Comitê Políticas Públicas Municipais O secretário Municipal de Educação, professor Graciliano de Oliveira Neto, falou sobre as dificuldades iniciais de implementação dos projetos e as expectativas de resultados.
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s dados falam por si. Entre os países emergentes, o Brasil tem, de acordo com os resultados do Programa Internacional para Avaliação de Alunos (Pisa) de 2006, o mais elevado índice de repetência e evasão escolar, além de um dos piores resultados em termos de aproveitamento do aluno em relação ao conteúdo da série que freqüenta. Pesquisas internacionais apontam também no País uma alta defasagem na idade de conclusão dos ciclos. E mais. Dentre os 57 países avaliados pelo Pisa, ocupamos a vergonhosa 49ª posição em termos de competência de leitura. Na Matemática, os dados são ainda piores. Estamos em 54º lugar, perdendo inclusive para os vizinhos sul-americanos, Chile e Uruguai, respectivamente 47º e 42º classificados. Pelo lado quantitativo, o Brasil ainda
mantém mais de 800 mil crianças e adolescentes, entre os sete e 14 anos, fora da escola. Desafortunadamente, conseguimos atingir até 2006 apenas cinco anos de escolaridade média, enquanto o México, por exemplo, já chegou aos sete e a Rússia, aos dez anos. Reverter este quadro até 2022, melhorando substancialmente a performance escolar dos alunos das escolas públicas do ciclo básico na cidade de Campinas, foi a missão ousada que o Compromisso de Campinas Pela Educação (CCE) tomou para si em 27 de novembro de 2007. Oito meses após o evento que oficializou Campinas como uma célula do movimento nacional Todos Pela Educação e a transformou na primeira cidade do País a pactuar o Compromisso, muitas ações puseram-se em andamento. Confiraas nas próximas 11 páginas.
Comitê Instituições de Ensino Superior Um grupo de trabalho criado dentro do Comitê Instituições de Ensino Superior prepara para o segundo semestre deste 2008 um seminário regional que pretende colocar em discussão a carreira docente, tópico considerado peçachave para a melhoria na qualidade do ensino.
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MOBILIZAÇÃO
Compromisso de Campinas Pela Educação ganha ‘corpo’ Ricardo Lima
Coordenador da Comissão de Relações Institucionais do Todos Pela Educação, Luís Norberto Pascoal: sensibilização e coesão de esforços em Campinas
Movimento conta com esforços para que metas sejam cumpridas até 2022
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leita como “entidade-síntese” para estabelecer os primeiros passos do CCE, a Fundação FEAC iniciou os trabalhos em 2007 propondo um termo de referência, em que se estabeleceu um modelo organizacional para estruturar todas as iniciativas que viriam dali por diante. Nasceram, assim, os oito Comitês, formados por representantes do Governo (1º setor), iniciativa privada (2º setor) e ONGs (3º setor): Comitê Políticas Públicas Municipais; Comitê Políticas Públicas Estaduais; Comitê Sindicatos; Comitê Poder Judiciário; Comitê Instituições Religiosas; Comitê Terceiro Setor; Comitê Empresas e Comitê Instituições do Ensino Superior. “Nesta primeira etapa, estamos firmemente empenhados em mobilizar de forma efetiva a sociedade civil, empresas e governos para conscientização e priorização do problema”, afirma Arnaldo Rezende, coordenador-executivo do CCE e superintendente da Fundação FEAC. “Priorizamos esse
trabalho porque temos convicção de que não haverá resultados fora da união coesa entre os órgãos públicos, empresas privadas e o terceiro setor”. Cada um dos Comitês, em sua área de competência, já começou a avaliar alguns programas que, em experiências de âmbito nacional, mostraram bons resultados. A idéia é não apenas analisar a viabilidade de implementá-los nas escolas públicas de Campinas, mas especialmente analisar se, de fato, esses projetos poderão assegurar as condições de acesso, permanência, conclusão e aprendizado dos alunos nas escolas do município. Nas próximas páginas desta edição será possível conhecer as ações e trabalhos que cada uma dessas células realizou neste primeiro semestre de 2008. Estudar as práticas e procedimentos já aplicados, tanto no âmbito da melhoria da escola quanto da promoção social, que estejam dando bons resultados, têm sido procedimento constante dentro dos Comitês.
