Revista Panorama da AQÜICULTURA ed. 105

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Panorama da AQĂœICULTURA, janeiro/fevereiro, 2008

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Editorial

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Lista de Discussão Panorama-L, mantida por esta revista na internet desde 1997, comemorando, portanto, dez anos de funcionamento, é uma das conquistas que mais me enche de orgulho. Por ser um fórum aberto e sem moderação, a Panorama-L tem sido palco de intensa troca de conhecimentos, bem ao gosto de quem atua num setor produtivo extremamente dinâmico, como é o caso da aqüicultura. Um dos motivos do meu orgulho foi saber que a troca de correspondências do nosso fórum virtual nos últimos anos, foi utilizada em uma importante pesquisa da FAO, como base de consulta para identificar os principais problemas que afetam a aqüicultura brasileira, colaborando, assim, para um trabalho que resultou no excelente livro “Aqüicultura no Brasil: o desafio é crescer” (que agora pode ser baixado diretamente do site www.gia.org.br). Por explorar a agilidade e a rapidez proporcionada pela Internet, muitos produtores se utilizam da Panorama-L para se socorrerem de problemas no campo. Nesse espaço virtual, não é raro o debate de temas importantíssimos, a exemplo de uma recente discussão em torno da mecânica da formação dos preços na cadeia produtiva da tilápia, reproduzida por nós na sessão “Notícias & Negócios On-line” dessa edição. Um fato muito curioso, entretanto, me chamou a atenção nas últimas semanas. Enquanto acompanhava as trocas de e-mails da Lista Panorama-L, me dei conta de que, mesmo em meio ao intenso noticiário da grande imprensa sobre as acusações de uso indevido do cartão de crédito corporativo pelo ministro Altemir Gregolin, em nenhum momento esse tema mereceu comentários na Lista de Discussão. Constatei que, de forma bastante curiosa, a imagem do Ministro foi “blindada”. Nada. Nem uma palavra sequer foi dita. Procurei sem muito sucesso uma explicação e acabei mais vez refletindo sobre a SEAP. Na verdade, trata-se de uma Secretaria Especial ligada a Presidência da República, e não um Ministério com toda infraestrutura que isso pode significar. O simples fato da SEAP não possuir seu quadro próprio de funcionários e de ter sido criada à revelia de muitos interesses, a torna um órgão extremamente frágil e vulnerável a manobras de grupos políticos e demais órgãos do governo, que viram suas funções esvaziadas com a sua criação, em 2003. Não seria, portanto, de todo errado afirmar que o setor aqüícola tem um forte receio de que mudanças, sejam elas quais forem, possam alterar de forma radical o perfil institucional que a SEAP vem construindo ao longo da sua curta existência. O silêncio do setor aqüícola que participa da Lista de Discussão Panorama-L talvez traga embutido consigo tensão e preocupação. É possível também que signifique um apoio velado às políticas da atual gestão, misturado com o óbvio descontentamento de toda a sociedade brasileira frente às apurações dos excessos no uso dos cartões de crédito corporativos. Agora é esperar o término das apurações da Corregedoria-geral da União - CGU, que já acatou as provas de Gregolin e o inocentou das acusações de uso indevido do seu cartão, alertando apenas para “impropriedades” em duas despesas realizadas com alimentação. O momento, portanto, é de espera e esperança de que tudo se esclareça rapidamente. Oxalá, as provas apresentadas por Gregolin o livrem das acusações e que a SEAP saia dos noticiários e só retorne trazendo boas notícias para a saúde, o bolso e o paladar dos brasileiros. E que a Lista de Discussão Panorama-L se perpetue como um espaço dedicado à rica troca de idéias e à saudável interação entre os aqüicultores. Como diz Herbert Paralamas Vianna, “só queremos saber do que pode dar certo. Não temos tempo a perder”. A todos, boa leitura Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor

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ÍNDICE Edição 105 – janeiro/fevereiro 2008

A única publicação brasileira dedicada exclusivamente aos cultivos de organismos aquáticos ISSN 1519-1141

Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Mundo Novo, 822 # 101 22251-020 - Botafogo - RJ Tel: (21) 2553-1107 / Fax: (21) 2553-3487 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br

Editor Chefe:

Biólogo Jomar Carvalho Filho

jomar@panoramadaaquicultura.com.br

Jornalista Responsável:

Solange Fonseca - MT23.828 Direção Comercial:

Solange Fonseca

publicidade@panoramadaaquicultura.com.br

Editorial

...Pág 03

Notícias & Negócios

...Pág 07

Notícias & Negócios on-line

...Pág 10

Excessiva alimentação pode agravar a mortalidade de peixes

...Pág 14

A aqüicultura estimulando a vida animal

...Pág 18

Tambaqui: monitoramento de estoques em Rondônia

...Pág 20

Mercado norte-americano de tilápia mostra-se promissor

...Pág 24

Truta salmonada: Processo produtivo em constante aprimoramento

...Pág 28

Pirarucu o peixe gigante: Novas descobertas e acertos

...Pág 36

Sanidade Aqüícola: Antibióticos na Aqüicultura

...Pág 42

Tilápia na África

...Pág 50

Lançamentos Editoriais

...Pág 56

Estatísticas da aqüicultura

...Pág 57

Carcinicultores participam de curso sobre o uso de probióticos

...Pág 61

Aqualider dá a partida para a sua engorda de bijupirá

...Pág 61

Inaugurado o Laboratório Nacional de Aqüicultura Marinha (LANAM)

...Pág 61

Colaboradores desta edição: Carlos Augusto Gomes Leal, Charles C. Ngugi, Daniela Tupy de Godoy, Danilo Pedro Streit Jr., Débora Machado Fracalossi, Fernando Kubitza, Henrique César Pereira Figueiredo, Jayme Aparecido Povh, Marcos G. Rigolino, Maria Célia Portella, Martin Halverson, Neuza S. Takahashi, Philip Conrad Scott, Ricardo Pereira Ribeiro, Ricardo Y. Tsukamoto, Tina Kutti, Yara A. Tabata Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores.

Assinatura:

Fernanda Carvalho Araújo e Daniela Dell’Armi

Capa: Foto Piscicultura Só Peixes da Amazônia e Arte Panorama da AQÜICULTURA

Tilapicultura na África

Genética do Tambaqui

Gregolin é alvo de investigações sobre o uso do cartão corporativo ...Pág 62

assinatura@panoramadaaquicultura.com.br Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail. ASSINANTE - Você pode controlar, a cada edição, quantos exemplares ainda fazem parte da sua assinatura. Basta conferir o número de créditos descrito entre parênteses na etiqueta que endereça a sua revista.

Números atrasados custam R$ 16,00 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 87, 88

Projeto Gráfico:

Leandro Aguiar

leandro@panoramadaaquicultura.com.br Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda.

Impresso na Grafitto Gráfica & Editora Ltda.

Os editores não respondem quanto a qualidade dos serviços e produtos anunciados.

IV Simpósio Internacional sobre GIS será no Rio de Janeiro

...Pág 63

XIII Simpósio Internacional de Nutrição e Alimentação em Florianópolis ...Pág 65 Calendário Aqüícola

...Pág 66

Truta Salmonada

Pirarucu o peixe gigante A reprodução do pirarucu não é atividade fácil. Os peixes adultos demoram alguns anos para ficarem aclimatados com novos ambientes, aprendendo com o tempo a reproduzir com sucesso. Além disso, o preço de reprodutores de pirarucu é caro e o custo de manutenção destes animais com alimento de qualidade é alto. Casais formados nem sempre reproduzem e, quando reproduzem, o número de alevinos nem sempre é grande, além do fato de que alguns pais são canibais. Essas e outras tantas informações a respeito do comportamento reprodutivo desta nobre espécie estão na matéria de capa dessa edição, na pág. 36.

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Notícias & Negócios TORTA DE CUPUAÇU - Uma pesquisa com os aspectos da nutrição do pirarucu e do tambaqui vem sendo coordenada pelo professor Manoel Pereira Filho, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Os experimentos contam com o apoio de uma fábrica de ração extrusada pertencente ao próprio órgão, o que facilita muito na elaboração das dietas experimentais. Segundo o pesquisador, a principal dificuldade dos trabalhos da fábrica é que o Amazonas produz poucos ingredientes para a elaboração das rações convencionais, o que estimula a utilização de novos ingredientes. O destaque tem sido a torta de amêndoa do cupuaçu que é obtida depois que a polpa é extraída e a semente é tratada, passando por um processo de fermentação. Após a secagem, a polpa tem seu óleo extraído e o resíduo restante passa a ser chamado de torta. Outros ingredientes que também vêm sendo estudados pelos pesquisadores do INPA são a torta de maracujá e os resíduos da extração da polpa de camu-camu, araçá-boi e goiaba.

língua inglesa, pelo menos dois anos de experiência profissional na área em que pretende se candidatar e, no momento da inscrição, estar residindo e trabalhando no Brasil. Cada candidato será avaliado conforme sua experiência e potencial. O programa busca identificar futuros líderes e formadores de opinião. As bolsas são concedidas para um programa formal de estudos de até 12 meses e não se aplicam a estágio nem a pesquisa. A aqüicultura está entre as áreas do programa. O formulário de inscrição para o ano acadêmico de 2009/2010 pode ser obtido no site www.chevening.org.br e deve ser enviado até o dia 31 de julho. O formulário deve ser preenchido em inglês e encaminhado com a documentação de apoio, indicada no site, ao escritório do British Council mais próximo (Brasília, Recife, Rio de Janeiro ou São Paulo). O British Council, organização internacional do Reino Unido para oportunidades educacionais e relações culturais, é o responsável pela administração do Chevening.

BOLSA BRITÂNICA - O programa Chevening de bolsas de estudos de pós-graduação no Reino Unido, financiado pelo Ministério das Relações Exteriores britânico, está com inscrições abertas. São duas bolsas destinadas exclusivamente a brasileiros. Essa seleção já acontece há 24 anos no Brasil, proporcionando aos profissionais uma oportunidade de fazer mestrado ou cursos de pós-graduação de curta duração em universidades britânicas. Os interessados devem cumprir os seguintes pré-requisitos: ser brasileiro, ter curso superior, bom domínio da

LEI DOS ORGÂNICOS - O governo aprovou, no dia 27 de dezembro de 2007, o decreto 6.323, que regulamenta a Lei 10.831, a Lei dos Orgânicos. A próxima etapa é submeter à consulta pública as instruções normativas que vão complementar o decreto. Cinco dessas instruções já estão com texto pronto. São as que estabelecem regras para a produção animal e vegetal e para o processamento, as que definem os mecanismos de garantia e informação da qualidade orgânica e o funcionamento das comissões e

a de boas práticas de produção orgânica. A Câmara Setorial trabalha agora na consolidação dos textos das instruções sobre extrativismo orgânico sustentável, acreditação das certificadoras e regulamento dos sistemas participativos de garantia. As instruções que dizem respeito à aqüicultura, entre outros, estão em fase de elaboração. ESTÍMULO - A aqüicultura no Estado de Rondônia ganhou mais um impulso a partir da publicação da Lei nº1861/08, que define e disciplina a atividade, estabelecendo diretrizes e estímulos à piscicultura, fixando os procedimentos administrativos para a concessão de licenças, valores de taxas, critérios e condutas para cada sistema de criação a ser adotado por pessoas físicas e jurídicas, sem prejudicar o meio ambiente. A nova lei permite que o pequeno produtor, com áreas de até dois hectares, fique isento das taxas das licenças expedidas pela Sedam - Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental, e terá o seu Relatório de Controle Ambiental (RCA) elaborado gratuitamente pela EMATER. Segundo o secretário da Sedam, Augustinho Pastore já existem cerca de 150 piscicultores cadastrados no órgão. Os demais produtores, com área superior a dois hectares, também foram contemplados com a redução das taxas de licenciamento. A lei dispõe ainda de algumas determinações para a atividade de piscicultura instalada e em operação em áreas de preservação permanentes - APP.

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Notícias & Negócios FENÔMENO VIETNAMITA - O Ministério de Agricultura e Desenvolvimento Rural do Vietnam, informou que, pela primeira vez, as exportações dos bagres do gênero Pangasius, também conhecidos como tra e basa alcançaram a marca de um milhão de toneladas, um volume 34% maior do que o produzido em 2006, uma vez que seu valor alcançou US$ 1 bilhões (EUR$ 689 milhões). O aumento das exportações em 2007 teve como destino a Ucrânia, Egito, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Costa Rica e Argélia. A União Européia, no entanto, permanece como o maior mercado absorvendo 49% das exportações vietnamitas, um volume avaliado em US$ 400 milhões ou € 276 milhões.

CASTANHÃO - Depois do reservatório de Itaipú, chegou a vez do Castanhão, no Ceará. As áreas para a produção de tilápia em tanques-rede no reservatório já foram demarcadas pela SEAP e já estão licenciadas e outorgadas. O edital que permitirá a cessão deverá ser publicado possivelmente ainda em março e haverá um prazo de 30 dias para que os interessados se manifestem. A perspectiva é que mais de mil produtores sejam incluídos no processo de produção, que está estimada em 45 mil toneladas de tilápia por ano. Segundo a SEAP, feita a cessão, será realizado um processo de desenvolvimento da produção, envolvendo capacitação, assistência técnica e crédito para a aquisição dos tanques-rede.

CAPACIDADE DE SUPORTE - A Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA) promoveu na cidade de João Pessoa uma reunião técnica para discutir a metodologia de análise da capacidade de suporte dos reservatórios destinados à piscicultura intensiva. Ao evento compareceram representantes da Agência Nacional de Águas (ANA), técnicos, pesquisadores e criadores da Paraíba, Pernambuco e Ceará. A polêmica instalou-se diante dos novos cálculos propostos pela AESA para a outorga no Estado. A metodologia agora adotada pela Agência Estadual Paraibana reduz bastante a capacidade de suporte dos reservatórios do Estado que, consequentemente, deverão ter uma redução de cerca de 80% no número de tanques-rede outrora previstos, quando outros cálculos eram utilizados. A polêmica continua.

PROJETO POLVO NORDESTE - Entre janeiro e novembro de 2007 o valor das exportações brasileiras de polvo congelado foi de US$ 3.2 milhões (775 t) do qual Santa Catarina participou com 83%, seguida por São Paulo (13,3%), Rio Grande no Norte e Rio de Janeiro. O preço unitário das exportações catarinenses (US$ 4.76/kg) foi bem superior à paulista como (US$ 2.6/kg). A Espanha destaca-se como o principal comprador do polvo congelado produzido no Brasil com 81,43% do valor, seguido da Argentina (9,7%) e Portugal (5,72%). A elevada capacidade de conversão do alimento, incorporando ao seu próprio corpo 40 a 60% do alimento digerido, faz com que o cultivo do polvo venha se difundindo cada vez mais, inclusive no Brasil, onde experimentos já mostram resultados bastante promissores. No último ano foi iniciado pelo Labomar/UFC o Projeto Polvo Nordeste que visa contribuir para a melhoria da

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qualidade de vida do setor pesqueiro local através do redirecionamento progressivo da pesca da lagosta, para a pesca do polvo. O cultivo, porém, faz parte do projeto, que é coordenado por Raúl Malvino Madrid. Bimestralmente o Projeto Polvo divulga suas ações através de um boletim virtual “Polvo News”, que pode ser solicitado através do e-mail: raul@labomar.ufc.br MATA ATLÂNTICA - A Universidade Santa Cecília (UNISANTA) promove entre os dias 28 e 30 de março o 1º Encontro de Aqüicultura da Costa da Mata Atlântica, que reunirá biólogos, pesquisadores e estudantes de diversos estados brasileiros. Os objetivos desse encontro são: promover o intercâmbio de conhecimentos entre pesquisadores e estudantes da graduação e pós-graduação e criar oportunidades de discussões sobre temas relevantes à aqüicultura. Durante três dias de programação serão realizadas palestras, 12 minicursos e mesas redondas. Mais informações www. unisanta.br ou pelo telefone: (13) 3202-7100 e Fax: (13) 3234-5297. MUDANÇA - A Escama Forte separou fisicamente suas duas unidades de negócio. O escritório da Escama Forte Aquacultura e Meio Ambiente Ltda., empresa especializada em consultoria aqüícola e ambiental, agora tem novo endereço: Av. José Vicente Aielo, quadra 2 - lote 2 - Vila Serrão Bauru-SP, fones: (14) 3011-5929 ou (14) 30187948. Já a Escama Forte Piscicultura, continua no mesmo endereço sob a gerência do zootecnista Marcos Nakamura. O endereço da piscicultura


Notícias & Negócios é: Sítio Tambiú s/n - Zona Rural - Zacarias-SP, fones: (18) 3691-4007 ou (18) 8133-0120. Também o website dividiu-se em dois caminhos a partir do endereço www.escamaforte.com.br. Segundo o zootecnista e diretor técnico da Escama Forte, André Luiz S. Camargo (skype: andre. scarano), a mudança visa atender melhor os seus clientes e amigos. CAIU A PROCURA - “A engenharia de pesca não tem atraído muito os estudantes, apesar do crescimento da piscicultura. Das 50 vagas ofertadas no último vestibular da Universidade Federal do Ceará (UFC), apenas seis foram preenchidas.” Essa notícia, confirmada por Augusto José Nogueira presidente da Federação das Associações dos Engenheiros de Pesca do Brasil (FAEP-BR), foi publicada no jornal O Povo, de Fortaleza, acrescentando ainda que haviam 44 vagas. José Augusto, entretanto, informou que esse foi um fato isolado que ocorreu apenas na universidade cearense. CAMARÃO MAIS CARO - O aumento da demanda do mercado nacional fez com que o preço do camarão subisse nos últimos três meses. A alta foi de 15% a 20% e marca a recuperação do setor em relação à desvalorização do dólar frente ao real, que prejudicou as exportações do produto. Antes da queda da moeda norteamericana, 80% dos camarões cearenses eram vendidos para fora do País. Com o real valorizado, esse percentual caiu para 30%. Uma das soluções encontradas para resguardar a

carcinicultura brasileira foi o investimento no mercado interno, que reagiu muito favoravelmente e que agora se estrutura para melhor absorver a produção.

alia sua expertise em biotecnologia e nutrição larval à estrutura de Pesquisa e Desenvolvimento em aquacultura da Ocialis. Mais informações: www.bernaqua.com

OCIALIS NO BRASIL - Recém lançada no Brasil, a Ocialis já chega trazendo novidades. Deu início às atividades da sua segunda planta de produção de rações extrusadas para peixes em São Lourenço da Mata/PE (a primeira está em Descalvado/SP). A unidade já produzia alimentos para camarões. O objetivo é atender ao crescente mercado nordestino, principalmente do cultivo de tilápias e com grande potencial para outras espécies de peixes. E os investimentos do grupo francês no Brasil não devem parar por aí. Nos planos da Ocialis está a implantação de uma unidade de produção de rações extrusadas no Centro-Oeste. O objetivo é inaugurar a nova unidade ainda em 2008. A Ocialis está também fazendo uma parceria com a empresa Bernaqua. A Evialis, grupo de liderança em nutrição animal no mundo, adquiriu 51% de participação na Bernaqua junto ao seu sócio-fundador Bernard Devresse. Sediada na Bélgica, a Bernaqua é uma empresa especializada em alimentos para larvicultura de peixes e camarões e atua na Europa, Ásia e América do Sul. A companhia passa a fazer parte das operações da Ocialis, marca de aquacultura do grupo Evialis, nos três continentes. Até então atuante na nutrição de peixes e camarões nas fases de pós-larvas, alevinos e crescimento, a Ocialis passa também a oferecer produtos para nutrição desses organismos em suas fases iniciais. Por outro lado, a Bernaqua

SEMANA DO PEIXE NA SEMANA SANTA? - Nesse ano, a Semana do Peixe, uma parceria entre governo federal, a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), pescadores e aqüicultores, está programada para que coincida com a Semana Santa. Durante a Semana do Peixe diversos tipos de pescado podem ser encontrados com descontos que variam de 20% a 30%. O evento é uma iniciativa da SEAP para aumentar o consumo de pescado no país. Segundo dados da ABRAS, em 2007 os supermercados brasileiros registraram aumentos de 20 a 30% nas vendas de pescado. O que fica difícil de entender é uma campanha de estímulo ao consumo de pescado justamente numa época em que tradicionalmente o consumo é muito aquecido. Por outro lado, sob o ponto de visto do produtor, ter que oferecer produtos com preços mais baixos justo numa época em que os preços se aquecem, também não tem o menor sentido. LIVRO NA INTERNET - O livro “Aqüicultura no Brasil: o desafio é crescer” que traz um estudo detalhado da aqüicultura brasileira à partir de uma pesquisa realizada pela FAO (ver resenha na última edição 104 da Panorama da AQÜICULTURA) está disponível gratuitamente para download no site do GIA - Grupo Integrado de Aqüicultura e Estudos Ambientais (www.gia.prg.br).

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Notícias & Negócios On-line Para fazer parte gratuitamente da Lista Panorama-L vá ao site www.panoramadaaquicultura.com.br

clique em Lista de Discussão e siga as instruções.

De: Haroldo Gomes Barroso hgbarroso@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Tilápia nas alturas O preço do filé da bendita tilápia chegou a R$ 22,00 no supermercado Extra em Brasília. Hoje, dia 12 de fevereiro, está a R$ 19,90 devido ao concorrente Carrefour, que vendia a R$ 20,90. Em particular acho um absurdo para o agronegócio da tilápia, que deveria ser sim, ofertada a preço justo para a população e não concorrer com espécies como o salmão, cujo quilo estava no patamar de R$ 15,90. Dessa forma, pode acontecer uma seleção de consumidores pelo poder de compra e menor volume, inibindo o consumo pela maioria da população de baixa renda, a qual justificou seu cultivo, e isto pode ser um equívoco estratégico ou uma tomada de posição para uma futura popularização pela queda de preços, utilizando o velho truque da promoção. Gostaria que os colegas do agronegócio discutissem este assunto. De: Régis Gazapina Martins regisgazapina@gmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia nas alturas Haroldo, isso é preço de picanha! De: Jbsobrinho jbsguarabira@act.psi.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia nas alturas Concordo que seja preço de picanha. A população de baixa renda não compra tilápia (filé, posta) no Extra. Compra nas feiras livres (inteira), evidentemente, de tamanho menor, por um preço menor. Se eu quero filé, pago pelo preço. Já o salmão, como não produzimos, pagamos por isso.

Estimado Antonio Carlos, quem reclama com certeza não é produtor e sim CONSUMIDOR, pois o produtor continua recebendo R$ 2,30, o que eu acho extremamente baixo. De: Kleiber Mourão aquabom@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia nas alturas Um produto é viável economicamente quando há aumento de eficiência associado a uma expansão na produção, causando redução do custo de cada unidade produzida, ou seja, economia de escala. De: Haroldo Gomes Barroso hgbarroso@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia nas alturas Colegas, exatamente porque não produzimos salmão e por nossa picanha ser mais barata do que a importada, é que nos preocupa a elevação de preços sem motivos aparentes... Não houve grande elevação no custo de produção nem no custo de comercialização. Por que tamanha elevação de preços? Hoje vejo pobres, ricos e classe média em todos os lugares.... Há três anos, a mesma tilápia era comercializada entre R$ 1,90 e 2,20. E, o salmão, entre R$12,00 e 13,00. A questão é: que motivos temos para que nosso produto tenha subido tanto? Por quê o pobre não pode consumir filé de tilápia? Nossas políticas públicas estão funcionando para quem? Qual a direção? Isto é reflexo da oferta e demanda? São essas as propostas de discussão. De: Luis Roberto trutiluiza@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia nas alturas Caro Haroldo, não sei se você é produtor. Pois bem, o custo de produção aumentou sim. Só no ano passado tivemos um aumento de ração na ordem de 30%, isso sem contar o aumento dos alevinos, que pela demanda elevada, tiveram um aumento significativo. É bom lembrar que antigamente se produzia tilápia basicamente em tanques escavados e com adubação orgânica. Quase não se usava ração.

De: Antonio Carlos Ferraz de Pádua estanciariodoouro@gmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia nas alturas Provavelmente, quem está reclamando do preço alto do filé de tilápia não é um produtor. Outra coisa, se baixar o preço teremos produção para atender à demanda?

De: Rogerio Bellini rbellinif@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia nas alturas Só para contribuir um pouco mais na discussão na composição dos custos de produção. Nesta semana recebemos aumento na ração que oscilam entre 15 e 25%. E aí, como ficará o preço final?

