2ª Edição - Junho/2014 - Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior - Fundação Araucária
A vitrine do conhecimento
O câncer perde a força Extensão Unila integra países
Prêmio Paranaense de Ciência e Tecnologia destaca pesquisa
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pág. 22 PARANÁ FAZ CIÊNCIA
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Na primeira edição, a revista Paraná Faz Ciência contextualizou o estado com relação à Tecnologia, Ciência e Ensino Superior, ligando à apresentação do trabalho da Fundação Araucária. Além disso, assuntos relacionados à evolução de pesquisas
que envolvem célulastronco; combustível nuclear; previsão de acidentes meteorológicos; sustentabilidade e acessibilidade também foram encontrados. As pessoas puderam conhecer um pouco mais sobre o Parque Tecnológico Virtual
(PTV) e conferir uma entrevista com a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Helena Nader. A segunda edição segue na mesma linha, a de aproximar a ciência, tecnologia e inovação cada vez mais da população. Confira!
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Beto Richa Governador Flávio José Arns Vice-Governador João Carlos Gomes Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Sueli Édi Rufini Coordenadora de Ciência e Tecnologia Diretoria da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná: Paulo Roberto Brofman Presidente José Carlos Gehr Diretor Administrativo e Financeiro Janesca Alban Roman Diretora Científica
Revista semestral da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e da Fundação Araucária Projeto Editorial Fundação Araucária Comitê Editorial Ticiane Barbosa (DRT 4689/PR) (em licença) e Vanessa Barazzetti (DRT 05.749/PR) Jornalistas da Fundação Araucária Mário Sérgio Brum (DRT 769/SC) Jornalista Responsável Josi Tromm, Luciana Leite Ciffro, Mara Andrich e Sabrina de Aguiar Reportagem e Redação Daniele Carneiro Revisora Fotografia Roberto Dziura, Pesquisadores, Universidades e Bancos de Imagens (shutterstock.com) Projeto Gráfico e Editoração Guilherme Brum Edição e Produção (Projeto Gráfico, Reportagens, Redação, Fotografias e Editoração) GBR Assessoria de Comunicação DIREITOS RESERVADOS É proibida a reprodução total ou parcial de textos e fotos sem prévia autorização Fundação Araucária Av. Comendador Franco, 1341 – Jardim Botânico CEP 80215-090, Curitiba – PR www.fundacaoaraucaria.org.br www.fappr.pr.gov.br Tel. (41) 3218-9250/ (41) 3218-9267 Distribuição Gratuita Tiragem 2.500 exemplares Impressão Gráfica Nacional
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Foto: Roberto Dziura
Governo do Estado do Paraná
ÍNDICE
ENTREVISTA 7 OS PLANOS DO MCTI PARA ELEVAR O PADRÃO CIENTÍFICO DO PAÍS
PATENTES 10
Foto: Augusto Coelho/Ascom do MCTI
PATENTES: CAPACIDADE DE INOVAR
TECNOLOGIA 14
QUANDO UM PROJETO INOVADOR PODE SE CONCRETIZAR
UNILA 32
EXTENSÃO DA UNILA INTEGRA PAÍSES DA REGIÃO TRINACIONAL
RESÍDUOS 34
O MEIO AMBIENTE AGRADECE
Foto: Roberto Dziura
BIOENERGIA 38
CAPA
Foto: Roberto Dziura
MESTRADO FOMENTA INOVAÇÃO NA ÁREA DE BIOENERGIA
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O MEDO NÃO IMPERA MAIS!
PESQUISADORES 22 CONHECIMENTO CIENTÍFICO É DESTAQUE NO PARANÁ
ARTIGO 26
IEES IMPULSIONAM O DESENVOLVIMENTO
INVESTIMENTOS 28
FAZER, AGIR E TRANSFORMAR
CIÊNCIA 41
TRANSFUSÃO SEGURA
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EDITORIAL
PREVENÇÃO + CURA = MEDICINA Qual é o primeiro pensamento que vem a sua cabeça quando precisa ir ao médico? Ansiedade, medo, enfim, sentimentos e pensamentos voltados ao negativismo são os mais destacados pelas pessoas quando questionadas. A medicina atual vem aplicando metodologias e iniciativas que pretendem mudar essa visão que as pessoas costumam fazer a respeito desse assunto. Profissionais da área de saúde estão investindo cada vez mais em estudos de prevenção e cura para doenças graves, como por exemplo: Câncer; Mal de Alzheimer; AIDS; Cardíacas, dentre outras. Nessa perspectiva, o médico passa a ser visto como um aliado e principal combatente, e não mais como uma pessoa responsável por determinar o tempo de
vida que resta a uma pessoa que seja diagnosticada como portadora de uma doença terminal. Segundo a revista Fleury, muitos problemas de saúde como câncer de próstata, de mama e de colo uterino evoluem lentamente, e os sintomas demoram para se manifestar. Por isso, o diagnóstico precoce é muito importante para os processos de tratamento e cura. Para se ter uma ideia, quando descoberto com antecedência, as chances de cura de um tumor nas mamas é de 95%, enquanto que no colo do útero as possibilidades são de 100%. Para o câncer de próstata, esse número chega a 90%. Nesse intuito, a segunda edição da Revista Paraná Faz Ciência traz a matéria de capa intitulada: “O Câncer per-
de a força”, tratando exatamente dessa questão, ou seja, das técnicas e alternativas que estão sendo desenvolvidas e aplicadas para que a prevenção e a cura do câncer sejam cada vez mais comuns. Apresenta histórias de vida de pessoas que superaram a doença, desmistificando o diagnóstico de câncer como uma sentença de morte. O conjunto de exames que compõem o check-up é hoje a principal ferramenta para prevenir diversas doenças ou detectá-las na fase inicial, quando ainda não apresentam sintomas, aumentando as chances de tratamento e de cura. Esses aspectos serão atendidos a partir do momento que as pessoas passarem a enxergar a medicina e seus avanços como algo benéfico e utilizá-la a seu favor.
CARTA DO LEITOR Senhor Presidente, ao cumprimentá-lo cordialmente, parabenizamos a Fundação Araucária pelo lançamento da 1ª edição da revista “Paraná Faz Ciência”. Sem dúvidas, essa publicação se tornará uma importante ferramenta de divulgação e disseminação do conhecimento científico, tecnológico e de inovação produzido a partir desse Estado para si e para o país, oportunizando que seus resultados sejam apropriados de forma mais abrangente pelo conjunto da sociedade. Profa. Dra. Maria Olívia de Albuquerque Ribeiro Simão Diretora Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas - FAPEAM
Boa tarde, sou Consultor do Núcleo Setorial de Irrigação de Santa Helena – PR e gostaria de sugerir o nosso projeto como pauta. Ele tem como objetivo discutir os desafios da agropecuária irrigada na produção de alimentos com sustentabilidade, além de proporcionar oportunidades de negócios à comunidade local e regional. Alessandro Scher Santa Helena - PR
Olá, achei um case de um site com um cunho muito bonito e acho que seria uma boa matéria para vocês, o nome dele é: EuPaciente - www. eupaciente.com.br. A 1ª Rede Social da Saúde com o objetivo de possibilitar o acompanhamento diário com registro de sintomas, exames e outras informações importantes, além de proporcionar um ambiente seguro e amigável para a troca de experiências. Vicente Dorsa São Paulo/SP
Agradecemos o reconhecimento e ideias enviadas. Esse espaço é direcionado para você, leitor, para que dessa forma possa contribuir com sugestões e críticas. Para isso, temos os seguintes canais: Site e e-mail: www.paranafazciencia.com.br / prfazciencia@fundacaoaraucaria.org.br
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ENTREVISTA ARTIGO
Foto: Augusto Coelho/Ascom do MCTI
Engenheiro Mecânico e doutor em ciência econômica, o mineiro Clélio Campolina Diniz está comandando desde março o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o MCTI
OS PLANOS DO MCTI PARA ELEVAR O PADRÃO CIENTÍFICO DO PAÍS om um extenso histórico acadêmico, foi reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diretor-presidente do Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BHTEC) e presidente da
Câmara de Ciências Sociais Aplicadas da FAPEMIG. Desde 2010 ele integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), órgão de assessoramento da Presidência da República. Com trajetória profissional em institutos e universidades, o novo ministro lem-
bra que sua principal missão é atender a determinação da presidência de “elevar o padrão científico e tecnológico brasileiro.”. Clélio Campolina Diniz, concedeu entrevista exclusiva para a Revista Paraná Faz Ciência, revelando seus planos frente ao ministério.
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Qual o seu plano de trabalho frente ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o que pretende executar e como enxerga o atual estágio da pesquisa científica no Brasil? Recebi uma determinação da presidenta Dilma Rousseff para preparar um plano para elevar o padrão científico e tecnológico brasileiro. Primeiramente precisamos continuar a irrigar o sistema, mantendo os projetos de pesquisa e de interface com as empresas. Então, várias ações continuam. Lançamos a nova versão do edital universal do CNPq que tem um efeito de capilaridade muito grande com o sistema acadêmico-universitário. Lançamos também uma nova versão da chamada referente aos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia ainda no próximo mês uma nova versão dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia.
O que são essas plataformas? Essas plataformas não visam desenvolver por exemplo biotecnologia, física nuclear, dentre outras áreas, pelo lado da ciência. Pretendemos incorporar os grandes temas brasileiros que precisam de solução e fazer uma orientação para a solução desses problemas nacionais. Todos os temas e setores que podemos combinar de diferentes campos da ciência para resolver um problema de relevância econômica e social para o país. As experiências mundiais mostram isso e nós estamos preparando essas plataformas que vão ser o grande projeto do MCTI para o país.
Como está a execução do Projeto Inova Empresa?
Que projetos são esses? É o edital do CNPq, referente aos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, INCT e também o edital da Finep, do MCTI conjuntamente com o MEC. Este edital, chamado Proinfra - Programa de Infraestrutura - servirá para a construção de grandes bases de infraestrutura de pesquisa de uso compartilhado. Uso compartilhado pode ser, por exemplo, o uso de laboratórios das universidades por pesquisadores de outras instituições. Temos grandes infraestruturas de pesquisa que podem ser usadas por mais de uma universidade. Na Universidade Federal de Minas Gerais, onde fui reitor, existe um centro de microscopia eletrônica que é aberto para as empresas. Existe algum projeto estratégico do ministério? Um grande salto que estamos dando é a implantação de um conjunto de plataformas científicas e tecnológicas.
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A maioria das iniciativas estão sendo desenhadas para a implementação conjunta. Por exemplo, para os projetos dos INCTs temos acordo para que sejam implementados de forma conjunta pelos órgãos do governo federal e pelas fundações de apoio à pesquisa dos estados. E as plataformas também. Vamos tentar articular ação do governo federal com os governos estaduais. É um trabalho de conjunto, cooperativo, que também aporta recursos que se juntam aos orçamentos na área de ciência e tecnologia dos estados. É um caminho muito promissor a atividade conjunta entre os órgãos de fomento do governo federal, CNPq, Finep e as fundações de apoio a pesquisas dos estados.
Primeiramente precisamos continuar a irrigar o sistema, mantendo os projetos de pesquisa e de interface com as empresas
Que ações e iniciativas o ministério vai firmar com as FAPs – Fundações de Apoio à Pesquisa dos estados brasileiros? O projeto do MCTI tem caráter federativo, de articulação com os governos estaduais, CNPq, FINEP, FAPs, empresas, ministérios, enfim, toda a sociedade brasileira. As FAPs têm o conhecimento da realidade local de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), por isso desempenham papel preponderante na política de investimentos do ministério.
É um dos programas de grande sucesso que está em implementação. O Inova Empresa é um projeto executado pelo BNDES e pela Finep, que já tem aprovado R$ 39 bilhões, dos quais R$ 16 bilhões foram assinados e contratratados. O Inova Empresa apoia programas de inovação dentro das empresas e muitas delas em interface com atividades de pesquisas universitárias ou de institutos de pesquisa. Também foi publicado o edital da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), que prevê investimento de R$ 260 milhões. Que avaliação pode ser feita do novo Código Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação? O novo código é fundamental, porque uma das grandes dificuldades que temos são as limitações legais. A PEC nº 290 foi aprovada por unanimidade em segundo turno na Câmara dos Deputados e se encontra no Senado Federal. Ela faz mudanças constitucionais que permitem viabilizar as leis ordinárias na área de ciência
Foto: Augusto Coelho/Ascom do MCTI
e tecnologia. O projeto de lei 2.177/2011 já foi aprovado por Comissão Especial da Câmara dos Deputados e está pronto para ser votado. Tem também o projeto de lei nº 619/2011 no Senado, que trata dos mesmos temas do PL 2.177/2011. A nova legislação vai ser decisiva na flexibilização das condições de gestão da área de ciência e tecnologia. Vai flexibilizar a gestão financeira, o sistema de compras, por exemplo, a articulação entre as instâncias federativas: união, estados e municípios, permitindo inclusive o compartilhamento de recursos. Vai flexibilizar a participação dos professores universitários em atividades de pesquisa ligadas às empresas. Permitir inclusive que os pesquisadores participem de atividades junto com as empresas. Como não há nenhuma controvérsia nesse momento, acho que vai ser aprovado, sem problemas.