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Comitê Intersetorial Função: será responsável pelo acompanhamento dos trabalhos desenvolvidos pelos comitês setoriais, bem como servirá de espaço multidisciplinar para alinhamento geral das diversas visões e propostas resultantes das discussões intra-setoriais. Portanto, deverá sintetizar, alinhar e apresentar para aprovação as propostas (projetos e programas) oriundas dos Comitês à Diretoria do Compromisso. Membros: será composto de um coordenador geral, um
representante de cada comitê setorial (indicados pelos próprios comitês) e um profissional responsável pela comunicação. Forma de atuação: o coordenador geral e o de comunicação serão indicados pela Diretoria do Compromisso. Após aprovados, caberá a este Comitê Intersetorial a implementação, monitoramento e avaliação, bem como o controle orçamentário e o gerenciamento dos recursos humanos necessários.
Mensagem da Coordenação-executiva absoluta para esta questão. Sendo assim, convido a todos para refletirem sobre o resultado de uma pesquisa mundial realizada pela consultoria Mc Kinsey que destaca a seguinte afirmação: "A qualidade de um sistema de educação não pode exceder a qualidade de seus professores". Arnaldo Rezende, coordenador-executivo do Compromisso de Campinas Pela Educação
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Ricardo Lima
Para alterarmos positivamente alguma situação o necessário primeiro ato é conhecer em profundidade o objeto de melhoria. Quando buscamos avanços na qualidade do ensino público nos deparamos com um sistema educacional que além de amplo é extremamente difuso e com características específicas de alta complexidade. Estamos assim diante de um desafio bastante instigante. Como não podemos mais perder tempo é preciso avançar com inúmeras ações articuladas. Estas devem caminhar paralelamente ao compromisso de termos identificada a real situação das escolas públicas de nossa cidade. Mas, como garantir um norte confiável para este conjunto de iniciativas? Desconheço uma resposta concreta e
PARCEIROS Augusto de Paiva
Comitê Terceiro Setor Professor Ezequiel Theodoro da Silva: criação de CELE
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brasileiro lê pouco e lê mal. Uma análise dos dados trazidos ao CCE pela Associação de Leitura do Brasil (ALB), entidade integrante do Comitê Terceiro Setor, deixa evidentes os motivos pelos quais o Brasil amargou um 49º lugar em competência de leitura dentre os 57 países avaliados pelo Programa Internacional para Avaliação de Alunos (Pisa). Em uma das reuniões de trabalho do Compromisso, o presidente da ALB e professor da Faculdade de Educação da Unicamp, Ezequiel Theodoro da Silva, revelou, embasado em resultados de pesquisas nacionais e internacionais, que a média de leitura dos brasileiros é de apenas 4,7 livros por habitante/ano. Nos Estados Unidos, esse número é de 5,1 e na França chega a 7 livros ao ano. Este dado já seria bastante ruim por si só. Mas piora muito quando se descobre que apenas 25% dos leitores entre 15 e 64 anos são capazes de ler textos longos, localizar mais de uma informação e estabelecer relações entre textos; 37% são capazes apenas de localizar informações em texto curto e outros 30% conseguem unicamente localizar informações simples em uma frase. Os 8% restantes são os analfabetos. O professor lembrou ainda que 1/3 da população brasileira declarou nunca ter ido a uma biblioteca. E, desse total, 49% pertencem às classes D e E. Para completar a gravidade do quadro apresentado, a ALB lembrou que a venda de livros caiu 50% entre os anos de 1995 e 2003 e que, da população adulta alfabetizada no país, quase a metade (47%) possui, no máximo, dez livros em casa. “Por tudo isso, entendemos ser extremamente importante dentro do CCE propagar a leitura em Campinas através da união de esforços entre as entidades que lidam com o universo da escrita”, propôs o professor Ezequiel. “Juntos, podemos planejar e executar projetos em direção a uma população letrada
e leitora, servindo como eixo para gerar, acompanhar, registrar e avaliar as experiências”. A idéia central do professor seria criar um Centro de Propagação da Leitura, ou simplesmente CELE, onde haveria a oferta de um “feixe” de serviços, eventos, programas e atividades ligadas à leitura. Para ele, a inauguração de um espaço físico firmaria a identidade do CELE junto à população e, de lá, sairiam as ações, a orientação e a supervisão dos projetos de incentivo à leitura para a comunidade. “Se a leitura envolve aprendizagem, é preciso cuidar dos elementos de diferentes ordens que fazem a mediação entre as informações e os leitores, ou seja, os materiais de leitura, as instituições como bibliotecas, salas, centros de leitura, livrarias e cafés literários e oferecer também mediadores devidamente preparados”, defende o professor Ezequiel. A curto prazo Enquanto a criação do CELE vem sendo estudada, a Associação de Leitura do Brasil propôs algumas ações imediatas para começar a transformar Campinas em uma “cidade leitora”. Houve a sugestão de restaurar o programa de caixasbibliotecas, proposto pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) há alguns anos. O programa consistia em organizar um acervo itinerante diferenciado, contendo desde livros de culinária até jornais e revistas nacionais, que rodava entre as escolas. De acordo com a ALB, essa iniciativa ajudaria a minimizar o fato de Campinas contar com apenas quatro bibliotecas públicas para servir a uma população de mais de um milhão de habitantes... nenhuma delas localizada em regiões consideradas de alta vulnerabilidade. O professor Ezequiel sugeriu ainda reforçar os programas de incentivo à leitura já em andamento nas escolas, como por exemplo, o Correio Escola.