De: Alvaro Graeff agraeff@epagri.sc.gov.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia nas alturas

De: Luiz Henrique tilapiadobrasil07@terra.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia nas alturas

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Parte disso se chama situação econômica e outra, evolução. Houve um aumento no custo de produção. Primeiro falta ingredientes no mercado, a produção de grãos é baixa em contrapartida a de cana de açúcar é alta. Os preços da soja nunca foram tão altos e se não bastasse a China está levando nossos grãos que restam. A ração está aumentando a todo momento e a alimentação representa mais de 60% do custo de produção do peixe. Soma-se a tudo isso encargos com funcionários , etc, etc... Há três anos atrás você só encontrava no mercado tilápia de captura, e a tilápia de cultivo com qualidade era 100% exportada para EUA e UE. A situação econômica, câmbio em baixa, fez com que os frigoríficos que restaram focassem no mercado interno nas grandes redes de supermercado e a evolução fez com que esses mercados procurassem um produto com maior qualidade e sanidade, e deu certo. Grupos como Pão de Açúcar, Wal Mart, Carrefour possuem hoje o filé de tilápia fresco, também chamado de Saint Peter, como carros chefes de sua peixaria e concorrendo diretamente com peixes tidos como mais nobres no passado, como o salmão. Há três anos não vendiam nada de tilápia! Agora para se ter um produto com qualidade temos um custo alto. Não é fácil manter um frigorífico com padrão internacional de higiene e operações, tudo pra levar ao consumidor a maior qualidade e sanidade. Análises microbiológicas, de resíduos de drogas, metais pesados têm um custo alto e são feitas em grande quantidade, exigência do Ministério da Agricultura. O armazenamento de um filé fresco não é barato, o custo de uma caixa de isopor é alto, o gel pack é caro, e a logística é afinadíssima, por isso cara. O peixe abatido na manhã de um dia, já está nos balcões das grandes redes na tarde do dia seguinte. E mais, para se ter um quilo de filé necessita-se de no mínimo três quilos de peixe inteiro!!!! É diferente de um boi que possui 2 picanhas! Quanto às políticas públicas, você já viu isso na prática em algum lugar? Subsídios, assistências a pequenos produtores, incremento no consumo de pescado, merenda escolar? Já ouvimos muito sobre isso, inclusive pelos politiqueiros de plantão aqui mesmo nesta lista. Mas na realidade isso não existe, o que existe mesmo é puro capitalismo selvagem. Quem tem come carne, quem não tem roe o osso! Infelizmente... De: Silvia Midei produtos@pratsy.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia nas alturas Caros, sou especialista em varejo, e com mais de 30 anos de experiência. No meu mundinho gerencio, entre outras, as contas do Wal-Mart Brasil e Grupo Pão de Açúcar. Afirmo e assino embaixo, amparada tecnicamente por sofisticadas ferramentas de análise de mercado, que


On-line Notícias & Negócios a população de baixa renda freqüenta, sim, a cadeia de lojas Extra (do Grupo Pão de Açúcar), mas seguramente não consome produtos de primeira linha. Picanha, filé de tilápia, salmão, assim como presunto Sadia e macarrão Barilla, normalmente não fazem parte da cesta das classes C,D e E. E não há nenhuma generalização ou demérito. Isso é fato e é evidente!! Entretanto, o importante é que nas grandes redes de varejo há espaço e demanda para os vários produtos da tilápia, possibilitando um mix rentável para o produtor que estiver preparado para a negociação. Vender filé com uma boa margem para as classes A e B pode subsidiar, por exemplo, uma oferta com preço mais baixo do peixe eviscerado para as classes C,D e E. Isso envolve uma negociação complexa, que não vou entrar no mérito aqui!! Agora, esse oba-oba todo, é porque o filé de tilápia está, NA QUERESMA, auge da demanda, sendo vendido no varejo em torno dos R$ 20,00? E vocês queriam que fosse vendido a quanto? Vocês sabem quanto custa para o produtor o quilo da tilápia? Sabem o custo do quilo do filé? E o custo pósporteira: sabem qual é a taxa de contrato das redes de varejo? E quanto se paga de percentual de quebra? E para expor o produto na gôndola? E num eventual tablóide?

De: Axel Klimpel axelmkbr@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia nas alturas O preço mundial do salmão tem aumentado bastante nos últimos anos. Para se ter uma idéia no início de 2005 o preço obtido pelo salmão congelado do Chile (nosso principal fornecedor de salmão) era de 3,9 dólares o quilo. Hoje, porém, esse mesmo produto está sendo vendido por 5,6 dólares. Por que então somente um aumento de 20 a 25% no preço de supermercados (R$ 12 para R$ 15) se a diferença no preço do congelado é de quase 44%? Bom, acho que a principal razão é o câmbio do dólar, que ao preço de 2,7 reais em janeiro de 2005 faz que hoje, apesar do aumento mundial do preço do salmão ele seja, para importação, mais barato ainda. Portanto, ficamos só com a inflação interna com aumento de salários e outras coisas para realizar o reajuste de 12 a 15 reais o quilo. Para fazer 1 quilo de filé de tilápia precisamos de, pelo menos, três tilápias inteiras. A tilápia comercializada em supermercados há três anos (pelo menos aqui em São Paulo, não quero generalizar sem conhecimento das outras regiões) era, na sua maioria, proveniente de peixes pescados nos rios e não da aqüicultura. Hoje já acredito

que a situação seja bem diferente, a maioria que tenho visto vem da aqüicultura. Não sei a que preço a tilápia inteira está sendo vendida para os supermercados, porém, sei que o preço médio no Nordeste para beneficiadoras é de R$ 2,5/quilo. Levando em consideração estes dados e o custo de R$ 1,50 para o beneficiamento e embalagem, o custo final do filé deveria estar em torno de R$ 9. Ou seja, se os meus cálculos estão corretos, ainda falta convencer as cadeias de supermercado a terem um menor lucro para incentivar o consumo. Realmente não vejo problema no aumento de consumo de salmão no Brasil. Isto significa que está aumentando o consumo de peixes, portanto, no momento que lograrmos chegar com um preço competitivo nas redes de supermercados, facilmente o consumidor poderá, algumas vezes, querer experimentar o filé de tilápia. De: Roberto Carlos Barbieri Junior robertobarbierijr@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia nas alturas Gostaria de esclarecer alguns pontos: todos nós que estamos inseridos dentro da cadeia de distribuição de produtos tipo commodity como no caso da Tilápia, sabemos que quem define

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Notícias & Negócios On-line o preço, em uma condição de oferta maior que demanda, sempre é o comprador. Portanto, que ninguém se engane e aqueles que entram nesta atividade já deveriam ou devem conhecer este mecanismo. Sempre o distribuidor ou atacadista vai buscar a forma de comprar pelo preço mais baixo e vender pelo preço mais alto, isto é lei de mercado. No caso em referência, a época da quaresma, isto ainda é mais evidente, pois o distribuidor joga com a especulação de uma demanda futura (arrisca seu jogo) e para isto tenta cobrir eventuais perdas, agregando taxas entre 10 e 15% (alegando distribuição, logística e etc.). Hoje todos sabemos que o custo para produzir um quilo de tilápia anda entre R$ 1,5 e R$ 2,5, dependendo da região, logística, clima e etc. Por outro lado o preço de venda praticado pelo produtor, que mais se escuta como média é entre R$ 2,5 e R$ 3,0/quilo. Como foi colocado pelo colega da lista, para produzir um quilo de filé se necessita de três tilápias, portanto uma conta rápida sem agregar nenhum outro custo, se deveria vender o quilo do filé de tilápia entre R$ 7,50 e 9,00, porém estão excluídos alguns custos (filetagem, transporte, impostos e etc.). Se agregarmos no preço de R$ 7,50 e 9,00 mais um 25% (dependendo do imposto de cada estado), teríamos um preço de oferta de venda para o atacadista entre R$ 10,00 e 12,00, normalmente os supermercados lucram como regra em torno de 25 a 30%, a diferença é justamente a aposta no mercado. Qualquer outra forma de apresentação é puro folclore. O produtor para melhorar seu preço de venda tem que entender que as coisas só começarão a mudar quando existir maior organização e união entre eles mesmos, pois na outra ponta existem profissionais do comércio (grandes redes, com informações atualizadas e pessoal treinado). Por outro lado como foi comentado sobre o salmão, o que vemos é que o Chile vem praticando uma forma inteligente de vender seu produto, através da agregação de valor. Atualmente aquele

CD ESGOTADO

O CD da Panorama da AQÜICULTURA contendo a íntegra das edições publicadas nos últimos cinco últimos anos espalhou-se de forma impressionante pelo Brasil afora. As diversas tiragens acabavam a medida que chegavam. O CD agora está ESGOTADO. O sucesso e a boa repercussão desse empreendimento nos estimularam, e já estamos estudando a confecção de um DVD, agora com TODAS as edições da Revista Panorama da AQÜICULTURA. Ainda não temos data marcada para a conclusão deste trabalho, mas fica registrada aqui a promessa de realizá-lo ao longo dos próximos meses. A Panorama da AQÜICULTURA agradece mais uma vez a vocês leitores, que sempre confiam e prestigiam o nosso trabalho.

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país vende em torno de um 70% do salmão com algum valor agregado, o que ajuda a manter uma indústria próspera e crescente. Deveríamos aprender com estas experiências. De: Silvia Midei produtos@pratsy.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia nas alturas Eu faria apenas uma colocação referente às margens de lucro dos supermercados: as grandes redes hoje, dificilmente trabalham com margem menor que 40, 50%. O que não é nenhum absurdo diante dos seus custos de distribuição, mão-de-obra, depreciação, marketing e merchandising, etc. Em alguns produtos que eu comercializo, no segmento de descartáveis, esse percentual chega a 65%. Então, analisando a questão do preço do filé, que é o cerne dessa discussão, dentro da sua realidade teríamos o preço médio de venda para o supermercado em torno de R$ 13,10 + 8% de oportunidade = R$ 14,15 imputando 40% de margem do supermercado chegamos ao preço de venda de R$ 19,80. Essa é a realidade! De: Marcos marcos.it@terra.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia nas alturas Olá Pessoal. Hoje pela manhã estive no Supermercado Pão de Açúcar da Ricardo Jafet - São Paulo, e o filé de tilápia Saint Peter estava sendo vendido a R$ 23,99 o quilo. Já a tilápia inteira, também Saint Peter, era vendida a R$ 7,59 o quilo.


On-line Notícias & Negócios De: Roberto Poty robertopoty2@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia nas alturas O mercado sempre é quem manda o resto é balela. Aqui no meu Ceará o custo de produção gira em média de R$ 2,50 e a venda de peixe é: vivo acima de 1,0kg = R$ 4,00-4,30; eviscerado acima de 900g = R$3,503,90; eviscerado, escamado acima de 900 g = R$ 5,00-6,00; filés acima de 230gr = R$12,00-14,20 para supermercados. Estes são os preços que minha empresa pratica, estamos nesta semana aproveitando a quaresma dando uma puxada para cima de mais uns 8%. De: Alvaro Graeff agraeff@epagri.sc.gov.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia nas alturas Estimada Silvia, gostaria de aproveitar a sua experiência na comercialização de produtos para desmistificar, ou não, o preço do filé da tilápia no seguinte segmento: do produtor até o consumidor (produtor-frigoríficodistribuidor-supermercado-consumidor), partindo da premissa que o produtor receberá R$ 2,50 por quilo do peixe vivo. De: Silvia Midei produtos@pratsy.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia nas alturas Não vejo problemas na venda a R$ 2,50, desde que o produtor pague TODOS os seus custos: produção, impostos, depreciação, logística, perdas, custos financeiros e do capital, etc, etc, etc e mantenha margem rentável. Se ele produzir a R$ 1,70 terá uma margem bruta de 50%, ou seja, a mesma do supermercado, que é o topo da cadeia de comercialização. O produtor tem que conhecer e avaliar a sua realidade!! E nesse caso o segredo é a precisa administração dos custos. Se ele não conseguir essas margens a atividade se torna inviável, pelo menos para atender a indústria. Veja o nosso caso: considerando o nosso próprio consórcio e as planilhas de custos de parceiros mais experientes, aqui no Vale do Paraíba-SP quem vender o peixe com mais de 150 dias, mesmo vivo e retirado no criatório, a R$ 2,50 ESTARÁ MORTO, QUEBRADO!! A conclusão a que chegamos, analisando a cadeia completa da criação de tilápias, é que na nossa região, a atividade não suporta os custos de intermediação da indústria. Temos que partir direto para a verticalização ou ficar no picado para o bom e velho pesqueiro e pequenos intermediários. Agora me diga, será que a indústria está errada em querer pagar R$ 2,50? Ela também tem o seu custo próprio: transporte, certificação, impostos, custos diretos do beneficiamento, energia, embalagens, armazenagem, etc..., sem contar que é a indústria que sofre a pressão do varejista para redução de seus preços. E posso te garantir, pela minha vivência, que são pressões consideráveis!! Os supermercados contam com pessoal muito bem preparado e treinado pra isso, como alguém já lembrou aqui! Em abril/2007 o Francisco Leão já afirmava aqui na lista: ”o custo mínimo de produção do filé é de R$ 11,00 e se você colocar o custo de logística em cima, o pessoal que vende filé fresco abaixo de R$ 14,00 para o atacado está trabalhando com tilápia capturada ou não vai trabalhar por muito tempo”. Concordo com ele!! Com essas pinceladas rápidas sobre os elos da cadeia, fica claro que tanto o varejo quanto a indústria estão articulados e preparados para preservar suas margens e até para agregar percentuais de oportunidades sazonais no seu negócio. E o produtor, está preparado, está articulado??

Assunto: Re: Tilápia nas alturas Prezado Álvaro, muito boa a sua pergunta. Aproveitando a oportunidade, será que é possível remunerar de forma adequada os criadores, a partir desse preço, considerando que somente os custos de alimentação representam mais de 50% do total? Aqui em Rondônia, utilizando tambaqui, a conversão alimentar média está em 1,8, e os preços variam de R$ 0.8 a 1,00/kg de ração. Os frigoríficos pagam em média R$ 2,70, principalmente os peixes destinados ao processamento. A Silvia abrilhantou-nos com informações extremamente interessantes e os conhecimentos de cadeia de valor não poderão mais ser desprezados em qualquer planejamento estratégico. Em alguns momentos os “vilões” da atividade se revezam, num momento são as fábricas de rações e daqui alguns dias serão as indústrias, mas no final, quem paga todas as contas são os produtores. De: Osmar Tomazelli Junior osmartj@brturbo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia nas alturas Prezado Carlindo, parabéns pelo trabalho desenvolvido aí em Rondônia. A reportagem na Panorama da Aqüicultura ficou excelente e reflete o excelente trabalho que vocês estão realizando. Você tem toda a razão no seu comentário. Continuando do frigorífico para frente veja que o quadro não melhora muito. Por exemplo: uma tilápia que na plataforma custe R$ 2,00/ kg sairá do frigorífico por R$ 9,40, daí você esbarra com um atacadista que te paga R$ 8,00 e vende a R$ 11,75 e o supermercado a R$ 16,45, estes são nossos dados aqui do Sul, veja que é parecido com o cálculo apresentado pela Silvia. Se ficar o bicho pega, se correr ele come.

De: Carlindo Pinto Filho cpfmaranhao@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br

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Excessiva alimentação pode agravar a mortalidade de peixe em sistemas intensivos de cultivo Tilápia doente com o corpo escurecido (acima um exemplar sadio). O escurecimento do corpo pode ser um indicativo de infecção bacteriana, embora parasitoses e outros distúrbios possam causar este tipo de escurecimento

Há alguns anos, sempre nas semanas mais quentes do verão, quando a temperatura da água excede 30oC, recebo telefonemas de produtores de tilápia de diversas regiões do país, relatando problemas com mortalidade de peixes. Os sinais clínicos são invariavelmente os mesmos: peixes moribundos com o corpo escurecido, animais apresentando natação errática e espiralada, os olhos saltados e muitas vezes opacos, pele apresentando sinais de hemorragia e algumas vezes com lesões em forma de úlceras; o abdômen dos peixes em geral distendido e, o intestino inflamado e hemorrágico. Invariavelmente morrem os maiores peixes do plantel (acima de 300-400g). Poucas vezes os episódios afetam alevinos e juvenis. Estes sinais são típicos de infecções bacterianas, sejam elas causadas por Streptococcus, Aeromonas, Edwardsiella e, possivelmente, alguma outra bactéria ainda a ser identificada. 14

Por: Fernando Kubitza, Ph. D. Acqua Imagem Serviços Ltda. e-mail: fernando@acquaimagem.com.br

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inha recomendação imediata a estes produtores é interromper por dois a três dias a alimentação Tilápia doente (à direita na foto) mostrando dos peixes, nos casos em que a o abdômen muito distendido (ascite), um possível indicativo de doença bacteriana mortalidade tem atingido grandes proporções. Ou então, apenas reduzir o fornecimento de ração quando a mortalidade ainda não está tão severa. Por exemplo, reduzir o número de refeições diárias de três ou quatro, para uma a duas refeições, cortando praticamente pela metade a quantidade de ração fornecida. A remoção de peixes mortos e moribundos deve ser constante, para reduzir o potencial de infecção de peixes ainda aparentemente saudáveis. Simples assim, para o espanto da maioria dos produtores, que geralmente esperam milagrosas receitas de produtos a serem adicionados às rações. Em geral, após alguns dias recebo o retorno de parte destes produtores, dizendo que a mortalidade reduziu significativamente e pedindo orientação de como prosseguir daí em diante. Não sei precisar bem como tal procedimento ajuda a reduzir a mortalidade de tilápias nestes surtos infecciosos nas semanas mais quentes do verão. Comecei a recomendar tal procedimento no ano de 1999, ocasião em que o cultivo de tilápias em tanques-rede se intensificava em São Paulo e no Paraná e, em conseqüência, os episódios de massiva mortandade se tornavam mais freqüentes. Tilápia com intestino repleto de alimento e aspecto Na ocasião trabalhava com inflamado. A gordura visceral do peixe (em excesso) foi alguns produtores de tilápia removida para facilitar a visualização do intestino

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a) quanto mais alimentado estiver o peixe, maior é o esforço fisiológico e metabólico sobre o mesmo. Este esforço está associado aos processos de digestão e respiração. Peixes alimentados em excesso, demandam mais oxigênio e, sob altas temperaturas, a demanda por oxigênio é ainda maior. Adicionalmente, numa eventual queda no oxigênio dissolvido na água, peixes alimentados em excesso sofreriam mais do que peixes moderadamente alimentados, ou mesmo em jejum;

Mortalidade de peixes

em São Paulo e realizava visita a outros produtores a pedido de empresas de ração. Em uma primeira avaliação diante da mortalidade, os produtores invariavelmente acreditavam que havia algo errado com a ração. Mas essa suspeita logo era descartada, pois os fabricantes de ração verificavam que outros produtores que usavam ração do mesmo lote não haviam registrado mortalidade em seus cultivos. Alguns produtores ainda incrédulos mudavam de fornecedor, porém a mortalidade persistia usando as novas rações. Os sinais clínicos observados eram típicos de bacteriose, em particular de infecção causada por Streptococcus ou por Aeromonas. Na ocasião, ainda não havia um diagnóstico laboratorial da ocorrência de Streptococcus em tilápias no Brasil, mas imaginávamos que as mortalidades pudessem estar associadas a esta bactéria, visto que este patógeno comumente acometia tilápias em cultivos intensivos em diversos países. Assim, a primeira reação era a de iniciar um tratamento com antibiótico, para preservar os animais que ainda estavam se alimentando. Mas o tratamento com antibiótico apresentava resultados imprevisíveis e, mesmo após o tratamento, a mortalidade muitas vezes não regredia. Nos primeiros episódios deste tipo que avaliei dois fatos me chamaram a atenção. Primeiro: a mortalidade geralmente ocorria nas semanas mais quentes do ano, quando, invariavelmente, a temperatura da água em determinadas horas do dia excedia os 30oC. Segundo: a tendência dos produtores em alimentar excessivamente os peixes, realizando quatro ou até mais refeições diárias, em todas elas fornecendo ração praticamente à vontade a peixes de relativo porte (acima de 300g). Com base no que conhecia sobre fisiologia e patologia dos peixes, achei que reduzir a alimentação poderia dar algum alívio aos peixes afetados, pelos seguintes motivos:

Sobra de ração em tanque-rede, um indicativo de que os peixes podem estar sendo alimentados em excesso

Tilápia doente com lesão ulcerativa no dorso. Fígado aumentado e acúmulo de gordura visceral, indicativos de ter recebido uma alimentação excessiva ou de um excesso de energia na ração

b) muitas bactérias patogênicas estão latentes ou ativas no próprio intestino dos peixes e, através das fezes, podem infectar outros peixes. Reduzindo ou suspendendo a alimentação, o volume de fezes produzido seria menor e, com isso, o potencial de infecção dos peixes aparentemente sadios se reduziria; c) quando a temperatura da água se eleva demasiadamente, acima da zona de conforto, a passagem do alimento pelo trato digestivo fica mais lenta. Com isso o alimento permanece mais tempo dentro do estômago e intestino. Isso, de algum modo, poderia estar prejudicando a saúde dos peixes, seja através da produção de alguma substância nociva ou mesmo com a inflamação do estômago e intestino, favorecendo a migração de bactérias patogênicas do trato digestivo para a corrente sangüínea e daí para diversos órgãos e tecidos dos peixes. E, de fato, grande parte dos peixes doentes apresentava um intestino hemorrágico

Intestino hemorrágico de um exemplar de tilápia cultivada em tanque-rede

Vendo o que ocorria no campo e o alívio na mortalidade através da moderação na alimentação dos peixes, passei a orientar os produtores a evitar uma alimentação excessiva. Particularmente, aos produtores de tilápias em tanques-rede, a recomendação era de reduzir o número de refeições e a oferta de alimento sempre que a temperatura da água se aproximasse dos

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a) reduzir a taxa de alimentação e o número de refeições quando a temperatura da água atingir 29-30oC. Isso é particularmente importante nos cultivos em tanques-rede, onde os peixes não têm como se distribuir verticalmente na coluna d’água, buscando um extrato de conforto térmico; b) nos casos onde a mortalidade já se apresenta elevada, suspender a alimentação por dois ou três dias pode auxiliar na recuperação dos peixes;

c) remover constantemente os peixes mortos e moribundos para reduzir o potencial de infecção no ambiente de cultivo. Peixes mortos são excelentes substratos para a multiplicação de bactérias patogênicas;

Mortalidade de peixes

29-30oC. Até hoje essa estratégia tem funcionado bem em cultivos de tilápia em diversos locais no Brasil, permitindo uma significativa redução nas mortalidades sem o uso de antibióticos. No entanto, em casos mais severos o uso de antibióticos incorporados à ração pode ser necessário. Durante todos estes anos tenho buscado informações na literatura que pudessem dar suporte científico a esta recomendação. E com a exceção dos relatos do patologista alemão Wilhelm Schäperclaus, pouco pude encontrar sobre este assunto. A maioria dos livros de patologia de peixes não faz menção aos efeitos da excessiva alimentação sobre a saúde dos peixes, a não ser quando abordam o efeito deletério de uma infiltração gordurosa no fígado dos peixes. Mesmo em artigos ou capítulos de livros específicos sobre Streptococcoses e outras bacterioses em peixes, não são apresentadas relações entre o nível de alimentação e a incidência de doenças. No entanto, hoje já se sabe que a incidência de problemas com Streptococcus em tilápia é maior sob elevadas temperaturas. Schäperclaus, em seu livro “Fish Diseases” (5ª edição, publicada em 1992, Vol. 2, p. 1088-1092) relata a ocorrência de inflamação intestinal em truta arco-íris e em carpa comum, atribuída à excessiva alimentação em cultivos intensivos, em particular em tanques-rede. Este distúrbio era mais freqüente sob elevada temperatura da água, no limite superior ou acima da zona de conforto para a referida espécie. Estas inflamações também foram associadas à manutenção de uma dieta monótona, representada pelo fornecimento constante de rações secas aos peixes. Na opinião de Schäperclaus a inflamação intestinal facilitaria a ocorrência de infecções causadas por patógenos residentes no próprio trato intestinal dos peixes. Hoje sabemos que diversas bactérias patogênicas, a exemplo das bactérias do gênero Aeromonas, Edwardsiella e Yersinia habitam o trato intestinal dos peixes, estando ali prontas para iniciar um processo infeccioso no momento em que algum fator debilita a resistência dos peixes. Em 1987, Boon e colaboradores relataram a ocorrência de inflamação intestinal em alevinos de bagre africano (Clarias gariepinus), que foi associada a uma excessiva alimentação dos peixes. Após a inflamação ocorria uma ruptura do intestino, resultando em peritonite, ulceração na parede ventral do abdômen e desaparecimento de parte do intestino e da parede abdominal ventral. Aconstatação prática de que a alimentação excessiva, combinada com altas temperaturas, pode agravar episódios de mortalidade nos peixes cultivados intensivamente, particularmente em tilápias em tanques-rede, merece atenção por parte dos pesquisadores. Entender esta complexa interação entre a intensidade de alimentação, temperatura da água, inflamação intestinal e ocorrência de bacterioses possibilitará a definição de um manejo preventivo mais eficaz na redução de problemas de mortalidades nos cultivos intensivos, em particular nos tanques-rede. Enquanto este mecanismo não é completamente desvendado, deixo aqui minhas recomendações aos produtores de tilápia em tanques-rede, bem como aos produtores de outras espécies que possam estar experimentando mortalidade de peixes nos períodos de elevada temperatura da água:

d) evitar excessivo manuseio dos peixes nestes períodos de alta temperatura. Muitas vezes os peixes devem ser manuseados e preparados para o transporte vivo. Se este for o caso, respeite um jejum de pelo menos dois dias antes de proceder ao carregamento e fique atento às condições de temperatura da água e manejo no transporte; e) após amenizado o problema da mortalidade, a alimentação dos peixes deve ser retomada, evitando fornecer aos peixes uma quantidade excessiva de ração. Uma boa regra a ser seguida é fornecer uma quantidade de ração equivalente a 80-90% do consumo voluntário dos peixes. Para peixes acima de 300g não oferte mais do que duas refeições diárias nos períodos em que a temperatura da água está elevada. Uma refeição diária seria mais seguro. Para peixes de até 100g a alimentação pode ser feita à vontade, em três a quatro refeições por dia. Peixes alimentados em excesso ganham peso mais rápido, porém apresentam pior conversão alimentar e podem ter sua resistência a doenças diminuída. Assim, o custo de produção geralmente se eleva com a excessiva alimentação. Na Tabela 1 são apresentadas sugestões de taxas de alimentação e do número de refeições para tilápias em tanques-rede, com ênfase à restrição alimentar em períodos de elevada temperatura da água (área destacada, 29 a 32oC). Sugestão aproximada de taxa de alimentação (em % do peso vivo) e número de refeições diárias (Ref/dia) para tilápias em tanques-rede

O leitor deve estar ciente de que o consumo de alimento pelos peixes sofre influência de diversos outros fatores além da temperatura da água e do tamanho dos peixes. Como exemplo, o oxigênio dissolvido, a densidade energética e a palatabilidade das rações, a condição de saúde dos peixes, dentre muitos outros fatores. Assim, as sugestões apresentadas na tabela 1 devem ser usadas como um ponto de partida para o manejo da alimentação. O consumo de ração deve ser avaliado e ajustado durante as alimentações, de forma que o alimento fornecido seja consumido entre 10 e 15 minutos após o seu fornecimento. Se após 15 a 20 minutos ainda existir sobras de ração nos tanques-rede, a quantidade ofertada deve ser reduzida. Caso os peixes comam toda a ração em menos de 10 minutos, a quantidade de ração a ser fornecida deve ser aumentada. No entanto, com temperatura da água acima de 29-30oC, mesmo se os peixes demonstrarem grande apetite, é recomendável restringir a oferta de ração às taxas de alimentação sugeridas na tabela 1, em particular para tilápias de maior tamanho. O leitor interessado em obter mais informações sobre o manejo alimentar de tilápias pode consultar os artigos publicados nas seguintes edições da Panorama da AQÜICULTURA: ano 1999, n o 52 e 53; ano 2006, n o 98.