O Brasil poderá ganhar novos parâmetros de qualidade e produtividade? E como avalia a participação da iniciativa privada em projetos conjuntos com o governo? Temos que flexibilizar a participação do pesquisador, acadêmico-universitário em atividade de inovação empresarial. Com critérios e acompanhamento. O nosso entendimento é o seguinte: o governo faz pesquisa, mas se você analisa a experiência dos países desenvolvidos, é crescente a participação de investimento privado em pesquisa. Então, o nosso esforço é de que um projeto dessa natureza possa não só construir as pontes, como alavancar mais investimento privado em pesquisa, na consciência de que a empresa, para ter competitividade, capacidade de competição internacional, etc., precisa investir em pesquisa. Nós es-
tamos convencidos de que o caminho é este, estimular a relação com o sistema acadêmico-universitário e de pesquisa e ao mesmo tempo fomentar o setor privado, como é esse exemplo do Inova Empresa. O Inova Empresa é um projeto que fomenta o setor privado para ampliar a pesquisa. Como avalia a concessão de permanência definitiva a pesquisadores estrangeiros? Isso é decisivo. A ciência não pode ter fronteiras. Temos que flexibilizar a presença de pesquisadores estrangeiros no Brasil. Nós, brasileiros, somos recebidos em muitas partes do mundo como pesquisadores, como professores, sem barreira nenhuma. Isso vai trazer um ganho de conhecimento para o avanço da ciência e para o avanço da tecnologia também.
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Foto: Antonio Carlos Locatelli
PATENTES
PATENTES: CAPACIDADE DE INOVAR Títulos de propriedade industrial são a chave para o crescimento econômico
patente é um título de propriedade outorgado pelo Estado aos autores de uma invenção ou modelo de utilidade, a fim de que tenham a exclusividade de comercialização dessa descoberta por um determinado tempo. A garantia é, portanto, um estímulo para que a inovação seja rentável e um dos motores da economia mundial. Para muitos países, inovar e paten-
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tear o novo conhecimento é a chave para o desenvolvimento econômico e social. É por meio das patentes que a inovação é transformada em produtos e serviços capazes de melhorar a vida da população. “Uma empresa leva uns 12 anos e investe milhões para lançar um novo medicamento. Por isso precisa da garantia de que será a única a explorá-lo por um período. É a garantia de retorno pelos
investimentos em pesquisas”, explica o gerente da Agência Tecpar (Instituto de Tecnologia do Paraná) de Inovação, Marcus Julius Zanon. Em contrapartida, o inventor é obrigado a revelar todo o conteúdo técnico da matéria protegida. Para Zanon, essa informação é um importante mecanismo de divulgação de informação tecnológica, pois cria uma roda de conhecimento científico que beneficia toda a sociedade.
A LEGISLAÇÃO DAS PATENTES NO BRASIL A LPI - Lei da Propriedade Industrial (nº 9.279/96) - regula no Brasil todos os direitos e obrigações relativos ao tema, como os requisitos de patenteabilidade (novidade, atividade inventiva e aplicação industrial) e os tipos de concessão: patente de invenção, modelo de utilidade e certificado de adição. O primeiro, com validade de 20 anos, é a concepção advinda da capacidade intelectual do autor, que representa uma solução nova para um problema existente. Pode ser um produto industrial (objeto, aparelho, dispositivo
etc.) ou uma atividade industrial (processo, método etc.). O segundo, com validade de 15 anos, consiste na apresentação de uma nova forma ou disposição de um objeto de uso prático, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação. O certificado é um aperfeiçoamento introduzido no objeto da patente de invenção, e por ser acessório a ela, tem a mesma data de vigência.
CAMINHO DAS PEDRAS Atualmente, a concessão de uma patente pode levar até oito anos. Por isso, antes de iniciar o processo, recomenda-se fazer uma busca prévia para verificar se o invento já conta com a proteção. Depois, é preciso depositar o pedido no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) através de um formulário específico, acompanhado do comprovante de pagamento e instruído com o relatório descritivo, as reivindicações, os desenhos (se for o caso) e o resumo. O INPI disponibiliza ainda o depósito eletrônico de patentes. Após 18 meses de sigilo, a solicitação é publicada. No prazo de 36 meses con-
tados da data do depósito, o autor também tem de requerer que o pedido seja analisado. A partir daí é feito o exame técnico, que vai deferir ou não a concessão da patente. Para orientar e assessorar os pesquisadores paranaenses nessa tarefa burocrática e conscientizá-los da importância de salvaguardar suas descobertas, foram implantados Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) em universidades e instituições científicas do estado. Previstos nas leis nº 10.973/2004 (federal) e nº 17.314/2012 (estadual), os NITs são fruto de uma parceria entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq), a Agência Brasileira da Inovação (Finep), a Fundação Araucária e o Tecpar. Na avaliação de Zanon, o trabalho feito até agora pelos NITs paranaenses, bem como os treinamentos dados pelo Tecpar desde 2002 aos pesquisadores, professores e inventores independentes, está dando resultado. “O número de patentes requeridas vem crescendo, e, o mais importante, estamos aproximando a academia da iniciativa privada para que as invenções desses profissionais cheguem às pessoas.” Para mais informações, acesse: www. inpi.gov.br e www.nitpar.pr.gov.br.
O RANKING DAS PATENTES NO MUNDO O último relatório da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), lançado em dezembro de 2013, mostra que o número de pedidos de patentes no mundo (2,35 milhões) teve aumento de 9,2% em 2012, a maior expansão em 18 anos. A China foi quem mais avançou (24%), conquistando pela primeira
vez a liderança do ranking de solicitações, antes ocupada pelos Estados Unidos. A Nova Zelândia obteve a segunda maior elevação, com 14,3%, seguida pelo México (9%), Estados Unidos (7,8%) e Rússia (6,8%). O Brasil alcançou 5,1% de incremento. Mesmo com essa evolução, o País continua com resultados modestos.
Em 2012, foram depositadas 33.395 solicitações de patentes no Brasil, segundo dados do INPI. Já na China, foram 652.777, nos Estados Unidos 542.815 e no Japão 342.796 (relatório OMPI). E das 33.395 requisições, quase 80% (25.585) foram feitas por estrangeiros. Na China, essa relação foi inversa.
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Foto: Antonio Carlos Locatelli
FARINHA DE PEIXE Após longos nove anos, o INPI concedeu, em agosto de 2013, a patente ao processo de obtenção da farinha aromatizada a partir da carcaça de peixes, desenvolvido pela professora Maria Luiza Rodrigues de Souza, do Departamento de Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá. A farinha é rica em cálcio,
fósforo, ferro, proteínas e ômega 3, e pode ser utilizada em salgadinhos, bolachas, biscoitos, bolos, massas em geral e até carnes (hambúrguer, quibe, dentre outros). A professora explica que o produto é ideal para enriquecer a dieta de crianças e idosos, que são mais avessos ao consumo de peixe e acabam não se beneficiando dos nutrientes desse alimento. “O biscoito de polvilho, por exemplo, que as crianças adoram, tem menos de 2% de proteínas. Com a farinha, esse índice vai para 8 a 10%, dependendo do teor de inclusão. Devido à grande presença de cálcio, ela também ajuda a combater a osteoporose, comum entre os idosos”. Segundo a professora da UEM, os alimentos com a inclusão da farinha já foram degustados em várias oportunidades e tiveram boa aceitação pelo público. “Tudo fica muito gostoso
PROJETO EMPRESARIAL Além da versão aromatizada, Souza está experimentando outras técnicas à base de peixe em conjunto com a empresa Gomes da Costa, de Itajaí (SC). De acordo com a engenheira química da empresa, Mirian Graciela Dalla Porta, eles viram na pesquisa da professora a oportunidade de dar uma destinação mais rentável ao que sobra do enlatamento dos pescados (cabeça, cauda e vísceras). Hoje tudo é transformado em ração animal.
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Em um primeiro momento o projeto prevê a criação de uma farinha para ser empregada nas lasanhas e pizzas congeladas comercializadas pela empresa. Na fase seguinte, a ideia é desenvolver novos produtos. “Sabemos o valor nutricional que essa farinha tem e agregaremos valor à nossa linha, substituindo um percentual da farinha comum, que contém carboidrato, por outra muito mais proteica e benéfica à saúde das pessoas”, destaca a engenheira da Gomes da Costa.
e as pessoas sempre perguntam onde podem comprar a farinha. Agora, precisamos de parceiros para produzi-la em larga escala e colocá-la no mercado.”
O PARANÁ NO RANKING NACIONAL Em 2012, foram depositadas 33.395 solicitações de patentes no Brasil – 25.585 de estrangeiros e 7.810 de residentes –, segundo dados do INPI. Do total de pedidos dos brasileiros, o Paraná foi responsável por 684, um aumento de quase 5% em relação a 2011 (654). O estado é o quarto colocado no ranking nacional. Os NTIs incluídos no Catálogo de Patentes das Instituições Científicas e Tecnológicas do Paraná contribuíram com 107 solicitações em 2012. Juntos, eles já somam 607 depósitos, sendo 227 entre 2011 e 2013.
Foto: Roberto Dziura
Descoberta inova em segurança estrutural e reduz gás poluente
Fonte: Diretoria de Patentes do INPI
Núcleo de Inovação Tecnológica
Pedidos de Patentes
IAPAR – Instituto Agronômico do Paraná
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ICC – Instituto Carlos Chagas
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Latec – Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento
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PUC – Pontifícia Universidade Católica do Paraná
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Tecpar - Instituto de Tecnologia do Paraná
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UEL - Universidade Estadual de Londrina
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UEM - Universidade Estadual de Maringá
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UEPG - Universidade Estadual de Ponta Grossa
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UFPR - Universidade Federal do Paraná
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Unicentro - Universidade Estadual do Centro-Oeste
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Unioeste - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
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UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do Paraná
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UTP – Universidade Tuiuti do Paraná
2
Total
607
MIL E UMA UTILIDADES Uma fibra obtida a partir do sequestro de carbono proveniente da queima da biomassa (no caso, o piche vegetal) produzida na agroindústria é incombustível, isolante térmica e acústica. Por ser maleável, pode ser empregada em diversas indústrias e na construção civil, na forma de mantas, placas, tubos e discos. Foi para esse material que o professor de Engenharia de Materiais da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Sidnei Antônio Pianaro, e o pesquisador do Programa Nacional de Pós-graduação da CAPES, Gino Capobianco, requereram a patente junto ao INPI em julho de 2012. A descoberta já despertou o interesse de alguns segmentos, como o de fabricantes de portas corta-fogo. “Essa fibra suporta temperaturas de até 1,2 mil graus. Se o forro da boate em Santa Maria (RS), por exemplo, contasse com esse revestimento, não teria pegado fogo e não liberaria os gases tóxicos, que causaram aquela tragédia”, afirma Pianaro. O material também se destaca pelos benefícios ao meio ambiente, pois retira da atmosfera o gás carbônico, que é poluente, transformando-o em algo inovador e útil para a população. Para Pianaro, que tem outras quatro solicitações de patente, o NIT da UEPG foi fundamental na condução dos pedidos. “Antes, por falta de apoio, o pesquisador apenas publicava o estudo, sob forma de artigo científico, e alguém aproveitava o conhecimento. Hoje, o núcleo protege nossas pesquisas e nos auxilia em todas as fases do processo.” PARANÁ FAZ CIÊNCIA
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TECNOLOGIA
QUANDO UM PROJETO INOVADOR PODE SE CONCRETIZAR ideia existe, a proposta está montada e você não sabe como torná-la viável. Com a vinda do Programa Tecnova no Paraná, em 2013, uma nova oportunidade garante suporte a projetos inovadores, apresentados por micro e pequenas empresas, que tenham registro comercial e CNPJ do Paraná há pelo menos seis meses. Hoje 193
O Paraná supera expectativas em inscrições no projeto de estímulo aos micro e pequenos empresários
Ilustração: Shutterstock.com
IDEIA LANÇADA, PROJETO CONSOLIDADO, OPORTUNIDADE QUE SURGE
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mil, ou 98% das empresas paranaenses são de micro ou pequeno porte e geram 1,1 milhão de empregos. O Tecnova disponibiliza R$ 22,5 milhões para as empresas paranaenses, sendo R$ 15 milhões provenientes da Finep e R$ 7,5 milhões do Governo Estadual. O programa faz parte de uma ação de descentralização da Finep, a Agência Brasileira de Inovação.
