Arte
Um traço universal Grafiteiros do Rio e suas obras de sucesso lá fora
FOTOS ARQUIVO PESSOAL
FINS, nascido em Santa Teresa, 33 anos, mora no mesmo bairro › Fachada da boate o1ne, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes MATEU VELASCO, de Laranjeiras, 34 anos, vive em Los Angeles, nos Estados Unidos › Obra incluída no Festival for the Trees, em Portland TOZ, baiano, 39 anos, mora em Santa Teresa › Sua menina de olhos puxados está num muro do Centro de Gante, na Bélgica
POOF ART PHOTO/DIVULGAÇÃO
Carlos Bobi, de Duque de Caxias: as bocas realistas de Ramos e do Botânico agora estão na Europa
Grafite para expor tação Artistas que despontaram pintando muros, postes e paredes do Rio com tinta spray agora também fazem sucesso fora do país Saulo Pereira Guimarães 34
Veja Rio 8 de julho, 2015
A
arte que usa como suporte os mais variados muros cariocas está partindo para voos maiores. Agora, o foco do nosso grafite é o exterior. Lá fora, os expoentes desse movimento artístico, urbano por excelência, costumam conservar os apelidos que os identificam — alcunhas às vezes esquisitas, como Fins, Toz e Anarkia Boladona. Se os codinomes geralmente são mantidos, as oportunidades, porém, mostram-se bem diferentes. No estrangeiro, são contratados em moeda mais forte que o real e de
forma mais profissionalizada. Exemplo: Anarkia (Panmela Castro, criada na Penha) conta hoje com um escritório com representantes fixos em Nova York, e passou a cobrar 200 dólares por metro quadrado pintado. Recentemente, essa moradora do Catumbi ganhou 5 000 dólares por um único mural. No Rio, um de seus painéis mais conhecidos fica em frente à Delegacia de Atendimento à Mulher, na Lapa. Em traços fortes, ela comenta com muitas cores a Lei Maria da Penha. Convidada, nada recebeu pelo
ANARKIA BOLADONA, nascida na Penha, 33 anos, hoje mora no Catumbi › Centro La Casa Pintada, em Linares, na Espanha
trabalho. Fora do Brasil, o negócio vai de vento em popa. “Já estou até recusando viagens”, diz a moça, uma confessa ex-pichadora, que sujava paredes com tristes rabiscos, acreditando que grafites eram “coisa de trouxa”. Além do dinheiro mais farto, a visibilidade que esses artistas conquistam ao expor no exterior é um chamariz para novas chances, nos mais díspares pontos do planeta. Recém-convertido em grafiteiro tipo exportação, Carlos Bobi, de Duque de Caxias, acaba de encerrar uma
turnê de um mês pela Europa. Tornou-se mais conhecido lá fora após assinar um mural no Rock in Rio Las Vegas, nos Estados Unidos, em maio. Sua marca são narizes e bocas com traços realistas. Seu próximo projeto: realizar trabalhos no Chile e no Peru. Nascido em Santa Teresa, Marcelo Jou, o Fins, 33 anos, tem quilometragem mais extensa: seus murais enfeitam paredes de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Já Tomaz Viana, o Toz, famoso pela imagem de Nina, uma garota com beleza oriental, trabalha em um painel a ser instalado em La Défense, em Paris. A trajetória de sucesso dos artistas de rua é um sintoma de que o grafite passa por ótima fase no Rio. E basta sair às ruas para observar. Alguns sinais recentes revelam a expansão do, digamos assim,
“setor”. Em 2014, nossos grafiteiros foram premiados com um decreto municipal autorizando que postes, pistas de skate e tapumes de obras sejam usados como “tela”. Outro reflexo foi a inauguração, no último mês, da GaleRio, em Botafogo, o primeiro espaço na cidade dedicado a esse tipo de arte. Festejando o bom momento, a categoria planeja a abertura de um museu específico para a modalidade. Batizado de StreetArtRio, será vinculado a um site que cataloga obras do gênero na cidade. A ideia de ocupar um galpão de 4 000 metros quadrados na Gamboa vem sendo debatida com a prefeitura. Se tudo der certo, o museu deve ficar pronto em meados do ano que vem, quando todos os olhos do mundo estiverem voltados para cá, por causa dos Jogos Olímpicos. ■
Veja Rio 8 de julho, 2015
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