10/08/2012 Blogueiras Feministas

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Cores em favor dos direitos da mulher Postado em: 10/08/2012 por: Cecilia Olliveira Latas de spray numa mão. Direitos da mulher na outra. Assim trabalha a artista Panmela Castro, que usa o grafitte para levar cor e informações sobre a Lei Maria da Penha às favelas do Rio de Janeiro.

——— Trabalhando num mundo predominante masculino, ela já teve que dar explicações a polícia sobre seu trabalho e ser confundida com um homem ao receber uma premiação, afinal, grafitte é coisa de homem, certo? Errado!

Carioca, balzackiana e moradora da Penha (RJ), Panmela Castro, que assina também como Anarkia Boladona, ganhou o mundo com sua arte e com seu jeito peculiar e canalizado de trabalhar os direitos das mulheres. Não é a toa que ela foi premiada em Nova York com o DVF Awards, junto com Chouchou Namegabe, jornalista do Congo que em 2003 fundou a South Kivu’s Association of Women Jornalists (AFEM), por meio da qual empodera as mulheres, especialmente na área rural do país e também Oprah Winfrey, que através de sua fundação melhora a educação e a vida de mulheres e crianças ao redor do mundo. E mais muita gente boa pelo mundo afora. O prêmio anual é dado a mulheres que lutam para diminuir a violência e a injustiça de gênero.

Anarkia leva cor à história de mulheres que passaram por violações e a tantas outras, evitando que estas não vivam tais enredos. Em seus trabalhos, autobiográficos, ela pinta sua trajetória, que dia-a-dia ganha um plus com a história das mulheres que perpassam sua vida. Relações de poder e sexualidade que tangenciam o desbravamento de territórios urbanos e imaginários, que estão sendo mudados cotidianamente através do trabalho desta carioca, com base na Lei Maria da Penha, que fez seis anos no dia 07 de agosto. O Blogueiras Feministas ouviu a história desta carioca que mudou sua vida para mudar vida de outras mulheres.

Panm ela Castro, tam bém conhecida com o Anarkia Boladona. Foto de capa de sua página no facebook.

Você ganhou o prêmio anual dado a mulheres que lutam para diminuir a violência e a injustiça de gênero, pela Diller-von Fustenberg Family Foundation. Qual a importância de ter seu trabalho reconhecido mundialmente?

Panmela – Eu acho que a grande diferença – tem varias pessoas que trabalham om o que eu trabalho, que são feministas – mas PR Amim, a diferença é esse premio ter vindo com o grafitti. Aqui no Brasil não, mas lá fora o grafitti é muito considerado como vandalismo. É um tipo de violência contra a cidade e de repente eles olharam o trabalho aqui, m grafitti, que pra ele não é arte, e achar isso legal e comprar a idéia, é diferente. Quando eu comecei a trabalhar com a violência contra a mulher foi uma forma de eu contribuir pra uma coisa que eu achava importante, mas a única coisa que eu sabia fazer era grafitar. Todas as minhas amigas grafitavam, então, fomos resolvi usar isso pra contribuir. E deu super certo. O prêmio é o reconhecimento deste trabalho.

O seu trabalho consiste em conscientizar as mulheres vítimas de violência doméstica de seus direitos, especialmente nas favelas cariocas, o que não é muito fácil. Como é esse trabalho? Panmela – O principal que coloco pras meninas que trabalham comigo na Rede Nami [Instituição fundada por Anarkia] é que hoje ainda temos muito problema com tráfico. Como explicamos pra uma mulher que sofreu violência por parte de seu marido, que ela tem que chamar a polícia? Num existe isso, né? Então o principal do trabalho da gente nestas circunstancias é mostrar pra estas mulheres que coisas que elas acham que é habitual, que é obrigação delas como mulher, não é. Elas tem outras possibilidades na vida. Não tem essa coisa de “isso é obrigação da mulher fazer”. A lei Maria da Penha vem pra mudar mesmo a consciência das pessoas e não pra colocar todos os maridos na cadeia e separar os casais. Há coisas que nem sempre são percebidas, principalmente as agressões verbais. De 2006 pra cá as coisas mudaram muito. Vejo pela garotada do grafitti hoje. Antigamente, quando você falava que batia na sua mulher, a reação era: “mas o quê que ela fez?”. O intuito era querer justificar o ato, que era “normal”. O homem tinha como que um direito de bater na mulher. Hoje em dia não. Vejo os garotos levando isso pro lado da vergonha. É uma vergonha bater em mulher. Eles sabem que é errado. Eles estão sendo educados. Essa é a nossa linha: Educar as pessoas, pensar com elas o que é certo e o que é errado, pra desconstruir o que há de violento.

Como é o Trabalho na Nami Rede Feminista de Arte Urbana? Como vocês alcançam a realidade das mulheres que moram em favelas e periferias cariocas? Panmela – Na Rede Nami a gente desenvolveu uma metodologia pra falar com estas mulheres. O que acontece?


