Revista Parana Faz Ciência - Edição 1

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Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e Fundação Araucária - Ano 1 - Nº 01 - Outubro 2013 - Distribuição Gratuita

Células-tronco: pesquisas apontam para novos e eficientes tratamentos pág. 16

Cerca de 25 bilhões contribuem para novo ciclo de desenvolvimento econômico no Paraná pág. 28

Acessibilidade avança com projetos desenvolvidos em universidades pág. 22


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PARANÁ FAZ CIÊNCIA


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ÍNDICE

ENTREVISTA 8 O BRASIL NO CAMINHO DA CIÊNCIA

PESQUISA 11

ENFRENTANDO OS DESAFIOS DO CLIMA

SUSTENTABILIDADE 14 LIXO VIRA SOLUÇÃO

TECNOLOGIA 34 PTV PARANÁ

CT&I 36

FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA

MEIO AMBIENTE 38

PROJETO INÉDITO PARA RECUPERAR FAUNA PESQUEIRA

CAPA

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NOVAS POSSIBILIDADES DE CURA PELA REGENERAÇÃO COM CÉLULAS-TRONCO

ACESSIBILIDADE 22 PESQUISAS CONTRIBUEM PARA A INCLUSÃO

ARTIGO 26

ALTO IMPACTO E INOVAÇÃO NO DIÁLOGO UNIVERSIDADE-EMPRESA

INVESTIMENTOS 28 PARANÁ RECEBE CERCA DE R$ 25 BILHÕES EM INVESTIMENTOS

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ENERGIA 40

ENERGIA NUCLEAR: BRASIL, UM PASSO À FRENTE


Governo do Paraná

PALAVRA DO GOVERNADOR

S

DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E CIENTÍFICO É PRIORIDADE DE GOVERNO

empre foi muito claro para mim que o conhecimento faz a diferença entre o subdesenvolvimento e o desenvolvimento sustentável, é um meio para se acabar com a miséria e a dependência das pessoas, um instrumento de cidadania plena. Portanto, a ciência, a tecnologia, a inovação e o ensino superior, aliados aos outros patamares do setor educacional, inclusive do ensino fundamental e do técnico, já haviam sido definidos como prioridade absoluta desde meu plano de governo e assim continuam na prática.

O grande desafio que nos fora e nos é apresentado, entre outros, era e é o de avançar em nosso processo de desenvolvimento socioeconômico e cultural, tendo como fatores essenciais a inovação e a sustentabilidade. Com investimentos significativos, convênios com instituições públicas federais e estaduais, além de institutos e fundações, ou com a iniciativa privada, em parcerias possibilitadas pela Lei da Inovação (são R$ 300 milhões por ano para pesquisa e desenvolvimento da ciência e tecnologia), com ágeis mecanismos de colaboração, beneficiando as instituições de ensino superior e empresas, buscamos

incentivar a promoção de formação de recursos humanos para aprimorar, cada vez mais, o desenvolvimento científico e tecnológico no nosso Estado. Para se ter uma ideia, o Paraná atualmente é o Estado que, proporcionalmente, mais investe em ensino superior cerca de R$ 1,4 bilhão por ano nas universidades com recursos do nosso Tesouro. E igualmente ocorre nas áreas correlatas, inovação, ciência e tecnologia. O conteúdo desta publicação mostra como e por que o Paraná faz ciência. Beto Richa Governador do Paraná

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Governo do Estado do Paraná Beto Richa Governador Flávio José Arns Vice-Governador João Carlos Gomes Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Sueli Édi Rufini Coordenadora de Ciência e Tecnologia Diretoria da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná:

José Carlos Gehr Diretor Administrativo e Financeiro Janesca Alban Roman Diretora Científica Conselho Superior Presidente João Carlos Gomes Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná Membros Gerson Luiz Koch Representante da entidade formuladora das políticas de desenvolvimento em C&T para o Paraná Sérgio Scheer Representante do Conselho Paranaense de PróReitores de Pós-Graduação e Pesquisa – CPPG Omar Sabbag Filho Representante das entidades privadas da área da qualidade e produtividade do Paraná Waldemiro Gremski Representante das instituições privadas/ comunitárias de ensino superior do Paraná Júlio Cesar Félix Representante da comunidade tecnológica do Paraná Filipe Miguel Cassapo Representante do setor empresarial Florindo Dalberto Representante das instituições de pesquisa do Paraná Vitor Hugo Zanette Representante das instituições estaduais de ensino superior público Décio Sperandio Representante das instituições estaduais de ensino superior público João Carlos Gomes Representante das instituições estaduais de ensino superior público Antonio Carlos Morozowski Representante das instituições privadas/ comunitárias de ensino superior do Paraná Antonio Carlos Aleixo Representante da Associação Paranaense das Instituições de Ensino Superior Públicas – APIESP

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PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Revista semestral da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e da Fundação Araucária Projeto Editorial Fundação Araucária Comitê Editorial Ticiane Barbosa e Vanessa Barazzetti Assessoras de comunicação da Fundação Araucária Mário Sérgio Brum Jornalista Responsável (DRT-SC 769) Natália Nunez, Gisélle Araujo, Roberto Szabunia Reportagem e Redação Fotografia Tiago Walter Vera, Valterci Santos, Pesquisadores e Bancos de Imagens (shutterstock.com e cidadao.pr.gov.br) Projeto Gráfico e Editoração Guilherme Brum Edição e Produção GBR Assessoria de Comunicação DIREITOS RESERVADOS É proibida a reprodução total ou parcial de textos e fotos sem prévia autorização Fundação Araucária Av. Comendador Franco, 1341 – Jardim Botânico CEP 80215-090, Curitiba – PR www.fundacaoaraucaria.org.br www.fappr.pr.gov.br Tel. (41) 3218-9250/ (41) 3218-9267 Distribuição Gratuita Tiragem 5.000 exemplares Impressão Gráfica Nacional

Tiago Walter Vera

Paulo Roberto Brofman Presidente


EDITORIAL

A

Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e a Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná, lançam uma nova ferramenta de divulgação do conhecimento, a Revista Paraná Faz Ciência. O estado já teve, anteriormente, uma publicação científica em outro formato que deixou de existir. Dada a importância deste espaço, retomamos o projeto com uma nova proposta. O Paraná, quinto estado da federação em importância socioeconômica, dá exemplo no que se refere a investimento em ensino superior. Possui onze universidades públicas, sete estaduais e quatro federais, com mais de 120 mil alunos presenciais (três quartos deles estão nas instituições estaduais). Sem contar os cursos a distância, além de estudantes das universidades particulares e do Instituto Federal do Paraná. O estado conta com 264 programas de pós-graduação recomendados pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), com mais de onze mil alunos matriculados. São vá-

rios institutos de pesquisa com excelente produção científica. Desta forma é fundamental o investimento em ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Por isso, o Fundo Paraná e a Fundação Araucária, têm buscado usar o 1% da receita tributária destinado pelo estado ao setor, de forma transparente, participativa e com alcance social. Sempre baseado na meritocracia. É visível que os recursos estão muito aquém da demanda e do potencial do Paraná, daí a importância da busca constante por parcerias com agências de fomento federais, ministérios e parceiros estaduais, públicos e da iniciativa privada, para aumentar o volume de investimentos. Muito ainda precisa ser feito e, de acordo com o plano de governo, a CT&I fazem parte da estratégia prioritária do Estado. Muitos obstáculos precisam ser superados, como a desburocratização da pesquisa. E para atingir este objetivo, a união da classe acadêmica, dos pesquisadores e dirigentes é fundamental. Muitas ações já estão sendo realizadas, mas espera-se em breve, muitas novidades na área.

Paulo Brofman Presidente da Fundação Araucária

Nesta linha de ação, a Revista Paraná Faz Ciência, quer mostrar o que está sendo pesquisado, criado e desenvolvido no estado. A publicação estará aberta à coletividade interessada e espera uma participação ativa para, cada vez mais, mostrarmos regional e nacionalmente, a qualidade e a determinação, além dos benefícios sociais e econômicos, resultantes do trabalho destes paranaenses, natos ou de coração. Na primeira edição, a revista contextualiza o Paraná com relação à Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, ligando à apresentação do trabalho da Fundação Araucária. Além disso, assuntos relacionados à evolução de pesquisas que envolvem células-tronco; combustível nuclear; previsão de acidentes meteorológicos; sustentabilidade e acessibilidade também serão encontrados. Na revista Paraná Faz Ciência, as pessoas poderão conhecer um pouco mais sobre o Parque Tecnológico Virtual (PTV) e conferir uma entrevista com a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Helena Nader. Boa Leitura!

João Carlos Gomes Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

CARO LEITOR A Revista Paraná Faz Ciência está chegando para informar você, leitor, que a pesquisa e a tecnologia podem ser transformadas em produtos úteis para o seu cotidiano. O líquido de um tubo de ensaio pode evoluir para um remédio que contribua para a cura da AIDS, por exemplo.

O objetivo principal da publicação da Revista Paraná Faz Ciência é convidar pesquisadores, comunidade acadêmica, órgãos competentes, empresários e sociedade como um todo, para que participem da disseminação e construção de novos conteúdos ligados à ciência e tec-

nologia. Esse espaço é direcionado para você, leitor, para que dessa forma possa contribuir com ideias, sugestões e críticas. Para isso, temos os seguintes canais: Site e e-mail: www.paranafazciencia.com.br prfazciencia@fundacaoaraucaria.org.br PARANÁ FAZ CIÊNCIA

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ENTREVISTA

O BRASIL NO CAMINHO DA CIÊNCIA Presidente da SBPC diz que o Paraná começa a se destacar como um dos estados brasileiros que mais investem em CT&I doutorado e o defendeu em dezembro de 1974. Sua primeira ida aos Estados Unidos foi durante o ensino médio, quando realizou o último ano com bolsa do American Field Service (AFS) na Pensilvânia, recebeu bolsa para cursar a universidade nos EUA, mas resolveu voltar.

Retornou aos Estados Unidos para fazer pós-doutorado na University of Southern California como bolsista da Fogarty International Fellowship sob gestão do National Institute of Health (NIH). Novamente recebeu oferta para ficar, dessa vez trabalhando no Veterans Administration Hospital na California, e mais uma vez, optou por retornar ao Brasil. “Achei que lá eu seria mais um

e, que aqui, talvez pudesse ajudar na construção da ciência brasileira e dar um pouco do que recebi de volta ao meu país.” Associada da SBPC desde a graduação, nunca imaginou que um dia chegaria a ocupar o cargo que tem hoje na entidade. Seu nome foi indicado pelo Conselho da Sociedade para concorrer ao cargo de vice-presidente para a gestão 2007-2009. Em seguida ocupou o lugar do presidente, que se retirou para assumir outro cargo. “Fiquei muito emocionada quando a comunidade me deu a honra de ser eleita para o cargo de 1a vice-presidente e depois novamente para a gestão 20092011”. Hoje ela exerce o cargo como presidente eleita. A Paraná Faz Ciência convidou Helena B. Nader para falar sobre o cenário científico nacional, o papel da SBPC e o Fórum Mundial de Ciência 2013, que será sediado no Brasil.

a 57ª posição em educação básica e o 58º lugar em inovação, segundo classificação publicada em julho de 2012 pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual e pelo Instituto Insead, considerados como os mais completos “termômetros” do grau de inovação no mundo. Essas posições indicam a necessidade de aumento nos investimentos voltados para o desenvolvimento educacional,

científico e tecnológico nacional. Mas, os resultados dos estudantes brasileiros no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) estão muito abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), e os dados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) mostram que o desempenho dos nossos alunos em ciências vem caindo.

