Revista Bud Rock

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Jim Morrison

sexy, perigoso e imortal: por que o mito continua vivo?

Maio/junho de 2014 - R$ 16,50

Sang l ue, suor e ronck `rol

Os 20 anos do Rock in Rio

Pra quem tem menos de trinta anos fica difĂ­cil imaginar o que aconteceu em janeiro de 1985.

Alice Cooper olha para o passado: NĂŁo me arependo de nada.


SUMÁRIO Novidade

Courtney Love: música inédita Ao vivo

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Com performance energética e discurso de superação, emociona público em São Paulo

Demi Lovato

Jim Morrison - sexy, perigoso e imortal: por que o mito continua vivo?

Especial

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Eletrônica

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DJs que dominam o mundo Os 100 maiores guitarristas de todos os tempos

Beatles

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Beatles

“Eu não peço desculpas por nada”

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Autógrafos dos em painel do programa The Ed Sullivan Show podem render US$ 800 mil em leilão

Alice Cooper olha para o passado: História

Top

Estúdio pede ajuda para recuperar mesa de mixagem que gravou Ten do

Entrevista

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Pearl Jam Capa

Os 20 anos do Rock in Rio 2

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Jim Morrison sexy, perigoso e imortal: Por que o mito continua vivo?

Na edição de janeiro da BudRock Brasil, investigamos a história do vocalista do The Doors, apresentamos uma entrevista histórica com o astro e ainda comentamos a discografia da banda.

Jim Morrison, se estivesse vivo hoje, teria 70 anos e pouco Jim Morrison, se estivesse vivo hoje, teria 70 anos e pouco mais de um mês. Um dos mais notórios membros do chamado “clube dos 27”, ele definitivamente não foi feito para durar ou ter cabelos brancos e rugas. A morte não é heroica, mas a mitologia que envolve o fim do vocalista do The Doors segue reproduzida infinitamente. Cada grande astro do rock que surgiu na década de 50 e 60 deixou uma marca e modificou o panorama social para as gerações seguintes. Mas Jim Morrison foi além; no fim das contas, ele não precisava se esforçar muito para ser mais moderno do que os contemporâneos. Na edição de janeiro da BudRock Brasil, você conhece todas as facetas de Morrison, lê uma entrevista histórica com o cantor e ainda conhece a discografia e a videografia do Doors. Rebelde autêntico, o artista renegou a família – dizia que os pais estavam mortos, o que não era verdade. Nunca mais quis saber deles, especialmente do pai, almirante da Marinha norte-americana. Mais preocupado com a poesia do que com a cultura jovem e rock and roll, a princípio ele passou longe de toda a efervescência criada pelos Beatles e pelos Rolling Stones. Depois do surgimento do Fab Four, todo jovem dos Estados Unidos aprendeu a tocar guitarra e montou uma banda de garagem. Morrison, não – virou músico por acaso. Ray Manzarek, colega dele na UCLA (Faculdade de Cinema da Califórnia), tinha uma banda iniciante chamada Rick and the Ravens. Depois do decisivo encontro na praia de Venice com Manzarek, onde Morrison mostrou ao colega algumas das poesias que havia feito, o tecladista ficou impressionado e convidou o poeta aspirante para se unir à banda. Usando a flexível e expressiva voz de barítono que aperfeiçoou ouvindo LPs de Frank Sinatra, Morrison ganhou o cargo

de frontman sem muito esforço. Assim, com Morrison se juntando a Manzarek, Robby Krieger (guitarra) e John Densmore (bateria), o som do The Doors se formou. Os elementos básicos eram imagens retiradas da poesia beat e da literatura romântica, mais pitadas de música oriental e flamenca e jazz moderno da costa oeste. Mas o blues, paixão dos quatro integrantes, é que dava poder à banda e sustentava a parede sonora. E o tempero dessa salada era o ácido, a verdadeira fonte da lisergia californiana. The Doors (março de 1967), o primeiro álbum, jogou uma luz escura no otimismo da contracultura. A Guerra do Vietnã, levando potenciais fãs do The Doors a morrer do outro lado do mundo, fervia enquanto alguns sonhavam. Contendo imagens caóticas de incesto, destruição, violência, fim da noite e até misticismo, o Doors foi a trilha sonora para o conflito no leste da Ásia. “The End” parecia decretar que a velha geração tinha abandonado os filhos, que agora clamavam por uma amarga vingança.