Segundo João Baptista de Lima Guimarães, da área de Fomento e Desenvolvimento do Posto de Informações da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), o apoio financeiro do Programa Tecnova é uma iniciativa conjunta dos setores público e privado “fundamental para promover a inovação empresarial, alavancando projetos inovadores das micro e pequenas empresas”. Para o coordenador do programa na Fundação Araucária, Osmar Muzilli, o Tecnova ajuda a identificar novas ideias e estimular novos talentos. ”É um grande incentivo à inovação tecnológica, aproximando governo, instituições de ensino superior e de pesquisa com as micro e pequenas empresas, permitindo alavancar a competitividade do negócio paranaense”. conclui.
NÚMEROS RELACIONADOS A MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO PARANÁ Seção da classificação nacional de atividades econômicas
Micro
Pequenas
Total de Empresas
Agricultura, Pecuária, Produção Florestal, Pesca e Aqüicultura
27.872
460
28.332
395
82
477
26.220
4.205
30.425
39
18
57
Indústrias Extrativas Indústrias de Transformação Eletricidade e Gás Água, Esgoto, Atividades De Gestão de Resíduos e Descontaminação Construção Comércio, Reparação de Veículos Automotores e Motocicletas Total
644
85
729
17.435
1.281
18.716
109.885
4.618
114.503 193.239
Fonte: FIEP (Federação das Indústrias do Estado do Paraná)
“Uma iniciativa que fortalece o entendimento regional, facilita a identificação pelo Estado das áreas que devem ser priorizadas e direciona o empreendedor com potencial de crescimento” Marcelo Camargo - Responsável pelo Departamento de Operações de Subvenção da FINEP
O responsável pelo Departamento de Operações de Subvenção da FINEP, Marcelo Nicolas Camargo, revela que os 200 projetos inscritos na chamada paranaense mostram o sucesso desse esforço pela inovação. Do total, 55 foram contemplados com o suporte do Tecnova, “uma iniciativa que fortalece o entendimento regional, facilita a identificação pelo Estado das áreas que devem ser priorizadas e direciona o empreendedor com potencial de crescimento”, destaca.
INOVAÇÃO EM TODAS AS ÁREAS A Fundação Araucária, em parceria com a Fiep e o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), sob a coordenação da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) executa o Tecnova. Faz desde o lançamento da chamada pública, processo de seleção, contratação das empresas e alocação dos recursos. Também o acompanhamento dos projetos sele-
cionados até a prestação de contas. Todas as etapas devem ser concluídas entre 2013 e 2015. Foram inscritos projetos de inovação voltados para as áreas de Energias alternativas; Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), Petróleo e gás, considerados de interesse Nacional e Estadual. Além de projetos de Setores prioritários estaduais como: Ciências
O LEMA É INOVAR
Muitas vezes um projeto precisa de um impulso, um estímulo. Foi o que buscou o coordenador de empreendedorismo e incubação de empresas da Agência de Inovação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fernando Gimenez. Assim que tomou conhecimento do Tecnova, pediu que fosse feita a apresentação do Programa às empresas incubadas na Universidade e que pudessem também participar do edital. É uma oportunidade que na visão dele só colabora para o desenvolvimento econômico do Paraná e ainda abre o caminho para os estudantes. “Para os alunos, que também são empresários incubados em nossa agência, esse tipo de recurso pode ajudar a empresa a se consolidar no mercado. Não podemos esquecer que, tradicionalmente, as inovações ocorrem com maior frequência nas pequenas empresas”, revela Gimenez.
Biológicas e Biotecnologia; Ciências e Tecnologias Ambientais; Ciências e Tecnologias Agrárias e Agronegócio; Mobilidade e Metalmecânica. Os recursos são para financiar os estudos de viabilidade, anteprojeto, material de consumo, aluguel de equipamentos, despesas de locomoção, entre outros itens. Acesse www.fapp.pr.gov.br e www.fiep.org.br e tenha mais informações. PARANÁ FAZ CIÊNCIA
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Foto: Roberto Dziura
CAPA
Armando Pomini, professor da UEM, Doutor em Química Orgânica e responsável pela pesquisa
Antes, uma das doenças mais temidas no mundo era vista como sinônimo de sentença final. Hoje já existem pesquisas que confirmam o oposto e até há exames capazes de demonstrar se a pessoa terá câncer ou não Até algum tempo, a palavra “câncer” assustava tanto que sequer era pronunciada em algumas famílias. Até hoje pessoas mais velhas não gostam de falar na doença. Isso porque o problema já foi considerado uma sentença de morte precoce, mutilação em cirurgias e causador de grande debilidade aos pacientes e às famílias que os cercam. De alguns anos para cá, graças a muitos pesquisadores, a “tal palavra” tem sido mais pronunciada, discutida e aceita. Isto porque a ciência tem feito importantes descobertas de novos tratamentos, diagnósticos precoces e, principalmente, de ações de prevenção. No livro Revolução Imunológica, best-
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seller no Japão, o cientista e professor da Universidade de Nigata, Toru Abo, traz informações inusitadas a respeito do câncer. Ele afirma que a enfermidade acomete pessoas que sofrem com estresse e
que não levam um estilo de vida saudável. O pesquisador afirma ainda que o fortalecimento imunológico é o que realmente fará a diferença na prevenção do câncer. “Enxerguei as verdadeiras causas do câncer a partir do estudo da imunologia”, diz ele. E ele vai além: afirma que as atuais terapias não curam a doença (como a radioterapia, a quimioterapia e a cirurgia) e que alguns sintomas, como febre e até a metástase seriam “sinais” de que o corpo está reagindo e podendo até se curar. Pesquisas e teorias são muitas. Há aquelas que inclusive dizem que pessoas que guardam mágoas também são mais suscetíveis ao câncer. Apesar das pesquisas e da ciência caminharem a passos lentos no que diz res-
Fotos: Roberto Dziura
POR QUE A ORQUÍDEA?
peito à prevenção, já há alguns estudos dignos de comemoração. Um deles está sendo desenvolvido na Universidade Estadual de Maringá (UEM), no Paraná, em conjunto com a Universidade Estadual de Londrina (UEL) e Universidade de Campinas (Unicamp), em São Paulo. Os pesquisadores dessas universidades estudam, desde 2011, substâncias presentes no extrato de três espécies de orquídeas. E o que é mais animador: já confirmaram que uma fração do extrato de uma dessas orquídeas (a Miltoniaflavescens) contém uma substância capaz de combater células cancerígenas do ovário. O professor da UEM, Doutor em Química Orgânica e responsável pela pesquisa, Armando Pomini, explica que a suspeita é de que essas substâncias interajam com as enzimas responsáveis pela multiplicação do DNA nas pessoas acometidas pelo câncer. Se essa multiplicação não acontece, a célula também não consegue se multiplicar. O pesquisador, no entanto, faz um
alerta: as substâncias passam por um amplo e demorado processo de purificação antes de serem testadas nas células. Portanto, não se deve utilizar a orquídea popularmente ou indiscriminadamente. Após a purificação, que demorou cerca de sete meses, retirou-se um pó, o qual teve sua estrutura molecular analisada. “É altamente desaconselhável o uso das plantas in natura ou na forma de chás ou outros procedimentos, pois são plantas reconhecidamente tóxicas quando ingeridas pelo ser humano”, alerta. Pomini ressalta que aproximadamente 80% das substâncias que são utilizadas nos hospitais para tratamento dos mais variados tipos de câncer são provenientes de fontes naturais, principalmente plantas e microrganismos. Ele lembra ainda que pesquisas científicas como a da orquídea podem levar cerca de 30 anos para que os seus resultados sejam aplicáveis adequadamente em medicamentos para serem consumidos pelos seres humanos.
Foto: Banco de imagens
A orquídea Miltoniaflavescens, que contém a substância capaz de combater células cancerígenas
Na UEL os pesquisadores realizam a multiplicação de orquídeas nativas do Brasil em laboratório desde 1997. Segundo Ricardo Faria, Pós- Doutor na área de Floricultura e professor da pós-graduação do curso de Agronomia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), na natureza a germinação é inferior a 5% e com a técnica de propagação in vitro a porcentagem de germinação em meios nutritivos contendo açúcar, adubos e carvão é superior a 95%. “Desse modo foi possível determinar as condições de manejo para cultivo de várias espécies selvagens em estufa,tornando-as domesticadas”, explica. Assim é possível produzilas em estufas sem fazer a retirada da natureza, onde as orquídeas devem ser conservadas. Mas por que, afinal, utilizar a orquídea para pesquisas de cura do câncer? Segundo Pomini, a ideia foi “sair do lugar comum”, já que no planeta existem aproximadamente 40 mil espécies de orquídeas nativas e 500 mil híbridas. No Brasil e na Colômbia está o maior número de espécies catalogadas. Porém, apenas cinco já foram estudadas. As três espécies estudadas na UEM foram testadas em dez tipos de câncer. Pomini estima que das 40 mil espécies em todo o mundo, apenas dez foram estudadas em relação ao seu potencial anticâncer. Todas são originárias de países da Ásia.
PARANÁ FAZ CIÊNCIA
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Ricardo Faria - Pós-Doutor na área de Floricultura, é professor da pósgraduação do curso de Agronomia da Universidade Estadual de Londrina (UEL)
O resultado positivo obtido com essa orquídea incentivou os pesquisadores a procurarem outras espécies para análise. Uma delas é rara e encontrada de forma endêmica no norte do Paraná, sendo ameaçada de extinção; a outra é nativa da Amazônia. Porém, os nomes dessas espécies ainda não foram divulgados porque as substâncias não foram ainda patenteadas – a única substância com patente é a obtida da orquídea Miltoniaflavescens. Os trabalhos foram desenvolvidos pelos mestrandos em química Josiane Monteiro e Thiago Almeida e pelas graduandas Leticia Porte e Greice Lopes. Em ambos os casos, as plantas foram cedidas pelo professor Ricardo Faria, da UEL, e os testes foram feitos na Unicamp.
Foto: Roberto Dziura
No ano de 2013, a atriz americana Angelina Jolie causou surpresa no mundo todo ao fazer uma cirurgia de retirada das mamas, após revelar que fez um exame para verificar o traço genético (ou familiar) do câncer. Este exame busca detectar uma espécie de “defeito” no gene BRCA1. Se isso ocorre, a pessoa tem 85% de chances de desenvolver câncer. No caso do BCR1, o “defeito” pode ocasionar câncer de mama ou ovário, principalmente. Detectar o defeito do gene só é possível porque hoje os médicos conseguem ter acesso ao diagnóstico da hereditariedade pelo DNA da
José Claudio Casali, oncogeneticista do Instituto de Oncologia do Paraná (IOP)
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PARANÁ FAZ CIÊNCIA
pessoa. Ou seja, por meio do sangue ou da saliva é possível fazer o teste genético no paciente. Para muitas pessoas, fazer esse exame pode parecer um exagero, uma tentativa de antecipar um diagnóstico. No entanto, para os médicos trata-se apenas de prevenção, como uma “ajudinha” da ciência. “É melhor enfrentar o risco do que a doença”, opina o oncogeneticista do Instituto de Oncologia do Paraná (IOP), José Claudio Casali. Com o teste do DNA, os médicos têm nas mãos quatro possibilidades. A primeira é a identificação de um possível traço familiar de câncer, o que possibilita uma prevenção adequada. A segunda possibilidade é verificar se a pessoa que já teve câncer pode
ou não desenvolver novamente a doença. A terceira – explica Casali – seria todos os membros da família fazerem o exame e verificar a probabilidade dos filhos desenvolverem câncer. A quarta possibilidade pode evitar a transmissão do traço genético para os filhos. Neste caso, é possível usar a mesma técnica do bebê de proveta e “criar” uma criança sem o “defeito” no BRCA1.
