A construção da boneca

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A CONSTRUÇÃO DA BONECA Por Josiene Muniz 1º dia Hoje conversei com as crianças sobre a nossa Mostra de Arte. Perguntei quem já tinha ido a uma exposição, e quase todos disseram que não. Duas crianças disseram que viram na televisão uma exposição com quadros na parede. Fomos conversando, e eu falei de como era importante mostrar para os outros o que nós produzíamos, parecido com o que fazíamos na sala, na hora da apreciação dos trabalhos. E eles toparam! E foram logo perguntando se poderíamos pintar quadros. Falei que sim, e iríamos fazer isso, mas também estávamos precisando de uma boneca ou boneco para dar as boas-vindas na entrada, para as pessoas que viriam ver os trabalhos da exposição. Ah, adorei a imaginação dos meus pequenos! E listamos juntos tudo o que íamos precisar: jornais, fita crepe, cola...

2º dia Cheguei munida de jornais, fita-crepe e cola e os convidei para a roda. Mais ninguém tinha conseguido jornal... Falei que faríamos bonecos com jornais e, conversando e conversando, surgiram muitas dúvidas quanto ao tamanho. Lá fomos nós tirar o molde da cabeça mais alta e da mais baixa. Chegaram à conclusão de que era melhor não ser tão alto quanto o Elton e nem tão pequeno quanto a Evelyn.


Então propus a brincadeira do espelho: um observando o outro, tocando, sentindo. Depois trocavam de lugar. E aí foram representar uma figura humana no desenho. Agora, sim, as crianças estavam prontas para a produção do boneco. Exploramos o material enquanto eu demonstrava seu uso. Falei que era preciso fazer o boneco com bolinhas de papel amassado. Acho graça quando eles fazem essa carinha de “não acredito que isso vai dar certo”, e logo vêm mil perguntas ao mesmo tempo: “E a cabeça, vai ser pequenininha assim? E vai ficar solta? E vai ter várias cabeças?” – estes foram alguns dos questionamentos. E foram surgindo as bolinhas. Montamos a cabeça com as bolinhas amassadas enroladas em jornal e fita-crepe. Eles riam e se divertiam com a transformação. 3º dia Continuamos a produção. Na rodinha, conversamos sobre o dia anterior e combinamos de fazer o pescoço, os braços e as pernas. Demonstrei como usaríamos o jornal (torcendo). Dividimos os grupos, e cada um ficou responsável por sua parte. Assim começamos. Desta vez os comentários foram: “Depois a gente passa fita, como na cabeça, né?”, “Mas não pode deixar o braço muito gordo não!”, “Vamos dividir as tirinhas para os dois braços, né?”. Depois de muito trabalho e muita folia, começamos a montagem. Eles juntavam as tiras torcidas e analisavam se já era suficiente, se estava fino ou gordo demais. Demoraram um pouco para chegar a um consenso. Quando fomos montar as pernas, as crianças perceberam que as tirinhas não seriam suficientes e ficaram um


pouco decepcionadas, mas ficamos de procurar mais jornais para continuar. 4º dia Para nossa tristeza, não conseguimos mais jornais. E agora? Usamos revistas, e fizemos o mesmo processo das tirinhas retorcidas. Deu mais trabalho, mas deu certo! Fizemos então a perna que faltava e o tronco com bolinhas amassadas. E juntamos tudo! Nosso boneco agora parecia mais verdadeiro, como disseram as crianças. Na hora do recreio... alegria! Tia Paula chegou com mais jornais. Conversamos sobre a necessidade de deixar nosso boneco mais firme, mais resistente. Tio Humberto recortou tiras largas do jornal e diluiu a cola com um pouco de água. As crianças quiseram participar daquela “molhação”, como disse a Gabrilany. E assim papelamos, papelamos e papelamos!!! Nosso boneco estava tomando forma. Agora era aguardar secar! 5º dia Na roda foi aquela inquietação! Discussão para saber se o boneco ia ser menino ou menina. Perguntei como achavam que podíamos resolver. “Vamos fazer outro!”, uma das crianças falou. “Ah, não, vai ser menino.” E todos os meninos gritavam: “Menino! Menino!”. As meninas reagiram logo gritando também: “Menina! Menina!”. Sugeri fazer um sorteio, já que não dava para fazer outro, pois não tínhamos mais jornal. Depois de muita discussão, toparam e... DEU MENINA!


Fomos então pensar nos cabelos e na roupa. Fizemos os cabelos, colamos e começamos a pintura. Depois que a pintura secou, desenharam o rosto (cada um fez um pedacinho, porque todos queriam participar). Colocamos a roupa e a tiara na cabeça. O sapatinho caía a toda hora, e decidimos deixar sem ele. Quando terminamos, todos vibraram! “Tá linda, tia! Olha como ela ficou, linda demais!” Eles estavam orgulhosos e foram abraçando a boneca. E o Artur foi querendo logo a confirmação: “Ela vai dizer mesmo bemvindos lá na frente, não é?”. Nossa boneca não tinha nome, mas crianças da turma da manhã deram um nome para ela, e a nossa turminha aceitou. Com vocês, a Maria Joaquina.






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