The End parecia decretar que a velha geração tinha abandonado os filhos.

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No começo, Morrison jogou o jogo. Estudante de imagem, sabia como vender as feições apolíneas com as quais foi abençoado. Ele pediu a Jay Sebring (cabeleireiro top de Los Angeles e mais tarde vítima da gangue de Charles Manson), que fizesse nele um corte de cabelo chamado “Alexandre, o Gran-

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de”. Com o peito nu e usando apenas um colar, Morrison posou para fotos promocionais que depois seriam apelidadas de “O Jovem Leão”. Essas imagens, feitas por Joel Brodsky, são até hoje reproduzidas e todo mundo as conhece (a mais famosa delas está na capa desta edição) – há cerca de 45 anos vendem com perfeição a ideia do jovem e sensual deus do rock. As feições de Morrison eram tão perfeitas que pareciam ter sido esculpidas. Só que não havia nada de feminino ou andrógino nele. Bonito, sim, e particularmente perigoso. No verão de 1967, o Doors era onipresente na cultura pop – ninguém conseguia escapar de ouvir “Light My Fire”. Morrison, o Rei Lagarto, um xamã dionisíaco pingando sexo, desfilava pela região de Sunset Strip trajando calças de couro negro apertadas que não deixavam nada para imaginação. Com toda a arrogância do mundo, a banda contradizia o Beatles – o Fab Four dizia que “precisávamos de amor”, mas Morrison e companhia clamavam em “When the Music Is Over”: “Nos queremos o mundo e o queremos agora”. (Saiba mais na edição online da Bud Rock no site www.budrock.com a partir do dia 9 de maio)

Como artista, Morrison tinha uma dupla reputação. Era idolatrado por fãs adolescentes, mas o material que produzia muitas vezes era proibido para menores de 18 anos. Não se considerava um astro do rock, um cantor virtuoso ou ídolo adolescente, e sim um poeta que cantava o material que produzia. Vivia uma vida de vagabundo de luxo. Poderia ter a mansão mais luxuosa em Beverly Hills, mas, em vez disso, dormia em hotéis baratos ou no apartamento em Laurel Canyon que bancava para a namorada, Pamela Courson, com quem vivia entre tapas e beijos. Carrões e bens materiais não eram do interesse dele. Dava dinheiro e presentes a mendigos e

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| Especial amigos bêbados. E poetas não são poetas se não enchem a cara. Morrison nunca foi junkie. Detestava cocaína, experimentou profusamente LSD de 1965 a 1967, mas as viagens de ácido pararam quando viu que o álcool resolvia os problemas que tinha. Quando sóbrio, era um cavalheiro do sul, gentil e de fala mansa. O problema de encher a cara é que ele se tornava inconveniente e disposto a cometer mesquinharias com quem estava ao seu redor e se importava com ele. Tanto causava encrenca nos shows que chegou a ser preso em pleno palco em um show em New Haven. Costumava dizer que queria usar os métodos de provocação da trupe do Living Theater. A grande tragédia na vida de Morrison viria em 1º março de 1969, em uma apresentação no Dinner Key Auditorium em Miami (Flórida), justamente o estado onde o artista nasceu. O show começou com duas horas de atraso, devido a um desentendimento entre os promotores do evento. Morrison entrou no palco bêbado, não concluiu nenhuma canção e entoava discursos inflamados para provocar a plateia. Em certo ponto, abaixou a calça de couro e ameaçou mostrar o pênis – por debaixo da calça ele usava uma cueca samba-canção. Ninguém sabe exatamente o que aconteceu naquela fatídica noite – se Morrison expôs os genitais ou não – e nem os integrantes do Doors, nem os policiais ou o público de 10 mil pessoas conseguiram formar uma opinião definitiva. Finalmente, no encerramento da apresentação, o cantor pediu que o público tomasse conta do palco e o caos foi instaurado. Morrison, antes um dos astros mais espertos e literatos do rock, agora era um palhaço alcoólatra e inconveniente. O que ninguém percebeu é que, com um gesto extremo como esse, o astro clamava por ajuda, e não por veneração barata. Na época, a própria Rolling Stone EUA achou que o episódio foi mais constrangedor do que ultrajante. Na famosa reportagem que a revista publicou na ocasião, Morrison aparecia em um pôster de “procurado” do velho oeste. A crítica e o movimento underground, que tanto incensaram o Doors em 1966 e 1967, agora decretavam que a banda era “peso leve”, e que Morrison não passava de um bufão cantorzinho de baladas. Poucos meses após o incidente de Miami, apareceu Charles Manson,