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A Aqüicultura Estimulando a Vida Animal Por: Tina Kutti - Institute of Marine Research Benthic habitats and shellfish research group e-mail: tina.kutti@imr.no

Uma viagem num mini submarino pelo fundo de um fiorde norueguês certamente é uma experiência muito enfadonha. A navegação é feita sobre intermináveis platôs de lama onde, em razão da escassez de alimentos, raramente se avista um animal. Entretanto, esse cenário vai se transformando à medida que se aproxima de uma fazenda de peixes marinhos operando corretamente os seus tanques-rede, onde o aumento da atividade biológica no fundo do mar passa a ser estimulado pelos dejetos da aqüicultura. O artigo a seguir apresenta os benefícios das fazendas marinhas ao meio ambiente, alvo dos estudos realizados pelo Instituto de Pesquisas Marinhas da Noruega (www.imr.no).

É

bem sabido que o cultivo de peixes em tanques-rede libera carbono orgânico para as águas ao redor da piscicultura. Operando na taxa máxima de alimentação, uma fazenda de salmão de porte médio pode emitir de 1.500 a 3.000 quilos de dejetos diariamente. Esses dejetos consistem principalmente das excretas dos peixes e, mesmo nos dias atuais, alguma ração ainda é desperdiçada. E este suprimento extra de nutrientes da aqüicultura é uma fonte extra de nutrição capaz de aumentar a biomassa da fauna bentônica. Por dois anos, o Instituto de Pesquisa Marinha da Noruega, tem estudado a dispersão da matéria orgânica, taxas de sedimentação e os animais que vivem no fundo de uma área com um raio de três quilômetros ao redor de uma fazenda de salmão localizada no fiorde de Hardanger. N. do E. - Hardangerfjorden, em norueguês, é o maior da Noruega e o terceiro maior do mundo com 179 km de comprimento, e um dos cinco maiores centro de produção de salmão do mundo. Como usar como NE ou Nota do Editor? Trata-se de um cultivo de meio porte, que ao longo do seu ciclo produziu 2.910 toneladas de salmão e 300 toneladas de dejetos orgânicos. A fazenda está toda ancorada em um único ponto a 230 metros de profundidade e se desloca segundo a direção e a força dos ventos e das correntes. A área por onde se desloca é 30 vezes maior do que a área diretamente coberta pelos tanques-rede, fazendo com que os dejetos sejam relativamente bem dispersados. Apesar da fazenda estar produzindo salmão por mais de 10 anos, o local não é poluído, tendo sido observado mudanças no fundo do mar e um grande aumento na quantidade da fauna bentônica. 18

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Maior diversidade na zona de transição

Pesquisa Marinha

Apesar da maior parte da matéria orgânica ter sido dispersada num raio de 250 metros ao redor do ponto de ancoragem da fazenda, a composição do sedimento mostrou que alguns dejetos foram dispersados à distâncias que variaram de 550 a 900 metros deste ponto. Nesta zona de transição, um número muito grande de espécies bentônicas foi encontrado, mas a densidade e a biomassa de animais que ingerem sedimentos foram bastante baixas (Gráfico). Nesta zona de transição, quando a produção de salmão está no seu pico, podem ser encontrados mais que o dobro do número de espécies encontradas nas vizinhanças da fazenda. Efeitos em toda a cadeia alimentar Apesar dos grandes efeitos na produção bentônica estarem restritos aos 250 metros ao redor da fazenda, a cadeia alimentar bentônica pode ser influenciada numa escala bem maior. Isso é particularmente verdadeiro para animais mais móveis como os peixes que habitam o fundo e os crustáceos que vivem sobre os sedimentos. Estudos mostram que os dejetos de uma fazenda de salmão são aproveitados pelo camarão Pandalus borealis que, quando capturados no inverno perto das fazendas, possuem uma maior quantidade de ácidos graxos na musculatura que os camarões capturados nos fiordes adjacentes, onde não existe a criação de salmão, o que sugere que o seu acesso ao alimento é mais estável ao longo do ano. Importância da localização

Fotos tiradas por um veículo operado remotamente (ROV na sigla em inglês) em estações de estudo a 250 metros (A, B e C) e 1.500 metros (D), ao norte da poita que prende os tanques-rede, um ano após o início do ciclo da produção de salmão. As fotos mostram uma abundância de ouriços Brissopsis lyrifera e pequenos poliquetas, além do aspecto de deserto das áreas do fiorde não afetadas pelo cultivo (D).

Aumento da produção na vizinhança

Número de espécies* 10

Abundância (A), biomassa (B) e número de espécies bentônicas (S) maiores que 1 mm, provenientes de seis estações ao longo de um gradiente até 3 km distante da fazenda de salmão no pico da produção (setembro e dezembro de 2004)

Densidade* 100 Biomassa* 1000

O efeito mais perceptível dos lançamentos dos dejetos orgânicos ficou restrito a 250 metros ao redor do ponto de ancoragem da fazenda (Fotos). Nesta área, as taxas de sedimentação de carbono orgânico que foram encontradas foram nove vezes maiores do que as encontradas a três quilômetros de distância. Mesmo assim, não houve acúmulo de matéria orgânica no sedimento sendo a abundância, a biomassa e a produção de pequenos animais pelágicos, respectivamente, 10, 35 e 60 vezes maior do que os valores encontrados nas áreas não afetadas pelo empreendimento (Gráfico). Poliquetas, crustáceos e ouriços parecem se beneficiar muito bem do aumento da disponibilidade de alimento.

Esses estudos destacam a importância dos locais com boas condições de dispersão e da adaptação do nível de produção aos animais e microorganismos do sedimento. Com uma boa localização, um grande nível de produção pode ser mantido por um longo período de tempo sem o acúmulo de matéria orgânica e com um grande incremento da fauna bentônica. A sobrecarga de um local pode ser evitada aumentando a área de sedimentação dos dejetos orgânicos dos cultivos, seja através da fixação da fazenda marinha em um único local, como no caso do estudo, ou ainda utilizando tanques-rede bem separados ao invés de uma fazenda compacta.

Distanciamento da Fazenda de Salmão (km)

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Monitoramento Genético do Tambaqui PEIXEGEN realiza estudo com reprodutores em Rondônia Por: Dr. Ricardo Pereira Ribeiro e-mail: rpribeiro@uem.br Dr. Danilo Pedro Streit Jr. e-mail: danilo.streit@ufrgs.br Dr. Jayme Aparecido Povh e-mail: jayme.peixegen@gmail.com Grupo de Pesquisa PEIXEGEN Universidade Estadual de Maringá (UEM)

Figura 1 - Cidades, representadas pelas estrelas, onde estão localizados os três principais laboratórios de produção de alevinos de tambaqui do Estado de Rondônia

A política aqüícola do Estado de Rondônia tem se mostrado favorável para a produção de tambaqui (Colossoma macropomum), com vistas a se tornar o maior estado produtor dessa espécie no Brasil (é terceiro atualmente). Todavia, para ser atingida tal meta, determinadas ações devem ser implementadas, dentre elas a utilização de novas técnicas e tecnologias na produção de alevinos, que é o primeiro passo para o cultivo em escala de uma espécie. No Brasil, a reprodução artificial do tambaqui, uma espécie de piracema, já é praticada há pelo menos três décadas, a partir dos estudos de Von Ihering. O presente artigo reúne informações obtidas ao longo dos últimos três anos, no que tange a produção de alevinos de tambaqui no Estado de Rondônia; informações de como e quando foram constituídos os primeiros plantéis de reprodutores; identificação e localização dos laboratórios que produzem alevinos e, o perfil genético de alguns plantéis de tambaqui no Estado. A utilização destas informações pode ser de grande valia na formação de plantéis de reprodutores a serem utilizados em programa de melhoramento genético da espécie ou mesmo na orientação dos cruzamentos de reprodutores previamente identificados objetivando a conservação da diversidade genética. 20

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Mapeamento da produção de alevinos Durante um encontro de piscicultores realizado em Pimenta Bueno em 2005, a qualidade do alevino comercializado no Estado de Rondônia foi o tema que mais despertou o interesse dos participantes, que se mostraram muito preocupados diante das incertezas sobre a origem das matrizes, da falta de homogeneidade nos lotes de reprodutores e alevinos, e com a elevada mortalidade desses últimos. Em decorrência, no mesmo ano, o grupo de pesquisa PEIXEGEN da Universidade Estadual de Maringá (UEM), liderado pelo Prof. Dr. Ricardo Pereira Ribeiro, foi convidado para fazer um diagnóstico da produção e da comercialização dos alevinos no estado, bem como a identificação do perfil genético dos plantéis de tambaqui dos principais laboratórios de produção de alevinos. No diagnóstico foram mapeadas as unidades produtoras de alevinos, sua produção e a ocorrência de importação de alevinos de tambaqui de outros estados e, por fim, como foram formados os primeiros plantéis de reprodutores desse peixe. Foi constatado que em Rondônia, no ano de 2005, produziu-se 5,73 milhões de alevinos de tambaqui, curimbatá (Prochilodus lineatus), jatuarana (Brycon sp.), pacu prata (Mylossoma duriventre), pirapitinga (Colossoma brachypomum), piau (Leporinuis frederici), pirarucu (Arapaima gigas), piavucú (Leporinus macrocephalus), pacu caranha (Piaractus mesopotamicus), carpa húngara ( Cyprinus carpio), cabeça grande (Aristichthys nobilis), carpa capim (Ctenopharyngodon idella) e, tilápia (Oreochromis niloticus). Desse total de alevinos, 4,18 milhões foram de tambaqui (73%).


Foi também identificado que três unidades produtoras de alevinos, localizadas nos municípios de Porto Velho, Ouro Preto do Oeste e Pimenta Bueno (Fig. 1), eram responsáveis por mais de 95% da produção total de alevinos de tambaqui no Estado, cada uma contribuíndo com aproximadamente 1/3 do total produzido. A partir do diagnóstico foi também possível identificar que o primeiro plantel de reprodutores foi formado em 1989, no município de Ji-Paraná, a partir de alevinos trazidos do Estado do Pernambuco, alevinos esses que já eram distribuídos no Estado de Rondônia desde meados dos anos 80, já que os técnicos que atuavam no Estado, na ocasião, não dominavam as técnicas de indução hormonal, extrusão, incubação e larvicultura. Com o diagnóstico foi também possível descobrir que, duas décadas depois, alevinos de tambaqui ainda continuam sendo importados e vendidos no Estado, um fato bastante preocupante. Em 2005, do total de alevinos de tambaqui comercializados em Rondônia, 7% vieram de Pernambuco e Mato Grosso. Considerando que o escape dos peixes cultivados para os corpos de água é amplamente reconhecido, e não fazia parte das preocupações dos produtores ao longo desses anos, pressupõe-se que pelo menos nas duas últimas décadas os rios do Estado de Rondônia têm sofrido o aporte de animais oriundos de outras bacias, o que pode acarretar um quadro bastante severo ao longo do tempo, com a improvável obtenção de tambaquis nativos nos rios de Rondônia. A preservação de populações nativas intactas deve ser uma preocupação recorrente, em função de ser uma reserva genética a ser explorada, por exemplo, em um programa de melhoramento genético ou mesmo um programa de recuperação da diversidade genética da espécie. Em um importante livro sobre o tambaqui, “Os frutos do tambaqui, ecologia, conservação e cultivo na Amazônia” de Lima e Goulding (1998), os autores afirmam que na inter-relação entre a ecologia, conservação e aqüicultura, talvez o principal ponto esteja relacionado ao conhecimento e distribuição da população e a diversidade genética da espécie que esteja sendo alvo para viabilidade de pesquisa e conseqüente produção. Os autores chamam atenção para o fato de que a maioria dos tambaquis reproduzidos e cultivados artificialmente derivam de um “pool” genético muito reduzido, sendo necessário incorporar uma maior diversidade genética entre os reprodutores.

Genética de Tambaqui

"Pelo menos nas duas últimas décadas os rios do Estado de Rondônia têm sofrido o aporte de animais oriundos de outras bacias, o que pode acarretar um quadro bastante severo ao longo do tempo"

Mapeamento genético de alevinos produzidos No ano de 2006, após o diagnóstico da produção de alevinos, o PEIXEGEN, com apoio do SEBRAE-RO e do Governo Estadual, iniciou a caracterização genética de dois dos três principais plantéis de tambaquis, nos municípios de Pimenta Bueno e Ouro Preto do Oeste. Reprodutores de tambaqui, foram marcados com “microchip” (Fig. 2A e 2B) em cada uma das localidades e, em seguida, foi colhido um fragmento de nadadeira caudal (Fig. 3) de cada animal, para posterior análise genética. O objetivo nesta etapa foi determinar a variabilidade e a similaridade genética entre os dois estoques de tambaquis utilizados na produção de alevinos, bem como marcar determinado número de animais, para serem utilizados em um programa de monitoramento da produção de alevinos com identidade genética conhecida, ou mesmo serem utilizados em um futuro programa de melhoramento genético da espécie.

A

B Figura 2 - (A) Colheita e (B) Armazenamento do fragmento de nadadeira caudal de um exemplar de reprodutor de tambaqui, do plantel no município de Pimenta Bueno, para posterior análise da variabilidade genética

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Genética de Tambaqui

Após a análise genética utilizando RAPD (Random Amplified Polymorphic DNA) foi possível concluir que os dois lotes de reprodutores avaliados, um do município de Ouro Preto do Oeste e o outro de Pimenta Bueno, apresentam uma alta diversidade genética, porém, com baixa diferenciação entre os lotes. Ou seja, provavelmente foram formados a partir de reprodutores obtidos em uma mesma bacia, com a mesma origem genética fundadora. Quando se averiguou o histórico de formação destes plantéis, constatou-se uma coincidência: ambos tiveram origem de alguns poucos animais nativos capturados a partir do rio Guaporé, cruzados com animais oriundos do Nordeste no início dos anos 90.

Figura 3 - Implantação de “microchip” na região dorsal (próximo a nadadeira) de reprodutores de tambaqui no Estado de Rondônia

Problemáticas A análise genética, mediante marcadores moleculares (ex: RAPD e microssatélite), das progênies (alevinos) oriundas destes plantéis, seria ideal para verificar se a variabilidade genética está sendo mantida, pois, em ambos os laboratórios, apenas 20% do total de reprodutores são utilizados durante o período reprodutivo. Este quadro não é característico apenas dos laboratórios que produzem alevinos de tambaqui no Estado de Rondônia, já que tal procedimento é uma prática rotineira na grande maioria dos laboratórios de alevinagem de espécies de piracema. A identificação dos reprodutores com microchip permite, a partir da análise genética dos peixes, minimizar o acasalamento entre indivíduos aparentados (endogamia) e maximizar a variabilidade genética na progênie. Tal procedimento é importante para a manutenção da variabilidade genética nos alevinos. Trabalhos futuros Os estudos através de marcadores moleculares podem auxiliar o desenvolvimento da piscicultura rondoniense. O monitoramento genético dos principais plantéis atualmente empregados no Estado, dos animais nativos dos rios Guaporé e Madeira e dos alevinos provenientes dos Estados de Pernambuco e Mato Grosso podem servir como indicadores de ações a serem implementadas no sentido da manutenção da variabilidade genética. Os paramentos analisados podem ser utilizados ainda, como ferramenta para a elaboração de um futuro programa para o melhoramento genético em questão. Os bons resultados observados em relação à variabilidade genética dos plantéis de tambaqui avaliados no Estado de Rondônia não asseguram por si apenas a “qualidade genética” dos alevinos produzidos. Mas tais resultados podem ser considerados promissores rumo ao desenvolvimento e consolidação da profissionalização deste setor produtivo, no Estado de Rondônia.

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EUA consumiram 400 mil toneladas de tilápia em 2007 Mercado norte-americano mostra-se cada vez mais promissor para a tilápia

O

mercado da tilápia continua de vento em popa nos EUA, com as importações alcançando as 170 mil toneladas em 2007, é o que informa o relatório da Globefish/FAO. Levando em consideração um fator de conversão de 2,85 para os filés, esse total pode representar 400 mil toneladas de tilápia inteiras, o que coloca os EUA como o segundo maior mercado mundial para este peixe, após a China. A novidade, porém, fica por conta do grande crescimento do mercado para filés congelados e da perda de terreno dos peixes inteiros congelados. Importação de tilápia pelos EUA, por produto (em 1000 toneladas)

As tilápias provenientes da China foram excluídas das checagens que o FDA (Food and Drug Administration) faz nos pescados importados. Aparentemente o governo norteamericano considera que o cultivo desse peixe está menos sujeito ao uso das substâncias proibidas. Como resultado as exportações de tilápia da China para os EUA continuaram a crescer no segundo semestre de 2007, ao contrário dos demais pescados. Nos primeiros onze meses do ano as exportações chinesas alcançaram 108 mil toneladas, 19% a mais que no mesmo período de 2006. Importação de tilápia pelos EUA por país de origem (em 1000 toneladas)

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Importação de filé de tilápia congelado nos EUA por país de origem (em 1000 toneladas)

Os preços dos filés congelados de tilápia saíram do fundo do poço, depois de quedas contínuas acontecidas ao longo dos últimos anos. Atualmente os preços estão subindo, ainda que modestamente. Uma diminuição no tradicional “groundfish market” combinado com a queda na entrada, a partir de julho, dos bagres vindo da China, criou um bom ambiente para promover o aumento dos preços dos filés congelados de tilápia. Os filés maiores alcançaram US$ 2.10/libra (ou US$ 4.60/kg) em janeiro de 2008, tendo saído dos US$ 1.95/libra (ou US$ 4.20/kg) que marcou o meado de 2007.

Tilápia nos EUA

FILÉ CONGELADO - A China domina as importações norte-americanas de filé de tilápia congelado, sendo responsável por 90% do total consumido. As exportações chinesas desse produto cresceram cerca de 42% nos primeiros 11 meses do ano, se comparadas com o mesmo período de 2006. A Indonésia ocupa um distante segundo lugar.

"Os preços dos filés congelados de tilápia saíram do fundo do poço, depois de quedas contínuas acontecidas ao longo dos últimos anos. Atualmente os preços estão subindo, ainda que modestamente"

Importação de tilápia inteira congelada nos EUA por país de origem (em 1000 toneladas)

TILÁPIA INTEIRA CONGELADA - A China mantém o domínio do mercado norte-americano de tilápia inteira congelada, tendo até expandido um pouco a sua participação, que atualmente beira os 70%. Entretanto, segundo os especialistas, há uma clara tendência de diminuição da presença da tilápia inteira e congelada no mercado, com sinais já sendo percebidos nas exportações chinesas desse produto, que já apresentam declínio. FILÉ FRESCO - O filé fresco de tilápia faz parte de um segmento de mercado diferenciado, razão pela qual atinge quase o dobro do preço do filé congelado. É um mercado dominado pelos países latino-americanos, que têm a seu favor a relativa proximidade dos EUA, o que reduz sobremaneira o custo do frete e o Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2008

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Tilápia nos EUA

Importação de filés frescos por país de origem (em 1000 toneladas)

tempo para que o produto, mantido em gelo, chegue até o seu destino final. Os filés frescos atendem, principalmente, o mercado de restaurantes, enquanto os filés congelados atendem a indústria de processamento, na ponta da cadeia onde os preços são mais baixos. Nos primeiros 11 meses de 2007 as importações de filés frescos cresceram 15% sobre o mesmo período de 2006. Este fato deveu-se, principalmente, à retomada da produção da Costa Rica depois dos problemas relacionados a doenças no final de 2005 e início de 2006. O Equador e Honduras também relataram aumento nas exportações para os EUA em 2007. Os preços dos filés frescos de tilápia subiram ao longo de 2007. Apesar disso, alguns exportadores, como o Brasil, encontraram um mercado doméstico melhor, interrompendo suas exportações para o mercado norte-americano. Expansão do mercado

O mercado norte-americano mostra-se cada vez mais promissor para a tilápia. Na recente e acalorada discussão na mídia norte-americana sobre o conteúdo de mercúrio nos peixes, envolvendo também os benefícios do consumo de pescado, a tilápia ganhou muito destaque e pontos a seu favor. O Ministério da Saúde dos EUA (US Department of Health) afirmou que mulheres grávidas podem comer sem problemas a tilápia, bem como o arenque e um tipo de pescadinha local (whitefish), por cinco ou mais vezes durante a semana, baseado em porções para adultos (6 onças ou 170 gramas). Por outro lado, e como nada é perfeito, já existe discussões acerca da qualidade da água utilizada no cultivo da tilápia na China. Ainda segundo o relatório da Globefish/FAO, os preços da tilápia e seus produtos tendem a crescer na medida em que os ingredientes para o preparo de ração têm ficado cada vez mais caros, e também porque a pescadinha (whitefish) está ficando cada vez mais escassa para o consumidor dos EUA. Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2008

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TRUTA SALMONADA

processo produtivo em constante aprimoramento no Brasil Por: Neuza S. Takahashi, Ph.D. Instituto de Pesca, APTA-SAA, e-mail: neuza@pesca.sp.gov.br Ricardo Y. Tsukamoto, Ph.D. Bioconsult - Puriaqua, e-mail: ricardo@bioconsult.com.br Yara A. Tabata, Ph.D. Estação de Salmonicultura, UPD Campos do Jordão, APTA-SAA, e-mail: yara@apta.sp.gov.br Marcos G. Rigolino, M.Sc. Estação de Salmonicultura, UPD Campos do Jordão, APTA-SAA, e-mail: rigolino@apta.sp.gov.br

A força do vermelho

Fig. 1 - Truta salmonada como destaque em publicação de turismo gastronômico no Brasil (Gastronomia na Montanha, 2006) Foto: Marco Flausino