Pesquisas pelo DNA ajudam a identificar sinal até nos familiares
Foto: Roberto Dziura
O DNA E O DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER
OUTRAS FORMAS DE PREVENÇÃO “Com as pesquisas genéticas é possível definir melhor os indivíduos que vão ter câncer e, com isso, podemos acompanhá-los melhor”
Fotos: Roberto Dziura
Flavio Tomasich - Cirurgião do Hospital Erasto Gaertner
Prevenção, por meio de uma vida mais saudável, exercícios físicos, dieta equilibrada e pensamento positivo pode reduzir em até 35% o risco de defeito do gene BCR1. Os médicos lembram que apenas 10% dos cânceres são de origem genéti-
ca e cerca de 90% surgem por conta do meio ambiente (envelhecimento das células e exposição a fatores de risco, como tabaco e álcool). “As pessoas já perceberam que o câncer pode não ser fatal. Elas perceberam, sim, que podem mudar o seu filme. E a prevenção pode ser eficaz. O resultado que temos com o DNA é um diagnóstico, e não uma sentença. E esse diagnóstico tem que vir com uma ação
DECISÃO DIFÍCIL Este foi o caso da dentista de Curitiba (PR) Maria Amélia Busato. Em sua família ocorreram oito casos de câncer de mama, inclusive o de sua mãe, que fez a remoção. A irmã, falecida com 36 anos, também enfrentou a dor de uma metástase de um câncer que iniciou nos seios. Maria Amélia não pensou duas vezes: no ano de 2012, ela, a mãe e outra irmã fizeram o exame para detectar o traço genético. Ela e a mãe tiveram o resultado positivo e a irmã, negativo.
de prevenção”, afirma Flavio Tomasich. O cirurgião do Hospital Erasto Gaertner, Flavio Tomasich, também afirma que as pesquisas genéticas são muito esclarecedoras. Ele lembra, inclusive, que todos os cânceres provêm de falhas genéticas – o que é bem diferente do traço familiar. “Com as pesquisas genéticas é possível definir melhor os indivíduos que vão ter câncer e, com isso, podemos acompanhá-los melhor”, comenta. Na sua área, que é o trato com o aparelho digestivo, ele comenta que os testes genéticos não permitem uma prevenção tão efetiva quanto nos casos de mama.
O exame apresenta uma escolha. Ou você faz a cirurgia ou faz um controle muito maior. Eu optei pela cirurgia” Maria Amélia Busato - Paciente
A dentista Maria Amélia Busato optou por retirar as duas mamas
Depois de seis meses de muita conversa com o marido, a dentista decidiu fazer a chamada mastectomia preven-
tiva, retirando as duas mamas. “Eu só pensei na minha família. Eu não queria que eles passassem novamente pelo sofrimento. Tive o apoio do meu marido, da minha mãe e da minha irmã. Foi um procedimento dolorido, mas tudo passa”, relembra.
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Foto: Roberto Dziura
A diminuição da gordura animal e o aumento da ingestão de frutas, verduras e peixes também auxiliam na prevenção do câncer” Sérgio Hatschbach - Chefe do Serviço de Ginecologia e Mama do Hospital Erasto Gaertner, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e médico do IOP
RECONSTRUÇÃO DAS MAMAS Um dos tipos de câncer que mais cresce no Brasil é o de mama. Estima-se que em 2014 surjam cerca de 57 mil casos no país. Dez mil só na região Sul. Dois fatores levam a isto, segundo o chefe do Serviço de Ginecologia e Mama do Hospital Erasto Gaertner, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e médico do IOP, Sérgio Hatschbach: o crescimento no número de realizações de exames e diagnósticos e o aumento da população em envelhecimento. Em casos positivos, dois são os pro-
cedimentos cirúrgicos para combater o câncer de mama. A mastectomia é a mais radical, com a retirada total da mama, geralmente após o exame do traço genético. A denomastectomia é a retirada apenas da glândula mamária da paciente, continuando o risco, mas de forma reduzida. A cirurgia oncoplástica, segundo Hatschbach, permite fazer a cirurgia estética juntamente com a cirurgia em si. Outra novidade, agora no campo de diagnóstico precoce e prevenção, é em
relação às axilas. Era comum os médicos esvaziarem os gânglios das axilas como forma de prevenção de edemas de braços. Com o avanço das pesquisas, os médicos encontraram o chamado linfonodo sentinelo, que é o primeiro linfonodo da axila que geralmente é acometido no câncer de mama. “Durante a cirurgia, hoje conseguimos verificar se o linfonodo sentinelo está comprometido ou não. Só fazemos o esvaziamento se ele estiver comprometido”, explica o médico.
HOMENS Fonte: http://exame.abril.com.br
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Tipos de câncer
Total de novos diagnósticos em 2014 (estimativa)
Incidência (casos/100 mil habitantes)
Porcentagem do total de casos
1º
Próstata
68.800
70,42
22,8%
2º
Traqueia, Brônquio e Pulmão
16.400
16,79
5,4%
3º
Cólon e Reto
15.070
15,44
5%
4º
Estômago
12.870
13,19
4,3%
5º
Cavidade Oral
11.280
11,54
3,7%
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DIAGNÓSTICO PRECOCE TAMBÉM É PREVENÇÃO tes detalhados, o que facilita a visualização e o diagnóstico mais preciso. Ressonância magnética – já há aparelhos que possibilitam análises das punções em biopsias de tumores em estágio inicial com margem de erro de apenas um milímetro.
Foto: Banco de imagens
Técnicas têm proporcionado fazer diagnósticos de lesões bem pequenas, de carcinomas que ainda não se espalharam pelo corpo e nem na mama. Mamografia digital – é ainda o que há de mais moderno a se fazer acima dos 35 anos para quem tem risco, e dos 40, para acompanhamento de rotina. Mamografia digital com tomossíntese – possibilita a ampliação dos tumores e cor-
RECUPERAÇÃO DA AUTOESTIMA
Foto:s Arquivo pessoal
“O câncer não avisa. Ele chega rápido. Você precisa ficar atento”. As palavras da pedagoga e hoje palestrante sobre câncer, Tania Gomez, levam a crer que realmente a doença é assustadora. “Da manhã para a tarde, uma mamografia mudou a minha vida. Mas consegui re-
tirar as mamas, as reconstruí, graças ao diagnóstico precoce”, alerta. Tania chegou a fazer quimioterapia, radioterapia e fisioterapia, além de tomar remédios por dez anos. No momento em que descobriu a doença, fazia dois anos que estava casada pela segunda vez. Foi um susto. Mas a reconstrução mudou tudo. “Não foi fácil. Mas retomei minha autoestima. Eu recomendo a todas as mulheres que façam a reconstrução, se for possível. A mama é um elemento importante na identificação como mãe e como mulher”, diz.
MULHERES Fonte: http://exame.abril.com.br
Tipos de câncer
Total de novos diagnósticos em 2014 (estimativa)
Incidência (casos/100 mil habitantes)
Porcentagem do total de casos
1º
Mama feminina
57.120
56,09
20,8%
2º
Cólon e Reto
17.530
17,24
6,4%
3º
Colo do útero
15.590
15,33
5,7%
4º
Traqueia, Brônquio e Pulmão
10.930
10,75
4%
5º
Glândula Tireoide
8.050
7,91
2,9% PARANÁ FAZ CIÊNCIA
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PESQUISADORES
CONHECIMENTO CIENTÍFICO É DESTAQUE NO PARANÁ Pesquisadores, estudantes, inventores independentes e jornalistas podem concorrer ao Prêmio Paranaense de Ciência e Tecnologia
SELEÇÃO A cada ano, duas áreas do conhecimento são contempladas, em sistema de rodízio: Ciências Humanas e Sociais e Ciências Agrárias; Engenharias e Ciências Biológicas; Ciências Exatas e da Terra e Ciências da Saúde. Os candidatos concorrem em quatro categorias: Profissional, que compreende o pesquisador e o pesquisador-extensionista; Estudante de Curso de Graduação; Inventor Independente e Jornalismo Científico. Além de um certificado, os vencedores recebem um valor em dinheiro, tendo como base o vencimento do professor titular em regime de dedicação exclusiva das Instituições Estaduais
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PARANÁ FAZ CIÊNCIA
riado em 1986, o Prêmio Paranaense de Ciência e Tecnologia está completando 27 anos. Ao longo desse período, algumas alterações foram necessárias, mas os seus objetivos continuam os mesmos: reconhecer e estimular a produção científica e tecnológica paranaense, valorizando os profissionais e os jovens talentos que, por meio de suas pesquisas, contribuíram para o progresso do Estado. Para a coordenadora de Ciência e Tecnologia do Paraná, Sueli Édi Rufini, a condecoração é uma retribuição àque-
de Ensino Superior. Os candidatos são julgados por uma comissão composta por cinco profissionais vinculados a instituições de pesquisa e programas de pós-graduação de todo o país (com exceção do Paraná), escolhidos e convidados pela Coordenadoria de Ciência e Tecnologia. Rufini ressalta que todo o processo é conduzido com isenção e transparência. No ano passado, por exemplo, os julgadores eram docentes dos cursos de pós-graduação mais bem avaliados pela Coordenação de Aperfei-
les que dedicam a carreira à geração de conhecimento de alto nível, melhorando, dessa forma, a vida das pessoas. “É também uma maneira de destacar o esforço do setor público em geral, que investe na formação desses indivíduos.” Com a inclusão das categorias Inventor Independente e Jornalismo Científico, em 2008 e 2009, respectivamente, a premiação busca ainda incentivar e dar visibilidade à inovação individual e à divulgação de temas científicos relevantes para a sociedade.
çoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), com notas 6 e 7.
PRINCIPAIS ALTERAÇÕES A coordenadora do projeto Sistema de Indicadores de Ciência e Tecnologia, Maria Elizabeth Lunardi, é funcionária pública do Estado há 30 anos e acompanhou a concepção e a evolução do Prêmio Paranaense de Ciência e Tecnologia durante esses 27 anos. Ela conta que a ideia de criá-lo partiu do então presidente do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), Francisco de Assis Lemos de Souza, que encaminhou a sugestão ao Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia (Concitec), em 1985. O órgão formou uma comissão para examinar o pleito, e, com o apoio da comunidade científica paranaense, a condecoração foi instituída pelo governador José Richa, através do Decreto nº 7.745 de 1986.
“Aquele foi um período de progresso para a ciência e a tecnologia no Brasil. E o momento oportuno para valorizar as competências e as excelências científicas do Paraná, destacando a trajetória de profissionais com uma carreira consolidada e os estudantes, pois já se pensava em despertar os novos talentos”, garante Lunardi. Desde a primeira edição até hoje, no entanto, algumas adequações foram efetuadas. No início, eram contemplados apenas pesquisadores e estudantes. Em 2000, devido à falta de indicações, os alunos deixaram a competição, retornando em 2007. Nesse mesmo ano, foi incluído o pesquisador-extensionista. O Inventor Independente entrou em 2008 e a categoria Jornalismo Científico, em 2009.
VALORES A premiação também mudou. No começo, os profissionais recebiam uma quantia em dinheiro. Em 1995, uma viagem de estudos de 15 dias à Inglaterra e, em 2000, US$ 4 mil, para custear a presença em um evento científico internacional. Em 2007, foi adotado o critério atual (valor igual a uma vez e meia o vencimento do professor titular em regime de dedicação exclusiva) para professores e extensionistas. Em 1986, o montante destinado aos estudantes era 1/3 daquele dado aos profissionais, que foi para R$ 2.500,00 em 1995, e, em 2007, estabeleceu-se o que está em vigor (metade do vencimento do professor titular com dedicação exclusiva). O inventor independente e o jornalista ganham o equivalente a 60% desse vencimento. Nas últimas edições, deixou-se de exigir que os vencedores utilizassem o dinheiro para participar de eventos científicos, cursos de aperfeiçoamento, entre outras atividades. O prêmio precisou ser atualizado para manter-se representativo e adequado à realidade. Mas ele acabou se tornando uma instituição. Passaram gerações de pesquisadores, de gestões de governo e ele permanece de pé.
Até agora, cerca de 90 pessoas, entre cientistas, professores, estudantes e, mais recentemente, inventores e jornalistas, foram agraciados com o Prêmio Paranaense de Ciência e Tecnologia. No início, vários desbravadores do conhecimento no Estado receberam a honraria. Depois, com a renovação dos quadros científicos, alguns
discípulos desses primeiros passaram a ser contemplados. Nos exemplos a seguir, estão alguns dos ganhadores do título; acadêmicos pioneiros no Paraná em suas respectivas áreas. Mesmo aposentados ou perto disso, mantêm-se atuantes e ainda demonstram uma grande paixão por suas pesquisas.
