma jovem inteligente e batalhadora, descendente de Sem-tetos e atual habitante do Complexo, vê seu mundo virar de cabeça para baixo quando a decadência do mundo, designada como A Queda, se inicia. Arch, um ex-sargento do Exército Vermelho, após a morte de seu amor de infância, precisa lidar com a solidão e a culpa em uma nação prestes a desmoronar. Quando estes dois caminhos se cruzam, dáse início a uma luta incessante por aquilo em que acreditam: a busca pela liberdade e pelo lugar ao qual pertencem.
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