Truta e salmão são peixes nobres tradicionais das águas frias do Hemisfério Norte, mas atualmente criados comercialmente em várias partes do mundo, incluindo o Brasil. Na visão popular, a truta seria pequena e com carne branca, enquanto o salmão seria grande e com carne rósea a vermelha. No aspecto biológico, porém, tais conceitos não são verdadeiros, uma vez que dependem do ambiente em que o animal se desenvolveu. Já no aspecto mercadológico, a cor avermelhada da carne é um fator distintivo que eleva o produto a um patamar à parte do pescado convencional de carne branca. Para aproveitar esta vantagem mercadológica, os criadores dão um tratamento especial ao salmão e à truta para proporcionar a cor vermelha na carne, conhecida como salmonada e valorizada pelo consumidor. Assim, Truta Salmonada é a truta de cultivo produzida com carne avermelhada, o que resgata a sua posição de ser um dos verdadeiros salmões do mundo, e que ocorre naturalmente salmonada no litoral pacífico norte-americano (a ser discutido adiante). Na criação de salmão e de truta em cativeiro, a cor vermelha só é incorporada à carne do animal quando se utiliza um aditivo alimentar cujo preço é muito elevado. Uma dificuldade adicional está em que os procedimentos convencionais de utilização do aditivo resultavam numa eficiência abaixo da possível na truta, agravando a pressão do custo. Por isso, aproveitando a experiência prévia de membros desta equipe com o processo no Japão, iniciamos há alguns anos, uma linha de pesquisa visando otimizar a eficiência do aditivo na truta. Para surpresa do grupo, uma das formulações testadas propiciou um aumento considerável na eficiência do processo em truta, num incremento inédito na aqüicultura salmoneira. O procedimento foi então repassado aos criadores de truta através de palestras, cursos e divulgação pela Associação Brasileira de Truticultores (ABRAT). A técnica otimizada alavancou a produção de truta salmonada, propiciando uma considerável agregação de valor e o surgimento de produtos derivados. É atualmente um dos destaques da gastronomia de cidades turísticas de montanha, como Campos do Jordão, SP, e Visconde de Mauá, RJ (Fig. 1). O presente artigo descreve resumidamente o desenvolvimento da técnica otimizada de produção de truta salmonada no Brasil. 28

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Para o consumidor, aparência é um dos atributos mais importantes que condicionam a decisão de compra. Nos alimentos, a cor é considerada, junto com o frescor, como um dos principais critérios que decidem a seleção (Baker & Gunther, 2004). E o vermelho é a cor que transmite a sensação mais vibrante, intensa no espetro visível da luz. É, por isso, frequentemente usada para sinalização entre os seres vivos na natureza. Para a sociedade humana, a cor vermelha induz emoções fortes. A cultura oriental a preza como símbolo da felicidade e bem-estar, enquanto a ocidental a associa ao amor. O nome Brasil* de nosso país provém do corante vermelho extraído da madeira nativa pau-brasil - a mercadoria mais valiosa desta terra no século XVI. A minimalista, porém, eloqüente bandeira do Japão* consiste de um círculo vermelho sobre fundo branco. A decoração vermelha nos restaurantes potencializa a vontade de comer nos clientes, e os alimentos vermelhos dão destaque à culinária. Vermelho nos salmonídeos provém de um carotenóide do alimento Os peixes da família dos salmonídeos, incluindo a truta e o salmão têm carne originalmente branca. Mas quando estes peixes migram da água doce para o mar, e ali residem e crescem, acabam ficando com a carne vermelha. Uma grande parte da alimentação dos salmonídeos no mar é constituída por crustáceos, como o krill, os camarões e caranguejos. Estes crustáceos contêm o pigmento carotenóide *Homenagem aos 100 anos da Imigração Japonesa no Brasil


(1) Os únicos pigmentos que proporcionam coloração vermelha típica da carne dos salmonídeos são astaxantina e cantaxantina; (2) Estes carotenóides estão presentes em grande número de seres vivos na natureza, incluindo os salmonídeos; (3) A administração do carotenóide ao peixe cultivado imita o processo que ocorre na natureza há milhões de anos; (4) Aquela pigmentação não é obtida com outros carotenóides, e muito menos com outros tipos de corantes e tintas, e (5) Astaxantina e cantaxantina são aprovados para uso em animais destinados ao consumo humano pelas normas alimentícias mais rigorosas dos países desenvolvidos da América do Norte, Europa e Ásia.

Baker & Gunther (2004) recomendam evitar o uso dos termos corante ou tinta para se referir ao carotenóide utilizado neste tipo de aplicação, e manter o termo cientificamente correto pigmento. A diferença está em que o próprio animal retém seletivamente o pigmento, por ser biologicamente programado para isso. Afinal, a habilidade da truta e salmão estocarem carotenóides na sua carne parece indicar que estes pigmentos desempenham um importante papel fisiológico (Baker & Gunther, 2004). Numerosos trabalhos científicos confirmam esta importância fisiológica tanto em salmonídeos como em outros peixes, além de invertebrados e vertebrados superiores. Na Saúde Humana, a astaxantina vem mostrando, cada vez mais, efeitos benéficos numa surpreendente variedade de aplicações médicas. O consumo de astaxantina pela aqüicultura (principalmente o cultivo de salmonídeos) criou um mercado mundial para este pigmento com valor atual superior a US$ 200 milhões por ano, e que deve atingir US$ 257 milhões em 2009 (BCC Research, 2005). Já o seu mercado global na saúde humana cresce a estimados 15% ao ano, com um valor atual de mercado de US$ 15 a 20 milhões (Daniells, 2006). Como neste artigo sobre truta salmonada, não seria apropriado abordar as outras numerosas aplicações da astaxantina e suas fontes biológicas, estas interessantes e promissoras aplicações serão discutidas no artigo “Astaxantina: o ouro vermelho da aqüicultura e medicina”, a ser publicado em breve nesta revista. O que são truta e salmão? Peixes chamados de salmão e/ou truta estão presentes em dois gêneros de salmonídeos originários dos Oceanos Pacífico ou Atlântico. O gênero endêmico ao Oceano Pacífico é Oncorhynchus, com 7 espécies - grupo conhecido como “Salmões do Pacífico”, que inclui a truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss). A variedade migradora (anádroma) da truta arco-íris é denominada “steelhead”, atinge 25 kg de peso (NOAA, 2008) e ocorre naturalmente salmonada na costa norte-americana (NAPA-CRCD, 2007), onde a sua pesca esportiva gera uma atividade turística superior a US$ 30 milhões/ano (veja um belo vídeo em Spirit River Studios, 2007). O gênero endêmico ao Oceano Atlântico é Salmo, com 2 espécies: o salmão do Atlântico (Salmo salar) e a truta marrom (Salmo trutta). As palavras “salmão” e “truta” são usadas em ambos os gêneros, e não há um critério para distinguir esta palavra daquela, a não ser o termo batizado pelos colonizadores de cada região. Curiosamente, a truta marrom reúne as duas palavras em seu nome científico. Dois daqueles salmonídeos se tornaram os mais cultivados no mundo: em água doce, a truta arco-íris (O. mykiss), e no mar, o salmão do Atlântico (S. salar). Como cada um destes representa mais de 95% do produto cultivado globalmente em sua categoria, no presente artigo, os termos truta e salmão se referem, respectivamente, a estas espécies, cultivadas também no Brasil. Mas a criação de cada uma delas pode ser feita também no ambiente oposto. Por exemplo, em nosso país, o mar não é

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Truta Salmonada

astaxantina – reconhecido popularmente pela apetitosa cor vermelho-vivo dos camarões e lagosta cozidos. Os salmonídeos absorvem a astaxantina de seu alimento e a depositam na pele e na musculatura do corpo (“carne”). Posteriormente, na fase reprodutiva, a astaxantina é enviada para os ovos em formação na gônada, de modo a prover esta substância multifuncional ao futuro embrião. Quando fenômenos geológicos, como avalanches e terremotos, cortam o caminho de migração de trutas e salmões jovens para o mar, pode ocorrer a formação de variedades que passam a fazer uma migração local em água doce, entre lagos e rios conectados, sendo designadas na língua inglesa por variedades “landlocked” (em tradução livre, “confinadas ao interior”). No ambiente de água doce, sem os crustáceos abundantes no mar, estas trutas e salmões ficam desprovidas da fonte de astaxantina, de modo que a sua carne permanece branca. De forma análoga, salmões e trutas criados em tanques-rede no mar não podem caçar crustáceos, e sua carne seria também branca. Assim, tanto a truta como o salmão, sejam de linhagens migradoras ou landlocked, que viverem em água doce ou no mar, só terão carne vermelha se obtiverem astaxantina através da alimentação. O cultivo destes salmonídeos replica o processo natural, ao fornecer este carotenóide através da ração. Em menor escala comercial, também se usa um carotenóide biologicamente relacionado à astaxantina - a cantaxantina típica da cianobactéria alimentícia Spirulina e dos flamingos que se alimentam dela na natureza, e extensamente utilizada na indústria avícola para incorporar cor à pele do frango e à gema do ovo (Breithaupt, 2007). O rigoroso processo de certificação kosher, que segue as leis de alimentação judaica, não se opõe ao uso de astaxantina para a pigmentação do salmão e da truta (Goldberg, 2003). Alguns anos atrás, matérias com tom alarmista foram veiculadas pela mídia nos E.U.A., alegando que a cor dos salmões estaria sendo “falsificada” pelos criadores, e que estes aplicariam tintas ou corantes vermelhos para isso. Posteriormente, uma organização de tendência radical iniciou um processo na justiça americana baseando-se em tal alegação, mas acabou perdendo a causa pela inconsistência de sua argumentação. O melhor antídoto para o alarmismo está no correto esclarecimento técnico:


Anos mais tarde, este uso de astaxantina dissolvida em óleo como veículo para potencializar a sua incorporação pelo peixe foi adaptado para a truta arco-íris no Brasil. Fonte comercial de astaxantina A fonte de astaxantina utilizada na última década no mundo para esta finalidade é predominantemente o produto sintético Carophyll Pink, produzido pela empresa holandesa DSM Nutritional Products, que adquiriu esta área de negócios do grupo suíço Hoffman La ROCHE. Fontes alternativas, mas Fig. 2 – Salmão cereja Oncorhynchus masou, da variedade landlocked Yamame. ainda com menor significância, são outra astaxantina sintética Coloração nupcial vermelha em machos adultos pigmentados por astaxantina em óleo de krill. A aparência atarracada vem de sua criação em laboratório, sob alta (Lucatin Pink) produzida pelo grupo alemão BASF, e a prodensidade em bateria de tanques restritos dução de astaxantina natural a partir de organismos cultivados (a ser discutido no artigo dedicado à astaxantina). frio o suficiente para cultivar salmonídeos, de modo que a O Carophyll Pink tradicional é um pó (granulado fino) concriação de salmão vem sendo realizada em água doce nas tendo 8 % de astaxantina, para ser adicionado e misturado com os montanhas de Minas Gerais, a 1.700 m de altitude, utilizando ingredientes da ração comercial, que é a seguir, processada e extrusauma linhagem landlocked de salmão do Atlântico (Gonçalves da. No Brasil, o produto está registrado no Ministério da Agricultura & Souza, 2005). (MAPA) para uso em truta, peixes salmonídeos e ornamentais. Uma A técnica de truta salmonada no Brasil foi inspirada numa nova apresentação (Carophyll Pink 10%CWS) consiste de um pó experiência anterior de integrantes desta equipe com o salmão mais fino dispersível em água, para ser adicionado após a extrusão, cereja, Oncorhynchus masou. Nativo da Ásia, é apreciado pelos mas ainda não é mantido em estoque no país. japoneses como o salmão que tem melhor sabor. A variedade Neste início de 2008, o produto comercial com 8 % de prinlandlocked (yamame = dama das montanhas) é especialmente cípio ativo custa US$ 302.00/kg, com impostos inclusos e quando interessante como opção para cultivo em nosso país, por ser adquirido em escala industrial no Brasil. Ou seja, o preço do prino salmão que apresenta a maior tolerância a alta temperatura, cípio ativo astaxantina é de cerca de US$ 3775.00/kg. Apesar deste podendo ser criado em águas que atingem até 25º C (Honjo & valor ter decrescido ao longo dos anos, ainda representa um custo Hara, 1984) - patamar impossível para qualquer outra espécie adicional considerável para a produção de truta salmonada. Assim, de salmão. Na esperança de futuramente ver a espécie cultiva- melhorar a eficiência do processo de pigmentação seria fundamental da no Brasil, integrantes desta equipe criaram o yamame em para maximizar o resultado econômico do processo. laboratório em Tokyo por um ciclo completo de vida (de ovo a ovo), desenvolvendo experimentos em nutrição. Observaram Estratégia para otimizar o processo de pigmentação que a adição à ração de apenas 2 % de óleo do crustáceo krill (Euphausia superba), rico em astaxantina, era suficiente para A estratégia escolhida visou maximizar o efeito da astaxantina o processo de pigmentação do yamame (Fig. 2). nas duas etapas fundamentais do processo: na produção da ração e

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Truta Salmonada Fig. 3 - Amostras de truta inteira para avaliação de cor na carne. A musculatura esquelética foi exposta ao longo do corpo, para verificar a homogeneidade da pigmentação. O grupo tratado com astaxantina em veículo de lecitina (fileira vertical à direita) apresenta coloração da carne mais intensa

na incorporação pelo peixe. Como se sabia que a astaxantina pode ser degradada pela drástica combinação de calor e pressão durante o processo de extrusão da ração, testou-se a sua adição à ração antes e depois da extrusão, efetuada na planta industrial da Moinho Primor S/A.. Como a astaxantina é apolar, solúvel em óleo e não em água - a sua biodisponibilidade seria maior se estivesse dissolvida em óleo, do que envolta por materiais embebidos pela água. Assim, para melhorar a biodisponibilidade, a astaxantina comercial foi previamente dissolvida em um veículo oleoso antes de adicioná-la à ração, em contraste ao procedimento tradicional de adicioná-la direto sob a forma do pó comercial. Os veículos oleosos testados para a astaxantina foram o óleo de peixe, o óleo de soja (constituído por triglicerídeos) e a lecitina de soja (constituída predominantemente pelo fosfolipídeo fosfatidilcolina, extraído do óleo bruto de soja durante o processo de refinação). Todas as rações, incluindo os controles, foram isocalóricas e isoprotéicas. Como resultado, a concentração de astaxantina medida na ração pronta diminuiu 63 a 70 % do teor adicionado antes da extrusão, em comparação com diminuição de 9 a 45 % quando adicionada após a extrusão. A astaxantina adicionada em lecitina de soja resultou na menor perda deste pigmento (9 %). Portanto, a adição da astaxantina à ração após a extrusão aumenta a sua concentração disponível para utilização pelo peixe, especialmente em veículo de lecitina.

A astaxantina foi analisada também na musculatura da truta. Nos tratamentos controle, a astaxantina estava ausente da musculatura, enquanto nos tratamentos com óleo de peixe e de soja esteve presente no patamar de 1,0 a 1,5 mg asta/kg. Já no tratamento com lecitina, a concentração na carne foi de 22,9 mg/kg, ou seja, 15 a 20 vezes maior que o obtido com os outros óleos (Fig. 3). Desta forma, a lecitina se revelou um excelente agente para veicular a astaxantina para a truta. Curiosamente, tal resultado em truta contrasta com o verificado no salmão do Atlântico, num trabalho mais recente realizado na Noruega por Olsen et al. (2005). No salmão, a lecitina diminuiu a absorção de astaxantina, em comparação com o óleo de peixe. Existe outra diferença interessante entre estas espécies, com relação ao tipo de carotenóide, em que a truta incorpora melhor a astaxantina do que a cantaxantina, enquanto no salmão ocorre o oposto (Page & Davies, 2006). Outros experimentos posteriores indicaram a concentração de astaxantina que deve ser adicionada na ração (em lecitina) para obter a pigmentação em um prazo programado (quanto maior a concentração de astaxantina na ração, menor o tempo necessário). Isto permite que os lotes de truta a serem colocados no mercado tenham a sua escala de tratamento pré-programada, uma vez que se a truta ficar várias semanas sem carotenóide na alimentação, a coloração da carne começará a esmaecer.

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Procedimento típico para pigmentação Como o consumo de ração de truta contendo astaxantina é pequeno no Brasil, as indústrias de ração comercial geralmente não as produzem, a não ser sob encomenda. Além disso, o processo de extrusão da ração destrói uma grande parte da astaxantina. Assim, a recomendação é que o criador adicione o pigmento à ração pronta em sua propriedade. Um procedimento típico para preparar 50 kg de ração contendo 50 ppm de astaxantina é o seguinte: A astaxantina é inicialmente misturada à lecitina na proporção de 32 gramas de astaxantina comercial 8 % em 2 kg de lecitina de soja comercial (previamente amornada para liquefazer a lecitina). A mistura pode ser usada na hora ou guardada por até poucos dias. Colocar 2 sacos de ração (50 kg) numa betoneira, ligar em rotação baixa (para não quebrar os pellets) e derramar lentamente a mistura de lecitina amornada sobre a ração. Deixar a betoneira ligada até a ração ficar impregnada por igual com a oleosidade da lecitina (alguns minutos). Esta ração preparada pode ser guardada em local fresco por até uma semana. Ministrar a ração na proporção de 3 % da biomassa/dia durante 4 a 6 semanas antes do abate. Este prazo pode ser ajustado em função da tonalidade da cor desejada na carne. Tal acompanhamento é feito pela comparação da cor da carne da sua truta com o padrão internacional de intensidade

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de cor, reproduzido na Fig. 4. Com base em nossos testes, a intensidade preferida pelo consumidor brasileiro é a 14 - 15.

Fig. 4 - Cartão de Pigmentação de Salmonídeos, utilizado internacionalmente para avaliar visualmente a intensidade de cor da carne sob condições de cultivo e na indústria processadora

Novas estratégias e produtos derivados da truta salmonada Uma avaliação sensorial com 18 pessoas não especialistas, simulando consumidores finais, foi realizada com a truta sob três apresentações culinárias: crua (sashimi), grelhada e defumada. Nesta avaliação, em que os degustadores não conheciam o tratamento experimental dos grupos de truta, a truta salmonada recebeu sempre uma avaliação melhor do que a não-salmonada.


Testamos ainda, a possibilidade de produzir truta salmonada através de uma única injeção intra-peritoneal de astaxantina em lecitina, tipo “depot”, ao invés de alimentação durante várias semanas. Ocorreu uma elevada deposição de pigmento na carne da truta, bem como nos ovos gerados (Fig. 5, IN-CE), confirmando a viabilidade desta via de aplicação. Porém, em algumas trutas ocorreu uma inflamação no entorno do depot, de forma que será necessário aperfeiçoar o veículo para este caso. Esta estratégia de aplicação intraperitoneal também foi inédita no mundo.

Truta Salmonada

Na produção de truta salmonada, o custo de produção aumenta em cerca de 30 % em relação à truta comum, porém, o preço da salmonada é superior em cerca de 100% frente à truta comum. No período de maturação gonadal, a astaxantina depositada na carne da truta é transferida para os ovos em crescimento na gônada. À medida que o pigmento é transferido, progressivamente a carne da truta perde cor e os ovos ficam vermelhos. Tal fenômeno poderia ser um problema para o criador que fornece truta salmonada grande (sexualmente madura), de 1 a 3 kg, geralmente para defumação. Porém, o problema da maturação gonadal é inteiramente evitado pelo uso de lotes de truta geneticamente castrada (triplóide) e monossexo (100 % fêmea), (Tabata et al., 1998) - cujos alevinos são disponibilizados há vários anos pela APTA aos criadores, atualmente com grande procura. Um produto em estágio final de desenvolvimento é a variedade "La roux au peau de miel" (A ruiva da pele de mel), obtida pela triploidização do híbrido da truta padrão com a linhagem golden, e terminando pela salmonização, o que propicia uma bela aparência externa - corpo castanho-amarelado com flanco avermelhado. De outra forma, a maturação gonadal gerou uma nova oportunidade de negócio. A transferência de pigmentos para os ovos origina um novo produto derivado - o caviar vermelho de truta. Enquanto a ova de truta não-salmonada tem cor amarela, a da salmonada têm cor vermelho intenso (Fig. 5, CTRL e ORAL, respectivamente), formando um belo contraste visual para a alta gastronomia.

Conclusões O processo de pigmentação com o carotenóide astaxantina foi otimizado em etapas experimentais sucessivas na truta arco-íris cultivada no Brasil. A eficiência do processo de incorporação do pigmento na carne da truta foi aumentada consideravelmente em relação ao procedimento convencional, de modo a incrementar a lucratividade do processo. A linha de pesquisa em truta salmonada vem propiciando uma agregação progressiva de valor, pelo desenvolvimento de numerosos produtos derivados. Agradecimentos: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), DSM Produtos Nutricionais Brasil Ltda., Moinho Primor S/A, Fundação Instituto de Pesca do Rio de Janeiro (FIPERJ). As fotos são dos autores, exceto se indicado. Referências Bibliográficas

Fig. 5- Caviar de truta. Os ovos de truta nãosalmonada são amarelos (Grupo controle, CTRL), enquanto os de truta salmonada são vermelhos pela astaxantina ministrada através da ração durante algumas semanas (ORAL) ou por uma única injeção na cavidade abdominal (IN-CE)

Baker, R.. & Gunther, C.. 2004. The role of carotenoids in consumer choice and the likely benefits from their inclusion into products for human consumption. Trends in Food Sci. Technol., 15(10): 484-488. BCC Research. 2005. Report RGA-110R: The Global Market for Carotenoids. Updated Edition, June 1, 2005. Breithaupt, 2007. Modern application of xanthophylls in animal feeding – a review. Trends in Food Sci. Technol., 18(10): 501-506. Daniells, S. 2006. Algatechnologies launches astaxanthin beadlets. 1 p. Consultado em 08/02/2008 em: www.nutraingredients.com/news/ng.asp?id=66619-algatechnologies-astaxanthin Gastronomia na Montanha. 2006. Estímulo à pesquisa e ao apetite. Revista Gastronomia na Montanha, Ano 2, Edição Primavera-Verão 2006. Campos do Jordão, SP. p. 32-37. Goldberg, Rabbi C. 2003. Salmon colored with Astaxanthin. The Daf HaKashrus, 11(8), Iyar 5763, May, 2003. Disponível na íntegra na internet em www.kashrut.com/articles/SalmonColoredWithAstaxanthin/

O caviar vermelho de truta ou “caviar de salmão” tem um mercado em ascensão no país, uma vez que o comércio internacional de caviar de esturjão foi severamente restringido com a inclusão dos esturjões como espécies em risco (www.cites.org/eng/prog/Sturgeon/ index.shtml). Os russos da indústria do caviar de esturjão tiveram então, que substituí-lo em boa parte dos seus clientes, pela ova de salmão da pesca extrativa, tornando-a escassa no mercado mundial. Há numerosas vantagens técnicas em produzir o caviar vermelho de truta no Brasil: mercado pré-existente, pois este tipo de “caviar de salmonídeo” já era importado pelo país; produto homogêneo e produção programável (pela manipulação da maturação gonadal através de fotoperíodo); a fêmea não morre na extrusão de ovos maduros, podendo ser usada para carne ou nova(s) batelada(s) de caviar; e qualidade do caviar nacional muitíssimo melhor que o importado - o qual é extraído de gônada imatura de peixe morto.

Gonçalves, S. & Souza, E.. 2005. Salmão made in Brazil. Revista Globo Rural, 235: 62-64. Honjo, T. & Hara, T.. 1984. Yamame – Amago. Editora RyokuShoBo. Tokyo. 184 p. NAPA-CRCD. 2007. Steelhead Trout. Napa County Resource Conservation District. www. naparcd.org/steelheadtrout.htm NOAA. 2008. Steelhead Trout (Oncorhynchus mykiss). NOAA Fisheries - Office of Protected Resources. www.nmfs.noaa.gov/pr/species/fish/steelheadtrout.htm Olsen, R.E. et all.. 2005. Effect of lipid source and bile salts in diet of Atlantic salmon, Salmo salar L., on astaxanthin blood levels. Aquaculture, 250: 804-821. Page , G.I. & Davies, S.J.. 2006. Tissue astaxanthin and cantaxanthin distribution in rainbow trout (Oncorhynchus mykiss) and Atlantic salmon (Salmo salar). Comp. Biochem. Physiol., A143: 125-132. Spirit River Studios. 2007. Oregon Coast Steelhead. Webvideo em http://www.youtube.com/ watch?v=sRtiKRIkZoM ou http://www.spiritriverstudios.com/portfolio/portfolio.html (clicar em SFS Oregon Coast). 6 min. Tabata, Y.A.; Rigolino, M.G. & Tsukamoto, R.T.. 1998. Produção de lotes monossexos femininos triplóides de truta arcoíris, Oncorhynchus mykiss (Pisces, Salmonidae). III – Crescimento até a idade de primeira maturação sexual. Bol. Instituto Pesca, São Paulo, 25: 67 – 76.