Membros do Comitê Associação de Leitura do Brasil (ALB) Fundação Educar DPaschoal Fundação FEAC Projeto Correio Escola
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Ricardo Lima
ENTREVISTA
Comitê Políticas Públicas Municipais
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eis escolas municipais de ensino fundamental – Ciro Excel Magro; Raul Pila; Virginia M. Vasconcelos; João Alves dos Santos; Odila Maia Rocha Brito e Clotilde Barraquet Von Zuben – foram selecionadas pela Secretaria Municipal de Educação para serem alvos do projeto-piloto dentro do Compromisso de Campinas Pela Educação. A intenção é implementar nas seis EMEFs escolhidas, com a parceria de instituições privadas e do terceiro setor, alguns programas em que os gestores públicos apostam para impactar a qualidade do ensino e melhorar a performance dos alunos. “Leitura em foco”, “Educação integral”, “Clickidéia”, “Jovem.com”, “Saúde do escolar” e “Avaliação Institucional” compõem o rol de programas escolhidos pela Prefeitura para melhorar a qualidade do ensino e elevar o desempenho dos estudantes na rede municipal. Os resultados dessas iniciativas deverão ser mensurados por avaliações sistemáticas e pela Prova Brasil. Além da Secretaria de Educação, estão envolvidas no projeto as Secretarias de Cultura, de Saúde, de Esportes e Lazer e, finalmente, a Secretaria de Cidadania, Trabalho, Assistência e Inclusão Social. Em entrevista concedida ao boletim do CCE, o secretário Municipal de Educação, professor Graciliano de Oliveira Neto, falou sobre as dificuldades iniciais de implementação dos projetos e as expectativas de resultados. Quais foram os critérios que nortearam a escolha dos seis programas a serem implantados nas unidadespiloto? Já havia alguma evidência anterior de bons resultados em algum desses programas? A Secretaria Municipal de Educação/Fundação Municipal para Educação Comunitária (SME/FUMEC), dando continuidade à política educacional de colocar a escola como centro das atenções, já definia como meta principal, a partir de 2005, o foco de toda ação educativa no aluno e seu desenvolvimento e aprendizagem. Para que tal objetivo fosse atingido, desenvolveram-se estudos visando à ampliação da jornada dos alunos, no contraturno, garantindo a participação de todos em, pelo menos, um projeto especial e do número de horas de trabalho efetivo, como preconizado pela Lei de Diretrizes e Bases, em seu artigo 24, inciso I e também, no artigo 34. Portanto, a SME/FUMEC já vinha implementando, através do programa Arte e Movimento, práticas pedagógicas que possibilitavam mudanças significativas no cotidiano escolar do educando. A ampliação da permanência do aluno sob responsabilidade da escola, no contraturno, valoriza a
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Secretário Municipal de Educação destaca seis projetos-piloto
formação ética, artística e a educação física, como previsto nas diretrizes do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). E os resultados iniciais já demonstraram que este programa proporciona ações inovadoras de cultura e educação, potencializando atividades para além dos espaços não formais, reforçando os conteúdos adquiridos nos currículos educacionais. Como o senhor vê a parceria entre poder público, entidades privadas e sociedade civil? O senhor credita a essa parceria a viabilidade deste projeto? Uma das diretrizes do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) do MEC é justamente o estabelecimento de parcerias externas à comunidade escolar. Dados do Ministério evidenciam que essas parcerias com o setor privado, com universidades e programas das áreas de saúde, assistência social, cultura e esporte, aproximam mais as famílias da escola, oferecem atividades complementares, ampliam a formação dos professores e contribuem para redução dos índices de evasão e violência, melhorando o desempenho escolar. Esta participação do setor privado já ocorre há muito tempo, de maneira pontual, tanto na educação básica quanto na educação superior. Aliás, as pesquisas em química e física, realizadas nas universidades públicas brasileiras, atingiram nível de excelência internacional sobretudo pelas parcerias com o setor produtivo. No caso do Compromisso de Campinas pela Educação, a parceria da SME/FUMEC com a FEAC acelera, sem dúvida, a obtenção dos bons resultados. O Poder Público traçou metas a serem atingidas com a implantação desses projetos. Quando haverá uma avaliação e o que se espera alcançar de resultados positivos nesse período de tempo? O poder público, através do PDE, traçou metas para o País como um todo. No caso de Campinas, espera- se que algumas metas, ou seja, que toda criança de oito anos saiba ler e escrever e a diminuição da evasão, sejam atingidas até o final de 2009. As avaliações serão realizadas pela Prova Brasil em 2009 e pela Prova Campinas, em abril de 2010. Nesses primeiros meses de implantação do programa, quais têm sido as maiores dificuldades enfrentadas? As maiores dificuldades foram aquelas oriundas dos dispositivos legais para a constituição de convênios com entidades privadas e mesmo com as outras Secretarias da própria Prefeitura. Quantos alunos matriculados nas seis unidades escolares serão beneficiados pelo programa? Serão beneficiados 4.978 alunos.