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outro fantasma a assombrar a contracultura. Morrison foi deixado de lado e perdeu o título de homem mais odiado dos Estados Unidos. Talvez o cantor tenha achado que o fato de ser bonito prejudicasse o desejo de ser levado a sério como artista. Para sufocar o “Jovem Leão”, ele guardou as calças de couro, engordou e escondeu o rosto atrás de uma barba e óculos escuros. A Justiça norte-americana queria transformar Morrison em exemplo. Ele foi julgado, condenado, teve de pagar pesadas multas e viu sua energia esvaída em meio a idas e vindas ao tribunal. Acabou condenado a seis meses de prisão. Apelou, mas temia o dia em que seria encarcerado. Mas o Doors era uma mini-indústria, e mesmo com seu homem de frente envolto em problemas, a banda precisava produzir, gravar e se apresentar. Depois de Miami, os promotores de espetáculos achavam que Jim Morrison era uma bomba-relógio, e o número de apresentações caiu consideravelmente. Em compensação, a banda se recuperou em estúdio, lançando Morrison Hotel e gravando L.A. Woman, dois álbuns consistentes e mais focados que apontavam para dias melhores. Morrison perdeu a fé, se fechou para o mundo e entrou em forte depressão. Não era fácil conviver com ele, e ele próprio sabia disso. Os amigos se afastaram discretamente. Longe de ser um mártir de alguma causa ou um herói da liberdade de expressão, Jim Morrison era apenas um cara perdido. Em março de 1971, foi para a França, terra dos poetas e dos artistas surrealistas que tanto adorava. Nessa tentativa de recuperar a musa poética em terra estrangeira, não teve tempo de produzir muito. Mas pelo menos parecia estar mais sossegado, longe do assédio e das pressões. A morte de Jim Morrison, oficialmente vitimado por um ataque cardíaco em 3 de julho de 1971, gerou dezenas de teorias de conspiração – repassá-las aqui nem valeria a pena. Mas, ao morrer no

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| Especial apartamento em que vivia, Morrison teve o final que s e m p r e quis: o do poeta nu, morto silenciosamente dentro da banheira. E não deixou de ser um dedo do meio para aqueles que o queriam atrás das grades e humilhado. Quando Morrison se foi, os outros três membros do The Doors teimosamente seguiram em frente. Lançaram dois álbuns que passaram despercebidos e logo encerraram as atividades. Morrison tornava tudo difícil, mas sem ele a banda perdia sua entidade. A poesia caótica de fim do mundo do Doors foi literalmente sepultada pelo resto da década de 70. Em tempos de glam, rock progressivo e disco music, a visão sinistra de Morrison não tinha espaço. Claro, muitos fãs do Doors acabaram militarando no punk, mas a visibilidade da banda e de seu carismático e complicado frontman parecia ter esgotado.

A poesia caótica de fim do mundo do Doors foi literalmente sepultada pelo resto da década de 70.