Banco de Imagens

P

ela segunda vez, a biomédica Helena Bonciani Nader, 65 anos, professora titular da Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal do Estado de São Paulo (EPM-Unifesp), ocupa o cargo de presidente da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. A entidade estimula o trabalho em defesa da ciência e da educação de qualidade, articula pesquisas científicas de interesse geral do país, facilita a cooperação entre os cientistas e promove a compreensão do público em relação à ciência e à tecnologia. A sólida trajetória profissional e sua experiência à frente da entidade lhe permitem uma visão clara da situação e perspectivas da ciência no país. Em 1967 ela passou no vestibular para o recém-criado curso de ciências biomédicas da Escola Paulista de Medicina, hoje Universidade Federal de São Paulo. Fez o Como é visto o Brasil no meio científico internacional? O Brasil é responsável por 2,7% da produção científica mundial. Em dez anos, o país, que hoje ocupa a sétima posição na economia mundial, subiu do 17º para o 13º lugar, segundo o ranking baseado nos artigos científicos publicados em revistas indexadas. Em algumas áreas do conhecimento, a ciência brasileira está acima desta média. E também de acordo com dados internacionais, o Brasil ocupa

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Em agricultura, por exemplo, estamos em primeiro. E em algumas áreas da medicina somos segundo ou terceiro colocados. Não é só no número de publicações científicas que o Brasil tem se destacado, mas também pela qualidade. Qual o papel do Paraná no cenário científico brasileiro?

Banco de Imagens

HELENA BONCIANI NADER

Em que áreas da ciência o Brasil mais se destaca?

O Paraná começa a se destacar como um dos estados brasileiros que fazem investimentos significativos em CT&I. De acordo com dados publicados recentemente na imprensa paranaense, os investimentos com ciência e tecnologia cresceram 82% nos últimos cinco anos, reflexo do aumento da arrecadação do estado. O recurso aumentou de R$ 164,2 milhões, em 2008, para R$ 299 milhões no ano passado. O Fundo Paraná, que por lei recebe 2% da receita tributária do estado para financiar pesquisas, universidades e outras instituições científicas, tinha previsão de aplicar inicialmente R$ 120 milhões em 2012, mas esse valor chegou a R$ 170 milhões. O Conselho Paranaense de Ciência e Tecnologia (CCT) aprovou recentemente investimentos de R$ 141 milhões para o setor em 2013. A Fundação Araucária de Apoio à Pesquisa (FAP) do Paraná, também tem aumentado seus investimentos em CT&I. No ano passado, ela disponibilizou cerca R$ 84 milhões. Para 2013 o orçamento ultrapassa R$ 100 milhões. Como se vê, as autoridades do Paraná perceberam a importância de investir em CT&I.

A Fundação Araucária tem aumentado seus investimentos em CT&I. No ano passado, ela disponibilizou cerca de R$ 84 milhões. Para 2013 o orçamento ultrapassa R$ 100 milhões. Como se vê, as autoridades do Paraná perceberam a importância de investir em CT&I. PARANÁ FAZ CIÊNCIA

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O fato de o Fórum Mundial de Ciência ser realizado pela primeira vez fora da Europa, tendo o Brasil como país escolhido para sediálo, nos coloca em destaque?

Banco de Imagens

É um privilégio e uma oportunidade ímpar para colocar nosso país no centro da ciência internacional. O Fórum Mundial de Ciência ocorrerá em novembro no Rio de Janeiro. Com o intuito de reverberá-lo pelo país, foram realizadas sete reuniões preparatórias – em São Paulo, Belo Horizonte, Manaus, Salvador, Recife, Porto Alegre e Brasília, nas quais se discutiu o papel da ciência, da divulgação e integridade científicas e educação, além de tópicos específicos em cada reunião.

Do que tratará o Fórum Mundial de Ciência 2013 “Ciência para o desenvolvimento global sustentável”? Os temas são atuais e fundamentais para a gestão da CT&I no país na era da globalização e da economia do conhecimento. Como uma das agendas no encontro, o Brasil pretende recuperar o debate em torno dos vínculos entre ética e ciência já realizado no Fórum de 2005. A ideia é concentrar o debate em torno dos imperativos éticos que devem nortear a produção do conhecimento. Todas as ciências – da natureza, exatas e da terra, biomédicas e humanidades – têm uma tarefa distinta a cumprir, não havendo hierarquia entre elas, assim como todos os países devem ter direito a usufruir plenamente dos benefícios do conhecimento e o dever de contribuir para o avanço da ciência, para o desenvolvimento e o progresso da humanidade.

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Quais são os objetivos deste encontro? O objetivo do evento é discutir e enfrentar os desafios que se impõem à humanidade em nossos tempos e a reafirmação do princípio da mobilização do conhecimento científico para essa tarefa. O encontro também vem para enfatizar a importância da pesquisa básica como fonte de conhecimento e alicerce fundamental de uma sociedade inovadora. O brasileiro, em geral, consegue ver alguma relação entre ciência e os impactos nas várias áreas do seu dia a dia e na sua qualidade de vida? O brasileiro, como a maior parte dos povos, não vê com clareza a ciência no seu dia a dia. Tanto que em todas as sociedades está se estudando como aperfeiçoar o diálogo do cientista com a população. E nós na SBPC, estamos buscando fazer isso de algumas formas, por exemplo, ampliando o diálogo com o estudante no ensino básico, ensino fundamental e com o professor. Nas nossas reuniões anuais ou regionais há um diálogo com a sociedade que está participando dos eventos, mas ainda estamos aquém do que seria importante e necessário. Em que estágio da formação educacional deve começar o estímulo à ciência? O estímulo à ciência deve ser dado desde a primeira infância, o quanto antes melhor. Hoje as crianças estão cada vez mais precocemente introduzidas às tecnologias, vemos crianças de 2 anos brincando com iPads e telefones celulares. Esse acesso precoce às tecnologias gera um descompasso entre aquelas crianças brasileiras que conseguem ter em um ambiente familiar e escolar o acesso e aquelas que não têm. Isso cria um desnível que se acentua ao longo dos anos. O MEC preconiza a implantação de uma pré-escola verdadeira, incluindo as creches, voltada para brincar e educar.

Para estimular o interesse pela ciência em seus alunos, as escolas precisam ter muitos recursos? Se pudéssemos ter laboratórios equipados seria o ideal, mas infelizmente a realidade brasileira não é essa. As escolas mais afastadas são as que deveriam ter laboratórios mais bem equipados. Durante uma reunião especial de ensino e atualização para crianças, adolescentes e professores, em Alcântara (MA), vimos que nem os professores tinham tido a oportunidade de conhecer um instrumento que é básico no dia a dia para quem ensina biologia, que é o microscópio - a emoção deles quando viram um foi enorme! Mas se não dá para ter um microscópio, podemos fazer alguns experimentos e tentar suprir essa deficiência. É difícil, mas dá. O que o Brasil mais precisa, no momento, em termos de ciência? Para um país que é a sétima economia do mundo e que pretende entrar no rol de países desenvolvidos, o nosso desafio ainda é enorme no que se refere à educação. Para enfrentar este desafio é fundamental aumentar o montante de recursos por meio de uma política de financiamento. As nações mais desenvolvidas investem em ciência e tecnologia para ampliar sua base de conhecimento e aumentar seu potencial de inovação, de modo a gerar mais emprego e melhorar a distribuição de renda. O que move um pesquisador científico a seguir em frente? A busca pelo saber, pelo desvendar, acreditar que vale a pena. Olhar para trás e ver tudo o que você já conseguiu e olhar para frente, para o futuro e ver que ainda há muito por fazer. Nós cientistas somos privilegiados, pois estamos sempre em contato com o novo: a vida não se repete, ela simplesmente se renova.


PESQUISA

ENFRENTANDO OS DESAFIOS DO CLIMA Banco de Imagens

Estudo multidisciplinar pioneiro antecipa impactos das mudanças climáticas no Paraná

O

planeta Terra está passando por um constante e inevitável processo de aquecimento. A temperatura média global deve elevar-se entre 1,8°C e 4°C, nos próximos 100 anos, segundo as projeções do IPCC – Intergovernamental Panel on Climate Change (órgão meteorológico nas Nações Unidas que avalia mudanças climáticas na terra). O clima influencia diretamente nas atividades estratégicas do ser humano, sua qualidade de vida e a sua própria sobrevivência. Por isso, planejar ações para minimizar os danos e, principalmente, adaptar-se a este fenômeno é fundamental. O Paraná já está se preparando para lidar com as adversidades que as mudanças climáticas podem causar nos próximos cem anos. Com o apoio financeiro da FINEP (Agência Brasileira de Inovação e Financiadora de Projetos, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), um grupo de instituições de pesquisas tecnológicas está realizando um tra-

balho multidisciplinar que desenvolveu um sistema que simula os impactos das mudanças climáticas globais sobre os setores agropecuário, florestal e energético nas próximas décadas no estado. O trabalho pioneiro reúne o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), a Fundação ABC, a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Embrapa Florestas e Embrapa Trigo, além de duas não paranaenses, a UNESP e a Embrapa/Trigo de Passo Fundo (RS). Saber com tanta antecedência e detalhadamente como o clima tende a se manifestar pode fazer muita diferença para a economia do estado, a qualidade de vida dos paranaenses e a conservação ambiental. A antecipação do panorama climático permite a adoção de medidas para, por exemplo, prevenir incêndios florestais, planejar plantios na área rural e, ainda, no setor energético, definir melhores locais e formas para a obtenção

de energia eólica e hidrelétrica. Outros estados já realizaram estudos esparsos similares, mas nunca envolvendo tantas áreas de pesquisa, nem considerando um período tão longo à frente. Este estudo é o maior, mais complexo e completo até hoje realizado no âmbito nacional, desenvolvido com grande número de informações históricas e ferramentas próprias para processá-las, chegando às projeções para os próximos cem anos. O objetivo é simular um ambiente climático adverso para as atividades humanas, planejando ações e soluções para problemas que podem vir à tona em decorrência das alterações do clima. Um estudo desta magnitude serve para disparar alertas na sociedade e despertar a preocupação de deixar um planeta melhor para as gerações que virão. Com base nele, tomadores de decisão como governo, cooperativas e instituições de pesquisa podem orientar suas políticas e iniciativas para conseguir reduzir os impactos e prejuízos. PARANÁ FAZ CIÊNCIA

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REUNINDO OS DADOS Para concretizar o projeto foi concebido e implementado um banco de dados para armazenar todas as informações. “São dados que se referem à chuva, temperatura, pressão, umidade, radiação so-

lar, velocidade e direção do vento captados nos registros existentes nos últimos 40 anos. Estes dados históricos foram coletados em estações meteorológicas por todo o estado”, conta o pesquisador

Flavio Deppe, do Simepar, o instituto responsável pela análise e interpretação dos dados meteorológicos e climatológicos simulados, também pela elaboração dos mapas com base nessas projeções.

Virgens Filho e de acadêmicos do curso de Engenharia da Computação. A iniciativa contou com o apoio da Fundação Araucária e do CNPq no financiamento de equipamentos e de bolsas de iniciação científica. Este software, além de simular dados diários de precipitação pluvial (chuva), temperatura do ar (máxima e mínima), umidade relativa do ar e radiação solar, possibilita ao usuário criar cenários climáticos. “Pode ser utilizado para preencher

dados ausentes em séries climatológicas históricas, dados que não foram medidos ou medidos incorretamente ou ainda não registrados por eventuais falhas ou quebras nos equipamentos de medição”, diz o coordenador. Os resultados podem ser usados de forma efetiva para planejar estratégias de plantio, cultivo ou substituição de determinadas culturas e ações que possam evitar enchentes em áreas urbanas e aproveitamento de energia eólica.

