O Mensageiro - Abril 2021

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Temas bíblicos

Ascética cristã

Padre Fernando Capra

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O

ponto de partida para desenvolver a nossa ascética é o fato histórico da pessoa de Jesus de Nazaré. Vemos, todavia, que, em Paulo de Tarso, o progresso espiritual se deu porque, ao abraçar a fé em Jesus Cristo, sob a iluminação do Espírito Santo, o conheceu pelas Escrituras, que ele perfeitamente dominava. Vemos, neste caso, repetir-se aquilo que João Evangelista observa quando nos fala de André e do outro discípulo que, sob indicação do precursor, seguiram Jesus. Tendo constatado que ele era o Cordeiro que tira o pecado do mundo, “ficaram com ele naquele dia” (Jo 1,39). Quando, pois, André procura Pedro, assim esclarece as suas convicções: “Encontrarmos o Messias” (v.41). Mais tarde, Felipe, quando encontra Natanael, lhe diz: “Encontramos aquele de quem falam as Escrituras” (v.45). Consequentemente, entendemos que a compreensão da pessoa de Jesus, que nós já reconhecemos na sua condição divina em virtude da graça recebida do Espírito Santo pela qual demos a nossa adesão de fé ao primeiro anúncio dos Apóstolos, deve ser aprofundada através da Profecia. Isto pode ser confirmado pelo fato que o próprio Deus preparou a vinda do Redentor através de múltiplas revelações didaticamente distribuídas ao longo da história do povo de Israel. Comprova a oportunidade deste conhecimento profético o próprio fato da compreensão que, por meio dele, Maria pôde ter da sua maternidade divina. Ela se reconheceu na condição da virgem de Is 7,14, diante das palavras pronunciadas por Gabriel. Mais precisamente, todavia, devemos dizer que a narrativa da anunciação é fruto da convicção pessoal do redator judeu cristão que, segundo a tradição da reflexão sapiencial judaica, soube deduzir, por aquilo que Maria afinal revelou, das próprias escrituras. A compreensão da pessoa do Senhor através das Escrituras é fundamental para valorizarmos, em toda a sua grandeza, a novidade que Jesus apresentou com a sua encarnação, sobretudo no que diz respeito à sua condição divina. Na descendência prometida, nos diz

São Paulo, “habita corporalmente a plenitude da divindade” (Cl 2,9). Esta compreensão de Nosso Senhor Jesus Cristo transcende qualquer conteúdo da Revelação profética do Antigo Testamento. Aliás, permite até a compreensão da condição perfeita da humanidade que o Unigênito Deus assumiu com a encarnação. Tornado em tudo igual a nós, exceto o pecado, Jesus Cristo é o nosso Redentor. Na condição de pessoa divina, pela imolação de Cruz, possível somente por estar a sua humanidade hipostaticamente unida à divindade, não só nos reconciliou com Deus, como, também, em virtude do Espírito merecido, nos santificou, a ponto de termos em nós a condição da nossa participação à vida divina, pela ressurreição da carne no último dia, que o próprio Cristo Jesus realizará. Na condição, portanto, de filhos adotivos, nos será dado participarmos, de modo consciente, da própria glória de Deus. Paulo, que chegou à compreensão de todos os mistérios de Deus, na condição de quem vivia em perfeição a vida cristã, para resumir, num único termo, a grandeza divina do Filho de Deus, que por ele se imolou, o declara mistério de Deus. Jesus é a revelação da Glória e, para nós, a esperança da Glória. Nele estão todos os tesouros da sabedoria e da ciência. Em Jesus, Paulo encontrava toda a motivação de entregar a sua vida à causa do Evangelho. Aliás, considerava o seu apostolado condição decisiva da sua eleição, a ponto de exortar os fiéis a praticar a propagação do Evangelho: “Cingi vossos rins com o cinto da verdade, vesti a couraça da justiça, calçai vossos pés com as sandálias da pregação do Evangelho da salvação, empunhai o escudo da verdade contra os dardos inflamados do maligno, ponde o capacete da salvação, empunhai a espada do Espírito que é a palavra de Deus” (Ef 6,14-17). Não há motivação mais profunda do que esta compreensão da pessoa do Filho que, “realizada a redenção, sentou-se à direita da Majestade, nos Céus” (Hb 1,3). É por ele que Deus nos fala “nos últimos tempos que são os nossos” (v.2).

Jesus é a revelação da Glória e, para nós, a esperança da Glória. Nele estão todos os tesouros da sabedoria e da ciência


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