PARCEIROS
Ricardo Lima
Comitê Sindicatos e Comitê
Sindicato e Poder Judiciário se reúnem para discutir violência nas escolas
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ois Comitês – Sindicatos e Poder Judiciário – uniram forças neste primeiro semestre para avaliar em conjunto estratégias de combate a um inimigo que vem se infiltrando pelos ambientes escolares e assusta estudantes, corpo docente, funcionários e direção das instituições de ensino: a violência. Os dados de uma pesquisa inédita sobre atitudes violentas contra professores e depredação em escolas públicas foram divulgados no mês de junho em encontro de trabalho ocorrido na Fundação FEAC. O estudo, realizado entre os meses de abril e maio deste ano pela subsede Campinas do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) entre professores da rede estadual de ensino, mostrou dados alarmantes. Os 580 questionários respondidos revelaram que nada menos do que 24% dos professores já haviam sido vítimas de violência física na escola. Outros tipos de agressões também foram mencionados pelos docentes: 43% disseram ter sido alvos de palavras de baixo calão; 30% sofreram agressões verbais e 20% declararam ter passado por humilhações no ambiente escolar. Além da violência contra os próprios profissionais, a pesquisa constatou a ocorrência de danos materiais
em bens pertencentes aos docentes. Os alvos preferidos da violência são os carros dos profissionais. Dentre aqueles que responderam já terem tido algum bem danificado, 42% apontam o próprio carro como alvo. Em seguida, vêm os livros – 30% dos professores tiverem seus livros avariados – e os aparelhos celulares, sendo apontados por 8% dos docentes. A pesquisa englobou ainda questionamento aos professores sobre aquilo que eles julgavam ser as possíveis causas de toda essa violência. No olho do furacão aparece a família, já que “estrutura familiar” e “educação na família”, os dois itens que aparecem em primeiro e segundo lugares na pesquisa, respectivamente, foram, juntos, apontadas por 31% dos professores como causas da violência. Em seguida, surge “impunidade”, lembrado por 11% dos profissionais. Apesar dos dados assustadores trazidos pela pesquisa, o secretário geral da Apeoesp, Fábio Santos de Moraes, fez questão de ressaltar que, apesar da gravidade da situação, é preciso não perder de vista aquela que ele considerou a maior violência dentro das escolas. “A maior das violências ocorridas nas escolas públicas ainda é a não-alfabetização das crianças e jovens”, afirmou.