SOFTWARE Para trabalhar as informações deste estudo foi criado o software PGECLIMA_R - Gerador Estocástico de Cenários Climáticos, que simula séries de dados climáticos diários, baseadas em modelos probabilísticos a partir dos registros meteorológicos históricos. Esta ferramenta foi desenvolvida no Laboratório de Estatística Computacional e Aplicada – LECA, da Universidade Estadual de Ponta Grossa-UEPG, como projeto de pesquisa coordenado pelo professor Jorim Sousa das

ZONEAMENTO DE RISCO DE INCÊNDIO FLORESTAL - 2010 a 2020 - PIOR CENÁRIO

Fonte: UFPR - Setor de Ciências Agrárias Departamento de Ciências Florestais Laboratório de Incêndios Florestais

ZONEAMENTO DE RISCO DE INCÊNDIO FLORESTAL - 2010 a 2020 - MELHOR CENÁRIO

FÓRUM Para reforçar ações e estudos de monitoramento das mudanças climáticas, foi implantado no Paraná o Fórum Paranaense de Mudanças Climáticas Globais, formado por representantes de secretarias, autarquias e conselhos estaduais, Ministério Público, Assembleia Legisla-

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tiva, outros órgãos públicos, instituições de pesquisa e diversas entidades civis. O objetivo do Fórum, presidido pelo secretário do Meio Ambiente, Luiz Eduardo Cheida, é promover discussões sobre mudanças climáticas, com a integração de diferentes órgãos públicos, setores produtivos e a sociedade civil. No dia 23 de julho deste ano, os

representantes participaram de um workshop para discutir resultados das pesquisas que simulam o cenário das mudanças no clima do Paraná nos próximos cem anos. Os resultados também foram discutidos com os tomadores de decisão do Paraná, para subsidiar ações e políticas de estado nos setores de agricultura, floresta e energia.


CENÁRIO AGRÍCOLA “Espera-se a redução da ocorrência das geadas, diminuição no número de horas de repouso invernal das frutíferas e queda de potencial de rendimento de algumas culturas considerando as variedades atualmente disponíveis”, revela o pesquisador Paulo Henrique Caramori, do Iapar. O instituto, em uma parceria com a Fun-

dação ABC, além de fornecer registros de suas estações meteorológicas para o estudo, elaborou os cenários futuros de adaptação das culturas agrícolas aos ambientes modificados. Na agricultura, é possível planejar sistemas de produção mais sustentáveis, com melhor manejo do solo, reposição

florestal e redução da degradação. “Na pesquisa agrícola são necessários grandes investimentos em medidas de mitigação e adaptação, como o desenvolvimento de novas variedades de plantas adaptadas ao calor, cultivo em sistemas agroflorestais e silvipastoris”, acrescenta Caramori.

INCÊNDIOS FLORESTAIS Os pesquisadores Antonio Carlos Batista e Alexandre Tetto da UFPR – Universidade Federal do Paraná realizaram projeções sobre as ocorrências de incêndios florestais no estado ao longo dos próximos cem anos. A elevação do aquecimento da temperatura média e a proporcional diminuição das chuvas aumentam

os riscos deste tipo de ocorrência. O estudo levou em conta as variáveis que influenciam o início e a propagação do fogo como tipo e umidade de material combustível, índice de perigo de incêndios, declividade do terreno, orientação das encostas, densidade demográfica e distribuição do sistema viário, além

ZONEAMENTO DE RISCO DE INCÊNDIO FLORESTAL - 2090 a 2100 - PIOR CENÁRIO

Banco de Imagens

ZONEAMENTO DE RISCO DE INCÊNDIO FLORESTAL - 2090 a 2100 - MELHOR CENÁRIO

das variáveis meteorológicas: temperatura, umidade relativa do ar e precipitação. “A ideia é alertar as instituições públicas e a sociedade organizada sobre o aumento dos incêndios no Paraná nas próximas décadas para que subsidiem o planejamento das atividades de prevenção e combate”, comenta Batista.

Devastação causada pelas enchentes no município de Morretes (PR), em março/2011

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SUSTENTABILIDADE

LIXO VIRA SOLUÇÃO Um processo desenvolvido pela UEPG faz embalagens longa-vida se transformarem em matéria-prima limpa

Marilson de Paula - Assessoria de Comunicação da UEPG

É

notória a eficiência das embalagens longa-vida para a conservação de alimentos e bebidas. Mas o que fazer com elas depois de vazias? Estudos mostram que apenas uma em cada quatro embalagens cartonadas longa-vida é reciclada de alguma forma no Brasil. Aterros sanitários estão saturados com estas embalagens, que ocupam muito espaço e demoram para se degradar. Movido por essa preocupação com o meio ambiente, o grupo de pesquisa do Departamento de Química da UEPG – Universidade Estadual de Ponta Grossa – criou um processo de separação das diferentes camadas que compõem as embalagens de papel cartonado ou embalagens “Longa-Vida” (ECLV) e assim fazer o total aproveitamento destes resíduos. Os materiais que formam a embalagem cartonada são basicamente o papel; o polietileno de baixa densidade, que é o filme plástico que protege o

Equipamento de separação das camadas componentes do alumínio

papel na parte externa; e o filme plástico, que evita que o alimento entre em contato com a camada de alumínio. O alumínio forma a camada protetora que evita a entrada de luz, de ar (oxigênio) e de micro-organismos que poderiam degradar o alimento. A equipe desenvolveu uma solução

aquosa formada por ácidos inorgânicos e orgânicos que, em contato com as lâminas compostas de alumínio e polietileno, fazem com que as camadas componentes soltem-se umas das outras. Na sequência do processo, são separadas pela decantação do alumínio e pela suspensão do polietileno de baixa densidade.

O QUE MOTIVOU? A ideia deste projeto surgiu em 2003, de uma demanda dos próprios alunos do curso de Bacharelado em Química Tecnológica da UEPG, que tem uma ênfase de aplicação em química ambiental. “Os professores do curso tentam voltar as suas linhas de pesquisa para temas que contemplem a resolução de problemas ambientais, e a reciclagem de

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embalagens longa-vida era um problema em evidência e continua sendo até hoje”, destaca o professor Jarem R. Garcia, doutor em Fisioquímica, professor do departamento desta área na UEPG e coordenador da pesquisa. O estudo foi implementado no ano de 2011 com a participação do aluno do Curso de Bacharelado

em Química Tecnológica da UEPG Rodolfo Thiago Ferreira e do aluno de doutorado Fábio Santana dos Santos. “Foi o apoio financeiro da Fundação Araucária em outros projetos de pesquisa desenvolvidos por mim e o apoio em infraestrutura da UEPG que possibilitaram o desenvolvimento deste processo”, explica Garcia.


A forma como estes materiais são colocados juntos em camadas faz com que a sua separação seja muito difícil, devido à força de adesão criada entre elas. Inclusive a separação entre as de alumínio e polietileno é a mais difícil devido à maior adesão que existe entre as camadas destes dois materiais. “Esta dificuldade faz com que alguns métodos de reaproveitamento das camadas de alumínio e polietileno, não separadas, apenas adiem o problema da reciclagem pois, em algum momento, esses materiais terão de ser descartados definitivamente. Um exemplo disso são os tapumes e telhas produzidos a partir deste tipo de embalagem, os quais sofrem um processo de descamação devido à exposição a intempé-

ries”, diz o pesquisador. Os componentes destas embalagens de leite ou suco não são tóxicos, nem são extremamente tóxicos os reagentes utilizados na reciclagem. O grande passivo ambiental causado pelo descarte deste tipo de embalagem é sua persistência no meio ambiente. O papel é degradado relativamente rápido, mas o alumínio e o polietileno somente após um longo período, por isso o descarte das embalagens “longa-vida” é prejudicial para o tempo de vida dos aterros sanitários. O processo necessita de uma tecnologia extremamente simples que pode ser realizada de forma rápida e barata, já que são utilizados reagentes comuns e de baixo custo.

APROVEITAMENTO EM NÚMEROS Considerando a composição das embalagens longa-vida de 75% em massa de papel, 20% em massa de alumínio e 5% em massa de polietileno, a reciclagem de 300 toneladas por mês (massa estimada de

embalagens descartadas que estaria disponível no mercado para ser processada), resultaria em um total de 60 toneladas de alumínio e 15 toneladas de polietileno por mês.

COMPOSIÇÃO PERCENTUAL PAPEL ALUMÍNIO PEBD Fonte: Grupo de pesquisa do Departamento de Química da UEPG - Universidade Estadual de Ponta Grossa

20%

75%

5%

UTILIZAÇÃO INDUSTRIAL Os materiais reciclados podem ser inseridos em inúmeras cadeias produtivas com alto grau de aproveitamento, pois tanto o alumínio quanto o polietileno mantêm as suas características físicoquímicas. Hoje o índice de reciclagem

de embalagens longa-vida no Brasil não passa de 27%. A propriedade intelectual do processo desenvolvido na UEPG foi protegida por meio de um depósito de pedido de patente no INPI.

VIABILIDADE FINANCEIRA Banco de Imagens

IMPACTO AMBIENTAL

A Zero Resíduos S.A. de Ponta Grossa, empresa voltada ao desenvolvimento de soluções na área de resíduos, demonstrou interesse em efetivar uma parceria com o grupo de pesquisa. Isso culminou num acordo de cooperação, realizado no ano passado e que resultou no desenvolvimento de um protótipo de reator para o teste do processo em escalapiloto. As atividades previstas no acordo foram finalizadas no início deste ano e resultaram em um aprimoramento do processo e na percepção de sua viabilidade financeira. “O foco do nosso negócio é a valorização do resíduo reciclado, inserindo-o de novo na cadeia produtiva como matéria-prima limpa, por isso apostamos no projeto. Estamos muito animados com os resultados e agora estamos fazendo estudos detalhados de viabilidade econômica. O próximo passo é a implantação de uma unidade industrial”, conta Vicente Nadal Neto, diretor da Zero Resíduos.

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CAPA

NOVAS POSSIBILIDADES DE CURA PELA REGENERAÇÃO COM CÉLULAS-TRONCO

Tiago Walter Vera

Paraná é destaque nas pesquisas com células-tronco. Os resultados apontam para novos e eficientes tratamentos

Professor Paulo Brofman (ao fundo) e a equipe de pesquisadores do Laboratório do CTC - PUCPR

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Tiago Walter Vera

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Centro de Tecnologia Celular PUCPR

ma revolução na medicina e uma grande esperança de cura para muitas doenças. Assim pode ser definida a terapia com o uso de células-tronco. Cientistas do mundo inteiro estão, há décadas, tentando decifrar como funcionam e qual é o potencial destas células capazes de dividir-se e transformar-se em outros tipos específicos de células, regenerando ou reparando órgãos que perderam sua função. Ainda há muito a descobrir, mas as células- tronco já salvam muitas vidas, como no transplante de medula óssea. No Brasil, onde se desenvolvem importantes pesquisas na área de Biologia Celular, o Paraná destaca-se pela complexidade dos estudos, a infraestrutura dos laboratórios e os resultados já obtidos. O Centro de Tecnologia Celular (CTC) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR, inaugurado em 2010, é referência na área, mantém parcerias com outras instituições de pesquisa e

Pesquisadores trabalhando no CTC - PUCPR

abastece projetos que integram a Rede Nacional de Terapia Celular. O Laboratório de Biologia Celular do Instituto Carlos Chagas/Fiocruz - PR, também desenvolve estudos reconhecidos em todo o país e no exterior. O trabalho do CTC é voltado para a pesquisa com células-tronco mesenquimais (obtidas da medula óssea, da parede do tecido adiposo e da parede do cordão umbilical) e progenitoras endoteliais (oriundas do sangue do cordão umbilical), entre outros. Os estudos mostram que estas células podem se diferenciar dando origem a tecidos específicos como: muscular, ósseo, adiposo, cartilaginoso ou regenerar vasos sanguíneos. Algumas destas pesquisas já deixaram o estágio laboratorial e passaram para os testes clínicos. Entre as que se mostram muito promissoras e eficientes estão: a terapia com células-tronco para tratamentos de doenças do coração, para problemas circulatórios e artrose de joelho. “No Brasil ocorrem 85 mil amputa-

ções ao ano, boa parte devido a problemas circulatórios originados pelo diabetes. Já os casos de insuficiência cardíaca chegam a 240 mil/ano, causando graves consequências, como a perda da função contrátil do músculo cardíaco. Com o tratamento com células-tronco, muitas destas situações poderiam ser evitadas”, exemplifica o coordenador do CTC PUCPR, Paulo Brofman. Segundo ele, a terapia celular pode representar mais qualidade de vida para o paciente, longevidade e menos gastos para sistema de saúde. Estas células estão sendo usadas em diversas pesquisas, para tratamento de doenças de origem neurológica, pulmonar, autoimune e cardíaca, entre outras. Mas o pesquisador ressalta: “No Brasil, por enquanto, qualquer estudo ou tratamento com base em células-tronco é considerado experimental e precisa de autorização do Comitê de Ética e Pesquisa e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, com exceção do transplante de medula óssea”.