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Em 1979, o diretor Francis Ford Coppola usou “The End” de forma decisiva no épico Apocalypse Now. As memórias da Guerra do Vietnã estavam de volta, e seu bardo mais eloquente também. Jim Morrison era assunto nas livrarias com o best-seller Ninguém Sai Vivo Daqui e na capa da Rolling Stone com a provocativa chamada “He’s Hot, He’s Sexy and He’s Dead” (Ele é Quente, Ele é Sexy, Ele está Morto). Os anos 80 foram infestados de bandas que se calcavam no som baseado em teclados e abusavam de imagens surrealistas – de Echo & the Bunnymen a The Cult, todo mundo queria um pedacinho do The Doors. Talvez em termos de mitologia póstuma, hoje Morrison tenha sido suplantado por Kurt Cobain como o grande garoto problema do rock. O líder do Nirvana e o vocalista do Doors foram verdadeiramente heróis trágicos. Morrison, em particular, praticou o conceito da húbris – tornou-se tão arrogante que desafiou a fonte de seus poderes e, no processo, foi destruído. Ele ainda está enterrado no cemitério Père Lachaise, em Paris, e todo ano a administração local toma medidas para impedir o caos e o vandalismo que cercam a lápide do cantor, que até ficaria contente com isso. E enquanto a poderosa música do The Doors passar de geração para geração e as fotos do Jovem Leão circularem, o espectro do Rei Lagarto estará conosco.

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Alice Cooper

olha para o passado:

“Eu nao me arrependo de nada.” Por Kory Grow

O astro do rock é tema do documentário Super Duper Alice Cooper, que acabou de estrear no festival Festival de Cinema de Tribeca.

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| Entrevista “Nós não trouxemos a galinha”, diz Alice Cooper à Rolling Stone EUA, fazendo um gesto enfático com a mão em um hotel em Nova York. Em setembro deste ano, serão completados 45 anos desde que Alice Cooper se tornou Alice Cooper depois de encarar o público no show Toronto Rock’n’Roll Revival, enquanto abria para John Lennon. Reza a lenda que alguém jogou a ave no palco, e, pensando que ela iria voar (“Eu sou de Detroit e nunca havia pisado em uma fazenda na vida”, ele diz até hoje), jogou-a de volta para a plateia – apenas para ver o público desmembrá-la. “Quando eu percebi que as cinco primeiras fileiras eram de pessoas em cadeiras de rodas, tudo ficou ainda mais macabro”, relembra Cooper. O frontman credita a esse dia à inspiração para a persona que ele usa no palco até hoje. “Eu percebi que a plateia está louca por um vilão”, diz Cooper, que ainda se veste inteiramente de preto, incluindo as calças de couro. “Eles realmente querem um vilão – e quem melhor para interpretá-lo do que eu?”

Eu percebi que a plateia está louca por um vilão.

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Cooper tem feito algumas reflexões profundas nestes últimos meses, depois de ter participado de um documentário sobre a vida dele, Super Duper Alice Cooper (o filme acabou de estrear no Festival de Cinema de Tribeca). Com um elenco que inclui Elton John, Bernie Taupin, Johnny Rotten, Iggy Pop, a mãe de Cooper e, é claro, o próprio Cooper, Super explica como Vincent Furnier, de

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Detroit, se tornou o vilão que atrai fãs para o pesadelo que ele cria em cima do palco e em álbuns como Love it to Death e Billion Dollar Babies desde os anos 1960.

[risos]. Para mim, era tentar descobrir como eliminar esse meio termo para poder ter uma vida minha, e Alice Cooper ter uma vida dele.

VOCÊ FALA SOBRE RELIGIÃO NO DOCUMENTÁRIO. ISSO JÁ LIMITOU ALICE, O PERSONAGEM?