Foto: Banco de imagens
DESBRAVADORES DO CONHECIMENTO
PARANÁ FAZ CIÊNCIA
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TALENTO DA TERRA
O engenheiro agrônomo Osmar Muzilli foi o primeiro a receber o Prêmio Paranaense de Ciência e Tecnologia na categoria profissional de Ciências Agrá-
rias. O reconhecimento veio em função das contribuições para a remodelação da pesquisa agrícola no Paraná, com foco em sistemas integrados de produção e na melhoria do manejo dos solos. Aposentado em 2003, ele aceitou o convite para ser diretor científico da Fundação Araucária, onde hoje é coordenador da agência Tecnova, que executa o Programa de Apoio à Inovação em Microempresas e Empresas de Pequeno Porte do Paraná. Para ele, a condecoração foi uma recompensa pelos estudos realizados ao longo da carreira, mas, também, um incentivo a seguir em frente. Na opinião de Muzilli, a produção científica no
Paraná está avançando, tanto que o número de projetos de pesquisa analisados pela Fundação vem aumentando a cada ano. “A própria concessão do prêmio, sem interrupções, demonstra a preocupação do Estado de estimular esse desenvolvimento, que reflete diretamente na qualidade de vida da sociedade.”
RESGATE ARQUEOLÓGICO Vencedor da primeira edição do prêmio na categoria profissional de Ciências Humanas e Sociais, o arqueólogo Igor Chmyz foi responsável pela descoberta e reconstrução das evidências de boa parte da ocupação humana no Paraná e em outros estados brasileiros. Entre os trabalhos mais marcantes, Chmyz destaca o salvamento dos registros de culturas pré-históricas e indígenas nas áreas alagadas pelas hidrelétricas de Itaipu, em Foz do Iguaçu, e de Nova Ponte, no Triângulo Mineiro. O material resgatado, hoje faz parte dos acervos dos museus criados nos dois locais. Graduado em Geografia e História (1963)
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PARANÁ FAZ CIÊNCIA
pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Chmyz foi professor na Universidade até se aposentar em 2007. Atualmente, ministra algumas disciplinas e dedica-se a catalogar e a interpretar coleções que ficaram guardadas no Centro de Pesquisas Arqueológicas da instituição, o qual dirigiu por vários anos.
INOVAÇÃO QUE VEM DO MATO O professor titular de Bioquímica da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Adelar Bracht, é um pioneiro na instituição: montou o primeiro laboratório de pesquisa na área de metabolismo, criou e coordenou o primeiro programa de pós-graduação em Ciências Biológicas e foi o primeiro bolsista de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) da instituição. Essas iniciativas, somadas à publicação de vários artigos e aos estudos de bioenergética, de regulação do metabolismo e dos mecanismos de ação e transformação das drogas, garantiram a ele o título na categoria profissional de Ciências
Biológicas, na 17ª edição do prêmio, em 2002. Bracht conta que antigamente havia preconceito das agências financiadoras, que não esperavam nada do “mato”. “Hoje, ninguém mais se espanta com o mato, pois muitas cidades do interior têm universidades de ponta, como é o caso da UEM. Nossa produção científica é de alta qualidade.” Segundo ele, a condecoração lhe rendeu prestígio, mas “não dá para sentar sobre os louros”.
BENDITA ARAUCÁRIA As pesquisas com a árvore-símbolo do Paraná renderam ao engenheiro agrônomo Flávio Zanette o título na categoria profissional de Ciências Agrárias, na 13ª edição do prêmio, em 1998. Ele passou a se interessar pela araucária no início da década de 1980, quando fazia doutorado na França. No mesmo ano obteve o primeiro pinheiro de proveta e, desde então, vem aprimorando as técnicas de clonagem de plantas adultas para conseguir espécies mais fortes e produtivas. “Estudo a araucária há 27 anos. E não vou parar enquanto não garantir que esse conhecimento chegue aos agricultores. Quero que eles tenham um pomar para produzir pinhões, a um custo baixíssimo e com uma tecnologia cem por cento executada na propriedade.”
Mesmo aposentado desde 2002, Zanette é professor na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e faz parte de uma comissão criada pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente para regulamentar o plantio e a exploração comercial da araucária, a fim de fomentar a produção de pinhão e expandir a área de cobertura de florestas. “A araucária é vista como ‘maldita’, porque a lei não permite cortá-la. A revisão dessa legislação pode transformá-la em bendita e rentável, sem deixar de preservá-la.”
Para concorrer ao Prêmio, acesse o site www.seti.pr.gov.br, da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná. Na página do órgão governamental estão disponíveis o edital que estabelece os requisitos para participar da premiação e a ficha de inscrição. Ela deve ser preenchida, assinada e encaminhada para o e-mail premiocet@seti.pr.gov. br, junto com os documentos solicitados no edital. Para mais informações, ligue (41) 3281 7383 ou (41) 3281 7314.
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ARTIGO
década de 1970 marcou o surgimento das primeiras Universidades Estaduais do Paraná: a de Londrina (UEL), a de Maringá (UEM) e a de Ponta Grossa (UEPG). As três nasceram no interior do Estado a partir da agregação de Faculdades já existentes. Foi uma decisão estratégica do Governo para desenvolver o Estado em todas as regiões, considerando que apenas a Capital, Curitiba, contava com uma Universidade Federal. Com isso deu-se início a um efetivo processo de desenvolvimento do interior do Paraná, coincidindo com uma verdadeira explosão do ensino superior no país. Apenas para registro, cabe lembrar que durante a década de 1970 o número de matrículas no ensino superior
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PARANÁ FAZ CIÊNCIA
O sistema de ensino superior do Estado do Paraná tem mais de 60 anos, considerando o surgimento das primeiras Faculdades subiu de 300.000 alunos em 1970 para um milhão e meio de alunos em 1980. Nos anos de 1990 outras duas universidades foram criadas no Paraná, igualmente no interior e também agregando
Faculdades já existentes: a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), com sede em Cascavel, e a Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), com sede em Guarapuava. A diferença é que estas universidades já nasceram multicampi, ou seja, com campi universitários em mais de uma cidade. São sete universidades estaduais no Paraná no total, marcando presença em todas as regiões do Estado, de norte a sul, de leste a oeste, também na região central. As IEES paranaenses têm unidades presenciais em 36 municípios. Se considerarmos também os polos de Educação a Distância, EAD, são mais de 80 cidades contempladas com nossas IEES. O interior do Estado do Paraná não pode mais ser pensado sem as universidades e
Foto: http://www.turismo.pr.gov.br
IEES IMPULSIONAM O
o desenvolvimento que elas propiciaram e continuam propiciando. Essa ampla capilaridade do Ensino Superior no Paraná representa uma grande riqueza de nosso Estado e se constitui em um relevante patrimônio do povo paranaense, na medida em que, ao longo destes anos, aproximadamente meio milhão de cidadãos tiveram sua formação superior nas IEES e boa parte deles fixaram-se no Estado, passando a gerar riqueza e desenvolvimento. De outra parte, estas instituições atraíram e continuam atraindo profissionais de diferentes Estados da Federação, que trazem suas famílias, sua renda, sua cultura, seu patrimônio e impulsionam a economia estadual.
Atualmente nossas Universidades Estaduais têm aproximadamente 98.000 alunos matriculados nos diversos cursos de graduação e pós-graduação, dos quais em torno de 85% são cidadãos paranaenses e o percentual de estudantes de outros estados contribui enormemente para impulsionar a economia das cidades onde passam a residir, aquecendo o comércio local, o mercado imobiliário, o setor de serviços, entre outros, gerando riquezas para o Estado. Inclusive boa parte deles ficará no Paraná após sua formação profissional. Dos demais Estados da Federação, somente São Paulo tem números maiores do que os do Paraná. Além disso, nossas Universidades estão
cada vez mais fortes na pós-graduação, com mestrados e doutorados que permitem a realização de pesquisas, uma parte delas voltadas aos problemas da realidade local, criando soluções e inovações que atendem aos cidadãos paranaenses e geram riquezas ao povo do Paraná. Em números, nossas IEES têm 401 ofertas de cursos de graduação, sendo 385 ofertas de cursos presenciais e 16 a distância. Além disso, ofertam, anualmente, mais de 400 cursos de especialização, mais de 150 mestrados e 56 doutorados. E no que se refere à qualidade, o Ensino Superior Estadual Paranaense está entre os melhores do país. Cinco de nossas universidades possuem o IGC 4 (Índice Geral
DESENVOLVIMENTO tado e para o processo de produção do conhecimento. Nossas IEES têm crescido muito em sua capacidade de produção de ciência, tecnologia e inovação, em razão de uma série de fatores, dentre os quais podemos destacar o crescimento
Foto: Universidade Estadual do Centro-Oeste - Unicentro
de Cursos) na avaliação do (Ministério da Educação) MEC (em uma escala que vai de 1 a 5) e as outras duas estão com IGC 3, acima da média nacional. No último Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) feito pelo MEC, dos 27 cursos de graduação com nota máxima no Paraná, 14 estão nas instituições estaduais, nove nas instituições privadas, três nas instituições federais e um em instituição municipal. Trata-se de um robusto sistema, que orgulha nosso Estado. Se o “Paraná faz Ciência”, expressão que dá o nome a esta revista, o faz, em muito, pela atuação de nossas IEES. Não ignoramos o fato de que as instituições federais, privadas e municipais também fazem ciência no Paraná e que, além disso, há institutos, fundações e associações públicas e privadas que muito produzem em termos de ciência e tecnologia. Entretanto, o objetivo deste pequeno artigo é o de apontar a importância do Sistema Estadual de Ensino Superior para o desenvolvimento do Es-
Aldo Bona, presidente da Apiesp - Associação Paranaense das Instituições de Ensino Superior Público e vice-presidente da Abruem - Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais
do número de pesquisadores doutores, o crescimento do número de programas de pós-graduação stricto sensu, os investimentos realizados em infraestrutura das IEES com recursos do Fundo Para-
ná, as diversas linhas de financiamento de pesquisadores pela nossa Fundação Araucária, a ampliação da capacidade de captação de recursos junto a órgãos de fomento e à iniciativa privada, o crescente processo de internacionalização de nossas Instituições, dentre outros. Neste processo, um dos maiores desafios a ser enfrentado é o de promover sempre maior aproximação com o setor produtivo. Nossas instituições estão, cada vez mais, saindo de seus muros, mas este processo, reconheçamos, ainda é tímido. A recente aprovação da Lei de Inovação e sua plena regulamentação certamente lançam bases importantes para superar entraves que muito dificultam a atuação do público em parceria com o privado, atuação essa essencial para fazer com que nosso país apareça melhor posicionado nos rankings que consideram a produção de inovação. Ciência e Tecnologia sem inovação pouco contribuem para o desenvolvimento da população, do Estado e do País. PARANÁ FAZ CIÊNCIA
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INVESTIMENTOS
FAZER, AGIR E TRANSFORMAR Pesquisa em universidades estaduais constata o benefício social nas comunidades próximas monstram o quanto o setor é fundamental para o desenvolvimento do estado do Paraná, já que cada R$ 1 milhão investido na educação pública proporciona um crescimento de R$ 1,23 milhões na produção da economia e R$ 1,16 milhões no PIB (Produto Interno Bruto)paranaense. A pesquisa foi realizada em 2012 e 2013, com o financiamento da Fundação Araucária e do Fundo do Paraná. A partir desse
estudo foi criado um índice de desenvolvimento municipal (IDM). O resultado surpreendeu. Para se ter uma ideia, em cada 1% investido, 0,55% é de reflexo social nas proximidades. Ou seja, os moradores passam a ter acesso a um serviço social melhor, como saúde, educação e geração de emprego e renda. A área de abrangência da pesquisa foi de um raio de até 120 km de distância da sede universitária.
“É importante olhar o processo de formação das universidades públicas estaduais. A maior parte delas nasceu a partir de faculdades isoladas existentes e espalhadas pelo território estadual. Umas já nasceram universidades, outras nasceram como centros universitários e posteriormente transformaram-se em universidades. Assim, elas sempre estiveram espalhadas pelos municípios dos seus estados, sempre se caracterizaram como multi campi, começaram com o forte compromisso da realidade sócio
cultural e econômica de cada região ou cidade. Em cada um dos estados brasileiros onde se encontre universidades públicas estaduais e municipais, percebe-se uma forte identidade dos seus egressos com a instituição que os acolheu e os incluiu para um mundo de grandes desafios, mas também de grandes oportunidades”, ressaltou Carlos Fernando de Araújo Calado, presidente da Abruem – Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais.