A terapia celular pode representar mais qualidade de vida para o paciente, longevidade e menos gastos para o sistema de saúde. Paulo Brofman, coordenador do CTC-PUCPR. Esquerda: fotomicrografia de contraste de fase da cultura primária de células-tronco mesenquimais derivadas da medula óssea humana. Direita: localização in vivo das células-tronco mesenquimais derivadas de tecido adiposo humano injetadas em ratos Wistar com lesão de medula espinhal. Detecção no Sistema de Imagem IVIS Lumina II.

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Tiago Walter Vera

PESQUISA COM CÉLULAS-TRONCO É REFERÊNCIA NO PAÍS

O pesquisador Samuel Goldemberg com sua equipe no Laboratório do Instituto Carlos Chagas, Fiocruz PR

Com uma sofisticada estrutura e modernos laboratórios de Biologia Molecular e Biologia Celular, o Instituto Carlos Chagas, Fiocruz/PR mantém uma parceria há seis anos com a PUCPR realizando pesquisas com células-tronco. “Buscamos entender como é que os genes se manifestam nas células-tronco. O que faz com que elas se diferenciem em uma função específica. Por exemplo, de que forma a célula-tronco vai se transformar em

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um tecido cardíaco”, explica o pesquisador Samuel Goldenberg, doutor em Biologia Molecular e diretor do instituto. “A PUCPR faz a parte aplicada e nós a pesquisa fundamental em um trabalho de estreita colaboração”, acrescenta. As descobertas nesta área vêm avançando rapidamente em todo o mundo. “A ideia é que no futuro dominemos uma metodologia que permita induzir e controlar a diferenciação das

células-tronco. Como pesquisador, estou muito otimista”, diz Goldenberg. Para o pesquisador, que também é presidente da Sociedade Brasileira de Genética, o Paraná é um dos destaques nacionais no que diz respeito às pesquisas com células-tronco, junto a São Paulo e Rio de Janeiro. “É uma área que necessita de grandes e constantes investimentos por parte dos governos estadual e federal. Só assim poderemos avançar”, conclui.


NA CARDIOLOGIA

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“Não conseguia respirar nem em pé, sentado ou deitado.” É essa situação angustiante que relata o operário aposentado de 57 anos José das Graças Miranda, morador de Goioerê (PR). Ele foi diagnosticado com miocardiopatia dilatada, aumento do tamanho do coração que resulta na perda progressiva da função de bombear sangue. O aposentado foi considerado apto e aceitou participar de um estudo inédito que utiliza a terapia com células-tronco em pacientes com graves problemas cardíacos, cuja indicação seria um transplante. As células são retiradas da medula óssea do próprio paciente, do ilíaco, o osso do quadril, e implantadas no coração através de um cateter. “Este procedimento é minimamente invasivo, o que reduz os riscos de infecção e o tempo de recuperação do paciente”, explica o médico cardiologista Ricardo Westphal, do Hospital de Clínicas vinculado à UFPR responsável pela aplicação da técnica da equipe do CTC – PUCPR. Segundo ele, a intenção da pesquisa é criar uma alternativa para dar mais tempo ao paciente, já que não há órgãos suficientes para todos os que necessitam de transplante e o marca-passo especial custa em torno de R$ 48 mil. O procedimento foi usado em 30 pacientes e, destes, 1/3 já apresentaram melhora significativa da função cardíaca. “Não tenho mais falta de ar, só não posso fazer grandes esforços, mas levo uma vida quase normal”, comenta o aposentado, que passou pelo procedimento em 2008 e continua fazendo o acompanhamento médico a cada 90 dias.

Este procedimento é minimamente invasivo, o que reduz os riscos de infecção e o tempo de recuperação do paciente.

TIPOS DE CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS

ADULTAS

São derivadas da massa celular interna de um blastocisto, formado entre o 4º e 10º dia da fecundação. O número pode variar de 40 a 120 células que, após serem obtidas, devem ser expandidas em laboratório. Por serem células primitivas, elas podem diferenciar-se em todos os tipos de tecidos, órgãos e células do nosso corpo, menos os anexos (placenta).

São derivadas de diferentes órgãos e tecidos do nosso corpo e podem diferenciar-se em alguns tipos de tecidos. São células já testadas em inúmeros ensaios clínicos e, em todos, mostraram ser seguras e eficiente para o seu uso em terapia celular. Na maioria das vezes, são obtidas do próprio paciente.

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Tiago Walter Vera

O médico ortopedista Alcy Vilas Boas Jr., especialista em cirurgia do joelho do Hospital Marcelino Champagnat da PUCPR, em Curitiba

NA ORTOPEDIA O know-how adquirido pelas bem sucedidas pesquisas sobre o uso de célulastronco na área de cardiologia nos estudos realizados pelo Centro de Tecnologia Celular PUCPR está sendo agora usado também na ortopedia. “As células-tronco aplicadas no joelho podem promover a regeneração da cartilagem desgastada e também podem ser usadas no caso de artroses avançadas”, explica o médico ortopedista Alcy Vilas Boas Jr., especialista em cirurgia do joelho do Hospital Marcelino Champagnat da PUCPR, em Curitiba. As células são retiradas da medula óssea do paciente por meio de uma punção e enviadas ao Centro de

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Tecnologia Celular da mesma Universidade. Lá, da amostra separam-se as células mesenquimais que são cultivadas e expandidas por quatro semanas, depois são aplicadas no local da lesão por meio de uma cirurgia ambulatorial. A dona de casa Araci Bidinoto, de 54 anos, sofre há sete com problemas no joelho. Muito ativa, precisou limitar seus esforços e perdeu qualidade de vida. “Meu joelho travava, ficava quente e doía demais. Muita coisa do meu dia a dia eu não conseguia mais fazer”, relembra. Consultou vários médicos e seguiu diferentes tratamentos, sem resultados satisfatórios. Ao saber que seu caso poderia encaixar-se neste estudo,

quis candidatar-se e foi aceita. Operada há dois meses, lentamente está se recuperando. “Estou muito animada e ansiosa. O médico disse que tudo está correndo como esperado”, comenta. A vantagem do procedimento é poder restabelecer a anatomia da cartilagem do joelho sem implantes mecânicos na articulação; além disso, o fato de o transplante ser autólogo (usar células extraídas do próprio paciente) evita efeitos adversos. “Queremos avançar mais, chegar a um ponto em que a cirurgia não seja mais necessária e que se possa proceder apenas aplicando as células no local”, diz o especialista.


Tiago Walter Vera

Queremos chegar a um ponto em que a cirurgia não seja mais necessária, apenas aplicando as células no local. Alcy Vilas Boas, especialista em cirurgia do joelho.

AS CÉLULAS DA REGENERAÇÃO roso, no sangue ou parede do cordão umbilical e nos próprios órgãos de um organismo já desenvolvido, mas funcionam de forma mais limitada. A esperança da ciência e da medicina é que os dois tipos possam ser utilizados para regenerar órgãos que estejam lesionados e perdendo seus componentes celulares, afetando suas funções. As pesquisas vêm mostrando resultados surpreendentes, mas ainda há muito para descobrir. O uso das células-tronco embrionárias desperta polêmicas porque envolve questões

biológicas, éticas e religiosas. Por isso as pesquisas só acontecem baseadas em leis de cada país, obedecendo a normas rígidas. Já as células-tronco adultas são mais fáceis de ser obtidas e não apresentam os mesmos problemas legais das embrionárias. Porém, apresentam menor potencial de diferenciação. Podem estimular as células-tronco e as células do tecido do órgão lesado a entrar novamente no ciclo celular, moderando as reações inflamatórias e impedindo a morte das células.

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A ciência já sabe que as células-tronco podem levar à cura e controle de muitas doenças devido suas propriedades intrínsecas. Os cientistas pesquisam como elas funcionam, o que são capazes de fazer e como podem ser aplicadas. Estas células são muito versáteis e têm a capacidade de transformar-se em qualquer tecido do corpo. Podem ser embrionárias ou adultas. As embrionárias surgem no embrião e dão origem a todo o organismo. As adultas podem ser encontradas na medula dos ossos, no tecido gordu-

A paciente Araci em recuperação após cirurgia com o uso de células-tronco

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ACESSIBILIDADE

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PESQUISAS CONTRIBUEM PARA A INCLUSÃO

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isual, auditiva, motora ou mental. O Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontou que no Brasil 23,9% da população, ou 45,6 milhões de pessoas, têm algum tipo de deficiência. Formas de incluir, de permitir que essas pessoas tenham o direito de ir e vir, com garantias

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de acessibilidade estão sendo cada vez mais estudadas. O foco é eliminar os obstáculos que as impedem de participar de forma plena da sociedade. Pensando no direito a essa acessibilidade é que professores e alunos de universidades do Paraná desenvolvem pesquisas para buscar ideias inovadoras que auxiliem no dia a dia de pessoas com

deficiência ou com mobilidade reduzida. Duas universidades paranaenses dão o exemplo. A Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), focada em tecnologias assistivas para pessoas com baixa visão, e a Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste), com o projeto Órtese e Prótese, que permite a reabilitação física.


Pesquisadores, professores e alunos da Unioeste desenvolveram o xLupa Desktop, uma tecnologia assistiva de ampliação de tela de computador para pessoas com baixa visão, de distribuição livre e de uso facilitado. “O principal objetivo do xLupa é fornecer não apenas acessibilidade, mas também usabilidade e ergonomia no uso dos computadores”, destacou o pesquisador e professor Jorge Bidarra. O ampliador de tela está ajudando Renato Alves de França e Luan Nunes de Barros, alunos do Centro Regional de Assistência Integrada ao Deficiente, em Curitiba. Em 2012, Marilene Muschitz, professora do Centro de Reeducação Visual, conheceu o xLupa. “Não me conformava com as pessoas com baixa visão utilizando somente leitores de tela mais destinados a pessoas cegas. Por possuírem resíduo visual, elas conseguem enxergar com a devida ampliação, conforme sua patologia ocular”. Luan, 22 anos, como qualquer jovem da sua idade, agora pode acessar com mais facilidade a internet para pesquisas e para se comunicar com amigos pelas redes sociais e e-mails, também ver fotos e vídeos. “Com certas lupas e no Windows era mais difícil, principalmente quando apareciam atualizações. Mas com o xLupa, posso ler sozinho”, comentou.

Fotos Unioeste

UNIOESTE DESENVOLVE TECNOLOGIAS ASSISTIVAS COM SOFTWARE LIVRE

Professora Marilene com Luan: software permite acesso mais fácil à internet

MAIS SOLUÇÕES PARA OS DEFICIENTES VISUAIS A Unioeste desenvolveu mais duas soluções para os deficientes visuais. Uma delas é o software para totens de autoatendimento, a Plataforma Multissensorial (PlatMult). “Essa solução oferece não somente os recursos voltados para o problema da visão, por meio da ampliação e leitura de conteúdos da tela, como também tátil, através de um mouse vibratório”, destacou o professor Marcio

Fotos Unioeste

FACILIDADE NO COMPUTADOR Renato, 48 anos, disse que não gostava de computador. “Antes de usar xLupa tinha que me aproximar demais da tela do computador para poder enxergar e isso diminuía ainda mais meu campo visual. Além disso, tinha dores lombares”, explicou.