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Poder Judiciário Membros do Comitê Sindicato APEOESP Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Campinas
Membros do Comitê Poder Judiciário Vara da Infância e Juventude de Campinas (VIJ) Fórum de Campinas
Justiça restaurativa Implantar a justiça restaurativa nas escolas da rede pública como método de resolução de conflitos foi a proposta trazida ao Compromisso de Campinas pela Educação pelo Juiz de Direito da Vara da Infância e Juventude, Dr. Richard Pae Kim. Logo após a apresentação dos resultados da pesquisa realizada pela subsede Campinas da Apeoesp sobre a violência nas escolas, o juiz Richard Kim apresentou, na Fundação FEAC, o projeto “Justiça & Educação – Novas Perspectivas”, proposto e organizado pela Vara da Infância e Juventude de Campinas (VIJ) em conjunto com o Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA). Atualmente, o projeto já está implementado em seis escolas da rede pública municipal de ensino - uma em cada região administrativa de Campinas - e envolve 30 educadores, além de juiz, promotora de justiça, defensor público, técnicos da VIJ, membros da Comissão de Medidas Sócio-Educativas do CMDCA e conselheiros tutelares. O grande desafio do projeto consiste em encontrar meios para solucionar a violência sem focalizar as pessoas da “vítima” e do “agressor”, mas atacando as causas que provocaram os conflitos e envolvendo a comunidade na compreensão e superação dos problemas. A idéia da “justiça restaurativa” surgiu em 2005, em São Caetano do Sul (SP). Naquela cidade, em apenas 18 meses de funcionamento, mais de 600 pessoas foram atendidas, com índices de acordo de 98%, dos quais 95% foram cumpridos. Em linhas gerais, o projeto prevê que se crie nas escolas aquilo que seus idealizadores chamam de
“círculos restaurativos”, ou seja, espaços de diálogo e de resolução não-punitiva de conflitos, por meio de acordos definidos em conjunto pelas partes envolvidas. A intenção é fortalecer a capacidade de as escolas funcionarem de maneira sistêmica, em rede com outras organizações e instituições da comunidade, em especial o Fórum e o Conselho Tutelar, para garantir os direitos básicos das crianças, adolescentes e familiares. “Acreditamos que, juntas, Justiça e Educação são forças poderosas na construção de uma cultura de paz, com escolas seguras, cuja influência ultrapassa seus muros e transforma as comunidades em que se encontram em células educativas”, afirma o juiz. “Precisamos buscar a articulação da rede de atendimento à família e ao adolescente em conflito com a lei e promover a mobilização comunitária, inclusive pelo reforço de laços comunitários informais, como de vizinhança e amizade”. Ainda de acordo com o juiz, as ações propostas no projeto contribuirão para que sejam disseminados, para toda a unidade escolar, os princípios de diálogo, respeito mútuo e construção colaborativa de acordos, que fundamentam os círculos restaurativos e produzem uma escola segura. As ações propostas dentro dos círculos restaurativos pretendem, inclusive, refletir-se no sistema judiciário. “A mudança ocorrerá na medida em que os agentes judiciários passarem a adotar os princípios da justiça restaurativa, encaminhando casos para resolução em círculos restaurativos”, explica o juiz. “Isso evitará a estigmatização que o envolvimento do jovem com a Justiça lhe traz”.
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PARCEIROS
Comitê Políticas Públicas
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uas propostas mobilizaram a atenção do Comitê Políticas Públicas Estaduais neste primeiro semestre de 2008. Apresentados por instituições de peso no cenário nacional quando o assunto é educação, os projetos vêm sendo analisados por membros deste Comitê, formado por docentes, diretores e supervisores da rede estadual de ensino. Trata-se dos projetos Gestão para o Sucesso Escolar, uma iniciativa da Fundação Lemann, e Parceiros da Educação, desenvolvido por um grupo de empresários que decidiu levar à educação seu
know how em administração de recursos e gestão de negócios. Tanto um quanto outro propõem ações que possam melhorar a qualidade do ensino público e impactar positivamente o desempenho dos estudantes. Caso as propostas sejam consideradas viáveis pelo Comitê Políticas Públicas Estaduais, o CCE pretende apresentá-las ao Comitê Empresas para que a parceria poder público/iniciativa privada possa efetivar-se com o envolvimento e a anuência necessários de ambas as partes.