Carlos Fernando de Araújo Calado, Presidente Abruem
Fonte: Pesquisa UEPG
pesquisa intitulada o “Impacto das Universidades Estaduais no desenvolvimento das regiões no estado do Paraná”, aplicada nas regiões onde as Universidades Públicas do Paraná estão presentes, apontou um forte impacto positivo econômico e social nos municípios sedes e entorno. Os números de-
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PARANÁ FAZ CIÊNCIA
ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO MUNICIPAL (IDM) O projeto começou em 2006, com a utilização de uma matriz de insumoproduto do Paraná, o IDM – Índice de Desenvolvimento Municipal, construída por Ricardo Kureski, pesquisador do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social). Também foi estimado um sistema inter-regional utilizando dados disponibilizados pelo Ministério do Trabalho e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O IBGE forneceu dados sobre a produção agropecuária, Índice de Desenvolvimento Humano, número de habitantes e outras informações dos municípios.
A pesquisa tomou por base esse índice com base em 11 itens estudados: Percentual de trabalhadores com ensino superior (PTS); Escolaridade média dos trabalhadores do emprego formal (ET); Percentual de professores do ensino fundamental com curso superior (PPS); Despesas com educação e cultura (DEC); Emprego em relação à população (Emp); PIB per capita (PIB); Consumo de energia industrial por mil habitantes (CEI); Frota de veículo por mil habitantes (FR); Mortes violentas para cada dez mil habitantes (MV); Despesa com saúde e saneamento (DSS) e Despesa com assistência (DA).
0 a 0,25 0,26 a 0,50 0,51 a 0,75
Fonte: Pesquisa UEPG
0,76 a 1,0
O resultado positivo se deve a alguns pontos destacados pelos organizadores da pesquisa, como a geração de conhecimento humano (capital humano), a construção de um ambiente de aprendizagem, a oferta de recursos, o efeito no ambiente cultural local, formação de lideranças e a formação de uma estratégia para desenvolvimento econômico da região e competitividade. A pesquisa foi apresentada no fim do ano passado no Encontro Paranaense de
Para obter o resultado, foi realizada uma equação com esses itens elencados: o índice de desenvolvimento econômico do município e suas variáveis com os gastos. O que significa que em cada local pesquisado foi feito o comparativo com os investimentos através dos recursos repassados e os impactos nos municípios. O que chamou a atenção é que em todos os momentos houve a centralização de melhorias nos locais próximos onde estão as universidades estaduais. As partes mais escuras do mapa crescem na sequência (a,b e c) pelo aumento de melhorias no índice.(Ver quadro demonstrativo).
O valor do IDM vai de “zero” a “um”. Em 2000, a maioria dos municípios tinha IDM entre 0,00 e 0,50. Em 2005, a distribuição espacial do IDM melhorou significativamente, com IDM entre 0,25 e 0,50. Já em 2009, os resultados melhoraram ainda mais. Praticamente todos os municípios com IDM entre 0,25 e 0,75. Ou seja, ao longo de dez anos o Estado Paranaense avançou, com desenvolvimento significativo nas condições econômicas e sociais dos seus municípios.
Economia. O professor assistente do departamento de Economia da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Alex Sander Souza do Carmo, considerou o trabalho realizado como uma valorização ainda maior para as universidades estaduais. “Isso é aplicação de recursos, investimentos pela estadualização. Além disso, com a interiorização há uma melhora significativa na prestação de serviços, hospitais e educação, por exemplo”, explicou o professor Alex.
O grupo responsável pela pesquisa sobre o “Impacto das Universidades Estaduais no desenvolvimento das regiões no estado do Paraná” é formado pelos seguintes coordenadores: UEM: Alexandre Florindo Alves; UEL: Márcia Regina Gabardo Câmara; Unicentro: Fernando Franco Neto; Unioeste: Miriam Beatriz Schneider Braun; UENP: Paulo Rogério Alves Brene e também desenvolvido por alunos de Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado e pesquisadores.
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ALÉM DOS NÚMEROS O professor associado do Departamento de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas da UEM, Alexandre Florindo Alves, participou do levantamento econômico da pesquisa. O resultado, segundo ele, apontou tanto em termos dos salários que geram impactos via consumo, bem como na questão de investimentos em obras civis e aquisições de equipamentos. O poder multiplicador, como definiu, é o fato do impacto ser proporcional aos outros setores que complementam. “Os impactos são expressivos e mostram que os investimentos realizados na
Educação Pública Paranaense, além de serem em longo prazo e relacionados principalmente à inovação tecnológica e formação de capital humano, têm repercussão na economia paranaense com relação aos efeitos diretos e indiretos nos diferentes setores” destacou o professor. Um ponto importante que deve ser destacado foi o valor da educação pública para o estado. O setor está entre os dez maiores empregadores da economia paranaense e se destaca em participação no total de remunerações (5,52%) ao lado dos setores de Comércio (15,74%); Administração pública (15,41%);Intermediação finan-
ceira (5,98%) e Outros serviços (5,46%). Isso reflete em um efeito diretamente proporcional e multiplicado com as remunerações dos lucros das atividades. Aumento de produção, emprego e renda nos demais setores da economia. Outro resultado é o investimento nas instituições para execução de projetos, principalmente nas cidades onde elas estão instaladas, onde ocorre a maior presença de setores voltados para a tecnologia. Municípios como Londrina, Maringá, Guarapuava, Cascavel e Ponta Grossa. Isso porque a própria demanda permite essa realidade como se pode observar nos exemplos seguintes.
EXEMPLOS DE CONQUISTAS A PARTIR DA IMPLANTAÇÃO DAS UNIVERSIDADES QUEIJOS, LEITE E MUITA PRODUÇÃO Foi por um projeto com a finalidade de unir a formação didática com o processamento de queijos finos europeus que a ideia surgiu. O projeto da Escola Tecnológica de Leite e Queijos dos Campos Gerais, ETLQueijos, está presente na comunidade de Ponta Grossa desde 2009, no campus de Uvaranas (UEPG). Uma iniciativa estratégica, pois ali fica uma importante bacia leiteira, que é considerado o leite de melhor qualidade do Brasil e tam-
bém é vinculada ao Curso de Engenharia de Alimentos. A extensão é o foco principal com o curso em fabricação de queijos. Até agora já foram cinco edições sem interrupções com mais de cem alunos formados. A maioria do Paraná, mas pela referência, estados vizinhos também se fazem presentes. Todos os egressos são qualificados para trabalhar com queijos finos. Os resultados também são aproveitados pela
comunidade acadêmica com palestras, workshops e artigos técnico-científicos. Além disso, a alta procura proporcionou a oferta de diversos cursos de curta duração. Em todos os cursos são ministradas aulas teóricas e práticas, para que os alunos tenham o máximo de informação e conhecimento para fabricar e desenvolver diferentes tipos de queijos com alta qualidade, tanto física, química, microbiológica quanto sensorial.
O professor Alessandro Nogueira elaborou todo o projeto com estágio na região Rhône-Alpes da França, parceira da ETL Queijos. Para ele, a presença da escola na comunidade proporciona hoje aperfeiçoamento profissional, interações com o setor privado e contribui acima de tudo, para a pesquisa acadêmica. “A possibilidade de trocas de informações com profissionais da área assim como com aqueles de outras áreas tem sido muito positiva, tanto para os professores quanto
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para acadêmicos da UEPG que estagiam e ajudam nas atividades da Escola”. Toda a infraestrutura passa por ampliação, além de contribuir para diversos projetos de pesquisa com a orientação de estudantes da graduação, mestrado e doutorado. A parceria com empresas fornecedoras de insumos, aditivos e utensílios também encontra-se em expansão. São elas: Jandaplast, Etiel, ChHansen, AEB Group, ParanáInox, Coalhopar, Danisco, MecMilk, Granolab, DSM e DeLaval.
Foto: Roberto Dziura
PARCEIRA EUROPEIA
Professor Alessandro Nogueira
Mais informações: www.uepg.br/departamentos/ deengalim/queijos
• Instalação da queijaria; • Análises físico-químicas e microbiológicas em leites e queijos; • Análise sensorial de queijos finos; • Queijos de massa dura e semi-dura (Tipo Parmesão e Emmental); • Queijos convencionais (Tipo Frescal, Prato e Mussarela); • Queijos processados; • Queijos com mofo branco (Tipos Camembert e Brie); • Queijos de Rhône- Alpes (Tipo Reblochon); • Queijos de cabra (Tipos Feta, Boursin e de massa dura); • Queijos especiais (El Romero e condimentados); • Queijo de búfala (Tipo Mussarela); • Queijos azuis (Tipo Gorgonzola); • Principais defeitos em queijos; • Valorização do soro e tratamento de resíduos; • Embalagens para queijos.
AMOR EM FABRICAR QUEIJOS Foto: Divulgação - Empresa Anila
CURSOS DA ETL QUEIJOS
A contribuição científica aliada ao esforço e dedicação de muitos é realidade conforme a pesquisa aponta. O Índice de Desenvolvimento Municipal possui o crescimento notável pelos exemplos nas universidades estaduais do Paraná e muda para melhor a vida de quem participa. Formada desde 2009 na ETL Queijos, Mary Angela Gach fez parte da primeira turma onde estudou a fabricação de queijos. Hoje ela trabalha como responsável pela produção de queijos em uma empresa do Paraná e tudo, como define, é feito com muito amor e é grata pela sua profissão e pela oportunidade que teve. “Através do curso, com o conhecimento adquirido, consegui contribuir
para a melhoria das linhas de produções de queijos, garantindo assim a qualidade de nossos produtos. Trouxe informações para os queijeiros e foi possível esclarecer dúvidas que apareciam durante a rotina de trabalho”, explicou Gach. A troca de informações na universidade oportunizou projetos com professores, mestres e doutores na área de lácteos. Por isso, a dedicação e conhecimento só fizeram crescer o amor de Mary pela profissão. “O curso fez florar em mim, algo muito importante. Hoje posso dizer que amo a tecnologia de fabricação de queijos”, definiu. Em 2013, o resultado da avaliação trienal da CAPES passou o mestrado Acadêmico em Ciência e Tecnologia de Alimentos para o nível 4, sendo que a ETLQueijos foi um dos pontos fortes de destaque pelos avaliadores da CAPES. O próximo passo é implantar um curso de Doutorado em Ciência e Tecnologia de Alimentos com uma linha de pesquisa em produtos lácteos, ênfase em queijos finos. Mas através de parceria com outras instituições (UFPR, UFSC, UNICAMP) projetos de doutoramento estão sendo desenvolvidos sempre com a participação de alunos de mestrado e de iniciação científica.
OPORTUNIDADE PARA ESTUDANTES E A COMUNIDADE A Universidade Oeste do Estado do Paraná, Unioeste é uma das instituições que promove a integração direta com a comunidade. São diversos projetos já existentes onde buscam levar para as pessoas oportunidade, aprendizado e inovação. Um deles é o “Preparando para o 1º Emprego” realizado em Toledo com jovens entre 14 e 17 anos de baixa renda. Todos são encaminhados por entidades assistenciais. São oferecidas modalidades de capacitação no momento de se candidatar ao primeiro emprego. O projeto já envolveu mais de 50 acadêmicos e 75 adolescentes participantes desde que foi criado, em 2011.
