21/09/2013 O globo

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Redução da violência e preços possíveis de imóveis levam artistas plásticos para o Rio Comprido Pintores, grafiteiros e designers ‘descobrem’ o bairro e dão partida na revitalização da região POR POR JOANA DALE

21/09/2013 18:00 / ATUALIZADO 22/09/2013 10:15

A partir da esquerda, Rodrigo Madeira , Felipe Bardy, Pamela Castro, Rodrigo Tizil e Bragga na antiga fábrica de equipamentos hospitalares, que desde o início do ano passou a ser um ateliê coletivo, comandando pela turma do ArtRua - Mônica Imbuzeiro / Agência O Globo

RIO - Sem alarde, no início do ano, grafiteiros cariocas deram a partida na ocupação de uma antiga fábrica de equipamentos hospitalares na Rua Itapiru, no Rio Comprido, Zona Norte do Rio. Latas de spray, telas e cavaletes passaram a conviver com desfibriladores,

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eletrocardiógrafos e respiradores esquecidos nos cantos do primeiro dos três andares do edifício, desativado há dez anos. Nos demais pavimentos, pinturas, esculturas e instalações criadas pelos inquilinos recémchegados agora imprimem novas cores ao ambiente industrial. Os 2.100 metros quadrados do espaço são divididos pelos artistas Alê Souto, Bragga, Felipe Bardy, Gais, Rodrigo Tizil e pelas meninas da Agência Nami Graffiti. O fotógrafo Rodrigo Madeira também está montando o seu estúdio por lá e, até o fim do ano, o Instituto R.U.A., comandante de toda essa ação entre amigos, vai instalar sua sede no prédio construído nos anos 1960. Eles são os novos “locais” do Rio Comprido, CEP INFOGRÁFICO A arte pede passagem no Rio recentemente adotado por Comprido outros expoentes da arte urbana como Toz, Guga Ferraz e Antônio Bokel para abrigar seus ateliês e/ou fixar residência. A migração da classe artística para a região teve início há três anos, após a chegada das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) aos morros que rodeiam o bairro. A redução da violência, os preços ainda possíveis dos imóveis (o metro quadrado no Rio Comprido custa R$ 5 mil, enquanto no Leblon, bairro mais valorizado da cidade, chega a R$ 14 mil, de acordo com o Índice Fipe/ZAP) e a localização estratégica (está a dez minutos da Zona Sul e do Centro) encabeçam os fatores que impulsionam a retomada do lugar, que tem origem nobre e ganhou ares soturnos após a construção do Elevado Engenheiro Freyssinet, em 1971.

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— O Rio Comprido vai se tornar o próximo polo artístico da cidade — aposta Fabio Kogut, produtor executivo do ArtRua, circuito de arte urbana criado pelo Instituto R.U.A. em 2011 em paralelo à feira ArtRio. Idealizador do ArtRua e sócio da galeria Huma Art Projects, André Bretas pisou pela primeira vez na fábrica em setembro do ano passado, a convite de Marry Zerkowski, filha do dono do imóvel. Ela queria que ele


fizesse a curadoria de um projeto que conjugava oficina de grafite para as crianças das comunidades próximas e uma exposição. O evento aconteceu, André não foi curador, mas... — Eu propus transformar a fábrica de equipamentos hospitalares numa fábrica de artistas — conta André, que batizou o espaço de Fábrica Rua. — É um modelo inspirado na LX Factory, espaço de trabalho coletivo às margens do Rio Tejo, em Lisboa, Portugal. Estamos regularizando a documentação junto à prefeitura para construir uma área de eventos e um bar. Enquanto a badalação não vem, integrantes da “rede feminista de arte urbana” Nami seguem o expediente de cada dia. — É um espaço raro na cidade, onde temos convivência com outros artistas — diz Pamela Castro, fundadora da Nami. Tizil é vizinho de ateliê das meninas: — Trabalhava na casa da minha família, em Jacarepaguá. Aqui tenho espaço para fazer pinturas de grandes dimensões que só poderia criar nos galpões da Gamboa, área que já virou alvo da especulação imobiliária por causa da revitalização do Porto. O movimento rumo a áreas degradadas da cidade faz parte da essência dos artistas, observa Washington Fajardo, secretário municipal de Patrimônio Cultural: — Os artistas valorizam a história e a arquitetura da região. Pioneiros, eles estão abrindo espaço para outras categorias profissionais irem para o Rio Comprido. Pegando carona na iminente derrubada do Elevado da Perimetral, Fajardo lança campanha informal pela demolição do Elevado Engenheiro Freyssinet: — O viaduto matou o bairro, que era agradabilíssimo. A demolição é algo que será cogitada nos próximos dez, 20 anos. O artista plástico Guga Ferraz colou um


pedaço de céu azul na parte inferior do elevado para lembrar a vista arejada que os moradores tinham antes de o Rio Comprido ser coberto por concreto. A intervenção urbana pode ser vista por quem atravessa a Avenida Paulo de Frontin olhando para cima, na altura da praça principal. Para executar a obra, ele passou dois dias em cima de um andaime instalado sob o viaduto. Fotos do trabalho integraram a última exposição do artista, denominada “Colapso”, que esteve em cartaz na galeria A Gentil Carioca até o fim do ano passado. — O viaduto é grosseiro, transformou o Rio Comprido em um bairro de passagem. As águas cristalinas do rio que nasce na Floresta da Tijuca viraram um córrego de esgoto, e as casas da avenida nunca mais puderam abrir as janelas por causa da poeira e do barulho — critica. Nascido e crescido na Tijuca, Guga se mudou em 2011 para um sobrado no Rio Comprido, onde mora e trabalha. O contrato de aluguel, porém, está para vencer:

