Projeto galinhas

Page 1

[PROJETO GALINHAS] Autoria: Carla Jamile e Elisângela Rocha Função: Coordenadoras Pedagógicas Instituição: Escola Municipal Emaús Município: Camaçari - BA

“A importância de uma coisa não se mede com fita métrica, nem com balanças, nem barômetros, etc. (…) a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.” (Manoel de Barros) À luz dessa fala de Manoel de Barros trazemos o encantamento despertado através da prática da professora Patrícia, com os alunos do Grupo 5 na Escola Emaús. Como expresso no caderno de experiências Assim se Explora o Mundo, o frescor do olhar das crianças “leva à produção de questões que são preciosas fontes de pesquisa” (p. 8). E assim ocorreu com esta turminha, que está estudando sobre as galinhas, conforme nos relata a professora, e que agora iremos compartilhar: Diante das perguntas das crianças sobre como nascem os pintinhos, conversamos e resolvemos construir um ninho na sala de aula (faz de conta). Para esta atividade sugeri que dividíssemos a turma em dois grupos: meninos e meninas. Mas eles não aceitaram, disseram que poderiam ser dois grupos, com meninos e meninas misturados nos dois grupos. Sugeriram que cada grupo tivesse um líder e que a professora anotasse no quadro os nomes de quem queria ficar no grupo 1 de um lado e do grupo 2 do outro lado. Assim fizemos. Depois de formar os grupos saímos então para a área externa da escola para colher material para a construção dos ninhos. As crianças se divertiram bastante e selecionaram muito bem os materiais, encontraram até um pé de licuri, com frutinhas ainda se formando, e pegaram para fazer de conta que era o milho da galinha. Quando estávamos selecionando o material para o ninho, como folhas, gravetos, palhas secas e pedaços de pau, algumas crianças pegaram uns pedaços de paus muito grandes. Então eu fiz a intervenção dizendo para elas que aqueles pedaços de paus não serviam para os ninhos porque eram muito grandes. Neste momento uma criança disse: “Pró, a gente pode usar estes paus para fazer uma bandeira com o desenho de uma galinha e os nomes das crianças do grupo e colocar perto do ninho”. Concordei com eles, e então eles trouxeram os paus para a sala.


Ao chegar na sala com o material, foi uma festa. Cada grupo sentou em um canto da sala e mãos à obra. Foi muito lindo ver como eles se organizaram e conseguiram colocar em prática o que estudaram e conversaram na rodinha. Após construírem os ninhos, cada criança pegou a galinha e o ovo que eles construíram e colocaram pra chocar. No final da atividade, uma criança olhou pra mim e falou: “Pró, eu gostei muito dessa aula hoje, viu!”. Agora estamos observando (no faz de conta) o desenvolvimento embrionário do ovo, que leva 21 dias para acontecer. Todos os dias marcamos no calendário e contamos quantos dias ainda faltam para o pintinho nascer. E o mais legal é que conseguimos uma galinha choca de verdade e teremos o privilégio de observar o desenvolvimento e o nascimento dos pintinhos na escola. (Relato da professora Patrícia, Grupo 5) A prática realizada, seguindo a orientação e fundamentação da pedagogia de projetos, favorece a participação das crianças no processo de ensino e aprendizagem partindo de uma curiosidade, indagação e questionamento dos alunos. Os projetos permitem criar, sob forma de autoria singular ou de grupo, um modo próprio para abordar ou construir uma questão e respondê-la (BARBOSA, 2008, p. 31). Delinear este percurso pedagógico e curricular viabiliza um caminho prazeroso e surpreendente, principalmente com as crianças da educação infantil. Com a turma da professora Patrícia percebemos que a atividade proporcionou às crianças a construção de um conhecimento a partir de um trabalho coletivo, em que as crianças têm a oportunidade de sair da sala, criar, trocar informações advindas do seu cotidiano e, em grupo, realizarem de forma criativa a construção do lugar em que os pintinhos nascem, preparando por meio do faz de conta a reflexão sobre como nascem estes animaizinhos, e acompanhar o desenvolvimento e nascimento do pintinho (que será relato aqui em outro momento). Como nos diz Barbosa, “Um projeto é uma abertura para possibilidades amplas de encaminhamento e de resolução, envolvendo uma vasta gama de variáveis, de percursos imprevisíveis, imaginativos, criativos, ativos e inteligentes, acompanhados” (BARBOSA, 2008, p. 31). Quando o professor permite que as crianças sejam autoras no processo, resolvam com autonomia e mediação as questões a que se propõem, no estudo realizado em grupo as possibilidades se ampliam e se flexibilizam.


A professora, no momento em que concordou que os alunos levassem os pedaços de paus, por exemplo, para a sala de aula, oportunizou que a criança seja vista como um sujeito ativo no processo de aprendizagem, que seja vista, como nos fala Barbosa: “Como um ser capaz, competente, com um imenso potencial e desejo de crescer. Alguém que se interessa, pensa, duvida, procura soluções, tenta outra vez, quer compreender o mundo a sua volta e dele participar, alguém aberto ao novo e ao diferente. (...) de protagonistas das suas aprendizagens, de aprender em sala de aula, para além dos conteúdos, os diversos procedimentos de pesquisa, organização e expressão dos conhecimentos” (BARBOSA, 2008, p. 87-88). Na divisão dos grupos e utilização dos pedaços de paus, mesmo os grandes, as crianças participam, opinam, discordam e protagonizam a participação e expressão de ideias na realização da atividade. Percebemos que a educadora vem construindo na turma uma prática que descentraliza o “poder” e o saber, e sai do espaço de centro do processo de ensino/aprendizagem, realizando de maneira lúdica e criativa as ações no Projeto Galinhas, que surgiu nas rodinhas de conversas e que a partir do diálogo com o grupo tornou-se interesse de todos. Nas ações e reações das crianças percebemos que ambos têm a liberdade de agir e de construir novos conhecimentos utilizando várias linguagens e materiais. O papel dos professores nesses casos é evidente: planejar situações significativas, enriquecedoras, que instiguem, estimulem a curiosidade das crianças e as façam se interessar pelo mundo que as cercam, buscando compreendê-lo. A qualidade desta mediação tem um papel fundamental para que estas experiências sejam possíveis: escutar as crianças, estar sensível às suas indagações, permitir que formulem hipóteses e apoiálas para que busquem respostas para suas perguntas são algumas características importantes do professor de educação infantil. As crianças aprenderão com e sobre o mundo físico e social à medida que agem sobre ele, e não ficando quietinhas, ouvindo um discurso vindo do adulto. (CADERNO DE ORIENTAÇÕES ASSIM SE EXPLORA O MUNDO, p.17).


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.