O documentário, que foi feito pelas mesmas pessoas que produziram Beyond the Lighted Stage, sobre o Rush, combina animação e gravações antigas, examina como Cooper se tornou um nome familiar e como o personagem quase levou a melhor sobre ele. Fala sobre quando o cantor conheceu Salvador Dalí, as turnês cheias de álcool e até sobre o motivo de Cooper ter encontrado consolo no Cristianismo. É uma história de sobrevivência, resistência e força. COMO FOI ASSISTIR A SUA VIDA PASSAR DIANTE DOS PRÓPRIOS OLHOS? É engraçado, porque eu não não vivo no passado. Eu entendo que as pessoas queiram saber como foi que tudo deu certo, como eu comecei, e é uma história interessante. Mas foi divertido voltar. Eu não peço desculpas por nada – tudo aconteceu na “Era de Ouro”, quando você podia fazer referências a Jimi Hendrix e Jim Morrison e perceber: “Eu ficava bêbado com esses caras”.

Até hoje, existe um momento em que penso: “Será que Alice faria isso?” Eu gosto do fato de existirem coisas que Alice não faria. Alice nunca xinga; isso não é legal. Existe uma elegância nele. Há músicas que eu não cantaria como Alice que eu escrevi há muito tempo, coisas que eu não quero que Alice promova.

À MEDIDA QUE VOCÊ RECONTA ESSAS HISTÓRIAS DE PESSOAS COMO HENDRIX E MORRISON, O QUE VEM A SUA MENTE?

FALANDO DOS ENFORCAMENTOS E GUILHOTINAS QUE VOCÊ USA NO PALCO. VOCÊ JÁ CONSEGUIU ANTEVER ALGO PERIGOSO DEMAIS ANTES DE IR EM FRENTE?

O que eu aprendi com eles – tirando John Lennon, é claro, que era um lance muito diferente – é que eles viviam tudo ao extremo. Jim Morrison, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Keith Moon: todos eles tinham a mentalidade de “Preciso fazer agora, porque eu não quero estar fazendo isso aos 30”. E minha mentalidade era: “Eu preciso descobrir como separar a minha personalidade deste personagem, ou isso vai me matar”

Não perigoso demais, mas houve momentos “Spinal Tap”. Já surgiram coisas do tipo: “Vamos colocar Alice em um canhão”. E compramos um canhão, e deu certo. Eu entrava no canhão, saía pela parte de trás, eles colocavam um boneco e atiravam; enquanto isso, eu já estava do outro lado e saía andando. É uma ilusão, mas ficava ótimo. Mas nada foi muito perigoso. A guilhotina é uma lâmina de quase 20 quilos; ela

por pouco não me pega todas as noites, pelos últimos 40 anos. A mesma coisa com o enforcamento – você tem que esperar que o cabo do piano tenha sido testado naquela noite. Quando você tem uma cobra python de quase quatro metros no palco, 99% do tempo ela vai estar bem – mas e se chega uma noite que ela decide fazer outra coisa? Eu sempre gostei da ideia de existir a possibilidade de alguma coisa acontecer.

John Lennon era um vampiro de Hollywood.

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O DOCUMENTÁRIO INCLUI O SHOW DE TORONTO NO QUAL OS FÃS JOGARAM A GALINHA NO PALCO, VOCÊ JOGOU DE VOLTA E A PLATEIA A DESMEMBROU. NA APRESENTAÇÃO, VOCÊ ESTAVA ABRINDO PARA JOHN LENNON. ELE TE DISSE ALGUMA VEZ O QUE ELE ACHOU DAQUILO? Ah, ele amou aquilo. John Lennon era um vampiro de Hollywood. Ele era um dos que bebia. Mas era John Lennon e Yoko quando eles estavam fazendo a arte deles. Então, eles viram aquilo como arte; Yoko e John ficaram, tipo: “Isso é ótimo”. John achou engraçado. E eu não matei a galinha. [Risos] Mesmo que eles quisessem, eu não teria matado a galinha. Mas eu percebi naquele momento o quão loucas por sangue estavam aquelas pessoas no festival paz-e-amor – e era isso o que ele era. Eles não viam problema nenhum em matar a galinha. FALANDO DE ESTRELAS DO ROCK: TEM UMA CENA INTERESSANTE NO FILME, QUE É QUANDO VOCÊ CONHECE O SEU EMPRESÁRIO, SHEP GORDON, NO LANDMARK HOTEL, E TROMBA COM JANIS JOPLIN, JIMI HENDRIX E JIM MORRISON EM UM QUARTO REPLETO DE FUMAÇA DE MACONHA. AQUELA CENA DEIXOU UMA IMPRESSÃO SOBRE VOCÊ. Você precisa se lembrar que nós éramos uma banda jovem de Arizona, e que nós conseguíamos fazer um baseado durar uma semana, porque era tudo o que tínhamos. E você entra em um quarto tão cheio de fumaça que não consegue ver a