Membros do Comitê
Diretoria de Ensino Leste
Diretoria de Ensino Oeste
E.E. Culto à Ciência
E.E. Cidade Satélite Íris II
E.E. Prof. Benedito Sampaio
E.E. Prof.Carlos Alberto Galhiego
E.E. Regina Coutinho Nogueira
E.E. Prof. Luiz Galhardo
E.E. Prof. Dr. Carlos Araújo Pimentel
E.E. Dr. Enéas Cézar Ferreira
E.E. Monsenhor Luis Gonzaga de Moura
E.E. Prof. Dr. Norberto de Souza Pinto
E.E. Trinta e Um de Março
E.E. Residencial São José
E.E. Profª. Ana Rita Godinho Pousa
Gestão para o Sucesso Escolar (GSE) Apontado pela própria Fundação Lemann como o “mais bem-sucedido investimento realizado pela Fundação até o momento”, o GSE comemorou seu quinto aniversário no final de 2007 com dados surpreendentes. Todas as avaliações a que o programa foi submetido mostraram que o GSE não só apresenta impacto positivo e mensurável no aprendizado dos alunos em apenas um ano letivo, como também leva as escolas que dele participam a continuar se desenvolvendo em um ritmo mais rápido que seus pares não-participantes. “Para a Fundação, o grande medidor do sucesso do projeto é a evolução do desempenho dos estudantes nas avaliações externas a que são submetidos, como o Saeb, o IDEB, o Saresp, entre outros”, salienta a diretora executiva da Fundação, Ilona Becskeházy. Até o final de 2007, cerca de 600 diretores de escolas públicas haviam passado pelo programa, que beneficiou mais de 350 mil alunos, em 207 municípios, tão díspares quanto a pequena Maracanaú,
no Ceará, e São Paulo, a maior cidade do País. Em linhas gerais, o programa está centrado em um curso on-line destinado a diretores de escolas públicas, com o objetivo de fortalecer o papel desses profissionais como líderes pedagógicos, garantindo impacto positivo na aprendizagem e no desempenho escolar dos alunos. O GSE aborda questões como qualidade da escola, liderança, planejamento, aprendizagem, abordagem para a diversidade e aproximação dos gestores com a comunidade. Tudo isso dividido em cinco módulos. O programa é realizado na modalidade de ensino à distância, pela internet, intercalado por encontros presenciais com a equipe de tutoria. Dessa forma, os participantes praticamente não precisam se afastar de sua unidade escolar nem de suas equipes. No final do curso, os profissionais podem permanecer conectados à rede virtual do GSE. A idéia é que a troca de experiências e conhecimentos e o acesso a novos conteúdos possibilitem uma atualização permanente.
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Estaduais Parceiros da Educação Com o objetivo de tornar a escola brasileira um modelo de eficiência e de resultados, formando cidadãos mais qualificados para os desafios de hoje e do futuro, o programa Parceiros da Educação contabilizava, até maio de 2008, 64 escolas-parceiras. Até o final deste ano, a meta é atingir 100 escolas e até 2010, cerca de 500. Basicamente, o programa prevê que um empresário assuma a parceria com uma escola pública e ofereça-lhe apoio financeiro e gerencial com foco na pedagogia, na infra-estrutura, na gestão escolar e na integração comunitária. Os criadores do projeto, entretanto, salientam que embora haja melhorias e investimentos em infraestrutura e manutenção, a meta final é sempre a melhoria da qualidade de ensino e da aprendizagem. Para isso, propõem algumas ações que passam ao largo do conceito de assistencialismo e fazem com que professores, direção, pais e alunos sejam sujeitos ativos das mudanças pretendidas. Todas as melhorias julgadas necessárias, por exemplo, são negociadas na escola e os investi-
mentos devem ser “conquistados” por professores, pais e alunos. Isso porque o programa tem como uma de suas premissas básicas que, quanto maior a participação dos pais na questão pedagógica, maior o impacto no aproveitamento escolar dos alunos. Daí a necessidade de um fortalecimento de vínculo entre empresário e escola. Esse estreitamento de laços faz-se através da figura do “facilitador”, ou seja, um profissional da educação treinado pelos dirigentes do projeto, que se responsabiliza pela condução do dia-a-dia da parceria na escola em nome do empresário. Em um dos cases do programa, no período de um ano de apoio pedagógico aos professores e coordenador pedagógico de uma escola estadual na cidade de São Paulo, a parceria melhorou em mais de 15 pontos a média das notas das terceiras e quartas séries no Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar de São Paulo). Na mesma escola, a parceria conseguiu diminuir o número de analfabetos funcionais de 24 alunos na oitava série no início de 2006 para zero ao final de 2007.
ClickIdéia Em junho, o Comitê Políticas Públicas Estaduais teve também a oportunidade de conhecer o portal Clickidéia, um site desenvolvido com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Fazendo uso dos recursos de informática, o portal (uma espécie de site da Internet, diferenciado pelo agrupamento de conteúdos) foi criado com o objetivo de disponibilizar recursos, ferramentas e suportes para facilitar a atividade de professores e alunos do ensino fundamental e médio. Constantemente atualizado por uma equipe de mestres e doutores de cada área do conhecimento, o conteúdo é produzido de acordo com os parâmetros oficiais do MEC e concebido para uso via web. Ao digitar o endereço eletrônico do Clickidéia, alunos e professores terão acesso aos diversos conteúdos de cada série, em todas as disciplinas, que são apresentados em formatos diversos. Por todo o portal, distribuem-se hiperlinks que podem direcionar os usuários a uma notícia atual sobre determinado tema, a um texto curioso sobre o assunto ou ainda a uma atividade lúdica. O portal oferece também sugestões de avaliações para alguns conteúdos e o Baú de Idéias, uma ferramenta
que permite a alunos e professores criarem seus próprios trabalhos e os disponibilizarem na rede para que outros estudantes possam acessá-los e conhecêlos. Para os profissionais que não se sentem à vontade diante dos computadores, o Clickidéia oferece ainda cursos de capacitação que permitem aos professores a utilização de todos os recursos fornecidos pelo portal. Tanto o programa Parceiros da Educação quanto o Clickidéia poderão ser, posteriormente, apresentados e avaliados pelo Comitê Empresas em relação à viabilidade de ambos como ações a serem empreendidas pelo CCE.