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Pirarucu o peixe gigante: Novas Descobertas e Acertos Por: Martin Halverson, Mestre em Aqüicultura e-mail: mmhalver@terra.com.br

Eu saí do esconderijo de onde fiquei observando o peixe gigante, um macho esplêndido com listras vermelhas em fundo preto, e cheguei à beira do reservatório. A sensação na hora de um encontro próximo entre homem e animal silvestre de grande porte é primitiva e comovente. Quando o encontro envolve caçador e presa, a emoção reservada para os participantes no jogo mortal é elevada, e os corações batem forte. O olhar não pode abaixar por um instante, pois pode ser fatal. O peixe mudou sua posição sobre seu ninho para me encarar, avisando que o jogo tinha começado. Eu era o predador, com intenção de remover os ovos que eu imaginava estarem no ninho, ato certamente hostil, desafiando o seu instinto de proteger a prole. A fêmea, que estava cuidando do ninho momentos antes, e repassou a responsabilidade para ele (podemos confirmar que o casal divide a tarefa de cuidar de ninhos com ovos ou larvas), ficou observando a poucos metros do ninho.

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A surpresa Voltando a beira do reservatório, o macho ficou longe do ninho por uns 20 minutos, enquanto discutíamos os acontecimentos, ou a falta deles. Os peixes tinham exibido todos os comportamentos que reconhecemos como indicadores de cuidado de uma desova. Por que então não tinha nada no ninho?

Cultivo de Pirarucu

A

idéia que os peixes de mais de 100 kg poderiam me atacar não me perturbou tanto, provavelmente pelo ânimo e ansiedade guardados durante anos procurando a oportunidade de incubar uma desova de pirarucu. Normalmente, usamos uma gaiola de aço para nos proteger na hora de entrar em ninhos ativos de pirarucu, mesmo que nunca tenhamos sido agredidos. Para maximizar minha agilidade, a gaiola foi dispensada nesta ocasião. Sabendo da atitude agressiva e até mortal que o pirarucu é capaz de mostrar contra outros pirarucus quando luta por território e direitos reprodutivos, e devido à necessidade de sairmos do nosso meio e entrarmos no meio aquático onde eles vivem, todo respeito e precaução são merecidos, e proteção adequada é recomendada quando se trabalha com estes animais. Aparentemente, o macho ficou mais assustado do que eu, pois na hora da minha entrada barulhenta no tanque, ele se afastou do meu alvo enquanto eu cheguei na margem da área escavada no fundo, que demarcava o ninho. Com muita expectativa, eu mergulhei para passar minha mão dentro do ninho. Passei minhas mãos várias vezes procurando por uma massa de ovos. Ovos de pirarucu são aderentes, formando uma massa única. Como tantas outras vezes, o ninho foi encontrado vazio, sem ovos, larvas ou qualquer resto de uma desova que não vingou. Uma escultura perfeitamente circular, 40 cm de diâmetro e 20 de profundidade, limpinho e aparentemente pronto para receber uma desova. Alarme falso. O fato é que o comportamento reprodutivo do pirarucu continua sendo algo misterioso, sem muita documentação precisa, com literatura de 60 anos atrás ainda dominando a etologia, a ciência que lida com comportamento animal. Cadê aquele filme da educação sexual mostrando os fatos da vida? Os poucos produtores que atualmente conseguem desovas regulares vêm formando uma teoria discordante a respeito do assunto, cheio de mitos e realidades mal interpretados, como: “A mãe precisa mostrar para os filhotes como respirar, se não eles morrem. Por isso não podemos capturar larvas e nem ovos”, ou “É o pai que cuida dos filhotes”, ou “É a mãe que cuida dos filhotes”. Com certeza, mais coerência sobre os comportamentos básicos facilitará os trabalhos com esta espécie ameaçada de extinção, promovendo a sua sobrevivência e viabilizando a sua produção para consumo. A observação e registro dos comportamentos, associados com a reprodução da espécie serão fundamentais ao desenvolvimento das técnicas aplicadas na reprodução controlada desse peixe. A reprodução continua sendo o obstáculo principal no desenvolvimento de uma indústria de produção de pirarucu. (Veja artigos sobre o pirarucu, nas edições 53 - 81- 90 - 96 e 100, da Panorama da AQÜICULTURA).

Massa de ovos de pirarucu

No dia anterior eu havia entrado no mesmo ninho, sendo enganado com o mesmo resultado. “Devemos estar atrapalhando a desova do casal”. Talvez tenhamos sido super confiantes. Nos últimos meses nossa equipe tinha coletado inúmeras desovas na forma de larvas recém-nascidas de ninhos durante uma onda inédita de reprodução. No dia anterior fizemos uma captura espetacular de mais de 10.000 larvas. Enquanto conversávamos, o grande macho voltou, direcionando-se ao ninho em linha reta, com objetivo marcado. Já sem medo, ele parou abruptamente com a cabeça encima do ninho, na mesma posição que tinha assumido antes da minha interferência. De repente, veio aquela luz que aparece na mente da gente quando a frustração demanda alguma teoria para preencher a cabeça vazia por falta de respostas mais concretas. “Será, que este peixe não havia tirado os ovos do ninho ao me ver e agora voltou para colocá-los no local novamente?”, comentei. Decidi verificar, pois o que muitas vezes parece ser absurdo é a realidade. Apesar de relatos de Oliveira transcritos por Menezes (1951) sobre o hábito dos reprodutores esconderem as larvas na boca, e do Gudger (1943), que fala o mesmo, além da possibilidade de “oral gestation” ou “buccal incubation”, o comportamento foi categoricamente negado pela equipe de Fontanele (1953). “Vou esperar para ele subir para respirar, e daí eu vou entrar bem rápido para espantá-lo do ninho”. Nem terminei de falar, e João disse: “Ele vai subir, está olhando para cima. Está subindo, vai respirar”. A minha entrada foi mais barulhenta do que antes, e cheguei à margem do ninho rapidamente. “Ele está a um metro de você” disse João. A excitação e espontaneidade do momento não deixaram espaço para que eu me preocupasse com ele, e mergulhei com minhas mãos estendias, procurando um milagre. A sensação da massa de ovos de pirarucu foi algo maravilhosa. Fiquei em pé, e saiu o grito exuberante; “Temos ovos no ninho!” Olhando para o pai do meu lado, pensei que ele estava sendo muito generoso comigo. Será que sentiu que a minha vontade era a mesma dele, de cuidar destas vidas da melhor maneira possível, que o sacrifício dele poderia ajudar a salvar sua raça? Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2008

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Cultivo de Pirarucu

Incubadora tem língua? Antes de retirar o tesouro do ninho, a realidade do desafio de manter vivos os ovos até eclodirem pesou na minha consciência. Não tem incubadoras de pirarucu à venda, e a nossa foi montada com conhecimentos tirados da fisionomia do pirarucu, imaginando como um pirarucu adulto cuida dos ovos. Já fiquei com dúvidas sobre isso, pois acabamos de descobrir que o peixe adulto é capaz de levar os ovos na boca. Aquela língua de osso do animal, cuja função imaginávamos ter a ver com alimentação, será que não é utilizada para segurar e manipular ovos? Minha incubadora não tem língua! Já havíamos incubado alguns ovos resgatados de desovas parciais, provavelmente aqueles que caíram da boca de um macho que tentava salvar seus futuros filhotes. Mas incubar e eclodir uma massa íntegra seria coisa inédita pelo nosso conhecimento. Fiquei impressionado com a qualidade de ovos, olhando-os no recipiente onde os coloquei. Tinha mais ou menos 99% viáveis, uma cor verde jade com poucos brancos misturados, sinal de ovo morto ou não fecundado. A minha dúvida sobre a capacidade do casal de pirarucu conseguir uma alta porcentagem de fecundação foi desmentida. Neste caso, no segundo dia de vida, os ovos estavam sendo muito bem cuidados pelos pais. A massa pesou 200 gramas, e uma amostra pesada em balança de precisão deu um peso de 46 ovos por grama, sendo um total de 9.200 ovos. Larvas de pirarucu 24 horas após a eclosão

Larvas de pirarucu 2 dias após a eclosão

bação de ovos será melhor avaliado após várias tentativas. Os números são compatíveis com os bons resultados obtidos com o sistema mais produtivo atualmente utilizado, que é a colheita de alevinos maiores, duas semanas ou mais após aparecerem as pós-larvas nadando com o pai em ambientes bem controlados. Desovas maiores devem acontecer com fêmeas maiores. Uma desova de 500 g teria 23.000 ovos. Acreditamos que o rendimento atual das desovas em cativeiro apresenta uma média de 2.000 alevinos viáveis e, na natureza, a média de colheita de alevinos é bem menor. Assim podemos acreditar que as técnicas que estão sendo desenvolvidas serão importantes para assegurar o futuro da espécie. Após presenciar o comportamento do pirarucu macho levando ovos fora do ninho, em outra ocasião foi observado um macho segurando ovos na boca por vários dias, e posteriormente as pós-larvas foram vistas saindo e entrando de sua boca. Pós-larvas de pirarucu 10 dias após a eclosão

Apesar de problemas com mortalidade de ovos durante a incubação, três dias depois eclodiram 70%, ou 6.500 ovos. Após a primeira experiência com a incubação de uma desova em cativeiro, esperamos resultados melhores na próxima e o rendimento da incu-

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2.500 alevinos de pirarucu de 8 cm treinados para comer ração

"Produzir peixes grandes é uma proposta interessante para o pirarucu, abaixando significativamente o custo do alevino por quilo de peixe produzido, e agregando o valor de um produto diferenciado"

Cultivo de Pirarucu

Agora, sabemos que o macho é capaz de levar ovos, larvas e pós-larvas dentro da boca, e aparentemente a eclosão pode acontecer dentro da boca dele. Esta flexibilidade de comportamento reprodutivo é muito interessante em termos etológicos, pois os comportamentos reprodutivos de espécies mais primitivas tipicamente são bem fixos, com todos os animais da espécie sempre repetindo o mesmo ritual. Normalmente, os ovos eclodem dentro do ninho quatro ou cinco dias após a fecundação, com a saída das pós-larvas do ninho quatro ou cinco dias depois, quando sobem junto com o pai em busca de alimento. Acreditamos que quando os machos resolvem levar ovos e larvas na boca, sofrem perdas maiores. Aparentemente, o comportamento é reservado para emergências, quando o macho sente a prole ameaçada. Estas perdas poderiam ser evitadas, pois sabemos que as ameaças muitas vezes vêm de piscicultores ou pescadores na hora da captura dos adultos ou nas tentativas para capturar filhotes.

Alevinos de pirarucu com 15 cm

Como já temos experiência considerável cuidando de larvas de pirarucu, e as técnicas de cultura de alevinos e peixes maiores vêm melhorando com a prática, muitos problemas técnicos a respeito da produção do pirarucu estão sendo resolvidos. Os mitos a respeito das fases mais difíceis estão sumindo frente às experiências positivas. Durante a nossa primeira desova do ano, as larvas foram capturadas antes de começarem a comer, e apresentaram mortalidade menor que 1% até serem comercializadas ou colocadas na engorda com 12 a 15 cm. Alevinos cada vez menores estão sendo treinados a comer ração. Consideramos um peixe de 10 ou 11 cm ideal para entrar em sistemas de engorda, abaixando significativamente custos de transporte e dos peixes. Rotineiramente alevinos deste tamanho estão sendo transportados de avião por todo o país, sem ocorrer mortalidade. Produtores experientes poderiam trabalhar com peixes ainda menores. Basta tomar cuidados apropriados durante as primeiras semanas da engorda. Algumas Unidades de Observação de engorda do SEBRAE estão mantendo 100% de sobrevivência após vários meses de engorda (ver box). Mesmo calculando o preço tradicional por alevino de R$ 1,00 por cm, um alevino de 10 cm é economicamente viável para engorda. Umas das grandes vantagens do pirarucu são a rusticidade e a capacidade de crescimento. Produzir peixes grandes é uma proposta interessante para o pirarucu, abaixando significativamente o custo do alevino por quilo de peixe produzido, e agregando o valor de um produto diferenciado. Outro fator limitante até tempos recentes era a falta de informação sobre a nutrição da espécie. Rações caseiras já atingiram conversões alimentares de 1:1 com peixes em fase de engorda. Pelo menos uma ração comercial fabricada para peixes marinhos, testada por nós, conseguiu um resultado parecido.

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Rações com concentrações altas de nutrientes digestíveis como as atualmente utilizadas para produzir peixes carnívoros marinhos darão bons resultados. Crescimento sem igual, conversões excelentes, altas taxas de rendimento de filé, produtividade elevada dentro dos vários sistemas produtivos, e alta sobrevivência são resultados diferenciados esperados para o pirarucu quando usamos rações de qualidade, justificando um custo maior. Com índices como esses, enxergamos o começo da indústria de engorda do pirarucu deslanchando diante dos nossos olhos. Reprodutores caros É necessário esclarecer que a reprodução do pirarucu não é atividade fácil, nem em termos técnicos, nem

O apoio do SEBRAE O projeto “Estruturante da Região Norte de Pirarucu”, lançado pelo SEBRAE Nacional em 2007, vem montando Unidades de Observação de pirarucu, com o objetivo de avaliar a realidade sobre a engorda do animal, e comparar as várias estratégias de produção e comercialização do produto nos Estados de Rondônia, Acre, Tocantins, Roraima, Amazonas e Amapá. O projeto conta com consultores experientes para orientação técnica, incluindo Jacob Almeida Kehdi, Eduardo Akifumo Ono, e Martin Richard Halverson. O projeto terá três anos de vigência, com foco na reprodução do pirarucu que está sendo executada na piscicultura Só Peixes, localizada em Pimenta Bueno, Rondônia, pelos pesquisadores Martin Halverson e Jacob Kehdi, junto ao gerente de produção João Roberto Garcia. Em Rondônia e no Amapá, as Unidades de Observação são orientadas por Kehdi, já nos estados do Amazonas, Roraima, Acre e Tocantins, são orientadas por Eduardo Ono, que também elaborou um levantamento da produção do pirarucu e seus potenciais, nos seis estados.

Cultivo de Pirarucu

Exemplar adulto de pirarucu

financeiros. Peixes com menos de cinco anos de idade geralmente não reproduzem e adultos jovens produzem números baixos de ovos. Os peixes adultos demoram alguns anos para ficarem aclimatados com novos ambientes, aprendendo com o tempo a reproduzir com sucesso. Peixes de cinco anos bem alimentados devem pesar de 80 a 100 kg. O preço de reprodutores de pirarucu normalmente gira em torno de R$10,00 por kg, ou mais. O custo de manutenção destes animais com alimento de qualidade é alto. A formação de casais produtivos não acontece automaticamente. Em três anos, a Só Peixes conseguiu estabelecer oito casais considerados produtivos, dentre os 65 peixes adultos da propriedade. Casais formados nem sempre reproduzem, e quando reproduzem, os números nem sempre são grandes. Existem pais que não conseguem cuidar dos filhotes, outros são canibais. Acreditamos que o custo de alevinos de pirarucu deve baixar, mas dificilmente vai ficar barato. O conselho ao produtor é procurar alevinos de qualidade, e não comprar alevinos capturados da natureza. É crime ambiental, e a qualidade não se compara com um alevino produzido com cuidados apropriados em cativeiro. Vermes e outras doenças são comuns em peixes capturados da natureza. O fato é que pirarucus produzem poucos alevinos por kg de reprodutor comparado com outras espécies, aumentando custos. Esperamos que compartilhar informações a respeito do comportamento reprodutivo desta espécie nobre contribua para a sua sobrevivência. O homem vem colocando a espécie em risco, então devemos fazer um esforço especial, lutando para manter a sua existência.

Os peixes produzidos serão utilizados em experiências práticas com processamento, sob a orientação técnica de Halverson. O SEBRAE desenvolverá um projeto de marketing onde foi adotado o nome “Pirarucu da Amazônia” para simbolizar os produtos dos associados. A atuação do SEBRAE Nacional envolvendo vários estados em um projeto “Estruturante” é estratégia inovadora, bem como o apoio de um projeto de pesquisa aplicada no caso da reprodução do pirarucu em uma piscicultura, como a Só Peixes. Segundo a coordenadora do SEBRAE, Roberta Figueiredo, a instituição acredita no futuro do pirarucu na Região Norte e aposta na pesquisa aplicada na reprodução da espécie como maneira de adiantar o seu desenvolvimento. A Só Peixes da Amazônia, foi inaugurada há três anos com foco na reprodução de pirarucu. O empreendedor Elthon Lago adquiriu uma piscicultura desativada, tendo a oportunidade de comprar um plantel de reprodutores de pirarucu de um grupo de produtores desanimados com as despesas de manutenção dos animais. A Só Peixes adquiriu reprodutores na região, obtendo um plantel de 65 peixes adultos. Desde então, o projeto vem ganhando experiência na área.

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Sanidade Aqüícola

Por: Henrique César Pereira Figueiredo – e-mail: henrique@ufla.br Médico Veterinário, professor do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Lavras Coordenador do AQUAVET - Lab. de Doenças de Animais Aquáticos Daniela Tupy de Godoy e Carlos Augusto Gomes Leal Médicos Veterinários, AQUAVET - UFLA

ANTIBIÓTICOS NA AQÜICULTURA

O

s antibióticos e antimicrobianos são substâncias que podem ser extraídas de plantas, produzidas por microrganismos ou em laboratórios de maneira artificial, que como característica comum apresentam a capacidade de matar ou inibir o crescimento de bactérias. A maioria das bactérias que causam doenças nos peixes pode ser classificada em dois grupos distintos: Gram-positivas ou Gram-negativas. Estes microrganismos são agrupados de acordo com o resultado de um teste laboratorial chamado coloração de Gram. Nesse teste, as bactérias do grupo das Gram-positivas apresentam coloração roxa e as Gram-negativas, coloração rosa (Figura 1), permitindo ainda a determinação da forma do microrganismo (Ex: cocos = bactérias em formato de círculo), facilitando assim sua identificação. Na coluna “Sanidade Aqüícola” desta edição discutiremos um tema muito atual, cercado de mitos e polêmicas, “O uso de antibióticos na aqüicultura”. O alvo prioritário do uso de antibióticos é o controle de várias doenças causadas por bactérias, como as septicemias, a columnariose, as infecções pelos estreptococos, vibrioses, dentre outras. Apesar dessa terapia poder ser efetiva como ferramenta de controle de doenças, o uso constante dos antibióticos na aqüicultura pode induzir o aparecimento de linhagens de bactérias resistentes. Então faz-se necessário o emprego racional dos antibióticos para termos uma boa efetividade no controle de infecções, aliado à segurança alimentar e ao cuidado com o meio ambiente. Nesse artigo explicaremos as principais características dos antibióticos, critérios para a escolha do antibiótico correto, o modo seguro de sua utilização na aqüicultura, bem como o impacto na produção e no ambiente pelo uso incorreto dessas substâncias. 42

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Figura 1 - À esquerda bactérias Gram-negativas e a direita bactérias Gram-positivas

Esta variação na coloração é devida a diferenças na estrutura externa da célula das bactérias. Conhecer esta diferença é importante porque alguns antibióticos funcionam melhor para bactérias Grampositivas, enquanto outros possuem maior atuação em Gram-negativas. Grande parte das bactérias que infectam os peixes são Gram-negativas, incluindo Aeromonas hydrophila, Aeromonas salmonicida, Flavobacterium columnare, Edwardsiella sp., Vibrio sp. e Pseudomonas sp. No grupo de bactérias Gram-positivas, as de maior interesse são as dos gêneros Streptococcus e Lactococcus. Portanto, para uma maior eficiência no tratamento precisamos saber qual bactéria realmente está infectando os animais.


Sanidade Cultivo deAqüícola ostras

Tabela 1 - Local de ação, efeito e principais exemplos dos antibióticos comerciais

Esse pode ser potente e destrutivo levando o patógeno a morte ou impedir que esses realizem alguma função vital para sua célula e com o tempo morram. As principais características dos diferentes tipos de antibióticos e representação esquemática de seu local de ação nas células são apresentados na tabela 1 e figura 2, respectivamente. Antibióticos e aqüicultura Segundo dados da FAO (Food and Agriculture Organization), os antibióticos mais utilizados na aqüicultura são a oxitetraciclina, o florfenicol, a sarafloxacina, a eritromicina e as sulfonamidas. A regulamentação para o uso dos antibióticos é dada por cada país, ou por acordos regionais, como é o caso da Comunidade Européia. Na tabela 2 temos em detalhes quais antibióticos são permitidos em diferentes países do mundo. Modo de ação dos antibióticos Os antibióticos são substâncias que apresentam estruturas químicas diversas. Esses são agrupados geralmente em função de seu mecanismo de ação, ou seja, o efeito que eles causam na célula bacteriana.

Figura 2 - Modo de ação dos antibióticos. THF, tetrahidrofolato; DHF, dihydrofolato

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Tabela 2 – Antibióticos aprovados para uso em diferentes países

Sanidade Cultivo deAqüícola ostras

* Em diversos países os antibióticos são liberados somente para uso em algumas espécies de peixes, e para tratamento de algumas doenças específicas

No Brasil, apenas o florfenicol está aprovado para uso na aqüicultura. Mas visitando as propriedades no país podemos constatar o uso rotineiro de outros antibióticos, como norfloxacina, oxitetraciclina e sulfonamidas. Em várias fazendas que acompanhamos problemas sanitários, os produtores resistem inicialmente em informar sobre o uso desses antibióticos justamente pelas questões legais envolvidas. O maior problema do uso de antibióticos é quando esse é feito de forma indevida, indiscriminada e/ou exagerada. Grande parte disso é devido à falta de informação de técnicos e produtores sobre quando e como usar essas drogas. Muitas vezes você já deve ter ouvido falar que antibióticos são ruins, perigosos, não devem ser usados etc. Será que não devem ser usados ou usados de maneira correta? Quando utilizados de forma certa os antibióticos são bons e seguros, principalmente no combate de surtos de doenças causadas por bactérias. Porém, somente o uso desses medicamentos não resolverá todos os problemas. Para obtermos uma produção saudável e com bons lucros devemos investir na prevenção e controle das enfermidades. Isso é feito através da realização de manejo sanitário na propriedade. O emprego de práticas de prevenção (quarentena, vacinação, etc.) e controle (descarte de animais, tratamento com antibióticos, entre outros) propicia uma criação produtiva e livre de doenças. Caso a propriedade não possua assistência técnica especializada, um médico veterinário deve ser contatado sempre que ocorrer um problema sanitário na fazenda. Ele deve ser informado de todo o histórico da doença, desde as fases iniciais até o desfecho do caso. Só assim ele poderá dar instruções sobre a condução do problema e envio de amostras para os exames laboratoriais. Esses permitirão a identificação do agente causador, bem como quais os antibióticos que podem ser utilizados contra ele. Os peixes doentes não devem ser tratados com antibióticos antes da coleta de material para exames, pois isso prejudica os resultados. O medico veterinário é o profissional legalmente habilitado para receitar medicamentos para animais de produção, dentre esses os peixes. Vias de administração de antibióticos para peixes Diferente do tratamento das demais espécies, o uso de antibióticos em aqüicultura apresenta algumas características

próprias, desde a forma como o medicamento é fornecido aos animais até a resposta desses ao tratamento. Os antibióticos podem ser administrados aos peixes via injeção, misturado à ração ou através de banhos de imersão. A injeção é a maneira mais eficiente de garantir que a dose de antibiótico desejada chegue até a corrente sanguínea. Porém, este processo é trabalhoso e impraticável para tratamento de peixes em fase de recria e engorda. Em alguns países o uso de antibióticos injetáveis é feito em peixes reprodutores Tratamentos com antibióticos realizados, via banhos de imersão, precisam de maiores doses de antibióticos para se alcançar o efeito desejado. Na prática esse tipo de via é usada em poucas situações. Exemplos da utilização dessa via são para o transporte de alevinos em sacos plásticos ou nas caixas de caminhões especializados ou ainda em sistemas fechados como laboratórios ou larviculturas, onde o volume de água é menor e o fluxo pode ser controlado. Essa forma de tratamento necessita grande quantidade de medicamento na água e aumenta a chance do desenvolvimento de bactérias resistentes aos antibióticos. Sistemas de produção que possuem filtros biológicos e sistemas de recirculação de água não podem usar esta modalidade de administração, pois irão matar os microrganismos do biofiltro. Para a realização de banhos de imersão, o ideal é utilizar tanques separados apenas para esta finalidade. Em suma, os banhos devem ser considerados apenas quando os peixes não estão comendo e logo que eles voltem a se alimentar o tratamento oral deve ser instituído. De longe a via de administração de antibióticos mais utilizada é a incorporação dessas substâncias à ração. Isso pode ser feito diretamente na fábrica de ração ou na propriedade. No Brasil a maioria das rações comerciais para peixes são extrusadas. Como o processo de extrusão envolve uma variação brusca na pressão e alta temperatura os antibióticos não podem ser misturados junto com os ingredientes desde o início da fabricação devido ao risco de inativação dos mesmos. Apesar disso, existe uma maneira prática e viável da mistura ser realizada. Após a extrusão os grãos de ração podem ser pulverizados com os antibióticos e depois secos, permitindo a incorporação da droga inalterada aos pellets. No país apenas uma fábrica de ração está licenciada pelo Ministério da Agricultura para misturar Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2008