RIO — Todos os dias pego a bicicleta para procurar outro lugar onde eu possa morar e COMPARTILHAR BUSCAR ter espaço para trabalhar. Mas, na minha ronda, reparei que os imóveis do Rio Comprido ficaram mais caros nos últimos dois anos. Quero continuar aqui! De 2011 para cá, houve um aumento de 36% no preço do metro quadrado de um apartamento no Rio Comprido, segundo pesquisa do Sindicato de Habitação do Rio de Janeiro (Secovi Rio). — O bairro está voltando a ser desejado. Após as UPPs, os imóveis recuperaram 50% do valor original. Mas ainda é possível encontrar boas ofertas — diz Rubem Vasconcellos, vice-presidente da Associação dos Dirigentes do Mercado Imobiliário. Coordenador das UPPs, o coronel Frederico Caldas afirma que houve uma “redução drástica” da violência na região. Comuns no passado, os tiroteios entre traficantes de favelas dominadas por facções rivais hoje

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são casos isolados. — O Rio Comprido já foi considerado uma das áreas mais perigosas da cidade. Após as UPPs, detectamos uma preocupação maior no Morro da Mineira, mas o entorno de modo geral está tranquilo — diz o coronel Frederico. O grafiteiro Tomaz Viana, o Toz, fechou a compra de uma simpática casa cor-de-rosa na Rua Santa Alexandrina uma semana após a instalação da UPP do Turano, em outubro de 2010. Desde então, ele contribui para transformar o Rio Comprido. Representado pela galeria Movimento, ele sai para pintar nas ruas todo fim de semana. Duas casas, uma padaria e o portão de um estacionamento já ganharam sua arte, além de pilastras do viaduto, como a que serviu de base para o desenho da índia que está a seu lado na capa da Revista: — Alguns vizinhos estão me fazendo encomendas. Não cobro nada em troca da minha liberdade de expressão. Toz também costuma desbravar o bairro. Nas caminhadas com Tião, seu cane corso de 50 quilos, descobriu recantos aprazíveis, como a Praça Doutor Del Vecchio. Aos sábados, gosta de tomar cerveja com a mulher ao lado do chafariz da Praça Condessa Paulo de Frontin. Nos domingos de sol, usa a piscina do Clube Alemão. — Nos fins de semana, me sinto em uma cidade do interior. Mas claro que isso aqui não é um paraíso: toda hora falta luz, quando chove as ruas são inundadas e os lixeiros só aparecem no Natal, para pedir caixinha... Mesmo assim, ainda acho o Rio Comprido uma ótima alternativa para fugir da especulação imobiliária da Zona Sul. A tendência natural é que mais artistas venham para cá — acredita ele, egresso do Jardim Botânico. Por sua vez, o artista plástico Antônio Bokel veio de uma temporada em Ipanema atraído pelo pacote espaço-preço-localização. Há um ano e meio, ele divide uma casinha na


bucólica Rua Dona Cecília com João Sanchez, artista plástico e gravador que comanda o Estúdio Baren, que já imprimiu gravuras para Waltércio Caldas e Beth Jobim. As máquinas ficam no primeiro andar e os trabalhos de Bokel ocupam o segundo andar do espaço, que já foi sede de uma igreja evangélica. — Fiquei apaixonado pelo bairro. É um espaço democrático habitado por pessoas reais — diz Bokel, enquanto observa dois homens tomando sol na piscina da casa da frente e o lava-jato vizinho. — Coleciono as bolas murchas dos meninos que jogam pelada na rua e os cartazes de botecos jogados no lixo. A arte que vem da rua me inspira. Pelo bairro, colei cartazes no viaduto e fiz uma pintura na casa da esquina. Os tradicionais moradores estão aceitando bem a nossa chegada. O Rio Comprido cresceu como bairro a partir de 1919, na gestão do então prefeito Paulo de Frontin. A primeira construção por lá foi a Casa do Bispo — ainda de pé, ao lado da Igreja de São Pedro —, no século XVIII. — No início do século XX, o Rio Comprido concorria com Copacabana. Era o ponto chique da Zona Norte. Pegava bem dizer que morava na Avenida Paulo de Frontin — completa o arquiteto e historiador Nireu Cavalcanti. Erguida nos áureos tempos, uma antiga fábrica de camisas na Rua Aristides Lobo, onde fica o polo têxtil, virou endereço de ateliês de pintura. Os artistas plásticos Fred Carvalho, Bete Esteves, Elizabeth Franco e Luciana Maia dividem o espaço de duas amplas salas com janelões abertos para o vaivém da rua. Professor da Escola de Belas Artes da UFRJ, Fred comanda um grupo de estudos no ateliê toda quarta-feira. São 15 mulheres. Uma delas é a herdeira da fábrica, Bia Saade, que desde 2010 mantém o escritório de sua galeria de joias contemporâneas, O Banquete, lá. — No início, as nossas companheiras de grupo temiam vir para o Rio Comprido, mas

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agora todo mundo já desenvolveu um carinho pelo bairro — conta Elizabeth Franco, que levou a filha, Anna Bentes, para integrar a turma. O programa virou cool. — Batizamos o grupo de Long River — conta Fred.

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