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O cotidiano vive nas cores do gra te Publicado em 31 de outubro de 2017
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por Daniel Santos
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em Cultura, Cultura | Transcender, Transcender
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96
LOJA
CONTATO
C
ontar a história da arte de rua de São Paulo signi ca dedicar um espaço exclusivo ao gra te e à pichação. Basta dar um giro de 360º em qualquer rua da capital para encontrar um gra te ou picho marcando as paredes, muros, vigas ou pontes. Bonita ou não, a arte urbana gera muita controvérsia na sociedade e não é capaz de agradar a gregos e troianos. A nal de contas, gra te
pode ou não ser considerado arte? O debate ganhou força na opinião pública paulistana após o prefeito João Dória Jr. anunciar que os painéis de gra tes da avenida 23 de Maio seriam apagadas em uma das etapas do programa “São Paulo Cidade Linda”. O argumento do prefeito para apagar os painéis da 23 de Maio era o de que muitos deles estavam pichados. A decisão foi alvo de inúmeras críticas, pois aquele que é considerado o maior painel de arte urbana do mundo seria substituído por uma tinta cinza. Os artistas de rua pedem autorização para uma intervenção artística na avenida desde o governo de Jânio Quadros (1986 a 1989), porém a autorização só veio mesmo na prefeitura de Fernando Haddad, em 2016. “A avenida 23 de Maio foi o ápice do movimento artístico urbano paulistano”, relembrou Rui Amaral em entrevista à BBC Brasil. Amaral é autor do primeiro gra te pintado à mão em São Paulo, em 1982. Até 2011, o gra te era considerado crime ambiental e vandalismo, hoje é visto como uma expressão da arte urbana; o picho, por sua vez, costuma trazer intervenções agressivas, xingamentos, além de assinaturas pessoais ou de gangues e, por esses motivos, continua sendo tratado como crime. Hoje, o gra te tem uma forte aceitação na sociedade, mesmo com críticas. Ele perdeu a má impressão de ser uma arte marginal, ou algo que destrói a cidade.
Gra te x pichação De acordo com artigo do professor Rodrigo Cassio de Oliveira, o gra te recupera o ideal de uma arte capaz de gerar experiências estéticas que modi cam a nossa percepção da cidade. “Nesse aspecto, o gra te e as pichações já se mostram fatalmente distintos. Ainda que alguém considerasse que um prédio, muro ou escultura pichados são experiências estéticas oferecidas aos transeuntes, ele não seria capaz de provar que a pichação pode romper com a percepção comum da cidade. Pelo contrário, as pichações aprofundam a experiência da cidade como ruína e destruição, banalizando-se rapidamente. Os gra tes, por sua vez, são capazes de criar pequenos novos mundos”, a rma. Para Alexandre Barbosa Pereira, pesquisador de Antropologia Urbana da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) separar gra te da pichação contribui para que o gra te comece a ser aceito, mas apenas como forma de combate ao picho. “O gra te, mais associado à arte, é mais facilmente entendido como forma de ação do Estado e mesmo do mercado, já a pichação, execrada pela maioria da população, é uma máquina de guerra, nômade e difícil de ser capturada. Assim, ca mais fácil criminalizar esta e mesmo criar certo pânico moral em torno dela como forma de marketing político e publicidade pessoal”, explica. A arena onde tudo acontece é a rua, e a tentativa de diversos gra teiros é expressar e apresentar à sociedade a realidade das ruas e do cotidiano. Ela é fruto de um esforço diário para contar histórias. Apesar das diversas críticas que ainda sofre, o gra te é aceito pela maior parte da sociedade como uma expressão artística genuína. Ela explora todas as possibilidades do cotidiano, denuncia desigualdades e apresenta um novo mundo. “Por trás de um gra te existe uma história que não pode ser ignorada. Ignorar a história de uma obra de arte é um tiro no pé”, disse a gra teira Bárbara Goys à BBC Brasil.
Para as ruas do mundo O gra te de São Paulo é considerado um dos melhores do mundo. São diversos os artista que tomaram conta de espaços, ruas, avenidas, prédios e em vários cantos do mundo. Gra teiros como Os Gêmeos, Kobra, Zezão, Paulo Ito, Nina Pandolfo e Mag Magrela, além de obras no Brasil, têm artes feitas na Alemanha, EUA, França, Inglaterra entre outros países.
Santa Ceia de Paulo Ito – Alemanha
Gra teiros para conhecer
CRIOLA
DERLON
NOVE
Utiliza seu trabalho em Belo
Tem como marca os traços
Faz uso de elementos digitais
Horizonte para questionar os
de xilogravura e arte popular.
e orgânicos sincronizados
padrões de beleza impostos às
Utilizando poucas cores, criou uma
através de elementos geométricos, que
mulheres, bem como fortalecer a
simbiose da intervenção urbana com
ganham cores vibrantes através da
identidade e a representatividade afro-
um dos principais meios de
aquarela que escorre sempre ao fundo
brasileira.
comunicação impressa da cultura
de suas obras.
popular.
NINA PANDOLFO
PANMELA CASTRO
ALEX SENNA
Nasceu no interior de São
Costuma questionar a
Os riscos simples em preto e
Paulo e decidiu viver de sua
liberdade feminina,
branco do artista, que é
arte aos 24 anos de idade. Seus
principalmente naquilo que diz
daltônico, foram in uenciados pelas
desenhos são coloridos, cheios de vida e
respeito ao corpo, sexualidade e
histórias em quadrinhos e ilustrações e
com uma grande constância de guras
subjetividade da mulher.
retratam as relações humanas com
femininas.
elementos do imaginário infantil.
Publicado no Jornal Transcender de abril/maio 2017
Etiquetas: Cultura
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