Seiji Oyamada. Para ele, é essencial tornar mais confortável o uso do computador, integrando os sentidos da visão, audição e tátil. “O uso de interfaces multimodais como solução de acessibilidade abre um novo campo de pesquisas e temos estudado a sua influência na interação humano-computador”, acrescentou o professor Clodis Boscarioli, também colaborador no projeto. Foi criado ainda o ampliador móvel de documentos impressos, denominado xLupa embarcado. É um equipamento portátil que pode ser conectado à TV e monitores com entrada HDMI. Serve para ampliação de documentos digitais como revistas, livros e jornais, permitindo que a imagem antes de ser enviada para a TV possa ser tratada. Além disso, há possibilidade de zoom e contraste. “Esses recursos são importantes, pois os usuários possuem diferentes graus de baixa visão. Alguns possuem fotofobia, necessitando da aplicação de contrastes”, esclareceu Márcio. PARANÁ FAZ CIÊNCIA

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Fotos Unioeste

UNICENTRO OFERECE SERVIÇO DE REABILITAÇÃO FÍSICA GRATUITA

O serviço de reabilitação é oferecido a 20 municípios da 5ª Regional de Saúde do Paraná e conta com recursos da Secretaria da Saúde do estado para a aquisição de órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção e do Ministério da Saúde para custear os atendimentos.

José Acir fortalece os braços para garantir melhores arremessos em quadra

Um apaixonado pelo esporte e por qualidade de vida. José Acir da Luz, 43 anos, é um atleta do basquete sobre rodas. Há 25 anos, depois de um acidente de trabalho, a cadeira de rodas começou a fazer parte de sua rotina diária, mas isso não o impediu de lutar por seus sonhos, seus objetivos. “Poderia até voltar a andar depois do acidente, passando por cirur-

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gias e uma reabilitação que seria bem demorada, mas na época optei pela cadeira de rodas pela locomoção ser mais rápida”, explicou. Faz quatro anos, desde que decidiu praticar o basquete sobre rodas, que José frequenta o Projeto Órtese e Prótese do Serviço de Reabilitação Física da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Pa-

raná (Unicentro). Para o atleta e paciente, os profissionais do projeto são excelentes. Eles focam em exercícios para evitar o atrofiamento dos membros inferiores e desenvolvem outros de musculação, alongamentos e atividades para fortalecer principalmente os braços. “Participo de competições estaduais e hoje consigo fazer cestas de três pontos”, salientou.


A equipe do projeto de Reabilitação Física é composta por médico ortopedista, fisioterapeuta, enfermeira e assistente social. A coordenadora, Maria Regiane Trincaus, explica que são atendidos os pacientes encaminhados por médicos ou outros profissionais de saúde. Segundo ela, o diferencial do tratamento de reabilitação é quando se consegue devolver a autoestima e a qualidade de vida desses pacientes. Karine Fogliarini, relações sociais do projeto, ressalta que não somente as questões físicas são avaliadas, mas também é preciso identificar as demandas que os pacientes apresentam a respeito das suas relações sociais. “Muitos dos pacientes que estão iniciando a reabilitação chegam desmotivados e desacreditados

ATENDIMENTO PELO SUS

da possibilidade de readaptação e de viver com autonomia, mas o processo de reabilitação é reaprender, trabalhar novas possibilidades.” Ela explica que é preciso saber lidar com as particularidades de cada pessoa. “Temos pacientes que fazem uso de prótese bilateral e caminham sem muletas, pacientes que praticam esportes mesmo usando uma prótese, outros que voltaram a trabalhar e os que ainda estão em processo de reabilitação.” Outro ponto destacado por Karine é a participação da família. “Tenho observado no dia a dia profissional e também em pesquisas científicas que, na maioria dos casos, as famílias precisam se adaptar à nova rotina, financeiramente, emocionalmente ou na sua dinâmica.”

Há dez anos o Projeto Órtese e Prótese tem devolvido sorrisos a muitas pessoas. O atendimento é feito gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde). As órteses e próteses são dispositivos que auxiliam na reabilitação física de pacientes. A prótese substitui determinada parte do corpo, como braços e pernas. Já a órtese é aplicada ao corpo para alinhar, auxiliar em alguma função ausente ou deficiente. Além dos benefícios para a comunidade o projeto proporciona experiência aos acadêmicos na área da saúde, nos cursos de fisioterapia e enfermagem e também aos graduandos de serviço social, por meio do estágio supervisionado. “Temos interesse em ofertar campo de estágio para os alunos que fazem graduação na Unicentro para modificar a visão desses acadêmicos sobre a pessoa com deficiência”, destaca Maria Regiane.

O MAPA DA DEFICIÊNCIA NO BRASIL Def. Visual 48% Def. Motora 22,9% Def. Auditiva 16,7% Def. Mental 8,3%

O processo de reabilitação é reaprender, trabalhar novas possibilidades.

Def. Física 4,1% Dados do Censo 2000 do IBGE, mostram que 14,5% da população total, equivalente a 24,6 milhões de pessoas, tinham algum tipo de deficiência. Desse total, 16,7% são deficiência

auditiva, 48,0% deficiência visual, 22,9% deficiência motora, 4,1% deficiência física e 8,3% são pessoas com deficiência mental.

Karine Fogliarini, relações sociais do projeto.

Fonte: Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Governo do Estado de São Paulo

MUNICÍPIOS ATENDIDOS • Boa Ventura de São Roque • Candói • Cantagalo • Campina do Simão • Foz do Jordão Informações: (42) 3629-8140/8141

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Guarapuava Goioxim Laranjeiras do Sul Laranjal, Marquinho Nova Laranjeiras Porto Barreiro

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Pinhão, Palmital Pitanga, Prudentópolis Rio Bonito do Iguaçu Reserva do Iguaçu Turvo Virmond

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ARTIGO

ALTO IMPACTO E INOVAÇÃO NO DIÁLOGO UNIVERSIDADE-EMPRESA Para a população usufruir plenamente dos benefícios da ciência gerada nas universidades, é vital acelerar o desenvolvimento de instrumentos que insiram o conhecimento e a pesquisa nas empresas Filipe M. Cassapo - Centro Internacional de Inovação - Senai PR

E

studar de forma comparativa as trajetórias da Coreia do Sul e do Brasil nos últimos trinta anos tem sido um exercício muito valioso para compreendermos a importância do diálogo universidadeempresa para a geração de bem-estar social. Há trinta anos, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Coreia do Sul era de 0,72, um valor comparável com o patamar atual de países como Bolívia, Vietnã ou Guiné Equatorial. Nesta mesma época, em 1980, o Brasil tinha um IDH de 0,68, que poderia ser comparado com os números atuais do Tadjiquistão ou da Namíbia. Trinta anos depois, em 2012, a Coreia do Sul chegou a um IDH de 0,90, erguendo-se ao 12º lugar da classificação mundial deste indicador, ao lado de países como Canadá e Dinamarca, e ultrapassando Israel, França e Finlândia. Portanto, enquanto a Coreia do Sul concretizou em apenas uma geração um crescimento espetacular de 30% no seu IDH, o Brasil viveu um

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crescimento de apenas 19% no mesmo período, encontrando-se atualmente na 85ª posição, atingindo 0,73, o que o posiciona ao lado de países como a Jamaica e Azerbaijão.

Enquanto a Coreia do Sul concretizou em apenas uma geração um crescimento espetacular de 30% no seu IDH, o Brasil viveu um crescimento de apenas 19%. Como o Brasil, sexta maior economia mundial, com um PIB de US$ 2,4 trilhões; quinto país mais populoso e mais extenso do mundo, com 194 milhões de habitantes e uma área total de 8,5 milhões de metros quadrados, pode ter um PIB per capita de apenas US$ 11.875, três vezes in-

ferior ao da Coreia do Sul, que culmina a US$ 31.753? Uma breve análise da atividade econômica e da pauta de exportação dos dois países é suficiente para responder a esta pergunta. Enquanto a pauta de exportação brasileira continua dominada por produtos de baixa intensidade tecnológica, ou seja, commodities como minério de ferro, soja ou carne, a Coreia do Sul operou uma verdadeira revolução através do conhecimento e da inovação, sendo hoje uma potência econômica global líder na produção e exportação de dispositivos semicondutores. Ao basear sua economia no desenvolvimento industrial e exportação de bens como circuitos integrados, cujo valor “por tonelada” é de cerca de US$ 850 mil, a Coreia do Sul terá, necessariamente, um PIB per capita e, consequentemente, um IDH superiores aos de qualquer país cujo posicionamento econômico global consiste na exportação de minério de ferro (US$ 115 por tonelada) ou o de soja (US$ 560 por tonelada).


A sociedade civil coreana, unida, aumentou radical e rapidamente o impacto da educação em qualidade e quantidade. O dispêndio coreano em P&D per capita é atualmente de US$ 1.088/ano, enquanto este mesmo investimento no Brasil chega ao tímido valor de US$ 134. Como consequências econômicas trivialmente compreensíveis, a Coreia do Sul efetuou em 2012 cerca de 30 mil solicitações de patentes no escritório de marcas e patentes dos Estados Unidos, enquanto o Brasil depositou apenas 679 pedidos, ou seja, quarenta e cinco vezes menos. Ao observar, finalmente, que o Brasil é responsável

atualmente por volta de 2,7% da ciência produzida mundialmente (medida pelas publicações em periódicos científicos indexados pela Thomson/ISI), e é o sexto país com maior crescimento de artigos publicados entre 2001 e 2009 (sendo que a Coreia do Sul ocupa o 3º lugar), chegamos à natural conclusão de que a inovação, que acelera o crescimento econômico de uma nação e se reverte sistematicamente em bem-estar para a população, é bem mais que a produção de pesquisas e formação de mestres e doutores. Inovação é a conversão do conhecimento em empreendimentos privados, que transformam a ciência em produtos, processos ou serviços, e sustenta negócios produtivos, competitivos e lucrativos que se revertem em crescimento econômico, geração de renda e aumento da qualidade de vida do cidadão.

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Onde está o grande segredo desta impressionante ascensão da Coreia do Sul? É surpreendente constatar que se tratou de “apenas” uma constante e inabalável determinação da sociedade civil coreana, unida em (1) aumentar radical e rapidamente o impacto da educação em qualidade e quantidade, (2) descomplicar e incentivar o relacionamento universidade-empresa e o empreendedorismo tecnológico de alto impacto e (3) escolher de forma clara e focada um posicionamento estratégico global unívoco em termos de economia baseada em conhecimento. Em números, enquanto a Coreia do Sul investe anualmente 3,3% do seu PIB em atividades de P&D, 2,45% provenientes do setor privado, o Brasil investe 1,2% nestas mesmas atividades, sendo apenas 0,55% do setor privado. Enquanto na Coreia do Sul 78% dos pesquisadores trabalham nas empresas, no Brasil apenas 26% dos mestres e doutores estão inseridos nas atividades do setor privado.

A Lei de Inovação do Paraná, sancionada em setembro de 2012, demorou muito para chegar, infelizmente. O Paraná era um dos últimos estados brasileiros em que tal legislação, que regulariza o relacionamento entre universidades e empresas, inexistia. Da mesma forma, sem a lei, o Paraná não tinha possibilidade de converter recursos públicos arrecadados pelo Governo do Estado em mecanismos de fomento à atividade de inovação na

empresa, por meio de subvenções econômicas ou incentivos fiscais. Necessitamos neste momento ter muito foco para compensar o tempo perdido. É neste sentido que os dinâmicos e estratégicos movimentos da nossa Fundação de Apoio à Pesquisa, a Fundação Araucária, têm sido, na nossa avaliação, muito valiosos para a sociedade paranaense.