pessoa na sua frente, e quando a fumaça se dissipa [suspira]: “Olha, é o Jimi Hendrix ali.” E Shep, nosso empresário, abre uma gaveta, e tem uma gaveta [de maconha], e ele pega um punhado. “Esse é o nosso empresário. Isso vai ser demais.” Em 68, 69, essa era a coisa mais legal do mundo. Então, é, ver aqueles caras nos fez pirar. O engraçado é que a nossa banda era formada por bebedores de cerveja. Era muito estranho que as bandas com uma má reputação eram formadas por bebedores de cerveja, enquanto Mamas and the Papas, Jackson Browne e o resto estavam usando heroína. Era o oposto do que você imaginaria ser. Os caras do The Monkees sempre usavam ácido. Nós bebíamos Budweiser [risos ].


| Capa

Pra quem tem menos de trinta anos fica difícil imaginar o que aconteceu em janeiro de 1985. Um festival de rock com mais de dez atrações internacionais de peso? Isso era um sonho, esse tipo de coisa a gente ficava sabendo que acontecia na Europa ou nos Estados Unidos, mas aqui no Brasil... Só dava pra acreditar na hora, na fila de entrada e com o ingresso na mão. por

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Rodrigo Piza

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| Capa A situação era a seguinte: durante os anos setenta e começo dos anos oitenta pouquíssimos artistas ou bandas estiveram por aqui, tivemos alguns shows memoráveis de soul e jazz, mas o mundo do rock era um mercado quase inexplorado e acima de tudo desacreditado comercialmente. Sem falar da dificuldade que era produzir um show de grande porte. Simplesmente ninguém tinha esse know-how e shows com péssima organização e qualidade de som ainda pior, era comum, quem se lembra que o ponto alto de Van Halen (alto demais) e Kiss (baixo demais) da carnificina era quando sabe como era. Gene Simmons pisoteava pintinhos com Aliás, os poucos que se aventuraram suas enormes botas...Justo o Kiss, imagina... aqui na selva antes do rock in Mas a hora de lavar a alma tinha chegado, meses rio ficaram com um lugar antes do festival as atrações iam sendo confirespecial no coração dos madas pouco a pouco: Iron Maiden, Queen, fãs brasileiros. Nos anos Rod Stewart, Ozzy, Scorpions, AC/DC, Yes, Def setenta os heróis foram Al- Leppard, era muito pra cabeça de qualquer ice Cooper, Joe Cocker, Rick rockeiro carente, não dava pra acreditar, tudo Wakeman, Peter Frampton, ao mesmo tempo era demais. Santana e Genesis, que deixO mais incrível era que o momento não poou o público boquiaberto pela dia ser melhor, nos dois anos anteriores o rock qualidade do som e simpatia de tinha explodido no país com a Blitz, Titãs, Phil Collins que conversava com Barão Vermelho, Paralamas, enfim, toda a pria plateia em português meira safra do rock brazuca dos anos oitenta, durante toda a apreouvir rock não era tão comum desde a época sentação. E nos anos da jovem guarda. Além do mais quase todas oitenta Kiss, Queen, as atrações internacionais estavam em ótiThe Police, Van Halen ma fase, fazendo turnês de discos bons e de e de novo Frampton e sucesso, inclusive os últimos discos realmente Wakeman. A falta de bons em sua maioria. O empresário Roberto informação era tão Medina, que criou o Rock in Rio, teve essa grande que antes percepção e agiu na hora certa. do show do Kiss tinha muita gente Dias antes do show, já com a programação que jurava que eles fechada e devidamente anunciada na imiriam matar ani- pressa o Def Leppard é obrigado a cancelar mais no palco, e seus shows, o baterista havia acabado de sofrer o famoso acidente que fez com que ele perdesse o braço esquerdo. Para substitui-los foi chamado o Whitesnake, todos