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PARCEIROS
Comitê Empresas
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o Comitê Empresas, os jovens trainees do Leadership Program da Câmara Americana de Comércio continuam seu trabalho de buscar novas empresas que se unam à luta pela educação de qualidade em Campinas e façam sua adesão ao CCE. Criado pela Câmara Americana de Comércio (Amcham), o Leadership Program seleciona anualmente uma equipe de jovens universitários e os submetem a um treinamento intensivo com o intuito de prepará-los para o competitivo mundo dos negócios. Esses trainees, adotando a expertise da Amcham em prepará-los para a atuação comercial, assumiram como missão fechar adesões de empresas para o CCE. Para preparar e treinar os 14 jovens destacados para as visitas às empresas, a coordenação-executiva do CCE recebeu-os nos dias 3 e 4 de abril. Também em abril, esteve presente em Campinas, a convite do CCE, o doutor em Economia pela Universidade de Londres, Naércio Aquino Menezes Filho, professor titular do IBMEC São Paulo, professor associado da Universidade de São Paulo (USP), diretor de pesquisas do Instituto Futuro Brasil e consultor da Fundação Itaú Social. O professor esteve na cidade com o objetivo de debater o tema “Os desafios da educação de qualidade para uma nação em busca de prosperidade” junto aos empresários de Campinas. Menezes apresentou aos presentes uma pesquisa realizada pelo Instituto Futuro Brasil, cujos resultados destroem alguns mitos comumente relacionados à baixa qualidade do ensino brasileiro. Um deles é o de que o salário do professor, muitas vezes apontado como o vilão da história, parece não ser fator preponderante na rede pública. Ou seja, salários maiores ou menores não se refletem necessariamente em bom ou mau desempenho dos
professores. Outro mito bastante difundido é o de que a disponibilidade de computadores na escola melhoraria a performance dos estudantes. A pesquisa mostrou, entretanto, que não há qualquer correlação entre desempenho dos alunos e número de computadores existentes na escola. Dentre os fatores que parecem realmente ter influência direta na performance dos estudantes, o professor destacou apenas três: variáveis dos próprios alunos (ou seja, cor, sexo, idade, repetência, tempo de préescola, trabalho), grau de escolaridade da mãe e acesso a material de leitura dentro da própria casa. No ambiente escolar, outras surpresas. A pesquisa mostrou, por exemplo, que dispor de recursos financeiros para serem aplicados em infra-estutura impactam bem menos do que se imaginava. Em compensação, o desempenho de alunos e professores é positivamente afetado quando se observa na escola uma liderança efetiva que crie um clima propício para o aprendizado. Ainda de acordo com o estudo, a motivação dos professores nasce não apenas de bons salários, mas também do acesso a uma boa formação, da disponibilidade de material didático adequado e do incentivo da direção pela busca da excelência. Por parte dos alunos, as condições sócio-econômicas e o desenvolvimento prévio de suas habilidades cognitivas e não-cognitivas parecem também interferir diretamente no rendimento escolar. Assim, melhorar a gestão do sistema público de ensino, introduzir um sistema de incentivos para retenção e motivação do professor, aumentar a participação dos pais e, conseqüentemente, a pressão por um ensino de melhor qualidade talvez sejam as políticas educacionais que alcancem os melhores resultados, concluiu o professor Menezes.
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Ricardo Lima
Naércio Menezes em encontro que reuniu empresários
Núcleo de “ignição” Vale ressaltar ainda que é dentro do Comitê Empresas que se encontra o núcleo de “ignição” do CCE. Graber, DPaschoal, CPFL Energia, Iguatemi Campinas e Bosch foram as primeiras empresas a acreditar no projeto, formando, assim, o núcleo inicial que passou a contribuir com o projeto, inclusive financeiramente. Não menos importante dentro deste Comitê foi a
adesão das entidades de classe como IBEFCampinas (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças), CIESP-Campinas (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), AMCHAM-Campinas (Câmara Americana de Comércio) e ACIC (Associação Comercial e Industrial de Campinas) que, juntas, formaram uma rede a serviço do Compromisso de Campinas Pela Educação.