O TECNOVA-PR deverá criar condições favoráveis para o crescimento rápido de empresas inovadoras nascentes. Como exemplo, o lançamento próximo do TECNOVA-PR, um instrumento de subvenção econômica para micro e pequenas empresas inovadoras, liderado pela Fundação, cujo recurso disponível será de R$ 30 milhões. O TECNOVA-PR deverá criar condições favoráveis para o crescimento rápido de empresas inovadoras nascentes. Outro exemplo deste posicionamento focado da Fundação Araucária, em termos de inovação, é o programa de Pós-Doutorado em Empresas. Entrando agora na sua segunda edição, o programa permitirá o financiamento de 15 bolsas de pós-doutorado por três anos, visando a inserção de pesquisadores em empresas, para estimular o desenvolvimento de projetos de inovação tecnológica. Com uma vontade renovada de promover um diálogo respeitoso, ético, e ao mesmo tempo, corajoso entre o setor público - em particular, universidades - e o setor privado, temos em nossas mãos os artefatos processuais necessários para mudar a realidade social do mundo em que vivemos. Se desejarmos, portanto, conhecer o nosso futuro, basta neste momento desenhá-lo juntos.

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INVESTIMENTOS

PARANÁ ATRAI CERCA DE EM INVESTIMENTOS E INICIA NOVO CICLO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL Baseado no investimento direto na pesquisa, aperfeiçoamento tecnológico de processos e qualificação da mão-de-obra, o estado vem demonstrando que essa área é uma de suas prioridades.

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R$ 25 BILHÕES


Secretaria da Ciência Tecnologia e Ensino Superior

O

Secretário João Carlos Gomes divulgou o balanço de investimentos na cooperação técnico-científica do Estado do Paraná com o setor produtivo

s primeiros resultados de uma nova política governamental de incentivo à pesquisa e desenvolvimento já podem ser evidenciados no estado do Paraná. Em dois anos foram atraídos cerca de R$ 25 bilhões em investimentos diretos para novos empreendimentos empresariais, especialmente os que agregam novas tecnologias. Os dados são da Secretaria de Ciência Tecnologia e Ensino Superior e foram contabilizados a partir da implantação do Programa Paraná Competitivo. O Estado possui o Fundo Paraná, que é composto por 2% da receita tributária da região. Para o exercício de 2013 serão investidos aproximadamente R$ 300 milhões em Projetos de Ciência, Tecnologia e Inovação, garantindo a implantação de uma nova matriz de desenvolvimento econômico sustentável. Em cinco anos os recursos aumentaram em 82%, passando de R$ 164,2 milhões em 2008 para R$ 299 milhões em 2012, possibilitando o apoio a mais de 4 mil projetos no Paraná. O balanço é do secretário da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior, João Carlos Gomes, que anunciou novos

programas, projetos e ações de governo, visando à cooperação técnico-científica com o setor produtivo. “Estamos trabalhando para estruturar uma matriz de desenvolvimento no estado, que resulte em investimentos para projetos de transferências de tecnologia utilizando o capital científico das nossas sete universidades e centros de pesquisa, em parceria com o setor produtivo”, revela o secretário. Pela primeira vez o Plano Plurianual do Governo do Estado/SETI (2012-2015), contemplou dois grandes programas – Excelência no Ensino Superior e Paraná Inovador. O primeiro objetiva melhorar os indicadores acadêmicos na graduação e pós-graduação e consolidar a excelência das Universidades Estaduais no ensino, na pesquisa, na extensão e na cooperação técnico-científica, prevendo investimento em infraestrutura, em recursos didático-pedagógicos e na qualificação dos seus servidores. Já o Paraná Inovador é voltado para o incentivo ao desenvolvimento científico, tecnológico e à inovação, nas áreas estratégicas estabelecidas pelo Conselho Paranaense de Ciência e Tecnologia do Paraná. “Os dois programas visam o desenvolvimento do

estado, mediante parcerias envolvendo universidades, setor produtivo, instituições de pesquisa, organizações não governamentais, governo municipal, estadual e federal”, ressaltou Gomes. Em 2012 também foi regulamentada a Lei de Inovação, uma nova e avançada legislação que criou o ambiente favorável necessário para uma mudança rápida e radical, rumo ao desenvolvimento sustentável. A elaboração da proposta da lei aprovada pela Assembleia Legislativa contou com a participação de representantes da academia, governo e setor produtivo e foi aberta para sugestões das comunidades desses segmentos. A lei permite, por exemplo, que professores das universidades estaduais desenvolvam projetos junto ao setor produtivo e que empresas e universidades públicas estabeleçam parcerias em projetos de pesquisa, regulamentando também a questão da propriedade intelectual. Um outro aspecto que a lei prevê é que o governo estadual poderá estabelecer cooperação com empresas não governamentais. A lei, de fato, preenche uma lacuna na legislação e propicia integração efetiva entre a academia, governo e setor produtivo. PARANÁ FAZ CIÊNCIA

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2,7 BILHÕES APLICADOS NAS UNIVERSIDADES

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odo o processo de modernização da pesquisa e da inovação do estado do Paraná é baseado na estrutura e presença do sistema de ensino superior em todas as regiões do Estado. São sete universidades estaduais com 123 mil alunos, com ensino presencial em 36 municípios. O investimento no Sistema Estadual e Ensino Superior com recursos do tesouro do Paraná em 2012 foi de mais de R$1,3 bilhão. Para 2013 a projeção é de aproximadamente R$1,4 bilhão. Na avaliação do presidente da Associação Paranaense das Instituições de Ensino Superior Público do Paraná (Apiesp), Aldo Nelson Bona, a nova política de investimentos já provocou um expressivo avanço na área de ciência e tecnologia nas instituições de Ensino Superior. “O número de grupos de pes-

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quisa cadastrados no CNPq e de grupos consolidados é crescente. Os programas de pós-graduação e os cursos de doutorado também vêm aumentando, tanto nas IES Estaduais como nas Federais”, avalia. Todo o projeto da construção da nova ordem econômica e social do Paraná baseia-se no desenvolvimento pela inovação e democratização do acesso ao conhecimento. “Uma ação que estaremos apoiando consiste em viabilizar que o pesquisador atue dentro das empresas, bem como que pesquisas sejam incubadas nas Universidades em projetos estratégicos para o Estado”, enfatiza o secretário da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior, João Carlos Gomes. Já o Coordenador Geral da Unidade Gestora do Fundo Paraná (UGF), Luiz Cézar Kawano explica “que os recursos

públicos podem ser investidos tanto em infraestrutura na construção e reforma de edifícios, como também no apoio à pesquisa, contribuindo na formação técnica e científica da comunidade acadêmica”. Aliada à pesquisa, a extensão universitária também recebe investimentos da Secretaria, por meio do Programa Universidade sem Fronteiras que recebe 10% do orçamento da Unidade Gestora do Fundo Paraná, aplicados em projetos que são constituídos com equipes multidisciplinares compostas por professores orientadores, alunos recém-formados e universitários graduandos. Esse programa coloca em prática as pesquisas e o conhecimento obtido nas salas de aula em benefício da comunidade. O Programa Universidade sem Fronteiras é considerado o maior programa de extensão universitária do país.


APLICAÇÃO DE R$ 300 MILHÕES EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM 2013 Fonte: Secretaria da Ciência Tecnologia e Ensino Superior

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%

DO PERCENTUAL DE EXECUÇÃO DO FUNDO DO ESTADO SÃO REPASSADOS AO FUNDO PARANÁ

1% PARA PROJETOS 1% PARA PROJETOS DE ESTRATÉGICOS DE GOVERNO PESQUISA FUNDO PARANÁ

50%

FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA

30%

TECPAR (INSTITUTO DE TECNOLOGIA DO PARANÁ)

20%

Tecpar iapar uel (universidade estadual de Londrina) UEM (universidade estadual de maringá) uepg (Universidade estadual de ponta grossa)

MAIS DE 1 BILHÃO INVESTIDOS NOS ÚLTIMOS 5 ANOS

Ativos (Universidades, Tecpar e Iapar)

R$ 164 milhões 2008

R$ 203,5 milhões 2009

R$ 225 milhões 2010 97,4

97,4

86,0

Fundo Paraná

78,0

Percentual de Execução do Fundo

1,94%

106,1

2,34%

R$ 299,1 milhões 2012 R$ 181,1 milhões 2011

141,5

116,8

157,5

127,5 64,3

2,29%

1,59%

2,32% PARANÁ FAZ CIÊNCIA

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Valterci Santos

Os recursos públicos podem ser investidos tanto em infraestrutura na construção e reforma de edifícios, como também no apoio à pesquisa. Luiz Cézar Kawano, Coordenador da Unidade Gestora do Fundo Paraná. Kawano: Fundo garante pesquisas

RETORNO GARANTIDO O Governo do Estado do Paraná está realizando pela primeira vez um estudo técnico para calcular o retorno dos investimentos no Sistema Estadual de Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação. Os primeiros dados coletados mostram que de cada real aplicado, retorna aos cofres públicos pelo menos o dobro do valor. A expectativa do secretário é de que o retorno seja ainda maior, já que pela primeira vez o investimento em tecnologia é avaliado como atividade econômica. “Estamos estruturando uma nova matriz de desenvolvimento econômico, com a pesquisa e a inovação ligadas diretamente ao processo produtivo. Com isso agregamos valor tecnológico aos produtos e promovemos a qualificação de pessoal”, finaliza João Carlos Gomes.

PRINCIPAIS PROGRAMAS DE PESQUISA, DESENVOLVIMENTO, ENSINO SUPERIOR, CIÊNCIA E TECNOLOGIA NO PARANÁ PARANÁ INOVADOR

POLOS TECNOLÓGICOS

Coordenado pela Unidade Gestora do Fundo Paraná – UGF/SETI, TECPAR e Fundação Araucária - responsáveis pelos investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação no Estado.

Implantação de sete polos tecnológicos tendo como base as universidades estaduais e os núcleos de inovação tecnológica.

PROGRAMA PARANÁ COMPETITIVO Atrai novos investimentos e projetos de expansão de empresas locais. A Secretaria Estadual da Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul é responsável por esse programa.

PARQUE TECNOLÓGICO VIRTUAL

Fundação Araucária

Plataforma que tem como função promover a cooperação técnicocientífica envolvendo a academia, governo e setor produtivo, visando a criação e permanência de empresas de base tecnológica.

PROGRAMA UNIVERSIDADE SEM FRONTEIRAS

Secretário João Carlos Gomes: retorno garantido dos investimentos

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PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Assiste por meio das Universidades, mediante projetos de extensão e cultura, municípios com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

PROGRAMA BOM NEGÓCIO PR Destinado para quem quer iniciar um novo empreendimento ou modernizar um já existente.

EXCELÊNCIA EM ENSINO SUPERIOR Investimentos nas Universidades estaduais em infraestrutura, recursos didáticos pedagógicos e qualificação de professores técnicos e universitários.

UNIVERSIDADE VIRTUAL DO PARANÁ Consórcio universitário com meta de matricular 100 mil alunos no ensino a distância em cursos.

FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES DA REDE DA EDUCAÇÃO BÁSICA Capacitação de Servidores Estaduais em cursos de graduação e pósgraduação stricto e lato sensu.