Outro projeto chama-se “Universidade aberta para a terceira idade”, (Unati) existente há mais de dez anos em Cascavel, Foz do Iguaçu, Marechal Cândido Rondon e Toledo. A proposta é contribuir principalmente na criação de espaços de integração para formação política, social, econômica e cultural. O grande impacto, de acordo com informações da Unioeste, foi a redução nos níveis de depressão, doença comum nos idosos. Nildo Schneider foi o primeiro a participar do Unati. Em 2011 ele fez parte do programa e no ano seguinte foi a vez da esposa. Um momento que para os dois
serviu como aprendizado de vida. “Foi muito bom voltar a aprender, conviver com pessoas diferentes, principalmente a parte dos computadores, que hoje é tão importante”. Já para Nilse Maria Schneider, estar no Unati foi uma oportunidade de vida. “Não pude estudar quando era jovem, vi meus filhos todos se formando e às vezes eu nem entendia do que eles falavam. A Unati me fez voltar aos livros, aprender um pouco mais e me tornei interessada por coisas que antes nem imaginei que pudessem ser importantes para mim. Eu sei até usar computador e falar com meus filhos que moram em outro país!” PARANÁ FAZ CIÊNCIA
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UNILA
EXTENSÃO DA UNILA INTEGRA PAÍSES DA REGIÃO TRINACIONAL Buscar o desenvolvimento regional da fronteira, a troca de experiências, a vivência multicultural, a integração solidária e o desenvolvimento cultural na Região Trinacional são desafios constantes da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) os projetos de extensão da Unila têm um papel fundamental nesta missão. São atividades interdisciplinares, educativas, culturais, científicas e políticas, que objetivam o relacionamento entre professores, alunos e comunidade na região fronteiriça do Brasil, Paraguai e Argentina. Para um resultado eficaz, o encontro direto com a comunidade dos três países é fundamental. Diante disso, sair de dentro da Unila e visitar regiões de Foz do Iguaçu, Puerto Iguazú e Ciudad del Este vivenciando a realidade das culturas destas cidades, proporcionando experiências inovadoras, além dos benefícios aos diferentes povos. Hoje já são 48 projetos de extensão. Os primeiros projetos foram iniciados
em 2010. A proximidade da Universidade aos países de fronteira foi sentida imediatamente, proporcionando um desenvolvimento cultural local considerável. Segundo o chefe da coordenadoria de Extensão da Unila, Fernando Cesar Mendes Barbosa, um dos principais objetivos dos projetos de extensão é a aproximação com a comunidade, estabelecendo o diálogo universidade-comunidade, além do desenvolvimento da língua. Os cursos de extensão da Unila reúnem alunos que falam português, inglês, o espanhol com variantes da Argentina e Paraguai, além do guarani. Essa realidade da região Trinacional reflete também na escolha dos projetos. “Não focamos só a língua, mas procuramos uma abordagem cultural e linguística já a partir da forma-
ção de professores, com um escopo interdisciplinar”, justificou Barbosa. A Pró-reitora de Extensão da Unila, Angela Maria de Souza, define os projetos como fundamentais para o amadurecimento do acadêmico. “É o exercício do espaço acadêmico para que o aluno tenha a dimensão do mercado. Trabalhar fora, mas com foco no seu curso e, por consequência, proporciona uma visão mais prática e um amadurecimento do teórico”, explica Angela. Ainda para a pró-reitora, uma boa vida acadêmica não se faz sem os três pilares: pesquisa, ensino e extensão. “Um bom trabalho de extensão traz consigo boa pesquisa. Essas áreas jamais podem ser vistas de forma separada. Uma complementa a outra”, justifica Angela.
UNILA Instalada em Foz do Iguaçu, no extremo-oeste do Paraná, oferece 16 cursos de graduação. Iniciou suas atividades acadêmicas
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em agosto de 2010 com 200 alunos de quatro países – Uruguai, Argentina, Brasil e Paraguai. Hoje são 900 acadêmicos das mais
variadas regiões da América Latina. Tem por objetivo oferecer 24 diferentes formações e chegar a 10 mil alunos em cinco anos.
CURSO PREPARATÓRIO PARA O CELPE-BRAS O projeto prioriza o curso de português como língua-cultura adicional para habitantes da comunidade fronteiriça de Foz do Iguaçu, Puerto Iguazú e Ciudad del Este, além de acadêmicos estrangeiros da própria Universidade. Coordenador do projeto, o professor Henrique Rodrigues Leroy destaca que o curso auxilia aqueles para quem o Celpe-Bras é um pré-requisito para estudar ou trabalhar no país.
Foto: Divulgação - Unilla
Aprimorar a língua portuguesa falada no Brasil é um desafio constante para todo brasileiro. Mas para quem deseja morar ou trabalhar por aqui é necessário um pouco mais de estudo. E é justamente melhorar a oralidade e a escrita da língua portuguesa, destacando a cultura do Brasil, o principal objetivo do projeto de Extensão Curso Preparatório para o Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras).
WEBRÁDIO UNILA sempre bilíngue - português e espanhol -, mas ainda conta com um programa em guarani. A comunidade da região Trinacional cria sua programação de rádio. A programação pode ser acompanhada pela www.radiounila.com. Coordenado pela professora Ana Silvia Andreu da Fonseca, a Webrádio busca oferecer uma programação musical diferenciada das rádios convencionais, com sonoridades próprias do continente.
Foto: Divulgação - Unilla
Ao ingressar na Unila, a acadêmica Gimena Machado, 24 anos, não pensou duas vezes. Em 2012, apenas seis meses depois de ter iniciado na Universidade, no curso de Ciência Política e Sociologia, a estudante começou suas atividades no projeto de Extensão “Webrádio Unila: Integração via ondas sonoras”. Ela fez da oportunidade uma maneira de se integrar ao novo ambiente. A programação informativa e musical é
GRUPO CORAL UNILA
COMO FUNCIONA O PROJETO DE EXTENSÃO
do projeto de Extensão Coral Unila, que tem por objetivo reunir diferentes vozes e transformar esta junção em um coro harmonioso. O coordenador do projeto de Extensão “Grupo Coral Unila”, Gabriel Sampaio Souza Lima Rezende, comanda 25 coralistas da Universidade e da comunidade.
Cada projeto de extensão conta com um ou mais coordenadores e são os professores que atuam na Unila.
Os próprios acadêmicos atuam como bolsistas (pelo menos dois por projeto). Cada bolsista trabalha pelo menos 12 horas semanais e recebe R$ 400,00.
Foto: Divulgação - Unilla
Apaixonado por músicas latino-americanas, o acadêmico de Música da Unila, Guilherme Felipe de Melo Baldovino, 19 anos, é conhecedor de um repertório riquíssimo e tem estudado constantemente para aprimorar seus conhecimentos sobre este estilo musical, também para coral. Guilherme é um dos dois bolsistas
Metade dos alunos é de outros países da América Latina e a comunidade atua como voluntária nos projetos.
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RESÍDUOS
Foto: Prefeitura de Curitiba
O MEIO AMBIENTE AGRADECE
Caminhão da coleta seletiva de lixo de Curitiba/PR
ão é de hoje que uma grande preocupação dos gestores dos centros urbanos é o lixo. Reciclagem, separação de materiais, destinação consciente, compostagem, entre outras alternativas, têm sido assuntos amplamente discutidos na área do meio ambiente. Para se ter uma ideia, somente no Estado do Paraná são geradas 20 mil toneladas de resíduos sólidos por dia.
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Sem dúvida, um grande problema que necessita de alternativas que minimizem os impactos ambientais gerados pelos resíduos, principalmente os sólidos. E nesta busca, o papel dos pesquisadores e universidades é fundamental. Na Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), localizada em Guarapuava (PR), vários estudos vêm dando muito certo. É o caso
do projeto de reciclagem de bebidas (e suas embalagens) apreendidas pela Receita Federal e dos resíduos sólidos gerados neste processo. Desde 2008, os pesquisadores vêm estudando formas de diminuir a quantidade de resíduos das garrafas e transformar as bebidas em algo útil. De acordo com o professor de Química/Bioenergia da Unicentro, Paulo Rogério Rodrigues, os 18 mil litros apreendidos todo mês passam por um processo de destilação que os transforma em álcool hidratado (biocombustível) e álcool gel. O combustível vem sendo utilizado pela Unicentro. Já as embalagens são selecionadas e encaminhadas para a cooperativa de reciclagem
“O gesso é reciclado, passa por um processo químico e pode voltar a ser utilizado” Paulo Rogério Rodrigues
de Guarapuava. A Unicentro/Novatec tem outro projeto de redução de resíduos industriais. O gesso que é descartado de uma empresa da região e que acaba parando nos lixões, aterros ou até terrenos baldios, será reciclado e reutilizado. O projeto está prestes a ser colocado em prática. Estão envolvidos nesta pesquisa o aluno de Doutora-
do em Química André Lazarin Gallina, além do professor de Química/Bioenergia Everson do Prado Banczek e a advogada da Agência Novatec/Unicentro Claudia Crisóstimo. Já na Universidade Positivo, um dos projetos que vem chamando a atenção é a destinação de materiais de informática. Mas a ideia do projeto não é só descartar de maneira correta os resíduos. O objetivo é diminuir este descarte, como explica o Doutor em Química e professor do programa de Pós-Graduação de Gestão Ambiental da Universidade Positivo, Paulo Janissek “A ideia é de aumentar a vida útil dos computadores, reduzindo os resíduos e diminuindo a aquisição de máquinas novas”. O projeto começou com o levantamento da quantidade total de máquinas e a divisão por categorias de demandas.
Bebidas apreendidas agora viram álcool hidratado e embalagens recicladas
Chegou-se à classificação de categorias de demanda baixa, média e alta e, com isso, os pesquisadores puderam verificar o quanto um computador que já não mais atendia uma alta demanda, por exemplo, poderia “sobreviver” ainda mais em um ambiente com demanda menor, aumentando sua vida útil. “Percebemos que a média de uso destas máquinas, que era de dois a três anos, poderia ser estendida até para seis”, conta Janissek.
“Assim, reduzimos os resíduos significativamente, pois diminuímos a aquisição de máquinas novas” Paulo Janissek
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DESENVOLVIMENTO Na avaliação do professor Rodrigues, da Unicentro, não há desculpas: as empresas devem ser sim as responsáveis pela reciclagem e aplicação de seus resíduos. “Muitas empresas acabam criando lixões industriais, o que promove perdas econômicas, quando poderiam gerar novos produtos e viabilizar e contribuir para a economia. Gera novos empregos, aumento de renda per capita, além de menor impacto ambiental e a sua própria sustentabilidade”. O professor Janissek, da Universidade Positivo (UP), lembra que um dos pontos importantes é o engajamento. No caso do projeto com computadores - desenvolvido juntamente com a Positivo Informática -, as pessoas que trabalham nas máquinas compreenderam, com o tempo, a necessidade da “reciclagem” dos computadores com maior demanda.
REAPROVEITAMENTO E REDUÇÃO DE IMPACTOS Outro projeto desenvolvido pela Unicentro também visa não só à redução de impactos ao meio ambiente, mas também à produção de combustível (etanol) e biogás com os resíduos sólidos da Indústria de Papel e Celulose Ibema. Desde o início de 2013 a empresa vem investindo em bolsas de pesquisa e pagamento
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dos reagentes. Quando a tecnologia começar a ser aplicada a redução de resíduos industriais será total, de 100%. Este projeto é desenvolvido pelos alunos de Mestrado em Bioenergia Glaucia Kovalski, Henrique Wedderhoff Herrmann e Italo Tadeu Machado Ferreira, além de Paulo Rogério Pinto Rodrigues (Química/
Bioenergia), dos professores Cynthia Beatriz Furstenberger (Biologia/Bioenergia), Waldir Nagel Schirmer (Engenharia Ambiental/Bioenergia) e Gilmara Machado (Engenharia Florestal/Bioenergia), que também estão envolvidos no projeto. Na outra ponta, pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
estão desenvolvendo estudos de tratamento do lixo enviado para aterros. Neste caso, especificamente o aterro da Caximba. Segundo a professora do departamento de Engenharia Civil da UFPR, Maria Cristina Braga, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental, há quatro anos são coletadas amostras de água na entrada do sistema de tratamento de lixo da Caximba para a remoção do nitrogênio amoniacal, substância que resulta da degradação do resíduo sólido. Depois disso, é realizado um trabalho de tratamento da biologia molecular desta água. Ou seja, verifica-se o que ocorre com as bactérias ali depositadas. De início, as pesquisas estão sendo feitas em pequena escala. Em quatro anos os pesquisadores já tiveram 60% de eficiência. Mas o resultado disso, após análises em grande escala - que será o próximo passo da pesquisa - será a redução das bactérias lançadas no rio Iguaçu.
O Brasil possui uma Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que foi instituída pela Lei nº 12.305/10. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a política prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos. A política prevê a responsabilidade compartilhada dos geradores de
resíduos: dos fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes; do cidadão e dos titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na logística reversa dos resíduos e embalagens pós-consumo. São três os principais pontos da política: fechamento de lixões até 2014 (no lugar deles, devem ser criados aterros controlados ou aterros sanitários); só rejeitos poderão ser encaminhados aos aterros sanitários (aquela parte do lixo que não tem como ser reciclada - apenas 10% dos resíduos sólidos são rejeitos, pois a maioria é orgânica); elaboração de planos de resíduos sólidos nos municípios. Outro importante avanço da política é a chamada “logística reversa”. Na prática, a logística reversa diz que uma vez descartadas as embalagens são de responsabilidade dos fabricantes, que devem criar um sistema para reciclar o produto.