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Critérios para o uso de antibióticos Com o crescimento da aqüicultura no país, ocorre uma tendência natural de que a atividade se torne cada vez mais empresarial, com uma marcada intensificação na produção e produtividade por área. Para que isso seja possível os animais são submetidos a um manejo intenso, altas densidades de estocagem e o emprego de grandes quantidades de insumos durante os ciclos de produção. A conjunção desses fatores diminui a eficiência do sistema imune dos peixes, fazendo com que esses fiquem mais susceptíveis às doenças. Sendo assim, para evitar os prejuízos causados pelas infecções, tratamentos profiláticos para prevenir a ocorrência, e terapêuticos para combatê-las são as principais formas de utilização de antibióticos nos sistemas de cultivo. Tratamentos profiláticos com antibióticos são geralmente realizados pela administração dessas substâncias na ração. Em alguns casos específicos, via injeção ou banho também. Esses procedimentos são adotados de forma tática, ou seja, previamente a eventos que possivelmente estressarão os peixes e predisporão o aparecimento de doenças. Geralmente feitos um tempo antes e por um período após manejos como: transporte de animais, repicagem, entre outros. Muitos produtores adotam tais práticas como rotina em suas pisciculturas. Apesar da aparente economia, esses atos são

prejudiciais para o sistema em médio prazo. O uso constante desses antibióticos pode selecionar microrganismos resistentes aos medicamentos usados, sendo que em casos de surto, esses não serão mais eficientes. Em uma assistência técnica a uma larvicultura de tilápia do Nilo, realizada por nossa equipe, observamos esse problema. O produtor fornecia oxitetraciclina junto à ração para seus peixes de forma tática, como explicado anteriormente. Ele já vinha fazendo isso há alguns meses, quando ocorreu um surto em seu plantel que cursou com mortalidade elevada, causada pela bactéria Aeromonas hydrophila. No início do caso, o piscicultor tentou fazer um tratamento com oxitetraciclina e viu que não surtia efeito algum. Após o diagnóstico laboratorial, constatamos que a bactéria que causou a infecção nos peixes era resistente à oxitetraciclina, mesmo que utilizada em doses elevadas. Outras táticas de controle do problema tiveram que ser estabelecidas. Esse é apenas um exemplo da problemática do uso constante desses medicamentos nos sistemas de cultivo. Além do impacto direto na produção, o uso dessas substâncias pode ser altamente nocivo para o meio ambiente. Principalmente em pisciculturas realizadas em tanques-rede, onde esses estão localizados em grandes bolsões de água como represas, lagos e rios, resíduos desses medicamentos podem alterar a flora microbiana do local. Parte dos antibióticos incorporados à ração se dissolvem na água antes dos peixes se alimentarem e outra passa pelo intestino sem ser absorvido, sendo esses resíduos liberados no ambiente. Uma vez eliminadas no corpo de água essas moléculas podem se depositar no sedimento ou serem ingeridas por outros animais ali presentes, alterando o perfil de microrganismos e induzindo a seleção daqueles que são resistentes à droga. Estudos têm demonstrado que isso ocorre na prática. Locais onde ocorreu o uso constante de antibióticos tendem a apresentar um padrão de microrganismos resistentes aos medicamentos utilizados. Contudo, mesmo em pisciculturas sem histórico prévio do uso de antibióticos é possível o isolamento de microrganismos resistentes. Esse fato foi verificado em um estudo realizado por nossa equipe, que teve como objetivo avaliar a presença de populações bacterianas resistentes a antibióticos em sistemas de cultivo que nunca haviam realizado o uso de antibióticos. A questão da transferência de resistência entre os microrganismos é tão complexa e facilitada, que muitas vezes dificulta uma avaliação real do problema. O fato é: o uso constante parece ser o maior desencadeador do aparecimento da resistência às drogas. A forma mais coerente para a utilização dos antibióticos é quando da ocorrência de surtos no plantel. De preferência esses devem ser usados no início do caso, quando os primeiros peixes começam a morrer. É importante observar que os peixes doentes têm como um dos primeiros sinais clínicos a perda de apetite. Assim, o uso de ração medicada em um tanque de cultivo só será efetiva para os animais que ainda estiverem saudáveis, ou em fases bem iniciais da infecção. A parcela dos peixes que já estiver doente no início do tratamento provavelmente morrerá. Por esse motivo, quando iniciamos o tratamento com antibióticos as mortalidades não cessarão imediatamente.

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antibióticos na ração de peixes. Essa só pode ser realizada de acordo com uma receita de um médico veterinário devidamente regularizado nos órgãos de fiscalização. A mistura de substâncias na ração realizada na propriedade é um procedimento que a maioria dos produtores certamente já deve ter feito, para antibióticos ou outros produtos como vitaminas, por exemplo. Apesar de aparentemente simples, alguns cuidados devem ser tomados. Os antibióticos (na forma de pó) devem ser primeiramente misturados com óleo (recomendamos óleo de soja) e depois essa mistura será adicionada a ração. A função do óleo é evitar que o antibiótico seja solubilizado quando em contato com a água, no momento do arraçoamento. É importante que a distribuição do óleo sobre a ração seja a mais homogênea possível, evitando a formação de grumos ou placas de ração, ou ainda, pellets sem antibiótico agregado. Após a mistura um descanso de alguns minutos é interessante para que os pellets absorvam o óleo e o antibiótico. Costumamos recomendar o uso de 1 litro de óleo para cada 100 quilos de ração (quatro sacos). Essa quantidade tem sido suficiente para diluir o volume de antibiótico usado nos tratamentos e não altera de forma significativa a composição nutricional da ração. O uso de borrifadores ou bombas costais para a aplicação dos antibióticos na ração não é recomendado, pois devido à viscosidade do óleo o cano dos aparelhos pode entupir. A quantidade de antibiótico a ser incorporada poderá variar de acordo com o tipo de antibiótico escolhido para o tratamento e o grau de pureza do mesmo em sua formulação comercial. A dose final do antibiótico deverá ser calculada na unidade de miligramas/quilo de peso vivo, considerando a biomassa presente em cada tanque de cultivo.


Sanidade Aqüícola

"Na década de 80, a segurança dos antibióticos passou a ser questionada, principalmente, em virtude do seu uso rotineiro na alimentação das aves. A possibilidade de os microrganismos patogênicos adquirirem resistência às drogas, devido à adição contínua em doses subterapêuticas nas dietas é um dos maiores problemas de sua utilização" Resistência bacteriana aos antibióticos Quando a dose de um antibiótico é muito alta ou o tratamento é muito longo, existe a possibilidade de toxicidade para o peixe, causando danos reversíveis ou não, ao fígado, rins ou outros órgãos. Por outro lado, se a dose do antibiótico é pequena ou o tratamento é curto, a bactéria não morre ou fica enfraquecida o suficiente para o sistema de defesa (ou sistema imune) do peixe matá-la. Isto aumenta o risco da bactéria desenvolver resistência contra o antibiótico. Quando uma bactéria se torna resistente, mesmo altas doses do antibiótico não serão efetivas. A resistência também pode ocorrer quando os antibióticos são usados como promotores de crescimento. Os antibióticos promotores de crescimento têm por finalidade controlar os agentes prejudiciais ao trato digestivo dos animais e proporcionar efeitos benéficos na absorção de nutrientes. Entretanto, é crescente a restrição ao uso de antimicrobianos na forma terapêutica e como promotor de crescimento em animais destinados à produção de alimentos. Na década de 80, a segurança dos antibióticos passou a ser questionada, principalmente, em virtude do seu uso rotineiro na alimentação das aves. A possibilidade de os microrganismos patogênicos adquirirem resistência às drogas, devido à adição contínua em doses subterapêuticas nas dietas é um dos maiores problemas de sua utilização. Também é possível a transferência dessa resistência para bactérias associadas à população humana, chamada resistência cruzada. A utilização de antibióticos, como promotores de crescimento em rações para animais foi abolida desde janeiro de 2006 na Comunidade Européia.

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Figura 3 - Resultado do teste de antibiograma. Os halos claros (setas em vermelho) representam a inibição do crescimento bacteriano pelo antibiótico contido no disco

Não é apenas o uso constante, mas também o mau uso dos antibióticos, que leva ao aparecimento de microrganismos resistentes a tais substâncias. Um exemplo de mau uso dos antibióticos foi comentado na edição passada da Panorama da AQÜICULTURA (Edição 104 - novembro/dezembro - 2007). Em surtos de estreptococose devemos escolher um antibiótico que seja capaz de atravessar a barreira hemato-encefálica, como por exemplo, o florfenicol. Quando utilizamos uma droga sem esta característica, como a oxitetraciclina, estamos exercendo uma pressão de seleção para a resistência ao antibiótico, sem ainda haver uma eficiência no tratamento pretendido. Escolha do antibiótico Como saber qual antibiótico usar? É preciso conhecer algumas características do agente causador da doença como habitat, transmissão, sítio de infecção (por exemplo, cérebro no caso de estreptococose), resistência natural a algum antibiótico, entre outros. Além disso, existem testes laboratoriais que devem ser feitos para auxiliar na escolha da droga de eleição. O antibiograma é um teste qualitativo que oferece como resultado padrões de resistência ou susceptibilidade de uma bactéria específica a vários antibióticos. Este teste é feito utilizando-se vários discos de difusão com diferentes antibióticos (Figura 3), que são colocados sobre meio de cultura inoculado por espalhamento com uma solução da bactéria isolada dos peixes doentes. A leitura do resultado do antibiograma é feita medindo-se o diâmetro do halo de inibição. Com o valor encontrado, em milímetros, é feita a consulta a uma tabela para interpretação. Com base nestes valores, a bactéria é classificada como susceptível ou resistente aos diferentes antibióticos testados. Deve ficar claro que essa tabela de interpretação deve ser específica para bactérias oriundas de ambientes aquáticos. Tabelas de referência para bactérias isoladas de seres humanos não devem ser utilizadas. O teste de concentração inibitória mínima (CIM) tem como objetivo encontrar a menor concentração, de um determinado antibiótico, que é capaz de inibir o crescimento bacteriano visível ao olho nu. Nesta técnica suspensões de bactérias são testadas para concentrações crescentes de antibiótico. A menor concentração em que houver a inibição do crescimento é chamada de CIM (Figura 4).


Com o valor de CIM podemos classificar esta bactéria como sensível ou resistente, e em que dose de antibiótico o tratamento deverá ser mais efetivo. Mas para isso precisamos de valores de referência, o que ainda está sendo estabelecido para bactérias isoladas de animais aquáticos. Atualmente, utilizamos como referência o perfil de distribuição de valores de CIM de testes já realizados no AQUAVET. Nosso banco de dados possui valores de CIM de ácido oxolínico e oxitetraciclina, para aeromonas móveis, e florfenicol, biciclomicina, oxitetraciclina e ácido oxolínico, para Streptococcus agalactiae. Os testes de CIM e antibiograma devem ser realizados por laboratórios especializados em diagnóstico de doenças de animais aquáticos e todo o procedimento deve ser realizado seguindo normas internacionais. O instituto que padroniza a metodologia empregada chama-se Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI). No ano de 2006 foram publicados os documentos intitulados “Methods for broth dilution susceptibility testing of bacterial isolated from aquatic animals. (M49A)” e “Methods for antimicrobial disk susceptibility testing of bacterial isolated from aquatic animals. (M42A)”, neles está o passo-a-passo de como o CIM e o antibiograma devem ser feitos, respectivamente. Em mãos do resultado de cultura e sensibilidade aos antibióticos, juntamente com dados da doença e da propriedade o médico veterinário poderá fazer a escolha do antibiótico mais apropriado para cada caso. Em fazendas de grande porte que utilizam rotineiramente antibióticos para o controle de mortalidade o ideal é a realização anual de testes de CIM, a partir de bactérias patogênicas isoladas na fazenda, para a verificação do possível aumento de resistência, e da efetividade da dose de antibiótico que está sendo utilizada. Isso é uma grande ferramenta para se evitar também o acúmulo de resíduos de antibióticos na carcaça dos peixes, o que é um problema grande para o consumo humano, seja no mercado interno ou para exportação.

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Figura 4 - Resultado esquemático do teste para a determinação de concentração inibitória mínima de um antibiótico

13a Conferência Internacional de Doenças de Animais Aquáticos Em setembro do ano passado aconteceu, na Itália, a 13a Conferência Internacional de Doenças de Animais Aquáticos, organizada pela Associação Européia de Patologistas de Peixes. Eu estive no evento apresentando dados recentes do nosso laboratório sobre as infecções por Streptococcus agalactiae em tilápia do Nilo, como discutido nas edições anteriores da Panorama da Aqüicultura. O evento teve em torno de 500 participantes, de todas as partes do mundo. Algumas discussões interessantes foram feitas sobre os problemas sanitários no cultivo do bacalhau (Gadus Morhua) no norte da Europa. Vários países, como Dinamarca e Bélgica estão implementando esse cultivo, mas as primeiras experiências foram negativas por causa da ocorrência de bacterioses, como a infecção por Yersinia ruckeri. O estudo das doenças do bacalhau cultivado foi um grande destaque do evento. Os pesquisadores europeus apresentaram também a nova legislação sanitária de animais aquáticos que deverá entrar em vigor na Comunidade Européia (CE) a partir de julho de 2008. O maior entrave político é a entrada de países do leste europeu na CE. Vários desses países possuem atividades de piscicultura consideráveis (principalmente no cultivo de trutas) e poucos dados epidemiológicos sobre a ocorrência de doenças. A nova legislação será mais rígida quanto ao controle sanitário periódico nas pisciculturas e todo estabelecimento terá que ser registrado no órgão sanitário oficial, similar ao nosso Ministério da Agricultura e Abastecimento, no Brasil. Às vezes pensamos que a situação brasileira de controle sanitário de animais aquáticos é incipiente, mas vemos que aspectos básicos, como o registro sanitário de fazendas, ainda não são feitos na CE. O maior rigor que essa nova legislação tem quanto ao diagnóstico de doenças infecciosas deverá levar a CE a dotar maiores restrições futuras à importação de pescado de países onde os controles básicos não são feitos. Mais um desafio posto à nossa aqüicultura crescente e em fase de globalização. Henrique César Pereira de Figueiredo

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Aqüicultura na África O Projeto Interegional de Intercâmbio de Tecnologia sobre Produção de Tilápias e outros Ciclídeos Por: Maria Célia Portella Universidade Estadual Paulista, Centro de Aqüicultura da UNESP. e-mail: portella@caunesp.unesp.br Charles C. Ngugi Moi University, Chepkoilel Campus, Department of Fisheries and Aquatic Sciences, Kenya. e-mail: cngugi@africaonline.co.ke

A África é o berço de espécies produzidas intensivamente em vários países, como a tilápia e o bagre africano; mesmo assim, até recentemente as espécies eram pouco cultivadas no continente. A despeito da grandeza do continente africano, com mais de 30 milhões de km2, 53 nações, 37.500 km de área costeira e mais de 200.000 km2 de áreas alagadas e rios que abrigam uma abundante fauna aquícola, a produção de pescados em 2005 alcançou apenas 8 milhões de toneladas. Desse total, a aqüicultura contribuiu com pouco mais de 656 mil toneladas, com destaque para o Egito, responsável por 82% dessa produção. Especialistas, no entanto, concordam que há na África grande potencial para a expansão da aqüicultura e demanda crescente por alimentos; afinal, estima-se que sejam mais de 800 milhões de africanos, a maioria extremamente carentes. A seguir, apresentamos um panorama da aqüicultura desenvolvida em três países africanos – África do Sul, Gana e Quênia – resultado das recentes visitas realizadas pelo projeto Aquafish CRSP, criado pela USAID - Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional (veja Box). 50

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Foto: Charles C. Ngugi

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m várias partes do mundo a aqüicultura já provou sua importância para aumentar o suprimento de pescados e atualmente provê quase 50% do pescado consumido no mundo. Por volta de 2010, estima-se que a população africana alcançará 1,2 bilhões de habitantes, 16,7% da população mundial estimada em 7,2 bilhões. Adicionalmente, cerca de 60% dessa população sofre de subnutrição crônica. A África Subsaariana contribui minoritariamente para a produção global de pescados. Por exemplo, em 2004, essa região produziu 3,6% do total mundial de pescado, e apenas 0,13% desse total foi provido pela aqüicultura. Durante anos a aqüicultura tem sido apontada como a possível solução para contrabalancear o setor de pesca extrativa já super explorado, e uma nova e importante fonte de produção de proteína para a população pobre (FAO, 1995). Entretanto, a pequena contribuição da aqüicultura africana para o total mundial mostra a subutilização do tremendo potencial das águas interiores desse continente para a exploração de peixes e outros animais. A África tem condições de aumentar a sua produção aqüícola através de melhoria da tecnologia empregada. Além disso, as estatísticas indicam que a demanda por pescados é muito maior que a oferta.


Aqüicultura na África do Sul A segunda fase do projeto de intercâmbio de informações sobre cultivo de tilápias e outros ciclídeos começou com uma visita de sete dias à África do Sul, país localizado ao sul do continente africano, banhado pelos Oceanos Atlântico e Índico. Sua história é mais conhecida pelo longo regime de apartheid, em que uma minoria branca, descendentes de britânicos, holandeses e franceses impunham uma humilhante separação aos povos de raça negra. A apartheid foi revogada em 1990 e culminou com o momento histórico da libertação de Nelson Mandela, líder negro preso por 27 anos por lutar contra o regime de segregação racial e com sua eleição para presidente em 1994. A história da aqüicultura no país, no entanto, é bem menos conhecida. Os integrantes do projeto AquaFish CRSP começaram a visita à África do Sul participando da XVIII Conference of the Aquaculture Association of Southern Africa, evento que acontece a cada dois anos, organizado pela Associação de Aqüicultura do Sul da África (AASA). Essa associação, criada no final dos anos 80, tem importância fundamental para representação dos vários setores e prestadores de serviços envolvidos na indústria da aqüicultura da região. A aqüicultura na África do Sul teve início no final do século XIX, com a introdução da truta pelos colonizadores. No entanto, a atividade permaneceu estagnada até bem pouco tempo, muito devido às sanções internacionais que o país passou devido ao regime político de segregação racial. Mesmo com o redirecionamento político, a aqüicultura não ganhou destaque até 2005, quando o governo passou a se interessar pela atividade

Berçário para reversão sexual na Fazenda River View, em KwaZulu-Natal, África do Sul. (Foto: MCP)

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Unidade de produção de tilápias em tanques-rede, nos arredores de Cidade do Cabo, África do Sul - Foto: Maria Célia Portella

como forma de crescimento econômico, e hoje já são vistas iniciativas e ações sendo implantadas para assegurar que a aqüicultura ganhe posição significativa como atividade produtiva. Apesar do enorme potencial que o país apresenta em termos de condições climáticas, recursos aquáticos, espécies nativas aptas para cultivo, infra-estrutura (portos, estradas, aeroportos etc.) e fábricas de rações, a produção de peixes de água doce no país parece que ainda está para acontecer. A aqüicultura na África do Sul é baseada em espécies marinhas: o país é o maior produtor mundial de abalone (830 toneladas) e também produz outros moluscos como ostras (202 toneladas) e mexilhões (720 toneladas). Em termos de peixes de água doce, a truta é a principal espécie (850 toneladas) e a tilápia perfez apenas 250 toneladas em 2005. Nesse ponto, cabe destacar um gargalo para o aumento da produção de tilápias no país, uma vez que as espécies cultivadas são a Oreochromis mossambicus e Tilapia rendalii, nativas da região. A introdução de tilápia do Nilo e de seus híbridos é proibida, devido ao potencial impacto que o cruzamento e a hibridização poderiam causar aos estoques nativos e à biodiversidade local.

Projeto de criação de tilápia em tanques-rede para serem instalados na represa de Pongola Estufa para criação de tilápia na região da Cidade do Cabo no extremo sul da África do Sul

De acordo com Khalid Salie, professor da Universidade de Steelenbosch e integrante do AquaFish CRSP, os sul-africanos estão esperando por uma oportunidade na aqüicultura. Ações do governo serão críticas para o desenvolvimento da atividade e já começaram, com a aprovação de cerca de US$ 130.000 para investimento em projetos de aqüicultura (boa parte direcionado para produção de abalone e do peixe marinho kob, Argyrosomus spp). Acesso ao crédito e financiamentos também estão sendo esperados, assim como recursos para pesquisas. Outros gargalos verificados na África do Sul são: falta de extensionistas qualificados; estratégias para transferência de tecnologia; disponibilidade de alevinos de boa qualidade e procedência genética, além de políticas e legislação específicas para aqüicultura. Apesar disso, pesquisas de qualidade na área de aqüicultura são conduzidas nas Universidades de Stellenbosch e de Rhodes, e também no Instituto de Aqüicultura, nas áreas de nutrição, genética, crescimento, técnicas de manejo, entre outras. Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2008

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Grande expectativa

Ao longo dos últimos vinte e cinco anos o “Programa Colaborativo de Suporte à Pesquisa em Aqüicultura” (ACRSP, na sigla em inglês) Participantes do AquaFish CRSP em visita á África esteve ativamente engajado no desenvolvimento do Sul: Maria Célia Portella (Brasil), Remedios de pesquisas sobre a produção de tilápias e na Bolivar (Filipinas), Steve Amisah (Gana), Charles Ngugi (Quênia), Daniel Mayer (Honduras), Hillary disseminação desses resultados. O ACRSP é um Egna (EUA), Jim Bowman (EUA), Lourens De Wet programa criado pela Agência Americana para (África do Sul), Khalid Salie (África do Sul) e Nguyen Thanh Phuong (Vietnã) (Foto: MCP) o Desenvolvimento Internacional (USAID), para integrar a capacitação técnica na área aqüícola das universidades norte-americanas com as necessidades das nações em desenvolvimento, promovendo a segurança alimentar através dos avanços da aqüicultura. Apesar de em julho de 2007 o nome do Programa ter mudado para Aquaculture & Fisheries Collaborative Research Support Program (AquaFish CRSP), suas atividades continuam sendo administradas pela Oregon State University (OSU), tendo a frente a Dra. Hillary Egna como Diretora e o Dr James Bowman como Coordenador de Educação e Extensão, ambos da OSU. Muito do sucesso desse programa deve-se às parcerias produtivas desenvolvidas ao longo dos anos entre as instituições dos EUA e dos vários países em que o programa atuou, chamados de países anfitriões ou “host countries”. Entretanto, as tecnologias e as informações geradas permaneciam concentradas nesses países, sem que os demais tivessem acesso. Assim, a partir de 2005, o ACRSP lançou um projeto de intercâmbio de informações entre os pesquisadores líderes de cinco dos países anfitriões, onde as pesquisas sobre cultivo de tilápia resultaram em avanços significativos. Numa primeira fase, o projeto denominado ACRSP Host Country Principal Investigator Exchange Project on Tilapia and Other Cichlids envolveu a Tailândia, Filipinas, Quênia, México e Honduras. O objetivo foi avaliar os caminhos por meio dos quais as técnicas bem-sucedidas poderiam ser compartilhadas entre os países ou regiões, além de identificar os pontos em comum que resultaram em problemas ou soluções para o desenvolvimento da tilapicultura, estreitando assim os laços entre as instituições participantes através da comunicação continuada. Os participantes realizaram visitas em grupo a cada um dos cinco países, onde as informações foram trocadas através de seminários, visitas em campo e discussões informais. O retorno foi considerado altamente positivo e as informações sobre essas visitas podem ser encontradas no Relatório Anual do ACRSP e no boletim AquaNews, (http://pdacrsp.oregonstate.edu/pubs/annual_reports/ e http://pdacrsp.oregonstate. edu/aquanews/archive.html). Em 2007, em virtude do sucesso e da grande repercussão da primeira fase do projeto de intercâmbio, o AquaFish CRSP deu início à segunda fase, envolvendo dessa vez o Brasil, África do Sul, Gana e Vietnã. Cada um desses países apresenta uma combinação única de condições e fatores que permitiu o estabelecimento e desenvolvimento do cultivo de tilápias, apesar das diferenças regionais e locais no que diz respeito ao clima, espécie cultivada, insumos disponíveis, manejo de tanques, protocolos de produção e problemas para a continuidade do desenvolvimento da atividade. Nesse programa, os representantes de cada país fazem visitas de 5-6 dias, em grupo, aos países participantes, durante as quais conhecem as técnicas usadas e discutem possibilidades de implantação de novas tecnologias e sistemas de produção, buscando soluções para o desenvolvimento da atividade. A realização de workshops e encontros com os setores governamental e educacional também faz parte das visitas, que se iniciaram em outubro de 2007 na África do Sul e Gana e, em dezembro, ao Vietnã. A visita ao Brasil foi agendada para fevereiro de 2008, quando Maria Célia Portella, do Centro de Aqüicultura da UNESP – CAUNESP, representante brasileira no programa, recepcionará o grupo formado por Lourens de Wet e Khalid Salie, da África do Sul; Nguyen Thanh Phuong, do Vietnã e Stephen Amisah, de Gana. No encontro brasileiro também estarão presentes os mentores Wilfrido Contreras do México; Remedios Bolivar, das Filipinas e Yang Yi da Tailândia (atualmente trabalhando na China), além do coordenador americano, James Bowman.