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manjavam David Coverdale, mas a banda ainda Mas estava tudo ótimo, a enorme estrutura era meio desconhecida no Brasil. construída especialmente para o festival esFinalmente a agenda de tava pronta, tinha chegado à hora. shows saiu. O que todos Whitesnake, a grande surpresa, simplesmente estranharam era a mis- deixou o público pasmo, a banda realmente tura quase que aleatória não era muito conhecida no Brasil e mesmo de estilos, era óbvio que sem nenhum grande sucesso dominou o públiMedina e sua equipe não co com sua performance e músicas poderosas, sabiam nada de rock e seu último álbum, Slide It In acabou se tornannão acharam as pessoas do o grande clássico da banda. O guitarrista certas pra dar às coorde- John Sikes causou furor entre a mulherada e foi nadas de quem deveria dito na época que dispensou Sônia Braga nos tocar com quem, e a es- bastidores... O cara estava podendo. colha de Nina Hagen e Go Go’s eram praticamente inexplicáveis.


| Capa A única banda internacional que só tocou uma vez foi o Iron Maiden que veio para o evento em plena turnê norte-americana, show aguardadíssimo pela massa de cabeludos. A banda em ótima fase, logo após lançar o disco Powerslave, como sempre foi extremamente competente deixando todo mundo mais que satisfeito. Depois da passagem apoteótica do Queen em 1981 a expectativa era grande, tinham acabado de lançar um bom álbum, aliás, o último bom, The Works. Não poderia ter sido diferente, a quantidade de sucessos foi avassaladora, a atuação primorosa como sempre, desbunde total. conquistar a imensa plateia que delirou com Segundo dia, público mais adulto e mais transeus clássicos, cantando e dançando de rostinquilo, prato cheio para Ivan Lins que acabou ho colado todas as músicas. Se existe a tal da deixando a oportunidade passar, “troca de energia” entre público e artista de perdeu a voz aos vinte minutos que tanto falam ela aconteceu como nunca de show, e terminou a aprenaquele sábado. A repercussão do show pelo sentação na metade, a plateia mundo foi tão grande que sua carreira deconão ficou nem um pouco lou de novo com seu disco seguinte. feliz. Terceiro dia tranquilo no Rock in Rio, músiO que ninguém esca pop e new wave com bons shows de perava era que James Paralamas, Lulu e Blitz. Rod Stewart fechou Taylor, que andava meio a noite em grande estilo, a essa altura de sua sumido e não gravava carreira a quantidade de sucessos era absura quatro anos, se torda e público ouviu tudo o que queria de um nasse uma das senanimado Rod, “confesso que entrei no palco sações do festival. bastante alto no primeiro show...” confessou Show impecável, depois. carisma e simpatia foram à Como era de se esperar, segunda feira fórmula per- tranquila e de pouco público, o menor do feita pra festival. Moraes Moreira e Alceu Valença agradaram bastante e George Benson e James Taylor repetiram suas performances eficientes, mas com a ordem dos shows trocada, Taylor fechou a noite.