O reaproveitamento deverá ser prática habitual em empresas no País
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Foto: Roberto Dziura
BIOENERGIA
PÓS-GRADUAÇÃO FOMENTA INOVAÇÃO NA ÁREA DE BIOENERGIA Programa busca fontes de energia e combustíveis renováveis para promover o desenvolvimento sustentável do estado
O CURSO O mestrado tem duração de dois anos e o processo de inscrição e seleção dos candidatos é anual. Três turmas (75 alunos) concluíram o mestrado até agora. O número de vagas é definido com base na capacidade de orientação do corpo docente e na infraestrutura das
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instituições associadas. Para 2014/2015, foram abertas 48 vagas. A sede administrativa do curso no triênio 2010/2012 foi a Universidade Estadual de Londrina (UEL) e para 2013/2015 é a Universidade Estadual de Maringá (UEM). As reuniões de avaliação são itinerantes e na última delas, no campus da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em Palotina, foi decidido pelo início da elaboração de um
Mestrado possibilita que o estudante aproveite o melhor em cada fase do projeto
iodiesel à base de erva daninha. Um antioxidante obtido do pólen coletado por abelhas para aumentar a durabilidade do biodiesel. Essas são algumas das teses apresentadas pelos alunos do mestrado em Bioenergia, curso que vem gerando alternativas viáveis e promissoras de produção de energia e combustíveis renováveis através da biomassa (matéria de origem vegetal). O curso foi instituído em 2010 em um programa de pós-graduação da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná (SETI).
projeto de doutorado em bioenergia, o primeiro em rede do Brasil. O ingressante deve ser graduado, preferencialmente em Engenharias; Ciências Exatas e da Terra; Biológicas; Agrárias; Sociais ou Econômicas. Aqueles que preenchem os requisitos estabelecidos pelo curso podem pleitear uma das 20 bolsas concedidas pelas agências de fomento (Capes, CNPq e Fundação Araucária). A
O objetivo do projeto é de fomentar a pesquisa de matérias-primas, tecnologias e aplicações inovadoras na área de bioenergia, com foco em biocombustíveis, promovendo o desenvolvimento sustentável do estado. É um dos únicos mestrados em bioenergia do Brasil em rede. Isso significa que, apesar de se matricular em uma universidade – que, ao final do curso, concede a titulação –, o estudante faz as disciplinas em uma
rede de instituições associadas, conforme a sua dissertação. Segundo o coordenador-geral do mestrado, professor Nehemias Curvelo Pereira, essa característica é um dos principais diferenciais do curso. “Os alunos conhecem esses locais e têm acesso aos laboratórios e às pesquisas que estão sendo produzidas em cada um deles. Isso permite a troca de ideias e de informações; uma verdadeira integração desses estu-
MATRIZ ENERGÉTICA O relatório “Perspectivas Energéticas Mundiais 2013”, da Agência Internacional de Energia (AIE), prevê um crescimento da bioenergia de 2011 a 2035, com a redução das fontes não renováveis, como petróleo, gás, carvão e urânio, ainda prevalentes no mundo. O Brasil, um dos líderes mundiais em energias renováveis, duplicará sua produção até 2035, mantendo a participação de 43% do total da matriz energética nacional. Mesmo com esse aumento, o petróleo
continuará ocupando o primeiro lugar entre as fontes de energia locais. A AIE prevê, inclusive, que o Brasil será um dos maiores produtores de petróleo em 2035, se conseguir explorar suas reservas em águas profundas. A AIE estima também que, até 2035, os biocombustíveis cobrirão quase um terço da demanda interna do transporte por rodovia e as exportações representarão perto de 40% do comércio mundial desse tipo de combustível.
dantes às instituições”, assegura Pereira. Para ele, outra vantagem é a chance que os discentes têm de aproveitar o potencial de cada instituição para desenvolver sua tese. “Se o aluno é de uma universidade, mas os equipamentos de outra são mais adequados para a sua dissertação, ele pode fazer a pesquisa nesse estabelecimento. Assim, ele usufrui o que cada lugar tem de melhor”, aponta o professor.
É por isso que o biodiesel é sustentável e renovável, pois o mesmo gás carbônico gerado na combustão é absorvido pelas plantas para crescerem e produzirem óleo novamente para serem queimados.
PARANÁ No Paraná, a bioenergia vem sendo incentivada por políticas públicas desde 2003, quando foi instituído, por meio do decreto-lei nº 2101, o Programa Paranaense de Bioenergia. O programa – cujo mestrado em Bioenergia é uma das muitas iniciativas lançadas desde aquela
grade curricular é composta por disciplinas obrigatórias, optativas e atividades de pesquisa, que são ministradas nas instituições nucleadoras, colaboradoras e intervenientes (ver box da página 40). Para Pereira, um dos resultados positivos do curso é o fato de a maioria deles já estar inserida no mercado de trabalho, e em postos
época – tem como objetivos gerir e fomentar ações de pesquisa e desenvolvimento, aplicações e uso de biomassa no território paranaense, tendo como foco a produção e a utilização do biodiesel como biocombustível, adicionando-o à matriz energética estadual.
Ciclo do carbono proposto para a produção de biodiesel (GERHARD et al., 2006)
ligados à área de bioenergia. “Uns estão fazendo doutorado, outros prestaram concurso e são professores universitários ou ocupam cargos em órgãos do governo. Estamos cumprindo a função da academia, que é a de gerar e de disseminar novos conhecimentos”, ressalta o professor.
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Foto: Roberto Dziura
ERVA DANINHA O químico André Lazarin Gallina conseguiu uma bolsa da Capes e integrou a primeira turma do mestrado em Bioenergia, pela Unicentro.
A ideia para a sua tese – a produção de biodiesel a partir da erva daninha tiririca amarela – saiu de um livro de receitas de ervas medicinais. Ele fez todos os testes físico-químicos e de viabilidade técnica e econômica, mas o projeto ficou na fase laboratorial. “Acredito que o trabalho vai interessar em casos emergenciais, quando não houver outra matéria-prima. Porém, uma das funções da academia é justamente criar alternativas. Sejam elas aplicadas agora ou em 40 anos”, justifica o pesquisador. Gallina ressalta, contudo, que a dissertação está gerando frutos, pois outros estudantes vêm desenvolvendo pesquisas nessa mesma linha. Além disso, em 2012 ele apresentou o trabalho em um even-
to sobre energias renováveis em Málaga, na Espanha. Para o químico, os laços de amizade estabelecidos entre os alunos e o acesso aos professores, equipamentos e ambientes de diversas universidades foram os destaques do mestrado. A experiência, segundo ele, foi bem ampla, pois aprendeu química, física, administração, tudo ao mesmo tempo. E como tinha colegas com várias formações, as discussões eram muito melhores. “Mantenho contato com a maioria deles, e, quando um precisa de ajuda, liga para os outros”, ressalta. Gallina está concluindo o doutorado em Química na Unicentro e pretende fazer concurso para professor.
AS AULAS DO MESTRADO ASSOCIADO EM BIOENERGIA SÃO MINISTRADAS NAS INSTITUIÇÕES: Nucleadoras: UEL - Universidade Estadual de Londrina, UEM - Universidade Estadual de Maringá, UEPG - Universidade Estadual de Ponta Grossa, Unicentro - Universidade Estadual do Centro-Oeste, Unioeste - Universidade Estadual do Oeste do Paraná e UFPR - Universidade Federal do Paraná; Colaboradoras: Embrapa Soja - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, IAPAR - Instituto Agronômico do Paraná, Tecpar - Instituto de Tecnologia do Paraná e UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do Paraná; Intervenientes: PTI - Parque Tecnológico Itaipu e SETI - Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná.
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ANTIOXIDANTE O químico Ricardo Sonsim de Oliveira participou da turma de 2011 do mestrado em Bioenergia, pela Unioeste. Para ele, a convivência entre agrônomos, biólogos, engenheiros e químicos abriu um leque de possibilidades e gerou novas e boas ideias. “As parcerias com instituições de pesquisa, como a Embrapa e o IAPAR, também proporcionam acesso a um conhecimento muito mais amplo e de qualidade”. Para ele o mestrado foi fundamental para o seu crescimento profissional, ajudando-o a conquistar o primeiro lugar no concurso para professor de Química do Instituto Federal do Paraná (IFPR), no campus de Cascavel. A tese desenvolvida por ele – um antioxidante (conservante) para aumentar a durabilidade do biodiesel, obtido a partir do pólen coletado por um tipo de abelha encontrada somente no Brasil – já originou um pedido de patente, cujos custos estão sendo subsidiados pela FAG (Faculdade Assis Gurgacz). Atualmente é docente na FAG e no IFPR e vai iniciar o doutorado em Engenharia Química na Unioeste.
Foto: Roberto Dziura
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TRANSFUSÃO SEGURA Teste fabricado no Instituto de Biologia Molecular do Paraná detecta vírus HIV e da hepatite C com mais rapidez partir de agora, todo o sangue doado no Brasil deverá ser submetido ao Teste de Ácidos Nucleicos (NAT) para a detecção dos vírus HIV e da hepatite tipo C. A obrigatoriedade para as redes pública e privada foi estabelecida pelo Ministério da Saúde para elevar a segurança do sangue coletado nos hemocentros brasileiros e posteriormente utilizado nas transfusões. O teste NAT reduz a chamada “janela imunológica” de 22 para 10 dias. Ou seja, cai pela metade o tempo em que o vírus do HIV permanece indetectável por testes. No caso da hepatite C, a redução é
de 35 para 12 dias. O resultado é mais eficaz porque o NAT identifica o material genético dos vírus. Nos demais exames, é necessário esperar que o sistema imunológico reaja à infecção provocada pelas doenças
para constatar a presença dos anticorpos, e, por consequência, a contaminação. A plataforma NAT, composta por três equipamentos, é fabricada no Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e os insumos utilizados foram desenvolvidos nacionalmente, diminuindo a dependência do País dos kits de diagnósticos estrangeiros. “Antes, tínhamos de importar esse material. Agora, produzimos uma tecnologia que representa o que há de mais moderno em exames de biologia molecular”, afirma o coordenador de Produção do IBMP e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Marco Aurélio Krieger. PARANÁ FAZ CIÊNCIA
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PROJETO-PILOTO Em 2008, o hemocentro de Santa Catarina (Hemosc) recebeu as primeiras máquinas da plataforma NAT nacional para realizar um estudo-piloto, quando foram analisadas 4.500 amostras de sangue. Após sofrer algumas mudanças, o kit foi instalado em mais alguns hemocentros em 2010, e, a partir daí, com a aprovação dos órgãos governamentais, começou-se a implantar a rede NAT no País. Hoje, o teste é aplicado em todas as bolsas dos hemocentros públicos do país. São mais de 3,5 milhões de bolsas de sangue testadas, gerando uma economia anual aos cofres públicos superior a R$ 70 milhões. Para a responsável pelo setor de Sorologia e NAT do Hemosc, Andrea Petry, a plataforma tem um excelente padrão de qualidade e já evitou algumas contaminações. “Esse kit representa um grande avanço na segurança transfusional, pois o resultado para essas bolsas tinha sido negativo nos exames convencionais. Segundo Petry, o Hemosc testa todo o sangue de Santa Catarina, tanto da rede pública quanto da privada, e as amostras do Rio Grande do Sul, totalizando uma média de 25 mil bolsas por mês.
Foto: Roberto Dziura
No fim de 2006, o Ministério da Saúde convocou o IBMP, o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Fiocruz – por meio do Instituto Carlos Chagas (ICC) e do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos) – para criar o NAT brasileiro.
A farmacêutica-bioquímica do Hemepar, Amanda Zampieri
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INOVAÇÃO TECNOLÓGICA O Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) foi fundado em 1999, por meio de uma parceria entre a Fiocruz e o Governo do Paraná. Desde 2009 opera um consórcio firmado entre a Fiocruz, a Hemobrás e o Tecpar, com o patrocínio do Ministério da Saúde e do Governo do Paraná. O IBMP é o responsável pela planta multifuncional de projetos de inovação tecnológica, desenvolvimento e produção de insumos e kits diagnósticos. Segundo Marco Aurélio Krieger, além do NAT, que já está certificado, o instituto tem cerca de 20 protótipos em fase de aprovação. Um deles, que deve ser lançado ainda em 2014, é o multiteste molecular para a detecção do agente causador da sepse (infecção generalizada). A síndrome é decorrente de um processo infeccioso generalizado, provocado pela invasão da corrente sanguínea por microrganismos, principalmente bactérias e fungos. Krieger explica que o procedimento empregado hoje no diagnóstico é impreciso e muito lento. O multiteste molecular, mais rápido e preciso, deverá reduzir custos para o sistema de saúde e o número de óbitos. Outros projetos previstos para aplicação ainda nesse ano são os testes para detecção de doenças infectocontagiosas que têm sintomas muito parecidos – como a dengue, a hepatite A, a leptospirose, a malária, a febre amarela, o mal de Chagas e as infecções causadas por bactérias, parasitas ou vírus - rubéola, sífilis, toxoplasmose e hepatite B.
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