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Na região da Cidade do Cabo, o clima é mediterrâneo e as temperaturas são baixas durante o inverno, fazendo com que alguns produtores de tilápia usem recirculação, aquecimento e tanques cobertos (estufas). Por outro lado, na costa nordeste do país (região de Durban e KwaZulu Natal) o clima é mais favorável – subtropical - e lá podem ser encontrados produtores que cultivam tilápia e bagre africano em sistema semi-intensivo, em viveiros pequenos (cerca de 200m 2). Há expectativa de que haja maior desenvolvimento e organização dos produtores nessa área e intensificação dos projetos de produção de tilápia em tanques-rede em represa, como o Pongola Tilapia Cage Systems. Como conseqüência do crescimento da indústria da aqüicultura na África do Sul, e em consonância com a tendência mundial, a atividade tem se mostrado cada vez mais atraente. Investimentos públicos e privados são esperados para aumentar a oferta de alimentos formulados para organismos aquáticos e o suprimento de juvenis (alevinos) de boa qualidade, assim como melhorias no transporte e escoamento da produção, nas indústrias de processamento e no mercado. O mercado local deverá ser priorizado, uma vez que há demanda tanto para peixe de mesa com para a pesca recreativa. Apesar de alguns produtores de tilápia almejarem o mercado internacional, sobretudo dos Estados Unidos e da União Européia, as dificuldades encontradas para atingir o padrão de qualidade e de tamanho de filé, aliado ao alto custo de produção em comparação aos concorrentes asiáticos, indicam que a melhor estratégia para a tilápia na África do Sul é o mercado local. Lá, segundo Hempel (2007), o peso de comercialização do peixe eviscerado é entre 300-500 g ao preço de US$ 3,50-4,20/kg no portão das fazendas de produção.


Aqüicultura na África

Aqüicultura em Gana Gana é um país muito interessante. Depois de vários conflitos militares que seguiram sua independência da Inglaterra em 1957, desde a década de 90 Gana é visto como uma das democracias mais estáveis no continente africano. Durante nossas longas viagens pelo país, o que se viu foi um país pobre, mas no caminho do desenvolvimento, com muita gente trabalhando informalmente (incontáveis vendedores ambulantes pelas ruas e estradas) e um povo bonito e sorridente. De acordo com Stephen Amisah, professor da Universidade Kwame Nkrumah de Ciência e Tecnologia (KNUST), em Kumasi, e integrante do AquaFish CRSP, a produção convencional de peixes em Gana começou em 1950, mas foi impulsionada a partir da década de 80 pelo então governo militar. A primeira unidade experimental de piscicultura foi estabelecida em 1985 na Região Noroeste do país. Os dados estatísticos em Gana são imprecisos: estimou-se que a produtividade em 1998 era ao redor de 1000 kg/ ha/ano. De 1982 a 1985, o número de tanques aumentou de 587 para 1390. Gana está localizado em região tropical, excelente para a produção de peixes como tilápia (Oreochromis niloticus) e bagre africano (Clarias gariepinus), espécies nativas. A temperatura da água nos locais visitados é praticamente estável entre 28-29 °C durante o ano e há abundância de recursos hídricos (rios, reservatórios, áreas inundáveis e outros corpos aquáticos). Os ganenses reconhecem a importância da aqüicultura para o suprimento do pescado que necessitam, visto que o consumo anual no país é alto - mais de 20 kg/per capita, provendo mais de 60% da proteína ingerida, especialmente de tilápia, considerada uma iguaria e evidenciada pela ostensiva propaganda dos pratos com tilápia nos restaurantes. Esses dois aspectos são de especial importância, pois dispensam o investimento dispendioso em marketing. Para alavancar o desenvolvimento da aqüicultura em Gana, em 2005 foi criado o Ministério da Pesca (Ministry of Fisheries), para tratar dos assuntos ligados à pesca e aqüicultura. Até então, os assuntos relacionados à aqüicultura eram tratados no Ministério de Alimentos e Agricultura, mas uma diluição de funções era observada. Como resultado dessa importante iniciativa, existe a expectativa de que nos próximos anos revertam-se os maiores problemas que o país encontra para o desenvolvimento da aqüicultura, como a criação de legislação específica, melhoria de planejamento e implantação de projetos, e acesso a créditos e financiamentos. Há muito entusiasmo quanto à necessidade de transformar a produção de peixes em negócio lucrativo, mas somente poucos produtores detêm conhecimentos técnicos de produção, necessitando um investimento maciço em treinamento e capacitação dos produtores. Para o pleno desenvolvimento da aqüicultura em Gana, outros problemas por lá identificados precisam ser resolvidos, como ações para melhorar a infraestrutura (em termos de estradas, rodovias, portos e energia elétrica), estimular a implantação de unidades de produção de alevinos, qualificar e ampliar o número de extensionistas e resolver o problema da disponibilidade de rações para peixes. Praticamente toda a ração extrusada usada no país para a produção de tilápia é importada de Israel e do Brasil! Durante a estadia em Gana o pessoal do AquaFish CRSP foi recebido pelo Assistente do Diretor do Ministério da Pesca, que reconheceu que erros cometidos no passado prejudicaram o

Hapas para alevinagem na fazenda de tilápia Tropo, em Gana (Foto: Jim Bowman)

Hapas em viveiros para produção de alevinos na Estação Piloto de Aqüicultura, em Gana (Fotos: Jim Bowman)

Tanques-redes para produção de tilápia no lago Volta, em Gana (Foto: Jim Bowman)

Propagandas de tilápia em restaurantes em Acra, Gana. (Foto: MCP)

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desenvolvimento da aqüicultura no país, mas que o ministério está se esforçando para reverter essa situação. Com uma população de 20 milhões de habitantes, a necessidade de pescado em Gana é alta, forçando o país a importar cerca de US$ 200 milhões em pescado. Isso significa que havendo aumento de produção através da aqüicultura, eles deverão consumir o pescado domesticamente, mesmo porque os preços praticados no mercado interno (US$ 4-6/ kg) são mais vantajosos que no mercado internacional. A produção de peixes em Gana é altamente lucrativa, os lucros líquidos obtidos somam mais de 100%, mas essa margem tende a diminuir como resultado do aumento da produção nos anos vindouros. Sistemas de produção A maior parte dos produtores de tilápia em Gana usa sistema familiar de produção, com um ou dois tanques pequenos (~200m2), com pouca tecnologia de criação, baseado em estocagem inicial e colheitas parciais sem re-estocagem planejada, e usando subprodutos como alimento suplementar à fertilização. Entretanto, projetos maiores e mais bem estruturados foram implantados e estão em funcionamento, usando tanques mais amplos (100 x 100 m) com hapas para manutenção de reprodutores ou de alevinos, aeradores, coleta de ovos da boca das fêmeas e incubação dos mesmos em unidades indoor e produção de juvenis monosexo. O uso de tanques-rede para a criação de tilápia também está se difundindo. A produção de juvenis de qualidade e com regularidade é outro problema no país. A Estação Piloto de Treinamento em Aqüicultura, pertencente ao governo, tem capacidade de produção de 1 milhão de alevinos ao mês, mas as instalações estão se deteriorando, necessitando de reformas tanto nos prédios como nos tanques, construídos há mais de 15 anos, um investimento estimado em US$ 63 mil. De acordo com Joseph K. Ofori, biólogo do Instituto de Pesquisas em Águas do Conselho de Pesquisas Científicas Industrial (Council of the Scientific and Industrial Research – Water Research Institute), o governo ganense dá suporte ao desenvolvimento da aqüicultura, mas recursos financeiros são quase inexistentes e financiamento estão praticamente descontinuados. Assim, a estação pública de produção de alevinos está priorizando a comercialização dos mesmos para sua manutenção. Mensalmente cerca de 30 produtores compram alevinos de lá. Desde o final da década de 80 a FAO e o ICLARM deram assistência técnica nessa estação, de onde também saíram exemplares de tilápia que entraram no desenvolvimento da tilápia GIFT. Gana possui o maior lago artificial do mundo, o lago Volta, construído na década de 50 para a geração de energia e que inundou uma área de cerca de 8550 km2. A tilápia é produzida nesse lago e diversas comunidades se estabeleceram ao redor, vivendo da pesca extrativa. O reservatório também oferece possibilidade para o cultivo em tanques-rede e alguns produtores iniciaram a produção, mas foram impedidos de fazer novas introduções devido ao precário monitoramento e controle das fazendas. Existe uma preocupação com as possíveis conseqüências para a sustentabilidade do ambiente, mas considerando o enorme potencial que o sistema de produção em tanques-rede dispostos em reservatórios oferece, foi possível apresentar aos representantes do governo de

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Gana a experiência e iniciativa brasileira do uso de águas públicas da união para a produção de peixes em tanques-rede. Na Universidade Kwame Nkrumah de Ciência e Tecnologia (KNUST), em Kumasi, o Departmento de Pesca e Manejo de Ambientes Aquáticos, oferece o curso de graduação em pesca, que inclui aqüicultura. Cerca de 20 alunos são formados por ano e espera-se que a integração deles no mercado de trabalho, aliado às iniciativas do agora ministério da pesca, tragam novas perspectivas para o desenvolvimento da aqüicultura no país. A Aqüicultura no Quênia O Quênia é um país com uma das economias mais fortes da África e até pouco tempo apresentava uma situação política relativamente estável. Infelizmente, no final do ano passado, após eleições presidenciais controversas e com suspeitas de fraudes, estourou uma rebelião interna com grande violência entre as principais etnias, os Luos o Kikuyos, do partido do presidente que está no poder há vários anos. Como em outros países da África, a demanda por pescados no Quênia é alta e o suprimento, insuficiente. Estima-se que a população necessite de 300 mil toneladas anuais de pescado, enquanto a produção chega a 135 mil toneladas, significando que metade da proteína necessária à população não é satisfeita. A produção no país alcançou seu pico em 2004 com 214 mil toneladas e declinou a 130 mil toneladas em 2005. A aqüicultura girou tem torno das 1000 toneladas anuais, ou seja, menos de 1% do total do pescado produzido. O maior recurso pesqueiro no Quênia é a perca do Nilo Lates niloticus, pescada no lago Vitoria e exportada para a Europa, constituindo um importante recurso econômico. No entanto, há sinais de declínio nessa atividade extrativa, tanto pelo precário controle de qualidade como pela própria diminuição do recurso natural, levando a sérias dúvidas quanto a sua sustentabilidade. Dessa forma, a busca de alternativa para a comunidade ribeirinha (conhecida localmente como “Mgongo wazi”) que depende da pesca, encontra na aqüicultura um caminho promissor. Ademais, outra alternativa para aumentar o suprimento de pescado, a pesca oceânica, apresenta dificuldade maior pela falta de embarcações adequadas para explorar a ZEE, mantendo-se em nível artesanal. A produção aqüícola em pequenos viveiros escavados começou no país em meados do século 20 e não progrediu muito, ao contrário, em alguns casos até declinou em razão do abandono dos viveiros por produtores desestimulados. Não obstante, condições favoráveis para aqüicultura não faltam, especialmente nas regiões oeste, central e costeira do Quênia e também ao sul e ao centro do vale Rift, onde o clima é tropical e encontram-se solos com boa retenção de água, rios, riachos, lagos, fontes, represas e, também, precipitação adequada. Atualmente, as espécies mais produzidas são a tilápia do Nilo, o bagre africano e a carpa comum. Existem mais de 7.500 piscicultores com 10.371 viveiros numa área de 167.8 hectares (Gitonga et al., 2004). Muitos produtores consideravam a atividade como sendo de risco devido a colheitas variáveis e baixo retorno econômico, resultado da falta de conhecimento e pouco acesso à tecnologia de produção adequada. Sobretudo na tilapicultura, os insucessos eram resultantes da


1. Treinamento, durante o expediente, do pessoal de extensão para assegurar que informações apropriadas chegassem aos produtores; 2. Desenvolvimento de dietas economicamente viáveis para a criação semi-intensiva de tilápia do Nilo, usando subprodutos regionais; 3. Avaliação do crescimento e do desempenho reprodutivo de três linhagens de tilápia do Nilo encontradas no país para o uso em aqüicultura; 4. Treinamento nas próprias fazendas como meio lógico para capacitação dos aqüicultores, permitindo que tenham acesso aos dados reais de custos e benefícios nas condições locais; 5. Técnicas de produção de alevinos de bagre africano Clarias gariepinus tanto para a finalidade de aqüicultura como para isca viva na pesca da perca do Nilo no lago Vitória; 6. Preparação de orçamentos regionais para empresas, plano de desenvolvimento e análise econômica de risco da produção de tilápia no Quênia. Nesse contexto, programas de capacitação e extensão em aqüicultura foram oferecidos para funcionários públicos, estudantes universitários, pesquisadores, extensionistas e fazendeiros. As atividades de treinamento eram complementadas por experimentação

nas próprias fazendas, permitindo proximidade para avaliação da tecnologia pelos produtores. O ACRSP participou desse processo e, entre 2000 e 2005, junto com o Departamento de Pesca do Quênia, uma série de 16 cursos (de 2-3 semanas) foram oferecidos a mais de 200 participantes, focando construção de tanques, manejo de viveiro, produção de alevinos e análise econômica, sob a liderança de Charles Ngugi, um dos autores desse artigo. Por solicitação dos próprios fazendeiros, dias de campo também foram organizados e são oferecidos periodicamente (cinco por ano, com até 100 participantes por vez), permitindo uma difusão continuada de tecnologia. O esforço colaborativo envolvendo universidades, o Departamento de Pesca do Quênia, funcionários públicos e comunidades provou-se bem sucedido. Um reflexo desse sucesso foi na constatação que muitos fazendeiros passaram fazer da aqüicultura, antes uma atividade meramente de subsistência, um negócio lucrativo. Com a adoção de novas e melhores técnicas de produção, os viveiros já existentes tornaram muito mais produtivos. A abordagem participativa também se mostrou valiosa, pois incluiu: transferência de tecnologia efetiva, aporte financeiro colaborativo, envolvimento e apoio dos próprios produtores, implantação de boas práticas de manejo, melhoria do bem-estar social dos participantes e crescimento econômico viável. Assim, a experiência queniana enfatiza que aumentos tanto da produção de peixes como do número de produtores interessados em aqüicultura podem ser obtidos através do treinamento adequado e envolvimento do setor produtivo, contribuindo para o desenvolvimento rural e mitigação da pobreza. O foco atual agora é a comercialização dos produtos. Vamos acompanhar e aguardar os resultados da nova investida da aqüicultura queniana, enquanto torcemos para que o país encontre logo o caminho da democracia e da paz! As referências bibliográficas deste artigo poderão ser solicitadas ao autor através de e-mail ou podem ser acessadas na edição on-line desta revista no site www.panoramadaaquicultura.com.br

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produção de peixes pequenos, devido à superpopulação, dependência de subsídios, inexistência de serviços de extensão, inconstância no suprimento de alevinos e falta de qualidade dos mesmos, desconhecimento das enfermidades parasitárias, entre outros. Essa situação começou a mudar no final dos anos 60, com a recomendação para modificações nos sistemas de produção para atingir tamanho de mercado. O governo do Quênia reconheceu que a participação de toda a comunidade era imperativa para promover a aqüicultura no país. Assim, sob a liderança de pesquisadores e colaboração de produtores e extensionistas foram estabelecidas as seguintes prioridades:


Lançamentos Editoriais Contribuição ao conhecimento do Surubim O escritor iguaçuense Ezídio Oro Junior, biólogo, professor e especialista em tratamento de água e efluentes, aborda as características do pintado P. corruscans e do cachara P. fasciatum com uma linguagem bastante acessível para leigos. Com o apoio cultural da Itaipu Binacional, o livro pretende contribuir para o conhecimento sobre essa espécie nativa que não se adaptou ao reservatório, mas que tem grande valor de mercado e que se adapta perfeitamente ao cultivo em tanquesredes, ação que a Itaipu vem desenvolvendo com os pequenos produtores. Em um dos capítulos, Ezídio trata sobre o programa da Usina Hidrelétrica de Itaipu Binacional, “Cultivando Água Boa”, que atende municípios que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio Paraná, cuidando não só da qualidade da água, mas também da erosão ao longo do lago. Entre outros temas pertinentes, a publicação de 354 páginas, divididas em oito capítulos, trata superficialmente da biologia e da anatomia do surubim; dieta natural; doenças e nutrição; projetos de cultivos intensivos em tanques-rede e em tanques de fibra de vidro. Todo o livro é feito com mão-de-obra iguaçuense, desde a imagem da capa - uma foto do Porto União das Cataratas, hoje, Garganta do Diabo - até a impressão em papel reciclável. A Fundação Cultural de Foz do Iguaçu e a Prefeitura Municipal de Curitiba também são apoiadoras da publicação. Custa: R$ 32,00. Os interessados podem solicitar o livro através do e-mail: ezidiojr@hotmail.com

Manual de Procedimento para Implantação de Estabelecimento Industrial de Pescado Este manual foi concebido com o objetivo de atender as necessidades dos setores produtivos, especialmente os voltados ao processamento industrial do pescado, que careciam de uma orientação pertinente às condições da infra-estrutura das unidades industriais, em termos de dependências, instalações e equipamentos, que garantissem a qualidade do produto a ser levado à mesa do consumidor. Assim sendo, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA e a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca - SEAP, com base no termo de Cooperação Técnica, firmado em agosto de 2005, reuniram uma equipe de profissionais especializados, a fim de dar um passo significativo que servirá de orientação para a implantação de estabelecimentos industriais de pescado voltados ao beneficiamento de produtos frescos e congelados. A publicação pretende auxiliar os interessados quanto a implantação de estabelecimentos dentro das exigências mínimas para atender plenamente a legislação vigente. Seu conteúdo vai orientar quanto a redução de perdas de matéria-prima e produtos, pela racionalidade do uso da infra-estrutura e dos equipamentos a serem utilizados. Servirá também para apontar os caminhos para a obtenção de maior lucratividade para o usuário, evitando-se a ociosidade, especialmente na operacionalidade do setor de frio industrial; esclarecerá quanto a uniformidade nos critérios exigidos pelos órgãos oficiais de inspeção, ou pelo setor privado, na conquista de uma maior competitividade nos mercados nacional e internacional. Ao disponibilizar este manual, o MAPA e a SEAP cumprem o papel de agente orientador de uma atividade que, sem dúvida, tende a crescer cada vez mais, principalmente, quando se trata dos produtos de aqüicultura, em benefício do consumidor. A intenção final é possibilitar uma oferta de alimentos que tenham uma produtividade maior e que estejam com a sua qualidade assegurada, tendo em vista tratar-se de um pré-requisito básico para a implementação do Sistema de Análises de Perigos e Pontos Críticos de Controle - APPCC.

Sistemas de cultivos aqüícolas na zona costeira do Brasil: recursos, tecnologias, aspectos ambientais e sócio-econômicos Pesquisadores de seis estados do Brasil participaram da publicação “Sistemas de cultivos aqüícolas na zona costeira do Brasil: recursos, tecnologias, aspectos ambientais e sócio-econômicos”, resultado final do programa Institutos do Milênio, que contou com o patrocínio do MCT/PADCT/CNPq. O Instituto do Milênio contemplou a formação de uma rede de pesquisadores dedicados ao estudo do Uso e Apropriação de Recursos Costeiros (RECOS). A maricultura constitui um exemplo claro de uso e apropriação de um recurso costeiro, portanto, um bem e serviço natural de domínio público. Visando o estudo da apropriação deste bem natural foi constituído, no âmbito do projeto RECOS, o Grupo Temático “Maricultura Sustentável”, o qual abordou diferentes aspectos que condicionam a sustentabilidade das práticas de cultivo marinho. Em suas 316 páginas, são apresentados os principais resultados deste Grupo Temático. A obra, organizada pelos Profs. Gilberto F. Barroso (UFES), Luis H. Poersch (UERGS e FURG) e Ronaldo O. Cavalli (UFRPE), foi publicada no final de 2007 pelo Museu Nacional da UFRJ. A publicação pode ser baixada gratuitamente (o arquivo tem tamanho de 12,2 Mb) pela Internet no endereço: http://www.mileniodomar.org.br/documentos/ maricultura_final.pdf

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As Estatísticas da Aqüicultura SEAP promove evento e IBAMA divulga as estatísticas de 2006 Por: Jomar Carvalho Filho e-mail: jomar@panoramadaaquicultura.com.br

N

ão é de hoje que os vários segmentos do setor aqüícola se queixam da falta de estatísticas confiáveis, capazes não apenas de ajudar a nortear os investimentos do setor produtivo, mas também o governo brasileiro na elaboração das políticas públicas voltadas para a aqüicultura. Para buscar uma solução para essa preocupante falta de informações, a SEAP promoveu em Brasília, de 20 a 22 de fevereiro, o I Seminário Nacional de Informações da Aqüicultura, e convidou cerca de 40 representantes dos diversos segmentos da cadeia produtiva da aqüicultura nacional para discutir o tema. Na abertura do evento, o Ministro da SEAP, Altemir Gregolin, falou do esforço que a sua pasta está empenhando para “melhorar e consolidar um sistema nacional de informações que seja capaz de avaliar de forma eficaz a produção, o consumo, e o perfil sócio-econômico da aqüicultura nacional”. Segundo Gregolin, os aqüicultores que hoje estão inscritos no Registro Geral da Pesca (RGP), devem representar apenas 5% do total dos aqüicultores que estão em atividade no País. O RGP é o instrumento legal obrigatório para todos os aqüicultores brasileiros, tendo sido instituído por lei em 1967 e atualmente regulamentado por uma Instrução Normativa da própria SEAP (no. 3 de 2004). O aqüicultor para se cadastrar e obter o seu número no RGP tem que apresentar, além dos documentos pessoais de praxe e uma taxa anual, a Licença Ambiental do seu empreendimento. Isso, por si só, já exclui a maioria esmagadora dos produtores brasileiros que tentam, ou já tentaram, obter o licenciamento ambiental e esbarraram numa perversa burocracia, fruto da falta de vontade política do governo para resolver essa importantíssima questão. Diante dessa dificuldade, e aproveitando o fato de que essa é uma exigência criada pela própria SEAP na Instrução Normativa que regulamenta o RGP, seus técnicos acenaram com a possibilidade da publicação de uma nova IN retirando essa exigência. Em tese, o que se espera é que com a retirada da exigência da Licença Ambiental, os produtores sejam atraídos para a obtenção do registro. Do IBAMA ao IBGE A SEAP tem, desde a sua criação em 2003, a responsabilidade sobre a elaboração das estatísticas do setor aqüícola. Entretanto, as estatísticas atualmente disponíveis são as que vêm, desde 1995, sendo preparadas pelo IBAMA, que apenas sistematiza e divulga as informações que consegue coletar junto a uma rede de instituições espalhadas por todo o País, referentes

à maricultura e aqüicultura continental, além da pesca extrativista. Segundo Geovânio Milton de Oliveira, da CoordenaçãoGeral de Gestão de Recursos Pesqueiros do IBAMA e um dos coordenadores desse trabalho, as instituições parceiras nos estados são escolhidas com muito critério, tendo que possuir técnicos confiáveis para o envio das informações. O que ocorre, no entanto, é que, apesar dessa preocupação, salvo raríssimas exceções, nenhuma das instituições faz, ou já fez, algo que se assemelhe a um censo, ou até mesmo uma pesquisa de campo para apurar as informações que fornece ao IBAMA, que ao fim acaba trabalhando com informações baseadas em estimativas. Para Geovânio de Oliveira, a adoção de uma gestão integrada, com o fim da fragmentação das atribuições de gerenciamento entre a SEAP e IBAMA, seria uma boa saída para dar início à elaboração de estatísticas mais confiáveis. Além disso, Geovânio recomenda também que seja implementado o Sistema Nacional de Informações Pesqueiras, criado desde 1995, para que seja possível a realização de censos periódicos da atividade aqüícola. O IBGE foi representado no evento por Fernanda Cíntia Pires e Teixeira, da equipe que trabalha no Censo Agropecuário 2006, na qual a aqüicultura foi pela primeira vez contemplada. Fernanda Cíntia mostrou como foram coletadas as informações nos 5.200.000 de estabelecimentos agropecuários localizados em 5.560 municípios. Segundo ela, em outubro deste ano o IBGE vai divulgar os valores analíticos referentes à aqüicultura, ocasião em que o setor aqüícola brasileiro terá, pela primeira vez, um retrato muito real da atividade. A SEAP e o RGP O I Seminário Nacional de Informações da Aqüicultura acabou não abordando de forma direta e objetiva a estatística que o setor aqüícola deseja ver. Isso porque, segundo seus organizadores, a “informação, como descrito no nome do evento”, era o foco do seminário, e não exatamente a “estatística”, como esperavam muitos dos participantes. Portanto, as discussões acerca de caminhos inovadores para coleta anual de informações precisas e de forma sistematizada foram, de certa forma, frustradas a partir do momento que a agenda de discussão sugerida pelos técnicos da SEAP passou a girar em torno de um único ponto: o velho e conhecido RGP que, ressuscitado e novamente regulamentado, deverá ser o protagonista da nova estratégia da SEAP para coletar informações e gerar estatísticas.