1 2

ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA O FUNDO EM 2013 1 - Ciências Biológicas e Biotecnologia (agrícola, pecuária, florestal, saúde) 2 - Indústria Alimentar

Fonte: Secretaria da Ciência Tecnologia e Ensino Superior

12

7 8

Banco de Imagens

3 - Energias renováveis 4 - Metal mecânica

3

5 - Tecnologias da Informação e Comunicação

9

6 - Ciências e Tecnologias Ambientais

4

7 - Polos, Parques Tecnológicos e outros habitats de inovação

10

8 - Ciências e Tecnologias Agrárias

5 6

9 - Mobilidade 10 - Fortalecimento dos ativos portadores de desenvolvimento tecnológico 11 - Melhoria do Ensino Superior 12 - Tecnologia Assistiva

11 12 PARANÁ FAZ CIÊNCIA

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TECNOLOGIA

PARQUE TECNOLÓGICO VIRTUAL DO PARANÁ Parque Tecnológico Virtual (PTV) integrará ideias inovadoras de todo o estado

I

ntegrar empresas, universidades e ideias de todo o estado do Paraná e impulsionar o desenvolvimento tecnológico, inovador e também econômico dos municípios. Este é o foco do Parque Tecnológico Virtual do Paraná (PTV), programa do governo do estado que está em processo de implementação. O objetivo principal é atrair, fixar e desenvolver empresas de base tecnológica, incubadoras e parques tecnológicos do Paraná para se integrarem a uma plataforma informatizada. O PTV irá monitorar, controlar e avaliar as atividades e ações dessas empresas para melhorar a oferta e a demanda de soluções tecnológicas, inteligência competitiva e pesquisa, desenvolvimento e inovação. A gestão do PTV terá o apoio do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), orientado por um comitê central formado por governo, academia e setores empresariais. Conforme o diretor-presidente do Tecpar, Júlio C. Felix, essa plataforma vai abrigar empresas que desenvolvem pesquisas em todas as áreas de tecnologia e inovação. “Queremos ampliar a competitividade industrial do Paraná, oferecendo às empresas apoio científico

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PARANÁ FAZ CIÊNCIA

e tecnológico”, destacou. Para ele, não importa o porte da empresa, mas o foco é atender principalmente as pequenas e médias e também apoiar e fortalecer as incubadoras e parques tecnológicos já existentes.

Com a implantação do PTV podemos indicar com maior rapidez quem pode auxiliar as empresas da nossa região a expor e também buscar novas soluções tecnológicas. O estado já conta com o Programa Paraná Competitivo, que incentiva o setor produtivo, e o PTV vem para complementar e ajudar ainda mais o fortalecimento dessas empresas. “Nosso foco é conse-

guir contribuir para aumentar o perfil de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do nosso estado, principalmente em algumas regiões onde esse índice é baixo, gerando novas oportunidades de emprego e renda”, explicou o presidente do Tecpar. A descentralização é outro ponto forte. “Com o PTV conseguiremos atender todos os municípios, tendo como apoio os polos de desenvolvimento”, salientou Júlio. São sete Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT) que irão atender os 399 municípios paranaenses, instalados nos campi das universidades estaduais de Curitiba, Maringá, Jacarezinho, Ponta Grossa, Londrina, Cascavel e Guarapuava. Cada um deles, com um comitê gestor regional. “Aproveitamos as sedes das universidades estaduais, porque já têm uma estrutura física e também facilita a logística e o melhor atendimento das empresas nas regiões”, lembrou Felix. No processo de estruturação do PTV aconteceram reuniões e workshops com representantes do setor público, empresarial e o meio acadêmico nos sete municípios dos Polos de Desenvolvimento Tecnológico.


PTV SE FORTALECE NO RELACIONAMENTO COM AS UNIVERSIDADES Nas universidades há um grande volume de resultados das pesquisas que precisam ser disponibilizados para a sociedade. A maioria com grande potencial de inserção no mercado. De acordo com Paulo Rogério Rodrigues, professor e diretor da Agência de Inovação Tecnológica da Unicentro, o PTV é uma excelente ferramenta para auxiliar na centralização das informações de tecnologias que a universidade poderá fornecer aos empresários. Paulo disse que ser uma das sedes regionais é extremamente importante. “Com a implantação do PTV podemos indicar com maior rapidez quem pode auxiliar as empresas da nossa região a expor e também buscar novas soluções tecnológicas”, acrescentou. O pesquisador da Unioeste Camilo

Freddy Mendoza Morejon salientou que a Lei de Inovação é um marco para a elaboração de estratégias focadas no desenvolvimento científico e tecnológico. Para ele, algumas consequências dessa implantação podem ser destacadas como o desenvolvimento regional sustentável, melhoria dos processos produtivos e a expansão do desenvolvimento para além das regiões metropolitanas. Ele acredita que o PTV deve auxiliar na inserção desses resultados no mercado. O pesquisador falou também da qualidade de vida da população paranaense, que pode ser melhorada com a implantação do PTV. A intenção da Unioeste é ajudar a atender as demandas das diversas indústrias da região, por meio do compartilhamento de infraestrutura e dos pesquisadores.

A parceria com o meio acadêmico é essencial, pois nesses espaços pesquisadores, professores e alunos analisam, estudam e desenvolvem novas ideias, novas soluções pensando no desenvolvimento tecnológico das empresas e assim podem contribuir com o crescimento econômico e social. A Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) e a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) vão ser polos regionais de desenvolvimento tecnológico.

Fonte: www.seti.pr.gov.br

SISTEMA INTEGRADO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA, INOVAÇÃO E ENSINO SUPERIOR

PARANÁ FAZ CIÊNCIA

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CT&I

PESQUISA CIENTÍFICA Participação da Fundação Araucária na promoção do avanço da ciência no Brasil logia e inovação (CT&I) do Paraná, a Fundação Araucária, vinculada à Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, busca alinhar seu trabalho atendendo aos critérios de sustentabilidade do século XXI que são o combate à fome, pobreza, alterações climáticas, deteriorações ambientais e desigualdades econômicas e sociais. Neste aspecto a instituição dedica-se ao investimento em pessoas e ideias. Tem como finalidade básica amparar a pesquisa e a formação de recursos humanos, visando o desenvolvimento científico, tecnológico e socioeconômico do estado do Paraná. Faz parte de seus objetivos ainda promover, fomentar e subvencionar a publicação de estudos, pesquisas, ações, projetos ou programas, que auxiliem na ampla difusão do conhecimento. Seus principais eixos de atuação são: Fomento à Produção Científica e Tecnológica, Verticalização do Ensino Superior e Formação de Pesquisadores e Disseminação Científica e Tecnológica.

INVESTIMENTOS 2013 DE PARCERIAS FIRMADAS Fund. Araucária 43,72% Min. Com. (Redes Digitais) 2,13% CNPq 3,34% Capes 24,69% Apex (Peiex) 1,25% FGB (Boticário) 0,31% FPTI (Itaipu) 1,05% SETI/Finep (Tecnova) 23,51% Gráficos elaborados pela Fundação Araucária

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PARANÁ FAZ CIÊNCIA

No ano de 2012, consolidou‐se na Fundação a política de parcerias, por meio de acordos de cooperação entre a Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Ministério da Saúde, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a Fundação Grupo Boticário de Conservação à Natureza (FGB), a Fundação Parque Tecnológico de Itaipu (FPTI), o Ministério das Comunicações (SID/MC) e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), entre outros. A mais nova parceria foi firmada em agosto deste ano com a Companhia de Saneamento do Paraná - Sanepar. Banco de Imagens

O

Brasil ocupa o 13º lugar no ranking mundial de produção de artigos científicos publicados e as 26 Fundações de Apoio à Pesquisa (FAPs) tiveram um papel muito importante na conquista desta posição. “O avanço da produção científica no Brasil é decorrência não somente do aumento no número de pesquisadores, mas também da qualidade da ciência que é produzida por eles. É consequência da ação das agências de fomento brasileiras em aumentar os níveis de investimento e crescimento das opções que vêm sendo oferecidas por elas. O Paraná tem uma das mais atuantes Fundações de Apoio para a capacitação tecnológica e científica, componente vital para o desenvolvimento sustentável da economia de uma região”, afirma o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge Almeida Guimarães. Há 13 anos investindo na ciência, tecno-

Segundo o presidente da Academia Brasileira de Ciência, Jacob Palis Júnior, as FAPs são uma invenção brasileira que contribuem para o desenvolvimento da ciência e tecnologia. “Mais próximas da comunidade local do que o sistema federal, focam no que é mais urgente para cada região, otimizando a utilização dos recursos. No Paraná a situação é muito boa, o governo do estado entendeu a importância e dá todo o apoio para a Fundação Araucária”, disse.


PARCERIAS GARANTEM DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO A incansável busca por novas parcerias tem possibilitado maior captação de recursos e, consequentemente, aumento no orçamento da Fundação Araucária, ano após ano. Em 2010 eram cerca de R$ 24 milhões e atualmente gira em torno dos R$ 100 milhões. “Temos acompanhado o avanço que está acontecendo no Paraná, inclusive o crescimento exponencial dos valores investidos em pesquisa e desenvolvimento por parte da Fundação Araucária. Estimulamos ações de internacionalização da CT&I no Brasil e percebemos que o Paraná

vem aumentando sua cooperação neste sentido”, destaca o presidente do Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa (CONFAP), Sergio Gargioni. O presidente da Academia Brasileira de Ciência ressalta o importante desempenho das FAPs. “Sem estas iniciativas nós não podemos ir muito longe. Não podemos depender só de ministérios e agências de governo, que também são fundamentais. A contribuição da iniciativa privada e de fundações é que fortalece o sistema de maneira permanente”, destaca.

A maior parte dos recursos da FAP do Paraná, mais de 60%, é aplicada na linha de Verticalização do Ensino Superior e Formação de Pesquisadores, caracterizando o empenho da entidade, do governo estadual e da SETI, em melhorar a qualificação dos recursos humanos presentes e futuros, no ensino superior e pesquisa científica no estado do Paraná.

PROGRAMA DE BOLSAS APROVADAS

SOLICITADAS

7728

(* Chamadas ainda em vigência)

6592 5262 4388* 3270

Gráficos elaborados pela Fundação Araucária

Buscando incentivar a promoção de formação de recursos humanos para aprimorar, cada vez mais, o desenvolvimento científico e tecnológico no estado do Paraná, a Fundação Araucária vem aumentando o número de bolsas ofertadas à comunidade acadêmica. Em 2010 foram 2.157 bolsas, em 2011 foram concedidas 3.270 e em 2012 ultrapassou a marca de 4 mil. Um recorde na história da entidade, considerando que o programa de bolsas é a principal linha de trabalho da instituição. A filosofia de trabalho da Fundação Araucária está voltada para o estímulo à capacitação científica e ampliação do capital intelectual, considerados principais vetores do desenvolvimento econômico e da elevação da qualidade de vida da população. “São várias as contribuições das Fundações de Amparo à Pesquisa ao desenvolvimento do capital humano de um estado, entre elas concessão de bolsas. A Capes já destina cerca de 78% do seu orçamento em bolsas e isto tem sido importante. No entanto, a participação

2157

2010

2011

das Fundações Estaduais de Apoio à Pesquisa é de fundamental importância para que o número de bolsas cresça e mais

2012

alunos possam ser atendidos”, enfatiza o presidente da Capes Jorge Almeida Guimarães.

PARANÁ FAZ CIÊNCIA

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MEIO AMBIENTE

PROJETO INÉDITO PARA RECUPERAR FAUNA PESQUEIRA Banco de Imagens Departamento Biologia UEL

Universidade de Londrina coordena projeto de avaliação biológica na região do Paranapanema

O objetivo é evitar a perda de diversidade biológica, identificando as áreas de desova e desenvolvimento dos estágios iniciais dos peixes, preservando as espécies nativas e orientando para a proteção dessas áreas. Fernanda Simões de Almeida, coordenadora da pesquisa.