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Terça feira era um dia dos mais aguardados, Scorpions e AC/ DC, expectativa total. Mais uma vez grande parte do público formado por rockeiros mais radicais que não estavam nem um pouco a fim de aturar Kid Abelha e Eduardo Dusek, mais uma falha da produção. A apresentação do Scorpions prometia, tinham acabado de lançar um disco de grande sucesso, “Love At First Sting”, e já não eram uma banda apenas conhecida por rockeiros mais fanáticos. Só mesmo o AC/DC pra segurar a bronca depois de um show tão marcante quanto o do Scorpions, como sempre tiraram de letra, arrasador, Angus Young enlouquecido, Brian Johnson no auge da forma, muitas músicas de sucesso, perfeito. Quarta feira, mais um dia de misturas inusitadas, Moraes Moreira, Rod Stewart e Ozzy? Então tá bom... Coube aos Paralamas a tarefa difícil do pontapé inicial, a banda ainda não tinha muitas músicas conhecidas e ainda teve que contar com a má vontade do fãs de Ozzy, mas mostraram segurança e competência saindo consagrados. Moraes e Rita Lee apenas conseguiram segurar a bronca, mas não chegaram a agradar. Bom, chegava na hora tão aguardada, Ozzy Osbourne, ele não estava em sua melhor fase, tinha acabado de lançar o disco “Bark at the Moon” que era bom, mas estava gordo e sua voz mais fraca do que nunca. A competência da banda e a boa vontade da plateia não conseguiu tornar o show exatamente memorável, Ozzy mal se mexia, desafinava absurdamente e jogava baldes de água num público já molhado pela chuva que caía no momento da apresentação. Mesmo assim os metaleiros ficaram felizes, a carência de shows era tão grande que ver Ozzy ao vivo já era um sonho realizado. Quinta feira de muita chuva e muita lama. Mais shows de Alceu, Elba e Al Jarreau e o aguardadíssimo Yes. Pra muita gente a banda tinha se vendido, estava fazendo um som comercial sem nenhum valor, mas a verdade é que o Yes vivia uma fase de renovação, o disco “90125” era ótimo e independente da vontade dos fãs era um estrondoso sucesso de vendas.


| Capa À noite de sexta feira era considerada saíram consagrados do festival. A Blitz fez o últia noite new wave, apesar do Queen mo show de sua carreira, B-52’s repetiu a apreser a atração principal. Depois de sete sentação divertida de dias antes e o Yes fechou dias de festival os músicos brasileiros tudo no clima apoteótico que o evento merecia. estavam indignados com a diferença A repercussão de todo o festival foi tão grande da qualidade de som em relação às atque o Rock in Rio ganhou fama no mundo todo, rações internacionais, o som das bandas quase todas as bandas citam até hoje o impacto gringas era mais limpo mais nítido e mais que foi vir para o Brasil sem saber o que iriam alto. Os boatos de sabotagem estavam encontrar e acabar se deparando com plateias rolando soltos e alguns resolveram protede mais de duzentas mil pessoas. Realmente star. Todos reclamaram do som, mas Lulu um marco na história dos festivais de rock, Santos foi além, insinuou que os brasileiros mais de um milhão de pessoas compareceram estavam sendo sabotados e simplesmente ao evento que consumiu em sua produção não terminava o show, tocando mais músicerca de doze milhões de dólares. cas que o combinado com a produção. A quantidade de shows internacionais no Foi praticamente retirado à força do palco Brasil aumentou assustadoramente, os técnie ainda soltou: “Os americanos estão me cos e promotores adquiriram o know-how mandando embora!”, pegou mal, pra ele. necessário para não fazer feio. Roberto MeÀ noite de sábado era a “noite do metal”, addina deu autógrafos, foi abraçado, beijado ivinhem de quem era o show de abertura? e não faltaram pedidos da moçada para Erasmo Carlos! Claro que ele ficou “doente” que ele se candidatasse para algum cargo e foi transferido para o dia seguinte. O abapolítico, não se pode negar que realmente caxi ficou na mão de Baby e Pepeu que até sua iniciativa botou o país na rota das seguraram a onda com muuuuuitos solos de grandes bandas. guitarra de Pepeu Gomes. Último dia da maratona, dessa vez Erasmo tocou mais sossegado, sem nenhum acidente. Barão Vermelho fez um bom show, Cazuza foi nota dez e assim como os Paralamas também

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