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As estatísticas de 2006 do IBAMA

Crescimento relativo das atividades pesqueira e aqüícola em 2006

Estatística

Ainda durante o I Seminário Nacional de Informações da Aqüicultura, Geovânio Milton de Oliveira, da CoordenaçãoGeral de Gestão de Recursos Pesqueiros do IBAMA, anunciou para março a divulgação das estatísticas da produção aqüícola e da pesca no ano 2006 (as últimas estatísticas divulgadas foram as de 2005). A Panorama da AQÜICULTURA teve acesso a uma parte desses dados, que podem ser vistos nas tabelas desta página. Em 2006 a produção total de pescado no Brasil (pesca extrativa + aqüicultura) totalizou 1.049.539 toneladas, mostrando um desempenho 4,01% superior ao volume produzido em 2005. Apesar do ganho relativamente pequeno, os dados divulgados pelo IBAMA apontam para a melhor produção de pescado que o País experimentou na sua história, ainda que muito distante do desejado. O total proveniente da pesca extrativista (marinha e continental) foi de 777.844,5 toneladas, um crescimento de 3,53% em relação a 2005. Segundo a estatística, a produção aqüícola de 2006 (marinha + continental), produziu 271.694,5 toneladas, um aumento de 5,4% em relação a 2005. Ainda segundo o IBAMA, a aqüicultura em 2006 foi responsável por 25,9% do total do pescado produzido no Brasil, não refletindo,

Produção (t) participação relativa(%) da pesca extrativa e da aqüicultura em águas marinhas e continentais (1997 - 2006)

Fonte: IBAMA/DBFLO/CGFAP

Produção total e a participação da pesca marinha, pesca continental e aqüicultura de 1997 a 2006

portanto, o que ocorre no restante do mundo, onde, segundo a FAO, a aqüicultura já é responsável por cerca de 50% do total. Com relação à maricultura brasileira, depois de um desempenho negativo (-12,3%) mostrado nas estatísticas de 2005, puxado pela queda na produção de camarões diante de um quadro de enfermidades, a atividade mostrou em 2006 um desempenho positivo (3,17%), revelando uma retomada da produção, ainda que tenha ficado distante do seu melhor desempenho, em 2003. Já a aqüicultura continental, quase toda representada pelo cultivo de peixes de água doce, que havia apresentado, segundo o IBAMA, uma queda em 2005 (-0,5%), mostrou bastante vitalidade em 2006 com um crescimento de 6,36% em relação a 2005.

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Aqualider vence licitação e dá a partida para a sua engorda de bijupirá A empresa pernambucana Aqualider, que atua na reprodução de camarões marinhos há mais de 10 anos, e que mais recentemente expandiu seu foco para o cultivo do bijupirá, venceu em 18 de fevereiro a licitação pública e obteve o primeiro Termo Cessão de Área, podendo, finalmente, instalar o seu cultivo numa área distante nove milhas náuticas (ou 16,5 quilômetros), em frente a Praia de Boa Viagem, na capital pernambucana. Na área, com profundidade de 30 metros, deverão ser instalados ao longo dos próximos três anos, 48 gaiolas ou tanques-rede, que possuem 25 metros de diâmetro e 11 metros de profundidade. São estruturas flutuantes confeccionadas com tubos de polietileno de alta densidade (PEAD), de tecnologia norueguesa e similares às utilizadas nos cultivos de salmão no Chile, e de outras espécies, na Europa. A expectativa é de que a primeira gaiola seja instalada em abril, quando também serão estocados para a engorda os juvenis que a Aqualider já está produzindo no seu laboratório localizado em Porto de Galinhas, município de Ipojuca. A estimativa de produção é de cerca de 90 toneladas por gaiola, o que representará pouco mais de 4.000 toneladas ao ano, quando o projeto estiver totalmente implementado, daqui a 3 anos. O bijupirá é uma espécie tropical e subtropical costeira que se distribui por todos os oceanos, exceto no Oceano Pacífico Leste. No Brasil ele ocorre desde a Região Norte até o Estado de São Paulo, embora seja mais comum no Norte e Nordeste. O País pesca cerca de 1.160 toneladas de bijupirá por ano, sendo os principais Estados produtores o Pará e o Ceará, com 724 e 346 toneladas, respectivamente. No mercado nacional o preço do quilo do bijupirá varia de R$ 15 a R$ 25 nos supermercados. Segundo a Aqualider, tanto o mercado nacional como o internacional estão nos planos de comercialização do produto final.

Carcinicultores participam de curso sobre o uso de probióticos O Centro Tecnológico da Aqüicultura (CTA-RN) promoveu entre os dias 15 e 18 de fevereiro o Curso de Caracterização de Probióticos, em parceria com o capítulo brasileiro da Sociedade Latinoamericana para a Aqüicultura (SLA). Participaram Dra. Sonnya Lombana ministrando cerca de 60 técnicos e empresários que curso de probióticos no CTA-RN atuam na engorda e na larvicultura de camarões, representantes de empresas fornecedoras de probióticos e das fábricas de rações, além de técnicos de órgãos públicos, divididos em duas turmas, com carga horária de 16 horas cada. O curso foi ministrado pela bióloga equatoriana Sonnya Patricia Mendoza Lombana, especialista em fisiologia de invertebrados,

atualmente atuando como diretora geral do CSA - Centro de Servicios para la Acuicultura, localizado em Guayaquil, no Equador. Composto por aulas teóricas e práticas, o Curso de Caracterização de Probióticos vem sendo ministrado em diversos países depois da grande repercussão que teve no Equador, razão pela qual a SLA, coordenada no Brasil por Alfredo Freire, propôs ao CTA a parceria para a sua realização em Natal - RN. Na parte teórica do curso foram vistas as definições e as generalidades dos probióticos e os seus mecanismos de ação. A ecologia microbiana foi também apresentada através dos estudos das interações entre as populações e os habitats microbianos, com destaque para os ambientes aquáticos, onde a seleção de cepas probióticas para o uso na aqüicultura mereceu atenção. Na parte prática foram analisados os principais probióticos do mercado, seu uso, manejo e aplicação. Segundo Ezequias Viana de Moura, Diretor Executivo do CTA, o evento constituiu na primeira atividade desenvolvida pelo CTA voltada para seu público externo e a avaliação do curso pelos participantes foi muito positiva, mostrando que iniciativas deste tipo são muito importantes, principalmente diante dos atuais problemas enfrentados pela carcinicultura nacional. Os planos apontam para a continuidade das ações não só na área de treinamento e de apropriação de tecnologias junto aos produtores, mas principalmente na área de pesquisa. Para discutir o rumo das ações foi criado o Conselho Consultivo do CTA, formado por representantes do setor produtivo e de órgãos públicos.

Inaugurado o Laboratório Nacional de Aqüicultura Marinha (LANAM) Foto: Tadeu Nascimento

Com a presença do ministro Altemir Gregolin e do ex-ministro José Fritsh, foi inauMinistro Gregolin e o ex-ministro José Fritsch na inauguração do LANAM, em Ilha Comprida, SP gurado no último dia 15 de fevereiro, fruto de um convênio firmado entra a Prefeitura Municipal de Ilha Comprida e a SEAP, o Laboratório Nacional de Aqüicultura Marinha (LANAM), situado no boqueirão sul da Ilha Comprida. O laboratório, uma iniciativa da Prefeitura de Ilha Comprida, contou com verba da SEAP para a construção e investimento nos equipamentos e materiais. A gestão está a cargo da Fundação Primeira de São Vicente, através de convênio de cooperação técnica. No que diz respeito à tecnologia aplicada dentro das instalações do LANAM, o Grupo TWB firmou, em 2005, um Memorando de Entendimentos com a Universidade de Miami, se tornando então a única empresa brasileira a ter um convênio firmado com esta universidade e, a deter a tecnologia de reprodução e engorda do bijupirá que, agora, cede à Fundação São Vicente e a Prefeitura de Ilha Comprida. As instalações têm 1.800 metros quadrados de área construída e contam com 30 profissionais capacitados. Com o objetivo principal de produzir acima de um milhão de alevinos de bijupirá por ano, o LANAM conta em sua estrutura física com quatro tanques para maturação dos reprodutores com capacidade de 60 toneladas Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2008

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de água, além de 12 tanques de 25 toneladas e 12 tanques de 12 toneladas cada, para a larvicultura. O LANAM possui também laboratórios para produção de rotíferos, artêmias e microalgas. Além dos alevinos de bijupirá, o LANAM também se dedicará à produção de sementes de moluscos bivalves, e, para tal, o laboratório conta com um setor destinado única e exclusivamente para este fim com capacidade de produzir até 3 milhões de semente/ano.

Gregolin é alvo de investigações sobre uso indevido do cartão corporativo do governo No dia 14 de fevereiro a Controladoria-Geral da União (CGU) encaminhou à Casa Civil da Presidência da República a conclusão da auditoria feita nas despesas realizadas no ano passado pelo ministro da SEAP, Altemir Gregolin, utilizando seu cartão de crédito corporativo. Na mesma data a CGU divulgou uma nota, aliás pouco repercutida na grande imprensa, informando que a auditoria mostrou que o ministro Gregolin não fez gastos irregulares com o seu cartão de crédito corporativo do governo, tendo sido apontadas, entretanto, o que o CGU chamou de “impropriedades” em duas despesas com alimentação. A nota diz ainda, em resposta a denúncia acerca de pagamento em duplicidade de diárias de hospedagem em um único dia, que foi apurado que o ministro havia deixado o Hotel Blue Tree, em Florianópolis, às 11h20 do dia 29 de agosto, registrando-se à noite, às 23h15, no Hotel Ibis, em São Paulo. Segundo a CGU, a aparente duplicidade de pagamento se deu porque o Hotel Ibis, tem a prática de cobrar por suas hospedagens, já na entrada do cliente. No dia 20 de fevereiro, entretanto, seis dias após inocentar o ministro Gregolin das irregularidades com o uso do seu cartão corporativo, a CGU, através do ministro Jorge Hage, afirmou que “irá rever a apuração das contas de cartão de crédito do ministro Altemir Gregolin, por conta de possíveis incongruências entre a agenda e as novas informações do Portal da Transparência sobre as datas das compras.” A nova checagem, disse Jorge Hage, buscará confirmar se Gregolin estava trabalhando em pelo menos oito finais de semana nos quais fez uso do cartão. O que o setor da aqüicultura espera, é que tudo se esclareça o mais breve possível, e que o ministro Gregolin tenha todas as provas necessárias para livrá-lo das acusações. Há no ar uma grande preocupação com a frágil estrutura da SEAP, um órgão sem quadros próprios de funcionários, portanto sujeito aos humores dos políticos e aos interesses de outros órgãos públicos, sempre de plantão. Neste final de fevereiro o clima em Brasília é de boatos, e as manobras por parte de grupos sabidamente interessados numa possível mudança na cúpula da SEAP já são discutidas à boca pequena. Procedem, portanto, as preocupações de todo o setor aqüícola com o futuro da SEAP. Mudanças nesse momento, sejam elas quais forem, podem representar uma ameaça ao sucesso de importantes investidas que a equipe do ministro Gregolin vem fazendo nos últimos meses frente a temas de grande interesse do setor, como a cessão das águas da União para uso aqüícola, por exemplo.

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Rio de Janeiro sediará Simpósio Internacional sobre a aplicação dos Sistemas de Informação Geográfica – SIG’s Por: Philip Conrad Scott,PhD Universidade Santa Úrsula - Laboratório de Aqüicultura e Sistemas de Informação Geográfica e-mail: philip@laquasig.bio.br

A

O 4th International Symposium on GIS/ Spatial Analyses in Fishery and Aquatic Sciences será realizado de 25-29 de agosto, na cidade do Rio de Janeiro. O simpósio é organizado pelos Drs. Tom Nishida e Kiyoshi Itoh do grupo de pesquisas FisheryAquatic GIS Research Group (http://www.esl.co.jp/), estabelecido em 1997. O grupo é uma organização sem fins lucrativos, localizada no Laboratório de Simulação Ambiental (ESL) Inc. em Kawagoe, Saitama, Japão, e promove o evento trienalmente desde 1999. Esta primeira edição sul-americana conta com o apoio da SEAP, AQUABIO e da Universidade Santa Úrsula.

crescente importância que a aqüicultura e a pesca têm em fornecer alimentos para os seres humanos, aliada aos fatos de que os recursos pesqueiros se esgotam a cada dia, e de que a terra fica mais cara e povoada, fazem com que a aplicação dos Sistemas de Informação Geográfica - SIG’s se torne cada dia mais importante, auxiliando na análise e gestão do espaço ambiental e produtivo. Nesta equação é importante ressaltar, que segundo a FAO, em torno de 50% da produção aquática de alimentos hoje, vêm da aqüicultura. Os SIG’s foram primeiramente utilizados por consultores em aqüicultura, para analisar o potencial produtivo de grandes regiões, mesmo de países inteiros, como o fez Kapetsky para o potencial de piscicultura interior em Gana, África. Localizar áreas com bom potencial era (e ainda é...) estratégico para determinar políticas de desenvolvimento regional, inclusive que facilitem o combate à fome e pobreza. Nas disputadas regiões costeiras de todo mundo, o potencial da maricultura, foi objeto de diversos estudos realizados em SIG. "Pepe" (José Aguilar-Manjarrez), atualiza constantemente a base bibliográfica pertinente que pode ser consultada no site da GISFISH (http://www.fao.org/fi/gisfish/index.jsp) da FAO. A oportunidade de participar desta edição do simpósio é muito especial. É a primeira vez que se realiza na América do Sul. Terá a participação de diversos especialistas renomados, inclusive contribuintes dos technical reviews publicados pela FAO que estarão discutindo uma abordagem "ecológica" para a aqüicultura (Ecological Approach to Aquaculture) e o impacto das mudanças climáticas na aqüicultura. Felizmente, o Brasil também avança na utilização de novas tecnologias para a gestão aqüícola e pesqueira. Isso pode ser constatado nas ações da SEAP, que implementou em anos recentes os Planos Locais de Desenvolvimento da Maricultura ou PLDM’s e o PREPS - Programa Nacional de Rastreamento de Embarcações Pesqueiras por Satélite, dois projetos fundamentais para apoiar a gestão dos recursos pesqueiros e aqüícolas. Coincidentemente, este simpósio tradicionalmente mostra as experiências de diversos países nesta área, assim como foi apresentado por Portugal, Austrália e Canadá no último realizado em Xangai há três anos. Assim, como coordenador local, tenho o prazer de convidar a todos no Brasil e na América Latina a participarem ativamente do 4th International Symposium on GIS/ Spatial Analyses in Fisheries and Aquatic Sciences, onde certamente encontrarão um grande número de pesquisas, meios e profissionais de destaque para o desenvolvimento de nosso potencial. O site www.laquasig.bio.br está disponível com as principais informações pertinentes. Os sócios da AQUABIO têm direito a um desconto na taxa de inscrição. Fico à disposição para eventuais esclarecimentos e aguardo recebê-los em agosto na Cidade Maravilhosa!

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XIII ISFNF - SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO Nutrição de Peixes e Camarões: Conhecimento Atual e Perspectivas Futuras

O

Por: Débora Machado Fracalossi, Ph.D. e-mail: deboraf@cca.ufsc.br

Coordenadora do Comitê Organizador do XIII ISFNF

objetivo do ISFNF é propiciar um fórum global para a apresentação, discussão e divulgação de descobertas científicas na área de nutrição de peixes e camarões. Trata-se de um evento de elevado nível técnico-científico onde participam pesquisadores e profissionais que atuam na área de nutrição de organismos aquáticos, oriundos de universidades, institutos de pesquisa e da indústria de alimentação animal. Há uma grande participação da indústria neste evento, já que esta é uma excelente oportunidade para troca de idéias entre os segmentos. Em todos os dias o evento terá somente uma sessão plenária para apresentação de trabalhos, seguida por uma sessão de apresentação de painéis ao final da tarde. A inexistência de sobreposição entre as seções e os almoços em conjunto, garantem uma excelente integração e troca de experiências entre os participantes. Seção especial: Proteínas

O Brasil terá o privilégio de sediar o “XIII International Symposium on Fish Nutrition & Feeding - ISFNF, o mais importante evento mundial na área de nutrição de organismos aquáticos, e que acontece a cada dois anos, desde 1984. A décima terceira edição do evento, se realizará entre os dias 1 e 5 de Junho, no Majestic Palace Hotel em Florianópolis. Portanto, é com muita satisfação e orgulho que convidamos a comunidade aqüícola, assíduos leitores da Panorama da AQÜICULTURA, a participar e divulgar o XIII ISFNF. A última edição do evento ocorreu em 2006 em Biarritz, França, contando com a participação de aproximadamente 450 pessoas de 40 países.

Estudos relacionados à nutrição representam um ponto chave no desenvolvimento da aqüicultura mundial, considerando a crescente dificuldade na obtenção de ingredientes protéicos para fabricação de rações. Peixes e camarões utilizam mais eficientemente a energia da dieta na produção de proteína animal, quando comparados a bovinos, aves e suínos. Entretanto, esta vantagem exige uma concentração protéica mais elevada na dieta dos organismos aquáticos, quando comparada com aquela utilizada para animais terrestres. Desta forma, em sistemas aqüícolas de produção intensiva, os custos com alimento podem superar 85% dos custos totais de produção. Visando aprofundar as discussões sobre este importante tema, o XIII ISFNF contará com uma seção especial sobre proteínas, onde especialistas de renome mundial ministrarão palestras sobre tópicos emergentes, bem como sobre as lacunas existentes no conhecimento, que dificultam a redução no custo das rações, tais como: utilização de subprodutos da produção de biocombustíveis e fatores antinutricionais em ingredientes protéicos. Workshops No primeiro dia do evento está prevista a realização de workshops que abordarão temas muito importantes na atualidade: nutrição e saúde de peixes e crustáceos e organização dos dados sobre exigências nutricionais. Na atual crise da carcinicultura brasileira, causada, entre ouros fatores, pela ocorrência de enfermidades, como uma nutrição adequada pode tornar os camarões imunocompetentes? Ainda, considerando o atual incentivo governamental para a produção de peixes marinhos, a realização desta edição do XIII ISFNF no Brasil é de fundamental importância, uma vez que, tradicionalmente, participa deste evento um vasto contingente de pesquisadores especializados em nutrição de peixes marinhos, bem como de indústrias que produzem rações para produção de peixe marinho. O evento já conta com o patrocínio da Skretting, Ewos, BioMar e DSM, indústrias com renomada atuação na piscicultura e carcinicultura marinhas, mesmo sem a existência de uma feira comercial neste evento.Para a realização desta edição, o evento conta com o apoio da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, da Sociedade Brasileira de Aqüicultura e Biologia Aquática - AQUABIO e do Instituto Poitara. Na organização da programação científica e logística, o evento conta com pesquisadores nacionais e internacionais de renome na área. Mais detalhes sobre o evento no site: www.isfnf2008.com.br. As inscrições podem ser feitas on-line até o dia 9 de Maio de 2008.

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Calendário Aqüícola MARÇO

Anunciantes da edição 105

ACQUA SUPRE

16

ACQUA VIVA PISCICULTURA

08

AGROBOMBAS

13

ALFAKIT LTDA

58

AQUAFAIR'2008

62

AQUACULTURA PL BRASIL

09

AQUAFAUNA BIO-MARINE

56

AQUATEC IND. PECUÁRIA

32

BRUSINOX IND. E COM. DE MÁQUINAS

44

11- 7º Seminário Estadual de Aqüicultura do Paraná - Será realizado no Recinto Milton Alcover, no Parque de Exposição Ney Braga em Londrina/PR. Inf.: (43) 3254.3219.

CARGILL NUTRIÇÃO ANIMAL LTDA

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DANÚBIO AQUACULTURA LTDA

07

MAIO

ESCAMA FORTE PISCICULTURA

07

13-15- AQUAFAIR´2007 - Feira Internacional de Aqüicultura e Pesca - Será realizada no Centrosul em Florianópolis/ SC. Inf.: (11) 2118-3133, e-mail: aquafair@gessulli.com.br ou www.aquafair.com.br

ENGEPESCA REDES PARA AQÜICULTURA

11

INBRAMAQ IND.BRAS. DE MÁQUINAS

58

19-23- WAS´2008 - Será realizado em Busan, Coréia. Inf.: worldaqua@aol.com ou www.was.org

MACCAFERRI DO BRASIL

46

20-24- III Congresso Brasileiro de Oceanografia e I Congresso Ibero-Americano de Oceanografia - Será realizado no Centro de Convenções do Ceará, em Fortaleza, CE. Inf.: www.cbo2008.com

MALTA CLEYTON DO BRASIL

06

MOANA HIPÓFISES

09

JUNHO

NUTRON ALIMENTOS/ PROÁQUA

02

01-05- XIII International Symposium on Fish Nutrition and Feeding - Será realizado no Majestic Palace Hotel, em Florianópolis/ SC. Inf.: Tel.: (48) 3322-1021 ou http://www.isfnf2008.com.br

PAPYTEX IND. E COM. PROD. TEXTEIS

31

PELETIZADORAS CHAVANTES

12

04-06- III SIMCOPE - Simpósio de Controle do Pescado - Será realizado em São Vicente/ SP. Inf.: e-mail: simcope@pesca.sp.gov.br ou www.pesca.sp.gov.br

PISCICULTURA AQUABEL

46

PISCICULTURA ARACANGUÁ

55

PISCICULTURA GIRASSOL

08

PISCICULTURA IGARAPÉ

09

PISCICULTURA SANTA CÂNDIDA

07

PROJETO PACU

60

RAÇÕES FRI-RIBE

22

RAÇÕES GUABI

67

SCHERING-PLOUGH SAÚDE ANIMAL

26

SÓ PEIXES DA AMAZÔNIA

08

SOCIL EVIALIS NUTRIÇÃO ANIMAL

34

SOLAR INSTRUMENTAÇÃO LTDA

11

TELAS RHV

27

TEXTIL SAUTER

60

TREVISAN EQUIP. AGROINDUSTRIAIS

30

XIII ISFNF'2008

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24-28- Curso de Piscicultura (Abate e Ornamental) - Será realizado pelo SENAR-MG, em Extrema/ MG. Inf.: (35) 3435-5665. 26-27- IV Conferencia Internacional AQUA SUR 2008 - Será realizada no Hotel Meliá, em Puerto Varas, Chile. Inf.: http://www.aqua-surconference.cl/index.php 28-30- 1º Encontro de Aqüicultura da Costa da Mata Atlântica - Será realizado em Santos/ SP, pela UNISANTA. Inf.: www.unisanta.br ABRIL 07-11- 2ª SEMANAQUA 2008 - Será realizada no CEFET, em Bambuí/ MG. Inf.: (37) 3431 4923 ou e-mail: semanaqua2008@gmail.com

07- Curso de Cultivo de Camarões de Água Doce - Será realizado na Caminho das Águas, em Piedade/ SP. Inf.: 15-3299-5965 ou www.caminhodasaguas.com 10-13- FENACAM´2008 - Feira Nacional do Camarão - Será realizada em Natal/ RN. Inf.: (84) 32020054, e-mail: fenacam@fenacam.com.br, www.fenacam.com.br ou skype: fenacam. AGOSTO 25-29- 4th International Symposium in GIS/ Spatial Analyses in Fishery and Aquatic Sciences Será realizado na Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro/ RJ. Inf.: www.laquasig.bio.br OUTUBRO 06-09- X Congreso Ecuatoriano de Acuacultura & Aquaexpo - AQUA 2008 - Será realizado no Centro de Convenciones Simón Bolívar em Guayaquil, Ecuador. Inf.: http://www.cna-ecuador.com/aquaexpo/ 27-30- Aquaciência´2008 - Será realizado no Centro de Eventos Araucária, em Maringá/PR. Inf.: ricardo.peixegen@gmail.com ou www.aquabio.org.br NOVEMBRO 17-20- X ENBRAPOA - Encontro Brasileiro de Patologistas de Organismos Aquáticos - Será realizado em Búzios, RJ. Inf.: (44) 3261-4642 ou www.abrapoa.org.br

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