Panmela – Na Rede Nami a gente desenvolveu uma metodologia pra falar com estas mulheres. O que acontece? Você chega na favela e quer falar da Lei Maria da Penha. Ninguém quer saber de Lei, apesar de agora ela ser super conhecida. Todos já ouviram falar, embora não saibam muito bem como se aplica. Se você chega só falando da lei, as pessoas não se interessam. Se você vai falar de violência doméstica, ninguém quer falar. Primeiro que, quem sofre, tem vergonha. Segundo que, quem não sofreu, acha que isso acontece só com as outras. E aí corríamos o risco das pessoas simplesmente não se interessarem pelo trabalho. Então a gente viu que com o grafitti conseguíamos chamar a atenção delas pra falar sobre isso. Fazemos uma oficina que é dividida em duas partes. Num primeiro momento a gente usa o Teatro do Boal (Referência a Agusto Boal, que criou o teatro do oprimido, com o uso do diálogo e interação com o público) pra colocar a situação e fazer as mulheres debaterem, falar de suas vidas, experiências com a família, com os vizinhos, e aí então, colocamos questões da lei e explicamos que elas tem direitos e como isso funciona. Numa segunda parte, convidamos estas pessoas para pintar um mural sobre a lei. Então o grafitti não é um fim. Ele é um meio, um veículo pra fazer este debate.

Porque você escolheu trabalhar com gênero e garantia de direitos das mulheres? Como você aborda os temas?

Panmela – Meu trabalho é autobiográfico. Eu pinto as minhas vivencias nas personagens que eu crio. Entao todas estas historias que eu vou contando, inclusive nesta entrevista, estão integradas nas minhas pinturas, nas minhas personagens. Elas contam historias que eu vivi na minha vida. A gente fala de direitos da mulher, mas eu considero meu ativismo muito mais na questão de pensar, de agir, do que numa questão de direito. Claro que as duas estão ligadas, mas a maneira de pensar é primordial.

— Você trabalha num mundo predominantemente masculino. Como foi entrar pra este mundo?

Oficina de Lam be Lam be para refletir sobre o Dia Latino Am ericano pela Descrim inalização do Aborto.. Foto de Rede Nam i.

Panmela – Eu sofri, mas isso geralmente vem com uma sutileza tão grande! Eu só fui perceber depois que me tornei feminista e que comecei a pensar dentro deste aspecto. Antes eu não via estas coisas. Quando eu ganhei o Prêmio Hutus de Grafiteira do Ano, isso em 2007, a categoria era mista. O resto era, rapper feminino, rapper masculino, separado por homem e mulher, mas no grafitti não. Não tinham grafiteiras pra concorrer. Quando o ator chamou meu nome pra me entregar o prêmio, eu subi no palco com meu namorado. Ele foi pro lado do meu namorado pra entregar o premio. E aí teve uma grande repercussão porque eu ganhei o premio, em meio a gente que estava há mais de 20 anos no grafitti e eu era muito nova, era mulher. Todos ficaram felizes e surpresos por uma menina ter ganhado, mas minha colocação é: Por que uma mulher ganhar este prêmio tinha que ser um espanto? Por que não é uma coisa normal? Quando eu namorava ninguém me chamava para os eventos. Eu era a namorada do fulano. Algo como “Não vamos botar ela no meio da bagunça”. Hoje que estou solteira me chamam pra tudo. Mas se eu voltar a me relacionar, não me chamam mais pra nada. Isso esta ligado a minha condição de mulher solteira ou mulher comprometida e ao “respeito” que eles tem pelo outro macho.

Você conseguiu mudar esse quadro? Panmela – Eles tinham essa coisa desse “respeito” e ninguém se aproximava de mim. Aí eu comecei a grafitar homens nus e quebrei aquele tabu. Até fiz uma exposição, a Eat Art, com estes trabalhos. Aí eles começaram a me chamar de piranha e eu fui convidada pra tudo. Eles me paqueravam, me davam cantada. Achavam que era tudo muito fácil. Mas pra mim tava bom, porque eu ia em tudo. Mas tudo sempre nessa condição da minha sexualidade. Isso é muito esquisito. Por que o homem não tem isso e a mulher tem que ter? Depender dessa condição feminina pra estar nos espaços não é legal.

[+] Exposição “The Myth”, sua primeira exposição individual em Nova York.

Inspirada no clássico existencialista “O Segundo Sexo” da feminista francesa Simone de Beauvoir, a grafiteira Panmela Castro cria a série The Myth que intitula a exposição que foi inaugurada em junho no Bob’s Gallery em Manhattan. Com curadoria da pesquisadora de arte Jessica N. Pabón, The Myth interpreta os vários estereótipos do mito feminino “o outro” focando nas relações entre gênero e sexualidade. Panmela aborda figuras religiosas conhecidas como “Eva” e “Lilith” e depois cria, envolve e desdobra estas com outras fortes mitológicas figuras de suas própria imaginação.

[+] Entrevista com a grafiteira Anarkia Boladona.

[+] RJ - Exposição “Eat Art” de Panmela Castro

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Cecilia Olliveira Jornalista - Esp. em Criminalidade e Segurança Pública, Adm Pública e 3° Setor. Atleticana de corpo, alma e coração! Assessora do PRVL - Programa de Redução da Violência Letal contra Adolescentes e Jovens. More Posts - Website - Twitter

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