Membros do Comitê Graber DPaschoal CPFL Energia Iguatemi Campinas IBEF-Campinas (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças) CIESP-Campinas (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) AMCHAM-Campinas (Câmara Americana de Comércio) ACIC (Associação Comercial e Industrial de Campinas) Transurc – Associação das empresas Onicamp e VB Transportes e dos consórcios Urbcamp e Concicamp Vista Multimídia Produção de Vídeos e Comunicação Digital Master Minds Investimentos
Comitê Instituições Religiosas
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ada a sua importância junto às comunidades, os líderes religiosos serão, em breve, convidados pelo CCE a auxiliar na “qualificação da demanda”. Ou seja: líderes de todas as comunidades religiosas poderão unir-se ao Compromisso para ajudar a conscientizar pais e familiares dos estudantes sobre a importância de sua participação efetiva na vida escolar de suas crianças e jovens. Para sistematizar este processo, uma equipe orientada pela coordenação de comunicação do CCE prepara uma cartilha que deverá ser distribuída entre os líderes
religiosos para apoiá-los no desenvolvimento de discurso capaz de chamar a atenção das famílias para a problemática da educação pública. Esta cartilha deverá conter tópicos sugerindo às lideranças formas de abordagem, ações e dinâmicas que sejam capazes de sensibilizar pais e familiares. A intenção do CCE é ampliar cada vez mais o envolvimento das comunidades no processo educativo, uma vez que já está devidamente comprovado que o aumento no aproveitamento escolar dos alunos é diretamente proporcional à participação dos pais na questão pedagógica.
Membros do Comitê Arquidiocese de Campinas COMPEC – Conselho Municipal dos Pastores Evangélicos
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PARCEIROS
Comitê Instituições de Ensino Superior Fotos Ricardo Lima
Reitor José Tadeu Jorge: liderança no Comitê Instituições de Ensino Superior
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m grupo de trabalho criado dentro do Comitê Instituições de Ensino Superior prepara para o segundo semestre deste 2008 um seminário regional que pretende colocar em discussão a carreira docente, tópico considerado peça-chave para a melhoria na qualidade do ensino. Dentre os problemas mais graves a serem abordados está a falta de candidatos aos cursos de Licenciatura. A queda no número de profissionais formados pelas universidades nesta área preocupa os reitores. Eles acreditam que, sem a disponibilidade de recursos humanos para intervir na educação, não há investimento financeiro capaz de reverter o quadro da notória baixa qualidade do ensino brasileiro. Creditando a baixa procura pelos cursos de Licenciatura à desvalorização por que passa a figura do docente no País, os idealizadores do seminário pretendem colocar em pauta a discussão de ações que possam mudar este cenário. Liderado pelo reitor José Tadeu Jorge, da Universidade
Pró-reitor da PUC-Campinas, Prof.Rigacci Júnior: líder-parceiro neste Comitê
Estadual de Campinas (Unicamp), e Germano Rigacci Júnior, pró-reitor de graduação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), o Comitê Instituições de Ensino Superior reúne representantes das mais importantes universidades de Campinas. Por consenso, durante a primeira reunião de trabalho, os membros deste Comitê constataram a necessidade de reunirem-se com representantes dos poderes públicos municipal e estadual a fim de discutirem quais são as maiores dificuldades enfrentadas pelos gestores públicos e, com base nisso, definirem ações que contribuam para mudar o cenário da educação na cidade de Campinas. A reunião com o secretário municipal de Educação aconteceu em julho e o encontro com a secretária estadual de Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, está agendado para setembro. Cada membro do Comitê responsabilizou-se por gerar diagnósticos pertinentes para que as ações do grupo tenham uma direção única.
Membros do Comitê UNICAMP
FAJ-Policamp
PUC-Campinas
USF – Universidade São Francisco
Metrocamp
Mackenzie
Faculdades Flemming
Expediente CE
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O Boletim Informativo do Compromisso de Campinas pela Educação (CCE) é uma publicação especial a cargo da coordenação-executiva e de comunicação do movimento sob responsabilidade do Departamento de Marketing da FEAC. Redação: Maristela Tesseroli (Mtb 22.541) • Jornalista Responsável/Coordenação de Comunicação: Vanessa Taufic (Mtb 39.186) • Assessoria Executiva CCE: Virgínia Sanches • Coordenação-Executiva CCE: Arnaldo Rezende Produção: Fábrica de Idéias
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