A

pesca foi por muitas décadas uma das atividades de subsistência para a maioria das populações ribeirinhas dos rios do Paraná. Como os rios vivem um processo de transformação de seus leitos pela necessidade de represamento para a irrigação agrícola e projetos hidrelétricos, o impacto ambiental tem causado a diminuição da atividade pesqueira. Além disso, espécies nativas de

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PARANÁ FAZ CIÊNCIA

Em pé, o professor e biólogo Mario Luiz e a professora Fernanda. Sentada, a pesquisadora Cláudia

peixes começaram a desaparecer, agravando ainda mais a situação de quem sobrevive da pesca. A solução encontrada pela Universidade Estadual de Londrina para reverter o quadro é colocar a ciência a favor do repovoamento dos rios. No Noroeste paranaense e Sudeste paulista, regiões com risco de extinção de espécies de peixes, os pesquisadores da UEL estão realizando há um ano um estudo sobre os im-

pactos provocados pelos represamentos dos rios da bacia do Paranapanema. “O objetivo é evitar a perda de diversidade biológica, identificando as áreas de desova e desenvolvimento dos estágios iniciais dos peixes, preservando as espécies nativas e orientando para a proteção dessas áreas”, explica a coordenadora da pesquisa, professora Fernanda Simões de Almeida, do departamento de biologia geral da UEL.


repovoamento com novas espécies). “Os estudos deverão fornecer subsídios a futuros programas e ações ambientais de conservação da diversidade, preservação e recuperação de áreas pesqueiras dessa e outras bacias hidrográficas.” “Este projeto criará ferramentas eficazes para a conservação ambiental e manutenção dos estoques pesqueiros e da biodiversidade da bacia hidrográfica do rio Paranapanema, com reflexos ecológico, ambiental e socioeconômico”, acentua a coordenadora Fernanda Simões. A identificação das áreas de desova e recrutamento é importante para implementar medidas de orientação e proteção dessas áreas, envolvendo a população ribeirinha nos projetos de conservação e manutenção, além dos órgãos de fiscalização.

Banco de Imagens Departamento Biologia UEL

O grupo de estudos de ecologia e genética de peixes da UEL estuda a bacia do rio Paranapanema há mais de 15 anos. Os resultados mostram uma diminuição da diversidade de espécies e da variação genética. “Esse declínio deve-se principalmente ao represamento em cascata do rio Paranapanema, introdução de espécies de peixes não nativas e desmatamento das margens”, explica o biólogo Mário Luis Orsi, professor de Ecologia da UEL. Orsi, que é responsável pela parte de campo e biológica do projeto, revela que estudos procuram levantar quais as espécies de peixes que estão efetivamente conseguindo permanecer neste ambiente durante todo o ciclo reprodutivo. Também é feita a análise conjunta de ecologia e genética de peixes, bem como o diagnóstico de recrutamento (criadouros para

Banco de Imagens Departamento Biologia UEL

O DECLÍNIO DAS ESPÉCIES

Coleta de espécies de peixes para pesquisa

AS ESPÉCIES AMEAÇADAS São mais de 20 as espécies ameaçadas de extinção, segundo o livro vermelho do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio. Algumas delas são o dourado, a piracanjuba, a pirapitinga, a piapara, o surubim do Paranapanema, o pintado, o barbado e o cascudo preto. “Há risco de desaparecimento destas espécies, caso não consigam efetivar seu recrutamento e pôr fim à pesca predatória e impactos com espécies não nativas”, alerta a professora Ana Cláudia Swarça, da área da Citogenética da UEL.

Pesquisadores trabalhando no laboratório do departamento de biologia da UEL

PRESERVAR PARA NÃO FALTAR Os afluentes dos grandes rios, que frequentemente servem como rotas alternativas à reprodução de peixes, levam grande número de ovos e larvas à bacia do Paranapanema, especialmente quando os trechos do rio principal estão represados. As informações obtidas neste trabalho, como os dados de biologia e ecologia de ovos, larvas, alevinos e de genética, servirão como subsídios a futuros programas ambientais. “Visamos basicamente à preservação das espécies”, acrescenta

a professora Fernanda. Outras metas são a recuperação da ictiofauna (conjunto das espécies de peixes da bacia) com a otimização dos programas de recuperação e melhoria do estoque pesqueiro, auxílio na produção de peixes e determinação das espécies propícias e necessárias à bacia hidrográfica do Paranapanema. “Tratase de um levantamento inédito, já que nunca foi feito um estudo deste nível em reservatórios”, garante a coordenadora do projeto da UEL.

AVALIAÇÃO GENÉTICA A pesquisa é denominada “Avaliação genética molecular e biológica das principais áreas de recrutamento nas porções média e baixa do rio Paranapanema, com mecanismo de otimização dos programas de conservação e recuperação do estoque pesqueiro”. Iniciada em 2012, vai durar 36 meses e tem a parceria da Duke Energy, Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL e da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Estadual de Londrina- FAUEL.

PARANÁ FAZ CIÊNCIA

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ENERGIA

ENERGIA NUCLEAR: BRASIL, UM PASSO À FRENTE Banco de Imagens

Em parceria, a UEM e a Marinha trabalham para tornar o Brasil autossuficiente na produção de combustível nuclear

Usina Nuclear de Angra dos Reis

A

busca do homem por uma melhor qualidade de vida com acesso a bens e serviços, resulta em uma grande demanda de energia que cresce a cada dia em todo o mundo. Essa necessidade leva à procura de novas e eficientes fontes de geração, que muitas vezes, esbarram na questão ambiental. Os combustíveis fósseis como o carvão e o petróleo são grandes emissores de gases poluidores que causam o efeito estufa. A energia solar e a eólica têm capacida-

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PARANÁ FAZ CIÊNCIA

de limitada e dependem de condições climáticas. A gerada pelas hidrelétricas é eficiente, mas depende da incidência de chuvas e pode causar grandes danos à natureza por causa das inundações. A opção para a crise energética é a energia nuclear, considerada limpa, mas que exige, além de discernimento em seu uso, domínio de sofisticado conhecimento. No Brasil, o combustível nuclear que alimenta os reatores das centrais nucleares é comprado da Suécia. Para tornar o país autossuficiente o governo tem um

projeto para desenvolver uma tecnologia eficiente e segura para produzi-lo aqui. A ideia é reduzir os custos da geração de energia elétrica por processo nuclear e passar de país importador para exportador. O projeto é de responsabilidade do CTM-ARAMAR - Centro de Tecnologia da Marinha, que produz a cerâmica urânia-gadolínia (UO2 - Gd2O3) um combustível que combina esses dois elementos e que torna o urânio mais reativo e eficiente.


Banco de Imagens UEL

“É uma magnífica empreitada científica e tecnológica, passando o país de comprador a potencial fornecedor deste combustível.” Andrea Paesano Jr. - UEM

Professor Andrea Paesano no laboratório da UEM - Maringá

eventualmente podem comprometer a segurança de um reator nuclear”, explica Andrea Paesano Jr., professor do Departamento de Física (DFI) da UEM e coordenador do Grupo de Materiais Especiais. “É uma magnífica empreitada científica e tecnológica, passando o país de comprador a potencial fornecedor deste combustível”, acrescenta o pesquisador. A montagem do espectrômetro - equipamento que analisa a composição do combustível - foi um esforço conjunto entre a Agência Internacional de Energia Atômica, a Marinha, o Instituto de Pesquisa Energéticas e Nucleares e o Departamento de Física da UEM, único local no

hemisfério sul que realiza esse tipo de medida espectroscópica. “A participação da UEM no nosso trabalho é muito importante. Essa técnica nos dá informações detalhadas que permite criar um processo de fabricação da pastilha de urânio com gadolínio melhor dominado”, ressalta o contra-almirante e engenheiro naval Luciano Pagano Junior, do Corpo de Engenheiros da Marinha. No momento, as pesquisas em conjunto estão mais voltadas para a preparação de aços especiais, denominados aços Maraging, utilizados nas centrífugas de enriquecimento de urânio e em partes de submarinos nucleares.

Banco de Imagens UEL

Este processo conta com o apoio fundamental do Grupo de Materiais Especiais do Departamento de Física da UEM – Universidade Estadual de Maringá (PR), parceria que já tem mais de uma década. A equipe da universidade desenvolveu uma metodologia para verificar a composição de amostras do urânia-gadolínia produzido pela Marinha, conferindo sua qualidade e eficiência. A técnica, chamada espectroscopia Mössbauer, realiza uma apurada análise seletiva do material. “Verificamos se o elemento químico gadolínio está dissolvido uniformemente no composto. Dependendo do tamanho e do número, precipitados de gadolínio

Pesquisadores no laboratório do Departamento de Física (DFI) da UEM - Maringá

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CENTRO TECNOLÓGICO ARAMAR Núcleo Elétrica), que estará concluído em 2016, testará os equipamentos que compõem toda a estrutura do sistema de propulsão de um submarino, além de treinar as futuras tripulações. “Não se trata apenas de energia nuclear aplicada à propulsão, é necessário um alto grau de compactação para caber no submarino. É uma tecnologia complexa, que apenas cinco países detêm. É nisso que estamos trabalhando”, disse o contraalmirante e engenheiro naval Luciano Pagano Junior.

Banco de Imagens CTM-Aramar

A Marinha do Brasil vem pesquisando e produzindo o combustível nuclear no CTM-ARAMAR - Centro Tecnológico da Marinha, em Iperó, (SP). Tem uma mega-estrutura, com sofisticados equipamentos, técnicos e engenheiros especializados em várias áreas. O LABMAT (Laboratório de Materiais Nucleares), fabrica combustíveis e materiais de aplicações nucleares. No local está em andamento a fabricação do primeiro lote de pastilhas, destinado à Central Nuclear de ANGRA I. O LABGENE (Laboratório de Geração-

PERIGOSO? A energia nuclear pode ser usada para o bem ou para o mal. Torna-se perigosa quando artefatos são construídos para explodir, usando energia nuclear, como é o caso das bombas atômicas. A mesma tecnologia pode ser utilizada nas modernas usinas nucleares e na Medicina Nuclear, que salva muitas vidas.

VANTAGENS CTM-Aramar – Centro Tecnológico da Marinha, em Iperó (SP)

O QUE É COMBUSTÍVEL NUCLEAR Combustível nuclear são os compostos ou ligas metálicas, normalmente fabricados à base de urânio, um metal pesado e radioativo. Uma reação em cadeia produz a fissão (quebra ou divisão) espontânea de um núcleo de urânio do isótopo 236, gerando nêutrons que atingem outros núcleos de urânio. A fissão produz outros nêutrons, liberando progressivamente enormes quantidades de energia térmica. Esta reação em cadeia pode ser controlada em uma usina nuclear, quando o combustível é “queimado” no reator da usina, em uma taxa administrada pelo operador do sistema. A energia térmica liberada é transformada em energia elétrica que é distribuída para os consumidores.

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PARANÁ FAZ CIÊNCIA

URÂNIO, O COMEÇO DE TUDO No início da cadeia de produção de combustível nuclear está a mineração, a extração do subsolo do mineral que contém urânio. O Brasil possui grandes reservas de minério de urânio. O mineral deve ser processado e transformado em um gás, o hexafluoreto de urânio. A seguir, vem o processo (dominado no Brasil) chamado “enriquecimento” do urânio, que consiste em tornar o urânio mais eficiente e concentrado para liberar energia. Isto pode ser feito em graus menores para uso em usinas ou maiores para bombas nucleares. Uma vez enriquecido, o urânio é convertido em UO2, a matériaprima do combustível nuclear.

A grande vantagem deste combustível é que ele não depende de chuva ou vento para mover turbinas e gerar eletricidade, como as hidrelétricas e as torres eólicas.

NO BRASIL Existem duas usinas nucleares em funcionamento, Angra I e Angra II, que fornecem 4% da capacidade nacional de geração de energia elétrica. Uma terceira usina, Angra III, está sendo concluída e tem início de operação programado para 2014.

NO MUNDO Em países como a França, Japão ou os EUA a geração nuclear de energia elétrica é de 78 %, 66 % e 20%, respectivamente, de forma que está profundamente presente na vida das populações locais.


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